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UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA

Faculdade de Ciências Humanas e Sociais


Licenciatur a em Relações Inter nacionais
Ano Lectivo 2012-2013
1.º Ano - 1.º Semestre

Introdução à economia:

capítulo 1

Mestre Guilherme Valdemar Pereira d’Oliveira Martins

Lisboa

2012

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NOTA - Os sumários que se seguem constituem apenas e fundamentalmente


um roteiro de estudo. Não se trata de uma exposição exaustiva da matéria.
São, assim, um instrumento importante mas nunca exclusivo, designadamente
para o acompanhamento tutorial. De modo sintético, indica-se os temas, as
referências fundamentais e, no final de cada capítulo, a bibliografia. O método
usado obriga, assim, a uma preparação e acompanhamento permanentes das
aulas e a um contacto constante com os elementos de estudo (através de
apontamentos das aulas, de sumários, da bibliografia fundamental e de
trabalhos práticos). Só considerando os sumários como um roteiro ou guião
poderemos retirar deles a sua plena utilidade. G.O.M.

Capítulo I - O que é a Economia Política

1.1 Etimologia (oikos, nomos, polis). Necessidades e meios. Noção de


utilidade.
1.2 Escassez e abundância.
1.3 Escolha económica e racionalidade.
1.4 Produção, distribuição e consumo.
1.5 Atos económicos.
1.6 Agentes económicos e circuito económico.
1.7 Bens económicos e bens financeiros: (a) bens de consumo e de produção;
(b) bens e serviços; (c) fatores de produção (fatores naturais, trabalho,
capital e organização); (d) bens públicos e coletivos.
1.8 Alocação de recursos e fronteira das possibilidades de produção, lei dos
rendimentos decrescentes e crescentes.
1.9 O objeto da Economia Política. A Ciência Económica.

CAPÍTULO I - O que é a Economia Política?

1.1. Etimologia (oikos, nomos, polis). Necessidades e meios. Noção de


Utilidade.

O modo como a sociedade satisfaz as necessidades dos seus membros e


como realiza os respetivos fins individuais e coletivos situa-se no coração dos
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fenómenos sociais, base da compreensão do mundo jurídico. Por isso, quando


estudamos Direito temos de compreender o que são os fenómenos
económicos, que estão sempre subjacentes às diferentes relações jurídicas.
Não podemos entender o que é um contrato se não soubermos o que é um
mercado, do mesmo modo não apreendemos o alcance da posse ou da
propriedade se não nos referirmos à relação entre sujeitos económicos e bens
e serviços. Nas sociedades humanas, as necessidades (por exemplo, de
alimentação, de vestuário, de habitação) surgem como tendencialmente
ilimitadas, enquanto os meios (alimentos, roupas, casas), ou seja, os recursos
que visam satisfazer tais necessidades, são raros ou escassos. As escolhas
económicas e o seu estudo têm sempre este dilema como pano de fundo.
Temos de fazer escolhas, considerando a aptidão dos bens ou dos serviços
para satisfazer necessidades e para promover o bem-estar. Tal aptidão
designa-se como utilidade.

Neste sentido, havendo que adequar bens e necessidades e ligar as atividades


de criação, de produção, distribuição e consumo, a Ciência Económica procura
responder às seguintes perguntas: O que produzir? Quanto produzir? Como
produzir? Para quem produzir? Quando produzir? Quem decide? Como
confiar nos agentes económicos com que nos relacionamos? É em torno
destas perguntas e respetivas respostas que se desenvolverá o nosso estudo.

Foi em 1615 que a Economia Política recebeu pela primeira vez a designação
que hoje usamos, na obra de Antoine de Montchrétien (1575-1621) "Tratado de
Economia Política". A palavra Economia foi usada na antiguidade por
Xenofonte (seculos V e IV a.C.) para designar o estudo das necessidades
domésticas - a partir da palavra oikos, que significa em grego lar ou casa e de
nomos, que quer dizer lei ou regra. O qualificativo usado por Montchrétien
indica que já não se trata apenas da economia doméstica, mas sim do estudo
relativo ao modo de afetação de recursos à satisfação de necessidades da
cidade (polis) e das nações.

Muito se tem discutido sobre a designação mais adequada da disciplina, já que


a Economia Política se desenvolveu como Ciência Económica. O estudo das
riquezas, das trocas, do giro comercial, do funcionamento dos mercados tem
especial desenvolvimento no período da expansão europeia (séculos XV e
XVI). Progressivamente foi dando lugar à análise científica dos fenómenos
ligados às decisões económicas, às trocas, à produção, à distribuição e ao
consumo. Montesquieu (1689-1755) fala do "doux commerce" (doce comércio)
e começa a sua obra mais conhecida - "De l’Esprit des Lois" - pela frase: "as
leis são relações necessárias que derivam da natureza das coisas".

O estudo das sociedades implica sempre o conhecimento de como se


relacionam pessoas e coisas, necessidades e meios. O primeiro tratado de
Ciência Económica deve-se a um médico fisiocrata francês, o Dr. François de
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Quesnay (1694-1774), que escreveu “O Quadro Económico“ (1758), onde


defende a ordem natural do laissez faire e o primado da agricultura sobre o
comércio e a indústria. Mas será um professor escocês de filosofia moral,
Adam Smith (1723-1790), depois de ter tido contacto com a escola fisiocrática,
ao visitar a França, a dar à ciência económica uma importância decisiva.
Escreve “Investigações sobre a natureza e as causas da Riqueza das Nações”
(1776), obra cuja aparição coincide com os primeiros passos da revolução
industrial escocesa, onde aceita o princípio da "ordem natural", falando de uma
"mão invisível", como modo espontâneo de regulação económica e social.
Porém, ao invés dos fisiocratas franceses, Smith recusa o primado da
agricultura, concedendo importância crescente ao comércio e à indústria.

1.2. Escassez e abundância.

As necessidades humanas constituem o estímulo fundamental para toda a


atividade económica, e são o ponto de partida da Ciência Económica. O ser
humano está permanentemente insatisfeito, deseja melhorar a sua situação e a
qualidade de vida. As necessidades são ilimitadas em número, mas limitadas
em capacidade. As necessidades são tendencialmente ilimitadas e os bens
aptos a satisfazê-las são necessariamente escassos. Ou seja, cada sujeito
económico tem uma limitação natural na fruição económica. Defronta-se com a
escassez de uns bens e com a abundância de outros, devendo adequar essa
situação à satisfação das suas necessidades.

Os bens económicos são escassos. A sua existência é limitada e exige um


esforço para a respetiva aquisição. As sociedades primitivas limitavam-se a ter
objetivos de mera subsistência, visando angariar apenas os meios de
sobrevivência. As comunidades humanas depararam-se, desde cedo, com a
raridade dos bens que dispunham de valor económico. Perante tal facto houve
que iniciar uma prática de trocas, que permitiu, a partir da divisão do trabalho,
satisfazer as necessidades diversas. O agricultor tem necessidade de adquirir
bens ao tecelão ou ao marceneiro, e de recorrer ao moleiro para lhe moer o
trigo. O pescador precisa da carne, dos vegetais e do pão, para além do que
pesca. No entanto, além dos bens com valor económico, há os bens livres
(como o ar que respiramos), relativamente aos quais não se exigem, em
princípio, escolhas ou trocas.

1.3. Escolha económica e racionalidade.

Perante a raridade dos bens económicos, tem de haver decisões, ora simples
e naturais, ora prejudiciais e dramáticas. Os tratados mais antigos de Economia
Política falam da escolha dos governantes que tinham de optar entre a
manteiga e os canhões - ou seja, entre dar preferência à alimentação dos
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cidadãos e dos súbditos e privilegiar a defesa militar da cidade. No romance


“Guerra e Paz” (1869) de Leão Tolstoi, perante a invasão das tropas de
Napoleão, o czar Alexandre I foi posto perante este dilema dramático – e por
isso usou, em nome da racionalidade, a tática das “cidades vazias”, a fim de
desgastar as tropas francesas e preservar as populações russas.

Numa economia de guerra a defesa do território e da população prevalece,


pelo que não poderá deixar-se morrer à fome as pessoas que se visa defender.
As escolhas terão, por isso, de ser cuidadas e criteriosas, exigindo sacrifícios.
As decisões obrigam à ponderação dos custos e benefícios das alternativas.
Há diversos métodos para a afetação de bens e serviços - a ponderação
económica exige sempre que tenhamos presente o que dispomos em recursos
e as necessidades que visamos satisfazer. As pessoas respondem
previsivelmente, segundo juízos racionais, aos estímulos perante os quais
estão confrontadas. As sociedades humanas aperfeiçoam-se na relação
complexa entre estímulos e a respostas, como salientou o historiador Arnold
Toynbee (1889-1975). A escolha económica envolve a resposta racional dos
sujeitos económicos. Se reduzimos a tributação sobre as empresas, desejamos
que haja mais investimento, se aumentamos o imposto sobre o consumo
queremos que a procura de bens se reduza e que, mediatamente, os preços
baixem...

O uso racionalidade na ciência económica conduz ou à maximização dos


meios, uma vez que se pretende utilizar da melhor maneira os recursos
disponíveis ou à otimização dos fins, uma vez que procura alcançar-se da
melhor maneira o objetivo definido numa escolha económica.

1.4. Produção, distribuição e consumo.

A atividade económica desenvolve-se num processo que se inicia na atividade


criadora, na qual produzimos bens ou serviços (matérias-primas, bens
manufaturados, bens industriais, serviços técnicos…). Essa atividade destina-
se a chegar aos consumidores finais, para satisfação das suas necessidades.
Daí exigir-se uma atividade mediadora entre a criação e o consumo final de
natureza distributiva e que constitui o cerne do comércio e do funcionamento
dos mercados.

Se analisarmos a evolução da história económica, verificamos que os tempos


primitivos se caracterizam pelo primado da economia de sobrevivência, perante
as ameaças da natureza, a que se segue o nomadismo dos povos dedicados à
caça e à pastorícia, que deambulam à procura das melhores condições de
satisfação das necessidades. No período neolítico, o nomadismo dá lugar ao
sedentarismo, que corresponde ao início da agricultura e da pecuária, bem
como da pesca (através da criação de póvoas marítimas). No Antigo
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Testamento o assassinato metafórico de Abel, o pastor, por Caim, o agricultor,


é o símbolo desta alteração económica. Depois, vai-se estruturando o
fenómeno urbano, com o surgimento da burguesia comercial, pela necessidade
de haver trocas comerciais nos mercados.

A produção é o ato pelo qual os bens e serviços são utilizados com vista à
transformação noutros bens ou ao seu aperfeiçoamento. A distribuição é o ato
pelo qual se faz chegar aos locais onde se encontram os consumidores as
mercadorias aptas a satisfazer necessidades. O consumo é o ato pelo qual os
bens são utilizados para satisfazer diretamente necessidades humanas
específicas. Temos ainda de ter em consideração entre os recursos disponíveis
os fatores de produção (fatores naturais, capital, trabalho e organização), que
são objeto de transformação e aperfeiçoamento na atividade produtiva ou são
utilizados diretamente no consumo, visando satisfazer necessidades.

1.5. Atos económicos.

Os atos económicos, ligados à produção, à distribuição e ao consumo,


correspondem aos comportamentos que visam a afetação dos recursos à
satisfação das necessidades sociais e humanas. Os atos económicos definem
a anatomia da Economia Política. Partindo das necessidades, encontramos os
meios aptos a garantir a respetiva satisfação. Os bens e os serviços objeto de
consumo provêm diretamente da natureza ou são objeto de produção ou
transformação. Os atos económicos correspondem, assim, à ação dos sujeitos
económicos sobre a natureza, a fim de que meios e necessidades se articulem
entre si.

As trocas que se estabelecem têm de ser vistas na perspetiva dos diferentes


necessidades e dos diferentes agentes. As vantagens que advêm das trocas
dependem da atitude de cada um dos intervenientes. Precisamos de saber o
que deseja cada um da troca que vai realizar. O comprador considerará,
normalmente, que poderia ter comprado mais barato e o vendedor julgará que
poderia ter obtido um preço ligeiramente superior. Porém, o vendedor não sabe
o que vai acontecer se tentar vender mais caro (desistirá o comprador da
transação, perdendo-se o negócio?). O resultado nunca será ideal para
qualquer dos agentes económicos, mas corresponderá a uma composição de
interesses, que tende a ser equilibrada.

1.6. Agentes económicos, o circuito económico.

Os atos económicos são praticados pelos agentes económicos. Estamos


perante o circuito económico, no qual encontramos as inter-relações que se
estabelecem, antes do mais, entre as Famílias e as Empresas. As Famílias
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compram os bens e os serviços às empresas, mas também fornecem trabalho,


indispensável para a atividade produtiva. As Empresas vendem bens e serviços
às Famílias, a quem pagam os salários do trabalho ou as rendas pela utilização
da terra. Mas ainda há o Estado, o sujeito económico mais influente, que
recebe o produto dos impostos e dos tributos, que garante a satisfação de
necessidades públicas (ensino, saúde, infraestruturas). Por outro lado, temos o
Capital, uma vez que as instituições bancárias e financeiras mobilizam as
poupanças das famílias, pagando-lhes juros, e concedem crédito que visa
antecipar investimentos, tendentes à reprodutividade da riqueza.

No quadro que a seguir se pode analisar encontramos as diversas relações


estabelecidas entre as Famílias (Domestic Househholds), as Empresas
(Domestic Producers), o Estado (Government), o Capital (Financial System) e
o Exterior (Abroad). Os fluxos indicados no quadro são apenas os monetários -
correspondendo-lhes em sentido inverso os fluxos reais, dos bens e serviços
fornecidos. Nesses fluxos monetários é expressamente indicado o pagamento
dos salários às famílias, o pagamento dos impostos, taxas e restante tributos
ao Estado, o pagamento dos bens e serviços, das importações e das
exportações, bem como o investimento e a poupança. Ainda poderá
acrescentar-se o pagamento de subsídios do Estado às Famílias.

1.7. Bens económicos e bens financeiros.

Distingamos agora os diversos tipos de bens económicos, isto é, aqueles que


são aptos à satisfação de necessidades, e que em princípio se encontram no
mercado. No entanto, há bens económicos que, apesar de satisfazerem
necessidades humanas, não se encontram no mercado

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(a) os bens de consumo e de produção - Os bens de consumo são os que


constituem objeto das decisões dos consumidores. Distinguimos os bens
de consumo duráveis, cuja utilização se prolonga no tempo (habitação,
viatura, eletrodomésticos) e os bens de consumo não duráveis, que são
destruídos no uso que deles é feito (alimentos e combustíveis). Por outro
lado, os bens de produção são utilizados pelos produtores, de maneira
durável ou não. Estão neste caso as máquinas, as matérias-primas, a
energia e o trabalho. Estes bens têm como fim aumentar a quantidade e
melhorar a qualidade dos bens de consumo disponíveis. O critério usado
nesta distinção não tem a ver com os bens mas com a natureza das
entidades que os utilizam. Se considerarmos os bens apenas na
perspetiva da produção distinguimos os que são objeto de transformação
(inputs) e os produtos que resultam dessa transformação (outputs).

(b) bens e serviços - O resultado da atividade produtiva traduz-se em bens


materiais ou em atividades imateriais - estão neste último caso a
medicina, o ensino, o turismo ou as belas artes. Estamos assim perante
os serviços, que assumem crescente importância nas sociedades
contemporâneas. Também podemos distinguir entre bens sucedâneos e
bens complementares, já que num mercado as opções individuais dos
sujeitos económicos obrigam à permanente comparação entre bens aptos
a satisfazer necessidades. A racionalidade económica leva a que as
escolhas tenham sempre em consideração custos e benefícios. Nessa
comparação determinados bens podem substituir outros, diz-se nesse
caso que são bens sucedâneos (o mel é sucedâneo do açúcar, o isqueiro
é sucedâneo dos fósforos). Mas há também os bens que necessitam de
outros bens para alcançarem a finalidade a que se destinam. Diz-se nesse
caso que os bens são complementares (um disco compacto - CD - é
complementar de um leitor de discos, a gasolina é complementar do motor
do automóvel).

(c) fatores de produção - A expressão fatores de produção designa o


conjunto dos diversos bens e serviços que permitem realizar a atividade
produtiva. Os fatores de produção são: a terra ou os recursos naturais,
compreendendo os minérios objeto das indústrias extrativas; o capital,
que corresponde a um conjunto de bens e serviços (equipamentos e
stocks) que constituem a base da atividade produtiva (capital físico) e de
recursos financeiros que garantem o investimento reprodutivo (capital
financeiro); e o trabalho, que designa toda a atividade humana (hoje é
cada vez mais importante este fator, que não considera apenas a força de
trabalho mas também a qualificação e a formação, que leva a falar-se com
crescente insistência de capital humano). Nos fatores de produção
também deve incluir-se a organização económica e empresarial e o
enquadramento institucional.
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(d) bens coletivos ou financeiros e bens privados - Independentemente de


quem os fornece, encontramos determinados bens que pelas suas
características têm natureza pública, isto é, não visam satisfação
meramente individual. São bens coletivos ou financeiros e o exemplo mais
comum é o do farol, que tem as seguintes características: (a)
indivisibilidade (com consumidores adicionais não há redução do nível de
utilidade dos indivíduos do grupo inicial); (b) impossibilidade de exclusão
(é sempre acessível a consumidores adicionais que o desejem); e (c) não
rejeitabilidade (é impossível a rejeição desse bem por parte dos
consumidores). Pela sua natureza, muitos autores designam estes bens
como coletivos ou financeiros (v. infra, sobre falhas de mercado). Se
usarmos o critério meramente subjetivo de quem fornece os bens ou
presta os serviços, serão bens públicos os que são prestados ou
fornecidos por entes públicos (farol, estradas nacionais, escolas públicas,
hospitais públicos), serão bens privados os que são fornecidos por entes
privados (a generalidade dos bens que estão no mercado).

1.8. Alocação de recursos e fronteira de possibilidades de produção.

Falámos já da exigência permanente de fazer escolhas, em virtude da


escassez de bens e recursos. Como funciona, porém, na prática a alocação de
recursos? As opções reportam-se a diversos bens e a diferentes necessidades.
Considerando a limitação física dos recursos disponíveis, encontramos uma
"fronteira de possibilidades de produção". Isto é, há um limite para além do qual
não é possível produzir mais, numa situação de pleno emprego dos recursos
produtivos. Comparemos a produção de bens agrícolas (p. ex. alimentos) e a
produção de bens não agrícolas (p. ex. vestuário).

Utilizando a totalidade dos recursos disponíveis (suponhamos uma população


ativa de 200 trabalhadores) poderemos produzir 8 toneladas de alimentos,
nada produzindo de vestuário. No outro extremo, se produzirmos 50 mil
unidades de vestuário não podemos produzir bens alimentares. A sociedade
precisa, contudo, não só de se alimentar, mas também de se vestir. Por isso,
vai distribuir os recursos pelas duas opções. Se apenas produzir 6 toneladas
de alimentos já poderá produzir 20 mil unidades de vestuário. E se produzir 4
toneladas de alimentos poderá chegar a 35 mil unidades de vestuário. Por fim,
se apenas produzir 2 toneladas de alimentos terá 45 mil unidades de vestuário.
Temos uma representação gráfica expressa numa curva côncava. E assim
apenas poderemos fazer escolhas à esquerda dessa curva, utilizando ou não
plenamente os recursos. Se não houver pleno emprego, poderemos produzir 4
toneladas de alimentos e 20 mil unidades de vestuário. Mas não poderemos
produzir 4 toneladas de alimentos e 45 mil unidades de vestuário, uma vez que
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o ponto definido por essa situação se encontra já fora da fronteira de


possibilidades.

A lei dos rendimentos decrescentes tem também em consideração a


escassez dos recursos e relaciona, na economia tradicional, a utilização de um
fator de produção fixo (a terra) e de um fator de produção variável (o capital ou
o trabalho). Os rendimentos adicionais resultantes dessa relação serão
decrescentes e os custos tenderão a ser crescentes. Mas se os fatores de
produção em presença são ambos variáveis, como acontece nas economias
industriais então os rendimentos adicionais tenderão a ser crescentes – no que
designamos como lei dos rendimentos crescentes à escala, tendendo aqui
os custos a ser decrescentes. Fala-se, assim, em economias de escala quando
os fatores de produção são variáveis e quando os rendimentos adicionais são
crescentes.

1.9. Objeto da Economia Política.

A Economia Política é a ciência social que estuda os comportamentos


humanos perante recursos raros solicitados para fins múltiplos, visando
a satisfação de necessidades.

Estudamos fenómenos de natureza muito diversa numa sociedade que se


organiza para garantir a satisfação de necessidades dos seus membros. John
Stuart Mill (1806-1873) dizia, por isso, que "há poucas hipóteses de se ser bom
economista e de não se ser mais alguma coisa. Estando em permanente
interação, os fenómenos sociais não se podem compreender isoladamente".

O objeto da Economia Política situa-se, assim, num campo muito amplo de


atividades humanas, em torno da produção, da distribuição e do consumo, mas
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também da distribuição de recursos e da complementaridade ente o mercado e


a regulação pública, e tem a ver com um conjunto diversificado de atividades
humanas que visam a afetação dos recursos disponíveis às necessidades
sociais. Estamos diante de uma ciência social que analisa as realidades
humanas e sociais, procurando uma explicação lógica sobre o modo de
resolução dos problemas ligados às escolhas económicas, o que obriga ao
recurso a métodos próprios de previsão, de análise e de interpretação. No
entanto, também estamos perante uma ciência social com conteúdo normativo,
que visa a avaliação do modo como a sociedade encara e resolve os seus
problemas de satisfação de necessidades, bem como a definição de uma
política económica, isto é, a adequação de instrumentos de ação a finalidades
de organização e funcionamento da sociedade.

BIBLIOGRAFIA:

PAUL SAMUELSON E WILLIAM NORDHAUS, Economia, MacGraw Hill, Queluz,


2011 (Cap. 1 e 2, até à p. 44)

JOÃO CÉSAR DAS NEVES, Introdução à Economia, Verbo, Lisboa, 2005 (reimp.)
(Cap. 1, pontos 1, 2, 3, 4, até p. 69)

FERNANDO ARAÚJO, Introdução à Economia, Almedina, Coimbra, 2005 (Cap. 1,


até p. 68)

MANUEL LOPES PORTO, Economia - um texto introdutório, Almedina, Coimbra,


2004 (Cap. I, até p. 77)

PEDRO SOARES MARTÍNEZ, Economia Política, Almedina, Coimbra, 1996 (Cap. 1,


Cap. 3, até p.107)

ALEXIS DE JACQUEMIN, H. TULKENS, PAUL MERCIER, Fondements


d'Économie Politique, De Boek, Bruxelles, 2001 (Cap. 1 e 2, até p. 25).

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