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Resumo Abstract
O Grupo Aberto de Apoio Psicológico (GAAP) The Open Group Psychological Support
é uma estratégia de gestão do município de (GAAP) is a management strategy in Floria-
Florianópolis, visando proporcionar atendi- nópolis, aiming to provide psychological care
mento psicológico coletivo às pessoas em so- to people in collective psychological distress
frimento psíquico na Atenção Primária. Esse in Primary Care. This study aimed to unders-
estudo objetivou compreender qual a eficácia tand how effective the GAAP on a Health
do GAAP em um Centro de Saúde, a partir Centre, from the vision of its participants. For
da visão de seus participantes. Para isso reali- this we carried out a descriptive exploratory
zou-se uma pesquisa exploratório-descritivo, research, predominantly quantitative, throu-
predominantemente quantitativo, por meio gh the application of a mixed questionnaire
da aplicação de um questionário misto e ob- and participant observation. All results were
servação participante. Todos os resultados não not directly related to the time and frequency
tiveram relação direta com o tempo e a fre- in the group and with time of drug adminis-
quência no grupo e com o tempo de uso da tration. It was noted that this group proves
medicação. Pôde-se constatar que esse grupo efficient as possible in general to decrease
mostra-se eficiente, pois possibilitou no geral the psychological distress of its participants.
a diminuição do sofrimento psíquico de seus
Key words: Group Psychological Support.
participantes.
Primary Care. Management in Public Health.
Palavras-chave: Grupo de Apoio Psicoló-
gico. Atenção Primária. Gestão em Saúde
Pública.
1
Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC (2007) e
Especialista em Saúde da Família pela UFSC (2005). E-mail: lucilamatte@gmail.com.
2
Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2003).
E-mail: dalmau@cse.ufsc.br.
3
Mestranda do curso de Administração Universitária da Universidade Federal de Santa
Catarina – UFSC. Formação Pedagógica para Atuação em EAD – UNOPAR. E-mail: mileide.
ferreira@cursoscad.ufsc.br.
Grupo Aberto de Apoio Psicológico na Atenção Primária: estudo sobre a eficácia de uma estratégia de gestão em
um Centro de Saúde no município de Florianópolis
1 Introdução
O número de pessoas com transtornos mentais e de pacientes tratados
com antidepressivos e outros medicamentos psicoativos cresce assombrosamente
no mundo (ANGELL, 2011). A doença mental aumentou demasiadamente
tanto em crianças quanto em adultos. De acordo com Angell (2011), ela é
hoje a principal causa de incapacitação de crianças. Em relação aos adultos,
a autora expõe o estudo patrocinado pelo Instituto Nacional de Saúde Mental,
realizado entre 2001 e 2003, que descobriu que um percentual significativo
de 46% deles se encaixava nos critérios estabelecidos pela Associação Ame-
ricana de Psiquiatria por ter tido, em algum momento de suas vidas, pelo
menos uma doença mental, distribuída entre quatro categorias (Transtornos
de ansiedade, Transtornos de humor, Transtornos de controle dos impulsos e
Transtornos causados pelo uso de substâncias). Para a Organização Mundial da
Saúde (OMS), a depressão será a doença mais comum do mundo em 2030, e
atualmente 121 milhões de pessoas sofrem desse problema. (PRADO, 2010)
Tal crescimento leva a refletir sobre o que está havendo: uma maior
psicopatologização e medicalização do sofrimento psíquico? De todo modo,
segundo Angell (2011), os medicamentos acabaram sendo a base dos trata-
mentos para as doenças mentais, receitadas para todos os descontentes com
a vida. Entretanto, se eles realmente funcionassem não se deveria esperar um
declínio do número de doentes e não a sua ascensão? Para a autora deve-se
pensar em alternativas tão eficazes quanto os medicamentos e mais baratas
em longo prazo, como por exemplo, a psicoterapia.
Com o Movimento da Reforma Psiquiátrica muito se avançou a respeito
do papel da Psicologia, alertando para a necessidade de considerar os aspectos
sociais, e não apenas intrapsíquicos, das pessoas em sofrimento psíquico, e
trazendo à tona o enfrentamento da inadequação da clínica psicológica tradi-
cional para uma proposta de reabilitação psicossocial (POMBO-DE-BARROS;
MARSDEN, 2008). A nova proposta tem como objetivo o trabalho em equipes
multiprofissionais e a construção de uma rede de serviços, favorecendo a
autonomia dos usuários e ampliando seus espaços coletivos. Para Pombo-
-de-Barros e Marsden (2008, p. 118) essa forma desafiadora de atuação da
Psicologia “[...] permitiu o aparecimento de melhorias consistentes na vida de
pessoas que já estavam desacreditadas ou rotuladas como ‘sem possibilidade
de tratamento’ [...]”.
2 Fundamentação Teórica
Para compreender como funciona o GAAP é necessário contextualizá-lo
ao processo de construção da saúde mental no Brasil, constituindo-se como
uma ferramenta de gestão em acordo com as políticas públicas em saúde
mental e com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Nesse sentido,
fundamentou-se essa temática a partir do estudo de outras pesquisas que tratam
do desenvolvimento da Saúde Mental na saúde pública e, especificamente,
na Atenção Primária. Por meio de pesquisas, buscou-se também estudar as
práticas de psicoterapia de grupo em diversos contextos, a fim de oferecer
suporte na avaliação da efetividade do GAAP no cuidado do sofrimento
psíquico da população atendida.
3 Metodologia
Esta pesquisa teve o caráter exploratório-descritivo, visando registrar
e analisar o grau de eficácia da atuação de um grupo de apoio psicológico,
na busca pelo aprofundamento e familiarização do fenômeno estudado.
Constituiu-se também como um estudo transversal, pois analisou em um
momento específico o fenômeno sob investigação.
Essa pesquisa foi realizada no Centro de Saúde do Saco Grande, lo-
calizado no município de Florianópolis, Santa Catarina. É uma instituição
que serve como porta de entrada ao usuário ao Sistema Único de Saúde e
presta atividades de assistência, promoção e prevenção de saúde para toda
a população sob sua responsabilidade, por meio da lógica da Estratégia de
Saúde da Família. O Centro de Saúde Saco Grande possui seis equipes de
Saúde da Família, cada qual composta por médico, enfermeiro, dentista,
técnico de enfermagem e agente comunitário; e recebem suporte técnico e
assistencial da equipe do Núcleo de Apoio às Equipes de Saúde da Família
(NASF), constituídos por pediatra, psiquiatra, assistente social, psicólogo,
nutricionista, educador físico, farmacêutico e fisioterapeuta.
Participaram da pesquisa seis usuários, de um total de oito pessoas
que estavam participando do grupo na época da pesquisa. Tratou-se de uma
amostra de conveniência, e não probabilística, que teve como critérios de in-
clusão: a participação em mais de um encontro no grupo de apoio psicológico,
ser maior de 18 anos, apresentar sofrimento psíquico, de leve a moderado,
conforme avaliação do profissional de saúde e ser encaminhado pela sua
4 Resultados e Análise
4.1 Funcionamento do Grupo Aberto de Apoio Psicológico
(GAAP)
O Grupo Aberto de Apoio Psicológico (GAAP) foi realizado por profis-
sional de Psicologia com a ajuda de uma enfermeira da equipe de Saúde da
Família e consiste no acolhimento e na compreensão da demanda de usuários
que estão em sofrimento psíquico. Essa modalidade de intervenção tem como
objetivo proporcionar acolhimento e apoio aos usuários por meio de uma
escuta qualificada, do compartilhar experiências e de permitir espaço para se
refletir e falar sobre o estado emocional em que se encontram.
Caracteriza-se como um grupo aberto e heterogêneo, de caráter infor-
mativo, reflexivo e de suporte. Nos grupos abertos há um fluxo intenso de
entrada e saída de participantes, sendo alta a rotatividade. Possibilita uma
atenção terapêutica imediata e o desenvolvimento dos temas levantados, sem
a preocupação com a continuidade do grupo. De acordo com Pires e Rasera
(2010), esse tipo de grupo possui formas peculiares de se construir o vínculo
entre os participantes e deles com o terapeuta. Sendo assim, o acolhimento
de um usuário implica uma série de negociações que explicitam o caráter
construído do grupo e seus participantes.
Os participantes do grupo eram advindos de contextos em vulnerabilidade
social, em que as demandas dos usuários estão intimamente relacionadas com
o meio em que vivem. O indivíduo está inserido em um contexto ambiental
que interfere em seu processo de desenvolvimento, como se vê nas comuni-
dades em questão, no qual o sofrimento psíquico perpassa pela realidade de
violência e outros problemas socioeconômicos e culturais. Nesse sentido, a
preocupação do terapeuta é compreender o indivíduo em sua totalidade, uma
vez que seu desenvolvimento ocorre por meio de um processo de interação
permanente entre o ambiente e as características da pessoa, no decorrer do
tempo (BRONFENBRENNER, 1979, 1996), e que afetam, dessa forma, o
processo de saúde-doença.
(N=4) também foi encaminhada devido aos sintomas ansiosos, como: medo,
dificuldade para relaxar, nervosismo e dificuldade para dormir. Vale ressaltar
que tais categorias se interpõem, pois no diagnóstico de depressão também
podem estar presentes sintomas ansiosos e psicossomáticos, e vice-versa.
Nesse sentido, as principais queixas que surgem no grupo estão relacionadas
a sintomas de ansiedade e de depressão, motivados geralmente por situações
de luto, conflitos familiares e violências. Nesses grupos aparecem pessoas de
diferentes idades, gêneros, demandas, os quais incutem a necessidade do
terapeuta em realizar uma escuta complexa, para acolher e realizar, a partir
da trama grupal, o desenvolvimento da temática a ser trabalhada, respeitando
a heterogeneidade do grupo.
Existem fatores que podem estar dificultando a adesão à atividade
grupal e a diminuição do sofrimento psíquico, como: a não adequação do
acolhimento nas expectativas do paciente, o encaminhamento inadequado,
o manejo do terapeuta e a dificuldade de horários. De acordo com Pires e
Rasera (2010, p. 6), a
5 Considerações Finais
Os resultados deste estudo marcam um início para se compreender
o Grupo Aberto de Apoio Psicológico como um dispositivo eficaz na me-
lhora do sofrimento psíquico da população atendida na Atenção Primária,
constituindo-se como uma estratégia de gestão. O que pode ser preocupante
é o uso dessa modalidade de grupo, aberto e heterogêneo, como uma tática
política para diminuir a fila de espera dos atendimentos em saúde mental,
tendo como prioridade a questão quantitativa em detrimento da qualidade
do atendimento prestado.
Todavia, a escolha do grupo psicoterapêutico na saúde pública mostrou-
-se como uma excelente estratégia a fim de se obter os resultados almejados
pela organização de saúde, pois aquele consegue abranger uma parcela maior
da população, com baixo custo e alto benefício. Os resultados dessa pesquisa
apontaram que o grupo de apoio possibilita ganhos para as pessoas em so-
frimento psíquico, uma vez que de forma geral os participantes mostraram-se
satisfeitos com a atividade ofertada.
Com este estudo ressaltou-se a importância em investir em projetos
estratégicos que atinjam o coletivo por meio da abordagem grupal. O GAAP
mostrou-se como uma modalidade de atendimento nova perante as práticas
grupais mostradas nas pesquisas já existentes, visto que a maior parte dos
grupos estudados atingem públicos específicos, homogêneos e fechados (por
exemplo: portadores de LER/DORT, violência, depressão).
O GAAP estudado funcionou como uma modalidade de grupo hete-
rogêneo e aberto, cuja configuração grupal mudava a cada atendimento. Por
isso, vale destacar a necessidade de se realizar estudos nessa temática com
uma amostra maior, com profissionais e locais de saúde diferenciados, a fim
de se compreender com maior profundidade e fidedignidade a eficácia dessa
prática como estratégia de gestão.
Entretanto, vale ressaltar que apesar de os benefícios que o grupo oferece
como estratégia de gestão estarem comprovados neste estudo, o que ocorre
na prática é a existência de poucos recursos investidos: falta de profissionais,
salas inadequadas para atividade coletiva, demanda de usuários maior que
a oferta do serviço, entre outros. Segundo Guanaes e Japur (2001), frente à
realidade em que se encontram os sistemas de saúde, considera-se fundamental
repensar as possibilidades de sobrevivência das práticas grupais no contexto
de carências da saúde pública, para que elas possam ser potencializadas em
Referências
PRADO, A. O homem não aceita mais ficar triste. Isto é Entrevista, [on-line].
2.115, 21 maio 2010. Disponível em: <http://www.istoe.com.br/assuntos/
entrevista/detalhe/74405_O+HOMEM+NAO+ACEITA+MAIS+FICAR+TRIS
TE+>. Acesso em: 25 out. 2012.