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APOSTILA

DIREITO
CONSTITUCIONAL 3

PROF. GILBERTO
FROTA

Semestre: 2018.1

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NOTA DE AULA 01
DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL III
PROFESSOR: GILBERTO FROTA
ASSUNTO: PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Estrutura da Constituição CF/88

As Constituições, de forma geral, dividem-se em três partes: preâmbulo, parte


dogmática e disposições transitórias.

O preâmbulo é a parte que antecede o texto constitucional propriamente dito. Serve


para sintetizar a ideologia do poder constituinte originário, expondo os valores por ele adotados
e os objetivos por ele perseguidos. Segundo o STF, ele não dispõe de força normativa, não
tendo caráter vinculante.

O preâmbulo não tem função normativa. Segundo o Supremo Tribunal Federal, ele
não é norma constitucional. Portanto, não serve de parâmetro para a declaração de
inconstitucionalidade e não estabelece limites para o Poder Constituinte Derivado, seja ele
Reformador ou Decorrente. Por isso, o STF entende que suas disposições não são de
reprodução obrigatória pelas Constituições Estaduais.

"Preâmbulo da Constituição: não constitui norma central. Invocação da proteção de Deus:


não se trata de norma de reprodução obrigatória na Constituição estadual, não tendo força
normativa." (ADI 2.076, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 15-8-2002, Plenário, DJ de
8-8-2003.)

A parte dogmática da Constituição é o texto constitucional propriamente dito, que


prevê os direitos e deveres criados pelo poder constituinte. Trata-se do corpo permanente da
Carta Magna, que, na CF/88, vai do art. 1º ao 250. Destaca-se que falamos em “corpo
permanente” porque, a princípio, essas normas não têm caráter transitório, embora possam ser
modificadas pelo poder constituinte derivado, mediante emenda constitucional.

Por fim, a parte transitória da Constituição visa a integrar a ordem jurídica antiga à
nova, quando do advento de uma nova Constituição, garantindo a segurança jurídica e
evitando o colapso entre um ordenamento jurídico e outro. Suas normas são formalmente
constitucionais, embora, no texto da CF/88, apresente numeração própria (veja o ADCT – Ato
das Disposições Constitucionais Transitórias). Assim como a parte dogmática, pode ser
modificado por reforma constitucional.

TÍTULO I
Dos Princípios Fundamentais

Conceito de Princípio – é a base, o alicerce de todo um ordenamento jurídico.

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos


Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos:

Vínculo indissolúvel - não há direito de secessão em nosso ordenamento jurídico.

I - a soberania;

Representa a independência do estado brasileiro perante as outras nações internacionais.


Também o conceito de Soberania abrange a idéia de Soberania Popular, de onde emana todo
o poder.

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Apenas a República Federativa do Brasil (RFB) é considerada soberana, inclusive para
fins de direito internacional. Só ela possui personalidade internacional.

O ato de extradição como poder soberano

“Negativa, pelo presidente da República, de entrega do extraditando ao país requerente.


(...) O Tratado de Extradição entre a República Federativa do Brasil e a República italiana, no
seu art. III, 1, f, permite a não entrega do cidadão da parte requerente quando ‘a parte
requerida tiver razões ponderáveis para supor que a pessoa reclamada será submetida a
atos de perseguição’. (...) Deveras, antes de deliberar sobre a existência de poderes
discricionários do presidente da República em matéria de extradição, ou mesmo se essa
autoridade se manteve nos lindes da decisão proferida pelo Colegiado anteriormente, é
necessário definir se o ato do chefe de Estado é sindicável pelo Judiciário, em abstrato. O art.
1º da Constituição assenta como um dos fundamentos do Estado brasileiro a sua soberania –
que significa o poder político supremo dentro do território, e, no plano internacional, no
tocante às relações da República Federativa do Brasil com outros Estados soberanos,
nos termos do art. 4º, I, da Carta Magna. A soberania nacional no plano transnacional
funda-se no princípio da independência nacional, efetivada pelo presidente da
República, consoante suas atribuições previstas no art. 84, VII e VIII, da Lei Maior. ... No
campo da soberania, relativamente à extradição, é assente que o ato de entrega do
extraditando é exclusivo, da competência indeclinável do presidente da República, ...
não compete ao STF, que não exerce soberania internacional, máxime para impor a
vontade da República italiana ao chefe de Estado brasileiro, .... (Rcl 11.243, Rel. p/ o ac.
Min. Luiz Fux, julgamento em 8-6-2011, Plenário, DJE de 5-10-2011.)

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:

VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes


diplomáticos;

VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do


Congresso Nacional;

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:

I - processar e julgar, originariamente:

g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;

II - a cidadania;

Possui duplo sentido:

Primeiro: traduz a titularidade dos direito políticos;

Segundo: representa o conjunto de direitos que toda pessoa possui com relação ao
respeito da dignidade da pessoa humana, à moradia, liberdade, segurança, integridade física,
lazer, condições dignas de trabalho, etc.

III - a dignidade da pessoa humana;

O princípio da dignidade humana evidencia a intenção do legislador constituinte em zelar


pela proteção ao que se chama de núcleo mínimo de direitos e garantias, que é absoluto.
Assim, qualquer lesão ou ameaça à dignidade da pessoa humana, em seus aspectos físicos,
morais ou psicológicos deve ser enfrentada com base nesse dispositivo constitucional.

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Na Constituição federal de 1988, a dignidade da pessoa humana é a base de todos os
direitos fundamentais. Coloca o ser humano a uma preocupação central para o Estado
brasileiro.

Jurisprudência do STF – Uso de algemas

O uso de algemas tem caráter excepcional. Com base nesse entendimento, o Tribunal
concedeu habeas corpus — impetrado em favor de condenado à pena de 13 anos e 6 meses
de reclusão pela prática dos crimes previstos no art. 121, § 2º, II, III e IV, do CP, e no art. 10,
da Lei n. 9.437/97 — para tornar insubsistente a decisão do Tribunal do Júri, e determinar que
outro julgamento seja realizado, com a manutenção do acusado sem as algemas. Na espécie,
o paciente permanecera algemado durante toda a sessão do Júri, tendo sido indeferido o
pedido da defesa para que as algemas fossem retiradas, ao fundamento de inexistência de
constrangimento ilegal, sobretudo porque tal circunstância se faria necessária ao bom
andamento dos trabalhos, uma vez que a segurança, naquele momento, estaria sendo
realizada por apenas 2 policiais civis, e, ainda, porque o réu permanecera algemado em todas
as audiências ocorridas antes da pronúncia. Entendeu-se que o uso das algemas, no caso,
estaria em confronto com a ordem jurídico-constitucional, tendo em conta que não havia, no
caso, uma justificativa socialmente aceitável para submeter o acusado à humilhação de
permanecer durante horas algemado, quando do julgamento no Tribunal do Júri, não tendo
sido, ademais, apontado um único dado concreto, relativo ao perfil do acusado, que estivesse a
exigir, em prol da segurança, a permanência com algemas. Além disso, afirmou-se que a
deficiência na estrutura do Estado não autorizava o desrespeito à dignidade do envolvido e
que, inexistente o aparato de segurança necessário, impunha-se o adiamento da sessão.
Salientou-se, inicialmente, que o julgamento perante o Tribunal do Júri não requer a custódia
preventiva do acusado (CF, art. 5º, LVII), não sendo necessária sequer sua presença (CPP, art.
474, alterado pela Lei n. 11.689/2008). Considerou-se, também, o princípio da não-
culpabilidade, asseverando-se que a pessoa acusada da prática de crime doloso contra a vida
merece o tratamento devido aos humanos, aos que vivem em um Estado Democrático de
Direito. Ressaltou-se que o art. 1º da CF tem como fundamento a dignidade da pessoa
humana e que da leitura do rol das garantias constitucionais previstas no art. 5º (incisos
XIX, LXI, XLIX, LXI, LXIII, LXIV, LXV, LXVI, XLVIII), depreende-se a preocupação em se
resguardar a figura do preso, repousando tais preceitos no inafastável tratamento
humanitário do cidadão, na imprescindibilidade de lhe ser preservada a dignidade. (...) o
uso desse instrumento é excepcional e somente pode ocorrer nos casos em que realmente se
mostre indispensável para impedir ou evitar a fuga do preso ou quando se cuidar
comprovadamente de perigoso prisioneiro. Mencionou-se que a Lei n. 11.689/2008 tornou
estreme de dúvidas a excepcionalidade do uso de algemas (‘Art. 474... § 3º Não se permitirá o
uso de algemas no acusado durante o período em que permanecer no plenário do júri, salvo se
absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das testemunhas ou à garantia
da integridade física dos presentes.’) (...). Precedentes citados: HC 71.195/SP (DJ de 4-8-95);
HC 89.429/RO (DJ de 2-2-07).” (HC 91.952, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 7-8-08,
Informativo 514)

“Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de


perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a
excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente
ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da
responsabilidade civil do Estado.” (Súmula Vinculante 11)

Jurisprudência do STF – Direito ao nome

“O direito ao nome insere-se no conceito de dignidade da pessoa humana, princípio


alçado a fundamento da República Federativa do Brasil (CF, artigo 1º, inciso III)." (RE
248.869, voto do Min. Maurício Corrêa, julgamento em 7-8-03, DJ de 12-3-04)

Nota: O Plenário do STF, no julgamento da ADI 3.510, declarou a


constitucionalidade do art. 5º da Lei 11.105/2005 (Lei de Biossegurança), por entender

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que as pesquisas com células-tronco embrionárias não violam o direito à vida ou o
princípio da dignidade da pessoa humana.

"A pesquisa científica com células-tronco embrionárias, autorizada pela Lei 11.105/2005,
objetiva o enfrentamento e cura de patologias e traumatismos que severamente limitam,
atormentam, infelicitam, desesperam e não raras vezes degradam a vida de expressivo
contingente populacional (ilustrativamente, atrofias espinhais progressivas, distrofias
musculares, a esclerose múltipla e a lateral amiotrófica, as neuropatias e as doenças do
neurônio motor). A escolha feita pela Lei de Biossegurança não significou um desprezo
ou desapreço pelo embrião in vitro, porém uma mais firme disposição para encurtar
caminhos que possam levar à superação do infortúnio alheio. Isto no âmbito de um
ordenamento constitucional que desde o seu preâmbulo qualifica ‘a liberdade, a segurança, o
bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça’ como valores supremos de uma
sociedade mais que tudo ‘fraterna’. O que já significa incorporar o advento do
constitucionalismo fraternal às relações humanas, a traduzir verdadeira comunhão de vida ou
vida social em clima de transbordante solidariedade em benefício da saúde e contra eventuais
tramas do acaso e até dos golpes da própria natureza. Contexto de solidária, compassiva ou
fraternal legalidade que, longe de traduzir desprezo ou desrespeito aos congelados embriões in
vitro, significa apreço e reverência a criaturas humanas que sofrem e se desesperam.
Inexistência de ofensas ao direito à vida e da dignidade da pessoa humana, pois a
pesquisa com células-tronco embrionárias (inviáveis biologicamente ou para os fins a
que se destinam) significa a celebração solidária da vida e alento aos que se acham à
margem do exercício concreto e inalienável dos direitos à felicidade e do viver com
dignidade (Min. Celso de Mello). ...(ADI 3.510, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 29-5-
2008, Plenário, DJE de 28-5-2010.)

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

Desde que o trabalho desenvolvido seja lícito e não venha a ferir os bons costumes e a
sociedade, deverá ser permitido e até mesmo incentivado. Este princípio procura estabelecer
uma harmonia entre o trabalho humano e a produção.

TÍTULO VII
Da Ordem Econômica e Financeira
CAPÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na


livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes princípios:

V - o pluralismo político.

Representa a possibilidade de diversas correntes filosóficas, ideológicas e políticas.


Diferente do monismo, que traz o pensamento político centralizado em uma só idéia, È uma
conseqüência direta do princípio da democracia, respeitando-se as opiniões divergentes entre
os vários setores da sociedade.

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

REGIMES DE GOVERNO:

1) DEMOCRACIA

Conceito de Democracia - A democracia é o REGIME DE GOVERNO fundado na


idéia de que a titularidade do poder é sempre do povo.

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Espécies de Democracia:

1) Democracia Direta – é aquela em que o povo participa da gestão da coisa pública


diretamente. Apesar de em nosso país adotarmos como regime de governo a
democracia indireta, o povo também pode participar diretamente da vida pública
através do plebiscito, referendo, iniciativa popular, etc.
2) Democracia Indireta – também denominada por alguns autores com DEMOCRACIA
REPRESENTATIVA, que é o regime de governo adotado pela Constituição Federal de
1988 onde se estabelece que o povo é o titular do poder mas o mesmo é exercido
pelos seus representantes eleitos democraticamente.

2) AUTOCRACIA

Conceito de Autocracia - é o governo exercido de forma autoritária pelo governante e


sem nenhuma legitimidade junto ao povo.

FORMAS DE GOVERNO (relação entre governados e governantes)

Conceito – é a forma como o poder político é adquirido e exercido e como se dá a


relação entre governados e governantes.

1) REPÚBLICA

Conceito de República – forma de governo caracterizada pela eletividade dos


governantes e periodicidade de seus mandatos.

2) MONARQUIA

Conceito de Monarquia – forma de governo caracteriza pela vitaliciedade (o poder


do governante é para sempre) e hereditariedade (o poder do governante é transferido para
futuras gerações).

FORMAS DE ESTADO (relação entre as entidades federativas)

Conceito - Dispõe como o poder será dividido territorialmente entre as entidades


federativas

1) ESTADO SIMPLES OU UNITÁRIO

Conceito – existe uma concentração de poder e um único ordenamento jurídico, uma


única Constituição. Exemplo: Inglaterra.

2) ESTADO COMPOSTO OU COMPLEXO

Conceito – o poder político se divide dentro do espaço territorial, com a presença de


vários ordenamentos jurídicos (Constituição Federal, constituições estaduais e leis orgânicas).

2.a) A Federação

Representa a união, aliança de Estados-membros para a formação de um estado


único, em que as unidades federadas preservam sua autonomia política, administrativa e
financeira, enquanto a soberania é transferida para o estado Federal. Na Federação, os
Estados-membros não podem se desligar da mesma, vedando-se o direito de secessão destes
(união indissolúvel). Exemplo: Brasil.

2.b) A Confederação

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Representa a união de Estados soberanos, que por meio de um tratado ou convenção
se unem para determinados fins, sendo possível a qualquer deles desligar-se da Confederação
a qualquer momento (direito de secessão). Exemplo: A União Européia.

SISTEMAS DE GOVERNO

Conceito – disciplina as relações que vão existir entre os Poderes Legislativo e


Executivo no exercício de suas funções governamentais asseguradas constitucionalmente.

1) PRESIDENCIALISMO

Neste sistema existe uma separação clara e rígida entre os Poderes Executivo e
Legislativo, prevalecendo a separação dos poderes com harmonia e independência entre os
mesmos. O presidente da República acumula tanto as funções de Chefe de Estado + Chefe de
Governo.

Chefia de Estado – é aquela em que o presidente da República exerce quando


representa o Estado brasileiro no plano internacional. Exemplo: quando o presidente firma um
tratado internacional com outro país.

Chefia de Governo – é aquela em que o presidente da República realiza a


administração interna do Estado brasileiro. Exemplo: a criação de um Ministério.

SOCIDIVAPLU

Nos incisos do art. 1º da Carta Magna estão expressos os fundamentos da República


Federativa do Brasil, que são os pilares, a base de nosso ordenamento jurídico. Eles formam a
famosa sigla “SOCIDIVAPLU”: soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, valores
sociais do trabalho e da livre iniciativa e pluralismo político.

ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

Significa o fato de um estado ser regido pelo império das leis (ESTADO DE DIREITO),
mas com o poder político sendo exercido pelos representantes do povo com legitimidade
(ESTADO DEMOCRÁTICO).

Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o


Executivo e o Judiciário.

Poderes Constituídos – segundo a Constituição Federal são o Poder legislativo,


Poder Executivo e Poder Judiciário.

Separação de Poderes # Separação de Funções – na verdade o que a Constituição


Federal estabelece é uma separação de funções entre os chamados poderes constituídos,
tendo em vista que o poder sempre vai pertencer ao povo. O criador da Teoria da separação
dos poderes foi Aristóteles, mas a mesma foi desenvolvida e consagrada por Montesquie na
sua célebre obra: “O Espírito das Leis”.

A chamada “separação dos poderes” não pode ser vista como absoluta, uma vez que
os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, tem suas chamadas funções típicas ou
principais, mas também apresentam funções atípicas ou secundárias. Assim, os poderes
exercem prioritariamente suas funções típicas como também de maneira secundária exercem
as funções dos outros poderes.

Funções Típicas e Atípicas

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Nossa Constituição adotou a separação de Poderes flexível. Isso significa que eles não
exercem exclusivamente suas funções típicas, mas também outras, denominadas atípicas.
Um exemplo disso é o exercício da função administrativa – típica do Executivo – pelo Judiciário
e pelo Legislativo, quando dispõem sobre sua organização interna e sobre seus servidores,
nomeando-os ou exonerando-os.

Sistema de freios e contrapesos

Independência entre os Poderes é limitada pelo sistema de freios e contrapesos, de


origem norte-americana. Esse sistema prevê a interferência legítima de um Poder sobre o
outro, nos limites estabelecidos constitucionalmente. É o que acontece, por exemplo, quando o
Congresso Nacional (Poder Legislativo) fiscaliza os atos do Poder Executivo (art. 49, X, CF/88).

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:

X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do


Poder Executivo, incluídos os da administração indireta;

Possibilidade, ou não, de o Poder Judiciário determinar ao Poder Executivo a


adoção de providências administrativas visando a melhoria da qualidade da prestação
do serviço de saúde por hospital da rede pública.

"A controvérsia objeto destes autos – possibilidade, ou não, de o Poder Judiciário


determinar ao Poder Executivo a adoção de providências administrativas visando a
melhoria da qualidade da prestação do serviço de saúde por hospital da rede pública –
foi submetida à apreciação do Pleno do STF na SL 47-AgR, rel. min. Gilmar Mendes, DJ de 30-
4- 2010. Naquele julgamento, esta Corte, ponderando os princípios do ‘mínimo existencial’ e
da ‘reserva do possível’, decidiu que, em se tratando de direito à saúde, a intervenção
judicial é possível em hipóteses como a dos autos, nas quais o Poder Judiciário não está
inovando na ordem jurídica, mas apenas determinando que o Poder Executivo cumpra
políticas públicas previamente estabelecidas." (RE 642.536-AgR, rel min. Luiz Fux,
julgamento em 5-2-2013, Primeira Turma, DJE de 27-2-2013)

Interferência excepcional do Poder Judiciário no Poder Executivo

O Poder Judiciário, em situações excepcionais, pode determinar que a Administração


pública adote medidas assecuratórias de direitos constitucionalmente reconhecidos
como essenciais, sem que isso configure violação do princípio da separação dos
poderes, inserto no art. 2º da Constituição Federal.[RE 669.635 AgR, rel. min. Dias Toffoli, j.
17-3-2015, 2ª T, DJE de 13-4-2015.]

É lícito ao Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fazer, consistente na


promoção de medidas ou na execução de obras emergenciais em estabelecimentos prisionais.
Supremacia da dignidade da pessoa humana que legitima a intervenção judicial. [RE 592.581,
rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 13-8-2015, P, DJE de 1º-2-2016, com repercussão geral.]

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

Princípio da solidariedade na Previdência Social brasileira

“O sistema público de previdência social é fundamentado no princípio da


solidariedade (art. 3º, I, da CB/1988), contribuindo os ativos para financiar os benefícios
pagos aos inativos. Se todos, inclusive inativos e pensionistas, estão sujeitos ao
pagamento das contribuições, bem como aos aumentos de suas alíquotas, seria flagrante a
afronta ao princípio da isonomia se o legislador distinguisse, entre os beneficiários, alguns mais
e outros menos privilegiados, eis que todos contribuem, conforme as mesmas regras, para

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financiar o sistema. Se as alterações na legislação sobre custeio atingem a todos,
indiscriminadamente, já que as contribuições previdenciárias têm natureza tributária, não há
que se estabelecer discriminação entre os beneficiários, sob pena de violação do princípio
constitucional da isonomia.” (RE 450.855-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 23-8-
2005, Primeira Turma, DJ de 9-12-2005.)

II - garantir o desenvolvimento nacional;

Jurisprudência do STF – Desenvolvimento sustentável

“A questão do desenvolvimento nacional (CF, art. 3º, II) e a necessidade de preservação


da integridade do meio ambiente (CF, art. 225): O princípio do desenvolvimento sustentável
como fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia. O
princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter eminentemente
constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo
Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da
economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando
ocorrente situação de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição
inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos
mais significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz
bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e
futuras gerações.” (ADI 3.540-MC, Rel. Min. Celso de Mello,julgamentoem1º-9-05, DJde 3-2-
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III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e


regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.

A promoção do bem de todos, sem preconceitos, alçada pela Carta Magna à condição de
objetivo fundamental da República Federativa do Brasil, consagra a igualdade formal como um
dos objetivos da República Federativa do Brasil. Um exemplo de sua aplicação é a reserva de
vagas nas Universidades Federais, a serem ocupadas exclusivamente por alunos
egressos de escolas públicas. Busca-se tornar o sistema educacional mais justo, mais igual.
Não se trata de preconceito, mas de uma ação afirmativa do Estado.

Comentário

Objetivo significa meta, ações a serem empreendidas. Neste dispositivo o que


vemos de uma forma nítida é uma característica de ordem programática, não
asseguram direitos , apenas orientam todo o poder público quais as metas a serem
buscadas.

Dica para concurso: os objetivos fundamentais são aqueles que começam por
VERBOS, sendo que em provas de concurso também encontramos substantivos decorrentes
destes verbos (exemplo: a construção, a garantia, a erradicação ou a promoção)

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais


pelos seguintes princípios:

I - independência nacional;

II - prevalência dos direitos humanos;

III - autodeterminação dos povos;

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IV - não-intervenção;

V - igualdade entre os Estados;

VI - defesa da paz;

VII - solução pacífica dos conflitos;

VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;

IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;

X - concessão de asilo político.

Asilo Político – consiste no acolhimento de estrangeiro por parte de um Estado que não
o seu, em virtude de perseguição política por ele sofrida. As causa motivadoras dessa
perseguição são: dissidência política, livre manifestação de pensamento, etc. A concessão de
asilo político é ato de soberania nacional de competência do presidente da República. A prática
de crime que não tenha motivação de caráter ideológico não enseja a concessão do asilo
político.

Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica,


política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma
comunidade latino-americana de nações. (MERCOSUL)

Dica para concurso: A Constituição Federal fala em “.....integração dos povos da


AMÉRICA LATINA....” e não em AMÉRICA DO SUL.

Dica para concurso

O que observamos nas provas é que as diversas bancas examinadoras nacionais


(CESPE,Fundação Carlos Chagas - FCC, ESAF ) e as locais ( Instituto Cidade , UECE )
buscam confundir os alunos ao misturarem os fundamentos art. 01 , com os objetivos art 3 e
com os princípios nas relações internacionais art. 4.

EXERCÍCIOS

01) (Cespe/2013/TRE-MS) É princípio fundamental da República Federativa do Brasil a


dissolubilidade do vínculo federativo, dado o direito de secessão dos estados e
municípios.

02) (Cespe/2010/ANEEL) Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, a construção


de uma sociedade livre justa e solidária e a garantia do desenvolvimento nacional
constituem fundamentos da República Federativa do Brasil.

03) (Cespe/2008/SGA-AC) Um dos objetivos fundamentais da República Federativa do


Brasil é a redução das desigualdades sociais e regionais.

04) (Cespe/2012/STJ) A não intervenção, um dos fundamentos da República Federativa


do Brasil, expressa, assim como outros fundamentos, o poder supremo e independente
do país.

05) (Cespe/2013/TRE-MS) Os princípios que regem as relações internacionais do Brasil


incluem a prevalência dos direitos humanos e a concessão de asilo político.

06) (Cespe/2010/TRT 21ª região) A República Federativa do Brasil rege-se, nas suas
relações internacionais, entre outros, pelos princípios dos direitos humanos, da
autodeterminação dos povos, da igualdade entre os Estados, da defesa da paz, da

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solução pacífica dos conflitos, do repúdio ao terrorismo e ao racismo, da cooperação
entre os povos para o progresso da humanidade, do duplo grau de jurisdição, da
concessão de asilo político e da independência funcional.

Comentários:

São princípios que regem a RFB em suas relações internacionais: princípios dos direitos
humanos (o correto seria prevalência dos direitos humanos), duplo grau de jurisdição e
independência funcional (o correto seria independência nacional). Questão incorreta.

07) (Cespe/2012/Câmara dos Deputados) As relações internacionais da República


Federativa do Brasil regem-se pelo princípio da autodeterminação dos povos.

08) (Cespe/2007/TCU) Um dos preceitos constitucionais estabelece que a República


Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos
povos das Américas do Sul, Central e do Norte, visando à formação de uma
comunidade de nações americanas.

09) (Cespe/2011/STM) No âmbito das relações internacionais, a República Federativa do


Brasil adotou expressamente como princípio o repúdio ao terrorismo e ao racismo.

10) (Cespe/2010/DPE-BA) A República Federativa do Brasil rege-se, nas suas relações


internacionais, pelo repúdio ao racismo.

Gabarito: 01 F 02 F 03 V 04 F 05 V 06 F 07 V 08 F 09 V 10 V

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NOTA DE AULA 02
PROFESSOR: GILBERTO FROTA
DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL III
ASSUNTO: DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS (1ª PARTE)
– ART. 5º INCISO I ATÉ VIII

TÍTULO II – DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

TÍTULO II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

1) Origem dos Direitos e Garantias Fundamentais

Segundo os doutrinadores seria a Magna Carta Inglesa (1215), estabelecida pelo rei João
Sem Terra. Os direitos ali estabelecidos não visavam garantir uma proteção às liberdades dos
indivíduos em geral, mas assegurar o poder político aos barões (burguesia) mediante a
limitação dos poderes do rei.

2) Destinatários - TODOS

Os direitos fundamentais são extensivos também aos estrangeiros mesmo que estes estejam
de passagem pelo território nacional. Uma pessoa jurídica também possui direitos
fundamentais como o direito ao nome, à propriedade mas não possui direito à integridade física
ou à vida, direito à locomoção.

“O súdito estrangeiro, mesmo aquele sem domicílio no Brasil, tem direito a todas as
prerrogativas básicas que lhe assegurem a preservação do status libertatis e a observância,
pelo Poder Público, da cláusula constitucional do due process. O súdito estrangeiro, mesmo o
não domiciliado no Brasil, tem plena legitimidade para impetrar o remédio constitucional do
habeas corpus, em ordem a tornar efetivo, nas hipóteses de persecução penal, o direito
subjetivo, de que também é titular, à observância e ao integral respeito, por parte do Estado,
das prerrogativas que compõem e dão significado à cláusula do devido processo legal. A
condição jurídica de não-nacional do Brasil e a circunstância de o réu estrangeiro não possuir
domicílio em nosso país não legitimam a adoção, contra tal acusado, de qualquer tratamento
arbitrário ou discriminatório. Precedentes. Impõe-se, ao Judiciário, o dever de assegurar,
mesmo ao réu estrangeiro sem domicílio no Brasil, os direitos básicos que resultam do
postulado do devido processo legal, notadamente as prerrogativas inerentes à garantia
da ampla defesa, à garantia do contraditório, à igualdade entre as partes perante o juiz
natural e à garantia de imparcialidade do magistrado processante.” (HC 94.016, Rel. Min.
Celso de Mello, julgamento em 16-9-08, 2ª Turma, DJE de 27-2-09)

OBS. Existem direitos fundamentais que são das pessoas físicas mas que exigem uma certa
condição para o seu exercício. Ex. Ação popular a qual só pode ser exercida por cidadão (art.
5º LXXIII).

3) Distinção entre Direitos e Garantias

O direito é aquele estático (ex. direito à liberdade) enquanto que a garantia tem um caráter
dinâmico e é ela que vai dar vida ao direito material (ex. habeas corpus). Através da garantia é
que o direito vai se fazer valer e terá a devida proteção. Daí se falar na natureza instrumental

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das garantias constitucionais, já que as mesmas servem de instrumento para a efetivação
dos direitos.

Exemplos:
DIREITOS GARANTIAS
Direito de crença + Garantia da liberdade de culto
Direito de expressão + Garantia da proibição à censura
Direito de propriedade + Garantia da inviolabilidade de domicílio
Direito à locomoção + Habeas Corpus
Direito Líquido e Certo + Mandado de Segurança

4) Características

4.a) Imprescritibilidade – não deixam de ser exigíveis pelo seu não uso;

4.b) Irrenunciabilidade – em regra são irrenunciáveis, não podendo o seu humano abrir mão
de seus direito fundamentais. Exceção: direito à imagem e ao nome (Big Brother).

4.c) Relatividade ou Limitabilidade – Nenhum direito fundamental é absoluto, no caso de


haver um conflito entre direitos fundamentais, deve o intérprete fazer uma ponderação no
sentido de que em uma determinada situação, um direito venha a ser superior à outro e vice-
versa, mas tudo vai depender do caso concreto.os direitos constitucionais podem por exemplo
serem tolhidos em caso de estado de sítio e estado de defesa (art. 136 e art. 139.

Exceção à relatividade dos direitos fundamentais:

STF, RT, 709:408 – Segundo o STF a proibição á tortura é um direito constitucional absoluto
haja vista que não posso me valer da mesma como forma, por exemplo, de obter uma prova.

Caráter relativo dos direitos e garantias fundamentais - "Os direitos e garantias individuais
não têm caráter absoluto. Não há, no sistema constitucional brasileiro, direitos ou garantias que
se revistam de caráter absoluto, mesmo porque razões de relevante interesse público ou
exigências derivadas do princípio de convivência das liberdades legitimam, ainda que
excepcionalmente, a adoção, por parte dos órgãos estatais, de medidas restritivas das
prerrogativas individuais ou coletivas, desde que respeitados os termos estabelecidos pela
própria Constituição. O estatuto constitucional das liberdades públicas, ao delinear o regime
jurídico a que estas estão sujeitas – e considerado o substrato ético que as informa - permite
que sobre elas incidam limitações de ordem jurídica, destinadas, de um lado, a proteger a
integridade do interesse social e, de outro, a assegurar a coexistência harmoniosa das
liberdades, pois nenhum direito ou garantia pode ser exercido em detrimento da ordem
pública ou com desrespeito aos direitos e garantias de terceiros." (MS 23.452, Rel. Min.
Celso de Mello, DJ 12/05/00)

4.d) Universalidade – devem em regra abranger todos os indivíduos independentemente de


sua nacionalidade, sexo, raça, credo, etc.

4.e) Concorrência: os direitos fundamentais podem ser exercidos cumulativamente, podendo


um mesmo titular possuir vários direitos ao mesmo tempo.

5) Gerações ou Dimensões de direitos fundamentais

5.a) Primeira Geração (LIBERDADE) Direitos Civis e Políticos – são limites impostos à
atuação do Estado, resguardando direitos considerados indispensáveis a cada pessoa
humana. Significam uma PRESTAÇÃO NEGATIVA por parte do Estado em prol do cidadão,
UM NÃO FAZER do Estado. Exemplos: direito à liberdade, à vida, à integridade física.

5.b) Segunda Geração (IGUALDADE) Direitos Sociais, Culturais e Econômicos – são os


direitos de conteúdo econômico e social que visam à melhoria das condições de vida e trabalho
da população. Significam uma PRESTAÇÃO POSITIVA por parte do Estado, UM FAZER.
Exemplos: salário mínimo, décimo 13º salário, FGTS. O momento histórico do surgimento

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desses direitos ocorre com a Revolução Industrial em que a classe operária passa a exigir
melhores condições de trabalho.

5.c) Terceira Geração (FRATERNIDADE ou SOLIDADARIEDADE) – são direitos decorrentes


de uma sociedade de massas em que o importante vai ser o coletivo e não o individual.
Exemplos: direito ao meio ambiente protegido, direito à proteção do patrimônio histórico e
cultural, direito à paz.

OBS1. Quarta Geração (Profº PAULO BONAVIDES) – seriam direitos oriundos da


globalização e dos tempos modernos. Exemplos: transgênicos, clonagens, inseminação
artificial, informática, engenharia genética, etc.

OBS2. Segundo grande parte da doutrina, o nome geração é indevido haja vista que deixa
transparecer que há uma sucessão de uma geração de direito por outro, mas tal não é verdade
haja vista que todos os direitos, de todas as gerações, convivem harmoniosamente. O correto
seria DIMENSÂO.

OBS3 Lema da Revolução Francesa: LIBERDADE + IGUADADE + FRATERNIDADE

“Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) — que compreendem as


liberdades clássicas, negativas ou formais — realçam o princípio da liberdade e os direitos de
segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) — que se identifica com as
liberdades positivas, reais ou concretas — acentuam o princípio da igualdade, os direitos de
terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a
todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento
importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos
humanos, caracterizados, enquanto valores fundamentais indisponíveis, nota de uma essencial
inexauribilidade.” (MS 22.164, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 30-10-95, Plenário,
DJ de 17-11-95)

5) Relação Vertical e Relação Horizontal dos Direitos Fundamentais

Relação Horizontal ou Eficácia Privada dos direitos fundamentais (ENTRE


PARTICULARES) – é aquela que existe entre os particulares. Ex. paciente de hospital que
recebe alta médica, mas encontra-se impedido de sair do mesmo e impetra contra o mesmo
um Habeas Corpus para fazer valer seu direito de locomoção.

Outros exemplos de aplicação dos direitos fundamentais às relações privadas:

RE 201.819/RJ, rel. Min. Ellen Gracie, rel. p/ acórdão Min. Gilmar Mendes, 11/10/2005 –
decisão judicial determinando que uma associação promova a reintegração de um associado
que havia sido excluído de seus quadros sem que lhe fosse concedido o contraditório e ampla
defesa (art. 5º LIV e LV).

RE nº 161.243-DF, rel. Min Carlos Velloso, DJ de 19/12/1997 – O tribunal não admitiu o


princípio da autonomia como forma de discriminar nacionais de estrangeiros quanto à
percepção de benefícios previstos no estatuto do pessoal de determinada empresa privada
francesa, instalada no Brasil. O STF considerou essa discriminação inconstitucional, já que
nossa CF/88 proíbe a discriminação em virtude da nacionalidade.

RE 160.222-8 – o STF entendeu como constrangimento ilegal a revista intima em mulheres em


uma fábrica de lingerie.

Relação Vertical (ENTRE O PARTICULAR E O ESTADO)

6) Divisão dos direitos e garantias fundamentais

 Direitos e deveres individuais e coletivos;


 Direitos sociais;
 Direitos da nacionalidade;

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 Direitos políticos;
 Partidos políticos;

STF – Pesquisas com células tronco não violam direito a vida

Nota: O Plenário do STF, no julgamento da ADI 3.510, declarou a constitucionalidade do art. 5º


da Lei 11.105/2005 (Lei de Biossegurança), por entender que as pesquisas com células-tronco
embrionárias não violam o direito à vida ou o princípio da dignidade da pessoa humana.

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta


Constituição;

PRINCÍPIO DA IGUALDADE

a) NA LEI – obriga o legislador, isto é, aquele que faz a lei a não estabelecer diferenças
desarrazoadas entre homens e mulheres;

b) PERANTE A LEI – obriga o aplicador da lei a não estabelecer tais diferenças (ex. vou pedir
uma certidão no INSS, para o chefe do posto baixa uma Portaria dizendo que para mulher o
prazo são de 10 dias e para homem de 5 dias).

OBS1. Vale salientar que pode sim haver e na verdade há um tratamento diferenciado entre
homens e mulheres desde que seja RAZOÁVEL tal discriminação.

OBS2. O princípio da igualdade consiste em tratar de forma igual os iguais e de forma desigual
os desiguais.

OBS3. As restrições impostas em certos concursos públicos, como por exemplo, da área
policial, só serão consideradas lícitas caso haja uma previsão em LEI e não somente no edital
do concurso.

OBS4. As discriminações previstas na própria CF/88, não ofende o princípio da


igualdade.....nos termos desta constituição.... Exemplos: reservas de cargos públicos para
brasileiros natos (art. 12, § 3º), previsão de tratamento favorecido às microempresas e
empresas de pequeno porte (art. 179), aposentadoria da mulher com menor tempo de
contribuição (art. 40), proteção do mercado de trabalho da mulher mediante incentivos
específicos (art. 7º XX).

Isonomia entre homens e mulheres para promoção na Aeronáutica - "A jurisprudência


deste Supremo Tribunal firmou entendimento no sentido de que não afronta o princípio da
isonomia a adoção de critérios distintos para a promoção de integrantes do corpo feminino e
masculino da Aeronáutica." (RE 498.900- AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 23-
10-07, 1ª Turma, DJ de 7-12-07). No mesmo sentido: RE 549.369- AgR, Rel. Min. Celso de
Mello, julgamento em 3-2-09, 2ª Turma, DJE de 13-3-09.

Parceiros homossexuais e direitos previdenciários - Com base no princípio da igualdade é


que o STF reconheceu aos parceiros homossexuais o direito aos benefícios previdenciários,
estabelecendo as uniões civis homossexuais (STF 62895-RS, Min. Marco Aurélio)

Oficial da PM e igualdade entre homens e mulheres - A admissão mediante concursos


público para preenchimento de vagas existentes no Oficialato da PM, no quadro de saúde (1º
tenente, dentista e médico) enquadra-se na regra constitucional, no que proíbe a distinção
entre homens e mulheres (STF – 120305/RJ Rel. Min. Marco Aurélio).

Penitenciária feminina e vagas exclusivas - Não há quebra do princípio da igualdade entre


homens e mulheres, o concurso público que estabelece exclusivamente vagas para mulheres
em penitenciária feminina (STF 25848-Rj Min. Celso de Mello).

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Exercício de função pública como título - "Constitucional. Concurso público. Regulamento nº
7/2004, do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão, incisos I e II do art. 31. Prova de títulos:
exercício de funções públicas. Viola o princípio constitucional da isonomia norma que
estabelece como título o mero exercício de função pública." (ADI 3.443, Rel. Min. Carlos
Velloso, DJ 23/09/05)

Critério de admissão em concurso por motivo de idade - A vedação constitucional de


diferença de critério de admissão por motivo de idade (CF, art. 7º, XXX) é corolário, na esfera
das relações de trabalho, do princípio fundamental de igualdade, que se entende, à falta de
exclusão constitucional inequívoca (como ocorre em relação aos militares - CF, art. 42, § 1º), a
todo o sistema do pessoal civil. É ponderável, não obstante, a ressalva das hipóteses em que a
limitação de idade se possa legitimar como imposição da natureza e das atribuições do cargo a
preencher." (RMS 21.046, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 14/11/91). No mesmo sentido:
RE 141.357, DJ 08/10/04; RE 212.066, DJ 12/03/99.

Altura e cargo de delegado/razoabilidade - "Razoabilidade da exigência de altura mínima


para ingresso na carreira de delegado de polícia, dada a natureza do cargo a ser exercido.
Violação ao princípio da isonomia. Inexistência." (RE 140.889, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ
15/12/00)
Concurso Público e Princípio da Isonomia – 2

A Turma concluiu julgamento de recurso extraordinário interposto contra acórdão do


Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte que, com fundamento no princípio da
isonomia, afastara norma do edital de concurso público para provimento de cargo de escrivão
da polícia civil e concedera mandado de segurança, a fim de conferir à impetrante, ora
recorrida, o direito de realizar nova prova física — v. Informativo 384. Deu-se provimento ao
recurso por se entender que o tribunal de origem, ao acolher a pretensão da impetrante,
que falhara durante a realização da prova física em decorrência de uma distensão
muscular, ofendera os princípios da impessoalidade e da isonomia. Ressaltou-se que o
tribunal a quo, com o afastamento da disposição editalícia, premiara a impetrante em
detrimento dos candidatos que também não foram aprovados no referido exame. RE
351142/RN, rel. Min. Ellen Gracie, 31.5.2005. (RE-351142)

Art. 37CF/88. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em


concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a
complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as
nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

“Remarcação de teste de aptidão física em concurso público em razão de problema


temporário de saúde. Vedação expressa em edital. Constitucionalidade. Violação ao princípio
da isonomia. Não ocorrência. Postulado do qual não decorre, de plano, a possibilidade de
realização de segunda chamada em etapa de concurso público em virtude de situações
pessoais do candidato. Cláusula editalícia que confere eficácia ao princípio da isonomia à luz
dos postulados da impessoalidade e da supremacia do interesse público. Inexistência de direito
constitucional à remarcação de provas em razão de circunstâncias pessoais dos candidatos.
Segurança jurídica. Validade das provas de segunda chamada realizadas até a data da
conclusão do julgamento.” (RE 630.733, rel. min. Gilmar Mendes, julgamento em 15-5-2013,
Plenário, DJE de 20-11-2013, com repercussão geral.)

Altura e cargo de escrivão de policia - "Concurso público – Fator altura. Caso a caso, há de
perquirir-se a sintonia da exigência, no que implica fator de tratamento diferenciado com a
função a ser exercida. No âmbito da polícia, ao contrário do que ocorre com o agente em si,

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não se tem como constitucional a exigência de altura mínima, considerados homens e
mulheres, de um metro e sessenta para a habilitação ao cargo de escrivão, cuja natureza é
estritamente escriturária, muito embora de nível elevado." (RE 150.455, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgamento em 15-12-98, 2ª Turma, DJ de 7-5-99). No mesmo sentido: AI 384.050-
AgR, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 9-9-03, 2ª Turma, DJ de 10-10-03; RE
194.952, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 11-9- 01, 1ª Turma, DJ de 11-10-01.

"Concurso público. Prova de esforço físico. Caso a caso, há de perquirir-se a sintonia da


exigência, no que implica fator de tratamento diferenciado com a função a ser exercida. Não se
tem como constitucional a exigência de prova física desproporcional à habilitação ao cargo de
auxiliar médico-legista, porquanto a atuação deste, embora física, não se faz no campo da
força bruta, mas a partir de técnica específica." (AI 851.587-AgR, rel. min. Marco Aurélio,
julgamento em 19-6-2012, Primeira Turma, DJE de 1º-8-2012.) Vide: RE 150.455, rel. min.
Marco Aurélio, julgamento em 15-12- 1998, Segunda Turma, DJ de 7-5-1999.

Classificação em concurso por região - "Concurso público: princípio de igualdade: ofensa


inexistente. Não ofende o princípio da igualdade o regulamento de concurso público que,
destinado a preencher cargos de vários órgãos da Justiça Federal, sediados em locais
diversos, determina que a classificação se faça por unidade da Federação, ainda que daí
resulte que um candidato se possa classificar, em uma delas, com nota inferior ao que, em
outra, não alcance a classificação respectiva" (RE 146.585, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ
15/09/95)

Discriminação entre empregado brasileiro e francês (proibição de critério diferenciador


da nacionalidade) - "Ao recorrente, por não ser francês, não obstante trabalhar para a
empresa francesa, no Brasil, não foi aplicado o Estatuto do Pessoal da Empresa, que concede
vantagens aos empregados, cuja aplicabilidade seria restrita ao empregado de nacionalidade
francesa. Ofensa ao princípio da igualdade: CF, 1967, art. 153, § 1º; CF, 1988, art. 5º, caput). A
discriminação que se baseia em atributo, qualidade, nota intrínseca ou extrínseca do indivíduo,
como o sexo, a raça, a nacionalidade, o credo religioso, etc., é inconstitucional. Precedente do
STF: Ag 110.846(AgRg)-PR, Célio Borja, RTJ 119/465. Fatores que autorizariam a
desigualização não ocorrentes no caso." (RE 161.243, Rel. Min. Carlos Velloso,
julgamento em 29-10-96, 2ª Turma, DJ de 19-12-97)

“Atos que instituíram sistema de reserva de vagas com base em critério étnico-racial
(cotas) no processo de seleção para ingresso em instituição pública de ensino superior.
(...) Não contraria – ao contrário, prestigia – o princípio da igualdade material, previsto no
caput do art. 5º da CR, a possibilidade de o Estado lançar mão seja de políticas de cunho
universalista, que abrangem um número indeterminado de indivíduos, mediante ações de
natureza estrutural, seja de ações afirmativas, que atingem grupos sociais determinados, de
maneira pontual, atribuindo a estes certas vantagens, por um tempo limitado, de modo a
permitir-lhes a superação de desigualdades decorrentes de situações históricas particulares.
(...) Justiça social hoje, mais do que simplesmente retribuir riquezas criadas pelo esforço
coletivo, significa distinguir, reconhecer e incorporar à sociedade mais ampla valores culturais
diversificados, muitas vezes considerados inferiores àqueles reputados dominantes. No
entanto, as políticas de ação afirmativa fundadas na discriminação reversa apenas são
legítimas se a sua manutenção estiver condicionada à persistência, no tempo, do quadro de
exclusão social que lhes deu origem. Caso contrário, tais políticas poderiam converter-se em
benesses permanentes, instituídas em prol de determinado grupo social, mas em detrimento da
coletividade como um todo, situação – é escusado dizer – incompatível com o espírito de
qualquer Constituição que se pretenda democrática, devendo, outrossim, respeitar a
proporcionalidade entre os meios empregados e os fins perseguidos.” (ADPF 186, rel. min.
Ricardo Lewandowski, julgamento em 26-4-2012, Plenário, DJE de 20-10-2014.) No
mesmo sentido: RE 597.285, rel. min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 9-5-2012,
Plenário, DJE de 18-3-2014, com repercussão geral.

“O inciso I do art. 100 do CPC, com redação dada pela Lei 6.515/1977, foi recepcionado pela
CF de 1988. O foro especial para a mulher nas ações de separação judicial e de
conversão da separação judicial em divórcio não ofende o princípio da isonomia entre

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homens e mulheres ou da igualdade entre os cônjuges.” (RE 227.114, Rel. Min. Joaquim
Barbosa, julgamento em 14-12-2011, Segunda Turma, DJE de 22-11-2012.)

Jurisprudência do STF

Constitucionalidade da reserva de vagas nas universidades públicas - 1 Reveste-se de


constitucionalidade o programa de ação afirmativa estabelecido pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul - UFRGS, que instituiu o sistema de cotas como meio de ingresso em seus
cursos de nível superior. Ao reafirmar esse entendimento, o Plenário, por maioria, desproveu
recurso extraordinário em que pretendida a declaração de inconstitucionalidade da reserva de
vagas..... RE 597285/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 9.5.2012. (RE-597285)

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude
de lei;

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

A regra para o agente público é: SÓ PODE FAZER AQUILO QUE A LEI MANDA.
A regra para o particular é: PODE FAZER TUDO DESDE QUE A LEI NÃO PROÍBA.

Psicotécnico e lei - "Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de
candidato a cargo público." (SÚM. 686)

“Concurso público. Agente de guarda municipal. Exigência de exame psicotécnico. Ocorrência


de previsão legal e de adoção de critérios objetivos. (...)”. ( AI 634.306 – AgR, Rel. Min. Gilmar
Mendes, Julgamento em 26-2-08, DJE de 18-4-08)

Princípio da legalidade – visa a combater o poder arbitrário do estado, só por meio de


espécies normativas devidamente elaboradas, conforme as regras do processo constitucional,
podem ser criadas obrigações para o indivíduo, pois são expressão da vontade geral.

Sentido amplo da palavra lei - O sentido da palavra lei é interpretado de forma ampla como
sendo todo ato normativo, abstrato e com força obrigatória. Ex. uma medida provisória, uma
instrução normativa da SEFAZ, etc.

III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

Tratamento Degradante # Tratamento Desumano # Tortura

O "tratamento degradante, por sua vez, ocorre quando há humilhação de alguém perante si
mesmo e perante os outros, ou leva a pessoa a agir contra sua vontade ou consciência.

Já o "tratamento desumano" é o tratamento degradante que provoca grande sofrimento mental


ou físico e que na situação específica é injustificável, impondo esforços que vão além dos
limites razoáveis (humanos) exigíveis. Assim, o tratamento desumano, engloba o
degradante.

A tortura seria um tipo agravado de tratamento desumano.

Crime hediondo - A tortura pela legislação infraconstitucional brasileira é considerada como


crime HEDIONDO (Lei nº 9455/97).

Uso de algemas e tratamento desumano - A imposição do uso de algemas ao réu, por


constituir infração aos princípios de respeito à integridade física e moral do cidadão, deve ser
aferida de modo cauteloso e diante de elementos concretos que demonstrem a periculosidade
do acusado (STJ RHC 5663/Sp – rel. Min. William Patterson – 1996).

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Uso de algemas e constrangimento ilegal - ....o uso de algemas tem natureza excepcional e
deve ser adotado para: evitar que o preso atente contra sua própria vida, de terceiros e dos
policiais e para impedir possível fuga....existe omissão legislativa quanto aos casos de uso ou
não de algemas.....deve ser observado o princípio da razoabilidade....concedido o pedido ao
conselheiro do TC do estado de Rondônia para que a PF não utilize algemas....( STF HC
89429/80 Min. Carmem Lúcia 2006)

“Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo
à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a
excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente
ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da
responsabilidade civil do Estado.” (Súmula Vinculante 11)

O uso de algemas tem caráter excepcional. Com base nesse entendimento, o Tribunal
concedeu habeas corpus - impetrado em favor de condenado à pena de 13 anos e 6 meses de
reclusão pela prática dos crimes previstos no art. 121, § 2º, II, III e IV, do CP, e no art. 10, da
Lei 9.437/97 - para tornar insubsistente a decisão do Tribunal do Júri, e determinar que outro
julgamento seja realizado, com a manutenção do acusado sem as algemas. Na espécie, o
paciente permanecera algemado durante toda a sessão do Júri, tendo sido indeferido o
pedido da defesa para que as algemas fossem retiradas, ao fundamento de inexistência
de constrangimento ilegal, sobretudo porque tal circunstância se faria necessária ao
bom andamento dos trabalhos, uma vez que a segurança, naquele momento, estaria
sendo realizada por apenas 2 policiais civis, e, ainda, porque o réu permanecera algemado
em todas as audiências ocorridas antes da pronúncia.
HC 91952/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 7.8.2008. (HC-91952)

Entendeu-se que o uso das algemas, no caso, estaria em confronto com a ordem jurídico-
constitucional, tendo em conta que não havia, no caso, uma justificativa socialmente aceitável
para submeter o acusado à humilhação de permanecer durante horas algemado, quando do
julgamento no Tribunal do Júri, não tendo sido, ademais, apontado um único dado concreto,
relativo ao perfil do acusado, que estivesse a exigir, em prol da segurança, a permanência com
algemas. Além disso, afirmou-se que a deficiência na estrutura do Estado não autorizava o
desrespeito à dignidade do envolvido e que, inexistente o aparato de segurança necessário,
impunha-se o adiamento da sessão. Salientou-se, inicialmente, que o julgamento perante o
Tribunal do Júri não requer a custódia preventiva do acusado (CF, art. 5º, LVII), não sendo
necessária sequer sua presença (CPP, art. 474, alterado pela Lei 11.689/2008). Considerou-
se, também, o princípio da não-culpabilidade, asseverando-se que a pessoa acusada da
prática de crime doloso contra a vida merece o tratamento devido aos humanos, aos que vivem
em um Estado Democrático de Direito. Ressaltou-se que o art. 1º da CF tem como fundamento
a dignidade da pessoa humana e que da leitura do rol das garantias constitucionais previstas
no art. 5º (incisos XIX, LXI, XLIX, LXI, LXIII, LXIV, LXV, LXVI, XLVIII), depreende-se a
preocupação em se resguardar a figura do preso, repousando tais preceitos no inafastável
tratamento humanitário do cidadão, na imprescindibilidade de lhe ser preservada a dignidade.
Aduziu-se que manter o acusado algemado em audiência, sem que demonstrada, ante práticas
anteriores, a periculosidade, implicaria colocar a defesa, antecipadamente, em patamar inferior.
Acrescentou-se que, em razão de o julgamento no Júri ser procedido por pessoas leigas
que tiram ilações diversas do contexto observado, a permanência do réu algemado
indicaria, à primeira vista, que se estaria a tratar de criminoso de alta periculosidade, o
que acarretaria desequilíbrio no julgamento, por estarem os jurados influenciados.
HC 91952/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 7.8.2008. (HC-91952)

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

A Tatuagem representa manifestação de pensamento? Pode ser considerada em edital


como forma de eliminar candidato em concurso público?

NOVO: Editais de concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem,
salvo situações excepcionais em razão de conteúdo que viole valores constitucionais. Com
base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, deu provimento a recurso extraordinário em

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que se discutia a constitucionalidade de proibição, contida em edital de concurso público, de
ingresso em cargo, emprego ou função pública para candidatos que possuam tatuagem. No
caso, o recorrente fora excluído de concurso público para provimento de cargo de soldado da
polícia militar por possuir tatuagem em sua perna esquerda. (...) A opção pela tatuagem
relacionar-se-ia, diretamente, com as liberdades de manifestação do pensamento e de
expressão (CF, art. 5°, IV e IX). Na espécie, estaria evidenciada a ausência de razoabilidade
da restrição dirigida ao candidato de uma função pública pelo simples fato de possuir tatuagem,
já que seria medida flagrantemente discriminatória e carente de qualquer justificativa racional
que a amparasse. Assim, o fato de uma pessoa possuir tatuagens, visíveis ou não, não poderia
ser tratado pelo Estado como parâmetro discriminatório quando do deferimento de participação
em concursos de provas e títulos para ingresso em carreira pública. Entretanto, tatuagens que
representassem obscenidades, ideologias terroristas, discriminatórias, que pregassem a
violência e a criminalidade, discriminação de raça, credo, sexo ou origem, temas
inegavelmente contrários às instituições democráticas, poderiam obstaculizar o acesso a
função pública. Eventual restrição nesse sentido não se afiguraria desarrazoada ou
desproporcional. Essa hipótese, porém, não seria a do recorrente que teria uma tatuagem
tribal, medindo 14 por 13 cm.[RE 898.450, rel. min. Luiz Fux, j. 17-8-2016, P, Informativo
835, com repercussão geral.]

Trata-se da liberdade de expressão. Todos podem manifestar, oralmente ou por escrito, o que
pensam, desde que isso não seja feito anonimamente. A vedação ao anonimato visa a garantir
a responsabilização de quem utilizar tal liberdade para causar danos a terceiros.

Com base na vedação ao anonimato, o STF veda, em regra, o acolhimento a denúncias


anônimas. Essas poderão servir de base para gerar investigação pelo Poder Público, mas
jamais poderão ser causa única de exercício de atividade punitiva pelo Estado.

Segundo a Corte, as autoridades públicas não podem iniciar qualquer medida de persecução
(penal ou disciplinar), apoiando-se apenas em peças apócrifas ou em escritos anônimos. As
peças apócrifas não podem ser incorporadas, formalmente, ao processo, salvo quanto tais
documentos forem produzidos pelo acusado, ou, ainda, quando constituírem, eles próprios, o
corpo de delito (como sucede com bilhetes de resgate no delito de extorsão mediante
seqüestro, por exemplo). É por isso que o escrito anônimo não autoriza, isoladamente
considerado, a imediata instauração de "persecutio criminis".

Entretanto, pode o Poder Público, provocado por delação anônima ("disque-denúncia", p. ex.),
adotar medidas informais destinadas a apurar, previamente, em averiguação sumária, a
possível ocorrência de ilicitude, desde que o faça com o objetivo de conferir a verossimilhança
dos fatos nela denunciados. Em caso positivo, poderá, então, ser promovida a formal
instauração da "persecutio criminis", mantendo-se completa desvinculação desse procedimento
estatal em relação às peças apócrifas.

Acolhimento de denúncias anônimas (delação apócrifa) e o entendimento do STF (voto


do Min. Celso de Melo no Inquérito 1957/PR):

"(...) entendo que um dos fundamentos que afastam a possibilidade de utilização da denúncia
anônima como ato formal de instauração do procedimento investigatório reside, precisamente,
como demonstrado em meu voto, no inciso IV do art. 5º da Constituição da República. Impende
reafirmar, bem por isso, na linha do voto que venho de proferir, a asserção de que os escritos
anônimos não podem justificar, só por si, desde que isoladamente considerados, a imediata
instauração da persecutio criminis, eis que peças apócrifas não podem ser incorporadas,
formalmente, ao processo, salvo quando tais documentos forem produzidos pelo acusado, ou,
ainda, quando constituírem, eles próprios, o corpo de delito (como sucede com bilhetes de
resgate no delito de extorsão mediante seqüestro, ou como ocorre com cartas que evidenciem
a prática de crimes contra a honra, ou que corporifiquem o delito de ameaça ou que
materializem o crimen falsi, p. ex.). Nada impede, contudo, que o Poder Público (...) provocado
por delação anônima — tal como ressaltado por Nelson Hungria, na lição cuja passagem
reproduzi em meu voto — adote medidas informais destinadas a apurar, previamente, em
averiguação sumária, com prudência e discrição, a possível ocorrência de eventual situação de
ilicitude penal, desde que o faça com o objetivo de conferir a verossimilhança dos fatos nela

20
denunciados, em ordem a promover, então, em caso positivo, a formal instauração da
persecutio criminis, mantendo-se, assim, completa desvinculação desse procedimento estatal
em relação às peças apócrifas." (Inq 1.957, Rel. Min. Carlos Velloso, voto do Min. Celso de
Mello, julgamento em 11-5-05, Plenário, DJ de 11- 11-05)

Os escritos anônimos não podem justificar, só por si, desde que isoladamente considerados, a
imediata instrução da “persecutio ceriminis”, eis que peças apócrifas não podem ser
incorporadas, formalmente ao processo, salvo quando tais documentos constituírem, eles
próprios, o corpo do delito (como sucede em bilhetes de resgate de delito de extorsão mediante
seqüestro).

Nada impede contudo que o Poder Público, provocado por delação anônima (disque-denúncia,
por ex), adote medidas informais destinadas a apurar, previamente a averiguação sumária,
com prudência e discrição, a possível ocorrência de eventual situação de ilicitude penal, desde
que o faça com o objetivo de conferir a verossimilhança dos fatos nela denunciados, em ordem
a promover , então, em caso positivo, a formal instauração da “persecutio criminis”, mantendo-
se assim, completa desvinculação desse procedimento estatal em relação às peças apócrifas.

Posição do STJ sobre a delação anônima

...o STJ já se pronunciou no sentido de considera-la juridicamente possível, desde que o


Estado ao agir em função dessa comunicação não identificada, atue com cautela, em ordem a
evitar a consumação de situações que possam ferir, injustamente, direitos de terceiros (STJ,
RHC 7329/Go, Rel. Min. Fernando Gonçalves; STJ, RMS 4435/MT, Rel. Min. Adhemar
macial).

Notícia-Crime e Delação Anônima – 3

Em conclusão de julgamento, a Turma, em votação majoritária, deferiu habeas corpus para


trancar, por falta de justa causa, notícia-crime, instaurada no STJ com base unicamente
em denúncia anônima, por requisição do Ministério Público Federal, contra juiz estadual e
dois desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado de Tocantins, pela suposta prática do
delito de tráfico de influência (CP, art. 332) — v. Informativos 376 e 385. Entendeu-se que a
instauração de procedimento criminal originada apenas em documento apócrifo seria
contrária à ordem jurídica constitucional, que veda expressamente o anonimato.
Salientando-se a necessidade de se preservar a dignidade da pessoa humana, afirmou-
se que o acolhimento da delação anônima permitiria a prática do denuncismo
inescrupuloso, voltado a prejudicar desafetos, impossibilitando eventual indenização
por danos morais ou materiais, o que ofenderia os princípios consagrados nos incisos V
e X do art. 5º da CF. Ressaltou-se, ainda, a existência da Resolução 290/2004, que criou a
Ouvidoria do STF, cujo inciso II do art. 4º impede o recebimento de reclamações, críticas ou
denúncias anônimas. O Min. Sepúlveda Pertence, com ressalvas no tocante à tese de
imprestabilidade abstrata de toda e qualquer notícia-crime anônima, asseverou que, no caso,
os vícios da inicial seriam de duas ordens: a vagueza da própria notícia anônima e a ausência
de base empírica mínima. Vencido o Min. Carlos Britto, que indeferia o writ por considerar que
a requisição assentara-se não somente no documento apócrifo, mas, também, em outros
elementos para chegar à conclusão no sentido da necessidade de melhor esclarecimento dos
fatos. HC 84827/TO, rel. Min. Marco Aurélio, 7.8.2007. (HC-84827)

O repórter e sua fonte (NÃO CONFLITA COM A VEDAÇÃO AO ANONIMATO)- O repórter


pode divulgar a matéria sem revelar sua fonte, mas caso haja dano moral ou material, o
mesmo vai ter uma responsabilidade solidária (STF rel. Min. Cordeiro Guerra 1978)

Meios de comunicação - Tal liberdade de pensamento atinge todos os ramos de comunicação


escrita e verbal (jornal, televisão, rádio, etc..)

Apuração de irregularidades pelo TCU e denuncia anônima -“A Lei 8.443, de 1992,
estabelece que qualquer cidadão, partido político ou sindicato é parte legítima para denunciar

21
irregularidades ou ilegalidades perante o TCU. A apuração será em caráter sigiloso, até
decisão definitiva sobre a matéria. Decidindo, o Tribunal manterá ou não o sigilo quanto ao
objeto e à autoria da denúncia (§ 1º do art. 55). Estabeleceu o TCU, então, no seu Regimento
Interno, que, quanto à autoria da denúncia, será mantido o sigilo: inconstitucionalidade diante
do disposto no art. 5º, incisos V, X, XXXIII e XXXV, da Constituição Federal.” (MS 24.405, Rel.
Min. Carlos Velloso, julgamento em 3-12-03, Plenário, DJ de 23-4-04)

A Marcha da Maconha seria uma incitação ao crime ou manifestação de direito à


liberdade?

“‘Marcha da Maconha’. Manifestação legítima, por cidadãos da república, de duas


liberdades individuais revestidas de caráter fundamental: o direito de reunião (liberdade-
meio) e o direito à livre expressão do pensamento (liberdade-fim). A liberdade de reunião
como pré-condição necessária à ativa participação dos cidadãos no processo político e no de
tomada de decisões no âmbito do aparelho de Estado. Conseqüente legitimidade, sob
perspectiva estritamente constitucional, de assembléias, reuniões, marchas, passeatas ou
encontros coletivos realizados em espaços públicos (ou privados) com o objetivo de obter
apoio para oferecimento de projetos de lei, de iniciativa popular, de criticar modelos normativos
em vigor, de exercer o direito de petição e de promover atos de proselitismo em favor das
posições sustentadas pelos manifestantes e participantes de reunião. Estrutura constitucional
do direito fundamental de reunião pacífica e oponibilidade de seu exercício ao poder público e
aos seus agentes. Vinculação de caráter instrumental entre a liberdade de reunião e a
liberdade de manifestação do pensamento. Dois importantes precedentes do STF sobre a
íntima correlação entre referidas liberdades fundamentais: HC 4.781/BA, rel. min.
Edmundo Lins, e ADI 1.969/DF, rel. min. Ricardo Lewandowski. A liberdade de expressão
como um dos mais preciosos privilégios dos cidadãos em uma república fundada em bases
democráticas. O direito à livre manifestação do pensamento: núcleo de que se irradiam os
direitos de crítica, de protesto, de discordância e de livre circulação de idéias. Abolição penal
(abolitio criminis) de determinadas condutas puníveis. Debate que não se confunde com
incitação à prática de delito nem se identifica com apologia de fato criminoso. Discussão
que deve ser realizada de forma racional, com respeito entre interlocutores e sem
possibilidade legítima de repressão estatal, ainda que as idéias propostas possam ser
consideradas, pela maioria, estranhas, insuportáveis, extravagantes, audaciosas ou
inaceitáveis. O sentido de alteridade do direito à livre expressão e o respeito às idéias
que conflitem com o pensamento e os valores dominantes no meio social. Caráter não
absoluto de referida liberdade fundamental (CF, art. 5º, IV, V e X; Convenção Americana
de Direitos Humanos, art. 13, § 5º).” (ADPF 187, rel. min. Celso de Mello, julgamento em
15-6-2011, Plenário, DJE de 29-5-2014.) Vide: ADI 4.274, rel. min. Ayres Britto, julgamento
em 23-11-2011, Plenário, DJE de 2-5-2012.

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização


por dano material, moral ou à imagem;

Essa norma traduz o direito de resposta à manifestação do pensamento de outrem. Essa


resposta deverá ser sempre proporcional, ou seja, veiculada no mesmo meio de
comunicação utilizado pelo agravo, com mesmo destaque, tamanho e duração. Salienta-se,
ainda, que o direito de resposta se aplica tanto a pessoas físicas quanto a jurídicas ofendidas
pela expressão indevida de opiniões.

Outro aspecto importante a se considerar sobre o inciso acima é que as indenizações


material, moral e à imagem são cumuláveis (podem ser aplicadas conjuntamente), e, da
mesma forma que o direito à resposta, aplicam-se tanto a pessoas físicas (indivíduos) quanto a
jurídicas (“empresas”) e são proporcionais (quanto maior o dano, maior a indenização). O
direito á indenização independe de o direito à resposta ter sido, ou não, exercido, bem
como de a o dano caracterizar, ou não, infração penal.

CLÁUSULA DE MODICIDADE - O valor a indenização por dano moral é a mesma para um


cidadão comum e para um servidor público?

22
Por fim, no que diz respeito a servidor público objeto de à sua honra ou imagem no exercício
de suas funções, o STF entende que a indenização está sujeita a uma cláusula de
modicidade. Isso porque todo agente público está sob permanente vigília da cidadania. E
quando o agente estatal não prima por todas as aparências de legalidade e legitimidade no seu
atuar oficial, atrai contra si mais fortes suspeitas de um comportamento antijurídico
francamente sindicável pelos cidadãos. Assim, no caso de eu, Auditora-Fiscal, sofrer um dano
à minha honra por uma reportagem na TV, a indenização a mim devida será menor do que
aquela que seria paga a um cidadão comum.

Dano Moral – É aquele de natureza não patrimonial, em que há um constrangimento ou


humilhação da pessoa. O que é diferente de mero contratempo.

Perda de frasqueira e dano moral - O dano moral indenizável é o que atinge a esfera legítima
de afeição da vítima, que agride seus valores, que humilha, que causa dor. A perda de uma
frasqueira contendo objetos pessoais, geralmente objetos de maquiagem da mulher, não
obstante desagradável, não produz dano moral indenizável.” (RE 387.014-AgR, Rel. Min.
Carlos Velloso, DJ 25/06/04)

A pessoa jurídica também é sujeito passivo de dano moral (SÚMULA 227 STJ)

Publicação de fotografia - “Para a reparação do dano moral não se exige a ocorrência de


ofensa à reputação do indivíduo. O que acontece é que, de regra, a publicação da fotografia de
alguém, com intuito comercial ou não, causa desconforto, aborrecimento ou constrangimento,
não importando o tamanho desse desconforto, desse aborrecimento ou desse
constrangimento. Desde que ele exista, há o dano moral, que deve ser reparado, manda a
Constituição, art. 5º, X.” (RE 215.984, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 28/06/02)

Dano exclusivamente moral - A indenização pode ser com relação ao dano exclusivamente
moral (STF Min. Otávio Galloti 1983)

Dano moral e sucessores - O direito de ação por dano moral é de natureza patrimonial e,
como tal, transmite-se aos sucessores da vítima (STJ Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro
11735-0/PR

Dano exclusivamente moral - O STF entendeu pela viabilidade da indenização pelo dano
puramente moral (STF 105157/SP rel. Min. Octávio Galloti)

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre


exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de
culto e a suas liturgias;

Direito à Liberdade Religiosa X Direito Coletivo - Impossibilidade de manutenção de cultos


religiosos em área estritamente residencial em face da perturbação de sossego alheio (STF
45899/RJ Min. Marco Aurélio).

Liberdade de culto # práticas ilícitas / ordem pública/ repouso noturno/ proximidades de


hospitais - O livre exercício de cultos religiosos é assegurado desde que não sejam contrários
à ordem, tranqüilidade e sossego públicos e aos bons costumes . Não podem também
acobertar práticas ilícitas (STF RTJ 51/344) (STJ RT 699/376).

Estado Laico ou Leigo – o Estado brasileiro não adota religião oficial, mas apesar disso, o
mesmo não é ateu posto que invoca o nome de Deus no preâmbulo da Constituição Federal.

A Constituição de 1824 (Estado Confessional) adotou como religião oficial a Católica


Apostólica Romana.

Liberdade de Consciência # Crença – a consciência é uma orientação filosófica, como o


pacifismo e o naturalismo (nudismo). Um indivíduo consciente pode optar por não ter uma

23
crença (ser ateu). Toda essa liberdade é permitida desde que não venha a ferir a lei e bons
costumes (ex. andar “pelado” em plena avenida de Sobral).

Imunidade tributária (impostos) aos templos de qualquer culto (art. 150 VI b)

“Recurso extraordinário. Constitucional. Imunidade Tributária. IPTU. Artigo 150, VI, b, CF/88.
Cemitério. Extensão de entidade de cunho religioso. Os cemitérios que consubstanciam
extensões de entidades de cunho religioso estão abrangidos pela garantia contemplada no
artigo 150 da Constituição do Brasil. Impossibilidade da incidência de IPTU em relação a eles.
A imunidade aos tributos de que gozam os templos de qualquer culto é projetada a partir da
interpretação da totalidade que o texto da Constituição é, sobretudo do disposto nos artigos 5º,
VI, 19, I e 150, VI, “b”. As áreas da incidência e da imunidade tributária são antípodas.” (RE
578.562, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 21-5-08, DJE de 12-9-08)

Liberdade de culto # Liberdade de crença – o culto é o modo como as religiões exercitam


suas liturgias, ritos cerimônias, tradições.

Os passes de médium, em centros espíritas, não caracterizam o delito de curandeirismo, mas


mera exteriorização religiosa (STF, RT, 307:565)

Art. 284 Código penal- Exercer o curandeirismo:

I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância;

II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;

III - fazendo diagnósticos:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Parágrafo único - Se o crime é praticado mediante remuneração, o agente fica também


sujeito à multa.

VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas


entidades civis e militares de internação coletiva;

Exemplo: quartéis, academia da polícia civil, asilos, hospitais.

Faculdade ou obrigatoriedade - Essa prestação de assistência religiosa não faz com que o
indivíduo seja obrigado a praticar determinada religião por exemplo imposta pelo quartel. Há
uma faculdade.

Objetivo do inciso – promover uma ressorciabilização daquele que se encontra em


estabelecimento de internação coletiva tanto penal como civil.

...nos termos da lei...- é uma norma de eficácia limitada, cuja eficácia plena veio com a Lei nº
7210/84 (lei das execuções penais) e Lei nº 7672/88 (Forças Armadas).

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de


convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a
todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Esse dispositivo consagra a denominada “escusa de consciência”. Isso significa que, em


regra, ninguém será privado de direitos por não cumprir obrigação legal imposta a todos devido
a suas crenças religiosas ou convicções filosóficas ou políticas. Entretanto, caso isso aconteça,
o Estado poderá impor, à pessoa que recorrer a esse direito, prestação alternativa fixada em
lei.

24
E o que acontecerá se essa pessoa recusar-se, também, a cumprir a prestação alternativa?
Nesse caso, poderá excepcionalmente sofrer restrição de direitos. Veja que para isso, são
necessárias, cumulativamente, duas condições: recusar-se a cumprir obrigação legal
alegando escusa de consciência e, ainda, a cumprir a prestação alternativa fixada pela lei.
Nesse caso, poderá haver a perda de direitos políticos, na forma do art. 15, IV, da Constituição.

A Escusa de Consciência é o direito, constitucionalmente assegurado, de os indivíduos


negarem-se a prestar serviço ou imposição contrária às suas convicções religiosas,
políticas e filosóficas. A Lei nº 8239/91 dispõe sobre a prestação de serviço alternativo ao
serviço militar obrigatório, segundo a mesma seria o serviço filantrópico, assistencial ou
administrativo.

Exemplos de obrigações legais a todos imposta – alistamento eleitoral e direito de voto,


comparecimento ao júri e serviço militar obrigatório.

Suspensão dos direitos políticos

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará
nos casos de:

IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do


art. 5º, VIII;

Crença religiosa – ex. a minha religião não permite pegar em armas, portanto não posso
servir às forças Armadas.
Crença filosófica – sou pacifista; Crença política – sou marxista;

Escusa de consciência ampla – não está limitada somente ao serviço militar, podendo
abranger também outras obrigações, como o alistamento eleitoral, voto e a participação no
tribunal do júri.

Art. 143 CF/88. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º - às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos


que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-
se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para
se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar.

§ 2º - As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço militar obrigatório em tempo de


paz, sujeitos, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir.

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NOTA DE AULA 03
PROFESSOR: GILBERTO FROTA
DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL III
ASSUNTO: DIREITO E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS (2ª PARTE) –
ART 5º INCISO IX ATÉ § 4º
TÍTULO II – DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

TÍTULO II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de


comunicação, independentemente de censura ou licença;

Classificação para efeito indicativo (art. 21 XVI) - O que pode ser feito é uma classificação
indicativa tendo como critério a idade. O que há é um aconselhamento para os responsáveis
legais dos menores que por exemplo quiserem assistir um filme de classificação etária maior e
não uma proibição.

Art. 21. Compete à União:

XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas


de rádio e televisão;

Sentido amplo da liberdade de expressão – não pode o poder Público controlar a produção
de livros, música, artes, textos em jornais, revistas, televisão, rádio, pintura, poesia, teatro, etc.

Liberdade de expressão e pratica de racismo - As liberdades públicas não são


incondicionais, por isso devem ser exercidas de maneira harmônica, observados os limites
definidos na própria Constituição Federal (CF, artigo 5º, § 2º, primeira parte). O preceito
fundamental de liberdade de expressão não consagra o 'direito à incitação ao racismo', dado
que um direito individual não pode constituir-se em salvaguarda de condutas ilícitas, como
sucede com os delitos contra a honra. Prevalência dos princípios da dignidade da pessoa
humana e da igualdade jurídica." (HC 82.424, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ 19/03/04)

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,


assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;

NA INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL NECESSARIAMENTE OCORRE OFENSA À


REPUTAÇÃO?

É importante que você saiba que o STF considera que para que haja condenação por dano
moral, não é necessário ofensa à reputação do indivíduo. Assim, a dor de se perder um
membro da família, por exemplo, pode ensejar indenização por danos morais. Assim, a dor de
se perder um membro da família, por exemplo, pode ensejar indenização por danos
morais.

Intimidade – relaciona-se ao trato íntimo e familiar da pessoa de considerada individualmente


ou com relação à sua família;
Vida privada – representa por exemplo, a relação que tenho com meus amigos de trabalho

....das pessoas.... – tanto pessoa física como pessoa jurídica. “A honra objetiva de uma
pessoa jurídica pode ser ofendida, cabendo indenização por dano moral e material (STJ
60033/MG – rel. Min. Ruy Rosado – 1995).

26
Dano moral tarifado - O dano moral no pela legislação brasileira é não tarifado, isto é, não
possui um valor pré-determinado.
Não ofende a garantia constitucional da intimidade (CF art. 5°, X) a gravação realizada por
ocupante de imóvel residencial que instala, em sua própria vaga de garagem, equipamento de
filmagem com o objetivo de identificar autor de danos criminosos praticados em seu automóvel
( STF, 2ª Turma, HC 84.203/RS, Rel. min. Celso de Mello, 19-10-2004, Informativo 366).

ATENÇÃO - Jurisprudência do STF - 2015

Biografias: autorização prévia e liberdade de expressão

Vida Privada X Liberdade de Pensamento e de Expressão

É inexigível o consentimento de pessoa biografada relativamente a obras


biográficas literárias ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária a autorização de
pessoas retratadas como coadjuvantes ou de familiares, em caso de pessoas falecidas
ou ausentes. Essa a conclusão do Plenário,..... Nesse diapasão, haveria de se compatibilizar
a inviolabilidade da vida privada e a liberdade de pensamento e de sua expressão. No
caso, não se poderia admitir, nos termos da Constituição, que o direito de outrem de se
expressar, de pensar, de criar obras biográficas — que dizem respeito não apenas ao
biografado, mas a toda a coletividade, pelo seu valor histórico — fosse tolhido pelo
desejo do biografado de não ter a obra publicada. ADI 4815/DF, rel. Min. Cármen Lúcia,
10.6.2015. (ADI-4815)

O Ministro Luiz Fux lembrou que apenas pessoas notórias seriam biografadas, e que,
na medida do crescimento da notoriedade, diminuir-se-ia a reserva de privacidade.

Biografar X Dar Publicidade

O Ministro Marco Aurélio considerou que escrever biografia mediante autorização


prévia não seria biografar, mas criar publicidade.

ATENÇÃO – jurisprudência do STF 2015

Servidor público e divulgação de vencimentos

É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela Administração Pública, dos
nomes de seus servidores e do valor dos correspondentes vencimentos e vantagens
pecuniárias. Esse o entendimento do Plenário ao dar provimento a recurso extraordinário em
que discutida a possibilidade de se indenizar, por danos morais, servidora pública que tivera
seu nome publicado em sítio eletrônico do município, em que teriam sido divulgadas
informações sobre a remuneração paga aos servidores públicos. A Corte destacou que o
âmbito de proteção da privacidade do cidadão ficaria mitigado quando se tratasse de
agente público. O servidor público não poderia pretender usufruir da mesma privacidade
que o cidadão comum. Esse princípio básico da Administração — publicidade — visaria
à eficiência. Precedente citado: SS 3902/SP (DJe de 3.10.2011). ARE 652777/SP, rel. Min.
Teori Zavascki, 23.4.2015. (ARE-652777)

Jurisprudência

Concessionária indenizará ciclista por uso indevido de imagem

Tribunal de Justiça de São Paulo

A 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo condenou uma


concessionária de automóveis ao pagamento de indenização no valor de R$ 15 mil a um
ciclista, por usar sua foto em propaganda nas redes sociais sem autorização. O autor,

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conhecido por incentivar o ciclismo como alternativa de transporte, só descobriu que havia sido
fotografado após seis meses, quando a imagem foi identificada na rede Facebook.

O relator do recurso, desembargador João Francisco Moreira Viegas, entendeu que a utilização
da imagem pela concessionária implica violação ao direito de imagem, com direito a reparação
dos prejuízos extra patrimoniais causados. “Irrelevantes as assertivas da ré de que a exposição
não submeteu o autor à situação vexatória ou ofensiva”, destacou.

Apelação nº 0008132-86.2013.8.26.0003

Usar imagem de atleta para fins comerciais gera indenização por dano material
Superior Tribunal de Justiça

Usar comercialmente a imagem de um atleta sem sua autorização pode gerar indenização por
danos materiais. Este foi o entendimento da 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça ao dar
parcial provimento a recurso interposto pelo nadador profissional Kaio Márcio contra a indústria
de alimentos São Braz. A empresa foi condenada a pagar R$ 14.000,00. Por danos materiais.

De acordo com os autos, durante aproximadamente um ano depois do término de contrato


firmado entre as partes, a empresa continuou estampando a imagem do atleta em suas
embalagens de biscoito.

Ex-jogador é indenizado por uso indevido de imagem em álbum

Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (TRT/RJ)

A 8ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (TRT/RJ) condenou a Editora Abril


S/A e o Sport Club Corinthians Paulista ao pagamento de R$ 50 mil, a título de danos morais, a
um ex-jogador de futebol que teve sua imagem veiculada sem autorização em álbum de
figurinhas. A decisão do colegiado, unânime, reduziu o valor, que havia sido arbitrado em R$
300 mil no 1º grau.

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem


consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

PRINCÍPIO DA INVIOLABILIDADE DOMICILIAR

Trata-se do princípio da inviolabilidade domiciliar. Esta alcança não só a residência do


indivíduo, mas também o local onde este exerce sua profissão.

A partir da leitura do artigo, em quais hipóteses se pode penetrar na casa de um


indivíduo?

Com seu consentimento;

Sem seu consentimento, sob ordem judicial, apenas durante o dia;

A qualquer hora, sem consentimento do indivíduo, em caso de flagrante delito ou


desastre, ou, ainda, para prestar socorro.

Para o STF, o conceito de “casa” revela-se abrangente, estendendo-se a qualquer


compartimento privado não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade
(Código Penal, art. 150, § 4º, III). É o caso dos escritórios profissionais, por exemplo (HC
93.050, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 10-6-2008, Segunda Turma, DJE de 1º-8-
2008).

28
Entretanto, embora o escritório esteja abrangido pelo conceito de “casa”, o STF entende que
não se pode invocar a inviolabilidade de domicílio como escudo para a prática de atos ilícitos
em seu interior. Com base nisso, a Corte autorizou a instalação de escuta em um escritório de
advogados, por ordem judicial.

A Corte também considerou válida ordem judicial que autorizava o ingresso de autoridade
policial no estabelecimento profissional inclusive durante a noite para instalar equipamentos de
captação de som (“escuta”). Entendeu-se que tais medidas precisavam ser executadas sem o
conhecimento do investigado, o que seria impossível durante o dia.

Conceito amplo de casa / inviolabilidade domiciliar e o Fisco - Para fins da proteção


constitucional o conceito normativo de casa revela-se abrangente, estendendo-se a qualquer
compartimento privado onde alguém exerce sua profissão (ex. advogado, contabilista,
odontólogo) ou atividade (também: motel, hotel com relação ao quarto) (STF 58946/SP Min.
Ilmar Galvão)

OBS. Os complementos de uma moradia também estão incluídos no conceito amplo de casa
(Ex. pátios, jardins, quintais, etc...)

Conceito de dia e noite / horário de verão - Para o conceito de dia e noite deve ser levado
em consideração o espaço de tempo entre a aurora e o crepúsculo. O referido Tribunal adotou
o critério físico-astronômico ( STF 15849/PR Min. Celso de Mello).

Morador – não é propriamente o dono da casa, pode ser o inquilino por exemplo.

CPI e busca domiciliar – a Comissão Parlamentar de Inquérito não tem poderes para expedir
mandado de busca e apreensão em residência, somente o juiz pode fazê-lo.

Violação de domicílio por decisão administrativa – é impossível (STF Pleno 307-3/DF min.
Rel. Ilmar Galvão)

Violação de domicílio e prisão em flagrante – o asilo inviolável do indivíduo não pode ser
transformado em garantia de impunidade de crimes que em seu interior se praticam (STF - RTJ
74/88 e 84/302)

Estado de flagrância – o estado de flagrância caracterizado, afasta a exigência do mandado


judicial (STF HC 70909/SP rel min. Paulo Brossard)

Exceção da proteção domiciliar, prevista pela própria Constituição Federal:

Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I, só
poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas:

V - busca e apreensão em domicílio;

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de


dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou
instrução processual penal

PRINCÍPIO DA INVIOLABILIDADE DAS COMUNICAÇÕES

...dados...- os bancários e fiscais por exemplo.

Lei n 9296/96 – disciplinou a quebra de sigilo telefônico relacionando também a possibilidade


de interceptação de fluxo de comunicações de informática e telemática.

29
De acordo com a Lei 9.296, as interceptações telefônicas só podem ocorrer desde que
haja a observância conjunta de três requisitos:

Se existirem razoáveis indícios de autoria ou participação na infração penal;

Se a prova não puder ser obtida por outros meios disponíveis;

Se o fato investigado não constituir infração penal punida, no máximo, com pena de
detenção (só pode haver interceptação em crime punível com reclusão).

...no último caso....- significa que um juiz, pelo texto constitucional não pode por exemplo
devassar uma correspondência, haja vista que o inciso fala apenas em comunicações via
telefone. Não pode também quebrar um sigilo telefônico para uma investigação civil (ex. uma
ação de indenização).

Interceptação telefônica # Quebra de Registro de Dados Telefônicos

Quebra de REGISTRO DE DADOS TELEFÔNICOS – é o histórico das ligações solicitados à


operadora. A CPI tem competência para solicitar diretamente.

É possível quebra de sigilo bancário diretamente pelo Ministério Público?

Inviolabilidade de dados (sigilo bancário e fiscal) diretamente MP – via de regra o


Ministério Público não pode requisitar quebra de sigilo bancário diretamente, mas somente
através de ordem judicial. Mas quando se tratar de investigação que esteja envolvendo
dinheiro público (ex. investigação de empréstimos concedidos a usineiros), o STF já decidiu
que O MP tem legitimidade para requisitar diretamente perante a instituição financeira, a
quebra de sigilo bancário do investigado (STF Pleno – 21272/DF – rel. Min. Marco Aurélio).

É possível quebra de sigilo bancário por autoridade administrativa (fisco)?

A LC no 105/01 também permite às autoridades fiscais a quebra do sigilo bancário. Apesar de


essa prerrogativa ter sido considerada inconstitucional pelo STF no RE 389.808/PR, em
2010, a decisão produziu efeitos apenas no caso concreto, portanto a lei continua válida.
Esse entendimento é corroborado pelo STJ, segundo o qual a quebra do sigilo bancário (REsp
121.642/DF, 22.09.1997) não pode se dar por meio de requisição fiscal.

MUITA ATENÇÃO (quebra de sigilo fiscal e bancário diretamente por autoridade


administrativa) – O STF em várias decisões não admite a quebra de sigilo bancário
diretamente por autoridade administrativa (o Fisco). Acontece que a Lei Complementar nº
105/2001 estabeleceu que:....art. 5º § 4º ...a autoridade fiscal poderá REQUISITAR as
informações de que necessitar....art. 6º As autoridades e os agentes fiscais tributários da
União dos estados, do DF e dos Municípios somente poderão examinar documentos, livros e
registros de instituições financeiras, inclusive referentes a constas de depósito e aplicações
financeiras, quando houver PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL EM CURSO....§
único...tais informações serão conservadas em sigilo....

A prova obtida mediante quebra de sigilo em processo judicial, pode ser utilizada em
processo administrativo? Prova empresada.

Outra jurisprudência importante para suas provas de concurso é que o STF entende que, uma
vez obtidas provas mediante quebra do sigilo das comunicações telefônicas com base no
dispositivo constitucional acima, estas podem ser usadas, também, em processos de natureza
administrativa. Trata-se da denominada “prova emprestada”. Assim, caso uma “escuta
telefônica” resulte em prova de que um Auditor-Fiscal da Receita Federal esteja recebendo
dinheiro para despachar mercadoria, por exemplo, além de essa prova ser usada no processo
penal do crime referente a essa prática, poderá ser usada pela Corregedoria da Receita
Federal quando do processo administrativo destinado a apurar o ilícito e determinar a
correspondente penalidade administrativa.

30
“Prova emprestada. Penal. Interceptação telefônica. Escuta ambiental. Autorização judicial e
produção para fim de investigação criminal. Suspeita de delitos cometidos por autoridades
e agentes públicos. Dados obtidos em inquérito policial. Uso em procedimento
administrativo disciplinar, contra outros servidores, cujos eventuais ilícitos
administrativos teriam despontado à colheita dessa prova. Admissibilidade. Resposta
afirmativa a questão de ordem. Inteligência do art. 5º, XII, da CF e do art. 1º da Lei federal
9.296/1996. (...) Dados obtidos em interceptação de comunicações telefônicas
e em escutas ambientais, judicialmente autorizadas para produção de prova em investigação
criminal ou em instrução processual penal, podem ser usados em procedimento administrativo
disciplinar, contra a mesma ou as mesmas pessoas em relação às quais foram colhidos, ou
contra outros servidores cujos supostos ilícitos teriam despontado à colheita dessa prova.” (Inq
2.424-QO-QO, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 20-6-2007, Plenário, DJ de 24-8-
2007.)

Prova de escuta telefônica pode ser usada quando do surgimento de outro crime que
não o investigado? Descoberta acidental de outro crime.

Outra importante orientação do STF é de que “é válida a prova de um crime descoberta


acidentalmente durante a escuta telefônica autorizada judicialmente para apuração de crime
diverso”16. Assim, se o juiz havia autorizado uma escuta telefônica para apurar um crime de
homicídio e descobre-se que um dos interlocutores cometeu o crime de seqüestro, a prova
será válida no processo referente a este crime (seqüestro). HC 78098/SC, Rel. Min. Moreira
Alves, j. 01.12.98.

No caso de investida criminosa, o interlocutor pode fazer gravação telefônica sem


autorização judicial?

Importa, também, saber, que é possível a gravação telefônica por um dos interlocutores sem a
autorização judicial, caso haja investida criminosa daquele que desconhece que a gravação
está sendo feita. De acordo com o STF, é “inconsistente e fere o senso comum falar-se em
violação do direito à privacidade quando interlocutor grava diálogo com seqüestradores,
estelionatários ou qualquer tipo de chantagista”. HC 75.338/RJ, Rel. Min. Nelson Jobim, j.
11.03.98, DJ de 25.09.98.

É possível a interceptação telefônica entre acusado e seu defensor (advogado)?

Outra exceção à regra do sigilo prevista pelo STF é a admissão da interceptação da


comunicação telefônica entre o acusado em processo penal e seu defensor. Isso porque,
apesar de o advogado ter seu sigilo profissional resguardado para o exercício de suas funções,
tal direito não pode servir como escudo para a prática de atividades ilícitas, pois nenhum direito
é absoluto. O simples fato de ser advogado não pode conferir, ao indivíduo, imunidade na
prática de delitos no exercício de sua profissão. HC 96.909/MT, j.10.12.2009, p. 11.12.2009.

A interceptação de correspondência é um direito absoluto?

Admite-se, também, que o sigilo de correspondência sofra limitações, no caso de conflito com
outros bens jurídicos. Nesse sentido, entende o STF que a administração penitenciária, com
fundamento em razões de segurança pública, de disciplina prisional ou de preservação da
ordem jurídica, pode, sempre excepcionalmente, e desde que respeitada a norma inscrita no
art. 41, parágrafo único, da Lei 7.210/1984, proceder à interceptação da correspondência
remetida pelos sentenciados, eis que a cláusula tutelar da inviolabilidade do sigilo epistolar não
pode constituir instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas (HC 70.814. Primeira Turma, DJ
de 24/06/1994).

Correspondência do preso - “A administração penitenciária, com fundamento em razões de


segurança pública, de disciplina prisional ou de preservação da ordem jurídica, pode, sempre
excepcionalmente, e desde que respeitada a norma inscrita no art. 41, parágrafo único, da Lei
nº 7.210/84, proceder à interceptação da correspondência remetida pelos sentenciados, eis

31
que a cláusula tutelar da inviolabilidade do sigilo epistolar não pode constituir instrumento de
salvaguarda de práticas ilícitas.” (HC 70.814, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 24/06/94)

A apreensão do disco rígido do computador no qual estão armazenados os e-mails


recebidos pelo investigado viola o sigilo das comunicações de dados?

o STF entende que a apreensão do disco rígido do computador no qual estão armazenados os
e-mails recebidos pelo investigado não viola o sigilo das comunicações de dados. Isso porque,
nesse caso, não há quebra do sigilo das comunicações de dados (interceptação das
comunicações), mas sim apreensão de base física na qual se encontram os dados. Em outras
palavras, a proteção constitucional é da comunicação 'de dados' e não dos 'dados', o que
tornaria impossível qualquer investigação. STF, RE 418416/SC, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, j. 10.05.2006, DJ em 19.12.2006.

“Da minha leitura, no inciso XII da Lei Fundamental, o que se protege, e de modo absoluto, até
em relação ao Poder Judiciário, é a comunicação ‘de dados’, e não os ‘dados’, o que
tornaria impossível qualquer investigação administrativa, fosse qual fosse.” (MS 21.729, voto
do Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 5-10-1995, Plenário, DJ de 19- 10-2001.)

TCU pode promover quebra de sigilo bancário?

"A LC 105, de 10-1-2001, não conferiu ao TCU poderes para determinar a quebra do sigilo
bancário de dados constantes do Banco Central do Brasil. O legislador conferiu esses
poderes ao Poder Judiciário (art. 3º), ao Poder Legislativo Federal (art. 4º), bem como às
comissões parlamentares de inquérito, após prévia aprovação do pedido pelo Plenário da
Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do plenário de suas respectivas Comissões
Parlamentares de Inquérito (§ 1º e § 2º do art. 4º). Embora as atividades do TCU, por sua
natureza, verificação de contas e até mesmo o julgamento das contas das pessoas
enumeradas no art. 71, II, da CF, justifiquem a eventual quebra de sigilo, não houve essa
determinação na lei específica que tratou do tema, não cabendo a interpretação extensiva,
mormente porque há princípio constitucional que protege a intimidade e a vida privada, art. 5º,
X, da CF, no qual está inserida a garantia ao sigilo bancário (...)” (MS 22.801, Rel. Min.
Menezes Direito, julgamento em 17-12-2007, Plenário, DJE de 14-3-2008.) No mesmo
sentido: MS 22.934, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 17-4-2012, Segunda
Turma, DJE de 9-5-2012.

Sigilo bancário x direito à informação

O sigilo de informações necessárias para a preservação da intimidade é relativizado quando se


está diante do interesse da sociedade de se conhecer o destino dos recursos públicos.
Operações financeiras que envolvam recursos públicos não estão abrangidas pelo sigilo
bancário a que alude a Lei Complementar 105/2001, visto que as operações dessa espécie
estão submetidas aos princípios da administração pública insculpidos no art. 37 da
Constituição Federal. Em tais situações, é prerrogativa constitucional do Tribunal [TCU] o
acesso a informações relacionadas a operações financiadas com recursos públicos.[MS
33.340, rel. min. Luiz Fux, j. 26-5-2015, 1ª T, DJE de 3-8-2015.]

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as


qualificações profissionais que a lei estabelecer; (trata-se de norma constitucional de
eficácia contida).

Norma constitucional de eficácia CONTIDA

O art. 5º, XIII, da CR é norma de aplicação imediata e eficácia contida que pode ser restringida
pela legislação infraconstitucional. Inexistindo lei regulamentando o exercício da atividade
profissional dos substituídos, é livre o seu exercício. [MI 6.113 AgR, rel. min. Cármen Lúcia, j.
22-5-2014, P, DJE de 13-6-2014.]

Toda atividade profissional deve obrigatoriamente estar inscrita no respectivo conselho


de fiscalização profissional?

32
Trata-se de norma constitucional de eficácia contida que trata da liberdade de atividade
profissional. Esta dispõe que, na inexistência de lei que exija qualificações para o exercício de
determinada profissão, qualquer pessoa poderá exercê-la. Entretanto, existente a lei, a
profissão só poderá ser exercida por quem atender às qualificações legais.

Em outras palavras, temos o entendimento do STF de que nem todos os ofícios ou profissões
podem ser condicionadas ao cumprimento de condições legais para o seu exercício. A regra é
a liberdade. Apenas quando houver potencial lesivo na atividade é que pode ser exigida
inscrição em conselho de fiscalização profissional. A atividade de músico, por exemplo,
prescinde de controle. Constitui, ademais, manifestação artística protegida pela garantia da
liberdade de expressão. RE 414.426, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 1º-8-2011,
Plenário, DJE de 10-10-2011.

A exigência do Exame da OAB para o exercício da profissão é constitucional?

Cabe destacar ainda que o STF considerou constitucional o exame da Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB). Para a Corte, o exercício da advocacia traz um risco coletivo, cabendo ao
Estado limitar o acesso à profissão e o respectivo exercício. Nesse sentido, o exame de
suficiência discutido seria compatível com o juízo de proporcionalidade e não alcançaria o
núcleo essencial da liberdade de ofício. No concernente à adequação do exame à finalidade
prevista na Constituição – assegurar que as atividades de risco sejam desempenhadas por
pessoas com conhecimento técnico suficiente, de modo a evitar danos à coletividade – aduziu-
se que a aprovação do candidato seria elemento a qualificá-lo para o exercício profissional. RE
603.583, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 26-10-2011, Plenário, Informativo 646,
com repercussão geral.

Exigência de curso técnico para cargo de técnico em contabilidade - "A exigência de


especificidade, no âmbito da qualificação, para a feitura de concurso público não contraria o
disposto no inciso XIII do artigo 5º. da Constituição Federal, desde que prevista em lei e
consentânea com os diplomas regedores do exercício profissional." (MS 21.733, Rel. Min.
Marco Aurélio, DJ 08/04/94)

PLENÁRIO
A obrigatoriedade do curso superior de jornalismo, constitui uma restrição ao livre
exercício da liberdade de expressão?
Art. 4º, V, do Decreto-lei 972/69: Exigência de Curso de Jornalismo e Não-recepção – 1

A Constituição Federal de 1988 não recepcionou o art. 4º, V, do Decreto-lei 972/69, o


qual exige o diploma de curso superior de jornalismo, registrado pelo Ministério da
Educação, para o exercício da profissão de jornalista. Com base nesse entendimento, o
Tribunal, por maioria, deu provimento a recursos extraordinários interpostos pelo Ministério
Público Federal e pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo -
SERTESP contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região que concluíra em sentido
contrário. Entendeu-se que a norma impugnada seria incompatível com as liberdades de
profissão, de expressão e de informação previstas nos artigos 5º, IX e XIII, e 220, da CF, bem
como violaria o disposto no art. 13 da Convenção Americana de Direitos Humanos,
denominado Pacto de San José da Costa Rica, ao qual o Brasil aderiu em 1992.
RE 511961/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 17.6.2009. (RE-511961)

Art. 4º, V, do Decreto-lei 972/69: Exigência de Curso de Jornalismo e Não-recepção - 3

Tendo em conta essas ponderações, aduziu-se, relativamente ao inciso V do art. 4º do


Decreto-lei 972/69, ser preciso aferir se o exercício da profissão de jornalista exigiria
qualificações profissionais e capacidades técnicas específicas e especiais e se, dessa forma,
estaria o Estado legitimado constitucionalmente a regulamentar a matéria em defesa do
interesse da coletividade. Frisou-se que a doutrina constitucional consideraria que as
qualificações profissionais a que se refere o art. 5º, XIII, da CF somente poderiam ser

33
exigidas, pela lei, daquelas profissões que, de alguma forma, poderiam trazer perigo de
dano à coletividade ou prejuízos diretos a direitos de terceiros, sem culpa das vítimas,
como a medicina e as demais profissões ligadas à área da saúde, a engenharia, a
advocacia e a magistratura, dentre outras. Dessa forma, a profissão de jornalista, por
não implicar tais riscos, não poderia ser objeto de exigências quanto às condições de
capacidade técnica para o seu exercício, sendo que eventuais riscos ou danos efetivos
provocados por profissional do jornalismo a terceiros não seriam inerentes à atividade e,
dessa forma, não seriam evitáveis pela exigência de um diploma de graduação. Tais
entendimentos, que apreenderiam o sentido normativo do art. 5º, XIII, da CF, demonstrariam,
portanto, a desproporcionalidade das medidas estatais que visam restringir o livre exercício do
jornalismo mediante a exigência de registro em órgão público condicionado à comprovação de
formação em curso superior de jornalismo. RE 511961/SP, rel. Min. Gilmar Mendes,
17.6.2009. (RE-511961)

Art. 4º, V, do Decreto-lei 972/69: Exigência de Curso de Jornalismo e Não-recepção - 4

........Apontou-se que o jornalismo seria uma profissão diferenciada por sua estreita
vinculação ao pleno exercício das liberdades de expressão e informação, constituindo a
própria manifestação e difusão do pensamento e da informação de forma contínua, profissional
e remunerada, razão por que jornalismo e liberdade de expressão não poderiam ser pensadas
e tratadas de forma separada. Por isso, a interpretação do art. 5º, XIII, da CF, na hipótese da
profissão de jornalista, teria de ser feita, impreterivelmente, em conjunto com os preceitos do
art. 5º, IV, IX, XIV, e do art. 220, da CF, os quais asseguram as liberdades de expressão, de
informação e de comunicação em geral. RE 511961/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 17.6.2009.
(RE-511961)

Art. 4º, V, do Decreto-lei 972/69: Exigência de Curso de Jornalismo e Não-recepção - 5

........Disso se perceberia que a exigência de curso superior para a prática do jornalismo


não estaria autorizada pela ordem constitucional, por consubstanciar uma restrição, um
impedimento, uma verdadeira supressão do pleno, incondicionado e efetivo exercício da
liberdade jornalística, expressamente proibido pelo art. 220, § 1º, da CF. Portanto, em se
tratando de jornalismo, atividade intimamente ligada às liberdades de expressão e informação,
o Estado não estaria legitimado a estabelecer condicionamentos e restrições quanto ao acesso
à profissão e ao respectivo exercício profissional. RE 511961/SP, rel. Min. Gilmar Mendes,
17.6.2009. (RE-511961)

XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte,


quando necessário ao exercício profissional; (art. 220 § 1º)

DIREITO DE ACESSO À INFORMAÇÃO

CAPÍTULOV
DA COMUNICAÇÃO SOCIAL

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob


qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto
nesta Constituição.

§ 1º - Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de
informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no
art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.

De quem seria a responsabilidade por informação inverídica: radialista ou rádio?

Responsabilidade da rádio - O jornalista ou a própria rádio responde pelo dano moral ou


material que reportagem escrita ou falada vier a causar a outrem ( STF Min. Celso de Mello
1996)

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Conflito entre direitos fundamentais: honra e informação. Qual prevalece?

ATENÇÂO (direito á honra X direito à informação) – Sempre quando houver um conflito


entre o direito à informação e o direito à honra, deve prevalecer o primeiro, desde que a
informação seja verídica e sua divulgação seja essencial ao entendimento da notícia e não se
faça uso de forma abusiva da mesma.

Lei que proíbe a divulgação de pesquisa eleitoral 15 dias antes do pleito fere direito á
informação?

"Lei 11.300/2006 (minirreforma eleitoral). (...) Proibição de divulgação de pesquisas eleitorais


quinze dias antes do pleito. Inconstitucionalidade. Garantia da liberdade de expressão e do
direito à informação livre e plural no Estado Democrático de Direito. (ADI 3.741, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, julgamento em 6-9-2006, Plenário, DJ de 23-2- 2007.) No mesmo
sentido: ADI 3.742 e ADI 3.743, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 6-9-2006,

XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer


pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

Exceções ao direito de livre locomoção – em caso de guerra ou decretação de estado de


sítio (art. 139)

Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I, só
poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas:

I - obrigação de permanência em localidade determinada;

Direito de locomoção em sentido amplo – de IR, VIR E PERMANECER.

XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao


público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à
autoridade competente;

Características do direito de reunião:

 Esta deverá ter fins pacíficos, e apresentar ausência de armas;


 Deverá ser realizada em locais abertos ao público;
 Não poderá haver frustração de outra reunião convocada anteriormente para o mesmo
local;
 Desnecessidade de autorização;
 Necessidade de prévio aviso à autoridade competente.

Lei do DF (capital federal) que estabelece certa distância de carros de som em


manifestações públicas?

Carro de som próximo ao planalto - “De início, surge com relevância ímpar pedido de
suspensão de decreto mediante o qual foram impostas limitações à liberdade de reunião e de
manifestação pública, proibindo-se a utilização de carros de som e de outros equipamentos de
veiculação de idéias.” (ADI 1.969-MC, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 05/03/04)

Direito de reunião é temporário e direito de associação é permanente.

A ilegalidade ou abuso de poder contra o direito constitucional de reunião deve ser reprimido
por meio de mandado de segurança e não por meio de Hábeas Corpus (STF 21558/DF Min.
Ilmar Galvão)

35
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter
paramilitar;

XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem


de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;

Associação # reunião – a associação tem um caráter permanente e a reunião tem um caráter


temporário ou momentâneo.

Objetivo da associação – pode ser esportiva (torcida organizada) filantrópica, cultural,


recreativa, filosófica, etc., desde que haja licitude.

Caráter paramilitar- caracterização – pode ser caracterizado pelo uso de uniformes, armas,
treinamento militar, sistema interno de hierarquia, uso de palavras de ordem.

Autonomia da associação - É vedado ao estado a interferência a intervenção em


associações, a ingerência em qualquer assunto ligado à sua vida e sua autonomia, sua
personalidade jurídica é criada com o registro em cartório de registro público de pessoas
jurídicas (STJ Min. Garcia Vieira)

....criação na forma da lei...- segundo o Código Civil, uma associação civil é pessoa jurídica
de direito privado e como tal, sua criação deve ser feita junto ao cartório de registro de pessoas
jurídicas. Já uma pessoa jurídica de direito público só pode ser criada através de lei ou com
autorização de lei.

XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente (obrigatoriamente)


dissolvidas (deixar de existir) ou ter suas atividades suspensas (paralisar suas atividades
temporariamente) por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em
julgado;

Resumo:

 A liberdade de associação é ampla, independe de autorização dos Poderes Públicos,


que também não podem interferir em seu funcionamento.
 As associações só podem ser dissolvidas por decisão judicial transitada em julgado.
Além disso, suas atividades só podem ser suspensas por decisão judicial (neste caso,
não há necessidade de trânsito em julgado).

Trânsito em julgado – não cabe mais recurso, imodificável.

Dissolução voluntária # dissolução compulsória – a voluntária pode ser feita pelos próprios
associados, A CF/88 se refere neste artigo a dissolução compulsória, isto é a dissolução contra
a vontade de seus sócios só pode ser feita através de decisão judicial imodificável.

Decisão administrativa – não tem poder para dissolver ou suspender uma associação. Ex.
decisão de um delegado de polícia.

XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;

Liberdade de associar-se # liberdade da associação - É a liberdade de associar-se (do


indivíduo) que é diferente da liberdade sindical (da instituição, inciso XVIII).

É possível vincular o recebimento do seguro desemprego à filiação na colônia de


pescadores?

"Art. 2º, IV, a, b e c, da Lei 10.779/2003. Filiação à colônia de pescadores para habilitação ao
seguro-desemprego (...). Viola os princípios constitucionais da liberdade de associação (art. 5º,

36
XX) e da liberdade sindical (art. 8º, V), ambos em sua dimensão negativa, a norma legal que
condiciona, ainda que indiretamente, o recebimento do benefício do seguro desemprego à
filiação do interessado a colônia de pescadores de sua região.” (ADI 3.464, Rel. Min. Menezes
Direito, julgamento em 29-10-2008, Plenário, DJE de 6-3-2009.)

XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm


legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;

Representação processual # Substituição processual (LXX, letra b) - É representação


processual diferente do mandado de segurança coletivo que é substituição processual.
REPRESENTAÇÃO PRECISA DE AUTORIZAÇÃO.

Mandado de segurança coletivo não precisa de autorização (art. 5 LXX letra b) - "A
impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados
independe da autorização destes." (SÚM. 629)

Autorização para representar, autorização na assembléia e estatuto (não há necessidade


de autorização individual) - “A representação prevista no inciso XXI do artigo 5º da
Constituição Federal surge regular quando autorizada a entidade associativa a agir judicial ou
extrajudicialmente mediante deliberação em assembléia. Descabe exigir instrumentos de
mandatos subscritos pelos associados.” (RE 192.305, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 21/05/99).
No mesmo sentido: MS 23.879, DJ 16/11/01.

Jurisprudência do STF – 2015 - Associações: legitimidade processual e autorização


expressa

A autorização estatutária genérica conferida a associação não é suficiente para legitimar


a sua atuação em juízo na defesa de direitos de seus filiados, sendo indispensável que a
declaração expressa 15 exigida no inciso XXI do art. 5º da CF (“as entidades associativas,
quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou
extrajudicialmente”) seja manifestada por ato individual do associado ou por assembléia
geral da entidade. Por conseguinte, somente os associados que apresentaram, na data da
propositura da ação de conhecimento, autorizações individuais expressas à associação, podem
executar título judicial proferido em ação coletiva.... RE 573232/SC, rel. orig. Min. Ricardo
Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, 14.5.2014. (RE-573232)

XXII - é garantido o direito de propriedade;

Direito Individual X Direito Coletivo - Art. 184. A União pode desapropriar por interesse
social, para fins de reforma agrária, imóvel que não esteja cumprindo a sua função
social...Função social da propriedade rural (art. 186 CF/88) – aproveitamento produtivo do solo,
observância das relações de trabalho, preservação do meio ambiente, etc..

O indivíduo tem o direito de; USAR, GOZAR, DIPOR (alugar) mas não de ABUSAR.

Com base no direito de propriedade assegurado constitucionalmente, o indivíduo tem


direito de impedir obra que retire ou prejudique a vista de seu imóvel?

“O proprietário do prédio vizinho não ostenta o direito de impedir que se realize edificação
capaz de tolher a vista desfrutada a partir de seu imóvel, fundando-se, para isso, no direito de
propriedade.” (RE 145.023, Rel. Min. Ilmar Galvão, julgamento em 17-11-1992, Primeira
Turma, DJ de 18-12-1992.)

XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

Função social da propriedade rural – art. 186 e da propriedade urbana – estabelecida no


plano diretor do Município (art. 182 § 2º).

37
Art. 182 § 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às
exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.

Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,


simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes
requisitos:

I - aproveitamento racional e adequado;

II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio


ambiente;

III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

O Plano Diretor do município pode estabelecer restrições ao direito de construir?

Direito de construir e interesse social - O direito de edificar é relativo, dado que


condicionado à função social da propriedade.” (RE 178.836, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ
20/08/99)

Tombamento - O tombamento é uma forma de restrição ao direito de propriedade (STJ 30519-


0RJ Min. Antônio de Pádua Ribeiro)

XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou


utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em
dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição;

Conceito de desapropriação – forma de aquisição dos bens do particular, por parte do Poder
Público de maneira forçada. A discussão se restringe apenas com relação ao quantum ao valor
da indenização.

Necessidade Pública – quando é indispensável que determinado bem particular seja usado
para uma finalidade pública ex. construção de açude, escola, hospital, ).

Utilidade Pública – quando não é indispensável , mas conveniente que determinado bem
particular seja usado no desempenho de atividade pública. (ex. alargamento de um rua).

Interesse social – conceito muito amplo. (Ex. construção de uma praça).

Nem sempre esta indenização será em dinheiro – art. 184 quando a propriedade não
atender a sua função social e propriedades utilizadas para plantação de plantas psicotrópicas.
(art. 243)

Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária,
o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização
em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo
de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em
lei.

§ 1º - As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.

..............................................................................................................................................

Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem
localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na

38
forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação
popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas
em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 81, de 2014)

Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do


tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será
confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da
lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014)

XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de


propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano;

Requisição administrativa – a indenização é posterior e apenas no caso de dano Ex. grande


enchente e o Poder Público precisa da fazenda do particular situada em local elevado para
abrigar as pessoas. O particular não perde sua propriedade, ele fica tolhido temporariamente
do seu domínio pleno.

É possível a requisição administrativa de bens pertencentes a entes federativos


diversos?

Segundo o STF, não é possível, devido ao modelo federativo adotado pelo Brasil, que um ente
político requisite administrativamente bens, serviços e pessoal de outro. Tal prática ofenderia o
pacto federativo, e, além disso, o art, 5o, XXV da Constituição limita o alcance da requisição
administrativa à propriedade privada, não cabendo extrapolação para bens e serviços públicos.

XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada
pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua
atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;

IMPENHORABILIDADE DA PEQUENA PROPRIEDADE RURAL

Por meio desse inciso, o legislador constituinte deu, à pequena propriedade rural trabalhada
pela família, a garantia de impenhorabilidade. Com isso, visou à proteção dos pequenos
trabalhadores rurais, que, desprovidos de seus meios de produção, não teriam condições de
subsistência. Entretanto, a impenhorabilidade depende da cumulação de dois requisitos:

a) exploração econômica do bem pela família;

b) origem na atividade produtiva do débito que causou a penhora.

Lei n 4504/64 (estatuto da Terra) – Ex. trator que foi comprado para o trabalho da fazenda
não pode ser penhorado em virtude do não pagamento de débito junto a financiamento retirado
junto ao banco.

XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou


reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;

DIREITO AUTORAL

Caso de direitos autorais segundo a jurisprudência – retransmissão radiofônica de músicas


em estabelecimentos comerciais (Súmula 63 do STJ); divulgação de último capítulo de novela
antecipadamente (STJ); Execução de música em clube social (STJ), quem fiscaliza é o ECAD.

O direito autoral para o autor é vitalício, já para os herdeiros é temporário (60 anos), a
contar do dia 1º de janeiro do ano seguinte à morte do autor.

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XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:

a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da


imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas;

Obras coletivas – é o direito autoral que possui um autor de novela no caso de vários autores.

Direito à imagem de pessoa falecida – os direitos da personalidade são a princípio


intransmissíveis, mas a memória da pessoa morta se prolonga além da vida, dando o direito
aos seus sucessores de pleitear indenização por dano à imagem do morto mas que reflete
naqueles (STJ rel. Min. César Asfor Rocha 2001).

Jogador e álbum de figurinhas - O jogador tem direito à indenização por uso de sus foto em
álbum de figurinhas (STJ 46420-0/SP Min. Rel. Ruy Rosado)

b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou


de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações
sindicais e associativas; (ECAD)

XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário


para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das
marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o
interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País;

PROPRIEDADE INDUSTRIAL

Direito Autoral # Propriedade Industrial

Nesse inciso, a Constituição enumera expressamente a propriedade industrial como direito


fundamental. Chamo sua atenção para o fato de que, diferentemente dos direitos autorais, que
pertencem ao autor até sua morte, o criador de inventos industriais têm, sobre estes, privilégio
apenas temporário sobre sua utilização.

No caso de invento industrial, o direito não é vitalício, já a marca, o nome e símbolos da


empresa é um direito vitalício. (Lei n 9279/96). É uma forma de remunerar os inventores
(através de (royalties) em virtude de seu talento e atividade intelectual empregados na
invenção.

XXX - é garantido o direito de herança;

Tipos de Sucessão - A sucessão em nosso país pode ser TESTAMENTÁRIA – quando há


disposição de última vontade do testado; LEGÍTIMA – quando decorre da própria lei,
obedecendo-se a ordem de vocação hereditária (descendentes, ascendentes, cônjuge, etc.)

O Código Civil estabelece os casos de deserdação (vontade) e indignidade (lei).

XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei
brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja
mais favorável a lei pessoal do "de cujus";

XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

Código de Defesa do Consumidor – (Lei n 9078/90)

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da

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lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado;

O cidadão tem direito de ter acesso à remuneração do agente público? Seria isso um
direito à informação ou a intimidade do mesmo estaria sendo invadida?

“Direito à informação de atos estatais, neles embutida a folha de pagamento de órgãos e


entidades públicas. (...) Caso em que a situação específica dos servidores públicos é regida
pela 1ª parte do inciso XXXIII do art. 5º da Constituição. Sua remuneração bruta, cargos e
funções por eles titularizados, órgãos de sua formal lotação, tudo é constitutivo de informação
de interesse coletivo ou geral. Expondo-se, portanto, a divulgação oficial. Sem que a intimidade
deles, vida privada e segurança pessoal e familiar se encaixem nas exceções de que trata a
parte derradeira do mesmo dispositivo constitucional (inciso XXXIII do art. 5º), pois o fato é que
não estão em jogo nem a segurança do Estado nem do conjunto da sociedade. Não
cabe, no caso, falar de intimidade ou de vida privada, pois os dados objeto da
divulgação em causa dizem respeito a agentes públicos enquanto agentes públicos
mesmos; ou, na linguagem da própria Constituição, agentes estatais agindo ‘nessa
qualidade’ (§ 6º do art. 37). E quanto à segurança física ou corporal dos servidores, seja
pessoal, seja familiarmente, claro que ela resultará um tanto ou quanto fragilizada com a
divulgação nominalizada dos dados em debate, mas é um tipo de risco pessoal e familiar que
se atenua com a proibição de se revelar o endereço residencial, o CPF e a CI de cada servidor.
No mais, é o preço que se paga pela opção por uma carreira pública no seio de um Estado
republicano. (...) A negativa de prevalência do princípio da publicidade administrativa implicaria,
no caso, inadmissível situação de grave lesão à ordem pública” (SS 3.902-AgR-segundo, Rel.
Min. Ayres Britto, julgamento em 9-6-2011, Plenário, DJE de 3-10-2011.)

Publicidade - Trata-se da publicidade que rege a Administração Pública, como forma de dar
maior transparência à mesma. Salvo as informações sigilosas: das forças Armadas, segurança
nacional, matéria radioativa.

XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:

a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra


ilegalidade ou abuso de poder;

DIREITO DE PETIÇÃO

Petição é um pedido, uma reclamação ou um requerimento endereçado a uma autoridade


pública. Trata-se de um instrumento de exercício da cidadania, que permite a qualquer pessoa
dirigir-se ao Poder Público para reivindicar algum direito ou informação. Por esse motivo, o
impetrante (autor da petição) pode fazer um pedido em favor de interesses próprios, coletivos,
da sociedade como um todo, ou, até mesmo, terceiros. Não necessita de qualquer formalismo:
apenas se exige que o pedido seja feito por documento escrito. Exemplo: um servidor público
pode, por meio de petição, pedir remoção para outra localidade, para tratar de sua saúde.

1) Conceito – é o instrumento de que dispõe qualquer pessoa para levar ao conhecimento dos
Poderes Públicos fato ilegal ou abusivo, contrário ao interesse público, para que sejam
adotadas as medidas necessárias;

2) Informalidade – a pessoa, para exercer o direito de petição, não necessita de assistência


advocatícia.

3) Defesa de direitos – pode ser pleiteado um direito próprio ou de toda a coletividade,


diferente do direito de certidão que diz respeito exclusivamente ao direito do impetrante.

4) Contra ilegalidade – pode ser exercido quando o Poder público, através de seus agentes,
pratica alguma ilegalidade, ato este contrário ao ordenamento jurídico.

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5) Contra abuso de poder – ocorre quando a autoridade, ao praticar um ato, ultrapassa os
limites de suas atribuições ou se desvia das finalidades administrativas;

Subdivisão do abuso de poder:

5.a) Excesso de Poder .– quando o agente público, ao praticar o ato, ultrapassa ou vai além
do que lhe foi permito pela lei. Ex. o superintendente da polícia civil resolve designar uma
policia federal para realizar um cumprimento de um mandado de prisão. No excesso de poder,
está se descumprindo o requisito do ato administrativo chamado de COMPETÊNCIA.

5.b) Desvio de poder ou desvio de finalidade – ocorre quando o agente público, mesmo
tendo competência legal para a prática do ato, o pratica buscando alcançar fim diverso
daquele que lhe foi determinado pela lei. No desvio de poder está se descumprindo o requisito
do ato administrativo chamado de FINALIDADE. Ex. superintendente da polícia federal que
resolve remover ex oficio agente federal para a fronteira por motivo de perseguição. Ex. ato de
desapropriação praticado pelo estado com o objetivo de prejudicar um desafeto do governador.

6) Legitimidade ativa universal – o direito de exercer o direito de petição é tanto da pessoa


física quanto da pessoa jurídica, nacional ou estrangeira.

7) Legitimidade passiva – a pessoa pode exercer esse direito perante o Legislativo,


Executivo, Judiciário e Ministério Público, nas três esferas de poder, federal, estadual ou
municipal.

8) Atitude da autoridade pública – a autoridade pública está obrigada constitucionalmente ao


recebimento, ao exame e á expedição de resposta em tempo razoável, sob pena de implicar
ofensa ao direito líquido e certo do peticionário, sanável pela via do mandado de segurança. A
omissão injustificada da autoridade pública poderá, também, ensejar a sua responsabilização
civil, penal e administrativa.

9) Jurisprudência do STF

Através do direito de petição, posso pleitear apenas um direito individual ou também


coletivo?

“O direito de petição, presente em todas as Constituições brasileiras, qualifica-se como


importante prerrogativa de caráter democrático. Trata-se de instrumento jurídico-constitucional
posto a disposição de qualquer interessado com a explícita finalidade de viabilizar a defesa,
perante as instituições estatais, de direitos ou valores revestidos tanto de natureza pessoal
quanto de significação coletiva.... “ (ADI 1.247-MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 08/09/95)

O direito de petição, da ao indivíduo o direito de pleitear em nome próprio em juízo sem


advogado?

“O direito de petição a que alude o art. 5º, XXXIX, da Carta Magna, não representa a garantia
do interessado postular em juízo, em nome próprio. Para isso há de estar devidamente
habilitado, na forma da lei. Não é possível, com fundamento nesse direito, garantir a qualquer
pessoa o ajuizamento de ação, sem a presença de advogado. São distintos o direito de petição
e o de postular em juízo” (STF, Petição 1127/SP, Rel. Ministro Ilmar Galvão).

b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e


esclarecimento de situações de interesse pessoal;

DIREITO DE CERTIDÃO

Já a certidão é um atestado ou um ato que dá prova de um fato. Dentro da linguagem jurídica,


é uma cópia autêntica feita por pessoa que tenha fé pública, de documento escrito registrado
em um processo ou em um livro. Exemplo: certidão de nascimento.

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1) Conceito – garantia constitucional de natureza INDIVIDUAL, sendo obrigatória sua
expedição quando se destina à defesa de direitos e esclarecimentos de situações de interesse
pessoa do requerente. Tal garantia não pode ser invocada por quem pretenda obter cópia de
documentos a respeito de terceiro, em relação a qual não detenha mandato de representação.

2) Obrigatoriedade do Estado em prestar informações – caso as informações não sejam


prestadas pelo estado, caberá ao interessado impetrar mandado de segurança (e não habeas
data)haja vista que foi ferido um direito líquido e certo do cidadão.

3) Prazo para expedição da certidão – 15 dias segundo a Lei nº 9051/95 contados do registro
do pedido no órgão expedidor.

4) Razões ou esclarecimentos do pedido – segundo o STF não há necessidade de o


solicitante da certidão vir a expressar os motivos ou razões específicas do pedido.

5) Exceção – o Estado pode negar a certidão quando disser respeito a informações de


interesse da segurança da sociedade e do próprio Estado.

O indivíduo é obrigado ao perante de taxa para obtenção de certidão e repartição


pública?

"Ação direta de inconstitucionalidade. Art. 178 da LC 19, de 29 de dezembro de 1997, do


Estado do Amazonas. Extração de certidões, em repartições públicas, condicionada ao
recolhimento da ‘taxa de segurança pública’. violação à alínea b do inciso XXXIV do art. 5º
da CF. Ação julgada procedente." (ADI 2.969, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 29-3-
2007, Plenário, DJ de 22-6-2007.)

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a


direito;

PRINCÍPIO DA INASFASTABILIDADE DE JURISDIÇÃO OU DIREITO DE ACESSO AO


JUDICIÁRIO

Somente o Judiciário pode dizer o Direito de forma definitiva, por meio da chamada coisa
julgada material. Isso porque adotamos jurisdição una, ou seja, o sistema inglês de jurisdição, e
não o francês. O último (não adotado pelo Brasil), determina que tanto a Administração quanto
o Judiciário podem julgar com caráter definitivo.

Taxa judiciária sem limite - “Viola a garantia constitucional de acesso à jurisdição a taxa
judiciária calculada sem limite sobre o valor da causa.” (SÚM. 667)

Poder Judiciário e mudança de pena do servidor -"Embora o Judiciário não possa substituir-
se à Administração na punição do servidor, pode determinar a esta, em homenagem ao
princípio da proporcionalidade, a aplicação de pena menos severa, compatível com a falta
cometida e a previsão legal." (RMS 24.901, Rel. Min. Carlos Britto, DJ 11/02/05)

Negar prestação jurisdicional # decisão contrária à parte - Não há confundir negativa de


prestação jurisdicional com decisão jurisdicional contrária à pretensão da parte." (AI 135.850-
AgR, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 24/05/91)

XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa
julgada;

PRINCÍPIO DA SEGUANÇA JURÍDICA

O Estado pode criar normas retroativas que prejudiquem o indivíduo?

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Não se impede, que o Estado crie leis retroativas. Estas são permitidas, desde que beneficiem
o indivíduo em relação às anteriores.

Coisa julgada - “A coisa julgada a que se refere o artigo 5º, XXXVI, da Carta Magna é, como
conceitua o § 3º do artigo 6º da Lei de Introdução do Código Civil, a decisão judicial de que já
não caiba recurso, e não a denominada coisa julgada administrativa.” (RE 144.996, Rel. Min.
Moreira Alves, DJ 12/09/97).

Ato jurídico perfeito = SUJEITO CAPAZ + OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO OU


DETERMINÁVEL + FORMA PRESCRITA OU NÃO DEFESA EM LEI.

Direito Adquirido – é aquele que já se incorporou no patrimônio da pessoa segundo a


legislação presente. É deferente da expectativa de direito.

Segurança Jurídica - Este inciso reforça a necessidade de se manter a segurança jurídica,


como forma de pacificação social.

Direito adquirido é aquele que cumpriu todos os requisitos para sua formação que foram
exigidos por lei então vigente. É o que ocorre se você cumprir todos os requisitos para se
aposentar sob a vigência de uma lei X. Mesmo que, depois de cumpridas as condições de
aposentadoria, seja criada lei Y com requisitos mais gravosos, você terá direito adquirido a se
aposentar.

Ato jurídico perfeito é a conseqüência do exercício efetivo de um direito adquirido. Trata-se


de direito efetivamente exercido sob regras da lei vigente no momento de sua realização. Seria
o caso, por exemplo, de sua aposentadoria, tomando-se o exemplo anterior, após o
deferimento de seu pedido.

Coisa julgada compreende a decisão judicial da qual não cabe mais recurso.

Servidor público tem direito adquirido a imutabilidade de regime jurídico?

“Administrativo. Transposição do regime celetista para o estatutário. Inexistência de direito


adquirido a regime jurídico. Possibilidade de diminuição ou supressão de vantagens sem
redução do valor da remuneração.” (RE 599.618-ED, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em
1º-2-2011, Primeira Turma, DJE de 14-3-2011.)

“O STF fixou entendimento no sentido de que a lei nova não pode revogar vantagem pessoal já
incorporada ao patrimônio do servidor sob pena de ofensa ao direito adquirido.” (AI 762.863-
AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 20-10-2009, Segunda Turma, DJE de 13-11-
2009.)

Uma nova lei pode alterar as regras de um contrato que foi pactuado com base em lei
anterior?

"Os contratos submetem-se, quanto ao seu estatuto de regência, ao ordenamento


normativo vigente à época de sua celebração. Mesmo os efeitos futuros oriundos de
contratos anteriormente celebrados não se expõem ao domínio normativo de leis
supervenientes. As conseqüências jurídicas que emergem de um ajuste negocial válido são
regidas pela legislação em vigor no momento de sua pactuação. Os contratos – que se
qualificam como atos jurídicos perfeitos (RT 547/215) – acham-se protegidos, em sua
integralidade, inclusive quanto aos efeitos futuros, pela norma de salvaguarda constante do art.
5º, XXXVI, da CF. Doutrina e precedentes. A incidência imediata da lei nova sobre os efeitos
futuros de um contrato preexistente, precisamente por afetar a própria causa geradora do
ajuste negocial, reveste-se de caráter retroativo (retroatividade injusta de grau mínimo),
achando-se desautorizada pela cláusula constitucional que tutela a intangibilidade das
situações jurídicas definitivamente consolidadas." (AI 292.979-ED, Rel. Min. Celso de Mello,
julgamento em 19-11-2002, Segunda Turma, DJ de 19-12-2002.)

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No ordenamento jurídico brasileiro existe coisa julgada administrativa?

“A coisa julgada a que se refere o art. 5º, XXXVI, da Carta Magna é, como conceitua o § 3º do
art. 6º da Lei de Introdução do Código Civil, a decisão judicial de que já não caiba recurso, e
não a denominada coisa julgada administrativa.” (RE 144.996, Rel. Min. Moreira Alves,
julgamento em 29-4-1997, Primeira Turma, DJ de 12-9-1997.)

XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;

PRINCÍPIO DO JUIZ (JUÍZO) NATURAL

Princípio do juiz natural - Também representa o princípio do juiz natural. Ex. não posso criar
um tribunal para julgar exclusivamente um caso de terrorismo surgido no Brasil.

Justiça especializada # justiça de exceção - Justiça especializada (justiça do trabalho,


eleitoral e militar) não é justiça de exceção, visto que existe previsão constitucional das
mesmas.

O princípio do juiz natural aplica-se a órgão não integrante do poder Judiciário?

Art. 52 CF/88. Compete privativamente ao Senado Federal:

I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de


responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 02/09/99)

XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei,
assegurados:

1ª instância - O tribunal do júri (apesar do nome tribunal) compõe a 1ª instância.

a) a plenitude de defesa; (uso de todas as provas legais permitidas em direito).

Fere a plenitude de defesa a manutenção do réu com algemas durante o julgamento?

“Implica prejuízo à defesa a manutenção do réu algemado na sessão de julgamento do


Tribunal do Júri, resultando o fato na insubsistência do veredicto condenatório.” (HC 91.952,
voto do Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 7-8- 2008, Plenário, DJE de 19-12-2008.)

b) o sigilo das votações;

Sala secreta - A votação realizada em sala secreta é constitucional, já a divulgação do


resultado é pública, mas os jurados não são obrigados a expressar seu voto publicamente.

c) a soberania dos veredictos;

Posso recorrer das decisões do júri?

Recorribilidade de suas decisões - A soberania dos veredictos não exclui a recorribilidade


das decisões proferidas pelo júri principalmente quando a prova for manifestamente contrária á
prova dos autos, neste caso, o Tribunal não pode reformar a decisão do júri e sim declarar sua
nulidade e retornar os autos ao tribunal do júri ara que seja proferido novo julgamento, por
novos jurados (STF HC 71617-2 rel. Min. Ilmar Galvão)

d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

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A competência do júri é absoluta?

"A competência do Tribunal do Júri não é absoluta. Afasta-a a própria CF, no que prevê, em
face da dignidade de certos cargos e da relevância destes para o Estado, a competência de
tribunais – arts. 29, VIII; 96, III; 108, I, a; 105, I, a; e 102, I, b e c." (HC 70.581, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgamento em 21-9-1993, Segunda Turma, DJ de 29-10- 1993.) No mesmo
sentido: HC 71.654, Rel. Min. Ilmar Galvão, julgamento em 18-10-1994, Primeira Turma,
DJ de 30- 8-1996; HC 69.325, Rel. Min. Néri da Silveira, julgamento em 17-6-1992, Primeira
Turma, DJ de 4-12-1992.d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a
vida;

Prerrogativa de função - A competência do júri é afastada pela competência por prerrogativa


de função. Ex. prefeito ou juiz que comete homicídio é julgado pelo Tribunal de Justiça e não
pelo tribunal do Júri) ( STF, 12568/PR – rel. Min. Carlos Veloso)

Júri e prerrogativa de função - “A competência constitucional do tribunal do júri prevalece


sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição
estadual.” (SÚM. 721)

Latrocínio e Júri - "A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz


singular e não do Tribunal do Júri." (SÚM. 603)

Não fundamentação - a decisão proferida pelo júri não tem necessidade de ser
fundamentada não havendo necessidade de obedecer a regra de que toda decisão proferida
pelo Judiciário deve ser fundamentada (art. 5º IX). Mas caso seja plenamente contrária á prova
dos autos, pode ser anulada pelo tribunal e volta para novo julgamento por novos jurados.

O rol de crimes a serem julgados pelo júri pode ser estendido pelo legislador ordinário?

“A competência do Tribunal do Júri, fixada no art. 5º, XXXVIII, d, da CF, quanto ao julgamento
de crimes dolosos contra a vida é passível de ampliação pelo legislador ordinário. A regra
estabelecida no art. 78, I, do CPP de observância obrigatória, faz com que a competência
constitucional do Tribunal do Júri exerça uma vis atractiva sobre delitos que apresentem
relação de continência ou conexão com os crimes dolosos contra a vida. (...) A manifestação
dos jurados sobre os delitos de sequestro e roubo também imputados ao réu não maculam o
julgamento com o vício da nulidade.” (HC 101.542, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgamento em 4-5-2010, Primeira Turma, DJE de 28-5-2010.)

Crimes dolosos contra a vida: homicídio, infanticídio, aborto, induzimento, instigação e


auxílio ao suicídio. Caso estes crimes sejam culposos, fica descaracterizada a competência do
júri.

XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação
legal;

Princípio da Anterioridade da lei penal. – para um ato humano seja considerado crime, é
necessário que haja uma lei anterior que o preveja como crime e não antes do julgamento.

XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

Princípio da irretroatividade da lei penal maléfica e Princípio da retroatividade da lei mais


benéfica - O benefício é de ordem geral Ex. réu condenado a 25 anos e vem uma nova lei e
diz que o mesmo deve cumprir 5 anos, caso o mesmo já tenho cumprido 6 anos, deverá ser
solto.

XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades


fundamentais;

46
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à
pena de reclusão, nos termos da lei;

Judeu é raça? (raça humana)- “Escrever, editar, divulgar e comerciar livros ‘fazendo apologia
de idéias preconceituosas e discriminatórias’ contra a comunidade judaica (Lei 7.716/89, artigo
20, na redação dada pela Lei 8.081/90) constitui crime de racismo sujeito às cláusulas de
inafiançabilidade e imprescritibilidade (CF, artigo 5º, XLII). Aplicação do princípio da
prescritibilidade geral dos crimes: se os judeus não são uma raça, segue-se que contra eles
não pode haver discriminação capaz de ensejar a exceção constitucional de imprescritibilidade.
Inconsistência da premissa.” (HC 82.424, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ 19/03/04)

Inafiançável – são aqueles crimes em que não se paga a fiança e não pode o autor do mesmo
responder o processo em liberdade.

Imprescritível – é aquele crime em que a Justiça jamais perde o poder de punir o seu autor.

XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a


prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os
definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e
os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Inafiançáveis e prescritíveis - Estes crimes, apesar de serem inafiançáveis, são


PRESCRITÍVEIS.

Graça – perdão concedido ao preso de forma individal por ato do chefe do Executivo.
Anistia – concedido de forma coletiva e mediante lei (Poder Legislativo)

NOTA: No Julgamento do HC 82.959, o STF decidiu pela possibilidade de progressão do


regime de cumprimento de pena nos crimes hediondos.

XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis


ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;

Golpe de Estado. RESUMO: imprescritíveis e inafiançáveis são: RACISMO E GOLPE


DE ESTADO.

XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de


reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas
aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;

Princípio da Intransmissibilidade da pena ou da personificação da pena - Na pena de


prestação de serviços à comunidade o condenado não pode se fazer substituir por terceiro
estranho ao ilícito penal (STF HC 68309/DF rel. Min. Celso de Mello)

Intransmissibilidade da prestação de serviços à comunidade

A intransmissibilidade da pena traduz postulado de ordem constitucional. A sanção penal não


passará da pessoa do delinquente. Vulnera o princípio da incontagiabilidade da pena a decisão
judicial que permite ao condenado fazer-se substituir, por terceiro absolutamente estranho ao
ilícito penal, na prestação de serviços à comunidade.[HC 68.309, rel. min. Celso de Mello, j.
27-11-1990, 1ª T, DJ de 8-3-1991.]

XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as


seguintes:

a) privação ou restrição da liberdade; (reclusão - só regime fechado ou semi-aberto e


detenção – pode ter regime aberto).

47
b) perda de bens; (ex. perdimento do veículo utilizado no transporte de entorpecentes
(STJ 63539-DF rel. Min. Garcia Vieira)

c) multa;

d) prestação social alternativa; (ex. doação de cesta básica)

e) suspensão ou interdição de direitos; (ex. proibição de dirigir veículo automotor)

Princípio da Individualização da pena.

....entre outras.... – a relação de penas deste inciso é ilustrativa (exemplificativa) e não


taxativa, já que podem ser estabelecidas outra penas desde que não se enquadre na realão
abaixo.

(Cespe/2013/MPU) A lei regulará a individualização da pena, proibidas, em qualquer


situação, a pena de morte, a de caráter perpétuo, a de trabalhos forçados, a de
banimento e a cruel.

Comentários:
O erro do enunciado é que a pena de morte não é proibida em qualquer situação, uma vez que
é permitida no caso de guerra declarada. Questão incorreta.

XLVII - não haverá penas:

a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
(deserção, espionagem, traição são punidos com pena de morte desde que em caso de guerra
declarada)

Extradição e pena de morte - “O ordenamento positivo brasileiro, nas hipóteses em que se


delineia a possibilidade de imposição do supplicium extremum, impede a entrega do
extraditando ao Estado requerente, a menos que este, previamente, assuma o compromisso
formal de comutar, em pena privativa de liberdade, a pena de morte, ressalvadas, quanto a
esta, as situações em que a lei brasileira — fundada na Constituição Federal — permitir a sua
aplicação, caso em que se tornará dispensável a exigência de comutação.” (Ext. 633, Rel. Min.
Celso de Mello, DJ 06/04/01)

Extradição e prisão perpétua - "Extradição e prisão perpétua: necessidade de prévia


comutação, em pena temporária (máximo de 30 anos), da pena de prisão perpétua — revisão
da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, em obediência à Declaração Constitucional de
Direitos (CF, art. 5º, XLVII, b). A extradição somente será deferida pelo Supremo Tribunal
Federal, tratando-se de fatos delituosos puníveis com prisão perpétua, se o Estado requerente
assumir, formalmente, quanto a ela, perante o Governo brasileiro, o compromisso de comutá-la
em pena não superior à duração máxima admitida na lei penal do Brasil (CP, art. 75), eis que
os pedidos extradicionais — considerado o que dispõe o art. 5º, XLVII, b da Constituição da
República, que veda as sanções penais de caráter perpétuo — estão necessariamente sujeitos
à autoridade hierárquico-normativa da Lei Fundamental brasileira. Doutrina. Novo
entendimento derivado da revisão, pelo Supremo Tribunal Federal, de sua jurisprudência em
tema de extradição passiva." (Ext 855, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 01/07/05)

b) de caráter perpétuo;

Aplica-se também na área administrativa

Pena perpétua # caráter perpétuo - “Pena de inabilitação permanente para o exercício de


cargos de administração ou gerência de instituições financeiras.Inadmissibilidade.” (RE
154.134, Rel. Min. Sydney Sanches, DJ 29/10/99)

48
c) de trabalhos forçados; (ex. quebrar pedra o dia inteiro debaixo de sol)

d) de banimento; ou desterro. É a retirada forçada de um nacional de seu país em


virtude da prática de determinado ato em território nacional, isso não impede que o brasileiro
naturalizado não seja extraditado.

e) cruéis; ex. marca de ferro quente, açoites, etc.

XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a


natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;

Desdobramento do Princípio da individualização da pena - forma de melhor ressociabilizar


o preso, separando-os por grau de periculosidade por exemplo.

XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

Detento morto por outro dentro do presídio - “Detento assassinado por outro preso:
responsabilidade civil do Estado: ocorrência da falta do serviço, com a culpa genérica do
serviço público, dado que o Estado deve zelar pela integridade física do preso.” (RE 372.472,
Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 28/11/03). No mesmo sentido: RE 215.981, DJ 31/05/02. Morte
de detento por colegas de carceragem. Indenização por danos morais e materiais. Detento sob
a custódia do Estado. Responsabilidade objetiva. Teoria do Risco Administrativo. Configuração
do nexo de causalidade em função do dever constitucional de guarda (art. 5º, XLIX).
Responsabilidade de reparar o dano que prevalece ainda que demonstrada a ausência de
culpa dos agentes públicos." (RE 272.839, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 08/04/05)

L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com


seus filhos durante o período de amamentação;

LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime


comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;

Conceito de extradição – ato pelo qual um estado entrega a outro, criminoso para ser
julgado.

Pedido de extradição feito por particular - Os pedidos de extradição, qualquer que seja a
sua modalidade (ativa ou passiva), por envolverem uma relação de caráter necessariamente
intergovernamental, somente podem ser formulados por Estados soberanos, falecendo
legitimação, para tanto, a meros particulares. (Pet 3.569, Rel. Min. Celso de Mello, DJ
20/03/06).

Critério da dupla tipicidade – o ato deve ser crime tanto no Brasil com também no país que
solicita a extradição ( STF Pleno rel. Min. Celso de Mello)

Deveres do Estado requerente da extradição (dentre outros):

1) Converter a pena de morte em pena privativa de liberdade;


2) Substituir a pena de prisão perpétua por privativa de liberdade com prazo máximo de
30 anos;
3) Proibição da reextradição (não entregar o extraditando ao outro Estado sem o
consentimento do Brasil).

Procedimento do pedido de extradição

1) O pedido de extradição deverá ser formulado pelo governo do estado estrangeiro (via
diplomática) ao presidente da república (art. 84 VII)

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2) Depois de feito o pedido ao presidente da república, o mesmo é enviado ao STF que
vai verificar a legalidade do mesmo (art. 102 I g)
3) Caso o STF negue a extradição ( com base em requisitos constitucionais e legais), o
Presidente estará obrigado a acatar esta decisão sendo vedada a extradição.
4) Caso o STF admita a extradição, o Presidente não fica vinculado ao veredito do STF,
podendo agir discricionariamente determinando ou não a extradição.

LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;

Definição de crime político - “Não havendo a Constituição definido o crime político, ao


Supremo cabe, em face da conceituação da legislação ordinária vigente, dizer se os delitos
pelos quais se pede a extradição, constituem infração de natureza política ou não, tendo em
vista o sistema da principalidade ou da preponderância.” (Ext. 615, Rel. Min. Celso de Mello,
DJ 05/12/94)

OBS . Brasileiro nato nunca poderá ser extraditado, somente o naturalizado (assunto a ser
visto mais à frente).

Competência para julgamento de crime político – em primeira instancia é do juiz federal


(art. 109 IV), com recurso ordinário para o STF (art. 102 II a).

LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade


competente;

Princípio do juiz natural. O STF já decidiu que existe também o princípio do promotor
natural, mas não o do delegado natural.

O princípio do juiz natural também se aplica aos órgãos que exercem o poder de julgar,
mesmo que estando fora do judiciário, como é o caso do Senado Federal, nos crimes de
responsabilidade do Presidente da república (art. 52 I).

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal;

Cancelamento de matrícula e devido processo legal

NOVO: Administrativo. Ensino superior. Cancelamento de matrícula sem observância do


devido processo legal. Impossibilidade. [RE 781.794 AgR, rel. min. Luiz Fux, j. 2-8-2016, 1ª T,
DJE de 19-8-2016.]

Conseqüência do devido processo legal: direito a uma defesa técnica, direito a não auto
incriminação, direito de apresentar provas lícitas, direito de ficar calado etc...

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral


são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes;

Contraditório e devido processo legal no inquérito - “No processo penal, a falta da defesa
constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo
para o réu.” (SÚM. 523)

Contraditório e exclusão de cooperado - Cooperativa — exclusão de associado — caráter


punitivo — devido processo legal. Na hipótese de exclusão de associado decorrente de
conduta contrária aos estatutos, impõe-se a observância ao devido processo legal, viabilizado
o exercício amplo da defesa. Simples desafio do associado à assembléia geral, no que toca à
exclusão, não é de molde a atrair adoção de processo sumário. Observância obrigatória do
próprio estatuto da cooperativa." (RE 158.215, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 07/06/96)

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Interrogatório judicial e contraditório - No interrogatório judicial não há contraditório, o
defensor ou acusador não pode interferir nas perguntas ou respostas, o juiz é o filtro da
pergunta (STF HC 76420/Sp – rel Min. Maurício Côrrea).

Prova emprestada - A prova emprestada é possível em um processo desde que fique


assegurado às partes o contraditório ( STF HC 78749-0/MS rel. Min. Sepúlveda Pertence)

Inquérito policial e contraditório - Não há contraditório em inquérito policial visto que o


mesmo tem uma natureza investigatória (STF rel. Min. Celso de Mello HC 69372/SP)

A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende
a Constituição. [Súmula Vinculante 5.]

LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;

Gravação feita por um dos interlocutores, sem conhecimento do outro, para sua defesa -
A gravação de conversa entre dois interlocutores, feita por um deles, sem conhecimento do
outro, com a finalidade de documentá-la, futuramente, em caso de negativa, nada tem de ilícita,
principalmente quando constitui exercício de defesa." (AI 503.617-AgR, Rel. Min. Carlos
Velloso, DJ 04/03/05). No mesmo sentido: RE 402.035-AgR, DJ 06/02/04; HC 74.678, DJ
15/08/97.

Prova furtada de consultório - “Qualifica-se como prova ilícita o material fotográfico, que,
embora alegadamente comprobatório de prática delituosa, foi furtado do interior de um cofre
existente em consultório odontológico pertencente ao réu, vindo a ser utilizado pelo Ministério
Público, contra o acusado, em sede de persecução penal, depois que o próprio autor do furto
entregou à Polícia as fotos incriminadoras que havia subtraído.” (RE 251.445, Rel. Min.Celso
de Mello, DJ 03/08/00)

Teoria dos Frutos da Árvore envenenada (Fruits of the poisonouus tree)/Provas ilícitas
por derivação - A prova ilícita deve ser retirada do processo e todas aquelas que dela derivem
também devem ser desconsideradas, mas aquelas que são consideradas como autônomas
devem permanecer( Ex. uma busca e apreensão originada de uma confissão obtida por tortura
é ilícita) (STF Pleno HC 73351-SP rel. Min. Ilmar Galvão 1996)

Prova ilícita e princípio da proporcionalidade – somente se aplica o princípio da


proporcionalidade das provas obtidas por meios ilícitos pro reo, isto é, para beneficiar o réu. A
mesma não pode ser utilizada para condenar o réu. (STF HC 74678-DF rel. Min. Moreira
Alves).

LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença


penal condenatória;

Princípio da Presunção da Inocência

Prisão provisória e preventiva e presunção da inocência - A jurisprudência do Supremo


Tribunal Federal firmou-se no sentido de reconhecer que a efetivação da prisão decorrente de
sentença condenatória meramente recorrível não transgride o princípio constitucional da não-
culpabilidade do réu, eis que, em tal hipótese, a privação da liberdade do sentenciado — por
revestir-se de cautelaridade — não importa em execução definitiva da sanctio juris." (HC
79.376, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 22/10/04). No mesmo sentido: HC 84.639, DJ 20/05/05.

Prisão preventiva e presunção da inocência - A presunção constitucional de não-


culpabilidade não desautoriza as diversas espécies de prisão processual, prisões inscritas em
lei para o fim de fazer cumprida a lei processual ou para fazer vingar a ação penal." (HC
81.468, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 01/08/03)

51
Rol dos culpados - O lançamento do nome do réu no rol dos culpados só pode ocorrer com o
trânsito em julgado da sentença condenatória (STF HC 73151-Rj rel. Min. Moreira Alves
1996)

ATENÇÃO - O fato de o indivíduo está respondendo a diversos inquéritos pode ser utilizado
pelo juiz com maus antecedentes na aplicação da pena

Trânsito em julgado – é a decisão judicial irreformável, da qual não cabe mais recurso.

IMPORTANTE. O princípio da presunção da inocência foi atenuado em decisão do TSE com


relação à possibilidade da impugnação de candidaturas de parlamentares que estejam sob
processo de investigação. Mas tal impugnação vai depender do partido. Tal decisão se baseou
na infringência do princípio da moralidade.

MUITA ATENÇÃO – DECISÃO DO STF – AGO/2008


ADPF: Inelegibilidade e Vida Pregressa dos Candidatos - 4

“......afasta do processo eleitoral pessoas desprovidas de idoneidade moral,


condicionando, entretanto, o reconhecimento da inelegibilidade ao trânsito em julgado
das decisões, não podendo o valor constitucional da coisa julgada ser desprezado por esta
Corte. Vencidos os Ministros Carlos Britto e Joaquim Barbosa que julgavam a argüição
procedente. ADPF 144/DF, rel. Min. Celso de Mello, 6.8.2008. (ADPF-144)

LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo


nas hipóteses previstas em lei;

Identidade civil e criminal - “(...) A identificação criminal não será feita se apresentada, ante a
autoridade policial, a identidade civil da indiciada (...) ” A CF/88 proíbe o “tocar piano” (RHC
66.180, Rel. Min. Francisco Rezek, DJ 10/03/89)

Identificação criminal e constrangimento ilegal - A identificação criminal desmotivada


representa constrangimento ilegal (STJ, rel. Min. Willian Patterson)

LEI Nº 12.037, DE 1º DE OUTUBRO DE 2009.

Dispõe sobre a identificação criminal do civilmente identificado, regulamentando o art.


5º, inciso LVIII, da Constituição Federal.

Art. 1º O civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nos
casos previstos nesta Lei.

Art. 2º A identificação civil é atestada por qualquer dos seguintes documentos:

I – carteira de identidade;

II – carteira de trabalho;

III – carteira profissional;

IV – passaporte;

V – carteira de identificação funcional;

VI – outro documento público que permita a identificação do indiciado.

Parágrafo único. Para as finalidades desta Lei, equiparam-se aos documentos de


identificação civis os documentos de identificação militares.

52
Art. 3º Embora apresentado documento de identificação, poderá ocorrer identificação
criminal quando:

I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação;

II – o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado;

III – o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações


conflitantes entre si;

IV – a identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho


da autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da
autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa;

V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações;

VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição


do documento apresentado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais.

Identificação por fotografia - Identificação por meio de fotografia não fere o art. 5º LVIII da
CF/88 pois não se destinam a prontuário e sim a caderno informativo ( STJ HC 4798/SP Min.
Anselmo Santiago).

LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for
intentada no prazo legal;

Ação penal privada subsidiária da pública e inércia do MP - “A admissibilidade da ação


penal privada subsidiária da pública pressupõe, nos termos do art. 5º, LIX, da CF (‘será
admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal;’), a
inércia do Ministério Público em adotar, no prazo legal (CPP, art. 46), uma das seguintes
providências: oferecer a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou
requisitar novas diligências. Precedentes citados: Inq 172-SP (RTJ 112/474), HC 67502-RJ
(RTJ 130/1084).” (HC 74.276, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 03/09/96). No mesmo sentido: HC
67.502, Rel. Min. Paulo Brossard, DJ 09/02/90.

LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa


da intimidade ou o interesse social o exigirem;

Publicidade / art. 155 do CPC e art. 93 inciso IX das CF/88 - Segundo o art. 155 do Código
de Processo Civil, as ação de estado (filiação, reconhecimento de paternidade, separação
judicial, divórcio) são resguardadas pelo sigilo judicial. O juiz também pode restringir a
publicidade do ato processual no caso de interesse público. Ex. um julgamento de grande
repercussão em que o juiz limita o número de pessoas que vão assistir ao mesmo.

LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados


imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;

O delegado não é obrigado a chamar advogado para o preso.

LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer


calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;

Direito ao silêncio – Ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo. Tanto o delegado
quanto o juiz devem informar ao indiciado ou processado que o meso tem o direito de ficar

53
calado sob pena de nulidade absoluta do interrogatório (STF HC 80949-Rj rel. Min. Carlos
Veloso).

Ficar calado e prova vocal - “O privilégio contra a auto-incriminação, garantia constitucional,


permite ao paciente o exercício do direito de silêncio, não estando, por essa razão, obrigado a
fornecer os padrões vocais necessários a subsidiar prova pericial que entende lhe ser
desfavorável.” (HC 83.096, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 12/12/03). Não se aplica o
ditado:”quem cala, consente”.

O preso deve ser informado do direito de ficar calado - “Juizados especiais criminais. Não
tendo sido o acusado informado do seu direito ao silêncio pelo Juízo (art. 5º, inciso LXIII), a
audiência realizada, que se restringiu à sua oitiva, é nula.” (HC 82.463, Rel. Min. Ellen Gracie,
DJ 19/12/02). No mesmo sentido: RHC 79.973, DJ 13/10/00.

LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por
seu interrogatório policial;

Como forma de evitar possível abuso de autoridade através de excessos.

LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;

Ex. prisão realizado com abuso de autoridade, para mera averiguação.

LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a
liberdade provisória, com ou sem fiança;

A regra é a liberdade, a prisão é exceção.

LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário
infiel;

Prisão civil e regime aberto - Sendo a prisão civil meio coercitivo indireto de execução,
caracterizando-se assim, com prisão administrativa, e não penal, o tribunal indeferiu o pedido
de Hábeas Corpus na parte em que se pleiteava o regime ABERTO para o cumprimento da
prisão civil ( STF Pleno HC 77527/MG rel. Min. Marco Aurélio)

ATENÇÃO. O STF considerou inconstitucional a prisão civil do depositário infiel com relação ao
contrato de depósito entre particulares.

LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar


ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade
ou abuso de poder;

REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS (GARANTIAS):

Habeas Corpus, Habeas Data, Mandado de Injunção, Mandado Segurança Individual,


Mandado de Segurança Coletivo, Mandado de Injunção Coletivo, Ação Popular, Direito
de Petição Direito de Certidão)

1) Conceito – trata-se de uma ação constitucional que visa a garantir o direito individual de
locomoção (IR, VIR e PERMANECER), por meio de uma ordem exarada por um órgão do
Poder Judiciário – juiz ou tribunal – para que cesse a ameaça ou coação à liberdade de ir e vir
do indivíduo.

2)Espécies

54
2.a)HC Preventivo (salvo conduto) – quando existir uma AMEAÇA ao direito de locomoção.

2.b) HC Repressivo ou liberatório – quando alguém estiver sofrendo EFETIVAMENTE


violência ou coação em sua liberdade de locomoção.

3) Capacidade Postulatória – não há necessidade de advogado. Vale salientar que para


impetrar ação de RECLAMAÇÂO visando a garantir a autoridade da decisão concessiva de HC
que não estaria sendo cumprida pelo tribunal apontado coator por tratar-se de atividade
privativa de advogado (STF/ Min. Moreira Alves, 14.05.1998).

4) Legitimidade universal – qualquer pessoa pode pleiteá-lo seja nacional ou


estrangeiro,independentemente da capacidade civil, política, profissional, de idade, sexo,
profissão, estado mental. O incapaz não precisa estar assistido ou representado para impetrar
HC.

5) Língua nacional – o HC pode ser impetrado por estrangeiro mas desde que seja redigido
em língua nacional ( HC 72.391/DF, rel. Min. Celso de Mello)

6) HC apócrifo (sem assinatura) – o STF entende que se deve negar conhecimento à ação
de HC apócrifa (STF, HC 12.035/RJ, rel. Sidney Sanches).

7) HC em caso de condenação ao pagamento de multa -Não cabe habeas corpus contra


decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a
que a pena pecuniária seja a única cominada." (SÚM. 693)

8) Informalidade mas urbanidade -“A impetração deve ser redigida em linguagem adequada
aos princípios de urbanidade e civismo. O Tribunal não tolera o emprego de expressões de
baixo calão, de linguajar chulo e deselegante.” (HC 80.674, Rel. Min. Nelson Jobim, DJ
17/08/01)

9) Impetração por FAX – o STF admite, desde que seja ele ratificado pelo impetrante no prazo
concedido pelo Ministro-relator. (STF, HC 74221/rel. Min. Ilmar Galvão)

10) Contra ato de particular – é possível impetrar HC contra ato de particular no caso de
ilegalidade (ex. internações em hospitais).

11) Ausência de dilação probatória – seu rito é sumaríssimo não se admite fase probatória
para o HC. Ex. ouvida de testemunha. O direito de violação de locomoção já devem estar
comprovados de plano (HC 68223/DF, rel. Min. Marco Aurélio)

12) Prova Ilícita – é admissível, e tese, a impetração de HC para impugnar a inserção de


provas ilícitas em procedimento penal e postular o seu desentranhamento, sempre que, da
imputação, possa advir condenação a pena privativa de liberdade ( STF/ HC 80949).

13) Sigilo bancário – o HC é instrumento idôneo para impugnar a validade da decisão que
decreta a quebra de sigilo bancário, uma vez que de tal procedimento pode advir medida
restritiva à liberdade de locomoção (HC 81294-SC, rel. Ministra Ellen Gracie)

14) CPI – o HC é cabível, em caráter preventivo, contra a ameaça de constrangimento à


liberdade de locomoção, materializada na intimação do paciente para depor em CPI, que
contém em si a possibilidade de condução coercitiva da testemunha que se recuse a
comparecer ( HC 71261, rel. Sepúlveda Pertence).

15) Excesso de prazo – poderá o HC ser usado para reprimir constrangimento ilegal à
liberdade de locomoção do acusado-preso, em face de abusivo excesso de prazo para o
encerramento da instrução processual penal (STF)

OBS. É uma ação gratuita, não cabe custas processuais e nem honorários advocatícios.

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16) Descabimento de HC

16.a) Sanção administrativa (afastamento de cargo)– é incabível HC para impugnar pena


advinda de decisão administrativa de caráter disciplinar (ex. suspensão de servidor público)
(HC 80800-MG, rel. Celso de Mello);

O afastamento do réu das funções de juiz de direito não enseja o cabimento de HC, porquanto
não põe em risco sua liberdade de locomoção (HC 77784-MT, rel. Min. Ilmar Galvão);
O HC, instrumento voltado a garantir a liberdade de ir e vir, não se presta ao questionamento
de decisão judicial que haja determinado o afastamento do paciente do cargo de prefeito (HC
75068-PI, rel. Min. Moreira Alves).

Não há como se configurar restrição à liberdade de locomoção física em decisão que apenas
determina afastamento do paciente do cargo que ocupa em virtude de recebimento de
denúncia." (HC 83.263, Rel. Min. Nelson Jobim, DJ 16/04/04)

16.b) Seqüestro de bens – tendo em vista a inexistência de ameaça à liberdade de locomoção


a ensejar o cabimento de HC, instrumento voltado à proteção do direito de ir e vir, não cabe e
HC com a finalidade de impedir o cumprimento de decisão que determinara o seqüestro de
bem imóvel (HC 81033-RJ, rel. Min. Ilmar Galvão)

16.c) Perda de patente militar (punições disciplinares militares - art. 142, § 2º CF) – a
perda do posto ou graduação de militar não enseja o cabimento de HC, instrumento voltado
unicamente à salvaguarda do direito de ir e vir (HC 80825-DF, rel. Min. Néri da Silveira);

OBS Entretanto a jurisprudência do STF interpretou tal dispositivo constitucional no sentido de


que não haverá HC em relação ao mérito das punições disciplinares. Essa vedação
constitucional não impede o exame pelo Poder Judiciário, em sede de HC, dos pressupostos
formais de legalidade da aplicação da punição ( a hierarquia, o poder disciplinar, a pena
suscetível de ser aplicada disciplinarmente).

16.d) Inabilitação para o exercício de cargo público – a inabilitação para o exercício de


cargo ou função pública como pena acessória de condenação criminal não enseja o cabimento
de HC, instrumento voltado unicamente à salvaguarda do direito de ir e vir (HC 76605-SP, rel.
Min. Sepúlveda Pertence).

16.e) Pena de Multa – é incabível a impetração de HC quando a pena aplicada é, tão-só, de


multa, hipótese em que não há ameaça à liberdade de locomoção (HC 75050-SP, rel. Min.
Néri da Silveira).

16.f) Pena de restrição de direitos – O HC não se presta á impugnação de interdição de


direito, consistente em suspensão de habilitação para dirigir veículos automotores, nem de
sanção pecuniária (multa), pois inexiste ameaça á liberdade de ir e vir (HC 73655-GO, rel. Min.
Sidney Sanches).

16.g) Suspensão dos direitos políticos – A suspensão dos direitos políticos como
conseqüência de condenação crimina transitada em julgado (CF, art. 15, III) não enseja o
cabimento de HC, instrumento voltado unicamente à salvaguarda do direito de ir e vir (HC
74272-PB, rel. Min. Néri da Silveira);

16.h) Inquérito Policial – O mero indiciamento em inquérito policial não constitui


constrangimento ilegal que possa ser atacado por HC (HC 76072-MG, rel. Min. Carlos
Veloso).

16.i) Guarda de filhos menores – O HC não é a via adequada para dirimir controvérsia sobre
a guarda de filhos menores (HC 75352-CE, rel. Min. Carlos Veloso).

16.j) Impechment – É inidônea a via do HC para a defesa de direitos desvinculados da


liberdade de locomoção, como é o caso do processo de impechmet pela prática de crime de
responsabilidade, que configura sanção de índole político - administrativa, não pondo em risco

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a liberdade de ir, vir e permanecer do Presidente da República (HC, 70033, rel. Min. Ilmar
Galvão).

16.l) Sigilo telefônico – O HC não se presta a garantir a proteção ao direito à intimidade de


paciente que teve a quebra do sigilo de seus registros telefônicos decretada (HC 75232, rel.
Min. Carlos Veloso, 1997);

OBS. O STF admite o HC quando, da decisão que determina a quebra de sigilo (fiscal,
bancário ou telefônico) possa EFETIVAMENTE advir medida que implique restrição á liberdade
de ir e vir do impetrante. Entretanto quando o HC pretende atacar decisão que tenha
determinado quebra de sigilo, com o intuito de proteger o direito à intimidade, sem que haja
risco ao direito de ir, vir e permanecer do impetrante, o STF não conhece da impetração, uma
vez que o remédio destina-se exclusivamente á proteção da liberdade de locomoção.

16.m) Advogado / livre trânsito em tribunal - Advogado — Exigência de identificação, por


meio de botton ou adesivo, para trânsito em dependências do Tribunal. Habeas corpus de que
não se conhece, por não se achar em causa direito de locomoção, senão suposta restrição ao
exercício profissional." (HC 79.084, Rel. Min. Octavio Gallotti, DJ 11/02/00)

LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,


não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no
exercício de atribuições do Poder Público;

MANDADO DE SEGURANÇA INDIVIDUAL

1) Natureza residual do MS – ou subsidiária np sentido de que somente será cabível quando


o direito líquido e certo a ser protegido não for amparado por HC ou HD.

2) Direito protegido – do próprio impetrante, subjetivo e não um interesse da coletividade.

3) Espécies – 3.a) Preventivo – tem por objetivo uma AMEAÇA do direito liquido e certo do
impetrante. O ato ilegal ou abusivo ainda não foi praticado, mas há forte risco, uma ameaça
concreta de que ele venha a ser realizado; 3.b) Repressivo – ocorre quando a ilegalidade ou
abuso de poder já foi cometido, a impetração do MS visa reprimir a ilegitimidade da conduta.

4) Mandado de segurança coletivo – neste caso existe uma substituição processual dos
legitimados.

OBS. O número de indivíduos que figuram como impetrantes na cão é irrelevante para
descaracterizá-la como mandado de segurança individual. Tanto é individual o MS impetrado
por uma pessoa quanto aquele ajuizado por um grupo determinado de pessoas, seja cinco, dez
ou vinte componentes.

5) Direito líquido e certo – é todo aquele demonstrado de plano e sem incerteza a respeito
dos fatos narrados pelo impetrante, não requer dilação probatória. Ex. ouvida de testemunha. “
o mandado de segurança não viabiliza dilação probatória, razão pela qual os fatos devem ser
demonstrados, a priori, pelo impetrante.” (STF, MS 22476-2/AL, rel. Min. Marco Aurélio).

OBS. Na verdade a incerteza recai sobre os fatos e não sobre o direito haja vista que os fatos
são incertos e o direito não.

6) Complexidade – “a elevada complexidade jurídica do direito invocado não é motivo para


obstar a utilização da via do mandado de segurança, desde de que todos os fatos encontrem-
se comprovados de plano (STF , RTJ 594/248)

7) Prazo para impetração – de 120 dias (para o mandão de segurança repressivo e não para
o preventivo), a contar da data em que o interessado tiver conhecimento oficial do ato a ser
impugnado.

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8) Legitimidade ativa (IMPETRANTES):

8.a) Pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras;

8.b) Universalidades reconhecidas por lei que, embora sem personalidade jurídica, possuem
capacidade processual para estar em juízo (o espólio, a massa falida, o condomínio, etc.);

8.c) os órgãos públicos, que embora despersonalizados, possuem capacidade processual


para defesa de suas prerrogativas. Ex. no caso da colisão de um veículo do Departamento de
Policia Federal (órgão da União) com um veículo particular, caso haja dano a ser reparado
judicialmente, a ação será proposta pela União (pessoa jurídica), através da Agu e não pelo
DPF (órgão público). Agora, no caso de impetração de mandado de segurança, é reconhecida
a capacidade processual do órgão público, para a defesa de suas prerrogativas e
atribuições. Se um órgão público entende que suas competências estão sendo usurpadas por
outro ente qualquer, poderá valer-se do mandado de segurança, como impetrante em nome
próprio para impedir tal situação.

8.d) os agentes políticos na defesa de suas atribuições e prerrogativas. Ex. Presidente da


República, vereadores, deputados, senadores, ministros de Estado, secretários de Estado,
etc...

8.e) os parlamentares, para a fiscalização da constitucionalidade do processo legislativo. Ex.


uma proposta de Emenda à Constituição que foi feita por um deputado e encontra-se em
tramitação no Congresso, esse processo não obedeceu a iniciativa prevista na Constituição,
sendo assim o parlamentar pode impetrar MS para que o processo legislativo seja respeitado.
“Mesa do Congresso Nacional. Substituição do presidente. Mandado de segurança.
Legitimidade ativa de membro da Câmara dos Deputados em face da garantia do devido
processo legislativo.” (MS 24.041, Rel. Min. Nelson Jobim, DJ 11/04/03). Não podem
terceiros, do direito público subjetivo de supervisionar o processo de formação dos atos
legislativos, invocando a sua potencial condição de destinatários da futura lei (STF, MS
23328/1, rel. Min. Celso de Mello).

9) Legitimidade passiva (IMPETRADO ou AUTORIDADE COATORA) – autoridade pública


de qualquer dos Poderes da União, dos estados, do DF e dos Municípios, bem assim suas
autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedade de economia mista E pessoas
naturais ou jurídicas de direito privado com funções delegadas do poder Público, como os
concessionários e permissionários do serviço público.” Mesmo as autoridades do Poder
Judiciário respondem em mandado de segurança, quando praticam atos administrativos ou
proferem decisões judiciais que lesam direito liquido e certo, competindo a impetração, perante
os tribunais locais (STF, 69802-6, rel. Min. Celso de Mello).

OBS. Podemos concluir portanto que pode o agente privado ter legitimidade passiva em
mandado de segurança, bastando que o mesmo esteja exercendo atividade delegada do Poder
Público. Ex. empresa de transporte coletivo de ônibus.

11) Indicação errônea da autoridade coatora – “É firme a jurisprudência do STF, no sentido


de não admitir que o juiz, ou tribunal, entendendo incorreta a indicação da autoridade coatora
pelo impetrante, corrija o equívoco deste, “ex offício”, indicando ele próprio, a autoridade
apontável como coatora. O que há de fazer, nesse caso, o juiz ou tribunal, segundo o
entendimento da Corte, é extinguir o processo, sem exame do mérito, por falta de uma das
condições da ação, exatamente a legitimidade “ad causam”.” (STF, RMS 22496-1)

12) Ministério Público – “A jurisprudência tem firmado orientação de que não basta a mera
intimação do órgão do Ministério Público, sendo indispensável o efetivo pronunciamento do
órgão no feito, sob pena de nulidade (STJ, Resp. 13948/AM).

13) Comissão parlamentar de Inquérito (do Congresso Nacional) – a competência para


julgar e processar atos de ilegalidade e abuso de poder de CPI é do STF (art. 102, inciso I, “i”).

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14) Lei em tese – não cabe mandado de segurança contra lei em tese (Súmula 266 STF).
“Não cabe MS, individual ou coletivo contra lei em tese, dado que a lei e, de resto qualquer ato
normativo, em sentido material, ostenta características de GENERALIDADE,
IMPESSOALIDADE E ABSTRAÇÃO, necessitando para sua individualização, da expedição
doa to administrativo que este sim, tem efeito concreto. (STF, MS 22132/RJ, rel. Min. Carlos
Velloso).

15) Decisão judicial transitada em julgado – “não cabe MS contra decisão judicial com
trânsito em julgado (STF, Súmula 268). Para tal, a via correta é a ação rescisória.

16) Concessão de vantagens – o MS não é meio idôneo para que o Poder Judiciário, que não
dispõe de função legislativa, conceda a uma categoria de servidores, sob fundamento de
isonomia, extensão de vantagens pecuniárias que foram exclusivamente outorgadas por lei aos
servidores de categoria distinta (STF, 1016-6/PB, rel. Min. Sepúlveda pertence).

17) Ônus da sucumbência (honorários de advogado) em MS – “Não cabe condenação em


honorários advocatícios na ação de MS (STF Súmula 512).

18) Liminar – é possível a concessão de liminar em MS individual. Já em MS coletivo, deve ser


observado o prazo de 72 horas para a manifestação do representante legal da pessoa jurídica
impetrada.

LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:

a) partido político com representação no Congresso Nacional;

1) Direito defendido (partido político) – desde que tenham representação no Congresso


nacional, o STF firmou entendimento de que os mesmos têm prerrogativa de impugnar, em
sede de mandado de segurança coletivo, QUALQUER ATO PÚBLICO, E NÃO SOMENTE
AQUELES RELACIONADOS AOS INTERESSES DE SEUS INTEGRANTES (RE 196184, rel.
Min. Ellen Gracie). Desde que não sejam direito tributários, haja vista que neste caso o direito
a ser defendido é individualizado e não difuso ou coletivo.

Mandado de segurança, tributo e partido político - Uma exigência tributária configura


interesse de grupo ou classe de pessoas, só podendo ser impugnada por eles próprios, de
forma individual ou coletiva. Precedente: RE nº 213.631, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ
07/04/2000. O partido político não está, pois, autorizado a valer-se do mandado de segurança
coletivo para, substituindo todos os cidadãos na defesa de interesses individuais, impugnar
majoração de tributo." (RE 196.184, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 18/02/05)

O direito liquido e certo defendido no mandado de Segurança Coletivo tem que


obrigatoriamente ser de toda a categoria?

Lembra-se quando falamos de substituição processual? No mandado de segurança coletivo,


ocorre esse instituto. O interesse invocado pertence a uma categoria, mas quem é parte do
processo é o impetrante (partido político, por exemplo), que não precisa de autorização
expressa dos titulares do direito para agir.

É importante destacar que o STF entende que os direitos defendidos pelas entidades da alínea
“c” não precisam se referir a TODOS os seus membros. Podem ser o direito de apenas parte
deles (exemplo, quando o sindicato defende direito referente à aposentadoria, que beneficia
apenas seus filiados inativos).

b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e


em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros
ou associados;

2) Direito defendido (organizações sindicais, entidades de classe e associações) – em se


tratando de legitimação das organizações sindicais, entidades de classe e associações, o

59
objeto do mandado de segurança coletivo deverá ser um direito dos associados,
independentemente de guardar vínculo com os fins próprios da entidade impetrante, exigindo-
se que o direito esteja compreendido na titularidade doas associados e que exista ele em razão
das atividades exercidas pelos associados, mas não se exigindo que o direito seja peculiar da
classe. Ex. em matéria tributária, a associação ou o sindicato poderá ajuizar o MS coletivo para
afastar a incidência da lei que institua determinado tributo, desde que esse tributo recaia sobre
os associados ou filiados. É irrelevante o fato de tal tributo atingir também, outros contribuintes,
não associados, pois não se exige que o direito pleiteado seja peculiar, próprio da classe. Caso
tal tribuno não onere os associados ou filiados, a associação e o sindicato não terão
legitimidade para ajuizar o mandado coletivo, impugnando referida lei tributária.

Estamos diante de Substituição processual que não precisa de autorização desde


que defenda os interesses coletivos da categoria. A autorização já encontra-se prevista no
estatuto.

3) 01 ano de funcionamento é apenas para associação - “Tratando-se de mandado de


segurança coletivo impetrado por sindicato, é indevida a exigência de um ano de constituição e
funcionamento, porquanto esta restrição destina-se apenas às associações.” (RE 198.919, Rel.
Min. Ilmar Galvão, DJ 24/09/99)

4) Mandado de Segurança e interesse de parte da categoria - "A entidade de classe tem


legitimação para o mandado de segurança ainda quando a pretensão veiculada interesse
apenas a uma parte da respectiva categoria." (SÚM. 630)

5) Mandado de Segurança e Substituição processual - "A legitimação das organizações


sindicais, entidades de classe ou associações, para a segurança coletiva, é extraordinária,
ocorrendo, em tal caso, substituição processual. CF, art. 5º, LXX. Não se exige, tratando-se
de segurança coletiva, a autorização expressa aludida no inciso XXI do art. 5º da
Constituição, que contempla hipótese de representação." (RE 193.382, Rel. Min. Carlos
Velloso, DJ 20/09/96)

LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma


regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e
das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;

1) Conceito – consiste em uma ação constitucional, que visa suprimir uma omissão do Poder
Público, no intuito de viabilizar o exercício de um direito ou liberdade prevista na Constituição
Federal. Seu objetivo é combater a síndrome da inefetividade das normas constitucionais ou
a síndrome da inércia do Poder Público.

2) Legitimidade ativa – Qualquer pessoa física ou jurídica. “Somente o titular do direito ou


liberdade constitucional cujo exercício está sendo inviabilizado pela ausência da norma
infraconstitucional regulamentadora (STF, Agr 595/MA, rel. Min. Carlos Veloso 1999).”

3) Descabimento do mandado de injunção – o mandado de injunção é remédio


constitucional para tornar efetivo direito previsto na Constituição, não é ele, instrumento a ser
utilizado para os casos de falta de norma regulamentadora que esteja obstando o exercício de
direito previsto em normas infraconstitucionais, tais como leis ordinárias e complementares.
(STF, MI 296/DF, rel. Min. Néri da Silveira, 1991).

4) Mora do legislador – o STF tem considerado que para análise da inércia do legislador deve
ser levado em consideração o princípio da razoabilidade.

5) Mandado de injunção coletivo -“A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal admite


legitimidade ativa ad causam aos sindicatos para a instauração, em favor de seus membros ou
associados, do mandado de injunção coletivo.” (MI 102, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ
25/10/02)

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“Entidades sindicais dispõem de legitimidade ativa para a impetração do mandado de injunção
coletivo, que constitui instrumento de atuação processual destinado a viabilizar, em favor dos
integrantes das categorias que essas instituições representam, o exercício de liberdades,
prerrogativas e direitos assegurados pelo ordenamento constitucional.” (MI 472, Rel. Min.
Celso de Mello, DJ 02/03/01)

OBS. Os legitimados são os mesmos do mandado de segurança coletivo.

6) Legitimação Passiva – deve o mesmo ser dirigido contra o Poder (órgão, entidade ou
autoridade) que tem o dever de regulamentar a norma constitucional. Caso a omissão seja
legislativa federal, o mandado de injunção deverá ser ajuizado em face do Congresso nacional.
Os particulares não possuem legitimidade passiva para o processo de mandado de injunção,
pois somente ao Poder Público é dado o dever constitucional de produção legislativa para dar
efetividade aos direitos constitucionais (STF, MI 536-2/MG).

7) Descabimento de medida liminar – O STF firmou entendimento de que é inviável a


concessão de medida liminar em sede de mandado de injunção, por ser imprópria ao instituto,
uma vez que o remédio em tela se destina à verificação da ocorrência, ou não, de mora do
Poder Público (STF - MI 535-4/SP)

8) Eficácia da decisão em mandado de injunção

MUITA ATENÇAO: Atualmente (2015) a posição dominante no STF é a concretista.

O STF tem, atualmente, adotado a posição concretista, cumprindo, muitas vezes, o papel do
legislador omisso, com o objetivo de dar exeqüibilidade às normas constitucionais. Exemplo
disso é que, ao analisar mandados de injunção referentes à falta de norma regulamentadora do
direito de greve dos servidores públicos civis (art. 37, VII, CF), a Corte não só declarou a
omissão do legislador quanto determinou a aplicação temporária ao servidor público, no que
couber, da lei de greve aplicável ao setor privado (Lei no 7.783/1989) até que aquela norma
seja editada (MI 712/PA).

8.a) Posição Concretista do STF (MAJORITÁRIA) – Neste caso, o Poder Judiciário, julgando
procedente o mandado de injunção, profere uma decisão CONSTITUTIVA, em que declara
existência da omissão legislativa e implementa o exercício do direito constitucional até
que sobrevenha regulamentação do Poder competente.

8.b) Posição Não-concretista do STF (MINORITÀRIA) – a decisão em mandado de injunção


possui eficácia declaratória (reconhecendo a inércia do legislador) e comunica a mora ao
órgão competente a sua mora. Não cabendo ao Poder Judiciário, elaborar a regra faltante e
aplicá-lo ao caso concreto.

Mandado de Injunção é gratuito? Precisa de advogado?

Um tópico muito importante: o mandado de injunção não é gratuito, sendo necessária a


assistência de advogado para sua impetração.

LXXII - conceder-se-á "habeas-data":

a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,


constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter
público;

b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,
judicial ou administrativo;

1) Conceito – o HD configura remédio constitucional, que se destina a garantir, em favor da


pessoa interessada, o exercício da pretensão jurídica discernível em seu TRÍPLICE aspecto: a)
direito de ACESSO aos registros públicos; b) direito de RETIFICAÇÃO dos registros públicos e

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c) direito de COMPLEMENTAÇÂO dos registros públicos... ( RHD 22/DF, rel. Min. Marco
Aurélio 1991).

2) Legitimidade ativa – qualquer pessoa física ou jurídica, nacional ou estrangeira.

3) Legitimidade passiva – entidades governamentais da Administração Pública Direta ou


Indireta que contenham registro sobre dados do impetrante (ex. ABIN – Agência Brasileira de
Informação), bem como de pessoas jurídicas privadas detentoras de banco de dados contendo
informações sobre o impetrante (ex. SERASA ou SPC).

4) Cabimento – Não cabe HD se não houve a recusa de informações por parte da autoridade
administrativa (STJ, Súmula 2). A prova do anterior indeferimento do pedido de informação de
dados pessoais, ou da omissão em atendê-lo, constitui requisito indispensável para que se
concretize o interesse de agir no HD. Sem que se configure situação prévia de pretensão
resistida, há carência da ação constitucional do HD ( STF, HD 22/DF).

5) Motivação – não é necessário que o impetrante demonstre a motivação que o levou a


requerer as informações a seu respeito.

6) Dados Sigilosos – A orientação dominante é no sentido de que o direito de receber dos


órgãos públicos informações de interesse particular, em sede de HD, não se reveste de caráter
absoluto, cedendo passo quanto aos dados protegidos por sigilo, e prol da segurança da
sociedade e do Estado.

7) Prazo para impetração – o HD não está sujeito a prazo prescricional.

8) Gratuidade – tanto o procedimento administrativo quanto a ação judicial de HD são


gratuitos. Estão vedadas a cobrança de custas ou taxas judiciais dos litigantes, bem assim de
quaisquer valores para o atendimento do requerimento administrativo. Não existe ônus da
sucumbência – condenação em honorários advocatícios.

9) Necessita de advogado.

ATENÇÃO – Jurisprudência do STF 2015

“Habeas data” e informações fazendárias – parte 01

O “habeas data” é a garantia constitucional adequada para a obtenção, pelo próprio


contribuinte, dos dados concernentes ao pagamento de tributos constantes de sistemas
informatizados de apoio à arrecadação dos órgãos da administração fazendária dos
entes estatais. Essa a conclusão do Plenário, que proveu recurso extraordinário em que
discutida a possibilidade de o contribuinte, por meio do aludido remédio constitucional, acessar
todas as anotações incluídas nos arquivos da Receita Federal, com relação a todos os
tributos de qualquer natureza por ele declarados e controlados pelo Sistema Integrado
de Cobrança - Sincor, ou qualquer outro, além da relação de pagamentos efetuados para
a liquidação desses débitos, mediante vinculação automática ou manual, bem como a
relação dos pagamentos sem liame com débitos existentes. No caso, o recorrente, ao
intentar obter informações relativas às anotações constantes dos arquivos da Receita Federal,
tivera o pedido negado, tendo em vista esses dados não se enquadrarem, supostamente,
na hipótese de cadastro público. O Colegiado afirmou que o “habeas data” seria ação
constitucional voltada a garantir o acesso de uma pessoa a informações sobre ela,
constantes de arquivos ou bancos de dados de entidades governamentais ou públicas
(CF, art. 5º, LXXII, a).... No caso, o Sincor registraria os dados de apoio à arrecadação federal
ao armazenar os débitos e créditos existentes acerca dos contribuintes. Enquadrar-se-ia,
assim, no conceito mais amplo de arquivos, bancos ou registros de dados, entendidos
em sentido “lato”, para abranger tudo que dissesse respeito ao interessado, direta ou
indiretamente. Os legitimados ativos para a propositura da ação seriam pessoas físicas e
jurídicas, nacionais e estrangeiras. ...Em relação aos contribuintes, seria assegurado o

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direito de conhecer as informações que lhes dissessem respeito em bancos de dados públicos
ou de caráter público, em razão da necessidade de preservar seu nome, planejamento
empresarial, estratégia de investimento e, em especial, a recuperação de tributos pagos
indevidamente, entre outras. ...Entretanto, os extratos atinentes às anotações constantes do
Sincor e outros sistemas informatizados de apoio à arrecadação federal, quanto ao pagamento
de tributos federais, não envolveriam a hipótese de sigilo legal ou constitucional, uma vez
requeridos pelo próprio contribuinte, sobre dados próprios. Nesse sentido, dever-se-ia
entender como possível a impetração do “habeas data” de forma a esclarecer à pessoa
física ou jurídica os valores por ela pagos a título de tributos ou qualquer outro tipo de
pagamento constante dos registros da Receita Federal ou qualquer outro órgão
fazendário das entidades estatais. RE 673707/MG, rel. Min. Luiz Fux, 17.6.2015. (RE-
673707) (Informativo 790, Repercussão Geral)

“Habeas data” e informações fazendárias – parte 2

O texto constitucional não deixaria dúvidas de que o “habeas data” protegeria a pessoa não só
em relação aos bancos de dados das entidades governamentais, como também em
relação aos bancos de caráter público geridos por pessoas privadas. Nesse sentido, o
termo “entidades governamentais” seria uma expressão que abrangeria órgãos da
administração direta e indireta. ...RE 673707/MG, rel. Min. Luiz Fux, 17.6.2015. (RE-
673707) (Informativo 790, Repercussão Geral)

LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a
anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando
o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;

1) Conceito – é o meio constitucional posto à disposição de qualquer cidadão para obter a


invalidação de atos ou contratos administrativos, ilegais ou lesivos do patrimônio público
federal, estadual ou municipal., tanto da Administração Direta quanto da Indireta. È uma forma
de DEMOCRACIA DIRETA ou exercício da cidadania de formas DIRETA.

2) Finalidade – meio democrático e direto conferido ao cidadão como forma de fiscalizar e


controlar a coisa pública, buscando-se preservar a moralidade administrativa (STF, ADIn
769/MA, rel. Min. Celso de Melo).

3) Caráter bivalente – 3.a) Preventivo – quando visar impedir a consumação do ato lesivo,
sendo portanto ajuizada antes da prática do ato ilegal ou imoral. Ex. ação que vise impedir a
destruição de bens de inestimável valor histórico – cultural. 3.b) Repressivo – quando visar a
reparar o dano já causado pelo ato ilegal ou imoral, sendo a ação proposta após a ocorrência
da lesão.

4) Ação popular contra atos judiciais – a ação popular não é instrumento hábil para
impugnação de atos jurisdicionais, uma vez que contra tais atos o ordenamento jurídico possui
um sistema específico de impugnações através dos recursos (STF, 2018-9/Sp – rel. Min.
Celso de Melo, 29.06.2000).

5) Interesse protegido – é o interesse da coletividade. Claro que também podemos considerar


que o interesse individual foi violado indiretamente.

OBS A ação popular constitui meio idôneo para a fiscalização na via incidental, da
constitucionalidade das leis (STF, 721-0/Al, Min. Celso de Melo)

6) Requisitos da ação popular – Objetivo – ilegalidade ou ilegitimidade do ato; Subjetivo –


condição de cidadão;

7) Legitimidade ativa – ser cidadão e estar no gozo de seus direito políticos. Não poderão
propor ação popular: os estrangeiro, as organizações sindicais, as pessoas que tirem

63
suspensos seus direitos políticos e quaisquer outras pessoas jurídicas.“Pessoa jurídica não
tem legitimidade para propor ação popular.” (SÚM. 365 - STF)

8) Custas e ônus da sucumbência - a CF/88 isenta de custas 9ª ação é gratuita) e de ônus


da sucumbência (honorários advocatícios, no caso de improcedência da ação) o autor popular,
salvo comprovada má-fé.

LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que


comprovarem insuficiência de recursos;

Essa gratuidade ocorre tanto com relação ao ADVOGADO como com relação ao PERITO.

Pessoa jurídica tem direito à assistência jurídica gratuita? -“Ao contrário do que ocorre
relativamente às pessoas naturais, não basta a pessoa jurídica asseverar a insuficiência de
recursos, devendo comprovar, isto sim, o fato de se encontrar em situação inviabilizadora da
assunção dos ônus decorrentes do ingresso em juízo.” (Rcl 1.905 ED-AgR, Rel. Min. Marco
Aurélio, DJ 20/09/02

Custeio pelo Estado do exame de DNA - “Investigação de Paternidade. Correto o acórdão


recorrido ao entender que cabe ao Estado o custeio do exame pericial de DNA para os
beneficiários da assistência judiciária gratuita, oferecendo o devido alcance ao disposto no art.
5º LXXIV, da Constituição.” (RE 207.732, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 11/06/02)

Para que a pessoa natural tenha direito à justiça gratuita basta a declaração de próprio punho
do interessado afirmando sua incapacidade financeira (STF RE 204.458/PR rel. Min. Ilmar
Galvão)

LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que
ficar preso além do tempo fixado na sentença;

Ex. caso do indivíduo que fica preso no lugar de outra pessoa.

LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei:

a) o registro civil de nascimento;

b) a certidão de óbito;

OBS. Todos os documentos que sejam relevantes para o exercício da cidadania são gratuitos.
Exemplo: emissão da Carteira de trabalho e Emprego, emissão de título de eleitor, RG.

Primeiramente, só os reconhecidamente pobres, na forma da lei, têm direito à gratuidade de


que trata a norma constitucional. Entretanto, o STF julgou constitucional lei que prevê
gratuidade do registro da nascimento, do assento de óbito, bem como da primeira certidão
respectiva a todos os cidadãos (e não só para os pobres), por entender que o fato de a
Constituição assegurar esses direitos apenas aos pobres não impede que o legislador os
estenda a outros cidadãos.

Finalmente, a gratuidade só diz respeito ao registro de nascimento e à certidão de óbito.


Nada de cair em “peguinhas” que estendam esse direito à certidão de casamento, por
exemplo.

LXXVII - são gratuitas as ações de "habeas-corpus" e "habeas-data", e, na forma da


lei, os atos necessários ao exercício da cidadania.

LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável


duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

64
Princípio da celeridade processual (tanto judicial como administrativa)

§ 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação


imediata.

Via de regra são norma constitucionais de aplicabilidade imediata.

§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros


decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais
em que a República Federativa do Brasil seja parte.

Rol exemplificativo dos direito fundamentais

Localização dos direitos fundamentais - Os direitos e garantias fundamentais não existem


somente no art. 5º da CF/88. O princípio da anterioridade da lei tributária foi considerado pelo
STF como uma garantia fundamental.

§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem


aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

Mesmo procedimento para a aprovação de uma Emenda à Constituição.

OBS. Em regra um tratado internacional incorpora-se à ordem jurídica brasileira com status de
LEI ORDINÁRIA. O mesmo é celebrado pelo Presidente da República (art. 84 VIII) e aprovado
pelo Congresso nacional (art. 49 I), através de um decreto legislativo.

§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação


tenha manifestado adesão.

Este tribunal foi criado para apreciar, por exemplo, crimes de genocídio.

65
NOTA DE AULA 04
DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL 3
PROFESSOR: GILBERTO FROTA
ASSUNSTO: DA NACIONALIDADE

CAPÍTULO III
DA NACIONALIDADE

Conceito

É o vínculo jurídico e político existente entre a pessoa (nacional) e a nação. Esta, por
sua vez, é o grupo humano fixado em um território cujos membros se sentem parte de uma
unidade (apresentam consciência de sua nacionalidade), tendo em comum laços históricos,
culturais, econômicos e lingüísticos.

Tipos de nacionalidade

Primária (originária) e a secundária (adquirida)

Há dois tipos de nacionalidade: a primária (originária) e a secundária (adquirida). A


primeira resulta do nascimento, sendo estabelecida por critérios sanguíneos ou territoriais. Já a
segunda depende de ato volitivo (da vontade), praticado depois do nascimento (em regra, pela
naturalização).

Critérios de nacionalidade

Por ser um ato de soberania, cada país soberano possui autonomia para determinar
quem será considerado como seu nacional. Temos basicamente dois critérios comumente
seguidos:

1) Jus sanguinis – Critério sangüíneo, ocorre pela filiação, independente do lugar do


nascimento, a nacionalidade do filho é a do pai ou mãe. Adotada no Japão e Itália por exemplo,
países que sofreram com êxodo em virtude das guerras, com o objetivo de preservar os
vínculos de nacionalidade da descendência desses.

2) Jus soli – a nacionalidade é dada pelo local do nascimento, critério territorial,


independe da nacionalidade dos pais. É o critério mais comumente adotado os países que tem
tradição de receber imigrantes, com o objetivo de nacionalizar a descendência desses.

Regra geral adotada pela CF/88

A Constituição Brasileira, como você verá a seguir, adotou em regra o “ius soli”. Há,
entretanto, exceções, nas quais predomina o “ius sanguinis”.

Art. 12. São brasileiros:

I - natos:

a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros,


desde que estes não estejam a serviço de seu país;

1) NATOS - Representa a nacionalidade originária. O STF decidiu que não se podem


criar novas situações de nacionalidade originária por lei. A previsão de novas situações de
nacionalidade necessariamente deve estar prevista no texto da Constituição.

LETRA A - Regra geral do jus soli;

66
Exceção: no mínimo um dos pais deve estar a serviço de eu país (ex. diplomata). Neste
caso terá a nacionalidade do país de origem. Podemos observar que neste inciso o Brasil
adota o critério do jus sanguinis. Caso ele esteja a serviço de outro país que não o seu, a
criança é brasileira nata. O serviço tem que ser oficial (Ex. diplomata, missão da ONU) e não
particular.

b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que


qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;

LETRA B - O Brasil adotou o critério do jus sanguinis aliado ao critério funcional.

Basta um deles estar a serviço do Brasil (ex. serviço consular, diplomático, prestado
por administração descentralizada, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista).

c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam


registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República
Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
nacionalidade brasileira; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 54, de 2007)

Nessa alínea “c” do inciso I, verifica-se a existência de duas possibilidades distintas de


aquisição de nacionalidade daquele que tem pai ou mãe brasileira:

 Registro em repartição brasileira competente;


 Residência no território brasileiro e, uma vez adquirida a maioridade, a opção
expressa pela nacionalidade brasileira. É a chamada nacionalidade potestativa, por
depender da vontade da pessoa.

LETRA C - Nacionalidade Potestativa – depende da vontade. Também é jus sanguini.


Pai ou mãe brasileira; nenhum deles está a serviço do Brasil (ex. de férias na França); tem que
vir residir no Brasil e opção a qualquer tempo, depois de atingida a maioridade pela
nacionalidade brasileira.

OBS A Emenda Constitucional nº 54/2007 modificou a alínea c do inciso I, artigo 12 da


Constituição Federal de 1988, estabelecendo a possibilidade de ser adquirida a nacionalidade
originária através de registro no exterior, em repartição brasileira competente

E se o menor filho de pai ou mãe brasileira (ou ambos) vier a residir no Brasil? Não será
brasileiro nato não?

Nesse caso, o menor será considerado, sim, brasileiro nato. Entretanto, a aquisição
definitiva de sua nacionalidade dependerá de sua manifestação após a maioridade.

II - naturalizados:

1) NATURALIZADOS

É a nacionalidade secundária. Via de regra o indivíduo não nasceu no Brasil.

a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos


originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e
idoneidade moral;

LETRA A - Nacionalidade ordinária

Para o estrangeiro (não originário de países de língua portuguesa):

1) Deve obedecer ao Estatuto dos Estrangeiros (lei 6815/80)


2) Requerimento; Residência contínua no Brasil por pelo menos 04 anos;

67
3) Saber ler e escrever em português;
4) Comprovar ter posse de bens suficientes para manter a si e sua família e
ter exercício de profissão;
5) Bom procedimento; boa saúde; Não ter condenação definitiva no Brasil;

Para o egresso de país de língua portuguesa (Portugal, Angola Moçambique, Guiné


Bissau, Açores, Cabo Verde, Timor Leste)

1) Requerimento; residência ininterrupta por 1 ano;


2) Idoneidade moral;

OBS Neste caso o ato de conceder a naturalização, mesmo com os requisitos é


DISCRICIONÁRIO, sendo faculdade exclusiva do Presidente da República.

b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do


Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que
requeiram a nacionalidade brasileira.

LETRA B - Nacionalidade extraordinária

Estende-se a qualquer estrangeiro;

Requisitos:

1) residência no Brasil por 15 anos ininterruptos;


2) sem condenação penal;
3) requerimento;

OBS Neste caso existe um direito subjetivo (ATO VINCULADO) do estrangeiro o qual,
em princípio, não pode ser negado pelo governo brasileiro.

Adquiri-se a nacionalidade por casamento?

Por fim, é importante destacar entendimento do STF no sentido de que não se revela
possível, em nosso sistema jurídico-constitucional, a aquisição da nacionalidade brasileira jure
matrimonii, vale dizer, como efeito direto e imediato resultante do casamento civil”. Isso porque
tal hipótese não foi contemplada pela Constituição.

§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade


em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os
casos previstos nesta Constituição.

PORTUGUES EQUIPARADO (QUASE NACIONALIDADE) - Neste caso o português não


requer a nacionalidade brasileira como na alínea A, ele continua sendo português, mas tem
seus direitos equiparados ao brasileiro naturalizado. Bastando a residência permanente e
tratado de reciprocidade.

OBS: Diz respeito aos portugueses (tem que ser de Portugal) e não aos oriundos de
língua portuguesa.

Jurisprudência do STF – Quase Nacionalidade (português equiparado)

A norma inscrita no art. 12, § 1º da Constituição da República — que contempla, em seu texto,
hipótese excepcional de quase-nacionalidade — não opera de modo imediato, seja quanto ao
seu conteúdo eficacial, seja no que se refere a todas as conseqüências jurídicas que dela
derivam, pois, para incidir, além de supor o pronunciamento aquiescente do Estado brasileiro,
fundado em sua própria soberania, depende, ainda, de requerimento do súdito português
interessado, a quem se impõe, para tal efeito, a obrigação de preencher os requisitos

68
estipulados pela Convenção sobre Igualdade de Direitos e Deveres entre brasileiros e
portugueses." (Ext 890, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 5-8-04, DJ de 28-10-04)

§ 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados,


salvo nos casos previstos nesta Constituição.

Uma lei não pode criar outros casos de distinção entre brasileiros natos e naturalizados.
Todo e qualquer caso de distinção está previsto na Constituição Federal:

1) extradição (art. 5º, LI);


2) exercício de certos cargos públicos (art. 12 § 3º);
3) membro do Conselho de República (art. 89 VII);
4) administração de veículo de mídia no Brasil (art. 222).

§ 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:

I - de Presidente e Vice-Presidente da República;

II - de Presidente da Câmara dos Deputados;

III - de Presidente do Senado Federal;

IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;

V - da carreira diplomática;

VI - de oficial das Forças Armadas.

VII - de Ministro de Estado da Defesa

CARGOS PRIVATIVOS DE NATOS - O NATURALIZADO PODE SER: senador,


deputado federal, prefeito, ministro de estado, ministro de tribunal Superior que não seja o STF,
oficial da Polícia militar.

§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:

I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade


nociva ao interesse nacional; (APLICA-SE APENAS AO NATURALIZADO)

II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: (APLICA-SE AO NATO E


NATURALIZADO)

a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;

b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em


estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o
exercício de direitos civis;

PERDA DA NACIONALIDADE PARA O NATURALIZADO

INCISO I - Ex. o naturalizado que for processado e julgado por crime no Brasil, a
sentença pode aplicar pena acessória de cancelamento da naturalização.

INCISO II - Ex. Sou brasileiro naturalizado e não quero mais sê-lo. Adquiro a
nacionalidade japonesa. Perco a brasileira, porque o Japão não reconhece a nacionalidade
brasileira. Via de regra.

69
LETRA A - Ex. No caso do Japão reconhecer e permitir a dupla nacionalidade do
brasileiro naturalizado que requereu a nacionalidade japonesa

LETRA B - Ex. o indivíduo vai para os Estados Unidos e lá para ter direitos como
permanente, obrigatoriamente tem que adquirir a nacionalidade americana. Neste caso o
brasileiro não adquiriu a nacionalidade americana porque simplesmente quis, ele foi obrigado.

Caráter personalíssimo

A perda da nacionalidade tem caráter personalíssimo. Não se estende a ascendentes ou


descendentes, limitando-se à pessoa em questão.

Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil.

§ 1º - São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, o hino, as armas e


o selo nacionais.

§ 2º - Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ter símbolos próprios.

96

70
NOTA DE AULA 05
PROFESSOR: GILBERTO FROTA
DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL III
ASSSUNTO: DIREITOS POLÍTICOS E PARTIDOS POLÍTICOS
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS POLÍTICOS

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto
e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

I - plebiscito;

II - referendo;

III - iniciativa popular.

§ 1º - O alistamento eleitoral e o voto são:

I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;

II - facultativos para:

a) os analfabetos;

b) os maiores de setenta anos;

c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.

§ 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do


serviço militar obrigatório, os conscritos.

§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:

I - a nacionalidade brasileira;

II - o pleno exercício dos direitos políticos;

III - o alistamento eleitoral;

IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;

V - a filiação partidária;

VI - a idade mínima de:

a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;

b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;

c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito,


Vice-Prefeito e juiz de paz;

d) dezoito anos para Vereador.

71
§ 4º - São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.

§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal,


os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão
ser reeleitos para um único período subseqüente

§ 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os


Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos
respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.

§ 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes


consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República,
de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os
haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de
mandato eletivo e candidato à reeleição.

§ 8º - O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:

I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;

II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior
e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.

§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de


sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício
de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade
das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função,
cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

§ 10 - O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de


quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder
econômico, corrupção ou fraude.

§ 11 - A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de justiça,


respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé.

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se


dará nos casos de:

I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;

II - incapacidade civil absoluta;

III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;

IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos


termos do art. 5º, VIII;

V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua
publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência

Os direitos políticos são, portanto, instrumentos de exercício da soberania popular,


característica dos regimes democráticos. Esses regimes podem ser de três diferentes espécies:

72
Democracia direta: é aquela em que o povo exerce o poder diretamente, sem
intermediários ou representantes;

Democracia representativa ou indireta: é aquela em que o povo elege


representantes4 que, em seu nome, governam o país;

Democracia semidireta ou participativa: é aquela em que o povo tanto exerce o


poder diretamente quanto por meio de representantes. Trata-se de um sistema híbrido, com
características tanto da democracia direta quanto da indireta. É adotada no Brasil.

ART. 14 – SOBERANIA POPULAR

Os direitos políticos são: votar e ser votado, o plebiscito, o referendo, a iniciativa


popular de lei e filiação a partidos políticos.

Sufrágio – é o direito de eleger e ser eleito. Pode ser :

a) Universal – basta ter a qualidade de nacional e eleitor de um país ficando


condicionado a certos requisitos com por exemplo a idade mínima.

b) Restrito:

 Censitário – o votante precisa preencher certos requisitos de natureza


econômica, havia na época do Império.

 Capacitário – depende da capacidade intelectual.

Voto – materializa o direito ao sufrágio, é o ato. È sigiloso (secreto) e direto. No Brasil


pode existir eleições indiretas (art. 81 § 1º).

PLEBISCITO O povo é chamado a se manifestar previamente a respeito de ato


governamental, geralmente lei, a qual ainda vai ser criado.

REFERENDO A opinião do povo é posterior ao ato realizado. Ex. arma de fogo, já


existe a lei

INICIATIVA POULAR Poder do povo em oferecer projeto de lei. Federal (art. 61 § 2º),
Estadual (art. 27 § 4º) e Municipal (art. 29, XIII)

PARÁGRAFO 1º E 2º - INCISO I E II – VOTO OBRIGATÓRIO E FACULTATIVO

Obrigatório: maior de 18 anos e menor de 70 anos, brasileiro, alfabetizado e não


militar conscrito.

Conscrito – são aqueles que temporariamente prestam o serviço militar obrigatório, os


demais integrantes das Forças Armadas tem o poder dever de alistamento.

Portugueses equiparados – apesar de serem estrangeiros possuem direito de voto,


possuem os mesmo direitos do brasileiro.

PARÁGRAFO 3º - ELEGIBILIDADE

Capacidade eleitoral ATIVA – ALISTABILIDADE

Como vimos, a capacidade eleitoral ativa é aquela que assegura ao nacional o direito
de votar nas eleições, plebiscitos e referendos. Falando nisso, você sabe a diferença entre
plebiscito e referendo?

73
No Brasil esta é adquirida mediante alistamento eleitoral, a pedido do interessado. É
com o alistamento que se adquire, portanto, a capacidade de votar.

Capacidade eleitoral PASSIVA – ELEGIBILIDADE

Capacidade eleitoral passiva está relacionada ao direito de ser votado, de ser eleito
(elegibilidade). Obviamente, a condição de eleitor (alistabilidade) é fundamental para que
alguém seja elegível. Entretanto, outros requisitos necessitam ser cumpridos.

Para que alguém possa concorrer a um mandato eletivo, é necessário o cumprimento


de algumas condições de elegibilidade e a não incidência em qualquer das
inelegibilidades, que são impedimentos à capacidade eleitoral passiva.

INCISO I

Tem que ser brasileiro nato ou naturalizado, salvo os mandatos privativos de nato,
Presidente e vice presidente da república.

INCISO III

Para ser votado (capacidade eleitoral passiva) eu preciso da capacidade eleitoral ativa
(poder votar) que é a alistabilidade.

INCISO IV

O domicílio civil é diferente do eleitoral (este é onde voto)

INCISO V

Tenho que ser registra por partido político, não posso ter candidatura avulsa como nos
USA

PARÁGRAFO 4º

Inelegível – significa que não pode ser eleito, ser votado, não possui capacidade
eleitoral passiva.

Inalistável – é aquele que não pode votar, ser eleitor. Não pode ser votado, aquele que
não pode votar. Para ter a capacidade eleitoral passiva (ser votado) o indivíduo tem que ter a
capacidade eleitoral ativa (votar). São inelegíveis absoluta – militares conscritos (art. 14 § 2º),
estrangeiros e analfabetos.Inelegibilidade relativa – § 5º e 7º .O analfabeto pode votar mas não
pode ser votado, tem capacidade eleitoral ativa mas não tem a passiva.

PARÁGRAFO 5º

REELEIÇÃO - Diz respeito ao mesmo cargo. TSE – não precisa se desincompatibilizar.


Sucessão é definitiva, substituição é temporária.

PARÁGRAFO 6º

Para concorrer a outros cargos tenho que desincompatibilizar, para o mesmo não. SEM
SENTIDO.

PARÁGRAFO 7º

INELEGIBILIDADE REFLEXA

O correto é circunscrição. Consangüíneo – por laço de sangue; Afin – sogra; O grau


vai-se para o tronco comum.

74
PARÁGRAFO 8º - O MILITAR

O militar só não é alistável (capacidade de votar) caso não seja conscrito. O agregado
é afastado do cargo, mas permanece com a remuneração.O STF – para o militar elegível, não
se exige a filiação partidária, basta o pedido da inscrição da candidatura.

PARÁGRAFO 10º - DIPLOMAÇÃO

A Diplomação é ato através do qual a Justiça Eleitoral credencia os eleitos e suplentes,


habilitando-os a assumir e exercer os respectivos mandatos eletivos.è com o diploma que o
indivíduo toma posso no cargo eletivo. Fazes: Alistamento, votação, apuração e diplomação.

PARÁGRAFO 11 – SEGREDO DE JUSTIÇA

Quebra a regra da publicidade dos atos públicos art. 5º inciso 60 (LX) da CF/88.
Juntamente com o art. 155 do CPC e interesse social o exigir dependendo do juiz.

ART. 15 – CASSAÇÃO, PERDA E SUSPENSÃO DE DI. POLÍTICOS

A cassação é proibida, é ato unilateral do Poder executivo, de forma radical e atenta


contra o Estado Democrático de Direito, não ocorre o devido processo legal. Ex. o José Dirceu
teve seus direitos políticos suspensos por 8 anos e a cassação foi do mandato mas não dos
direitos políticos. Perda – no caso do cancelamento da naturalização por sentença transitada
em julgado (art. 12 § 4º).

Suspensão – é a perda temporária dos direitos políticos. Ex. condenação por


improbidade administrativa; José Dirceu.

INCISO I - PERDE - O indivíduo deixa de ser brasileiro e passa a ser estrangeiro

INCISO II – SUSPENDE - Ex. O indivíduo era normal e ficou doido, mas volta a ficar bom

INCISO III – SUSPENDE -Enquanto durarem os efeitos

INCISO IV – PERDE

INCISO V – SUSPENDE - Depende do ato. Além da perda do cargo e ressarcimento ao erário.

CAPÍTULO V
DOS PARTIDOS POLÍTICOS

Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos,


resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os
direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes
preceitos: Regulamento

I - caráter nacional;

II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo


estrangeiros ou de subordinação a estes;

III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;

IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.

§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura


interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos
permanentes e provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para adotar os

75
critérios de escolha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias, vedada a
sua celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as
candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus
estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 97, de 2017)

§ 2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei


civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.

§ 3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao


rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos políticos que
alternativamente: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)

I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% (três por
cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da
Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento) dos votos válidos em cada uma
delas; ou (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)

II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em pelo


menos um terço das unidades da Federação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
97, de 2017)

§ 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar.

§ 5º Ao eleito por partido que não preencher os requisitos previstos no § 3º deste


artigo é assegurado o mandato e facultada a filiação, sem perda do mandato, a outro
partido que os tenha atingido, não sendo essa filiação considerada para fins de
distribuição dos recursos do fundo partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e
de televisão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)

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