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INSTITUTO SUMARÉ DE EDUCAÇÃO SUPERIOR

CAMPUS TATUAPÉ I
CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

Alexandre Moreno Barcena


Ana Paula Gallindo

“QUANTO IMPORTA A TIRAGEM? –A HISTÓRIA DO JORNAL


NOTÍCIAS POPULARES NO REGIME MILITAR. ”

SÃO PAULO
2017
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO.

“QUANTO IMPORTA A TIRAGEM? A HISTÓRIA DO JORNAL


NOTÍCIAS POPULARES NO REGIME MILITAR. ”

Projeto realizado como


trabalho da disciplina de
Orientação de Trabalho de
Conclusão de Curso II,
ministrada pelo Professor
Doutor Elton Oliveira Souza
de Medeiros.

SÃO PAULO
2017
Sumário

Resumo____________________________________________________________ 4.
Introdução__________________________________________________________5.
Parte I_____________________________________________________________6 .
Parte II_____________________________________________________________ .
Parte III_____________________________________________________________.
Conclusão___________________________________________________________ .
Apêndices___________________________________________________________.
Bibliografia___________________________________________________________.

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Parte I:

O que o leitor espera encontrar num jornal? A verdade, se possível. Entretenimento com
certeza. O que encontra em alguns casos e em determinados momentos históricos são discursos
e intenções que vão ao encontro com a intenção editorial do jornal. Os jornais são
importantíssimos vetores da comunicação na sociedade e além dos assuntos abordados pelos
autores são instrumentos de disseminação de ideais políticos, sociais e econômicos. Além de
serem importantes atores sociais devido a sua capacidade de propagação de discursos e de
influenciar e sugestionar os mais diferentes comportamentos sociais como por exemplo a
opinião dos leitores, moda, consumo e até em alguns casos o comportamento.
A comunicação para o grande público é importante desde tempos imemoriais, mas a
crítica aos resultados desse processo de transmissão de ideias e conhecimento, sua relação nem
sempre positiva para com a sociedade que a promove, tem como referencial possível de estudo
e interpretação os preceitos elaborados pelos filósofos da “Escola de Frankfurt”, protagonizada
por Theodor W. Adorno e Max Horkheimer onde o termo “indústria cultural” foi cunhado e
definido como sendo o processo político e econômico da elaboração de produções artísticas e
culturais com o intuito de controle e de manipulação social e econômica. Deixando de lado as
possíveis implicações sociológicas dessa teoria relacionadas com a passividade e a possível
alienação – ou não – das pessoas o que iremos vislumbrar é o processo de produção em série
de conteúdo para consumo das classes trabalhadoras. Os meios de comunicação são agentes de
disseminação de comportamentos, mas, e principalmente nesse caso, empresas privadas que
buscam o sucesso comercial pois visam ao lucro para seus proprietários. O Lucro vem de várias
formas de acumulação de capital que pode ser político, mas principalmente, financeiro.
Diante de tantas formas possíveis de análise de comportamento social por que a “Escola
de Frankfurt” para falar sobre jornalismo nos anos 70? Porque as informações passadas em
nosso caso de estudo são descoladas da realidade, narrada de forma e com o intuito de prender
a atenção dos leitores até quando for possível e dessa forma passível de analise por esse
referencial.
Nosso projeto de pesquisa tem como finalidade um estudo prévio do papel
desempenhado pela mídia nos anos de 1970, mais especificamente, nos dias 11, 16 e 21 de maio
do ano de 1975, na cidade de São Paulo. O objeto de estudo é o jornal “Notícias Populares”,

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publicação voltada desde a sua concepção para o público trabalhador e sua relação com as forças
políticas instauradas no Brasil de então.
O objeto de análise será o mencionado anteriormente Notícias Populares periódico
paulistano pertencente a época ao Grupo Frias-Caldeiras. Durante o mês de maio do ano de
1975, mas exatamente no dia 11 uma reportagem sensacionalista como poucas outras foi
contada por esse meio de comunicação: A saga do Bebe Diabo.
A pergunta que nos moveu desde o início da elaboração desse projeto foi como ou
porque a censura militar permitiu que uma publicação de conteúdo sensacionalista e muitas
vezes mentiroso e vulgar permanecesse nas bancas e atingisse sucesso editorial? Ao tentar
responder tal questionamento chegamos a, dentre muitas possíveis, duas hipóteses que nos
parecem plausíveis: Primeiro porque não ameaçava de forma alguma as estruturas sociais e a
manutenção da ordem vigente. Segundo porque a história era cativante visualmente e
graficamente, com uma construção de narrativa que encontrava terreno fértil na São Paulo de
maio de 1975.
Nossa hipótese para que esta obra, e de tantas outras produções desse tipo é a de
que esse jornal tinha um papel de alienador das massas populares trabalhadoras e que essa
alienação servia aos interesses dos governantes de então. Voltado ao público trabalhador tinha
por vocação distrair as classes trabalhadoras dos reais problemas do Brasil e do mundo. Essa
função que torna a leitura de matérias sem conteúdo informativo real, geral e porque não dizer
com significado para o leitor, de forma que possa agregar para seu cotidiano informações de
valor, que sejam práticas para seu dia-a-dia, aliena o leitor ao eleger, através das pautas
jornalísticas escolhidas o que deve ser contemplado. Mas porque isso acontece? Segundo
Adorno em sua obra ‘Industria Cultural e Sociedade”:

A diversão é o prolongamento do trabalho sob o capitalismo tardio. Ela é


procurada pelos que querem se subtrair aos processos de trabalho mecanizado,
para que estejam de novo em condições de enfrentá-lo. Mas, ao mesmo tempo,
a mecanização adquiriu tanto poder sobre o homem em seu tempo de lazer e
sobre sua felicidade, determinada integralmente pela fabricação dos produtos
de divertimento, que ele apenas pode captar as cópias e as reproduções do
próprio processo de trabalho. O pretenso conteúdo é só uma pálida fachada;
aquilo que se imprime é a sucessão automática de operações reguladas. Do
processo de trabalho na fábrica e no escritório só se pode fugir adequando-se a
ele mesmo no ócio. Disso sofre incuravelmente toda diversão. O prazer congela se
no enfado, pois que, para permanecer prazer, não deve exigir esforço algum,
daí que deva caminhar estreitamente no âmbito das associações habituais. O
espectador não deve trabalhar com a própria cabeça; o produto prescreve toda
e qualquer reação: não pelo seu contexto objetivo — que desaparece tão logo se
dirige à faculdade pensante — mas por meio de sinais. Toda conexão lógica que
exija alento intelectual é escrupulosamente evitada. Os desenvolvimentos
devem irromper em qualquer parte possível da situação precedente, e não da
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ideia do todo.
.ADORNO, Theodore W. Industria Cultural e Sociedade. São Paulo, Paz e Terra.

A s empresas de comunicação de massa, que trataremos por grande mídia, tem


um papel importante em qualquer sociedade como agente inibidor ou catalisador das reações
sociais e, portanto, seus interesses devem ser considerados pelas classes governantes. Como no
Estado Novo, a manipulação da imprensa e seus interesses foram regulados por forças políticas
alheias à vontade de seus proprietários. Esses atores sociais poderosos e que atuavam, e ainda
atuam, na sociedade brasileira foram disciplinados pela Lei da Imprensa de 1967, a censura
prévia em 1970 chegando a autocensura. Mas não trataremos em nosso trabalho da espetacular
resistência de vários jornalistas e de seu ideal de democracia e de justiça que conduziu vários
destes à tortura psicológica, física e até a morte. Pessoas mais aptas e preparadas desempenham
com propriedade essa tarefa. Não trataremos de censura nesse artigo, apenas citaremos formas
de adaptação que o Grupo Folha da Manhã impôs às suas obras. A Chamada Censura Editorial
foi parte presente, importante e corriqueira no período que sucedeu à instauração da “Lei de
Imprensa” e do Ato Institucional número cinco. Ao ter predileção editorial por fatos ligados à
violência urbana, a casos policiais envolvendo mortes trágicas de criminosos. Um periódico em
especial do Grupo Folha da Manhã ficou conhecido por ser extremamente ligado as forças
policiais de São Paulo, O Folha da Tarde. Porém essa pauta editorial violenta percorrida pela
Folha da Tarde também foi trilhada pelo Noticias Populares. Aqui outro ponto importante de
nosso artigo aparece a violência mostrada diariamente nas capas dos jornais voltados para o
público trabalhador. A incidência de notícias trágicas e com conteúdo relacionado a
criminalidade é presença habitual das páginas desses periódicos. Além disso o emprego
constante de policiais nas redações abre outro aspecto sobre o jornalismo praticado nestes
jornais. Escrever para um jornal não torna a pessoa jornalista. Mas isso não vem ao caso neste
artigo e sim o emprego constante de membros e ex-colaboradores do aparelho policial do estado
nas redações. Como cita a historiadora Beatriz Kushnir em artigo publicado na Revista
Contemporânea, Dossiê Contemporaneidade:

Acusam-se o jornal e a empresa Folha da Manhã de algo extremamente sério: de


terem sido entregues a repressão como órgãos de propaganda, enquanto papel, tinta e
funcionários eram pagos pelo Grupo. Neste sentido, buscando um perfil desse
periódico, encontrei muitos depoimentos que se auto atribuíam a criação da celebre
frase que definiu a Folha da Tarde a partir de julho de 1969. O jornal era tido como “o
de maior tiragem”, devido ao grande número de policiais que compunham sua redação
pós- A-I5. Muitos também a conheciam, por isso, como “ a delegacia”. KUSHNIR,
Beatriz Revista Contemporânea. Ano I, nº 1.

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O que impulsionou esse artigo foi a existência de uma publicação jornalística voltada
para o público trabalhador urbano que na sua edição de estreia definia-se de acordo com
Campos Jr. (2011, p. 37): “São Paulo tem a partir de hoje mais um jornal… Não procure nestas
páginas intenções políticas. Isto o cansaria sem resultado. Outro intuito não há, senão o de dar
a V. a visão cotidiana de São Paulo, do Brasil, do mundo em que vivemos. ” Com essas palavras,
na sua edição inaugural, começa desde o primeiro momento um notável distanciamento entre
fatos concretos e intenções editoriais que percorreram a trajetória do “N.P” até seu final no dia
20 de janeiro de 2001, onde, ironicamente, partiu sem aviso aos seus repórteres, colaboradores
e leitores pois foi substituído por uma nova publicação do grupo Folha, o “Agora”. Mas esse
assunto, seu epitáfio, será tratado mais tarde.
O golpe caracterizado como militar, mas com participação civil, devido a seus
protagonistas, ocorrido no Brasil na madrugada do dia 31 de março de 1964 e que retirou do
poder o presidente legalmente constituído João Goulart vem passando por uma nova
interpretação por parte da sociedade. Podemos hoje vislumbrar os acontecimentos passados e
ter um distanciamento temporal que torna possível o melhor entendimento do ocorrido e dessa
forma, fica possível identificar atores que tiveram papéis distintos durante esse período de
domínio militar. A imprensa também deve ser analisada desse modo, hora como parte
interessada da sociedade e de sua dinâmica, hora como empreendimento comercial que deve
gerar lucro aos seus proprietários.
Após os “primeiros momentos” do golpe militar, passada a euforia da parcela da
sociedade civil que atuou de forma significante nas manobras que depuseram o governo de João
Goulart, a percepção de que desta vez os militares permaneceriam no governo foi se tornando
visível no horizonte social brasileiro. Novas formas de convívio com os detentores do poder
político e militar entraram em ação e no caso do Grupo Folha da Manhã, proprietários também
do Noticias Populares, entre outros jornais, a adequação as novas regras se fez necessária e foi
parte presente da dinâmica editorial do conglomerado jornalístico em questão.
Não era estranho a sociedade brasileira no ano de 1964 que as “Forças Armadas”
interviessem na sociedade e provocassem mudanças políticas. Os militares já haviam
interferido em várias ocasiões como em 1930, 1945 e 1954, mas logo após, o poder foi retornado
a sociedade civil. Vários setores da sociedade brasileira estavam insatisfeitos com os rumos do
governo de Goulart e cada setor tinha suas próprias aspirações de futuro pós-golpe. Como citado
em artigo do Centro de Pesquisa Documental da Faculdade Getúlio Vargas (CEPEDOC-FGV)

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“O golpe militar foi saudado por importantes setores da sociedade brasileira. “ E no mesmo
artigo complementa e exemplifica quais são tais setores: “Boa parte do empresariado, da
imprensa, dos proprietários rurais, da Igreja católica, vários governadores de estados
importantes (como Carlos Lacerda, da Guanabara, Magalhães Pinto, de Minas Gerais, e Ademar
de Barros, de São Paulo). ” Segundo o artigo todos movidos pelo receio da esquerdização do
governo e uma possível solução para a crise econômica.
A Imprensa escrita, presente à época com seu maior expoente de repercussão social e
política, o Jornal, era sim parte interessada no Golpe de 1964.Mas como os outros apoiadores
iniciais do ato militar ficaram frustrados com a permanência dos golpistas no poder. Não houve
a tão esperada transição costumeira após as intervenções militares e um novo jogo, com novas
regras e velhos protagonistas estava lançado.
Como ponto de partida faremos uma análise comparativa entre as capas do jornal
Notícias Populares e de outro jornal mais bem-conceituado durante o período que se iniciou em
11 de maio,16 de maio e 21 de maio de 1975 com a inauguração e posterior desenvolvimento
da série de reportagens do Bebê Diabo. Buscamos dessa forma um possível entendimento do
que seria uma notícia divulgada pelos jornais voltados para um público mais culto e formador
de opinião. Para isso faremos uma análise do conteúdo da capa de duas publicações: O Noticias
Populares e A Folha de São Paulo. Como eram as notícias indicadas para o público trabalhador,
que deveriam tratar do cotidiano e dos assuntos extraordinários e tentaremos entender se essa
distração proposta pelo jornalismo sensacionalista não só informava e divertia mas alienava e
conformava colocando o trabalhador em contato com reportagens manipuladas para ter um
impacto muito maior do que o fato que a originou e dessa forma transformar a narrativa de um
acontecimento em uma obra de ficção com propósitos variados, divertir ou distrair? Pois
segundo o Dicionário de Português Contemporâneo informar tem significado diferente de
formar

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Cronograma

ATIVIDADE ABRIL MAIO JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO
PESQUISA DO
TEMA
PESQUISA
BIBLIOGRAFICA
COLETA DE DADOS

APRESENTAÇÃO
DOS DADOS
DISCUSSÃO DOS
DADOS
ELABORAÇÃO DO
PROJETO
ENTREGA DO
PROJETO

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Referências:

Fontes:

Capas do Jornal Notícias Populares.


Disponível em: F5 Folha de São Paulo.
http://f5.folha.uol.com.br/saiunonp/2013/08/1329138-o-nascimento-e-o-sumico-da-
misteriosa-criatura.shtml
Acessado em 17/06/2017.

Capas do Jornal Folha de São Paulo.


Disponível em: Acervo Folha.
http://acervo.folha.uol.com.br/
Acessado em 17/06/2017.

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Fontes secundárias e referencial bibliográfico:

ADORNO, Theodore W. Indústria Cultural e Sociedade.5ª edição. São Paulo. Paz e Terra.
2002.

ARTHUR, Cátia Regina Ribeiro. Artigo. A Presença Da Oralidade No Texto Jornalístico –


Manifestações Populares Para A Obtenção Do Fenômeno Envolvimento.
Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/index.php/verbum/article/view/19060/14482
Acessado em 17/06/2017.

CAMPOS JR. Celso de (et al). Nada mais que a verdade: a extraordinária história do jornal
Notícias Populares.2ª edição. São Paulo. Summus Editorial.2011

CAPELATO, Maria Helena Rolim. A Imprensa na História do Brasil.1ª edição. São Paulo.
Contexto. EDUSP. 1988.

CARDOSO, Daniela Pires. Artigo O Novo Jornalismo Popular: Serviço ou Sensacionalismo?


Uma Análise. Comparada Entre Os Jornais Notícias Populares E Aqui DF.
Disponível em:
https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=
8&ved=0ahUKEwiTtsX3lcPUAhWIQCYKHb2aDToQFggnMAA&url=http%3A%2F%2Frep
ositorio.uniceub.br%2Fbitstream%2F123456789%2F2008%2F2%2F20561501.pdf&usg=AF
QjCNHOC-aTTtdl-GnaZ4DQ2ycZk6bTfA&sig2=PpH0obqQkvZTtGGZVHpoUg
Acessado em 17/06/2017

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CASTRO, Celso, Fatos e Imagens: O golpe de 1964.FGV, Centro de Pesquisa documental.
Disponível em:
http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/Golpe1964
Acessado em 10 de abril de 2017.

COHN, Amélia; SEDI, Hirano. Notícias Populares FGV, Centro de Pesquisa documental.
Disponível em:
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/noticias-populares
Acessado em 10 de abril de 2017.

NAPOLITANO, Marcos. 1964: História do Regime Militar Brasileiro. 1ª edição. São Paulo.
Contexto. 2016

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