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CASAL DE TRÊS

Dr. Magarão e Filadelfo se cruzam (na rua). Filadelfo está caminhando tranquilamente (na
volta do trabalho) e Dr. Magarão, quando o vê, cumprimenta-o abrindo os braços.

Dr. Magarão: Como vai essa figura? Bem?


Filadelfo: Essa figura vai mal.
Dr. Magarão: Por que, carambolas? Vai mal por quê?
Filadelfo: É o gênio da sua filha. Sou desacatado, a três por dois. Qualquer dia apanho na
cara!
Dr. Magarão: Compreendo, compreendo. Puxou a mãe. Gênio igualzinho. A mãe também é
assim!
Filadelfo: Quero que o senhor me responda o seguinte: isso está certo? Depois da linda lua
de mel que tivemos? É direito?
Dr. Magarão: Bem. Direito, propriamente, não sei. Você quer uma opinião sincera? Batata?
Quer?
Filadelfo: Quero.
Dr. Magarão: Vou te dizer umas coisas que todo homem casado deveria saber.
Dr. Magarão (pega no ombro do outro, falando mais próximo a Filadelfo): Você sabe que eu
sou casado, claro. Muito bem. E, além da minha experiência, vejo a dos outros. Descobri
que toda mulher honesta é assim mesmo, como minha filha. Sem tirar nem pôr. Você, meu
caro, desconfie da esposa amável, da esposa cordial, gentil. A virtude é triste, azeda e
neurastênica. Sabe qual foi a esposa mais amável que eu já vi na minha vida? Sabe? Foi
uma que traía o marido com a metade do Rio de Janeiro, inclusive comigo! Também
comigo! E tratava o marido assim, na palma da mão. Por isso você deve se dar por muito
satisfeito! Deve lamber os dedos! Dar graças a Deus!
Filadelfo: Tem dó… Essa não. Mas vou tratar disso!

Filadelfo se despede de Dr Magarão e anda apressado (para casa).


Ao chegar, Jupira está preparando a mesa. Ele tenta dar um beijo nela.

Jupira: Na boca não! Não quero!

Eles se sentam e começam a janta.

Filadelfo (nostálgico e feliz): Você se lembra da nossa lua de mel…


Jupira (brusca): Vê se para de mastigar a dentadura, sim?
Filadelfo (abaixa a cabeça): Você era outra Jupira na nossa lua de mel…

Ela termina a janta e junta os objetos grosseiramente. Jupira passa por Filadelfo, saindo de
cena. Ele a acompanha com o olhar.

Filadelfo: Será que a esposa honesta também precisa cheirar mal?

Ele sai de cena.


Filadelfo chega (em casa), ainda com seus pertences em mãos (pasta e jornal), é
surpreendido pela esposa, que se atira em seus braços e beija-o na boca. Ela está
maquiada, cheirosa e bem vestida. Filadelfo quase cai e deixa seu jornal cair. Ao se
recuperar do abraço, ele apanha o jornal e senta-se (no sofá/banco).

Filadelfo: Mas que é isso? Que foi que houve?


Jupira: Não gostou?
Filadelfo: Gostar, gostei, mas… Você não é assim, você não me beija nunca.

Ela se aproxima dele e senta-se no seu colo, encostando o rosto no dele e acariciando-o.

Filadelfo: Parece que estou cego! Explica este mistério. Aconteceu alguma coisa.
Aconteceu?

O marido escuta a voz do sogro (em voice off).

Dr. Magarão: Te custa ser cego? Olha, se queres um conselho, não desconfia de nada,
rapaz. O marido não deve ser o último a saber, compreendeu? O marido não deve saber
nunca!

Jupira continua suas carícias.

Jupira: Mudei, ora!

Ela se levanta e provoca o marido, saindo de cena. Filadelfo se levanta, arruma seus
objetos e coloca-os em cima da mesa. Começa a ver as cartas recém chegadas. Ele abre
uma delas.

Filadelfo: Minha mulher e o Cunha? O Cunha? Que vem jantar aqui sempre? Em
Copacabana? Tem dó! Se bem que ele é solteiro, simpático, quase bonito e tem bons
dentes…

Ele dá de ombros, rasga a carta e caminha pra Jupira que está chamando-o (para o quarto).
Eles se beijam e trocam carícias.

Filadelfo entra em cena novamente, arruma sua pasta do trabalho e caminha (para o
trabalho). Ele chega (ao trabalho - mesa com jornal, máquina de escrever e papeis) e
começa a organizar os papeis. Um deles é um convite, ele pega e abre.

Filadelfo: Céus! Cunha... Noivo!

Ele corre de volta (para sua casa). Encontra a esposa chorando, sentada.

Jupira: Eu quero morrer! Eu quero morrer!


Prontamente ele pega uma arma (num móvel com gaveta), enquanto a esposa chora, e sai
(de casa). Filadelfo vai de encontro a Cunha que anda tranquilamente e aponta a arma para
sua cabeça.

Filadelfo: Ou você desmancha esse noivado ou dou-lhe um tiro na boca, seu cachorro!

Cunha (com medo, nervoso): Tudo bem! Tudo bem!

Filadelfo volta (para casa), de encontro à mulher.

Filadelfo: Prepare a comida, Jupira. Hoje o Cunha vem jantar aqui.

Jupira organiza a mesa. Cunha chega e os três sentam à mesa.


A esposa olha maliciosamente o convidado e sorri para o marido. Filadelfo dirige-se ao
amigo.

Filadelfo: Você, agora, vem jantar aqui todas as noites!

Cunha consente calado. Eles se despedem. Após Cunha sair, Jupira atira-se no braço do
marido.

Jupira: Você é um amor!

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