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O deputado Jair Bolsonaro é fascista ou é nazista?

Há uma aparente confusão entre "é fascista" e "não é fascista" porque é um termo que é
usado de forma muito ampla e até banalizada, sendo que é difícil caracterizá-lo, pois
fica difícil dizer que existe apenas "um" fascismo. Então vamos lá. Vale a pena criar
aqui uma diferenciação entre "fascismo" e "nazismo", o fascismo italiano era uma forma
radical de estatismo e o fascismo alemão, que ficou conhecido como nazismo, era
balizado por teorias raciais que caracterizavam o povo ariano como raça superior,
apresentando um virulento antissemitismo, como sabemos.

Primeiramente, acredito que um curto parágrafo sobre a questão do nazismo,


principalmente no que diz respeito a suas características que o diferenciam do fascismo,
propriamente dito, já é o suficiente para removê-lo da alcunha do Bolsonaro. Partindo
do ponto mais simples, o nazismo carrega uma noção de antissemitismo e o darwinismo
social, ou seja, um certo grupo étnico é considerado, nos termos utilizados por Hitler, a
raça superior, este caracterizado pela raça pura ariana. O deputado Jair Bolsonaro é
sionista, defende abertamente o estado de Israel, somente por isso já temos um
afastamento dessa ideologia.

Ao fascismo farei uma análise mais apurada. Temos o fortalecimento do estado,


principalmente no que diz respeito ao aparato social, controle das liberdades
individuais, amparado principalmente pelo nacionalismo que se faz sob uma ótica
coletivista. Algo interessante nesse ponto, é a definição de Erich Froom: "medo da
liberdade", pois no período em que surgiu, em uma reação à Revolução Russa, temos
um tempo de grande crise em que o indivíduo pode optar por sacrificar sua liberdade
com o objetivo de obter segurança, buscando um líder todo-poderoso ou um estado
autoritário. O ideal fascista é o do novo homem, que seria um herói motivado pelo
dever, pela honra e pela abnegação, pronto a dedicar sua vida pela sua nação ou por sua
raça. Há também uma revolta para com os valores iluministas advindos da revolução
francesa, como a "liberdade, igualdade e fraternidade", isso fica claro ao nos
depararmos com slogans como "1789 está morto" e sua contraposição "ordem,
autoridade e justiça".

Alguns pontos importantes que podem nos ajudar a chegar a uma definição mais
próxima do que seja o fascismo e que nos ajudariam a classificar o deputado Jair
Bolsonaro, provém de Andrew Heywood:

Antirracionalismo, luta, liderança e elitismo, socialismo, ultranacionalismo.

O primeiro diz respeito a uma negação da intelectualidade, acompanhada da negação do


iluminismo, como dito acima, que podemos perceber em slogans como "Ação, não
palavras!", tal concepção se põem na prática ao percebemos que a vida intelectual foi
desvalorizada e até desprezada, substituída por uma valorização da alma, das emoções e
dos instintos. A rejeição ao iluminismo traz um caráter bastante negativo ao fascismo,
imprimido a negação e expressando raramente o que realmente apoiam, mas não se
resume a isso, podemos encontrar uma subversão de certos valores, a liberdade se torna
submissão cega, democracia é equiparada à ditadura absoluta e a noção de progresso
implica lutas e guerras constantes.
Na questão da luta fazemos uma ponte com a teoria da evolução das espécies de Charles
Darwin, esta é feita através da noção de que a existência humana se baseia na
competição e ganha contornos no fascismo no período de rivalidade internacional da
Primeira Guerra Mundial. Segundo Mussolini, "a guerra é para os homens o que a
maternidade é para as mulheres." Então, indo na contramão de valores humanistas, força
vira sinônimo de bondade e fraqueza vira sinônimo de maldade, portanto a eliminação
dos fracos e dos mal adaptados é positiva e não só isso: necessária para o bem comum.
No terceiro ponto temos a negação radical da igualdade, sendo o fascismo
profundamente elitista e patriarcal, no qual a liderança e o elitismo ganham a alcunha de
naturais, esta se manifesta na autoridade carismática que emana do próprio líder. Dentro
ainda dessa concepção, temos que as instituições intermediárias como eleições, o
parlamento e os partidos são abolidas ou simplesmente enfraquecidas pois o líder possui
o monopólio da sabedoria ideológica.

O fascismo é muitas vezes associado ao socialismo, o que é sem dúvida uma tentativa
de se obter apoio dos trabalhadores que se viam diante da revolução, o que quase
ocorreu na Alemanha em 1918, porém, apesar da clara distinção entre a ideologia
socialista e fascista nos levando ao ponto se situarmos ambos como opostos, porém há
simplesmente um elemento comum que seria o discurso anticapitalista, embora um se
situa apenas no discurso e o outro traga esse anticapitalismo para a prática
revolucionária, tais como o anticapitalismo, embora este se fizesse sob uma ótica de
subornar as grandes corporações aos interesses do estado, ao mesmo tempo em que
substitui a gestão do estado pela gestão da iniciativa privada, diminuindo impostos e
favorecendo o desenvolvimento industrial: "Tudo no Estado, nada contra o Estado, e
nada fora do Estado". Além disso dentro da questão econômica as privatizações
ocorridas durante governos abertamente fascistas seguiam em direção corporativismo,
indo contra noções de entreguismo, isto é, contra o imperialismo de outros países, em
um exemplo, temos a Alemanha, aliada de sua burguesia nacional com vistas às
riquezas de banqueiros judeus traria grandes lucros para uma enormidade de grandes
empresas, tais como "BMW, Fiat, IG Farben (Bayer), Volkswagen, Siemens, IBM,
Chase Bank, Allianz, entre outros grupos de mídia, que financiaram esses regimes com
o objetivo de frear o avanço do socialismo soviético na Europa". A isso é possível
acrescentar, a questão da naturalização das desigualdades, como visto acima em meio ao
darwinismo social, em total oposto ao ideário socialista.

E finalmente o fascismo adota um ultranacionalismo chauvinista e expansionista,


postulando as nações como rivais em luta pela dominação. Ao contrário de estimular
simplesmente um patriotismo, é estabelecida uma perspectiva degeneração nacional e o
renascimento do orgulho nacional. É notável que todo movimento fascista se encarrega
de postular uma crítica a falência moral e decadência cultural da sociedade moderna,
anunciando os mitos de um passado glorioso e seu renascimento através da renovação.
Vale a pena acrescentar uma questão bastante pragmática do fascismo ao invés de
simplesmente ancorar-se de forma severa aos seus ideais.

Sobre o Bolsonaro, é interessante vermos se o mesmo se encaixa na agenda fascista,


porém podemos dizer que ele há muito pouco para que possamos compará-lo a Getúlio
Vargas no período do Estado Novo ou ao Enéias Carneiro, estes sim, mais próximos da
concepção de fascismo.

FONTES:
Heywood, Andrew. Ideologias políticas: Do liberalismo ao fascismo. São Paulo: Ática,
2010.

Paxton, R. A Anatomia do Fascismo.

Sasson, Donald. Mussolini e a Ascensão do Fascismo. Rio de Janeiro: Agir, 2009.

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