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de Euclides da Cunha
FUNDAÇÃO EDITORA DA UNESP
Organizador
José Leonardo do Nascimento
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02-6364 CDD-869.98
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4
Sumário
Apresentação
José Leonardo do Nascimento 7
A terceira expedição
Ayrton Marcondes 99
5
Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
6
Apresentação
Apresentação
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
8
Apresentação
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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O “Diário de uma expedição”
e a construção de Os sertões1
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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O “Diário de uma expedição” e a construção de Os sertões
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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O “Diário de uma expedição” e a construção de Os sertões
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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O “Diário de uma expedição” e a construção de Os sertões
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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O “Diário de uma expedição” e a construção de Os sertões
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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O “Diário de uma expedição” e a construção de Os sertões
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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O “Diário de uma expedição” e a construção de Os sertões
Não os conhece, não os viu nunca, nunca ouviu dizer que ele
fazia milagres. E ao replicar um dos circunstantes que aquele de-
clarava que o jagunço morto em combate ressuscitaria – negou ainda.
– Mas o que promete afinal ele aos que morrem?
A resposta foi absolutamente inesperada:
– Salvar a alma.
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
16 Para mais detalhes das relações entre o intendente de Monte Santo e a co-
munidade de Canudos, ver Villa (1995, p.68-73).
17 Durval Vieira de Aguiar realizou sua viagem pelo sertão em 1882. Morreu
em 1900, dois anos antes da publicação de Os sertões.
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O “Diário de uma expedição” e a construção de Os sertões
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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O “Diário de uma expedição” e a construção de Os sertões
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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O “Diário de uma expedição” e a construção de Os sertões
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O “Diário de uma expedição” e a construção de Os sertões
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
Ficou oito dias sem escrever uma nova reportagem, mas não
foi um tempo perdido.26 No dia 17, observou o acampamento e
conversou longamente com o general Artur Oscar, “cuja dedicação
e valor pela primeira vez observo”.27 Essa observação, anotada na
Caderneta, é muito importante, pois nas matérias escritas em Ca-
nudos vai, paulatinamente, alterando o julgamento que tinha do
general comandante da expedição, e desenhando um perfil distinto
daquele das reportagens escritas em Salvador, sob influência das
conversas que teve com o general Savaget e com o coronel Carlos
Teles. No dia 18, fez diversos croquis, copiou um esquema de
Canudos, caminhou pelas redondezas e foi até as linhas de com-
bate onde “alvejado barbaramente, voltei do meio do caminho”.
Conversou longamente de novo com o general Artur Oscar e che-
gou a participar do interrogatório de um conselheirista preso, o
que demonstrava boas relações não só com o comandante da ex-
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O “Diário de uma expedição” e a construção de Os sertões
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
tava doente.31 No dia 23, parece, passou boa parte do dia no hos-
pital com o Dr. Curió.
Finalmente, no dia 24, depois de oito dias, voltou a escrever
uma reportagem, a segunda realizada em Canudos. O centro da
reportagem foi o interrogatório dos prisioneiros. O primeiro, que
pouco disse, estava ferido: “o estilhaço de granada transformou-
lhe o olho esquerdo numa chaga hedionda, de onde goteja um
sangue enegrecido”. O segundo interrogatório foi realizado com
duas prisioneiras: mãe e filha. A mãe – “esquelética e esquálida”
– nada informou. Para os interrogadores, a conselheirista, por
ter dificuldades em responder às perguntas, era uma incapaz,
quando deveria estar em estado de choque, pois seu marido, como
informou a reportagem, tinha morrido havia meia hora.32 O pró-
ximo foi um conselheirista ferido que não tinha nem condições
de falar. Chegou outro prisioneiro gravemente ferido: “é um cadá-
ver claudicante”, que vive “há dois meses, numa inanição lenta,
com dois furos no ventre, num extravasamento constante de in-
testinos”. Não foi possível nem sequer ouvir sua voz. Em seguida
chegou um bebê de seis meses. Logo após, mais uma senhora:
“uma velha com feição típica de raposa assustada”. O desfile da
barbárie republicana, tudo indica, não alterou o ânimo do coman-
dante da expedição e do jornalista fluminense, tanto que, como
anotou na Caderneta de campo, “o General Artur Oscar apostou
comigo dez caixas de charutos em como Canudos se renderá
no dia 27”.
Dois dias depois escreveu nova reportagem, logo pela manhã.
O centro foi novamente os interrogatórios, especialmente de uma
31 O menino de sete anos foi trazido para São Paulo e adotado pelo educador
Gabriel Prestes. Recebeu o nome de Ludgero Prestes. Formou-se professor
primário em 1908.
32 Na reportagem, o marido dessa senhora teria matado o alferes Pedro Simões
e pouco antes de expirar teria dito: “Estou contente! Ao menos matei um!
Viva o Bom Jesus!” Na anotação da Caderneta de campo, a frase é um pouco
distinta: “Ao menos matei um! Morro contente!” (Cunha, 1975, p.56).
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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O “Diário de uma expedição” e a construção de Os sertões
Referências bibliográficas
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Trauma e história na
composição de Os sertões
Página vazia
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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Trauma e história na composição de Os sertões
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Trauma e história na composição de Os sertões
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Trauma e história na composição de Os sertões
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Trauma e história na composição de Os sertões
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5 Caio Prado Jr. (1999, p.113-4), utiliza-se em várias passagens dessa imagem
do sertanejo: “O Sertão oferece a liberdade, o afastamento de uma autoridade
incômoda e pesada. Aí a lei é a do mais forte, do mais capaz, e não da classe
mais favorecida”.
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Trauma e história na composição de Os sertões
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Trauma e história na composição de Os sertões
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Trauma e história na composição de Os sertões
A rebeldia original
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Trauma e história na composição de Os sertões
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Trauma e história na composição de Os sertões
6 Freud escreve sobre tabus com base nas descrições de J. G. Frazer, um estudio-
so de Antropologia comparativa, que elabora suas teses com base no conhe-
cimento já sedimentado nos relatos de viajantes sobre usos e costumes em
várias partes do mundo. Sua obra mais famosa O ramo de ouro fora publicada
em Londres em 1911, três anos antes da primeira edição de Totem e tabu.
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
Referências bibliográficas
CUNHA, E. da. Terra sem história. In: ______. Um paraíso perdido. Org.
Leandro Tocantins. 2.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1994.
______. Obras completas em dois volumes. Org. Afrânio Coutinho. 2.ed. Rio
de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. 2v.
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Nogueira Galvão. São Paulo: Ática, 1998.
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cas completas de Sigmund Freud: edição Standart brasileira. Trad.
coord. Jaime Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
NIETZSCHE, F. Assim falava Zaratustra. Trad. Alfredo Margarido, 12.ed.
Lisboa: Guimarães Editores, 2000.
PRADO JÚNIOR, C. Formação do Brasil contemporâneo. 23.ed. São
Paulo: Brasiliense, 1999.
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Uma crítica precoce à “globalização”
e uma epopéia da literatura universal:
Os sertões de Euclides da Cunha,
cem anos depois
Berthold Zilly1
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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Uma crítica precoce à “globalização” e uma epopéia da literatura universal: ...
Afinal, todos eles – nem a República com seu lema Ordem e pro-
gresso – nada haviam feito para diminuir a sua miséria e opressão,
haviam de fato agido no sentido contrário a isso.
Por que os canudenses foram perseguidos? Em última ins-
tância, por não se adequarem à ordem coronelista estabelecida,
conhecida e aceita pelas elites. É verdade que Canudos contraria-
va o monopólio da violência do Estado, mas milhares de coro-
néis, mandões discricionários pelo Brasil afora, também o faziam,
sem provocar a fúria dos guardiões da ordem estabelecida e da
Civilização.
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2ª Prova
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Uma crítica precoce à “globalização” e uma epopéia da literatura universal: ...
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Uma crítica precoce à “globalização” e uma epopéia da literatura universal: ...
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2ª Prova
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Uma crítica precoce à “globalização” e uma epopéia da literatura universal: ...
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2ª Prova
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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A sociologia desconcertante de
Os sertões
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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A sociologia desconcertante de Os sertões
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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A sociologia desconcertante de Os sertões
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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A sociologia desconcertante de Os sertões
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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A sociologia desconcertante de Os sertões
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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A sociologia desconcertante de Os sertões
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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A sociologia desconcertante de Os sertões
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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A sociologia desconcertante de Os sertões
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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A sociologia desconcertante de Os sertões
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A sociologia desconcertante de Os sertões
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A sociologia desconcertante de Os sertões
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A sociologia desconcertante de Os sertões
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Referências bibliográficas
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A sociologia desconcertante de Os sertões
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A terceira expedição
Ayrton Marcondes1
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A terceira expedição
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A terceira expedição
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A terceira expedição
O veredicto de Euclides
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A terceira expedição
Realidade e ficção
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A terceira expedição
les era Floriano Peixoto. Não seria essa, aliás, a única ocasião em
que o escritor se encontraria com o marechal. Tempos antes, ti-
nha sido chamado para uma conversa sobre a escolha de uma
posição nos quadros do governo. Em outra, Euclides dirigira-se
ao Itamarati para rogar a Floriano sobre o seu sogro, general Sólon
Ribeiro, que, segundo se dizia, seria fuzilado.
Esteve Euclides, portanto, bem próximo do florianismo e do
jacobinismo. Moreira César não lhe foi estranho. Aliás, em Os
sertões, Euclides afirma tê-lo visto em ocasião que não determina
com precisão mas que indica ter sido após a proclamação da
República.
Feitas essas considerações, ouçamos o que nos diz Nelson Wer-
neck Sodré (1959) em seu ensaio Revisão de Euclides da Cunha.
Werneck Sodré destaca as numerosas incompreensões de Eu-
clides da Cunha:
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E mais adiante:
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A terceira expedição
Subsídios historiográficos
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Episódios frisantes
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A terceira expedição
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
O barão de Batovi
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A terceira expedição
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A terceira expedição
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Conclusão
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A terceira expedição
Referências bibliográficas
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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Prefigurações literárias da barbárie
nacional em Euclides da Cunha,
Machado de Assis e Lima Barreto
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Prefigurações literárias da barbárie nacional em Euclides da Cunha...
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Prefigurações literárias da barbárie nacional em Euclides da Cunha...
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4 Citações feitas diretamente dos jornais, mantendo-se a grafia da época. (N. E.)
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Prefigurações literárias da barbárie nacional em Euclides da Cunha...
La belle fille, il faut vous taire, Il faut nous suivre. Il fait bon vent. Ce
n’est que changer de couvent. Le harem vaut le monastère. Sa hautesse
aime les primeurs, Nous vous erons mahométane ... Dans la galère capitane
Nous étions quatre-vingts rameurs...
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
Ferida identitária
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
Recuperação literária
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Prefigurações literárias da barbárie nacional em Euclides da Cunha...
também fez das suas, também foi descobrir dentro de si muita bru-
talidade, muita ferocidade, muita crueldade... eu matei, minha irmã;
eu matei! E não contente de matar, ainda descarreguei um tiro quando
o inimigo arquejava a meus pés... (Barreto, 1997, p.239-40)
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Referências bibliográficas
ASSIS, M. de. Canção dos piratas. julho de 1894. In: ______. Obra com-
pleta. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1994.
BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. Ed. crítica coord. por An-
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CUNHA, E. da. Obras completas em dois volumes. Org. Afrânio Coutinho.
2.ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. 2v.
______. Os sertões: campanha de Canudos. Ed. crítica de Walnice No-
gueira Galvão. São Paulo: Ática, 1998.
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Por trás das palavras:
fluxos e ritmos em Os sertões
Antoine Seel1
Tradução de Jorge Coli
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Por trás das palavras: fluxos e ritmos em Os sertões
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Por trás das palavras: fluxos e ritmos em Os sertões
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Por trás das palavras: fluxos e ritmos em Os sertões
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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Referência bibliográfica
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O cosmo festivo:
a propósito de um fragmento de “A terra”
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E o sertão é um paraíso...
Ressurge ao mesmo tempo a fauna resistente das caatingas:
disparam pelas baixadas úmidas os caititus esquivos; passam, em
varas, pelas tigüeras, num estrídulo estrepitar de maxilas percutin-
do, os queixadas de canela ruiva; correm pelos tabuleiros altos, em
bandos, esporeando-se com os ferrões de sob as asas, as emas
velocíssimas; e as seriemas de vozes lamentosas, e as sericóias
vibrantes, cantam nos balsedos, à fímbria dos banhados onde vem
beber o tapir estacando um momento no seu trote brutal, inflexivel-
mente retilíneo, pela caatinga, derribando árvores; e as próprias
suçuaranas, aterrando os mocós espertos que se aninham aos pares
nas luras dos fraguedos, pulam, alegres, nas macegas altas, antes
de quedarem nas tocaias traiçoeiras aos veados ariscos ou novi-
lhos desgarrados...
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2 A palavra simetria foi empregada pela primeira vez por Vitrúvio no tratado
De Architectura, no século I a. C., cuja etimologia (Sum Metron) significa com
medida. (cf. Ecco, 1989). A propósito da influência do tratado de Vitrúvio
na Idade Média, escreve o autor: “O outro autor através do qual a teoria das
proporções transmite-se à Idade Média é Vitrúvio, a quem se remeteu tanto
os teóricos quanto os tratadistas práticos, do século IX, em diante, encon-
trando em seus textos não só os termos de proportio e symmetria, mas defini-
ções como: Isto é de simetria, em toda obra, dos elementos de uma determi-
nada parte e do todo, e de harmoniosa concordância dos elementos da obra
e correspondência das partes separadas de uma determinada parte à ima-
gem inteira (ibidem, p.46).
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3 Nereu Corrêa (1978, p.13) utiliza para definir essa passagem de Os sertões a
expressão “imagem auditiva”: “E, como uma antecipação do quadro visual,
primeiro ouvimos o som, o estrépito das maxilas, e só depois é que vemos a
imagem, isto é, os queixadas de canelas ruivas passando” (ibidem).
4 No fragmento citado na abertura deste texto, aparecem outros exemplos de
emprego do prefixo re: “refrondam”, “ressequida”, “reverdecem”.
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por alguém que viaja por alguma silva horrida, é o próprio lugar
que se transmuda no compasso da substituição da “magrém” pelo
“verde”. Este dinamismo é euclidiano.
A mudança apresenta também uma ordem sucessiva: é amena
primeiramente a flora, seguida pelos animais e pelos pássaros,
encerrando-se com os homens, figurados pelo campeiro tangendo
o gado pelos “arrastadores”. Há uma seqüência determinada e
ordenada neste locus euclidiano.
A lógica dos números, exigida pelo cânon medieval, foi aten-
dida pela escritura do autor de Os sertões na última parte (a par-
tir da indicação com asteriscos) do capítulo IV de “A terra”. Sete
é o número dos encantos da paisagem: os banhados; as planta-
ções, figuradas pelas tigüeras (roças depois da colheita); pela con-
cepção da flora sertaneja renascida como uma espécie de pomar
e pelo desenho narrativo de um jardim sugerido pela referência
ao paraíso;6 os ares “animados”; as flores “alvíssimas”; os cantos
dos pássaros “nos balsedos”; as frutas do umbuzeiro, das juremas...
Cinco são os sentidos humanos: o sabor da beberagem for-
necida pelas juremas ou – em passagem imediatamente anterior
– o “sabor esquisito” do fruto da umburana e o “sumo acidulado
das suas folhas” (Cunha, 1985, p.126); as numerosas impressões
do olhar; a audição também provocada pelas “notas de clarins”; as
sugestões tácteis derivadas das alusões à “casca ressequida dos tron-
cos” dos marizeiros, às “baixadas úmidas” ou aos “ares animados”;7
o olfato sensibilizado pelas umburanas que “perfumam os ares, fil-
trando-os nas frondes enfolhadas...” (Cunha, 1985, p.126).
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Naqueles ermos:
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Referências bibliográficas
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A interpretação d’Os sertões,
ontem e hoje
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
192
A interpretação d’Os sertões, ontem e hoje
***
Com o passar dos anos, a crítica tomou outros rumos ? Como
ela lê, hoje, Os sertões?
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
***
Walnice Galvão, assim como Silviano, também acredita na
mudança de Euclides. Para essa crítica, há uma diferença entre o
narrador do Diário de uma expedição e o narrador de Os sertões. Para
ela foi necessário que o escritor estivesse em Canudos “para
reformular suas idéias e escrever o verdadeiro libelo que consti-
tui seu livro” (Galvão, 1976, p.67).
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Várias são as contradições encontradas na obra de Euclides.
Sejam elas por falhas em seus fundamentos teóricos, sejam de
base ideológica. As fundamentações apresentam-se fracas por
meio dos impasses que acontecem à medida que Euclides se man-
tém fiel ao discurso científico.
O nacionalismo euclidiano é baseado em frágeis alicerces.
Entretanto, para a primeira recepção de Euclides, apenas as des-
crições são suficientes para legitimar seu discurso nacionalista.
Por que frágeis alicerces? Porque acreditar, por exemplo, que
o tempo serviria de cura para que o sertanejo retrógrado – favorecido
pelo isolamento geográfico – pudesse se tornar a raça forte, o cerne
da nacionalidade contradiz o discurso científico.2 Euclides nos
prova a existência de dois tipos de mestiços: um retrógrado e
outro degenerado, porém não conseguiu o respaldo científico
para explicar o cerne da nacionalidade.
Se todos estavam predestinados a desaparecer em virtude da
“força motriz da história”, o crime de Canudos somente teria
apressado o que o destino lhes guardava. Entretanto, o crime se
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Os sertões de Euclides da Cunha: releituras e diálogos
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Euclides é uma testemunha que narra sobre a guerra em Ca-
nudos, cinco anos depois do fato ocorrido. Ao selecionar os fatos
para produzir seu texto foi necessário combinar suas lembranças
e suas anotações em sua caderneta de campo, feitas no momento
da guerra. Partiremos do princípio de que a verdade – assim como
queria Euclides, objetiva – não é e nem poderia ser única.
Segundo Todorov (2002), o historiador pode trabalhar com
dois tipos de verdade: a verdade de adequação – aquela em que
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O que Euclides não contava era que suas crenças não coinci-
dissem com o que presenciava, pois algo mais do que objetivo e
possível de explicação científica acontecia no sertão. Euclides não
conseguia entender e muito menos explicar, por isso, quando as
lembranças afloram, ele não as encara, ou porque não as percebe
de fato ou porque estaria pondo em ruínas toda sua bagagem in-
telectual. “E estas cousas não impressionavam...” (ibidem, p.545).
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Não podemos sacralizar o passado nem ficar presos às leituras
ou paradigmas do início do século, senão ficaremos impedidos
de compreender sua obra.
As pessoas, em geral, e os leitores, mais especificamente, pre-
cisam polarizar as narrativas, ou seja, colocar de um lado o bom
e o mal; o herói e o vilão; o certo e o errado; a verdade e a mentira.
Assim também, como lhes dar um caráter finito, ou seja, uma
história com início, meio e fim.
É percebido nas críticas que a tentativa em dar um lado, um pólo
para que Euclides se posicione é muito grande. Assim como fic-
cionalizar uma história de covardia é um meio de tomar posição.
A leitura feita pelos críticos torna-se, então, contraditória
pelo simples fato de desejarem que o texto euclidiano tome uma
posição. Desse modo, a contradição de Euclides não é compreen-
dida, mas continuada.
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Tornar herói o vencido, o excluído, é uma característica mo-
derna. Todorov aborda essa questão na Europa, mas fica evidente
que aqui não é diferente. A identificação faz que criemos os nos-
sos heróis.
A verdade traumática é reconstituída, nunca fielmente rela-
tada. Ela permanece silenciosa. Muito mais em Euclides que pre-
tendeu se manter fiel às suas verdades. Euclides escreve Os ser-
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tões em nome da memória para impedir que tal fato aconteça no-
vamente, ou para não esquecer?
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Pode ser que Euclides não tivesse encarado suas interpreta-
ções pelo fato de estar preso a formas culturais, já que era republi-
cano, positivista e acreditava na ciência européia; portanto, seu
universo cultural não permitiu que suas interpretações ou indaga-
ções as colocassem em ruínas.
Ele depara com situações opostas às suas verdades. Euclides
não conseguiu manter-se fiel às suas idéias. As contradições acon-
tecem justamente porque Euclides não encara essa “infidelidade”.
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O que podemos tirar de comum e incomum entre as leituras
do início do século e a leitura atual?
A primeira, do início do século, precisava legitimar a naciona-
lidade, e no texto deveria conter marcas que exprimissem a dife-
rença da cultura brasileira. A segunda recepção analisada
procurou na pena do escritor um herói e um vilão. Leu-se o texto
euclidiano como denúncia de uma covardia cometida em solo
brasileiro.
O caráter da necessidade de um texto nacionalista ainda é
percebido – das descrições locais para o herói vencido.
É preciso que se leia Os sertões além dos olhos de Euclides,
enxergar seus tropeços é mostrar que o autor tentou fazer mais
do que podia. Podemos com seu texto entender melhor suas ten-
tativas e suas limitações (suas e do seu tempo).
Um relato de testemunho – mesmo que contraditório – nos
faz pensar o passado para entender o presente. No caso de
Euclides, entender o presente depende de cada leitor, desde que
nos desprendamos dos paradigmas do passado e possamos nos
permitir aprender com os nossos erros e tropeços.
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Até o final da narrativa, Euclides continua sem entender a re-
sistência dos sertanejos, assim também como não entende a co-
vardia cometida pelo exército. Durante as 584 páginas do livro,
Euclides desconhece o “inimigo”, mas quer acabar com ele, ou
seja, quer vencer a guerra, e acredita que ela é necessária. Entre-
tanto, algo de no mínimo curioso acontece na guerra, pois o que
era previsível – a vitória rápida do exército – se torna imprevisível,
já que os sertanejos resistem de forma admirável.
Nos últimos dias da guerra Euclides depara com os “inimi-
gos”, com os prisioneiros que se entregaram. Ao presenciá-los,
Euclides sente-se envergonhado em vencer uma batalha onde
os adversários são, nada mais nada menos, um bando de
“caqueirada humana”. A quem estavam matando? O que espan-
tava era sua integridade, pois apesar de fracos, sujos e famin-
tos andavam de cabeça erguida. Mas não deixavam de ser mes-
tiços e estranhos.
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Referências bibliográficas
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SOBRE O LIVRO
Formato: 14 x 21 cm
Mancha: 23 x 44,5 paicas
Tipologia: Iowan Old Style 10/14
Papel: Offset 75 g/m2 (miolo)
Cartão Supremo 250 g/m2 (capa)
1a edição: 2002
EQUIPE DE REALIZAÇÃO
Coordenação Geral
Sidnei Simonelli
Produção Gráfica
Anderson Nobara
Edição de Texto
Nelson Luís Barbosa (Assistente Editorial)
Nelson Luís Barbosa (Preparação de Original)
Ada Santos Seles (Revisão)
Editoração Eletrônica
Lourdes Guacira da Silva Simonelli (Supervisão)
Luís Carlos Gomes (Diagramação)
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