You are on page 1of 7

ANAIS DOS TRABALHOS DE DIPLOMA – JULHO/2000

INSTITUTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA


ESCOLA FEDERAL DE ENGENHARIA DE ITAJUBÁ

USANDO A REDE INTERBUS EM CONTROLE DE PROCESSO INDUSTRIAL


Eude Cezar de Oliveira Márcio Rogério Caetano da Silva
Orientadora: Profa. Lúcia Regina Horta Rodrigues Franco
Departamento de Eletrônica (DON)

Resumo – Este artigo tem por objetivo • Devem fornecer ao usuário uma
apresentar a tecnologia de uma rede solução universal para suas tarefas de
Fieldbus com padrão Interbus, na automação;
automação de um processo industrial de • Devem caracterizar independência e
controle de temperatura. Serão apresentados neutralidade ao fornecer informações
os equipamentos utilizados numa aplicação ao equipamento de controle com
de controle do processo de recozimento dos arquitetura aberta (a neutralidade
núcleos de transformadores, as permite troca do equipamento de
características da rede, o software de controle e dispositivos de campo
controle, a configuração e a supervisão do durante o uso).
processo implementado.
Palavras-Chave: Fieldbus, Interbus, controle Uma condição para esta arquitetura ser flexível
de temperatura é a padronização do software de controle.
Atualmente as linguagens de programação
I. INTRODUÇÃO específicas, estão sendo substituídas pela norma
IEC 61131-3, que trata especificamente de
Em todo campo da moderna tecnologia de
software para controladores programáveis, mas
automação, novos modos de equipar máquinas
adapta-se aos tipos de controladores também
e plantas estão sendo desenvolvidos. A enorme
(Softlogic por exemplo). Outra condição para
competitividade e o custo são fatores que pesam
um sistema de automação ser aberto é a
fortemente em todas as áreas de produção e
padronização do hardware, ou seja, das
processos de engenharia, necessitando uma
conexões entre os diferentes arranjos dos
exploração potencial mais racional. Deste ponto
sistemas de controle e equipamentos periféricos
de vista a fiação paralela convencional de
disponíveis no mercado. A partir disto, os
sensores e atuadores em uma máquina ou
sistemas de automação podem ser baseados em
processo passa a ser inflexível devido à grande
filosofias de controle flexíveis.
exigência relacionada à quantidade de dados e
ao tempo de transmissão. Uma solução para
este problema é a rede serial com seus II. DEFINIÇÃO DO SISTEMA INTERBUS
componentes, chamado de barramento de O Interbus foi projetado em meados da década
campo ou “Fieldbus”. de 80 e desenvolvido em 1987 pela Phoenix
Contact e tornou-se um padrão industrial na
Sistemas “Fieldbus” para sensores e atuadores área de sensores e atuadores, aplicando-se
devem reunir dois requisitos: principalmente na manufatura.

O Interbus tem comprovado seu valor


globalmente em mais de 70000 aplicações com
aproximadamente 2500000 dispositivos de controladora que também é responsável pela
redes em várias indústrias. Mais de 1000 interface com sistemas de controle de alto nível.
indústrias de dispositivos internacionais têm
adicionado a interface Interbus em seus Estruturas suplementares para divisão do
componentes. barramento podem ser conectadas ao anel
Interbus. Isto é feito por módulos especiais
O Interbus liga todos os dispositivos de I/O chamados de módulo terminal de barramento ou
distribuídos no sistema com uma estação mestre acoplador de barramento. A divisão do anel é
que controla os dados transmitidos. Os dados feita da seguinte maneira:
processados são transmitidos ciclicamente e
praticamente em tempo real. Dados de • Barramento remoto;
parâmetros complexos são transmitidos em • Barramento local.
blocos seqüenciais e aciclicamente evitando
erros de transmissão. O barramento remoto é usado para transferência
II.1 Topologia de dados a longas distâncias, acima de 400 m.
A saída da placa de controle Interbus inicia
O Interbus é estruturado como uma topologia barramento remoto. A rede opera com a taxa de
em anel e utiliza cabos de par trançado ou fibra 500 kbaud. O barramento local conecta os
óptica para transmissão dos dados. A rede IBS módulos de I/O universais ao barramento
está atualmente entre as mais rápidas disponível remoto. Um módulo terminal do barramento
em Fieldbus e trabalha no nível físico com uma (BK) é usado para transmitir os sinais do
interface RS-485. A tecnologia Interbus é barramento remoto para o barramento local.
aberta e padronizada pela uma norma DIN
19258 e recentemente pela norma IEC 61158.

Um sistema Interbus consiste de uma placa


controladora instalada em um computador ou
em um PLC que se comunica com uma
variedade de dispositivos de I/O.

A estrutura em anel dá ao sistema duas


vantagens:

• Em contraste à estrutura em linha, o


anel permite a amostragem simultânea
das entradas de dados do processo
assim como o acionamento simultâneo
das saídas,
• A própria característica de diagnóstico
do sistema pode ser melhorada
consideravelmente. Visto que os
dispositivos conectados a rede podem
entrar em “by pass” no caso de falha,
sem interromper o fluxo de dados na
rede, ficando assim num estado
inativo.
Fig. 1 – Especificações dos barramentos
O Interbus trabalha com um procedimento de remotos e locais.
acesso mestre-escravo. Através deste processo, II.2 Transmissão de dados
o acesso a todos os dispositivos é controlado
centralmente por um dispositivo específico, o Na transmissão de dados o Interbus usa dois
mestre do barramento. O escravo só pode tipos de estrutura, uma é utilizada no ciclo ID e
acessar o barramento se ele estiver ativo. O a outra no ciclo de varredura.
Interbus pode coordenar até 4096 pontos de
I/O. O barramento mestre é a placa
O ciclo ID ocorre na inicialização do dos tempos de varredura são dependentes do
barramento, onde o anel Interbus conecta os número de palavras de dados do processo.
dispositivos por intermédio do registrador ID.
Os códigos ID armazenados nos registros são
transmitidos dos dispositivos para o mestre do
barramento. No mesmo instante, o mestre
escreve a informação de controle nos registros
de controle dos dispositivos. Depois que o ciclo
ID é completado, o barramento mestre sabe o
número e o tipo de módulos presentes na rede.
Além disso, sabe quantos e qual o tipo de
palavras de dados que estão nas estruturas de
transmissão da rede.
Fig. 2 – Tempo de varredura
No ciclo de varredura, o anel Interbus conecta
os dispositivos por intermédio do registrador de
dados. No mesmo instante, o dado de saída do II.4 Configuração, Programação e Supervisão
mestre é transmitido para os dispositivos e o O software responsável por toda configuração e
dado do dispositivo de entrada é transmitido ao programação da rede Interbus é o PC Worx,
mestre. Este é o ciclo de operação real do que permite a configuração interativa,
sistema Interbus, o que provê uma grande monitoramento e diagnósticos de todos os
velocidade de aquisição dos dados. dispositivos conectados numa rede Interbus. O
PC Worx roda em ambiente Windows e pode
Abaixo está um exemplo de fluxo de dados em ser usado por várias placas controladoras.
um pequeno sistema Interbus, onde é possível
observar a simultaneidade na troca de Dentro do PC Worx existem dois ambientes de
informações entre os dispositivos e a placa trabalho. Um é o System Worx e o outro é o
controladora. Program Worx.

No System Worx, todos os dispositivos


conectados ao Interbus podem ser configurados.
É possível determinar endereços, variáveis e
descrição de dados do processo para canais de
entrada e saída dos dispositivos da rede.

Toda lógica de controle é feita no Program


Worx. A linguagem de programação pode ser
escolhida dentre as cinco principais linguagens
contidas na norma IEC 61131-3. No Program
Worx acontece o “link” entre as variáveis do
programa desenvolvido neste ambiente com as
variáveis configuradas no System Worx.

Na supervisão do processo, foi utilizado o


software Unisoft, fornecido pela Unisoft
Sistemas Ltda.
Fig. 3 – Fluxo de dados O Unisoft é um simples, porém poderoso editor
de telas. Seu editor gráfico é orientado ao
II.3 Tempo de varredura
objeto, permitindo assim, uma fácil
Os tempos de ciclos de varredura do Interbus configuração das aplicações e desenvolvimento
são determinísticos. Uma equação, que leva em de displays gráficos. Imagens bitmap ou até
conta todas as variáveis da rede, pode calcular o mesmo imagens do Corel Draw podem ser
tempo em milisegundos. No entanto, a maioria importadas para a confecção das telas. É
possível a criação de alarmes e sinalizações
diversas afim de prover uma interface homem- III.2 Dispositivos Utilizados para o Controle
máquina o mais simples e amigável possível.
III.2.1 Placa Controladora IBS ISA FCI/T
III. APLICAÇÃO A fig. 4 mostra a placa controladora utilizada na
aplicação. Esta placa é compatível IBM-PC
III.1 Descrição do Processo de Recozimento de com barramento ISA para sistemas abertos de
Núcleos de Transformadores controle baseados na filosofia Interbus.
No processo de produção dos transformadores,
uma das etapas mais importantes é a que diz Possui padrão RS-232, obedece a norma IEC
respeito aos núcleos dos mesmos. Estes 61131-3 e tem uma velocidade de
necessitam passar por um processo de processamento de 0,8 ms/Kword.
recozimento, no qual os núcleos são aquecidos
até uma determinada temperatura. Após atingir
esta temperatura, a mesma é mantida durante
um tempo, e em seguida, ocorre o chamado
resfriamento à temperatura constante.

Para medição da temperatura do forno, existem


dois termopares. Um instalado no centro do
forno e o outro próximo às resistências,
localizadas na lateral do forno. Com isso torna-
se possível, através do software de controle,
verificar se os dois termopares estão Fig. 4 – Placa controladora
funcionando corretamente. Ou seja, no caso de
haver uma diferença de temperatura muito III.2.2 Módulo Analógico IBS RT 24 AIO 4/2-T
grande entre os mesmos, um alarme é acionado
Terminal remoto analógico com 4 entradas e 2
para que se tome as devidas providências.
saídas, onde, através das entradas é possível
medir sinais de tensão, corrente, temperatura e
O processo de recozimento melhora as
resistência e nas saídas fornecer sinais de tensão
propriedades mecânicas do material adequando-
e corrente, além de possuir leds de indicação de
os para a utilização em transformadores, deste
falha.
modo assegurando uma melhor qualidade no
produto final. O processo ocorre em três fases
distintas.

III.1.1 Fase de Aquecimento


O forno é aquecido de tal forma que a
temperatura de 780ºC seja atingida de forma
natural, ou seja, sem restrição no que diz
respeito a taxa de aquecimento.
Fig. 5 – Módulo analógico
III.1.2 Fase Intermediária
Após os 780ºC serem atingidos, é iniciada uma III.2.3 Módulo Digital IBS RT 24 DIO 16/16-T
manutenção da temperatura, de tal forma que a Terminal remoto digital com 16 entradas e 16
temperatura do forno oscile na faixa de 780ºC a saídas. Este módulo envia mensagens de curto-
800ºC durante 4 horas. circuito e sobrecarga para a placa controladora.
III.1.3 Fase de Resfriamento
Passado o tempo de manutenção da
temperatura, inicia-se o resfriamento a uma taxa
constante. Esta fase se torna crítica devido à
necessidade da taxa constante de resfriamento.
Para tal foi desenvolvida uma estratégia de
controle, que será abordada posteriormente.
Fig. 6 – Módulo digital

III.2.4 Fonte de alimentação CM125-PS-120-


230C/24 DC/5
Para alimentar os módulos de entrada e saída Fig. 8 – Diagrama de comando
foi utilizada uma fonte de 24 VDC.
Afim de efetuar uma economia de energia
III.2.5 Simuladores elétrica e evitar sobrecargas no sistema, as
resistências são ligadas segundo um esquema
Para implementação da aplicação, foram delta e depois de um certo tempo passam a ser
utilizados simuladores para representar as alimentadas segundo um esquema estrela. No
variáveis analógicas de entrada (temperatura) e circuito de comando deste processo encontram-
as variáveis digitais de entrada e saída se botoeiras, contatores, lâmpadas de
(botoeiras, contatores e sinalizadores). sinalização e os termopares conectados à rede
Interbus.
III.3 Estratégia de Controle
O aquecimento do forno é feito por três O programa responsável pelo controle das três
resistências. Estas resistências são alimentadas fases do processo, segue o fluxograma abaixo.
no início da primeira fase do processo, quando
a temperatura tem que ser elevada até um Início

determinado nível.
Aquecimento
Abaixo estão os diagramas de potência
(resistências de aquecimento) e comando
(conexão com Interbus):
Não
T=780 ?
Temperatura mantida
entre 780ºC e 800ºC
chaveando os contatores
Sim

Rotina 1

Não
Tempo ?
Resfriamento do forno a
uma taxa constante

Sim

Rotina 2

Não
Fig. 7 – Diagrama de potência T=360?

Sim

Fim

Fig. 9 – Fluxograma
Na rotina 1, a temperatura é monitorada para • Flexibilidade;
que não saia da faixa situada entre 780ºC e • Diagnósticos de erros;
800ºC. • Confiabilidade;
• Possibilidade de expansão sem
A estratégia de resfriamento da rotina 2, adição de equipamentos.
consiste em, através da temperatura no
momento em que a fase 2 termina, calcular uma V. AGRADECIMENTOS
reta de resfriamento de acordo com a taxa. É
calculado um limite para que a temperatura Um agradecimento especial à GEC ALSTHOM
varie em torno da curva em ± 3ºC. T&D MASA Balteau pela gentileza em nos
permitir a visita e análise do processo de
É possível observar que com apenas dois Recozimento de Núcleos de Transformadores.
módulos, digital e analógico, o controle da
temperatura do processo se torna bem viável e VI. REFERÊNCIAS
simples. Porém, um futura expansão para
eventuais globalizações de atividades de chão [1] http://www.interbusclub.com
de fábrica nunca pode ser descartada. E nesta [2] http://www.phoenixcontact.com
questão este sistema se comporta muito bem,
visto que permite a conexão de demais módulos [3] Manuais dos equipamentos Phoenix
sem nenhum problema. Contact.

IV. CONCLUSÃO
A automação de processos industriais traz
muitas vantagens, principalmente no que diz
respeito a confiabilidade e flexibilidade do
processo.

O processo apresentado necessita de um


controle preciso e confiável devido às
características inerentes ao recozimento. Em
visita feita ao local do processo, observou-se
que o equipamento utilizado para efetuar o
controle, não oferece a flexibilidade e garantia
de qualidade que um método de automação,
como o Interbus, poderia oferecer.

Com a utilização do sistema Interbus, torna-se


possível toda e qualquer modificação em todos
os parâmetros relativos as três fases do
processo. Possibilitando assim, a execução de
uma grande quantidade de testes com a
finalidade de se atingir um maior nível de
qualidade no produto final.

O protocolo Interbus é de alta eficiência


atendendo a críticos requisitos de velocidade e
controle.

Na utilização da rede Interbus, obtém-se uma


série de vantagens econômicas e funcionais,
destacando-se:

• Configuração e manutenção
simplificada;
BIOGRAFIAS:
Eude Cezar de
Oliveira
Nasceu em Paranavaí
(PR), em 1974. Estudou
em Nova Olímpia, São
Paulo e Salto, onde
concluiu o segundo
grau. Realizou pesquisa
na área de Eletrônica de
Potência, onde desenvolveu trabalhos utilizando
microprocessadores para controle de motores.
Realizou também pesquisa na área de
Automação sobre o padrão Interbus, vindo a
fazer um curso sobre Interbus na Phoenix
Contact e em seguida ministrar um mini-curso
na EFEI. Realizou estágio na Bently Nevada em
São José dos Campos e na Johnson & Johnson
também em São José dos Campos.

Márcio Rogério Caetano da Silva


Nasceu em Santa
Bárbara d’Oeste (SP),
em 1976. Antes de
ingressar na EFEI em
1995, sempre estudou
em sua cidade natal,
onde, em 1994 se
formou em Técnico em
Eletrônica Industrial
pela Escola “Emílio Romi”. Realizou estágio
para formação de Técnico na AC Rochester –
Sistemas de Injeção de Combustível em
Piracicaba (SP). Realizou pesquisa na área de
Automação sobre o padrão Interbus, vindo a
fazer um curso sobre Interbus na Phoenix
Contact e em seguida ministrar um mini-curso
na EFEI. Para graduação em Engenharia,
realizou estágio na Robert Bosch Limitada em
Campinas (SP).

You might also like