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A fórmula escolhida por Jean-Baptiste Say para definir a economia como a ciência que
estuda a forma como "se formam, se distribuem e se consomem as riquezas" [1] ,
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06/11/2018 O Marxismo, crítica da economia política ou economia política?
transmite a impressão de que isso acontece a estas últimas "se não por si só, pelo menos,
duma forma independente da vontade do homem", segundo escreveu Léon Walras, que
acrescentou: "o que seduziu os economistas para esta definição [a definição dada por
Say], é precisamente esta cor exclusiva de ciência natural que ela dá a toda a economia
política. Este ponto de vista ajudava-os especialmente na sua luta contra os socialistas.
Qualquer plano de organização da propriedade era rejeitado por eles a priori e, por assim
dizer, sem discussão". [2] O marxismo vai mais longe, mostrando, como sublinhava
Engels, que "a economia não trata de coisas, mas de relações entre pessoas e, em última
análise, entre classes; mas essas relações estão sempre ligadas às coisas e aparecem
como coisas". [3]
É certo que o marxismo, primeiro que tudo, é uma crítica a esta economia política. Marx e
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Engels têm uma conceção histórica do capitalismo e criticaram aqueles que o consideram
uma interpretação "fetichista", atribuindo um poder a simples objetos materiais. Insistem
nas relações sociais. O capital é uma relação social de produção, ligado a uma
determinada estrutura social e historicamente determinada. São os meios de produção
monopolizados por uma parte da sociedade, e que comandam, numa relação de domínio
e de exploração, os trabalhadores que vivem dos seus salários. Criticaram os clássicos
que identificaram "leis económicas" sem perceberem que estas são históricas e exprimem
as contradições da sociedade e as tendências para mudanças profundas nessa
sociedade.
Mas o marxismo, dado ser uma crítica, também é o fundamento dos conceitos chave dum
saber científico autêntico, radicalmente alternativo, em economia política. É com Marx e
Engels, no quadro duma conceção materialista da história, que vão ser determinadas as
características do modo de produção capitalista, vão ser articuladas as forças produtivas e
as relações de produção, vão ser traçados os contornos dos antagonismos de classes,
vão ser desvendados os segredos da exploração, incluindo os movimentos complexos do
capital, vai ser medida a gravidade das suas crises – e, na prática, vão ser abertos os
horizontes das revoluções proletárias que estavam a chegar.
Estas roturas, que os neoclássicos escondem, são visíveis a nível metodológico, teórico e
conceptual. i) No método: com o individualismo metodológico desaparece do pensamento
burguês toda a visão sócio-histórica do capitalismo, bloqueando as análises em termos de
classes sociais e de tendências a longo prazo. ii) No plano teórico: dada a fixação sobre a
utilidade, que abandona a realidade social dum conjunto de homines œconomici , quebra-
se a ponte entre a teoria do valor e a da exploração e, ao mesmo tempo, uma certa
ligação da economia com a política. iii) Nos conceitos: dada a substituição de um
equilíbrio a curto-prazo por ajustamento dos preços por um equilíbrio a longo-prazo por
ajustamento das quantidades, fica condenada a compreensão dos ciclos, e sobretudo das
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crises.
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[8] HERRERA R., Friedrich Engels Karl Marx - Sur le colonialisme, Éditions critiques, Paris, 2018
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