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ISSN 1809-4449
ARTIGO
Douglas Pinheiro**
Resumo
*
Recebido em 25 de julho de 2014, aceito em 30 de outubro de 2017.
**
Professor da Faculdade de Direito e do Programa de Pós-Graduação em
Direito da Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF, Brasil.
darpinheiro@gmail.com
http://dx.doi.org/10.1590/18094449201800520013
cadernos pagu tem seu conteúdo sob uma Licença Creative Commons
cadernos pagu (52), 2018:e185213 Autoritarismo e homofobia
Abstract
Based on two movies, the Brazilian film Tattoo and the Cuban film
Strawberry and chocolate, as well as on the historical context
related to them, this paper investigates the violations perpetrated
by the authoritarian regimes of the two countries during the years
1960 to 1980. It proposes, then, to enlighten the memories hidden
by authoritarism, in order to contribute to the implementation of
specific inclusion politicies to Brazilian homosexuals.
Introdução
2269, recorda que na entrada de seu campo havia uma placa com
os dizeres “El trabajo los hará hombres”, mote que parece
adequar o lema de Auschwitz – “o trabalho vos libertará” – à tese
do homem novo, mas que também significava, para os
homossexuais, uma clara proposta de readequação de sua
orientação sexual (Martínez, 2002b). Alguns ex-internos, como
Jorge Ronet, Héctor Santiago e Heberto Padilla, chegam a
mencionar a realização de experimentos pavlovianos em algumas
unidades, por meio dos quais homossexuais recebiam choques
elétricos ou de insulina quando expostos a fotos de homens nus e
comida quando expostos a filmes de sexo heterossexual (Tahbaz,
2013; Madero, 2016). Embora não se possa atestar se tais
experimentos aconteciam em maior ou menor amplitude, em
razão dos escassos testemunhos, eles acenam, ao menos, para
uma inicial expectativa do regime quanto à viabilidade de uma
“cura gay”.
A homossexualidade, aos olhos do regime autoritário, era
incompatível com a nova sociedade socialista. Sobre o tema, Fidel
Castro expressamente afirmou em uma entrevista concedida em
1965 que “um desvio dessa natureza rompe com a ideia que
temos sobre o que um militante comunista deve ser” (Ocasio,
2002:82). Porém, há divergências entre autores sobre a origem
dessa contundente intolerância em Cuba, se anterior ou posterior
ao castrismo. Para Arguelles e Rich (1984), considerando a forte
herança patriarcal afroespanhola presente no meio rural, a solução
para os homossexuais, antes da Revolução Cubana de 1959, era
refugiar-se nas cidades, onde também viviam à margem ou abaixo
da estrutura social. Numa época em que Cuba enfrentava altas
taxas de desemprego e boa parte dos países desenvolvidos eram
caracterizados por uma forte repressão sexual, a ilha capitalizava
as experiências homoeróticas, quer para turistas estrangeiros, quer
para nativos da pequena burguesia para quem a prática de sexo
ocasional com outros homens não caracterizava
homossexualidade.
Segundo as autoras, para além do comércio sexual, havia
ainda um grande fluxo de mão de obra para as demais atividades
cadernos pagu (52), 2018:e185213 Douglas Pinheiro
Considerações finais
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