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Tribunal Regional Eleitoral do Piauí

PJe - Processo Judicial Eletrônico

05/11/2018

Número: 0601214-40.2018.6.18.0000
Classe: REPRESENTAÇÃO
Órgão julgador colegiado: Colegiado do Tribunal Regional Eleitoral
Órgão julgador: Juiz Auxiliar - Dr. Geraldo Magela e Silva Meneses
Última distribuição : 29/08/2018
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Propaganda Política - Propaganda Eleitoral
Objeto do processo: REPRESENTAÇÃO - PROPAGANDA ELEITORAL NEGATIVA - MIDIA SOCIAL -
MEIDIDA LIMINAR - ABSTENÇÃO DE COMPARTILHAMENTO DE MENSAGEM - IDENTIFICAÇÃO DE
RESPONSABILIDADE
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
CIRO NOGUEIRA LIMA FILHO (REPRESENTANTE) GEORGIA FERREIRA MARTINS NUNES (ADVOGADO)
GIOVANA FERREIRA MARTINS NUNES SANTOS
(ADVOGADO)
RÔMULO ROCHA (REPRESENTADO) ANNE KAROLINE HOLANDA FERNANDES (ADVOGADO)
PEDRO PAULO DOS SANTOS NEVES FILHO (ADVOGADO)
FACEBOOK SERVICOS ONLINE DO BRASIL LTDA. SILVIA MARIA CASACA LIMA (ADVOGADO)
(REPRESENTADO) PRISCILA PEREIRA SANTOS (ADVOGADO)
CAMILA DE ARAUJO GUIMARAES (ADVOGADO)
PRISCILA ANDRADE (ADVOGADO)
NATALIA TEIXEIRA MENDES (ADVOGADO)
RODRIGO MIRANDA MELO DA CUNHA (ADVOGADO)
CARINA BABETO CAETANO (ADVOGADO)
JANAINA CASTRO FELIX NUNES (ADVOGADO)
CELSO DE FARIA MONTEIRO (ADVOGADO)
RODRIGO RUF MARTINS (ADVOGADO)
RICARDO TADEU DALMASO MARQUES (ADVOGADO)
MILA DE AVILA VIO (ADVOGADO)
WHATSAPP MESSENGER (REPRESENTADO) MARIA REGINA BENEVIDES DIAS (ADVOGADO)
RICARDO CHABU DEL SOLE (ADVOGADO)
ESTELA PARO ALLI MATOS (ADVOGADO)
RAFAEL SONDA VIEIRA (ADVOGADO)
CAROLINA DA SILVA LEME (ADVOGADO)
CAMILA ROZZO MARUYAMA (ADVOGADO)
THIAGO LUIS SANTOS SOMBRA (ADVOGADO)
MARICI GIANNICO (ADVOGADO)
ALEX SANDRO HATANAKA (ADVOGADO)
FLAVIO SPACCAQUERCHE BARBOSA (ADVOGADO)
FERNANDO DANTAS MOTTA NEUSTEIN (ADVOGADO)
CASSIO GAMA AMARAL (ADVOGADO)
EDUARDO DAMIAO GONCALVES (ADVOGADO)
FABIO TEIXEIRA OZI (ADVOGADO)
MINISTERIO PUBLICO DA UNIAO (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
84258 31/10/2018 13:26 decisao 0601214-40 Decisão anexa
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO PIAUÍ

GABINETE DO JUIZ AUXILIAR

REPRESENTAÇÃO (11541) N° 0601214-40.2018.6.18.0000 (PJe) Teresina PIAuí


JUIZ AUXILIAR: GERALDO MAGELA E SILVA MENESES
REPRESENTANTE: CIRO NOGUEIRA LIMA FILHO
Advogados dota) REPRESENTANTE: GEÓRGIA FERREIRA MARTINS NUNES - P14314, GIOVANA
FERREIRA MARTINS NUNES SANTOS PI3646
REPRESENTADO: RÔMULO ROCHA, FACEBOOK SERViÇOS ONLlNE DO BRASIL LTDA., WHATSAPP
MESSENGER
Advogados dota) REPRESENTADO: PEDRO PAULO DOS SANTOS NEVES FILHO - P111829, ANNE
KAROLlNE HOLANDA FERNANDES PI13171
Advogados dota) REPRESENTADO: RICARDO TADEU DALMASO MARQUES - SP305630, JANAíNA
CASTRO FÉLIX NUNES - SP148263, SíLVIA MARIA CASACA LIMA - SP307184, RODRIGO MIRANDA
MELO DA CUNHA - SP266298, RODRIGO RUF MARTINS - SP287688, CAMILA DE ARAÚJO
GUIMARÃES - SP333346, PRISCILA ANDRADE - SP316907, CARINA BABETO CAETANO - SP207391,
PRISCILA PEREIRA SANTOS - SP310634, MILA DE AVILA VIO - SP195095, CELSO DE FARIA
MONTEIRO SP138436, NATÁLIA TEIXEIRA MENDES SP317372
Advogados do (a) REPRESENTADO: CAROLINA DA SILVA LEME - SP312033, ESTELA PARO ALLI
MATOS - SP309452, FLÁVIO SPACCAQUERCHE BARBOSA - RJ175512, CAMILA ROZZO MARUYAMA-
SP307626, MARICI GIANNICO - SP149850, ALEX SANDRO HATANAKA - SP172991, RICARDO CHABU
DEL SOLE - SP309132, FÁBIO TEIXEIRA OZI - SP172594, CÁSSIO GAMA AMARAL - SP324673, THIAGO
Luís SANTOS SOMBRA - DF28393, EDUARDO DAMIÃO GONÇALVES - SP132234, MARIA REGINA
BENEVIDES DIAS - DF39688, RAFAEL SONDA VIEIRA - SP315651, FERNANDO DANTAS MOTTA
NEUSTEIN - SP162603
DECISÃO

Visto e apreciados.

Trata-se de representação, com pedido de tutela de urgência, ajuizada por Ciro


Nogueira Lima Filho, então candidato à reeleição ao cargo de Senador, em face de
Rômulo Rocha, jornalista do Portal 180 Graus, e FACEBOOK SERViÇOS ONLlNE DO
BRASIL LTDA, por suposta veiculação de propaganda eleitoral negativa, caluniosa e
difamatória por meio do aplicativo WhatsApp.

Aduz o Representante que o jornalista Representado compartilhou, no grupo de


WhatsApp "Xico Prime", print de uma suposta conversa no mesmo aplicativo, em que uma
jornalista cobrava um depósito bancário a um Senador, bem como este ainda lhe prometia
uma viagem para Paris, a fim de comemorarem sua vitória nas eleições.

Colacionou o print da referida conversa, bem como o print que demonstra que foi o
citado jornalista quem compartilhou tal imagem no grupo, o qual possui 156 participantes,
dentre jornalistas, empresários, políticoS e autoridades do Piauí. ~

Assinado eletronicamente por: BRUNNA BARROS CARVALHO MARTINS - 31/10/2018 13:26:00 Num. 84258 - Pág. 1
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Sustenta o Representante que o conteúdo veiculado é uma montagem, com o
intuito de denegrir sua imagem como político, na medida em que divulga fatos inverídicos,
induzindo o eleitor a erro e prejudicando, assim, sua campanha.

Assim, em sede liminar, o Representante requer a esse Juízo que determine: a) ao


jornalista que se abstenha de continuar compartilhando tal print, bem como que
providencie a imediata retirada do conteúdo ilícito do grupo mencionado; b) ao
FACEBOOK, responsável pelo aplicativo WhatsApp, que promova a remoção da
mensagem objeto da representação, em 24 horas; c) aos Representados que forneçam
os meios necessários para identificação do responsável pela confecção do print falso
replicado pelo jornalista, para que este informe de quem foi originada a mensagem por ele
compartilhada e para que o Facebook apresente a informação dos endereços de IP's de
acesso dos telefones que criaram e/ou disseminaram o conteúdo, sob pena de multa
diária.

No mérito, requer a procedência do pedido para reconhecer a ocorrência de


propaganda negativa, caluniosa e difamatória em face do Representante, com aplicação
de multa prevista no art. 36, §3° da Lei 9.504/97, no seu patamar máximo.

O Representante requer, ainda, o encaminhamento de cópia dos autos ao


Ministério Público Eleitoral para a apuração dos crimes eleitorais tipificados nos Art. 83 e
seguintes do Código Eleitoral

Postergada a análise dos pedidos liminares para depois da apresentação de


defesa pelos Representados (Id 42251).

Em contestação, o FACEBOOK alegou sua ilegitimidade passiva em relação às


providências atinentes ao aplicativo de troca de mensagens, requerendo a extinção
processual sem resolução de mérito e a substituição da parte demandada, vez que
WhatsApp Inc. seria a proprietária e operadora do aplicativo. No mérito, requereu a
improcedência dos pedidos no que pertine ao aplicativo WhatsApp, sob alegação de que
o conteúdo veiculado no aplicativo consiste em diálogo privado entre pessoas direta e
voluntariamente relacionadas, de caráter restrito, de forma que o conteúdo ali veiculado
não está sujeito à legislação eleitoral, conforme art. 28,§2° da Res. TSE 23.551/2017.
Além disso, aduz ser impossível o cumprimento das medidas pretendidas pelo
Representante relativas ao aplicativo WhatsApp, asseverando que não tem nenhuma
ingerência sobre o aplicativo de troca de mensagens instantâneas.

WHATSAPP INC. ("WhatsApp") apresentou defesa requerendo seu ingresso como


assistente litisconsorcial e que seja reconhecida a ilegitimidade passiva do Facebook
Brasil. Alega, ainda, a inépcia da inicial, ante a ausência de identificação do conteúdo
ilícito, requerendo a extinção do feito sem resolução de mérito. Em caso de não
acolhimento das preliminares arguidas, requer que seja julgada improcedente a
representação.

Citado por edital, em razão de encontrar-se em local não sabido (Certidões Id


61021 e 72228), o Representado Rômulo Rocha apresentou defesa tempestivamente.
Aduz que seu ato resumiu-se na postagem da imagem em um grupo privado, ./-y
questionando a veracidade da informação, de forma que não teria existido má-fé em sUJ//'

\/-'\

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conduta. Alega, ainda, que as mensagens veiculadas em grupo privado de mensagens
não se sujeitam às regras eleitorais, a teor do ar. 28, §2° da Resolução TSE 23.551/2017,
e que a publicação não consiste em propaganda eleitoral negativa. Por fim, pleiteia a total
improcedência da representação.

Em parecer (Id 82420), o Ministério Público Eleitoral opina pela perda do objeto dos
pedidos liminares; pela procedência parcial dos pedidos veiculados na representação,
para fins de reconhecimento da ocorrência de propaganda negativa e caluniosa em
desfavor do Representante, sem, contudo, aplicar multa aos Representados. Manifesta-
se, ainda, pelo encaminhamento de cópia dos presentes autos ao Procurador Regional
Eleitoral, para fins de apuração dos crimes eleitorais tipificados nos art. 323 e 324 do
Código Eleitoral.

Instado a se manifestar sobre a ilegitimidade arguida por FACEBOOK SERViÇOS


ONLlNE DO BRASIL LTDA. e a indicação para WHATSAPP INC. figurar no polo passivo
da demanda (Id 42960), bem como acerca do pedido de assistência litisconsorcial Id
43436, o Representante concordou a exclusão do FACEBOOK SERViÇOS ONLlNE DO
BRASIL da lide, e a consequente inclusão do WHATSAPP INC. no polo passivo da
presente demanda.

É o relatório. Decide-se.

Inicialmente, defere-se o pleito de substituição do polo passivo da demanda,


excluindo FACEBOOK SERViÇOS ONLlNE DO BRASIL LTDA e incluindo WHATSAPP
INC., nos termos requeridos nas petições Id 42960 e 43436, com anuência da parte
Representante manifestada no documento Id 83570.

Analisando os pedidos formulados na exordial, observa-se que não subsiste o


interesse processual em relação aos pleitos liminares, quais sejam: que o jornalista
Representado abstenha-se de continuar compartilhando a alegada propaganda eleitoral
negativa, bem como que providencie a imediata retirada do conteúdo do grupo do
WhatsApp; que a pessoa jurídica Demandada promova a remoção da mensagem objeto
da representação e que os Representados forneçam os meios necessários para
identificação do responsável pela confecção do print falso replicado pelo jornalista.

Há a perda superveniente interesse processual com relação a tais pedidos


porque, com a realização do pleito, não há mais propaganda eleitoral irregular a ser
sustada. Assim, não se mostra mais útil a adoção de medida visando impedir a
desigualdade de tratamento ou oportunidade entre os candidatos, de forma que a
extinção do feito sem resolução do mérito quanto aos pleitos liminares é medida que se
impõe.

Tal conclusão decorre do comando contido no art. 485, VI do Código de Processo


Civil, in verbis:

"Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:

(..) y
(
l

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VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;"
(grifado)

Nesse diapasão, cita-se precedente do Co lendo Tribunal Superior Eleitoral:

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO. ELEiÇÕES 2014.


PROPAGANDA ELEITORAL IRREGULAR. PERDA DE OBJETO.
DESPROVIMENTO.

1. A Corte a quo assentou que a remoção em sítio eletrônico de


vídeo que representaria propaganda eleitoral irregular deveria ser
mantida até o término do período eleitoral, sob pena de aplicação de
multa cominatória.

2. Tendo em vista que a decisão de fixação de multa cominatória


destinava-se a preservar o equilíbrio da disputa eleitoral e ante a
ausência de notícia de seu descumprimento durante o período
eleitoral de 2014, o qual já se findou, eventual reforma do acórdão
regional não surtirá efeito prático algum.

3. Hipótese em que a ausência de demonstração indubitável da


utilidade e necessidade do provimento jurisdicional não habilita a
reforma da decisão que declara a perda de objeto do recurso.

4. Agravo regimental desprovido.

(TSE - AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO


N° 3683-23.2014.6.19.0000, Relatora: Ministra Maria Thereza de
Assis Moura, Data de Julgamento: 02/06/2015, Publicação: DJE -
Diário de Justiça Eletrônico, Data 24/09/2015)

Nessa senda, resulta inacolhível a preliminar de inépcia da petição inicial por


ausência de indicação da URL do conteúdo apontado como ilícito, arguida pelo
Representado WhatsApp Inc. Em razão da perda superveniente do interesse processual
quanto ao pleito de remoção do conteúdo, a indicação específica do endereço virtual da
publicação apontada como infringente mostra-se desnecessária, haja vista que não
haverá ordem para remoção da postagem.

A indicação da URL é exigida para fins de localização inequívoca do material a ser


removido, conforme se depreende da dicção do §3° do art. 33 da Resolução TSE
23.551/2017:

"Art. 33. A atuação da Justiça Eleitoral em relação a conteúdos


divulgados na internet deve ser realizada com a menor interferência
possível no debate democrático (Lei nO9.504/1997, artigo 57-J).
(. ..)

§ 3' A ordem judicial que determinar a remoção de conteúdo


divulgado na internet fixará prazo razoável para o cumprimento, não
inferior a 24 (vinte e quatro) horas, e deverá conter, sob pena de
nulidade, a URL do conteúdo específico."

Destarte, afasta-se a preliminar de inépcia da petição inicial arguida pelo


WhatsApp. '0

( '.

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Analisando meritoriamente a demanda, a publicação veiculada pelo jornalista
Representado, em grupo fechado do WhatsApp, consistiu em captura da tela em que se
deu uma suposta conversa entre o Senador Representante e uma jornalista, sugerindo
que aquele estaria pagando a profissional da imprensa ern troca de favores para sua
campanha eleitoral.

Examinando a imagem, é possível constatar, facilmente, que se trata de uma


montagem, por apresentar elementos distintos de uma real conversa via WhatsApp. No
entanto, apesar de apresentar uma falsa troca de mensagens com conteúdo desabonador
à candidatura do Representante, a publicação foi veiculada em grupo do fechado do
aplicativo, constituindo uma conversa privada entre os participantes, de modo que as
regras eleitorais relativas à propaganda não se aplicam ao caso em apreço, nos termos
do art. 28, § 2° da Res. TSE 23.551/2018, que dispõe:

Art. 28. As mensagens eletrônicas enviadas por candidato, partido


político ou coligação, por qualquer meio, deverão dispor de
mecanismo que permita seu descadastramento pelo destinatário,
obrigado o remetente a providenciá-lo no prazo de 48 (quarenta e
oito) horas (Lei n° 9.504/1997, art. 57-G, caput).
(..)
§ 2° As mensagens eletrônicas enviadas consensualmente por
pessoa natural, de forma privada ou em grupos restritos de
participantes, não se submetem ao caput deste artigo e às
normas sobre propaganda eleitoral previstas nesta resolução
(Lei nO9.504/1997, art. 57-J).

Mesmo que se reconheça a possibilidade de compartilhamentos das mensagens


por outros usuários, produzindo o que se tem denominado de "efeito virar', na presente
demanda esta conduta não resultou demonstrada.

Lecionando sobre as famigeradas "fake news", RODRIGO LÓPEl llLlO ensina:

"Sem embargo dessa notória dificuldade semântica, é possível


afirmar que uma notícia falsa envolve tanto a divulgação de um
conteúdo ou imagem inverídica como a divulgação desconectada
de seu contexto originário. Essa notícia falsa pode ser
originariamente fabricada por determinada pessoa (que cria um fato
inexistente) e também pode haver manipulação indevida de um
conteúdo já existente (altera-se um fato ocorrido). De qualquer
sorte, essa notícia falsa somente é objeto de preocupação da
Justiça Eleitoral se apresentar uma repercussão mínima no pleito -
o que não se configura quando ela se referir a um fato insignificante
no contexto da campanha eleitoral." (In lILlO, Rodrigo López.
Direito Eleitoral. 6 ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2018, p. 467/8)

No caso em apreço, não foram trazidos aos autos elementos que comprovem ter o
Representado tornado pública, em algum perfil de rede social, a falsa conversa
impugnada, possibilitando amplo acesso aos demais usuários da rede mundial de
computadores. Vê-se, portanto, ser incontroverso, na espécie, que a forma como a
mensagem foi transmitida, via grupo fechado de WhatsApp, e tendo o próprio

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Representado questionado a veracidade da imagem, que a peça impugnada não
constituiu uma propaganda eleitoral.

Nessa linha, judiciosamente, já decidiu o Colendo Tribunal Superior Eleitoral:

ELEiÇÕES 2016. RECURSO ESPECIAL. REPRESENTAÇÃO.


PESQUISA ELEITORAL SEM PRÉVIO REGISTRO. GRUPO DE
WHATSAPP. NÃO CARACTERIZAÇÃO. COMUNICAÇÃO
RESTRITA AOS VíNCULOS DE AMIZADE. DESPROVIMENTO.
INTELIGÊNCIA DO DISPOSTO NO ART. 33 DA LEI N° 9.504/97.

1. A busca do equilíbrio entre as garantias constitucionais da


liberdade de informação e a proteção da veracidade dos dados
divulgados ao longo do pleito eleitoral demanda o constante
redimensionamento do rigor dispensado pela Justiça Eleitoral em
relação ao tema das pesquisas de opinião, com vistas a resguardar
a manutenção das boas práticas democráticas.

2. Ferramentas como o WhatsApp e assemelhadas (Te/egram, Viber,


Hangouts, Skype, Chaton, Line, Wechat, Groupme) podem
apresentar feições diversas, a saber, de cunho privado ou público,
ao viabilizarem a interação individual ou por meio de conversas em
grupos e até por videoconferências.

3. Diante dos desafios impostos por essa nova sociedade


informacional, o julgador deverá aferir se houve, em cada caso,
um legítimo direito de expressão e comunicação ou se, por
outro lado, a informação foí veiculada com intuito de interferir
no comportamento do eleitorado, se teve a aptidão para levar ao
"conhecimento público" o resultado da pesquisa eleitoral e,
dessa forma, interferir ou desvirtuar a legitimidade e o equilíbrio
do processo eleitoral. Para tanto, poderá basear-se em alguns
elementos ou sintomas denunciadores de que a divulgação dos
dados extrapolou a esfera particular, tais quais: i) uso
institucional ou comercial da ferramenta digital; ii) propensão
ao alastramento de informações; iii) interesses e número de
participantes do grupo; iv) finalidade e nível de organização
e/ou institucionalização da ferramenta; v) características dos
participantes e, principalmente, do criador ou responsável pelo
grupo, pela mídia ou rede social, uma vez que, a depender do
seu grau de liderança ou da atuação como formador de opinião,
aumenta a potencialidade da informação para atingir um público
diversificado, em ambíente propício à manipulação dos
interlocutores.

4. In casu, a dimensão atribuída ao termo "conhecimento público"


não restou assentada nas premissas apresentadas pela Corte

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Regional, instância exauriente na análise dos fatos e provas.
Contudo, não há olvidar-se a facilidade do acesso contemporâneo à
tecnologia e, por consequência, à informação, nos diversos canais
existentes na atualidade.

5. Recurso especial desprovido. (RESPE - Recurso Especial


Eleitoral nO 41492 - ROSÁRIO DO CATETE - SE Acórdão de
06/03/2018. Relator Min. Tarcísio Vieira De Carvalho Neto.
Publicação DJE - Tomo 197, Data 02/10/2018, Página 9-10)
(grifado)

RECURSO ESPECIAL PROPAGANDA ELEITORAL ANTECIPADA.


DIVULGAÇÃO DE DISCURSOS PROFERIDOS EM EVENTO
PARTIDÁRIO POR MEIO DO TWITTER. TWITTER É CONVERSA
ENTRE PESSOAS. RESTRiÇÃO ÁS LIBERDADES DE
PENSAMENTO E EXPRESSÃO. NÃO CONFIGURAÇÃO DA
PROPAGANDA EXTEMPORÃNEA. 1. O Twitter consiste em uma
conversa entre pessoas e. geralmente, essa comunicação está
restrita aos seus vínculos de amizade e a pessoas autorizadas pelo
usuário. 2. Impedir a divulgação de um pensamento ou opinião,
mesmo que de conteúdo eleitoral, no período vedado pela legislação
eleitoral, em uma rede social restrita como o Twitter, é impedir que
alguém converse com outrem. Essa proibição implica violação às
liberdades de pensamento e de expressão. 3. Não há falar em
propaganda eleitoral realizada por meio do Twitter. uma vez que
essa rede social não leva ao conhecimento geral as
manifestações nela divulgadas. 4. A divulgação no Twitter de
manifestação de cunho eleitoral no âmbito de evento partidário não
tem o condão de caracterizar propaganda eleitoral extemporânea. 5.
Recurso especial provido. (TSE, Recurso Especial Eleitoral nO7464,
Acórdão de 12/09/2013, Relator (a) Min. JOSÉ ANTÔNIO DIAS
TOFFOLl, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 198,
Data 15/10/2013, Página 30)

Esse entendimento também é aplicado pelos Tribunais Regionais Eleitorais,


conforme precedente abaixo destacado:

RECURSO ELEITORAL. ELEIÇÔES 2016. PESQUISA ELEITORAL.


DIVULGAÇÃO DE PESQUISA ELEITORAL SEM REGISTRO EM
GRUPO DE WHATSAPP. NÃO CARACTERIZAÇÃO.
IMPROCEDÊNCIA DA REPRESENTAÇÃO. RECURSO
DESPROVIDO 1. A divulgação de pesquisa sem o prévio registro
perante a justiça eleitoral sujeita os responsáveis à multa prevista
no artigo 33, § 30, da Lei nO9.504/97. 2. O Whatsapp consiste em
um aplicativo de bate papo entre pessoas e, normalmente, essa -:JÍ)

comunicação está restrita aos seus vínculos de amizade e a

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pessoas autorizadas pelo usuário-administrador do grupo. 3. Não
há falar em propaganda eleitoral realizada por meio do
Whatsapp, uma vez que essa rede social não leva ao
conhecimento geral as manifestações nela divulgadas. A mera
conversa em grupo restrito de whatsapp sobre o desempenho de
candidatos não se confunde com pesquisa eleitoral. 4. Recurso
conhecido e desprovido. (Recurso Eleitoral na 33-72, Acórdão/TRE-
SE na 466/2016, Relator Juiz Fábio Cordeiro de Lima. Publicação:
PSESS - Sessão Plenária, Volume 15:25, Data 17/10/2016) (grifado)

Por fim, registra-se que, ainda que se considerasse propaganda eleitoral irregular a
publicação em análise, inexiste previsão na Lei na 9.504/97 acerca da imposição de multa
para caso de propaganda negativa.

Sob esses fundamentos, exclui-se do polo passivo da demanda FACEBOOK


SERViÇOS ONLlNE DO BRASIL LTDA. e inclui-se WHATSAPP INC., extinguindo-se o
processo sem resolução meritória quanto àquele; JULGA-SE EXTINTO O FEITO SEM
RESOLUÇÃO DO MÉRITO, relativamente aos pleitos liminares, com fulcro no art. 485, VI
do CPC, ante a perda superveniente do interesse processual e JULGA-SE
IMPROCEDENTES os demais pedidos formulados na exordial.

Intimem-se as partes e o Ministério Público Eleitoral, arquivando-se os autos na


ausência de recurso.

À Secretaria Judiciária para os expedientes necessários.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Teresina, 31 de outubro de 2018.

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