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ES Novak; BLS Massuia; IM Batista. VIII CIH.

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APROXIMANDO UNIVERSIDADE E ESCOLA, TEORIA E


PRÁTICA: OFICINAS DE HISTÓRIA E CULTURA INDÍGENA
NOS CAMPOS DE ESTÁGIO
Doi: 10.4025/8cih.pphuem.3559

Éder da Silva Novak, UNESPAR


Bruna Letícia da Silva Massuia, UFGD
Igor Mateus Batista, UNESPAR

Resumo

O estágio supervisionado nas licenciaturas de História é essencial


para a formação do acadêmico e futuro professor de História. Dessa forma,
é preciso desenvolver um espaço de promoção e articulação entre os
conteúdos teórico-metodológicos ensinados/aprendidos durante o curso de
graduação com a realidade de ensino da educação escolar, reduzindo as
distâncias que separam a universidade da escola. Neste sentido, o presente
estudo apresenta o Projeto de Extensão intitulado “Aproximando
universidade e escola, teoria e prática: oficinas de história e cultura indígena
Palavras Chave: nos campos de estágio”, desenvolvido na licenciatura de História da
História e Cultura Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), Campus de Paranavaí-Pr.
Indígena; Estágio Este projeto consiste na elaboração de oficinas sobre a temática História e
Supervisionado; Campos Cultura Indígena, pelos acadêmicos do quarto ano de História, articulando
de Estágio; Oficinas. os diferentes saberes acadêmicos, contando ainda com a participação dos
pedagogos e professores de História dos campos de estágio. A realização
das oficinas ocorre nas turmas do ensino médio, com a utilização de
diferentes linguagens para o ensino de História e com a aplicação de
questionários sobre a temática indígena antes e após as oficinas. Além de
essencial na formação do graduando, o projeto vem conectando teoria e
prática, estreitando relações entre a universidade e a escola, permitindo a
produção de conhecimento histórico em conjunto. Além disso, auxilia no
combate aos preconceitos e estereótipos existentes em relação aos índios do
Brasil, colaborando para a compreensão das questões étnico-raciais,
atendendo ao disposto pela Lei 11.645/2008.
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de formação de professores de história.


Introdução/Justificativa
Nesse sentido, Cristina Bereta da
Considerando o espaço escolar Silva (2015) apresenta reflexões acerca da
como um campo de disputa e tensões importância do estágio supervisionado na
marcado por toda ordem e ainda o fato formação docente do professor de
deste cumprir um papel relevante na história. A autora aborda a temática
conformação da memória e consciência resgatando as reflexões de Elza Nadai,
histórica, é que se apresenta o trabalho a cuja preocupação no que tange a essa
seguir, cuja relevância se dá por abordar o temática, sempre fora proporcionar aos
ensino de história atrelando teoria e acadêmicos de história uma formação que
prática na diminuição da lacuna os levasse a assumirem um compromisso
encontrada entre universidade e escola, no de “dar o salto qualitativo na direção da
que tange a produção do conhecimento e democratização da escola e da
na quebra de paradigmas da cultura e emancipação das classes populares”
história indígena. (NADAI, 1985, p. 14).
Segundo Coelho e Coelho (2012) Desse modo, três décadas após
nos últimos 50 anos a educação brasileira as reflexões de Nadai, ainda é preciso
passou por mudanças significativas em questionar a respeito da formação do
suas estruturas, mais especificamente por professor de história, uma vez que nesses
três vezes, sendo elas, o aumento 30 anos muitos direitos civis foram
expressivo do número de alunos; a adquiridos e a sociedade se tornou ainda
implementação de uma política que mais complexa, uma vez que novos atores
aumentou o número de docentes; e uma e atrizes sociais começaram a levantar
cisão profunda, entre ensino privado e bandeiras e a exigir direitos anteriormente
público. Mas ainda, segundo os autores, negados, dentre eles pode-se destacar, o
nenhuma dessas mudanças na estrutura direito das mulheres, homossexuais,
educacional brasileira foi capaz de crianças, negros, indígenas e etc.
introduzir temáticas relacionadas à história
Logo, “a preocupação com uma
e cultura indígena.
formação docente compromissada com a
Nesse sentido, as Leis emancipação parece ser ainda mais
10.639/2003 e 11.645/2008 sagram-se relevante” (SILVA, 2015, p. 164).
como uma importante política Portanto, é de extrema importância que o
educacional, que trilha um caminho ao professor de história assuma um
inverso das políticas educacionais até compromisso social e político no exercício
então estabelecidas. Porém, é importante da docência. Para além disso, é preciso que
advertir que ambas as Leis só foram os professores tenham uma formação que
possíveis graças aos esforços e os permita uma atuação pautada em
protagonismo assumido pelos relações de respeito às diferenças, sem se
movimentos sociais (negros e indígenas) desvincular da capacidade dos sujeitos
de natureza política, que segundo Coelho envolvidos no processo de ensino
e Coelho (2012, p. 284), reivindicaram “a aprendizagem, em resistir e lutar.
luta contra todas as formas de
Dessa forma, o presente texto,
discriminação e preconceito” como
ao enfocar uma experiência dos
elementos determinantes.
acadêmicos do 4o ano de história,
Dessa forma, para que as liderados pelo professor da disciplina de
referidas leis possam ser corretamente metodologia do ensino de história e
executadas no cotidiano escolar, se faz estágio supervisionado no ensino médio,
necessário diminuir o espaço entre escola- aborda a difícil tarefa de quebrar
universidade e ainda entre disciplinas paradigmas e preconceitos a respeito da
teóricas e práticas nos bancos acadêmicos história e cultura indígena em escolas

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públicas de ensino médio na cidade de Porém, com o presente trabalho,


Paranavaí, apresentando uma prática que buscou-se superar tal dicotomia, uma vez
corrobora para que se forme futuros que a disciplina prática (estágio
docentes compromissados com uma supervisionado no ensino médio) e teoria
atuação cujo foco seja a alteridade no se aliaram numa tentativa de contribuir
ensino de história. Pois, segundo Rüsen para a implementação da Lei 11.645/2008.
(2009, p. 164), é preciso formar: Isso por meio de práticas as quais o estágio
fora ressignificado enquanto lugar de
[...] professores capazes de pesquisa, “constituindo-se em momento
converter o ensino de história numa teórico em que a prática é (foi)
ferramenta cultural que contribua
para a superação da dominação, do
problematizada e investigada, em que os
exclusivismo e da avaliação desigual saberes pedagógicos e históricos são
na conceitualização da identidade. (foram) colocados em pauta e
relacionados em suas especificidades e
Contudo, para que isso ocorra é convergências” (SILVA, 2015, p. 167).
preciso superar a dicotomia diagnosticada
por Nadai já na década de 1980, no que Dessa forma, nesse processo,
tange às “disciplinas práticas” dos cursos buscou-se a todo instante a produção do
de formação docente, especialmente o de saber histórico, ou melhor, a construção
história, em relação às disciplinas teóricas. do saber histórico referente a história e
Resumidamente, segundo Silva (2015), “a cultura dos povos indígenas, numa relação
epistemologia da prática com o passar do dialética entre professores, estagiários e
tempo acabou sobrepondo a prática em estudantes.
detrimento da teoria, instaurando uma Assim, por meio dos saberes
dicotomia que ainda persiste nos históricos apresentados, objetivou-se
currículos do presente” (p.166). auxiliar em cada estudante membro da
Aprofundando essa reflexão, Fernandes oficina, sua consciência histórica, para “o
(2012, p. 83), aponta que: conhecimento de outras sociedades, de
outras experiências” Rüsen (2007, p. 94),
[...] A distância (entre disciplinas de forma a permiti-los uma avaliação e um
práticas e teóricas) deriva de duas
direcionamento para suas ações em
circunstâncias simultâneas: por um
lado, a especialização de métodos e relação aos sujeitos sociais abordados nas
reflexões de âmbito pedagógico apresentações: os povos indígenas.
teria constituído uma Desse modo, fora apresentado
autonomização do campo da aos estudantes o “exercício de história”
didática e, por outro, a prevalência (FERNANDES, 2012, p. 88), ou seja, o
de uma concepção de cientificidade
identificada exclusivamente com
exercício de investigar e refletir acerca dos
procedimentos adotados pela processos históricos pelos quais os povos
pesquisa, banindo os temas indígenas passaram, que pautado num
voltados à orientação prática do conceito de cultura dinâmica, vão além de
saber histórico e levando a considerá-los vítimas ou heróis a partir do
supressão de temas e questões encontro com os não indígenas. Mas sim,
acerca do ensino de história nas perceber os seus interesses diante de seus
pesquisas historiográficas. interlocutores, sejam eles do passado,
Ou seja, os estágios, parte como os jesuítas, portugueses, espanhóis,
integrante das disciplinas práticas, são indígenas de etnias rivais e etc. como os do
restritos, em muitos casos, “à observação presente, o Estado brasileiro, políticos,
da prática, ao espontaneísmo e à empresários extrativistas, ruralistas, mídia
fragmentação do conhecimento” (Silva, e etc.
2015, p. 166). Nesse sentido, seria uma Desse modo, as oficinas
prática ausente de teoria. desenvolvidas tentaram corroborar para a

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superação da lacuna entre os não indígenas foram/são convergentes os


conhecimentos produzidos/reproduzidos processos relacionais se davam/dão de
na academia em relação aqueles forma pacífica. Já quando tais interesses
produzidos/reproduzidos na educação eram/são divergentes os processos
básica, que conforme análise de Pereira relacionais se davam/dão de forma
(2012), por haver esse distanciamento conflituosa. Portanto, é preciso reforçar
(entre universidade e escola) as práticas que os povos indígenas não foram/são
docentes acabam por reforçar estereótipos vítimas ou heróis da história, mas sim
acerca dos povos indígenas, no que tange personagens que agiram/agem para
a sua história e cultura, assim: defender seus interesses.
[...] no caso de ensino de história e Portanto, reforçamos que as Leis
cultura indígena na educação básica, 10.639/2003 e 11.645/2008 se tornam
é preciso registrar a escassez de uma importante política educacional, que
obras voltadas a tal finalidade, o trilha um caminho ao inverso das políticas
pouco diálogo entre a produção educacionais até então estabelecidas,
acadêmica e a produção escolar. Da trazendo para análise a voz e vida de
mesma forma, há sensíveis sujeitos sociais e históricos que há muito
diferenças entre o ensino de história ficaram à margem da história, tais como os
indígena no âmbito da educação
indígenas.
indígena e o ensino de história
indígena em todos os níveis da Nesse sentido, dentre as
educação básica. Nota-se, também, motivações para a conformação de ambas
o vigor com que perduram datas as Leis, as de ordem históricas são de
cívicas como o 19 de abril na extrema importância, pois segundo
educação infantil, as quais Coelho e Coelho (2012), a narrativa da
perpetuam, ainda hoje, estereótipos
história brasileira, aprendida nos bancos
e valores equivocados a respeito dos
indígenas brasileiros e de sua acadêmicos e estendido aos bancos
história. (PEREIRA, 2012, p. 318). escolares, sempre relegou aos indígenas
um papel de coadjuvante na história, “cuja
Logo, como forma de contornar participação sempre fora vista com
essas práticas, as oficinas tiveram como importantes exceções, de forma mais
objetivo demonstrar, conforme salienta alegórica do que determinante”
Fernandes (2012, p. 94), “que aqueles (COELHO e COELHO 2012, p. 286).
índios (do século XVI) de outrora não são
os atuais e que as demandas daquela Desse modo, a história oficial
relação colonizadora não é a mesma das relegou aos indígenas um modo de agir
que hoje são tecidas entre índios e não “sempre em função de interesses alheios.
índios”. Aliás, (os indígenas) não agiam, apenas
reagiam a estímulos sempre em função
Nesse sentido, é importante dos interesses alheios” (ALMEIDA, 2003,
colocar que o objetivo dessas oficinas não p. 27). Isso se deu em virtude da formação
fora colocar a história e cultura indígena sócio-histórica brasileira, que ao se formar
acima da história europeia, de modo enquanto Estado-Nação, elegeu a história
dicotômico. Mas assim, o grande objetivo europeia como epicentro da narrativa
fora compreender os processos históricos histórica e herança mais importante, em
e culturais indígenas, “em sua dinâmica e detrimento da história indígena.
circularidade, com as violências e embates
do passado e do presente, com as Logo, segundo destaca Almeida
perspectivas relacionais requeridas em (2003), as relações de contato entre os
qualquer abordagem histórica povos indígenas e a sociedade ocidental
substantiva” (PEREIRA, 2012, p. 309). sempre foram vistas e reduzidas a simples
Ou seja, quando interesses de indígenas e dominação imposta pelos ocidentais sobre
os indígenas, de forma que impossibilitava

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aos índios criarem manobras de resistência temáticas propostas nas Leis. Logo, é
e/ou de escolha a não ser a submissão preciso que os conhecimentos produzidos
passiva “a um processo de perdas culturais na academia referente aos processos
progressivas que os levaria à históricos indígenas transpassem os
descaracterização e à extinção étnica” (p. bancos acadêmicos e chegue aos bancos
27). escolares como embasamento teórico e
histórico para aulas que de fato permitam
Porém, novos estudos na área de
aos envolvidos “à crítica à tradição, ao
etno-história revelaram a incrível
preconceito, à discriminação e a superação
capacidade dos povos indígenas em poder
de ambos no universo escolar”
reformular suas culturas, mitos e
(COELHO e COELHO, 2012, p. 286).
compreensões de mundo para pensar,
interpretar e agir, de forma sempre Portanto, o presente texto
coletiva, à nova realidade que lhes era se justifica no fato de apresentar um
apresentada. Assim, podemos concluir, trabalho cujo foco fora: superar a
embasado em Alcida Ramos (1988) (Apud dicotomia existente entre disciplinas
Almeida 2003, p. 28), que não existe práticas e teóricas dentro do curso de
“tradição estática, pois, por maior que seja formação docente em história; diminuir a
a violência do contato, há sempre uma lacuna existente entre universidade-escola,
reação criativa por parte dos índios”. contribuindo para a formação crítica de
Portanto, nesse campo de disputa, longe estudantes e professores da rede pública
de ser povos sem história, ou com história de educação, no que concerna a história e
a partir do século XVI, “os índios estão e cultura indígena.
sempre estiveram engajados, [...] em
interpretações e reinterpretações do Metodologia/Resultados
contato”. (ALMEIDA, 2003, p. 28).
A partir do ano de 2016, vem se
Sendo assim, ao ser ambas as desenvolvendo junto aos alunos do quarto
Leis referendadas pelo poder executivo, ano de História da Unespar/ Campus de
após uma importante atuação dos Paranavaí, o Projeto de Extensão
movimentos sociais de natureza política “Aproximando universidade/escola e
como protagonistas (que encontraram teoria/prática: oficinas de história e
apoio dentro de movimentos formados cultura indígena nos campos de estágio”,
pela academia), os povos indígenas que como dito anteriormente, visa a
passam a ser vistos a partir de uma nova aproximar os conhecimentos acadêmicos
perspectiva, com um novo estatuto, ao e escolares, bem como a participação de
qual “a partir do reconhecimento de sua alunos, professores e equipe pedagógica
história, [...] (são considerados) atores das escolas que receberam e continuam
relevantes da conformação do país e da recebendo as atividades de estágio.
nação” (COELHO E COELHO, 2012, p.
286). Logo, de coadjuvantes os povos O projeto de extensão, que ainda
indígenas passam a ser considerados se encontra em desenvolvimento e em
protagonistas de suas histórias, bem como prática pelas novas turmas de história,
da história do Brasil. pretende levar em consideração o que os
alunos das escolas estaduais de
Nesse sentido, com as Leis Paranavaí/PR que acolhem os discentes
10.639/2003 e 11.645/2008, os currículos da disciplina de estágio, sabem ou
escolares deverão atribuir a África e à conhecem referente à temática de história
América anteriores à Conquista a mesma e cultura indígena. São realizadas
relevância dada à Europa. Para que isso sondagens com alunos do ensino médio, a
ocorra é necessário que na atuação dos fim de estabelecer um diagnóstico inicial
envolvidos com os processos de ensino e que possa nortear os trabalhos com as
aprendizagem sejam abordadas as oficinas e com as temáticas propostas.

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Com relação às sondagens e a proteger das chuvas, e fazem com folhas


preparação da oficina consequentemente, de coqueiro” (SILVA, 2016, Colégio
fora utilizado, como base bibliográfica, o Bento Munhoz); “Não, os índios de hoje
livro “Quebrando Preconceitos” de Célia em dia são mais sofisticados, moram em
Collet, Mariana Paladino e Kelly Russo. As casas e possuem automóveis” (PARDINI,
temáticas trazidas pelas autoras 2016, Colégio Dr. Marins).
permitiram a realização da sondagem e o
Com relação à questão “Em sua
diagnóstico inicial sobre o conhecimento
opinião, os índios do Brasil estão
dos alunos com relação à história e cultura
acabando? Por quê?” surgiram respostas
indígena. Os questionamentos propostos
como: “Em minha opinião os índios estão
pelas autoras são os seguintes:
se acabando sim, porque eles estão
• Os índios estão acabando? buscando uma vida melhor fora de seus
• O índio verdadeiro é aquele que vive costumes (AMARAL, 2016, Colégio
pelado na floresta? Flauzina); ou ainda como: “Não acabando,
• Os índios falam tupi guarani, vivem mas preferindo viver na vida urbana, ou
em ocas e cultuam Tupã? seja, trocando a sua realidade.”
• Os índios são preguiçosos e (SANCHES, 2016, Colégio Dr. Marins).
primitivos?
A próxima questão que também
• Muita terra pra pouco índio?
fez parte da sondagem foi “Em sua
Essas perguntas foram levadas opinião, o índio verdadeiro é aquele que
para as salas de aula, nas turmas de ensino vive pelado na floresta? Por quê?”. O
médio onde as atividades do estágio foram exemplo foi: “Sim, porque a partir do
realizadas. Foi por meio dessas perguntas momento que eles surgiram eles andavam
que a sondagem inicial foi feita, cujas pelados como de origem nada contra dos
respostas puderam nortear a construção de hoje em dia, porque se eles andam
das oficinas e consequentemente a assim de roupa e porque estão evoluindo
efetivação do projeto de extensão. com sua cultura que é muito interessante”.
(CRUZ, 2016, Colégio Bento Munhoz)
A questão “Os índios falam tupi
guarani, vivem em ocas e cultuam Tupã?” A pergunta “Em sua opinião, os
foi fragmentada, para que o trabalho fosse índios são preguiçosos e primitivos? Por
mais claro na sondagem e não dificultasse quê?” obteve respostas como a seguinte:
a resposta do aluno. Como resultado “Alguns costumes deles são mais
foram obtidas respostas que serão primitivos, por exemplo, a caça de animais
consideradas a seguir. para se alimentar, o uso de plantas como
remédio, mas com a evolução do mundo,
A pergunta “Em sua opinião, os os índios acabaram perdendo muitos
índios do Brasil falam tupi guarani? Por costumes [...]”. (MAROYKI, 2016,
quê?” obteve em sua maioria, respostas Colégio Dr. Marins).
que seguem esta linha de pensamento:
“Alguns, porque os mais novos não O último exemplo de
aprenderam, os mais velhos falam mais estereótipos se dá com a seguinte
alguns jovens não tem vontade. A língua pergunta: “Em sua opinião, no Brasil tem
Tupi guarani vai sendo esquecida pouco a muita terra pra pouco índio? Por quê?”.
pouco”. (CAROLINE, 2016, Colégio Uma das respostas foi: “Acredito que sim,
Flauzina). pois o povo indígena nos dias atuais estão
‘acabando’, não é mais a mesma
Com relação ao questionamento quantidade de antigamente. É sim muita
“Em sua opinião, os índios do Brasil terra pra poucos índios”. (Anônimo, 2016,
vivem em ocas?” tiveram em sua maioria Colégio Marins).
respostas como esses exemplos: “Sim,
porque eles usam como sua casa para se Através desse resultado das

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sondagens, o projeto de extensão visou participação de aproximadamente 400


romper algumas perspectivas quando se alunos, somados ainda a presença de
pensa história indígena: a primeira que não professores, inclusive de outras áreas do
mostra os povos indígenas, como se conhecimento, além dos professores de
fossem invisíveis, como se não existissem; história, e alguns integrantes da equipe
a segunda que os apresentam como pedagógica. O projeto de extensão teve
vítimas do processo; e a terceira, que como alvo principal os alunos de ensino
continua com os estereótipos em relação médio, cujas escolas participantes foram:
aos povos indígenas no Brasil. Com o
• Colégio Estadual Professor Bento
resultado, ficou clara a necessidade de dar Munhoz da Rocha Neto (Unidade
visibilidade à história dos povos indígenas, Polo);
considerando sua historicidade na • Colégio Estadual Flauzina Dias
formação do Brasil, o protagonismo Viegas;
desses povos, não somente no passado, • Colégio Estadual Leonel França;
mas no tempo presente, atentando-se ao • Colégio Estadual Doutor Marins
fato de que não há povos com histórias Alves de Camargo;
isoladas, mas que existem clivagens • Colégio Estadual Silvio Vidal.
internas, disputas, jogos de interesse,
autonomias políticas, em que as Após a sondagem e o diagnóstico
transformações são constantes, inicial, em que a grande maioria dos alunos
procurando distanciar-se de uma do ensino médio apresentou de fato visões
historiografia do Brasil que busca se estereotipadas com relação à cultura e
reafirmar por uma narrativa colonial, que modos de vida dos povos indígenas,
legitima o status do colonizador e vitima o iniciaram-se os trabalhos com a confecção
colonizado, rompendo com discursos que das oficinas, baseadas nos mesmos
negam aos indígenas o direito de sujeitos questionamentos.
da sua própria história, bem como
desconstruir as visões preconceituosas e As temáticas foram passadas
estereotipadas que foram percebidas neste para formatos textuais, depois
diagnóstico inicial. transformados em breves slides. Para a
questão sobre os índios estarem acabando,
Porém, deve-se destacar que além do slide com texto, foram utilizados
mesmo antes das sondagens, apareceram dados dos censos demográficos,
respostas que se aproximam da realidade principalmente os números do Paraná, e
indígena como, por exemplo, a resposta cidades próximas a Paranavaí. Com
sobre haver muita terra para pouco índio: relação à temática dos índios serem os que
“Os índios não tem muita terra, porque na vivem pelados na floresta ou dos índios
maior parte essas terras são compradas serem preguiçosos e primitivos, além do
por fazendeiros e o que sobra pra eles são texto, foram utilizados fotos, histórias
pequenas reservas” (LUCAS, 2016, locais e exemplos de alunos e profissionais
Colégio Bento Munhoz); ou ainda a sobre que estão, por exemplo, nas universidades,
o índio verdadeiro ser o que vive pelado buscando formação para futuramente
na floresta: “Em minha opinião não. ajudar suas comunidades. Sobre a língua
Porque há índios que vivem na cidade, e indígena, foram acrescentados ainda
isso não faz eles ‘menos índios’ ou ‘índios alfabetos com a língua indígena Kaingang
falsos’, a cultura é a essência está em cada e Guarani, além de deixar claro que os
um de nós, não onde moramos. Assim povos indígenas desde pequenos
como um japonês que não tem costumes aprendem não somente a língua materna,
japoneses continua sendo japonês” mas também o português e que muitas das
(SILVA, 2016, Colégio Bento Munhoz). nomenclaturas de rios e cidades tem
As oficinas contaram com a influência da língua indígena. Para a
questão de muita terra para pouco índio,

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foram utilizados mapas e índices, além de aos índios. A imagem do índio ainda
imagens, que mostram a desproporção de é aquela do “homem despido que
terras nas mãos de fazendeiros, por vive em ocas”. Com a evolução das
exemplo. Além disso, ainda foram sociedades, os índios também
utilizadas músicas e vídeos que evoluíram, hoje vivem em casas de
alvenaria, buscam uma educação de
contribuíram como suporte à
qualidade, um curso superior, são
apresentação das oficinas nas escolas, hoje professores, engenheiros,
procurando abordar os povos indígenas médicos, agricultores e políticos.
como sujeitos de sua própria história, Ou seja, os índios hoje evoluíram
protagonizando seus interesses, tentando como qualquer outra pessoa, e não
demonstrar suas lutas por um espaço vivem mais em ocas. (ROCHA,
próprio, com relação à demarcação de 2016, Colégio Silvio Vidal)
terras, mostrando que fazem parte do
Sobre a língua tupi guarani,
nosso presente, do nosso futuro e não
surgiram respostas como: “Sim, eles
ficaram somente no passado, que não
falam, mas não só o tupi guarani. O tupi
estão desaparecendo, não estão acabando,
guarani é um tronco linguístico, ele
que não vão deixar de ser índio por
auxiliou na formação das diversas outras
estarem em uma faculdade ou em um
270 línguas”. (ALVES, 2016, Colégio
trabalho comum na visão ocidental.
Silvio Vidal); “Sim, mais não são só tupi
Depois de trabalhadas as guarani, mais 270 tipos de língua”.
oficinas, uma nova sondagem foi feita (SILVA, 2016, Colégio Leonel Franca)
com os mesmos questionamentos com
Com relação à pergunta sobre o
objetivo de investigar se de fato o projeto
índio verdadeiro ser o que vive pelado na
de extensão pôde contribuir para a
floresta: “Não, porque não precisa estar na
construção de uma nova concepção com
floresta para ser índio, atualmente tem
relação à história e cultura indígena. Os
muitos índios nas cidades, mas eles
resultados serão apresentados a seguir
continuam sendo índios com sua cultura”.
com respostas que mais se aproximam da
(ALEXANDRA, 2016, Colégio Leonel
realidade indígena.
Franca); ou ainda esta: “Não, pois não é
Com relação ao questionamento porque eles se vestem com roupa, sapatos
sobre os indígenas serem preguiçosos ou ou tocam violão e sanfona, que vão deixar
primitivos, obteve, por exemplo, respostas de ser índio”. (SILVA, 2016, Colégio
como: “Não, porque eles têm sua cultura Silvio Vidal).
e seus trabalhos e mesmo assim
Para o questionamento sobre os
continuam inovando e se reinventando,
índios do Brasil estarem acabando: “Não,
mesmo com a modernidade”.
porque há índios em todos os lugares
(APARECIDO, 2016, Colégio Leonel);
espalhados nos 26 estados do Brasil”
“Não, porque eles trabalham do modo
(FIORI, 2016, Colégio Silvio Vidal).
deles”. (SEGURA, 2016, Colégio
Flauzina); “Não, pelo contrário eles não Por fim, as considerações sobre
tem nada de preguiçosos, eles trabalham, haver muita terra para pouco índio: “Não,
fazem suas atividades nas aldeias, portanto porque os fazendeiros estão querendo
eles não são nada preguiçosos”. (SILVA, ocupar todo o espaço que eles possuem,
2016, Colégio Silvio Vidal). pois onde eles moram o espaço é bom,
preservado, etc”. (TAUANA, 2016,
O questionamento sobre os
Colégio Silvio Vidal); ou ainda respostas
índios viverem em ocas, apresentou
como: “Não, tem pouca terra pra muito
respostas como a seguinte:
índio, porque os fazendeiros estão
Infelizmente, grande parte da tomando as terras deles” (SOUZA, 2016,
sociedade ainda tem a linha de Colégio Leonel França).
pensamento retrógrada em relação

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Os resultados finais da oficina Rio de Janeiro. Casa da Palavra, 2003. p. 27 a 37.


mostraram que algumas respostas ainda COELHO, Mauro Cezar. COELHO, Wilma de
necessitam de uma maior atenção, outras Nazaré Baía. O ensino de história e os desafios da
de uma lapidação, porém a mensagem de diversidade: a conformação da consciência
fato foi passada aos alunos atendidos pela histórica nos processos de implementação da Lei
nº 10.638/2003. In.: MAGALHÃES, Helena
disciplina de estágio. O trabalho continua Rocha Marcelo. Et. Al. O ensino de história em
com boa receptividade por parte das questão: cultura histórica, usos do passado.
escolas, durante este ano de 2017. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2015. p. 283 a 305.
COLLET, Célia; PALADINO, Mariana; RUSSO,
Considerações Finais Kelly. Quebrando preconceitos: subsídios para
o ensino das culturas e história dos povos
Este projeto de extensão vem indígenas. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria;
procurando colaborar na desconstrução Laced 2014.
dos estereótipos e preconceitos FERNANDES, Eunícia Barros Barcelos. Do
apresentados pela sociedade brasileira em dever de memória ao dever de história: um
relação aos indígenas, além de partilhar exercício de deslocamento. In.: GONÇALVES,
Márcia de Almeida. Et. Al. Qual o valor da
com as escolas os saberes sobre a história história hoje? Rio de Janeiro: Editora FGV,
e cultura indígena, já pensando em 2012. p. 81 a 95.
diminuir as distâncias entre a academia e a
NADAI, Elza. A prática de ensino e a
escola pública, além de descaracterizar a democratização da escola. Revista da Faculdade
disciplina de estágio como produção de de Educação, São Paulo, v. 11. N. ½, p. 5-17,
críticas e relatórios finais, ou como parte jan./dez. 1985.
prática apenas, sem conexões com as PEREIRA, Júnia Sales. Do colorido à cor: o
demais disciplinas. Considera-se complexo identitário na prática educativa. In.:
fundamental a realização destas oficinas GONÇALVES, Márcia de Almeida. Et. Al. Qual
nas escolas públicas de Paranavaí, uma vez o valor da história hoje? Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2012. p. 306 a 321.
que muitas famílias indígenas se
encontram cada vez mais presentes nos RÜSEN, Jörn. Como dar sentido ao passado:
espaços urbanos desta cidade, vendendo questões relevantes de meta-história. Revista
História da Historiografia, n. 2, p. 163-209,
seus artesanatos, como forma de mar. 2009.
sobrevivência, dada às condições de
________. História Viva. Teoria da História III:
miserabilidade que se encontram em suas
formas e funções do conhecimento histórico.
Terras Indígenas. Geralmente, os Tradução de Estevão Rezende Martins. Brasília:
estereótipos e preconceitos trabalhados UnB, 2007.
pelas oficinas estão presentes na maior SILVA, Cristina Bereta da. Formação histórica e
parte dos moradores de Paranavaí. O narrativas: efeitos de sentido sobre o ensino de
projeto de extensão pode contribuir para a história e o espaço escolar no estágio
mudança desta realidade. supervisionado. In.: MAGALHÃES, Helena
Rocha Marcelo. Et. Al. O ensino de história em
questão: cultura histórica, usos do passado.
Referências Rio de Janeiro: FGV Editora, 2015. p. 163 a 182.
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. SILVA, M. A; FONSECA, S. G. Ensino de
Identidades Étnicas e Culturais: novas História hoje: errâncias, conquistas e perdas. São
perspectivas para a história indígena. In.: ABREU, Paulo: Revista Brasileira de História, v 31, n 60, p.
Martha. SOIHER, Rachel (Orgs.). Ensino de 13-33 – 2010.
História: conceitos, temáticas e metodologia.

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