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Fui incumbida da tarefa de falar um pouco sobre minha experiência com o

Prêmio Incentivo concedido pelo Festival Primeiro Plano (edição de 2017), tarefa que a
início considerei simples, tendo em vista que graças ao apoio financeiro o filme foi
realizado, estou satisfeita com o resultado e nesse instante olho para trás com aquele
pesar conhecido por quem vive dias intensos no set e no final do processo até sente falta
das longas horas passadas de pé entre o calor da equipe e do Fresnel (que no nosso caso
foi substituído por leds, porém vou jogar aqui a carta da licença poética). Mas não está
sendo nada fácil. Enquanto escrevo, notícias pesando uma tonelada não param de
chegar, o smartphone (nem tão smart assim) vibra a cada notificação, que por sua vez é
acompanhada de um frio na espinha já conhecido – “E agora o que será?”.
Infelizmente, não consigo falar de uma experiência sem me distanciar dessa outra,
maior, e que suspeito compartilhar com grande parte daqueles que estão lendo isso: o
medo do amanhã. Sinto que cada vez mais os espaços (físicos ou não) se tornam
claustrofóbicos, para quem, como eu, acredita que arte e cultura também são bens
essenciais e que insiste em fazer disso uma ocupação. Trago aqui um breve depoimento:
enquanto rodávamos uma cena em uma galeria central lá pelas tantas da noite, um grito
um tanto quanto ameaçador dirigido à nossa equipe nos tira do transe, uma única
palavra, mas que ressoou como uma indignação por estarmos ali, naquele espaço
público, fazendo algo além de nos sentirmos acuados. E porque deveríamos? Para mim,
cinema é inquietação, e nesse ponto começo meus agradecimentos à equipe do Primeiro
Plano por ter sempre acreditado nos novos e inquietos cineastas de Juiz de Fora, no
poder de resistência das imagens e na sedimentação dos laços e encontros traçados no
espaço seguro oferecido pelo festival. Contar com pessoas que apesar de tudo ainda
mantém a crença de que podemos (e devemos) trabalhar com cinema, é um alento em
um momento de tanta descrença e descredibilidade no cenário cultural do país.
Seguimos, juntos! Um imenso agradecimento meu e de toda equipe de “Para Atravessar
Contigo o Deserto do Mundo”.

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