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Apresentação – Semana de História UFJF – Outubro 2018

Título: A espiritualidade mística de Santa Teresa de Ávila como expressão do falar


feminino.

Contexto Histórico:

 século XVI [Contra-Reforma / Barroco], a inquisição espanhola


conservava uma justiça eclesiástica e um tribunal das consciências que
ficavam responsáveis por definir crimes e delitos praticados contra a fé
católica.

 Ainda nesse período, assistimos ao debate entre eruditos em teologia,


ética, direito e medicina que falavam a respeito da condição de
inferioridade da mulher presumindo, dessa forma, uma deficiência física
e mental natural, que colocava em dúvida a racionalidade e
competências das mulheres.

 O nosso recorte temporal: Espanha Moderna, especificamente os anos


de escrita e publicação da obra de Santa Teresa, entre 1560 a 1582.

 segundo Joan F. Cammarata, os argumentos dos intelectuais e dos


eruditos sobre uma dita “deficiência natural feminina” revelam a
exclusão das mulheres na hierarquia eclesiástica e na educação
teológica [por isso Santa Teresa afirma que seu conhecimento não é
erudito, mas vem da experiência e de Deus], tendo sido excluídas do
sistema patriarcal, marginalizadas, inferiorizadas e silenciadas.

Objeto de estudo:

1. Mística – conceituação:

 O termo mística [mística teologia – expressão de Teresa ou misticismo]


pode ser entendido como um “conhecimento experimental, imediato,
interno e saboroso das realidades divinas. Um conhecimento no qual as
realidades de Deus são mais ‘padecidas’ do que sabida. (Dicionário de
Santa Teresa, p. 491)
 De acordo com Margareth de Almeida Gonçalves: o misticismo foi um
tipo de expressão vinculado ao mundo feminino, que mostrava uma
subjetividade que se apresentava no feminino: ao falar da “união com
Deus” ou “matrimonio espiritual”. (p. 09)
 Temas recorrentes/presentes na mística: dor, sofrimento, corpo, prazer.
4M, 2-1:
“Certas pessoas, segundo ouvi dizer, sentem o peito apertado,
sobrevindo-lhes mesmo movimentos exteriores que não podem conter.
Chegam a pôr sangue pelo nariz e experimentar outras coisas penosas.”
 A linguagem mística é de exaltação do feminino que elege símbolos
como a mãe, noiva e esposa como expressões do amor a Deus.
(Margareth Gonçalves, p. 11)
 Ainda em Margareth Gonçalves (p. 14): a mística elege o domínio das
sensações como produtor de conhecimento. Organiza-se no território
da experiência, categoria central no campo epistemológico: falam de
uma união sobrenatural com Deus que só pode ser compreendida pela
experiência, não há como relatar o inefável. [Santa Teresa deixará isso
bem claro em seus escritos:
V 18, 14: “Vejamos agora o âmago daquilo que a alma sente. Diga-o
quem o sabe, pois não se pode entende-lo e muito menos explica-lo!
[...] Quem o tiver experimentado compreenderá alguma coisa disso,
pois não posso ser mais clara, visto ser tão obscuro o que ali acontece.
Posso dizer apenas que temos a impressão de estar junto de Deus [...].
Aqui todas as faculdades faltam e ficam suspensas a tal ponto que,
como eu disse, não se percebe absolutamente a sua ação. [...].”

M 4, 1: [...] “Porque se começa aqui (nas Quartas Moradas) a abordar


coisas sobrenaturais, dificílimas de explica”.
 Certeau nos ensina a trazer o discurso místico para o terreno das
realidades sociais. No âmbito da história, a ciência mística apresenta um
passado a ser investigado. A partir da perspectiva de Michel de Certeau,
a linguagem dos autores espirituais e místicos foi inspirada pela sua
contemporaneidade, ou seja, o vocabulário espiritual acompanha a
experiência cultural, porque “a experiência espiritual se encontra
inteiramente emprenhada nos problemas postos ao homem pela sua
história e pela sua consciência de que dela possui coletivamente”. (A
fábula mística, p. 14).
 Michel de Certeau nos ensina que “uma ausência provoca a escrita1. O
estudo do discurso místico ainda apresenta uma forte ligação com a
teologia. Nesse campo do conhecimento, o interesse de pesquisa está
voltado para a experiência religiosa que o discurso místico pode
revelar, deixando lacunas da historicidade daqueles indivíduos
históricos e desse gênero textual.

2. Santa Teresa de Ávila:


 Teresa de Cepeda e Ahumada, filha de Alonso Sánchez de Cepeda e
Beatriz de Ahumada, nasceu na cidade de Ávila, Espanha, em 28 de
março de 1515, e morreu em 4 de outubro de 1582, aos 67 anos, em
Alba de Tormes.
 Com a sua escrita e a linguagem mística, a Madre Carmelita conferiu
firmeza e feminilidade diante de seus confessores, irmãs de hábito e
teólogos da época. Os textos dessa Santa, em resumo, poderá nos
revelar o lugar da mulher na sociedade moderna e na vida eclesiástica
daquele tempo.
 Os anos de escrita e publicação dos escritos de Santa Teresa de Ávila,
entre 1560 a 1582.
 O discurso místico e, não obstante, o de Santa Teresa, emerge como
gênero literário em que a mulher atua e fala de maneira pública.
 Assim, uma das chaves de compreensão da personalidade da Madre
Carmelita: originalidade, ousadia em sua trajetória reformista e os seus
escritos revelam uma mulher consciente de sua condição feminina.
 Para o teólogo Faustino Teixeira, Santa Teresa foi uma das místicas mais
importantes e provocadoras do século XVI, pois inaugurou uma das
perspectivas mais originais no campo da vida espiritual. Para ele, a
presença criativa da madre inaugura a novidade do ‘ato feminino de
falar’”2.
 A espiritualidade, através do discurso místico, revela a maneira
encontrada por Teresa para expressar a sua realidade vivida.

1
CERTEAU, Michel de. A fábula mística: séculos XVI e XVII. vol. I. Rio de Janeiro: GEN/Forense,
2015. p. 1.
2
TEIXEIRA, Faustino. Na fonte do amado, malhas da mística cristã. São Paulo: Fonte Editorial, 2017. p.
46.
 As experiências espirituais de êxtase místico de Santa Teresa
começaram por volta de seus 40 anos de idade.

3. Livros: Vida e Moradas ou Castelo Interior

3.1. Livro da Vida (1565):


 foi o primeiro livro escrito por Santa Teresa.
 Livro que deveria ser de puro relato, como uma autobiografia, foi
gestado de forma lenta e penosa pois perpassou o momento de maior
experiência mística da autora.
 O Livro da Vida é um testemunho pessoal, como se fosse uma confissão.
 No livro Vida: vemos emergir a liberdade como poderosa linha de força
da espiritualidade vivida por Santa Teresa.

V 14, 8:
[...] Tenho lido muitos livros espirituais que, embora falem o essencial,
pouco explicam; e a alma, se não for muito experiente – e experiente
ao ponto de ter chegado ao coração –, não o perceberá.
O pouco tempo de que disponho não me favorece, sendo preciso que
Sua Majestade trabalha por mim. [conhecimento que vem de Deus –
tônica dos textos místicos]
3.2. Moradas ou Castelo Interior (1577)
 Corresponde ao ensinamento maior de Teresa.
 Fruto maduro de sua vida, que reflete o estágio definitivo de sua
evolução espiritual.
 Também pode ser considerada uma nova versão autobiográfica, porém
mais sóbria e discreta.
 Mergulha na plenitude da vida cristã.
 Carregado de símbolos e metáforas: casulo, castelo, fontes, etc.
 Esse livro ensina o processo de sete jornadas da vida espiritual (A 7
Moradas).
 Escreve para as mulheres / as freiras:

(M, Prólogo)
Quem me mandou escrever, disse que estas monjas dos nossos
mosteiros de Nossa Senhora do Carmo têm necessidade de quem lhes
esclareça algumas dúvidas em matéria de oração. [...] ninguém lhes
poderia fazer tanto bem como eu, se acertar em dizer alguma coisa,
visto as mulheres se entenderem melhor umas às outras e estas irmãs
me terem tanto amor.
Ver no livro as setas laranjas e citar se houver tempo.

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