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AGRUPAMENTO DE ESCOLA FERNÃO DO PÓ

COMPARAÇÃO ENTRE DAVID HUME E RENÉ DESCARTES


&
Síntese: Investigação sobre o entendimento Humano
Secção XII – Parte 1 - por David Hume

Inês Filipe – 11ºCT/CS – nº12


Síntese:
Investigação sobre o entendimento Humano – Secção XII – Parte 1
David Hume

Nesta secção, David Hume intercala o seu método para alcançar o conhecimento com
poderosas críticas à maneira de pensar de outros filósofos, nomeadamente, por René Descartes
e com alguns esclarecimentos, em particular sobre o uso correto do ceticismo.

Esclarece a grande questão da existência de Deus, inferida por Descartes e muitos outros
filósofos, com uma simples comparação. Em tempos, cavaleiros perseguiam monstros e gigantes,
defendendo e acreditando na sua existência. Sabendo que estes seres são irreais, comparou os
cavaleiros aos filósofos religiosos - que argumentavam e arranjavam justificações para a existência
de um ser todo poderoso – e os dragões e gigantes a Deus, com o objetivo de comprovar a sua
inexistência.

Neste seguimento surge uma forte critica ao modo de alcançar o conhecimento e até ás bases
que René utiliza. O empirista declara que mesmo considerando que o “principio primitivo” –
verdade indubitável – não contém qualquer tipo de erro associado a ele, nada nos garante que no
final de todas as relações racionais essa ausência de erro ainda de verifica, visto que, a base do
raciocínio difere do restante.

A censura prossegue agora acerca do método da Dúvida Hiperbólica, que considera ser
disfuncional, até surreal, uma vez que qualquer individuo que realmente alcançasse esse estado
de dúvida jamais iria conseguir formar outro raciocínio, receoso de que o próprio possuísse erros.

CETICISMO EM HUME E A SUA IMPORTÂNCIA:


David Hume dá uma grande importância ao ceticismo justificando inclusive a sua própria
posição. Afirma que existe um ceticismo antecedente ao estudo e à filosofia pode ser um
excelente modo de não cometer erros, mas esse ceticismo deve ser moderado – em oposição
ao defendido por Descartes - e acompanhado do devido afastamento do senso comum. O
ceticismo consequente à investigação filosófica, investigação que descobre as limitações de nossa
cognição.

David Hume não considera que o ceticismo aplicado por «certa classe de filósofos» sobre
tudo em geral – desde as conclusões quotidianas às metafísicas – seja inadequado porque
acaba por tornar as suas pseudo-doutrinas alvo de análises criticas.

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Embora considere os sentidos essenciais para atingir a verdade também entende de forma
objetiva as advertências colocadas sobre estes. A sua imperfeição e relatividade provam que não
devemos confiar completamente nos sentidos. Porém, estas evidências não devem ser razão para
não os utilizarmos como método, uma vez que basta tentar corrigir e prever estas variantes
avaliando cada experiência de forma isolada.

O filósofo reflete sobre a naturalidade do ser humano em confiar nos seus sentidos. Através das
sensações e posteriores perceções o ser conhece o objeto baseando-se na sua representação metal
(impressões), porém se o ser não o comtemplasse o objeto continuaria a existir, de qualquer
forma. O objeto existe sempre, porém o ser só tem noção da sua existência através dos sentidos.
Com isto depreende-se que sem objeto o ser nada tem para conhecer, sem objeto não há
conhecimento.

A fragilidade do uso dos sentidos persiste na relação entre a imagem do objeto e o próprio. A
maneira como o corpo em estudo muda na nossa mente, não corresponde à realidade do objeto,
por isso, afirma que não existe uma relação direta entre o corpo e a sua impressão.

Este sistema de confiar nos sentidos, mas apenas de forma parcial é praticamente impossível de
justificar e de defender perante o ceticismo. Se o tentassem justificar teriam de recorrer a outro
tipo de raciocínio, raciocínio este que supera a capacidade humana. É perfeitamente
compreensível que o ser humano não consiga argumentar a favor de um sistema onde os objetos
são a fonte das impressões do espirito – que diferem entre si em alguns fatores e se assemelham
noutros – e onde estas impressões só podem vir dos objetos e não do próprio ser ou de outro
«espírito invisível e desconhecido».

Hume intriga-se com esta relação entre espirito e objeto externo. Será que as impressões são
produzidas pelos objetos externos? Esta questão só pode ser respondida por mediante da
experiência, assim como todas a outras questões de facto, está sujeita a um conhecimento à
posteriori.

No meio deste esclarecimento sobre o seu método para alcançar conhecimento – através a
experiência – a análise a Descarte retorna e, novamente sobre a Res Divina. Infere dois grandes
defeitos para justificação da existência deste ser divino:

o Se Deus fosse factual os nossos sentidos seriam perfeitos;


o Visto que o mundo é alvo de uma dúvida exagerada, como é possível acreditar num
ser que não é palpável.

Este julgamento vem também provar a impossibilidade de evidenciar o pensamento através das
perceções com base no ser Divino e mostra que o ceticismo vai sempre triunfar neste assunto,
pois nem a razão, nem o próprio Hume o consegue justificar. Esta ausência de justificação está

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relacionada com o problema da causalidade, onde pode existir a causa, mas o efeito não se
verificar.

Posteriormente, Hume reflete sobre as qualidades dos objetos. Aquelas que os caracterizam
(«duro, brando, quente, frio, branco, preto etc.») são apenas secundárias, uma vez que, são
análises do ser e não constituintes dos objetos. Por outro lado, as qualidades primárias são aquelas
que pertencem aos objetos («extensão e a solidez»). A extensão é apreciada através dos sentidos
e por esse motivo também é dependente das qualidades secundárias. A discordância entre o
filósofo empirista e o filósofo racional destaca-se novamente graças ao facto de o autor da obra
em análise não concordar que a qualidade de extensão de determinado objeto seja abstrata, ou
seja, que se associe por relação de ideias (conhecimento à priori), visto que se torna
incompreensível para o ser humano por ser impalpável.

Hume conclui esta secção com duas objeções filosóficas contra a evidência dos sentidos:

o A primeira objeção cai sobre o facto da evidência dos sentidos, baseada no instinto
natural ser totalmente oposta à racionalidade o que faz com que não haja justificação
racional para o seu uso;
o A segunda e última objeção que é apresentada está relacionada como facto de todas as
qualidades estarem no espirito e não no objeto o que torna inexplicável a causa das
perceções.

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Relação entre David Hume e René Descartes:
Com base em “Investigação sobre o entendimento Humano” – Secção XII – Parte 1 de
David Hume e “Discurso do Método” – Quarta Parte por René Descartes.

Tendo por base estes dois excertos é possível averiguar quais as diferenças e as
semelhanças entre estes dois filósofos.
Antes de partirmos para a base do conhecimento é importante analisar o antecedente do seu
estudo. O ceticismo em ambos é uma forma de evitar o erro e eventuais conclusões precipitadas,
contudo em Descartes apresenta-se de uma forma extrema com a Dúvida Hiperbólica (onde
duvida da existência do Mundo - associado à parte física - da existência de Deus e até da sua
própria existência), enquanto em Hume o ceticismo é moderado o que permite a formação de
raciocínios produtivos – ceticismo antecedente. O próprio uso desta descrença é diferente. Para
o empirista a sua função é investigar as capacidades e os limites do entendimento humano no
que respeita ao conhecimento do mundo de modo a evitar especulações inúteis e a determinar o
que é passível de conhecimento – ceticismo consequente. Já para o racionalista a descrença
exagerada serve para construir um sistema de verdades indubitáveis em que de uma verdade que
seja impossível considerar falsa possamos deduzir outras verdades que sejam certezas absolutas.
A existência dessas certezas absolutas (ideias inatas) é totalmente absurda para Hume, visto que
este acredita que a verdade seja algo momentâneo e empírico.
Ao avançarmos para a origem do conhecimento verifica-se a mesma discrepância. O racionalista
considera que os sentidos são falíveis e não são confiáveis e por isso motivo elimina-os da
equação para chegar ao conhecimento. Só as verdades descobertas pela razão e deduzidas a partir
de raciocínios lógicos, onde a verdade obtida é puramente racional, é que são confiáveis. Em
oposição, a experiência e as impressões tiradas a partir dela por meio dos sentidos são a fontes
do conhecimento para Hume, só podemos conhecer aquilo de que temos experiência. Embora
ciente das limitações dos sentidos, o empirista leva em consideração os mesmos.
A existência dos objetos representa outra problemática entre as teorias. Para Descartes um objeto
só existe se apresentar comprimento, largura e profundidade e assumiu que Deus garantia essa
evidência. Na árvore do saber (sistema esquemático que relaciona as suas três verdades metafísicas)
é nos dito que a matéria universal – única passível de conhecimento – é conhecida pela Res
Cogitans e que não faz sentido existir sem o Cogito. Descartes acredita que a extensão dos corpos
é algo puramente matemáticos e como tal baseado num conhecimento à priori. Por outro lado,
Hume afirma que a existência do objeto é independente da existência de outros seres. A extensão
dos corpos está sempre associada aos sentidos e a um conhecimento à posteriori.
A questão referente a Deus é provavelmente a maior divergência entre os sistemas filosóficos
em análise. Descartes afirma que a Res Divina, para além de verdade indubitável era quem garantia

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todo o método cartesiano, fundamentado pela evidência. Hume, por sua vez apresenta vários
motivos para a inexistência do ser todo poderoso como visto anteriormente.

Por um lado, ambos os filósofos considerem que a matemática e a lógica podem dar origem a
verdade indubitáveis. Contudo, David Hume infere que essas “verdades” refletem apenas um
saber e não conhecimento sobre os factos do mundo. Esse conhecimento deve ser adquiro
segundo um raciocínio indutivo e não através da intuição e da dedução, como René defende.
Os seus sistemas não diferem apenas na constituição, estas divergências também se verificam na
justificação para o uso do próprio e nos seus limites. O sistema cartesiano, segundo Descartes,
pode ser justificado apoiado na razão e nas verdades indubitáveis que permitem que o seu
fundamento seja confiável e quem lhe garante isso é Deus de forma clara e evidente. Não existem
limites para o conhecimento em Descartes, uma que vez que este é independente da experiência
e é verídico sempre que bem utilizado.
Na ponta oposta, para David Hume o conhecimento é uma crença em cuja verdade podemos
confiar, mesmo que não possamos justificar – nem a razão, nem a experiência têm explicação
para o tema em análise. Devemos deixar-nos guiar pelo hábito – Uniformidade da Natureza -
sem nunca acreditarmos em verdade indubitáveis ou prováveis.

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Bibliografia:
o Rodrigues, Luís (2015) Filosofia 11º ano, Plátano Editora, Lisboa

Webgrafia:
O https://criticanarede.com/hist_descarteshume.html

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