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Gilberto Januario1
Armando Traldi Junior2
Resumo
Neste trabalho evidenciamos o projeto de pesquisa em desenvolvimento para nossa dissertação de mestrado.
Trata-se de um estudo qualitativo (BOGDAN e BIKLEN, 1994) em que os dados serão coletados a partir de
pesquisa documental e de trabalho de campo, objetivando investigar o desenvolvimento curricular de
Matemática da EJA pela perspectiva da avaliação. Inicialmente foram realizadas leituras de alguns
documentos oficiais (LDB, Diretrizes Curriculares, PCNEM, PCN+ e OCEM), os quais apontam a relevância
de um estudo acerca do desenvolvimento curricular de Matemática para essa modalidade de ensino,
constituída por alunos jovens e adultos que apresentam características próprias de desenvolvimento e de
aprendizagem. A leitura dos trabalhos de Pires (2000), Fonseca (2007) e Silva (2009) nos levaram a refletir
sobre a constituição do currículo de Matemática para essa modalidade de ensino a partir das competências e
habilidades presentes no Exame Nacional do Ensino Médio, uma vez que, para Canavarro, Santos e Ponte
(2000a, 2000b), as macro-avaliações se constituem enquanto intervenientes da prática do professor, do
repertório de conteúdos e do processo avaliativo da aprendizagem. Já Sacristán (2000) expõe que todo o
ensino se realiza em um clima avaliativo, numa perspectiva de controle dos processos de ensino e de
aprendizagem. Nessa perspectiva temos nos questionado qual a intervenção do ENEM no currículo de
Matemática da EJA? Em relação ao conteúdo? Em relação à prática do professor em sala de aula? Em relação
aos objetivos e expectativas dos alunos?
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Palavras-chave: Currículo de Matemática. Educação de Jovens e Adultos. Avaliação.
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Mestrando em Educação Matemática – PUC/SP; bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq).
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Professor do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática da PUC/SP e professor do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo.
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são esses alunos? O que querem, o que buscam? De que modo trabalhar com esse público
para que possam se sentir incluídos e motivados?
Ao vivenciar a experiência da docência para a EJA, foi possível perceber as
dificuldades apresentadas pelos alunos frente aos conteúdos matemáticos. Embora
procurasse3 trabalhar com metodologia diferenciada, ministrava as aulas sem ter elaborado
um currículo que viesse ao encontro das características desses alunos, assumindo o mesmo
programa elaborado para as turmas regulares, porém, me preocupando em reduzir a
quantidade de tópicos a serem trabalhados.
Ao focar minhas atenções nas dificuldades dos alunos no processo de construção de
aprendizagem em Matemática, procurei uma Especialização em Educação Matemática,
visando buscar referenciais teóricos e metodológicos que pudessem contribuir na
constituição de minha postura frente ao trabalho docente. Para a realização da monografia,
intencionava estudar os materiais manipuláveis e, pelo trabalho com os alunos da EJA,
decidi realizar uma pesquisa direcionado pela questão “os materiais manipuláveis podem
contribuir nos processos de ensino e de aprendizagem para mediar o tratamento do
significado de conteúdos matemáticos?” (JANUARIO, 2008).
Na medida em que desenvolvia o trabalho de campo com alunos da EJA, utilizando
situações-problema encaminhando às descobertas com o auxílio dos materiais
manipuláveis, emergiram alguns questionamentos em relação à avaliação e ao repertório de
conteúdos a serem trabalhados nessa modalidade de ensino, colocando-me em uma zona de
inquietação. De que forma conceber um currículo em Matemática que articule prática do
professor, avaliação e objetivos do curso? Os conteúdos de Matemática são trabalhados de
forma que contemplam os objetivos, anseios e expectativas desses discentes? De que forma
o professor deve realizar a avaliação nessa modalidade de ensino? Quais instrumentos
avaliativos adequados para verificar o processo de aprendizagem desses alunos?
Esses questionamentos me aproximaram do Grupo de Pesquisa Organização,
Desenvolvimento Curricular e Formação de Professores em Matemática, o qual visa ao
estudo e à pesquisa em questões curriculares e sua estreita relação com a formação de
professores de Matemática. Dentre os estudos do Grupo, um dos projetos em constituição
objetiva investigar a organização e o desenvolvimento curricular do processo ensino-
aprendizagem da Matemática na Educação de Jovens e Adultos. Esse projeto será
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Neste subtítulo utilizaremos o foco narrativo em primeira pessoa do singular.
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Justificando a proposta
A avaliação tem sido foco de alguns estudos que discutem o processo ensino-
aprendizagem de Matemática. Também é possível perceber o crescente número de
trabalhos que tratam de desenvolvimento curricular de Matemática, o que revela o
interesse de parte da comunidade em compreender de que forma é instituído o currículo na
educação básica e no ensino superior e quais são suas conseqüências para os processos de
ensino e de aprendizagem.
Em sua tese, Silva (2009) identificou que alguns eventos educacionais nacionais e
internacionais apontam o interesse em estudar o currículo de Matemática, no entanto os
trabalhos apresentam pouca contribuição em relação à busca por critérios para seleção e
organização dos conteúdos. O pesquisador faz referência, ainda, a Kilpatrick que aponta as
mudanças curriculares enquanto uma das sete tendências para o estudo em Educação
Matemática na década de 1990.
Silva (2009) identificou, também, que no período de oito anos foram publicados
três documentos oficiais com orientações curriculares para o ensino médio: Parâmetros
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM), em 1999; PCN+ Ensino Médio:
Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN+), em 2002; e Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (OCEM),
em 2006.
Ao fazer uma leitura desses documentos é possível perceber que os PCNEM
(BRASIL, 1999) valorizam o uso da tecnologia e a preparação para o mercado de trabalho;
as práticas escolares devem valorizar as habilidades e procedimentos dos alunos; a
Matemática passa a integrar a área Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias; e
dão importância à contextualização e à interdisciplinaridade. Os PCN+ (BRASIL, 2002)
valorizam as competências e habilidades dos alunos a partir de três conjuntos de
competências: representação e comunicação, investigação e compreensão,
contextualização sócio-cultural; vislumbram a articulação das três áreas: Ciências da
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A partir desse ponto utilizaremos o foco narrativo em primeira pessoa do plural.
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Neste trabalho, chamamos de regular a modalidade de ensino que não se caracteriza enquanto EJA.
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de alunos dessa modalidade de ensino que participa do ENEM, tanto currículo quanto
avaliação devem ser propostos de forma que contemplem as habilidades e competências
mínimas que permeiam o Exame.
Apesar de ser fundamental compreender o significado e o conceito de habilidade e
de competência (SILVA, 2009), é preciso refletir para uma série de situações que estão
envolvidas no tripé EJA-currículo e avaliação-competências e habilidades exigidos no
ENEM.
A partir de uma pesquisa no site Domínio Público, elaborado pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), identificamos a defasagem de
trabalhos que tratem de algumas questões relacionadas à temática, nos levando a alguns
questionamentos: Que currículo é proposto para a EJA? Há articulação entre currículo e
avaliação escolar? As avaliações escolares contemplam as habilidades e competências
exigidas no Exame? Os resultados ou prescrições do ENEM influenciam na elaboração do
currículo da EJA? Outros questionamentos podem ser ensaiados. Se há uma base nacional
comum; se o ENEM é para ambas as modalidades; se há a diferença de carga horária para
o ano letivo de cada modalidade; se há diferença de currículo, de que forma são
trabalhadas as competências e habilidades exigidas no ENEM, pelo professor de
Matemática, no ensino médio, para que esses alunos atinjam os objetivos esperados pelo
Exame, se sintam inclusos e capacitados para o ingresso na formação superior?
Esses questionamentos nos instigaram a investigar o currículo de Matemática da
EJA na perspectiva da avaliação, tomando por objetivos:
• Compreender quais são os intervenientes que influenciam no currículo de
Matemática;
• Analisar de que forma o ENEM é interveniente no currículo;
• Identificar se o ENEM é interveniente nos instrumentos avaliativos;
• Analisar se o processo avaliativo nas aulas de Matemática preparam o aluno para
que ele possa desenvolver as competências e habilidades mínimas exigidas no
ENEM;
• Analisar se há articulação entre o currículo, avaliação e as competências e
habilidades mínimas exigidas no ENEM.
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Metodologia
responder não ao nosso objetivo ou confirmar nossas hipóteses, mas ir ao encontro dos
objetivos e das respostas das questões norteadoras da Pesquisa.
Referências bibliográficas
BOGDAN, Robert C.; BIKLEN, Sári Knopp. Investigação Qualitativa em Educação: uma
introdução à teoria e aos métodos. Tradução: Maria João Alvarez, Sara Bahia dos Santos e
Telmo Mourinho Baptista. Porto: Porto Editora, 1994.
SACRISTÁN, Jose Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a pratica. 3ª ed. Tradução:
Ernani F. da Fonseca Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2000.