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Apostila de Virologia
Replicação viral
Etapas iniciais.
A primeira etapa da replicação dos vírus é o contato com a superfície das células a serem
infectadas. Através de uma “porta de entrada” no hospedeiro os vírus atingem um tecido alvo em
que as células são suscetíveis à infecção (Fig 1). Os vírus presentes nesse ambiente, por exemplo o
lúmen intestinal, podem ficar adsorvidos ao epitélio de maneira inespecífica (adsorção). Se o vírus
possuir na superfície uma proteína capaz de reconhecer um receptor presente nas células, haverá
uma ligação desse anti-receptor com o receptor celular. Como exemplos de receptor celular e
anti-receptor presente no vírion, podemos citar o CD4 nos linfócitos T4 e a gp120 no envelope do
HIV, ou o ácido siálico nas células de epitélio de vias aéreas e a hemaglutinina na superfície do
vírus influenza. Essas interações ditam a especificidade e a gama de hospedeiros que pode ser
infectada por um vírus.
Fig 1.
Fig. 4
mRNA
Fig. 6 Fig. 7
Se considerarmos um vírus com genoma de RNA-, a tradução das proteínas virais não é
possível de imediato (Fig 7). É necessário que no vírion seja transportada uma RNA polimerase
RNA-dependente, que fará a transcrição de mRNAs para que possam ser traduzidas as proteínas
virais. Dentre essas proteínas teremos mais RNA polimerases capazes de converter a fita genomica
RNA- numa fita RNA+ (total), que será o molde para a síntese das fitas RNA- que se constituirão
nos genomas das novas partículas virais. Esse tipo de genoma viral é dito não infeccioso, ou seja se
for inoculado artificialmente no citoplasma de uma célula, não dará origem a partículas virais.
Não entraremos em detalhes da replicação de vírus com genoma de RNA de fita dupla (ex.:
rotavírus, Fig 8), que foi comentada em aula. Nesse caso há um ponto de destaque que é o fato
desses vírus terem sua replicação no citoplasma, e do RNA fita dupla não poder ser exposto devido
ao ataque por RNAses. Dessa forma, após a endocitose ocorre apenas uma desintegração parcial do
capsídeo, permitindo a passagem de pequenas moléculas e a síntese de mRNAs, que são exportados
ativamente para o citoplasma.
Fig.8
Para os vírus que utilizam a transcrição reversa temos duas famílias: retrovírus e
hepaDNAvírus (hepatite B), Figs 9 e 10. Nos dois casos é obrigatória a passagem por um
intermediário de DNA dupla fita gerado pelo processo de transcrição reversa em que RNA é
convertido em DNA. A diferença que ressaltamos para essas duas formas de replicação, é que a
transcrição reversa ocorre na entrada na célula para os retrovírus (genoma de RNA na partícula
viral), e na saída para os hepaDNAvírus (genoma de DNA na partícula viral). A replicação dos
retrovírus será comentada em detalhes na aula sobre essa família.
Fig 9 Fig 10
A interação entre um vírus com genoma de DNA e a célula hospedeira é complexa. No caso
dos vírus com genoma de DNA fita simples, o processo de replicação envolve regiões repetitivas
nas extremidades dos genomas. Todos têm que reconstituir a dupla fita para que ocorra expressão
gênica, e a maioria (ex.: adeno-associados) passa por uma fase de integração ao genoma celular.
Não entraremos em detalhes no processo de replicação dos vírus DNA fita simples.
Os genomas virais DNAdf, em geral, são relativamente grandes e expressam muitos genes.
À Fig11 temos o esquema do genoma de adenovírus com aproximadamente 36 Kpb (DNAdf 5’-3’,
linhas contínuas e complementeres). Os conjuntos de setas representam conjuntos de RNAs
transcritos durante a expressão sequencial dos genes virais, no processo de replicação.
Fig 11
Como regra geral, os genomas virais DNA fita dupla devem estar dentro do núcleo para que
seus genes possam ser expressos (há apenas uma exceção, a família dos Poxvírus, ex. varíola, que
não cabe comentar no atual contexto). Estando no núcleo, o genoma viral estará interagindo com
uma complexa rede de sinais para que ocorra transcrição. Cada DNA vírus usa então seus truques
para que a maquinaria celular se interesse por transcrever seus genes. Em geral, eles contêm
seqüências que respondem a sinais como por exemplo para ativação por hormônios, que levam à
expressão de um conjunto inicial de genes virais, o que é chamado de transcrição precoce (Fig.
12). Os genes virais dessa fase, cujas proteínas são produzidas na tradução precoce, são
tipicamente regulatórios e interferem profundamente no padrão de expressão gênica das células. As
células são então preparadas para a fase seguinte em que ocorrem a transcrição e traduções
tardias. Temos então a replicação do genoma viral e a síntese das proteínas estruturais dos vírus
(Fig. 12).
Fig. 12
Fig. 13