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Para ordenar o caos da nossa vida
Introdução
Nessa narrativa, há a clara e intencional tentativa de apresentar a
existência de um Deus que age livre e deliberadamente a favor e
independente de tudo o que é criado. O foco, aqui, não é a criação, mas quem
está por trás de toda a criação: Deus.
Em uma época de cosmogonias fantasiosas – deuses saindo de ovos, o
mundo criado a partir dos restos mortais de um monstro caótico – sempre
recheadas de elementos caóticos e nãointencionais, a narrativa de
cosmogonia judaica vem a ser uma proposta diferente.
Em vez de explicar a existência do mundo em perspectiva de explicação
da criação, essa narrativa parte do ponto de vista do Agente dessa criação:
tudo o que existe tem o seu início em Deus.
Nessa narrativa de cosmogonia judaica, podemos ver claramente uma
ação de ordenação na criação. Há um Regente à frente da peça que está sendo
apresentada. Sua presença não apenas ordena, mas vibra, dança, colore,
enfim, dá vida a tudo!
1. Precisamos relembrar que Deus é o Criador de tudo
No princípio, vemos a atividade criadora divina agindo deliberadamente,
com propósitos definidos. No princípio, Deus criou, chamou à existência
aquilo que não existia ainda. Do nada, o Tudo cria tudo, pois não necessita de
nada, a não ser Ele mesmo!
A expressão mais fantástica nessa narrativa em linguagem humana é:
“No princípio Deus...”
Até o momento deste escrito ser elaborado, as narrativas de cosmogonias
mais conhecidas eram a Suméria e a Egípcia. O que era comum a essas
cosmogonias, era a presença marcante do caos como elemento criador.
Os sumérios e babilônios desenvolveram uma cosmogonia própria,
preservada em poema, como “Gilgamesh” e “Enuma Elis”. A criação era
representada como um processo de procriação. Os deuses seriam elementos
naturais que formaram o universo. Segundo os babilônios, Marduk foi o único
deus que conseguiu derrotar Tiamat, o dragão, que representava o caos e as
águas do mar.
Resumo do mito: Na mitologia mesopotâmica, no princípio do mundo
existia Abzu e Tiamat, os elementos masculino e feminino das águas. Tiamat
criou o céu, de quem nasceu Ea (a magia), que produziu Marduk. Este venceu
os demais deuses e dividiu o corpo de Tiamat, separando o céu da Terra e
produziu o primeiro homem, usando o sangue do monstro derrotado.
Quando a Bíblia nos relata, através do livro do Gênesis, que no princípio
criou Deus os céus e a terra, não podemos entender que esse princípio seja o
princípio de todas as coisas. Deus é o princípio de todas as coisas, como vemos
em João 1.12: “No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus,
e era Deus. Ele estava com Deus no princípio.”
O início de todas as coisas aqui relatado, referese ao início de todas as
coisas criadas, pois “...Deus que dá vida aos mortos e chama à existência
coisas que não existem, como se existissem.” (Romanos 4.17) A ação criadora
de Deus envolve, então, chamar à existência coisas que não existem, como se
existissem!
Pense na grandiosidade dessa verdade! Deus tem o poder, a capacidade
de chamar à existência, coisas que não existem! O que pode ser impossível
para Ele? Absolutamente Nada!
Se entendermos que no princípio de todas as coisas, Deus já existia,
conseguiremos descansar nEle! Para que nossas vidas dêem certo, precisamos
lembrar que Deus está no princípio delas!
O grande contraste entre as famosas cosmogonias do passado e a
cosmogonia judaica está no fato da Bíblia afirmar a existência de um único
Deus acima de tudo e de todos e isento de influências externas. Isso deve...
2. No princípio Deus criou e ordenou
Os céus e a terra foram criados antes dos seis dias. Durante os seis dias,
parece haver uma ordenação das coisas criadas e criação de outras coisas. A
ação criadora divina é interessante, há um movimento: dizer/chamar
fazer/criarver(aprovar). As coisas criadas são também ordenadas, assim
como há ordenação (lógica), na ação divina. Primeiramente Deus pensa
(disse/chamou), para depois agir (fez/criou), para em seguida, constatar sua
ação (viu/abençoou).
A criação divina é um movimento completo, como tudo o que Deus faz. A
ação divina é completa em todas as Suas realizações, tanto que no sétimo dia,
Deus descansou, abençoou e santificou o sétimo dia. Deus não continua
descansando, mas continua trabalhando: “Disselhes Jesus: “Meu Pai
continua trabalhando até hoje, e eu também estou trabalhando”. (João 5.17)
O descanso divino envolve o descanso da ação criadora daquele momento.
Ele continua agindo, mantendo e sustentando a Sua criação.
Deus está atento ao nosso caos particular! Tudo o que Deus criou é
perfeito. Na narrativa da criação, há um momento de separação (abismo),
seguido pelas trevas que cobriam a sua face. Entretanto, a expressão usada
em seguida é belíssima: “mas o Espírito do Senhor pairava sobre as águas”.
Não importa o que passemos: Deus está atento ao nosso caos! O Espírito
do Senhor tem vasculhado nossas vidas, para ordenar o que precisar ser
ordenado e criar o que precisa ser novo!
3. No princípio Deus completamente cria
Não podemos, jamais pensar em ação criadora divina, pensando apenas
em uma ação de “Deus Pai”. Essa diferenciação não pode ser feita, pois é
perigosa, podendo levar a um triteísmo.
A Bíblia é clara ao afirmar que Deus (Pai, Filho e Espírito Santo),
estavam agindo na criação. Em Colossenses 1.1517, vemos: “Ele é a imagem
do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois nele foram criadas
todas as coisas nos céus e na terra,as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou
soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e
para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste.”
Jesus estava com Deus no princípio de todas as coisas e no princípio das
coisas criadas. Todas as coisas foram criadas por Ele e para Ele. A criação é
uma ação completa de Deus, por Si e para Si.
Gênesis 2.43.24
ENTRE DUAS ÁRVORES
(saudades de um fim de tarde)
1. A árvore do conhecimento nos aliena da presença Deus
Antes de comerem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal:
a) Eles vivam nus e não sentiam vergonha
b) Possuíam um relacionamento aberto com Deus
Após comerem o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal:
a) Perceberam que estavam nus e juntaram folhas de figueiras para cobriremse
b) Esconderamse de Deus com medo dEle
O fruto externo da árvore do conhecimento do bem e do mal não era
maligno. O que foi maligno foi a postura de desobediência e independência
de Deus. Eles preferiram dar ouvidos à serpente enganadora, ao Deus
bondoso. Adão e Eva foram criados à imagem e semelhança de Deus. Por
que eles quereriam ser como Deus, se já eram à Sua imagem e semelhança?
A árvore do conhecimento do bem e do mal, trata desse nosso desejo
pecaminoso, dessa herança genética maldita, de querermos viver distantes de Deus,
como se soubéssemos o que fazer. Morremos... Assim como aconteceu com Adão e
Eva, que foram expulsos do jardim. Não puderam estar mais no jardim, cujo centro
havia a Árvore da Vida. A morte era eminente. O pecado nos distancia de Deus
(Isaías 59.2), o criador e doador da vida. O pecado nos afasta da própria vida; nos
afasta de Deus!
Se Deus é tão bom, por que tanta coisa ruim acontece no mundo? Porque nós,
seres humanos, em nosso pecado de desobediência e independência de Deus,
estamos alienados da presença divina!
2. A árvore do conhecimento nos aliena do nosso próximo
A segunda conseqüência da árvore do conhecimento do bem e do mal na vida do
ser humano, é a autoalienação.
Quem era o culpado por tudo o que ocorrera?
Não havia um culpado, um responsável. Três o eram...
Além de nos alienar da presença de Deus, o pecado nos distancia uns dos
outros. O homem culpou a mulher, que por sua vez, culpou a serpente. A
responsabilidade por nossos atos, erros e pecados é sempre nossa! Temos que
entender isso. O outro tornase o nosso inimigo, aquele que nos ameaça, aquele que
toma o nosso lugar, aquele que tem o que eu deveria ter...
A partir desse momento, o relacionamento entre homem e mulher que era
para ser um paraíso, tornouse um eterno campo de guerra. Não nos entendemos
mais. No casamento, um culpa o outro por sua infelicidade, pelas dívidas, por não
pensar e agir como penso.
O pecado é uma herança. Herdamos isso de Adão e Eva (Romanos 5.12). Não
existe ninguém puro. A Palavra de Deus é enfática ao afirmar que todos pecaram
porque nasceram pecadores. Muitas das desgraças que acontecem em nosso
mundo, desde problemas ecológicos a problemas relacionais, são fruto de
nosso pecado. Guerras, brigas, roubos, corrupção, pobreza, injustiça, são
excelentes retratos da natureza humana.
Desde pequenos, já temos essa inclinação ao mal (Salmo 51.5). Se as coisas
não acontecem no momento que queremos, choramos, esperneamos, fazemos birra,
até que nossos desejos sejam satisfeitos. Todo ser humano possui essa tendência de
viver a vida, como se fosse o centro do universo. Distantes de Deus...
A grande tentação lançada no jardim do Éden (Gênesis 3.5), ecoa até hoje: “como
Deus, serão conhecedores do bem e do mal”. Sermos deuses. Sermos
importantes. Sermos o centro do universo. Sermos admirados. Sermos
exaltados. Sermos como Deus! Disso, vêm muitas de nossas “boas ações”: “Vejam
como eu sou bondoso, como me preocupo com as pessoas...” Disso vem muito de
nossas ações exigindo “respeito”: “Você sabe com quem está falando?” Disso vem
muito de nossas ações exigindo “justiça”: “Isso não pode acontecer comigo. Eu não
mereço!”
3. A Árvore da Vida nos devolve à presença de Deus
Assim como a árvore do conhecimento do bem e do mal estava à disposição
posterior do ser humano, outra Árvore também estava: a Árvore da Vida. Com sua
queda, o ser humano foi afastado da Árvore da Vida.
A queda humana de seu relacionamento com Deus foi em frente a uma
árvore, a uma madeira, a um madeiro. A solução para o pecado humano, que teve
início aos pés de uma ets, a árvore do conhecimento do bem e do mal, está aos pés de
outra ets, o madeiro que foi a cruz do calvário. “Aquele que tem ouvidos ouça o que o
Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei o direito de comer da árvore da vida, que
está no paraíso de Deus.” (Apocalipse 2.7)
A vitória de satanás sobre a mulher e o homem, debaixo dos galhos daquela
primeira árvore, levouo à sua própria derrota, sob as vigas entrecruzadas de outra
árvore, na qual morreu o Príncipe da Glória, a personificação da sabedoria.
Na cruz de Cristo, nossa alienação de Deus e do próximo é vencida! Os nossos
relacionamentos são restaurados, traumas são vencidos. Verticalmente, sou
restaurado, para horizontalmente ser renovado... É por isso que existe uma outra
árvore, a Árvore da Vida, na Nova Jerusalém, transplantada, por assim dizer, do
Éden e ao alcance dos moradores do novo mundo vindouro da nova criação.