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IMPRENSA NACIONAL

Novos Rumos da Comunicação Pública


Ano 2 — nº 6 — março/abril — 2018

A POLÍTICA NACIONAL DE MOBILIDADE URBANA:


A HISTÓRIA DA LEI Nº 12.587/2012

Um rapaz latino-americano:
As urnas eletrônicas entrevista com Jotabê Medeiros Drones: como esses dispositivos
brasileiras e as eleições de 2018 a respeito da biografia de Belchior voadores afetam nossas vidas.
9 de maio
Não fique
de fora.
A democracia
é feita com

é9 ode
prazo
maiofinal Não fique
a de fora.
participação
Pessoas com
de todos.
deficiência
podem solicitar

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IMPRENSA NACIONAL
Novos Rumos da Comunicação Pública
Carta ao
Leitor
Revista da Imprensa Nacional
(Instituída pela Portaria nº 103, de 15 de maio de 2017)

Diretor-Geral: Pedro Bertone


Editor: Cristóvão de Melo É costume se dizer que no Brasil o ano só começa após o Carnaval. Mas
Copidesque: Rogério Ribeiro Lyra para nós, na Imprensa Nacional (IN), é como se o ano nunca terminasse, já que
a missão de tonar públicos os atos do governo em todos os dias úteis do ano
REDAÇÃO: é um moto contínuo, nunca para; mesmo quando todos estão merecidamente
Cristóvão de Melo festejando. Essa rotina sempre fez parte da vida do profissional da IN, é a nossa
Ezequiel Marques Boaventura “alma gráfica”. E falando em alma gráfica, iniciamos 2018, avançando na pro-
posta de transformar a IN em um birô de serviços gráficos do Governo Federal,
Marcelo Maiolino
que esteja capacitado para os desafios dos novos tempos, seja na produção de
Pedro Paulo Tavares de Oliveira impressos, ou de conteúdo 100% digital. Nesta edição, na seção No Prelo, mos-
Rogério Lyra tramos como as equipes de servidores e a própria impressora DGM 850, que
Lisandra Nascimento (estagiária) rodava o Diário Oficial da União (DOU), voltaram à atividade gráfica, apenas
dois meses depois do encerramento da edição impressa do DOU. Ainda acerca
SECRETÁRIA de nossa atividade gráfica, em Clepsidra, apresentamos a segunda reportagem,
Vânia Maria Pinto de um total de três, da série Operação Resgate, que conta a história da atuação
da IN como editora.
REVISÃO: Nesta edição, mais uma vez, lançamos mão do grande e rico acervo do
Dermeval Fernandes Dantas Arquivo Nacional (AN). A seção Alma Gráfica traz uma matéria a respeito dos
rótulos e a sua importância no desenvolvimento da indústria e também em
CAPA: nossa memória afetiva. Em Gestão, abordamos o projeto de ressocialização dos
Sirofi/Cristóvão de Melo egressos da comunidade carcerária brasileira, com o objetivo de capacitação
e profissionalização na função de auxiliar de arquivos – uma parceria entre o
ARTE E DIAGRAMAÇÃO: Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e o Arquivo Nacional.
Cláudio de Souza Além do conteúdo textual, a importância visual em publicações no forma-
to ‘revista’ é de extrema importância. Em nossa capa da edição, janeiro/feverei-
DIAGRAMAÇÃO: ro, recebemos vários elogios à sua beleza plástica, assim como a foto da con-
Geanderson Junior (estagiário) tracapa, com a família de saguis de nosso jardim. Nesta edição, na seção Saiu
Patrícia Hoyer (estagiário) no DOU, para manter o nível, trazemos mais uma uma imagem criativa para
o tema de capa: a importância para o dia-a-dia, nas grandes e médias cidades
brasileiras da Mobilidade Urbana, abordando a Lei nº 12.587/2012, que institui
CARTAS PARA A REDAÇÃO: as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana. Na contracapa, apre-
Imprensa Nacional – Assessoria de sentamos mais um exemplar da fauna de nossos jardins, o Gambá-de-orelha-
Comunicação – SIG, Quadra 6, Lote 800, -branca (Didelphis albiventris), mais conhecido, no Centro-Oeste, como Saruê.
Brasília - DF, 70610-460 Cada vez mais, a tecnologia ganha espaço em nossas vidas, seja no âmbito
e-mail: privado ou em sociedade. Nesse ano eleitoral, por exemplo, em que todos os
ascom@in.gov.br olhos da Nação se voltam para o perigo das fake news, tema que mobiliza até
o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), também chamam atenção as urnas eletrô-
nicas. Acerca desse tema, trazemos uma reportagem a respeito da tecnologia e
As opiniões emitidas nesta publicação são de
da segurança que estarão disponíveis, com foco na preparação do TSE para as
exclusiva e de inteira responsabilidade dos eleições de outubro. Na segurança pública, os drones são a novidade que veio
autores, não exprimindo, necessariamente, o para ficar, criando até uma nova categoria profissional, os “pilotos de drone”.
ponto de vista da Imprensa Nacional, ou da Essa ferramenta, se bem utilizada, será uma arma contra a violência urbana e
Casa Civil da Presidência da República. um instrumento de auxilio no trânsito, emergências e monitoramento ambiental.
É permitida a reprodução da revista, E por falar em meio ambiente, nada melhor do que descrever as be-
desde que citada a fonte. lezas do Parque Estadual do Jalapão, no estado do Tocantins. Em grande
evidência, por conta de ser locação de uma recente telenovela, a região
IMPRENSA NACIONAL – Novos Rumos da semiárida, com ares de deserto, tem uma beleza ímpar, que vale a pena ser
conhecida e preservada.
Comunicação Pública ISSN 2526-6039 é
uma publicação produzida pela Assessoria de Em Cultura, espaço que vem, a cada número, se consolidando com nomes
Comunicação da Imprensa Nacional. de peso do cenário cultural brasileiro, trazemos dessa vez, uma entrevista com
o jornalista Jotabê Medeiros, que escreveu Apenas um rapaz latino-americano,
biografia do saudoso cantor e compositor cearense Belchior, que completa um
ano de falecimento agora em abril. Finalizando essa edição, a história de um
homem que se recusou a cumprir as novas regras de um mundo digital: Os
desconectados. Um conto distópico contemporâneo, escrito por Cristóvão de
Melo, nosso Editor. Boa leitura!

http://www.in.gov.br Pedro Bertone – Diretor-Geral


IMPRENSA NACIONAL
Novos Rumos da Comunicação Pública
Ano 2 — nº 6— março/abril — 2018

SEÇÕES

7 - MOBILIDADE URBANA: um direito e um dever de todos

16 - ALMA GRÁFICA: Rótulos registram a evolução da


indústria e do comércio

21 - HIPERIDEIAS: O papel do voto

26 - CLEPSIDRA: Operação Resgate: a atuação da Imprensa


Nacional como editora

30 - GESTÃO: Começar de novo - Egressos do Sistema


Penitenciário estão fazendo valer a pena o recomeço

32 - NO PRELO: De volta à ativa

35 - SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO: Drones conquistam os


ares

40 - CULTURA: Entrevista com Jotabê Medeiros

45 - MEIO AMBIENTE: Jalapão, um deserto e suas águas

49 - CRÔNICA: Os dsconectados

IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018 . 5


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SAIU NO DOU

Mobilidade urbana:
Cristóvão de Melo

um direito e um dever de todos


Metrô - Linha 4 - Ponte O direito de ir e vir dentro
sobre o canal da Barra da
Tijuca – Rio de Janeiro-RJ
do território e o direito
(Fotos - Divulgação PAC - Flickr) social ao transporte estão
cada vez mais presentes
nas discussões cotidianas
dos brasileiros. Trata-se de
assuntos que extrapolam
o tema do transporte
coletivo e suscitam debates
relativos ao acesso a
serviços públicos, ao lazer
e à qualidade de vida nas
cidades.
SAIU NO DOU - Mobilidade urbana: um direito e um dever de todos
Quem tem de se locomover nos municípios do País depara- Foi também com a promulgação da PNMU que alguns
-se com questões concretas a respeito da mobilidade urbana. As equipamentos públicos e modos de transporte passaram a ser
distâncias a serem vencidas, o tempo de deslocamento, o conforto, exigidos como direito e vistos como imprescindíveis por milhões
a qualidade dos meios de transporte e dos equipamentos públicos, de cidadãos. Ciclovias, corredores exclusivos para ônibus, BRTs
todos esses fatores influenciam a maneira com que cada brasileiro (Bus rapid transit), VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos), VLPs
se desloca dentro das cidades, seja para trabalhar, estudar, ir às (Veículos Leves sobre Pneus) entraram no vocabulário das dis-
compras, passear, visitar parentes ou amigos, enfim, exercer o ple- cussões a respeito do desenvolvimento das cidades (glossário
no direito de ir e vir expresso na Constituição. na página 13). Hoje, nenhum governante pode ignorar a ques-
tão da mobilidade urbana. Isso se deu, em grande parte, porque
Houve um tempo em que todos esses assuntos se resumiam a lei trouxe obrigações aos municípios, regidas, fundamental-
à questão do transporte público coletivo. Foi assim que a discus- mente, pelo princípio maior de priorizar os modos de transporte
são surgiu no Congresso Nacional em 1995, quando o Projeto de coletivo e não motorizado.
Lei nº 694, que tratava de diretrizes para o transporte coletivo,
passou a tramitar. Dezessete anos depois, com a absorção de pro- A PNMU teve o condão de estabelecer uma discussão em
postas que contemplavam um espectro bem mais amplo do tema, alto nível acerca do modelo de desenvolvimento das cidades. Sen-
o governo promulgou a Lei nº 12.587, em 3 de janeiro de 2012, do a distribuição populacional no Brasil, majoritariamente urbana
criando a Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), um (80%) e com tendência de aumento da proporção da população
instrumento da política de desenvolvimento urbano, tratada no in- urbana em relação à rural, o País precisava de um ordenamento
ciso XX do art. 21 e no art. 182 da Constituição Federal. jurídico que respaldasse as ações dos governantes com vistas à
priorização de investimentos em mobilidade urbana. Nesse senti-
Martha Martorelli, Gerente de Planejamento do Departa- do, a PNMU dialoga com as políticas de promoção da habitação,
mento de Planejamento e Informações da Secretaria Nacional de de ocupação do solo, tributárias, de promoção da produtividade,
Mobilidade Urbana (Semob), do Ministério das Cidades, explica de emprego, de saúde, entre outras, que afetam e são afetadas
que, nesse período, “houve uma mudança de paradigma. Não pelas maneiras de deslocamento da população. “A Política Nacio-
existia a Mobilidade Urbana, só existia o transporte público. Todas nal de Mobilidade Urbana é uma política setorial, que faz parte
as leis, até a criação do Ministério das Cidades, em 2003, eram de uma política maior, a política urbana. Isso faz da integração do
específicas de transportes. A política pública de Mobilidade Urbana planejamento urbano com o do transporte algo fundamental. Não
é mais completa do que a ideia de transporte público, é pensar tem como planejar o transporte sem planejar a cidade”, explica
toda a cidade do ponto de vista do deslocamento”. Guadiana Cortizo, Analista de Infraestrutura do Departamento de
Hoje, as cidades brasileiras ainda privilegiam o automóvel. Mobilidade da Semob.
A frota atual é estimada em 95 milhões de veículos e, a cada ano,
entram em circulação cerca de dois milhões de novas unidades,
Como está hoje a PNMU
número que chegou a quase quatro milhões em 2012. Até a promulgação da Lei nº 12.587/2012, criando a Política
Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), as políticas públicas da
União direcionadas à melhoria da mobilidade urbana eram dis-
persas e isoladas. As últimas intervenções coordenadas, de ordem
Foto: Lisandra Nascimento nacional, nas cidades, se deram no Regime Militar, com programas
de habitação e saneamento. Já na Nova República, a Constituição
de 1988 definiu que a União tem a competência de estabelecer
diretrizes para o desenvolvimento urbano, versando, inclusive,
acerca do transporte público, e que os municípios devem executar
a política de desenvolvimento urbano, tendo competência para or-
ganizar e prestar os serviços públicos de transporte coletivo, seja de
forma direta ou por regime de permissão ou concessão.
Com o advento da PNMU, a União pôde retomar os inves-
timentos em mobilidade urbana, estanques ou dispersos no País
Marta Martorelli, desde meados dos anos 1980. A Secretaria Nacional de Mobilida-
de Urbana (Semob), do Ministério das Cidades, passou a contar
Gerente de com um instrumento legal para respaldar a missão de “fomentar a
Planejamento do implantação da política de mobilidade urbana com a finalidade de
Departamento de proporcionar o acesso universal à cidade, de forma segura, social-
mente inclusiva e sustentável”. A Semob tem buscado promover
Planejamento e ações de melhoria na mobilidade urbana das cidades brasileiras,
Informações da por meio de programas de investimento em infraestrutura destina-
dos aos estados e municípios. “Antes de 1988, a questão do trans-
Semob/Ministério porte público era uma obrigação da União. Com a Constituição,
das Cidades isso foi descentralizado e a gestão passou a ser dos municípios.
Pode-se dizer que o investimento do governo federal para resolver
Por esses dados, é fácil perceber que os municípios não de- os problemas de transporte e mobilidade urbana nas cidades foi
veriam priorizar o carro particular como meio de transporte. Basta muito baixo de 1988 a 2010”, explica Ricardo Caiado de Alvaren-
vivenciar o dia a dia de uma grande cidade na hora do rush, seja ga, Diretor do Departamento de Mobilidade Urbana da Semob.
em automóvel próprio ou em algum meio de transporte público,
para ser afetado por engarrafamentos, desconforto, superlotação, A PNMU definiu princípios, diretrizes e objetivos a serem se-
atrasos, poluição, estresse, além de problemas de segurança pú- guidos pelos integrantes da Federação (União, estados e municípios)
blica, como os abusos sexuais, os furtos e assaltos. Tudo isso é com respeito à mobilidade urbana. Também determinou que todos
consequência de um modelo inercial, que sempre privilegiou o os municípios com população acima de 20 mil habitantes devem
transporte individual motorizado, em detrimento do público, negli- elaborar planos de mobilidade urbana, seguindo os parâmetros
genciado em muitos aspectos. Essa realidade, somente há pouco por ela descritos. Com efeito, as cidades obrigadas a apresentar os
tempo, começou a ser repensada no Brasil. planos ultrapassam o número de três mil, uma vez que, também,
devem fazê-lo os municípios turísticos, os pertencentes a regiões
Nos últimos anos, dois megaeventos fizeram com que os metropolitanas, os localizados em áreas de empreendimentos com
investimentos em mobilidade urbana se multiplicassem nas gran- significativo impacto ambiental, entre outros. A Semob, desde 2015,
des cidades brasileiras: a Copa do Mundo no Brasil em 2014 e as disponibiliza, em sua página de Internet, o Caderno de Referência
Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016. A promulgação da PNMU, para Elaboração do Plano de Mobilidade Urbana (PlanMob) –
por sua vez, trouxe respaldo legal às ações dos governantes locais, http://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSE/planmob.pdf.
pressionados pelas reivindicações da sociedade por um transporte
Esse documento aborda, de maneira exaustiva, os aspectos técnicos
coletivo barato e de qualidade.

8 . IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018


Fotos: Lisandra Nascimento
mento de Planejamento. “Inclusive se já houver desembolsos em
andamento, esses serão paralisados, se os municípios não tiverem
o plano”, complementa Guadiana.
Levando em conta as dificuldades enfrentadas pelos municí-
pios – nos maiores, as financeiras, nos menores, as técnicas –, no
final de 2017, o Ministério das Cidades desenvolveu um programa
de apoio à elaboração dos planos por meio de duas iniciativas.
A primeira, a disponibilização para os municípios de até 100 mil
habitantes (87% do total de cidades que têm a obrigação de ela-
Guadiana Lopes borar os planos) de uma metodologia simplificada, que permite às
próprias equipes das prefeituras produzirem seus planos. A carti-
Cortizo, Analista lha com a metodologia está disponível no site do ministério: http://
de Infraestrutura www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSEMOB/cartilhapro-
gramadeapoioaplanos.pdf.
do Departamento
A segunda iniciativa propicia o acesso a recursos do pro-
de Mobilidade da grama Avançar cidades aos municípios acima de 100 mil ha-
Semob bitantes que necessitem contratar pesquisas e estudos técnicos
mais complexos para a elaboração de seus planos. “Agora existe
um diferencial. Desde o final do ano passado, estamos com o
programa aberto, que está financiando o plano. É um recurso

Fotos: Lisandra Nascimento

Ricardo de
Alvarenga, Diretor
do Departamento de
Mobilidade Urbana Rita Munck,
da Semob Gerente de
Projeto do
e conceituais a respeito da mobilidade urbana, cujo intuito é auxiliar Departamento
os gestores locais na feitura de seus planos.
de Mobilidade da
O termo município, que, na Constituição, designa um ente
federativo, abarca tanto uma megalópole, São Paulo, por exemplo, Semob
como uma cidade ribeirinha, caso de Santa Isabel do Rio Negro, no
Estado do Amazonas, cuja população é 1/500 avos da de São Pau-
lo e o território 40 vezes maior que seu congênere federativo pau-
lista. Os exemplos são inúmeros. Tais discrepâncias se refletem na
capacidade de cumprimento das competências atribuídas aos mu-
nicípios pela Constituição. Por sua pujança econômica e história,
as grandes cidades têm vantagens em relação a cidades menores,
principalmente as de ordem técnica, mas possuem problemas bem
maiores, já consolidados pela ocupação desordenada do território.
As diferenças, também, aparecem entre as regiões.
Quanto à questão do desenvolvimento urbano, a PNMU
ante a obrigatoriedade da elaboração de um plano de mobilidade
urbana, evita que os problemas já consolidados nas grandes cida-
des apareçam nos municípios menores. “A ideia é que se comece
a planejar antes de acontecerem os problemas mais complexos”, Paula Nóbrega,
explica Martha Martorelli. Nesse sentido, a PNMU inovou em rela- Gerente da
ção ao Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001), que estabelecia
que a elaboração de um plano de transporte urbano era obriga- Gerência de
tória apenas para municípios com mais de 500 mil habitantes. Estruturação de
Rita Munck, Gerente de Projeto do Departamento de Mobi- Projetos e Diretora
lidade da Semob, informa que “a elaboração do plano de mobili-
dade urbana é uma exigência para receber recursos federais, cujo Substituta do
prazo foi prorrogado até abril de 2019, pela Medida Provisória nº Departamento de
818/2018”, que trouxe mudanças à PNMU. “A não elaboração do
plano impede o acesso a recursos para qualquer finalidade ligada Planejamento da
a obras”, explica Paula Nóbrega, Diretora Substituta do Departa- Semob
SAIU NO DOU - Mobilidade urbana: um direito e um dever de todos

Diretrizes, princípios e objetivos da PNMU


Créditos: Elaboração: Cristóvão de Melo

10 . IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018


SAIU NO DOU - Mobilidade urbana: um direito e um dever de todos
oneroso destinado aos municípios maiores. Até então, nós exigí- cujo intuito era, além de pavimentar as vias urbanas, dotá-las de sis-
amos, mas não tínhamos nenhuma linha de financiamento para temas de drenagem, calçadas e sinalização.
poder viabilizar a confecção desses planos”, informa Ricardo de
Alvarenga. “No programa novo, que está aberto, o município A falta de uma cultura empresarial e governamental de in-
com mais de 100 mil habitantes, que não tenha plano de mobi- vestimentos em mobilidade urbana, provocada pelo hiato de 20
lidade, é obrigado a tomar o recurso destinado à confecção do anos de ausência de políticas federais coordenadas de apoio às ci-
plano ou elaborar por meios próprios, condição para realizar o dades, teve consequências nesses primeiros programas. Problemas
empreendimento”, agrega Rita Munck. de toda ordem apareceram durante a execução dos projetos, desde
inadequação de alguns à realidade local até a falta de capacidade
Além de tornar possível a retomada dos investimentos federais de gestão dos municípios para acompanhar os empreendimentos.
em mobilidade urbana e ter trazido o tema para o centro da discussão O bom momento econômico do País, à época da promulgação da
a respeito do desenvolvimento das cidades, outro grande mérito da lei, também levou à demanda por projetos de grande porte, além
PNMU foi tornar claro que o direito ao deslocamento de qualquer de projetos incrementais. Alguns desses empreendimentos não fo-
pessoa começa a partir dos equipamentos mais básicos, como uma ram entregues no tempo previsto ou tiveram suas obras paralisadas
calçada, uma pavimentação adequada e acessível, ou um aviso de por questões técnicas e financeiras.
horários em um ponto de ônibus.
Apesar dos problemas, o balanço é positivo, quando se anali-
A modificação de nossas cidades para que tenham modelos sam os investimentos do governo federal em mobilidade urbana. “O
mais saudáveis e igualitários de deslocamento urbano é tarefa que Ministério das Cidades vem, desde 2010, aportando recursos e os in-
não se resolve no tempo de duração de um governo. É algo perma- vestimentos vêm sendo executados. De lá para cá, já foram investidos
nente e contínuo, que se constitui em direito e dever de cada cidadão. pelo Ministério cerca de R$ 21 bilhões de recursos da União, tanto do
OGU, como de financiamento.
Políticas públicas de apoio à mobilidade urbana A carteira de investimentos em mobilidade urbana no Bra-
O primeiro programa de larga escala, planejado mesmo antes sil, juntando a do Ministério das Cidades, BNDES e outras fon-
da promulgação da Lei nº 12.587, destinou-se à melhoria das infra- tes de recursos do governo federal, ao final de 2017, estava em
estruturas das 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014. Priori- torno de R$ 100 bilhões, sendo que 69% desses recursos estão
zaram-se equipamentos diretamente ligados à realização do evento, sendo investidos na Região Sudeste”, explica Marcell Costa, Co-
mas, também, se buscou trabalhar com projetos que pudessem dei- ordenador de Informações do Departamento de Planejamento e
xar um legado pós-Copa para a população. Informações da Semob. Essa carteira, se totalmente executada,
ampliará significativamente os números dos modos de transporte
Em 2012, foi lançado o programa Grandes Cidades, destinado
do Sistema de Mobilidade Urbana.
a municípios com mais de 750 mil habitantes, e, em 2013, o progra-
ma Médias Cidades, para cidades com população entre 250 e 750 Os novos programas lançados pelo Ministério das Cidades
mil habitantes. Tratava-se de programas que operavam recursos do têm buscado aperfeiçoar critérios, com o intuito de garantir a exe-
Orçamento Geral da União (OGU) e de financiamento, oriundos do cução das obras, melhorar os projetos apresentados, tornar insub-
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Desde 2010, exis- sistentes os projetos não iniciados e resolver os problemas dos em-
te um programa de pavimentação, que atendia às cidades menores, preendimentos não concluídos.

Investimentos em Mobilidade Urbana do Governo Federal 2010-2017

Fonte: Caixa – Elaboração: Gein/Deplan/SEMOB/Ministério das Cidades

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SAIU NO DOU - Mobilidade urbana: um direito e um dever de todos

Previsão em carteira de investimentos por modal no Sistema de Atualmente, está em vigor o programa Avan-
Mobilidade Urbana.
Elaboração: Gein/Deplan/SEMOB/Ministério das Cidades
çar Cidades – Mobilidade Urbana, cujo intuito é
Foto: Lisandra Nascimento
financiar obras de pavimentação de vias urba-

nas, implantação ou requalificação de estações

e abrigos para sistemas de transporte público

coletivo, calçadas com acessibilidade, ciclovias,

ciclofaixas, paraciclos e bicicletários, sinalização

viária, iluminação, drenagem, arborização e pai-

sagismo. Também está contemplada pelo progra-

ma a elaboração de projetos executivos e de pla-

nos de mobilidade urbana, nos municípios com


Marcell Costa, Coordenador de Informações do
Departamento de Planejamento e Informações da SEMOB população superior a 100 mil habitantes.

VLT Rio - Parada-Estação: Praça da Harmonia. Gamboa


Fotos - Divulgação PAC - Flickr

12 . IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018


SAIU NO DOU - Mobilidade urbana: um direito e um dever de todos

Glossário da Mobilidade Urbana As principais características de um sistema BRT são as


seguintes:
Elaborado pela Secretaria de Mobilidade Urbana do
Ministério das Cidades • Linhas troncais em pistas ou faixas exclusivas para a
circulação dos veículos;
(Guia de Transporte Público Coletivo: Orientações para
definição da tecnologia e implementação de projetos; BN- • disponibilidade de faixa de ultrapassagem, pelo me-
DES/MCID/Kfw/Oficina Consultores - no prelo). nos nas áreas de paradas, dependendo da demanda;

Acessibilidade: possibilidade e condição de alcan- • estações de parada fechadas com embarque e de-
ce para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, sembarque em nível e validação do bilhete externa aos veícu-
mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, los (validação pré-embarque);
informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecno- • acessibilidade universal;
logias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao
público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na • sistemas de monitoramento e controle operacional;
zona urbana, como na rural, por pessoa com deficiência ou • racionalização do sistema de transporte alimentador
com mobilidade reduzida; (Estatuto da Pessoa com Deficiên- do sistema BRT;
cia – Lei Federal nº 13.146/2015, art. 3º);
• prioridade semafórica.
– facilidade disponibilizada às pessoas que possibilite a
Ciclofaixa: parte da pista de rolamento destinada à cir-
todos autonomia nos deslocamentos desejados, respeitando-
culação exclusiva de ciclos, delimitada por sinalização especí-
-se a legislação em vigor (Política Nacional de Mobilidade Ur-
fica (Código de Trânsito Brasileiro, Anexo 1).
bana – Lei Federal nº 12.587/2012, art. nº 4).
Ciclovia: pista própria destinada à circulação de ciclos,
separada fisicamente do tráfego comum (Código de Trânsito
Brasileiro, Anexo 1).
Fotos - Acervo Semob
Fotos - Acervo Semob

Acessibilidade para pedestres, Uberlândia (MG)

Bicicletário: local, na via ou fora dela, destinado ao Ciclovia em Brasília (DF)


estacionamento de bicicletas (Código de Trânsito Brasileiro,
Anexo 1). Calçada: parte da via, normalmente segregada e em
nível diferente, não destinada à circulação de veículos, reser-
BRT (Bus rapid transit): sistema de transporte pú-
vada ao trânsito de pedestres e, quando possível, à implanta-
blico coletivo de alto desempenho, composto por linhas de
ção de mobiliário urbano, sinalização, vegetação e outros fins
ônibus estruturais com alto nível de priorização no sistema
(Código de Trânsito Brasileiro, Anexo 1).
de mobilidade, resultando em um sistema de média ou até
de alta capacidade de transporte, podendo chegar a 35 mil Corredor exclusivo para ônibus (Corredores Cen-
passageiros/hora/sentido. trais): faixas exclusivas, localizadas do lado esquerdo da pis-
ta, normalmente no eixo central de via com pista dupla, junto
ao canteiro central separador das pistas. Proporcionam maior
priorização ao transporte público coletivo, podendo contar
com segregação física (dispositivos separadores) ou apenas
sinalização, à semelhança da Faixa Exclusiva. A restrição ao
tráfego geral, também, é de âmbito legal, gerando multas aos
Fotos - Divulgação PAC - Flickr

veículos que entram no corredor

Fotos - Prefeitura de São Paulo

BRT no Rio de Janeiro (RJ) Corredor de Ônibus Berrini, SP, com ciclovia paralela

IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018 . 13


SAIU NO DOU - Mobilidade urbana: um direito e um dever de todos
Faixa exclusiva para ônibus: medida que aumenta sendo o sistema baseado na sustentação e tração dos veícu-
o nível de prioridade aos ônibus a partir da restrição legal los sobre pneus, apoiado sobre uma viga trilho de concreto
ao tráfego geral ao longo da faixa. É permitido o uso pelo de, aproximadamente, 700 mm, em uma altura variável de
tráfego geral apenas para conversões à direita e acesso aos 8 a 15m, mas pode haver, em alguns trechos, operações em
imóveis corredor. A segregação do tráfego geral é indicada túneis subterrâneos.
por meio de sinalização vertical e horizontal restringindo o
Pavimentação de via urbana: estrutura construída
trânsito dos veículos nas faixas exclusivas, sem componentes
sobre a superfície obtida pelos serviços de terraplanagem, por
físicos para a separação
meio de camadas de vários materiais de diferentes caracterís-
Metrô: é um sistema sobre trilhos completamente segre- ticas de resistência e deformidade, para fornecer ao usuário
gado do tráfego geral, construído em via elevada, em superfí- segurança e conforto. (Instrução Normativa nº 38, Anexo 2
cie, ou, como é mais comum, subterrâneo. – Ministério das Cidades).
Foto: Rita Munck Sinais de trânsito: elementos de sinalização viária que
se utilizam de placas, marcas viárias, equipamentos de con-
trole luminosos, dispositivos auxiliares, apitos e gestos, des-
tinados, exclusivamente, a ordenar ou dirigir o trânsito dos
veículos e pedestres (Código de Trânsito Brasileiro, Anexo 1).
Sinalização: conjunto de sinais de trânsito e disposi-
tivos de segurança colocados na via pública com o objetivo
de garantir sua utilização adequada, possibilitando melhor
fluidez no trânsito e maior segurança dos veículos e pedestres
que nela circulam (Código de Trânsito Brasileiro, Anexo 1).
Trem urbano: as principais diferenças operacionais en-
tre o trem urbano e o metrô são relacionadas às distâncias
entre estações (entre 1.000 e 1.500 metros para metrô, e entre
1.200 e 4.500 metros para os trens), à aceleração/desacelera-
ção (maiores nos metrôs), aos intervalos de passagem entre
composições (da ordem de 2 minutos para o metrô, e de 4 a
6 minutos para os trens), e às velocidades comerciais usuais
(35 km/h para os metrôs e 50 km/h para os trens). Essas ca-
racterísticas ilustram bem a utilização do metrô para centros
urbanos adensados, enquanto os trens são mais utilizados nas
regiões de ocupação mais rarefeita, muitas vezes como exten-
são de linhas de metrô, e como ligações interurbanas nas regi-
ões metropolitanas. Os trens urbanos possuem infraestrutura
similar à do metrô, exceto pela alimentação por catenária.
VLT (Veículo Leve sobre Trilhos): também conhe-
Metrô de Fortaleza. Estação integrada com o VLT cido como “bonde moderno” e, no exterior, como Tramway
ou Tram, é um sistema sobre trilhos que utiliza veículos com
Monotrilho: definido como trilho singelo (único por tração elétrica, com composições de tamanhos e capacidades
sentido) pela Monorail Society, o monotrilho serve de via variáveis, entre 280 e 660 passageiros. O VLT é implantado
para o veículo de passageiro, podendo ser suspenso ou preponderantemente em superfície, e sua via prevê travessias
apoiado em uma viga. Geralmente, a estrutura é elevada, de pedestres e cruzamentos em nível com o tráfego geral.

Foto: Prefeitura de Santos

VLT de Santos (SP)

14 . IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018


Foto: Prefeitura de Salvador

Estação de metrô de Salvador (BA)


integrada com a rodoviária
IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018 . 15
ALMA*GRAFICA

Rótulos registram
a evolução da indústria e do comércio Rogerio Lyra e Pedro Paulo Tavares de Oliveira

Mais do que estabelecer a identidade do produto, layout da


embalagem documenta evolução da indústria e cria vínculo entre
indústria e consumidor
Foto: Rogério Lyra

Nas gôndolas dos supermercados, rótulos disputam a


atenção dos consumidores

16 . IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018


O
Fotos: Acervo do Arquivo Nacional
que uma camponesa suíça, um ve-
lho Quaker norte-americano e um
elefante, personagem de histórias
atribuídos aos pro-
em quadrinhos, têm em comum
dutos qualidades como: “feitos
para chamar sua atenção? Esses são
com a melhor matéria prima, livres de con-
três exemplos bem sucedidos da personalização de
taminação, mais saborosos, mais duráveis,
produtos vendidos há gerações. Textos, figuras e
bons para a saúde” e assim por diante. Esses
símbolos estampados nos produtos industriali-
e outros atributos, alguns de caráter subjetivo,
zados, na forma de rótulos, são a identidade das
são impressos nos rótulos, mais com o intuito
mercadorias, disponibilizadas nas prateleiras
mercadológico do que informativo.
e nos pontos de venda do comércio em geral.
Identificar, classificar e atribuir valor (ou rotular, Nesse processo de convencimento, vá-
hoje em dia) é algo tão natural e inerente aos rios aspectos são estudados. Podemos des-
seres humanos que fez parte do desenvolvimen- tacar alguns, como a identidade visual dos
to cognitivo de nossa espécie. A propósito, a produtos, a atribuição de valor, a memória
camponesa, o velho e o elefante, são os ícones afetiva que os produtos provocam (como o
que identificam os produtos: Leite Moça, Aveia estímulo à emoção), a visibilidade em meio
Quaker e o extrato de tomate Elefante, personi- aos outros expostos à venda, cores que traduzem
ficado pelo Jotalhão, da Turma da Mônica, série determinados estados de ânimo, localização nas
de quadrinhos de Mauricio de Souza. gôndolas e, por fim, a fidelização. Para reforçar to-
dos esses fatores, periodicamente a indústria lança
Desde os primórdios de nossa evolução
mão da reestilização e atualizações de antigas mar-
como espécie, classificamos tudo à nossa
cas, reforçando seus pontos fortes e descartando os
volta. Objetos, lugares e pessoas. Mas, foi
aspectos negativos.
após a Revolução Industrial, iniciada na
Inglaterra no século XVIII (estendendo-se Seguindo a tendência mundial, também no Bra-
mundo afora até o século XX), quando os sil, além dos apelos mercadológicos, os rótulos, hoje
novos processos de manufatura industrial em dia, são obrigados por lei (regulamentada pela
substituíram as formas artesanais, expan- Agencia Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa)
dindo, assim, a produção, a diversificação a exibir informações, como a tabela nutricional e
de produtos e a demanda, que surgiu a avisos acerca de substâncias que podem causar
necessidade de personificação dos produ- problemas à saúde dos consumidores. Dentro das
tos. Foi aí que o rótulo, uma ideia simples, normas da Anvisa, também é proibido constar
mas eficaz, tornou-se essencial para iden- nos rótulos informações que não possam ser
tificar as mercadorias de cada fabricante. comprovadas e que induzam os consumidores
Hoje, as melhores escolas de marketing ao erro: informar que um alimento possa subs-
do planeta estudam técnicas, fórmulas e tituir outro – um doce de fruta não substitui
estratégias mais adequadas de utilização a própria fruta in natura, por exemplo. Tam-
dos rótulos para cada produto, a fim de pouco, os produtos podem indicar que evitam
atingir determinado público consumi- determinadas doenças, que possuem proprie-
dor e aumentar as vendas. dades medicinais e terapêuticas, sem a devida
comprovação científica.
De tão essencial, rotular virou
sinônimo de classificar, extrapolan- O que deve constar nos rótulos
do até mesmo a esfera comercial, Ingredientes: Quais são e a quantidade
adentrando o convívio social. Podería- que cada um tem na formulação do produto (em
mos definir a prática de rotular, também, ordem decrescente). Açúcar, café, farinha de man-
como capturar a essência de algo, para, as- dioca, leite, vinagre, por exemplo, estão dispensa-
sim, formar juízos de valor, que nos ajudem dos dessa lista.
(e influenciem) em nossas decisões. Aí é que
entram as técnicas mercadológicas de con- Origem: Nome da empresa e onde é fabri-
vencimento e – por que não dizer – de mani- cado. Importante também disponibilizar informa-
pulação da vontade dos consumidores, que, ções de contato e atendimento ao consumidor.
levados pelas mensagens e apelos emocio- Lote e prazo de validade: Nos produtos
nais, são induzidos a adquirir produtos de com validade inferior a três meses, devem constar
determinada marca, muitas vezes, sem ne- dia, mês e ano. Para os demais, somente mês e ano.
cessidade, nas chamadas compras por im-
pulso. Dessa maneira,
por exemplo, são

IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018 . 17


ALMA GRÁFICA - Rótulos registram a evolução da indústria e do comércio
Conteúdo líquido: Sólidos (por gramas/quilos), líquidos (ml, litros). Em
outros casos (nas conservas, por exemplo) devem ser informados o peso total O cartão de visita do
(liquido e sólido) e o peso do conteúdo drenado. fabricante
Informação Nutricional Obrigatória: Veja a composição desse item no
modelo de rótulo nutricional, logo abaixo.
Créditos: Arquivo próprio
Atributos nutricionais complementares: Essas informações são destina-
das aos portadores de algumas doenças. Alergias e intolerâncias a determinadas
substâncias, por exemplo; presença ou não de glúten, redução de açúcar, ou algum
nutriente (light, ou diet) ou produtos que contenham porcentagens (mesmo que
mínimas) de amendoim, soja e leite, por exemplo.

Carolina Vânia Cunhantã,


Designer industrial

Não há como falar sobre o


design de embalagem antes de
se falar do significado da marca.
“Marca é uma conexão simbólica
entre uma organização, sua
oferta e o mundo do consumo.”
(Clotilde Perez1). Na Antiguida-
de, Egito e Império Romano, os
produtos eram gravados para
identificação de procedência.
Estas relações mudaram drasti-
camente com a Primeira Revo-
lução Industrial (período entre
1760 a 1860, na Inglaterra).
Naquele momento, além
da procedência, as noções de
propriedade e identidade eram
historicamente necessárias,
frente ao início das relações de
concorrência no mercado. As
novas condições de produção
e comercialização fomentaram
o surgimento do Direito Autoral:
do pequeno produtor à grande
indústria. Assim surgiram os
rótulos gravados em diversas
técnicas de gravura. Do linóleo,
técnica semelhante à xilogra-
vura, ao offset, que consiste na
repulsão entre água e gordura.
No universo da rotulagem,
mais que à pura criatividade,
deve-se estar atento a todos
os fatores que influenciam o
comportamento do consumidor.
Macrofenômenos sociais, osci-
lações econômicas e todos os
cenários que conduzem às ne-
cessidades das pessoas.
Não basta conseguir uma
Modelo vertical do rótulo de alimentos com informações rotulagem perfeita do ponto de
nutricionais obrigatórias – Anvisa vista tecnológico, se ela não res-
peitar a particularidade de cada
Créditos: Rotulagem Nutricional Obrigatória - Manual de mercado e o regionalismo de
Orientação às Indústrias de Alimentos (2ª versão atualizada cada consumidor.
- Gerência Geral de Alimentos - Anvisa
1 PEREZ, Clotilde. Signos da
Marca. Expressividade e Sensorialidade.
São Paulo. Cengage Learning, 2004.
ALMA GRÁFICA - Rótulos registram a evolução da indústria e do comércio

Fotos: Marcelo Maiolino veja, o guardanapo de papel que ostenta uma bela
impressão, aquela toalhinha ilustrada, impressa em
papel, na mesa da lanchonete, a embalagem dos
cigarros, o bilhete do metrô e o ingresso do teatro, a
pequena etiqueta da livraria, colada na contracapa

Foto: Arquivo pessoal


Fundo Dipoa, recolhido à representação do Arquivo Nacional, em Brasília

A história contada pelas vidade-fim, casos de produção de bebidas,


aprovação de produto, controle de produ-
embalagens ção, importação e exportação de produtos,
Produtos que marcaram época no Brasil e infração, mapas estatísticos da produção
conquistaram a preferência e o animal, registro de estabelecimentos, cria-
coração dos compradores ção de animais e, claro, registro de rótulos.

Em Brasília, a Coordenação Regional O recolhimento à Coreg ocorreu em


do Arquivo Nacional (Coreg) guarda um duas etapas — a primeira em 1982 e a
raro acervo de rótulos, oriundos dos pro- segunda em 2008. O Fundo ocupa uma
cessos da Divisão de Inspeção de Produtos área de 241 metros lineares, armazenado
de Origem Animal (Dipoa), do Ministério em cerca de 120 caixas distribuídas por
da Agricultura. “Os rótulos abrangem o pe- prateleiras de um depósito do andar térreo
ríodo de 1939 a 1972, mas são parte de da Coreg. Como explica Vivien Ishaq, “o Pesquisador Joaquim Marçal Ferreira de
uma documentação mais ampla, o Fundo Fundo Dipoa retrata várias representações Andrade, autor do livro Marcas de valor
Dipoa, que vai de 1933 a 1993”, informa do papel da mulher, vistas pela ótica das no mercado brasileiro
o Técnico em Assuntos Culturais da Equi- transformações na alimentação e na indús-
pe de Processamento Técnico do Arquivo tria de alimentos brasileira”. do livro”, relata o pesquisador da Biblioteca Nacio-
Nacional, Pablo Franco, que recebeu a re- Estão lá os rótulos de leite pasteurizado, nal, Joaquim Marçal Ferreira de Andrade.
portagem de Imprensa Nacional – novos sardinhas em conservas, salsichas, queijos de Estudioso do tema desde quando ingressou
rumos da comunicação pública juntamente diversos tipos. Os rótulos são igualmente uma na Biblioteca Nacional no início da década de 1980,
com a pesquisadora Vivien Ishaq, da Equi- porta de entrada para se observar o impacto Joaquim Marçal informa que naquela época a maior
pe de Acesso e Difusão Documental. dos imigrantes na alimentação brasileira. Em- parte dos efêmeros estava sem catalogar e, portanto,
No cipoal de papéis do Fundo Dipoa, presas de estrangeiros e seus descendentes, inacessível ao público. “Na década seguinte, quando
os processos vão de documentos da ativi- incluindo italianos, alemães, portugueses, tornei-me chefe da Divisão de Iconografia, viabilizei
dade-meio, como registros funcionais de holandeses, dinamarqueses e japoneses, o tratamento daquele material, para que o acesso
servidores da Divisão, a processos da ati- abertas nas primeiras décadas do século XX, público se tornasse viável”, diz Marçal, também
estão bem representados no acervo. professor de história da fotografia na Pontifícia Uni-
versidade Católica do Rio e na pós-graduação de
Biblioteca Nacional preserva Fotografia da Universidade Cândido Mendes.
impressos efêmeros Em 2000, ele publicou o livro Marcas de valor
no mercado brasileiro, pela Editora Senac Rio de
No Rio de Janeiro, a Biblioteca Na- Janeiro, seu primeiro trabalho acerca dos impres-
cional guarda importante acervo de rótulos sos efêmeros, mais especificamente sobre as emba-
catalogado e digitalizado, aberto à con- lagens e sua comunicação visual. No livro Impresso
sulta no endereço https://bndigital.bn.gov. no Brasil, 1808-1930. Destaques da história gráfica
br/. Há desde a coleção de cardápios da no acervo da Biblioteca Nacional, há uma contri-
imperatriz Thereza Christina Maria, esposa buição dele em um texto a respeito dos processos
do imperador D. Pedro II — que os juntava de reprodução e impressão no Brasil, de 1808 até
durante as suas refeições em hotéis, trens 1930. “O livro traz informações relevantes para
e navios mundo afora — até as séries de quem se interessa pelos efêmeros”, diz. A obra, or-
etiquetas e rótulos dos estabelecimentos li- ganizada por Rafael Cardoso, é um lançamento de
tográficos brasileiros que, em cumprimento 2009 da Editora Verso Brasil, Rio de Janeiro.
à legislação do Depósito Legal, os entrega-
vam à Biblioteca Nacional. Outra contribuição de Joaquim Marçal pode
ser lida no livro O design brasileiro antes do design
A Biblioteca identifica os rótulos como (São Paulo: Cosac Naify, 2005), também organizado
impressos efêmeros, porque são produtos por Rafael Cardoso. “Contribuí com um artigo sobre
passageiros, produzidos para cumprir uma a presença da fotografia nos impressos. A pesquisa-
Foto: Marcelo Maiolino
função determinada, após a qual tornam-se dora Lívia Lazzaro Rezende abordou especificamen-
Historiadores Vivien Ishaq e Pablo descartáveis ou são inutilizados. “São infin- te a questão dos rótulos”, acrescenta o professor, que
Franco, do Arquivo Nacional dáveis os exemplos de impressos efêmeros ainda indica o acervo de rótulos da Junta Comercial
que nos cercam, no dia-a-dia. Um cartaz co- do Recife, objeto de estudo da pesquisadora Edna
em Brasília lado na parede, o rótulo da garrafa de cer- Cunha Lima, em sua tese de doutorado.

Das gôndolas do passado à rede de computadores


O Arquivo Nacional prepara uma exposição virtual com parte desse acervo. Serão 202 rótulos disponibilizados no portal
do órgão, digitalizados especialmente para a mostra. A outra parte permanecerá em meio físico, mas com expectativa de
também entrar para o mundo virtual.
Em sua sede no Rio de Janeiro, o Arquivo Nacional mantém outro acervo de rótulos, o fundo Série Indústria e Comércio - Co-
mércio - Junta e Tribunal, um conjunto de cerca de mil rótulos e marcas de produtos nacionais e estrangeiros, todos da segunda
metade do século XIX. “A história desse Fundo está registrada no livro Marcas do progresso: consumo e design no Brasil do século
XIX, de Cláudia Beatriz Heynemann, Maria do Carmo Teixeira Rainho e Rafael Cardoso, em uma coedição da editora Mauad X e do
Arquivo Nacional, lançada em 2009”, informa Pablo Franco. 

IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018 . 19


ALMA GRÁFICA - Rótulos registram a evolução da indústria e do comércio

Museu da Imprensa guarda


pedras litográficas
Foto: Rubens Cavalcante Júnior

Uma das
pedras
litográficas
do acervo do
Museu da
Imprensa

No rico acervo do Museu da Imprensa não há Osvaldo Luciani, então presidente do Sindicato
rótulos impressos. Há algo mais raro ainda: quatro das Indústrias Gráficas da Grande Florianópolis,
pedras litográficas em bom estado de conservação, que a descobriu na Litografia Continental Eireli
utilizadas na impressão de rótulos comerciais. As Ltda., de Blumenau, Santa Catarina, e convenceu
peças são testemunhas palpáveis do processo lito- o proprietário Luiz Mario Guedes Villar a doá-la.
gráfico criado em 1796 por Alois Senefelder, nasci- Conta o historiador Rubens Cavalcante Junior,
do em Praga. A partir da repulsão entre água e óleo, responsável pelo Museu, que o rótulo visto nessa
a técnica usa como matriz uma pedra calcária, so- pedra destinava-se a garrafas de cachaça, “sem
bre a qual um desenho é produzido com um lápis identificação do produto, porque a marca somen-
gorduroso. O método teve rápida disseminação, te era adesivada no final da impressão”.
possível graças principalmente às obras publicadas
As outras três pedras litográficas do Museu
pelo inventor. Richard Hollis, autor de Design Grá-
da Imprensa foram utilizadas, pela ordem, na im-
fico: uma história concisa, é categórico ao definir
pressão de rótulos da empresa Alveluz para pro-
o surgimento da litografia como momento funda-
dutos como água sanitária, desinfetante e sabão
mental para a evolução do que hoje chamamos de
líquido, e na impressão de rótulos da aguardente
design gráfico, por começar a integrar produção
Jurubeba, ambas doadas pela Confederação Na-
artística e industrial.
cional dos Gráficos e pelos Sindicatos dos Gráficos
A incorporação dessas raridades se deu a de Guarulhos-SP. Por último, a pedra de impressão
partir de 2015, quando a Imprensa Nacional com- de rótulos de produtos comestíveis — pessegada,
pletou 207 anos e ganhou a pedra que faltava no bananada e laranjada, doação da Associação Bra-
acervo do Museu. Contribuição do empresário sileira de Indústrias Gráficas do Distrito Federal.

20 . IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018


hiperideias
O papel do
Ezequiel Boaventura

voto Depois de 22 anos, desde o seu


lançamento em 1996, as urnas eletrônicas
voltam ao centro das atenções com a
discussão a respeito do voto impresso
Urna testada por hackers na avaliação pública de segurança
promovida pelo TSE

Foto: Nelson Jr./Ascom/TSE, Brasília , 27/11/2017


HIPERIDEIAS - O papel do voto

Em outubro deste ano, tecnologia, substituiu a forma conven-


cional de votação, feita em cédulas de
aproximadamente 150 milhões de elei-
papel preenchidas manualmente.
tores serão chamados a comparecer
aos postos de votação, por todo o País, O secretário falou, ainda, acerca
para as eleições que elegerão senado- da história da implantação do voto

Foto: Pedro Paulo Tavares de Oliveira


res, deputados federais, estaduais, go- eletrônico no Brasil, como foi desen-
vernadores e presidente da República. volvido o projeto de tecnologia das
Agora, porém, pela primeira vez, desde urnas eletrônicas, os dispositivos de
a implantação das urnas eletrônicas, segurança usados pelo TSE para ga-
em 1996, o equipamento funciona- rantir transparência, segurança e o
rá, em alguns locais, juntamente com sigilo do voto, e outros assuntos vol-
impressoras. A inovação surgiu após tados ao processo eleitoral eletrônico
ampla discussão na sociedade, que e às eleições de 2018.
se estendeu ao parlamento, a respeito
da necessidade de comprovação física PONTO A PONTO
(impressa em papel) dos votos. Apro- A evolução do voto até a era digital
Mudança de paradigma Giuseppe Dutra Janino, Secretário de
vada pelo Senado, a Lei n° 13.165, de
“A primeira urna eletrônica foi Tecnologia da Informação do TSE
2015, garantiu a implantação do voto
impresso para o pleito de 2018 (ver box experimentada nas eleições municipais
pág. 24). O Tribunal Superior Eleitoral de 1996. Na época, ela foi utilizada onde há a intervenção de pessoas exis-
(TSE), porém, alega impossibilidades em um terço das seções eleitorais. Isso tem os vícios e as virtudes típicos do
administrativas, técnicas e financeiras representou algo em torno de 70 mil ser humano, além da lentidão, erros e
para implantar 550 mil urnas eletrôni- seções, em que votaram cerca de 30 fraudes”. Consequentemente, ressaltou
cas providas de impressoras. A solução, milhões de brasileiros”, relembra Giu- Giuseppe, “o resultado das eleições le-
por enquanto, é dotar de impressoras seppe. Em contraste com as eleições de vava semanas para ser concluído”. Se-
apenas 30 mil urnas, 5% do total. hoje, a realidade de mais de 20 anos gundo ele, “essa demora e as fraudes
A revista Imprensa Nacional – no- atrás, mostra o quanto o Brasil avan-
foram os grandes motivadores da deci-
vos rumos da comunicação pública con- çou, sem tropeços, desde então, em
são de informatizar as eleições e fizeram
versou com o Secretário de Tecnologia relação à computação e à forma de
com que alguns agentes públicos im-
da Informação do TSE, Giuseppe Dutra apuração dos votos dos eleitores.
portantes, principalmente os sucessivos
Janino, a respeito da segurança das ur-
Rapidez presidentes do TSE, agissem no sentido
nas eletrônicas. Para ele, embora ainda
haja desconfiança e desinformação, as Antes da implantação das urnas de mudar esse cenário”.
urnas eletrônicas vieram para ficar e eletrônicas, em 1996, nas eleições mu- Transparência
hoje representam um avanço significa- nicipais em cidades com mais de 200
tivo na mudança de paradigma que o mil habitantes, a votação a apuração Para garantir a lisura das eleições,
País viveu em 1996, quando a automa- dos votos eram manuais; ou seja, de- o TSE precisou compatibilizar transpa-
ção do processo eleitoral, por meio da pendia da intervenção humana. “E rência com o sigilo do voto, assegurado

Urnas Eletrônicas preparadas no TRE-MT. Cuiabá-MT, 29/01/2018


Foto: Roberto Jayme/Ascom/TSE
HIPERIDEIAS - O papel do voto
pelo art. 14 da Constituição Federal. que não receberam a colaboração do acordo com o secretário, são provas
“São duas diretrizes antagônicas: eu Brasil, uma vez que a urna do TSE definitivas de que o sistema é seguro
não posso privilegiar a transparência não é, e nunca foi, compartilhada com e atende às expectativas do eleitor e
de modo que venha interferir no si- outros países. O secretário explicou, a escolha do voto que ele faz é justa-
gilo e não posso focar no sigilo por- ainda, que a empresa que materializa mente aquela que está sendo apurada
que existem aspectos importantes de a urna eletrônica não é detentora do na urna eletrônica.
transparência para a credibilidade projeto. “Se você abre uma licitação
Fiscalização
do cidadão que está ali interagindo para uma empresa a, b ou c, o projeto
com o processo eleitoral”, explica, não vai ser de nenhuma delas, sempre Giuseppe explica que existem
acrescentando que, entre as princi- vai ser do TSE”, garante Giuseppe, vários meios de o cidadão acompa-
pais medidas adotadas pelo TSE para acrescentando que a urna eletrônica nhar, auditar e verificar o processo
permitir que o cidadão tenha acesso foi desenvolvida para atender às carac- eleitoral. Primeiro, todos os sistemas
a mecanismos de auditabilidade, es- terísticas e às peculiaridades do Brasil. que são desenvolvidos pelo próprio
tão a votação paralela, a abertura Outra demanda importante que a urna TSE em suas próprias instalações e
dos programas e a sua assinatura por eletrônica atendeu foi que ela abriu por sua própria equipe são abertos
parte dos partidos. oportunidade às pessoas analfabetas para alguns interessados, como os
e com deficiência visual de registrarem partidos políticos, o Ministério Públi-
“Nós entregamos vários requisi- co Federal, a Ordem dos Advogados
os seus votos, procedimento que não
tos das urnas eletrônicas para os par- do Brasil, o Congresso Nacional, a
ocorria no processo anterior, explicou.
tidos, como os votos para realizarem Polícia Federal e as universidades.
apuração e totalização totalmente in- Recorde Ao fim dessa averiguação, as urnas
dependentes. Essa iniciativa permite são lacradas e blindadas, e todos os
Para as eleições de 5 de outu-
que as urnas tenham uma espécie de participantes assinam digitalmente
bro deste ano, estima-se que votarão
caixa preta”, citou. Desse modo, ex- os certificados digitais. “Isso significa
150 milhões de eleitores, distribuídos
plicou Giuseppe, tudo o que acontece que cada programa que está ali pode
em torno de 470 mil seções eleitorais.
com elas, desde o momento em que ser verificado de qualquer ponto do
Serão disponibilizadas 550 mil urnas
são ligadas até o momento em que Brasil, o que é, na prática, uma for-
eletrônicas para equipar todas essas
são encerradas, é gravado, de modo a ma de auditoria disponibilizada pelo
seções. “Isso nos dá o título de maior
viabilizar a verificação e a identificação TSE”, detalha Giuseppe, ao explicar
eleição informatizada do mundo, com o
biométrica do eleitor. Segundo ele, o que se uma vírgula, que seja, for alte-
mesmo software rodando e acontecen-
cadastramento biométrico veio para rada, a assinatura eletrônica não vai
do no mesmo dia”, enfatiza Giuseppe.
dar mais integridade ao processo para ser homologada mais. Em suma: é
garantir que uma pessoa não passe por Desinformação – fake news possível verificar, com toda seguran-
outra no momento de votar, pois não ça, de qualquer ponto do País, se o
existem duas impressões digitais iguais Para o secretário, toda descon- software que está instalado na urna é
no mundo. “Temos ainda o banco de fiança não passa de desinformação, o mesmo que foi desenvolvido pelo
dados que analisa essas impressões di- principalmente em razão de notícias TSE e se está íntegro, sem a inclusão
gitais e faz uma verificação dessas bio- distorcidas ou fake news, propagadas de linhas de código que, secretamen-
metrias”, informou. pelas redes sociais, que, segundo sua te, alterem o voto. Em segundo lugar,
opinião, quanto mais sensacionalis- há uma cópia de segurança guardada
História tas e inverídicas, mais se propagam. na sala-cofre, permitindo que se ve-
Uma equipe de notáveis formada “Infelizmente”, lamenta e completa, rifique até mesmo, posteriormente às
por engenheiros, consultores e espe- “ainda existem muitas histórias fanta- eleições, a contabilidade dos votos.
cialistas vindos do Instituto Nacional siosas circulando. Isso traz uma sus- Por fim, hoje, o eleitor pode registrar o
de Pesquisas Espaciais (Inpe), do peita infundada para o cidadão, mas, resultado que saiu no âmbito da seção
Instituto Tecnológico de Aeronáutica à medida que ele se informa respeito eleitoral. Na urna, quando o mesário
(ITA), do Ministério das Comunica- do processo eleitoral, ganha confian- encerra a votação, ele digita um có-
ções, e por outros especialistas de ins- ça. Ainda segundo Giuseppe, o Brasil digo e imprime no papel o resultado.
tituições de pesquisa, como o Centro tem um sistema eleitoral informatiza- Nesse documento, é gravado um có-
de Pesquisa e Desenvolvimento em do com mais de 22 anos de utilização digo bidimensional, que é distribuído
Telecomunicações (CPqD), e de várias e até hoje não foi constatada fraude aos partidos e permite que qualquer
universidades brasileiras, desenvolveu alguma. “Tivemos várias inspeções, um, por intermédio de um aplicativo,
o projeto básico da urna eletrônica há todas elas devidamente investigadas possa registrar os resultados que saem
22 anos. “Eu, na qualidade de servi- por instituições competentes, como nas seções eleitorais e, posteriormen-
dor do TSE, tive a oportunidade de a Polícia Federal, por exemplo, e ne- te, verificar na Internet, onde são pu-
trabalhar na equipe desenvolvedora nhum caso constatado de fraude. Nós blicados todos os resultados usados na
desse grande projeto”, contou Janino, temos os testes públicos de segurança, totalização dos votos. “Desse modo, o
ressaltando que a urna eletrônica é já realizamos quatro edições, nas cidadão consegue ser um fiscal ativo
um projeto do TSE. quais permitimos a hackers tentar do processo eleitoral e averiguar se o
quebrar os dispositivos de segurança resultado final foi aquilo que foi con-
Exclusividade de modo a aperfeiçoarmos e melho- tabilizado. Então, existem vários me-
Giuseppe conta que alguns paí- rarmos o sistema. Nenhum país do canismos de verificação que somente
ses adotam soluções semelhantes, mas mundo faz isso”, enfatiza. Essas, de a tecnologia proporciona”.

IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018 . 23


HIPERIDEIAS - O papel do voto

Uma novela de vários atores e muitos capítulos


Rogério Lyra

Desde 2015, com a aprovação da Lei nº 13.165/2015, que determina o voto impresso
em 100% das urnas eletrônicas para o pleito de 2018, o que parecia a solução para a
polêmica que envolvia as denúncias de fraudes e a suposta fragilidade do sistema das
urnas se tornou uma novela, da qual, milhões de brasileiros assistem atônitos ao intri-
cado enredo, esperando ansiosos por um desfecho.
Foto: Marcelo Camargo – Agência Brasil

Audiência pública de
13 de março na CCJ no
Senado, a respeito da
impressão do voto

Capitulo 1. Tudo começou depois da mais acirrada disputa presidencial (as eleições de 2014) desde a redemocra-
tização do País e do advento das urnas eletrônicas. Após o resultado do pleito, o partido do candidato derrotado pediu
auditoria na votação, alegando “descrença quanto à confiabilidade da apuração dos votos e à infalibilidade da urna eletrô-
nica”. Surgiram, então, em sites na Internet e nas redes sociais, principalmente no Whatsapp, uma enxurrada de denúncias
a respeito de urnas fraudadas, por meio de programas que alteravam os resultados e inseridos por hackers. A discussão
cresceu, espalhando-se por todos os setores da sociedade e correntes partidárias, chegando até o Congresso Nacional.
No Legislativo, na Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal (CCJ), a questão foi debatida e transformada em
Projeto de Lei, que, após aprovação pelo Congresso, foi sancionada pela Presidência da República, criando a Lei do voto
impresso, que determina a instalação de impressoras acopladas em 100% das urnas eletrônicas, já para o pleito de 2018.

Capítulo 2. A discussão, porém, não se encerrou e, após análises internas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ainda
no ano passado, este decidiu que não havia condições técnicas, administrativas e nem financeiras para acatar a decisão de
adotar o novo sistema em 100% das urnas eletrônicas, ou cerca de 550 mil. Ficou decidido, então, que seriam disponibili-
zadas apenas 5% das urnas com o novo sistema (urnas com impressoras para o voto impresso).

Capítulo 3. A polêmica continuou, com a entrada


Foto: Marcelo Camargo – Agência Brasil

em campo do Ministério Público Federal (MPF), quando


a Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, proto-
colou uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI), na
qual pede ao Supremo Tribunal Federal (STF) que impeça,
com uma decisão liminar (provisória) urgente, a impres-
são do voto.

Raquel Dodge,
Procuradora-Geral da
República

24 . IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018


HIPERIDEIAS - O papel do voto

Foto: Marcelo Camargo – Agência Brasil

Tarcisio Vieira Neto,


Ministro do TSE, na
reunião da CCJ

Capitulo 4. Tal desdobramento fez com que as críticas, as discussões e a tensão a respeito do assunto se acirrassem,
especialmente no Senado, que, a pedido do Senador Lasier Martins (membro da Comissão de Constituição e Justiça
– CCJ), convocou duas audiências públicas, nos dias 6 e 13 de março. Na primeira, foram ouvidos quatro especialistas
das áreas de eletrônica, de Tecnologia da Informação (TI) e processo eleitoral, os quais enfatizaram a importância de se
adotar o voto impresso, acoplando-se as urnas eletrônicas a impressoras. Essa medida garantiria a lisura, a segurança
do pleito e a possibilidade de auditagem. Na segunda, assim como na primeira, o presidente do TSE, ministro Luiz Fux
foi convidado, não comparecendo, mas enviou em seu lugar, como representantes do Tribunal, o ministro Tarcisio Vieira
Neto, o Secretário de Tecnologia, Giuseppe Janino, e a juíza auxiliar, Ana Lúcia Aguiar. Os três responderam, por cerca de
três horas, aos questionamentos dos parlamentares e do público presente, quando reenfatizaram a segurança das urnas
e explicaram as dificuldades, técnicas e administrativas, bem como a falta de orçamento para cumprir a medida, em 100%
das urnas, para as eleições de 2018.

Foto: Marcelo Camargo – Agência Brasil Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom – Agência Brasil

Ana Lúcia Aguiar, juíza auxiliar, na Senador Lasier Martins


audiência da CCJ

Capítulo 5. Após a participação dos técnicos na audiência publica do dia 6 de março, que buscaram demonstrar
que as urnas eletrônicas não são 100% invulneráveis, o senador Lasier Martins observou: “Ora, eleição com transpa-
rência não tem preço”. Na ocasião, os especialistas ainda informaram que ao menos 450 mil urnas já possuem condi-
ções de nesse pleito cumprirem a determinação da Lei, acoplando-as em impressoras (o que reduziria muito o custo
de implantação). Para o senador, o Brasil é o único país com sistema eletrônico de votação que resiste a adotar o voto
impresso a título de transparência e auditagem.

IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018 . 25


CLEPSIDRA
Operação Resgate:
a atuação da Imprensa Nacional
como editora
Pedro Paulo Tavares de Oliveira (*)

Quando o Governo Federal desativou


a atividade editorial da Casa em 2002, a informatização engatinhava na
Divisão de Editoração: a emissão de orçamento estava automatizada, o
controle de qualidade começava a receber originais acompanhados de
disquetes, os revisores iniciavam a correção de textos na tela e o Núcleo
de Editoração Eletrônica já abolira os gabaritos, anúncio de que aglutinaria
as seções de composição e de paginação manuais, como aconteceu
logo adiante. Na programação visual, embora ainda se ressentisse de
uma impressora de provas coloridas, as artes-finais ganhavam ares de
modernidade com o auxílio do programa Corel Draw

(*) Chefe da Divisão de


Editoração da Imprensa Nacional
entre 8 de junho de 1994 e 14
de outubro de 1999. Atualmente
trabalha na Assessoria de
Comunicação, na equipe de
reportagem desta revista.
CLEPSIDRA - Operação Resgate: a atuação da Imprensa Nacional como editora

Na edição anterior, vimos que a (Segraf), Programação Visual (Seprov), áreas meio e fim, como resultado do
publicação de livros na Imprensa Nacio- Paginação (Sepag), Composição (Se- seu primeiro Planejamento Estratégico,
nal é irmã gêmea da divulgação de atos comp) e de Registro e Controle Edito- elaborado com a consultoria da Com-
oficiais do Estado brasileiro. A atuação rial (Serced). Até o final da década de panhia de Processamento de Dados do
editorial da Casa marca o próprio nasci- 1990, a equipe da Died compunha-se Estado do Rio Grande do Sul (Procer-
mento das editoras no País, a partir da de 65 profissionais, entre diagramado- gs). Na Died, como nas demais divi-
impressão de Relação dos Despachos res, paginadores, revisores, digitadores, sões, os servidores viveram um intenso
Publicados na Corte pelo Expediente orçamentistas e outros técnicos. período de capacitação.
da Secretaria de Estado dos Negócios
Um quadro minguado a cada ano Na então Divisão de Jornais Ofi-
Estrangeiros e da Guerra, reconhecido
em razão do elevado número de apo- ciais (Dijof), hoje Coordenação de Edi-
como o primeiro livro impresso no Bra-
sentadorias, sem reposição de mão de toração e Divulgação Eletrônica dos
sil, rodado nas oficinas da Impressão
obra até o momento em que o Gover- Jornais Oficiais (Coejo), a moderniza-
Régia em 13 de maio de 1808, mesmo
no extinguiu a atividade de impressão ção seguia no mesmo ritmo: a disponibi-
dia da criação do Órgão. Em paralelo,
plana — alimentada pela Died — por lização das edições eletrônicas começou
como veremos adiante, a Imprensa Na-
meio do Decreto nº 4.260/2002. Em em março de 1997, com a divulgação
cional atuou como gráfica oficial e ain-
consequência do decreto, o braço edi- de parte da Seção 1 do Diário Oficial da
da atua, embora em menor escala e di-
torial da Casa foi desativado no mesmo União na recém-lançada página eletrô-
recionada às demandas da Presidência
ano, com a redistribuição da maioria nica. “O ingresso da Imprensa Nacional
da República e órgãos por ela autoriza-
dos seus servidores para outros órgãos na internet ocorrera em 28 de janeiro
dos. Tudo em conformidade com o De-
da Administração Pública. 1997, com a divulgação de informações
creto de criação da Impressão Régia, tal
como se vê nesse trecho daquele docu- Mas até aquela fatídica data, a edi- do Museu da Imprensa, Biblioteca Ma-
mento histórico, assinado pelo príncipe tora Imprensa Nacional mantinha cres- chado de Assis, obras comercializadas,
Dom João: “Sou Servido, que a Casa, cente a produção de títulos. Ao final de entre outras. Os jornais oficiais começa-
onde elles se estabelecerão, sirva inte- cada exercício os relatórios apontavam ram a ser disponibilizados por comple-
rinamente de Impressão Régia, onde uma produção variada de livros, livre- to a partir de 2001”, afirma Alexandre
se imprimirão exclusivamente toda a tos, cartilhas, cartazes, material de ex- Miranda Machado, atual Coordenador-
Legislação e Papeis Diplomaticos, que pediente interno e externo e panfletos. -Geral de Publicação e Divulgação.
emanarem de qualquer Repartição do Revistas totalmente diagramadas aqui, Naquela fase embrionária da edi-
Meu Real Serviço, e se possão imprimir como a do Ministério do Turismo, uma toração eletrônica de obras, as seções
todas, e quaesquer outras Obras...”. edição bilíngue distribuída em voos da Died ainda não formavam uma
internacionais. Ou já recebidas em fo-
Nesta segunda reportagem da sé- rede, mas já conviviam com alguns
tolitos prontos para gravar em chapa,
rie de três, o salto no tempo permanece elementos inovadores. Na Segraf, os
como a Cartilha Zumbi dos Palmares,
na Divisão de Editoração (Died), agora orçamentistas adaptavam-se ao Cal-
do Ministério da Educação, ambas com
com mais informações dos demais se- cgraf, sistema eletrônico de apropria-
tiragens na casa de milhões.
tores de sua estrutura. Além da Seção ção de custos, emissão de orçamentos
de Revisão (Serev), abordada na maté- Informatização — No final da e abertura de ordens de serviço (OS),
ria anterior, também integravam a Died década de 1990, a Imprensa Nacional integrado com o almoxarifado. A Ser-
as seções de Custos Gráfico-Editoriais decidiu informatizar os processos das ced, que até então recebia as OS da

Amostra de sinais de revisão utilizados à época da Divisão de Editoração

Crédito: Petê Rissatti - Tradwiki

IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018 . 27


CLEPSIDRA - Operação Resgate: a atuação da Imprensa Nacional como editora
Foto:Rogério Lyra Foto:Arquivo Ascom

Siro Alves da Silva chefiou a Seprov e ainda atua Valdir Braz Lima dirigiu a Serev entre 1980 e 2002
como programador visual

Segraf acompanhadas somente dos overlay, precursoras dos modernos datilografia IBM, as fotocompositoras
originais da obra em um calhamaço de sistemas de prova de cor digital. O e as composer — as três formas de di-
papel, passou a recebê-los juntamente overlay era um papel de baixa gra- gitação de textos da Secomp. As com-
com um disquete. “Nossa função era matura sobreposto ao leiaute. “Esse poser eram um conjunto de computa-
acompanhar a editoração das obras quadro evoluiu quando começamos dor e impressora de margarida.
pela Died, do recebimento da OS até a a substituir tituleiras, pranchetas, ré-
A produção se distribuía ao longo
o encaminhamento à impressão, man- gua e compasso por nosso primeiro
de 24 horas, supervisionada pela chefe
tendo o cliente informado do anda- programa de tratamento de imagem,
Valdice Pereira Correia e seu substituto
mento do trabalho”, lembra Paulo Ce- o Corel Draw, ainda em suas versões
Jorge Ferreira, que trabalhavam du-
sar Abreu de Santana, último chefe do 3 e 4”, recorda Siro Alves da Silva
rante o dia, mas ao saírem, definiam as
setor e hoje Gerente de Segurança da Filho, chefe de uma Seprov à época
tarefas do pessoal da noite. Uma das
Informação e Comunicações da Coor- com apenas quatro servidores, mas
poucas servidoras remanescente dessa
denação de Tecnologia da Informação. que conseguiu a façanha de reforçar a
fase, Julieta Aparecida Mota, informa
equipe com mais seis programadores
Na Serev, a correção na tela do que “o trabalho do Nued resultava em
visuais ao repassar a chefia para Mari-
computador acelerou a execução do um arquivo eletrônico gerado no pro-
sa Rodrigues da Cruz, em 1995.
trabalho, após treinamento conduzi- grama Corel Ventura e depois enviado
do pelo chefe da Serced, Paulo Cesar Na Sepag, a equipe chefiada por à Seção de Fotomecânica da Divisão
Abreu de Santana, eventualmente Maricélia de Oliveira colava as fitas de de Produção Gráfica para montagem
auxiliado pelo chefe do Nued, Julio filme vindas da Secomp em gabaritos eletrônica de páginas, utilizando-se
Cesar de Albuquerque Campos. “O de papel de tamanho variável confor- dos programas Oman e Impostrip”. A
arquivo era dividido em várias partes me as medidas do livro. Muito estile- sequência se completa com a extração
e repassado aos computadores dos te e cola depois, o texto seguia para a do filme das processadoras Avantra,
revisores. Houve dificuldade no iní- segunda revisão, retornava para emen- gravação de chapa, impressão, acaba-
cio porque o treinamento acontecia das e mais emendas e, só então, seguia mento e expedição dos livros.
durante a execução do trabalho, pois para o “imprima-se” do cliente, que
Serviços gráficos — A Im-
não podíamos nos dar ao luxo de ti- não raro, ainda o devolvia com um fes-
prensa Nacional concentrava na Died
rar um tempo só para treinar, devido tival de emendas.
a atuação de editora e de receptora
ao grande volume de serviço. A tec-
O Nued já nasceu com a missão de serviços gráficos. Em ambas situ-
nologia foi um grande avanço e aca-
de absorver as atividades da Secomp ações, antes mesmo da abertura da
bamos com o vaievém das Ordens de
e da Sepag, embora a migração tenha obrigatória ordem de serviço, havia
Serviço entre a revisão e a digitação”,
se dado paulatinamente. A equipe ini- tentativas, quase sempre vãs, de se es-
destaca o jornalista Valdir Braz Lima,
cial se formou justamente com servi- tabelecer cumprimentos de prazos na
chefe da Serev entre 1980 e 2002.
dores deslocados da Secomp e alguns Died e na Divisão de Produção Grá-
Na Seprov, ainda se aguardava a da Serev, sob a chefia do técnico em fica. Trabalhos novos eram precedidos
aquisição de uma impressora de pro- informática Julio Cesar de Albuquer- de reuniões entre representantes dos
vas coloridas que substituísse as anti- que Campos. Exímios digitadores, dois setores com o cliente, quando se
quadas provas de cromalin, impressas os profissionais se adaptaram logo acordavam os prazos contados a partir
a partir das artes-finais com marca- ao teclado suave dos computadores, da emissão da Nota de Empenho pelo
ções de cores e de retículas sobre um mais confortáveis que as máquinas de órgão que encomendava o serviço.

28 . IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018


CLEPSIDRA - Operação Resgate: a atuação da Imprensa Nacional como editora

As interrupções ocorriam me- Conselho Editorial — A di- Tribunal Federal; Ottaviano Carlo de
nos por quebra de equipamentos e de mensão alcançada pela atuação da IN Fiore, Secretário de Política Cultural do
falta de insumos gráficos e mais pelas como casa editora pode ser medida Ministério da Justiça; Walter Costa Por-
demandas urgentes da Presidência da pela criação, em 1999, do seu primei- to, Ministro do Tribunal Superior Elei-
República, notadamente via Secreta- ro Conselho Editorial, pensado para toral; Pela Imprensa Nacional, Antônio
ria de Comunicação ou Ministério das estabelecer a política da Instituição Eustáquio Corrêa da Costa, Diretor-
Relações Exteriores. As urgências con- nesse campo. A escolha dos membros -Geral da época; Josivan Vital da Silva,
centravam-se em livretos bilíngues para do Conselho recaiu sobre “colabora- Coordenador-Geral de Produção In-
as viagens internacionais do Presidente, dores de notável saber em diversas dustrial; e Pedro Paulo Tavares de Oli-
que geravam intermináveis convoca- áreas do conhecimento”, conforme veira, Chefe da Divisão de Editoração,
ções de pessoal nos fins-de-semana. Portaria nº 165, de 20 de abril de logo nomeado secretário do Conselho.
1999, do ministro da Justiça, Renan
Uma das urgências de repercussão De atuação efêmera, o Conselho
Calheiros, atual senador pelo estado pouco decidiu além da criação do selo
nacional, também cumprida a tempo,
de Alagoas. O ato configurava a par- Obras Raras, destinado a resgatar obras
aconteceu na impressão de 75 milhões ticipação no Conselho como “serviço
de cédulas para a eleição presidencial esgotadas, de domínio público, e reco-
público relevante não remunerado”. nhecidamente importantes para a vida
de 1989. Essa gigantesca encomenda Àquela época, a Imprensa Nacional cultural do País. O único título do Selo
também envolveu todas as etapas da ainda vinculava-se ao Ministério ficou na obra Problemas de Direito Pú-
editoração desenvolvidas na Died. O da Justiça, passando à estrutura da blico e outros Problemas (foto abaixo),
prazo era curto e nem a Imprensa Oficial Presidência da República em 2000. do jurista Victor Nunes Leal.
do Estado de São Paulo se dispôs a re-
alizar o trabalho. A então diretora-geral O Ministério da Justiça
da IN, Marlene Freitas Rodrigues Alves, destinou a presidência do Con-
após contato com o Ministério da Justi- selho para o titular da sua Se-
ça, assumiu o compromisso com o pre- cretaria Executiva, Paulo Affon-
sidente do Tribunal Superior Eleitoral, so Martins de Oliveira, mais
José Francisco Rezek. “As cédulas em tarde substituído por Antônio
papel sulfite branco foram distribuídas Anastasia, futuro governador
para todas as zonas eleitorais do País e, de Minas Gerais e hoje senador
as impressas em superbond e nas cores por aquele estado.
amarelo e rosa, seguiram para o exte- A composição inicial, e
rior”, comentou o impressor aposentado única do Conselho, ficou as-
Adelrui Gonçalves Santos, em depoi- sim: Gilmar Ferreira Mendes,
mento ao jornalista José Bernardes para Subchefe de Assuntos Jurídi-
uma edição de fevereiro de 2012 do cos da Presidência da Repúbli-
Nosso Jornal, informativo interno da IN. ca, atual ministro do Supremo

Imagem: Acervo Museu da Imprensa /Foto: Rubens Cavalcante Júnior

Equipe da Seprov retratada em caricatura de Siro Alves da Silva Filho. Da esquerda para a direita, acima: Fernando
Almeida, Josemar, Siro Alves, Marisa Rodrigues e Roberto Solano. Abaixo: Marta Borges, Wagner Araújo, J. Ivan,
Hasenclever Silva e Vandelícia Dias
GESTÃO
Começar de novo
Egressos do Sistema Penitenciário
fazem valer a pena o recomeço
Eline Caldas Braga Cavalcante Langsdorf e Lisandra Nascimento

Um dos aspectos que mais nos seduz tro pessoas participaram, e ainda estão em capacitação,
na parte da vivência prática, com previsão de término
nas histórias de ficção científica é a viagem no tempo. Tecni-
da capacitação em abril. Uma nova turma, iniciada em
camente viável apenas no campo das especulações científi-
fevereiro deste ano, que conta com sete participantes,
cas, a possibilidade de voltar ao passado, aproveitar melhor
entre homens e mulheres, tem a previsão de conclusão
os momentos, agarrar as oportunidades perdidas e consertar
para o meio do ano de 2018.
nossos erros, nos faz lamentar o que não vivemos e imaginar
como seria diferente a nossa vida atual. Fantasias à parte, a As aulas teóricas duram duas semanas e são ministra-
realidade é que se não podemos reparar nosso passado, pode- das com os seguintes conteúdos: a história do Arquivo Na-
mos, contudo, planejar um futuro melhor, trabalhando agora cional, ciclo de documentos, preservação de acervos, acon-
o nosso presente. Esse é o espirito do projeto O papel da li- dicionamento, higienização, identificação de riscos biológicos,
berdade, uma parceria entre o Arquivo Nacional (AN), na sua entre outros. Após essa etapa, a turma passa para as aulas
Coordenação Regional em Brasília (Coreg) e o Departamento práticas e, em seguida, por um período de vivência. A dura-
Penitenciário Nacional (Depen), do Ministério da Seguran- ção do curso é de seis meses. O projeto realiza, adicionalmen-
ça Pública. Nele, os egressos do sistema penitenciário têm a te, atividades de confecção de itens de escritório, como cader-
oportunidade de encontrar um novo rumo para suas vidas. nos, bloco de notas, porta-lápis e pastas. O curso acontece na
Sala Educativa da Coreg.
O projeto O papel da liberdade é um conjunto de
ações direcionadas à educação técnica e à ressociali- O projeto tem o caráter de promover a profissionaliza-
zação de pessoas em cumprimento de pena, no regime ção e a cidadania, facilitando, assim, a inclusão de pessoas
aberto e semiaberto, capacitando-os para a inserção com restrição de liberdade no mercado de trabalho, sendo de
no mercado de trabalho. A iniciativa começou, embrio- grande importância na formação, capacitação e qualificação
nariamente, em 1997. Mas foi em 1999 que o projeto dos egressos para sua efetiva ressocialização. O coordenador
tornou-se oficial pelo Ministério da Justiça e Segurança da Coreg, Paulo Cid, concedeu as boas-vindas à nova turma:
Pública, com a participação da Fundação de Amparo ao “Vocês trabalharão para o acervo documental do País. E a
Trabalhador Preso do Distrito Federal (Funap). No Ar- memória que vai existir daqui há 50, 100 anos, estará cali-
quivo Nacional, a parceria começou em novembro de brada com a mão de vocês. Aquilo que vocês tocarem hoje
2017, com o início da primeira turma. Na ocasião, qua- contará a história do País amanhã”.

Egressos
trabalham na
restauração de
documentos
antigos
GESTÃO - Começar de novo
Fotos: Lisandra Nascimento

O trabalho da pessoa com restrição de liberdade


Definido pela Constituição Federal
e pela Lei de Execução Penal, o
trabalho possui finalidade educativa
e produtiva, além de contribuir para
a remissão da pessoa com restrição
de liberdade, já que três dias de
trabalho equivalem a um dia a
menos de pena.
Hoje, apenas 18% da população
prisional nos estados brasileiros
participam de alguma atividade
laboral, segundo portal do
Ministério da Segurança Pública.
É de responsabilidade de cada
unidade da Federação incentivar a
Egressos trabalham na restauração
prática de acordo com a gestão de
de documentos antigos suas unidades.

Reciclar é preciso
Um das particularidades
mais positivas do Papel da
Liberdade é a possibilidade
de os egressos trabalharem
com recicláveis. O Ministério
da Segurança fornece ao
projeto material de escritório
descartado. Essa matéria
Material doado pelo o Ministério da Segurança
prima é transformada pelos e reciclado pelos egressos
egressos em cadernos, lixeiras,
bloquinhos de anotações,
porta-retratos e demais itens
de utilidade em escritórios e
escolas. A atividade manual
é transformadora, além de
lúdica. Exige atenção e foco,
funcionando como uma terapia
ocupacional que ajuda os
egressos em sua reinserção na
sociedade. Material descartado é transformado em utilidades

IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018 . 31


No Prelo

De volta
à ativa R ogério Lyra

Impressora DGM imprimindo publicação da Receita Federal

32 . IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018


NO PRELO - De volta à ativa

No dia 30 de janeiro, data em que se Fotos: Acervo Hasenclever Borges

completaram exatos dois meses da paralisação


da impressora Dauphin Graphic Machine 850
(DGM 850), por ocasião do encerramento da
edição impressa do Diário Oficial da União
(DOU), a rotativa voltou à atividade. Dessa
vez para imprimir o livro Histórias de Trabalho
(coletânea de prosas e poesias do 7° concurso
interno), uma publicação da Receita Federal.
Com esse trabalho, a Imprensa Nacional (IN)
inaugurou uma nova fase para a DGM que, em
breve, após algumas adaptações, estará apta a
imprimir serviços em policromia (em cores). Da esquerda para a direita: Eimar Bazilio, Cláudio de Souza, e
Hasenclever Borges na Expoprint 2018

Fotos: Rogério Lyra


A ideia é que a DGM seja uma importante ferra-
menta do Projeto de Modernização do Parque Gráfi-
co, dentro do Planejamento Estratégico da IN (PEIN
2017-2019), o qual tem, como uma das metas, o
intuito de transformar a IN em um birô de serviços
gráficos e publicações digitais, a serviço do Governo
Federal, atualizado com as mais modernas tecnolo-
gias. Para isso, novos equipamentos substituirão os
antigos. “Precisamos estudar melhor as possibilida-
des, inclusive de adoção da modalidade de locação
(leasing) do maquinário, já que a aquisição desse
tipo de equipamento não oferece conjuntamente a
manutenção e gera rápida obsolescência em tem-
pos de rápida evolução tecnológica no setor”, desta-
Fernando Francisco Farias coloca chapa na rotativa DGM
cou o Diretor-Geral, Pedro Bertone, por ocasião da
apresentação do PEIN.
Com a missão de conhecer as novidades da
indústria gráfica, os servidores da IN Eimar Bazilio
Vaz Filho (Coordenador de Produção – Copro), Ha-
senclever Silva Borges (Copro) e Cláudio de Sou-
za (Gerência de Editoração – Gedit), estiveram na
Expoprint Latin America 2018, feira do setor grá-
fico, que aconteceu de 20 a 24 de março, em São
Paulo. Os três percorreram o pavilhão de exposições
do Expo Center Norte, onde puderam conhecer e
manter contato com os representantes das dezenas
de empresas que apresentaram ao público as mais
recentes novidades do setor. Os servidores, tam-
bém, visitaram a Universidade do Senai – Theobal-
do De Nigris, em São Paulo. “Entramos em contato
com os consultores da Universidade, para conhecer
e avaliar as melhores opções a serem adotadas pela
Casa. Apresentamos um relatório final ao Diretor-
-Geral, para sua avaliação e decisão, de quais solu-
Francisco José Santos e Silva trabalha no alceamento de
ções iremos adotar”, explica Eimar Bazilio. publicação impressa na DGM 850

IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018 . 33


NO PRELO - De volta à ativa

Metas de modernização do Reestruturação e economia


Parque Gráfico
Após a paralisação da DGM (ler ma-
téria da edição n° 4), o maior desafio foi
De acordo com o PEIN 2017-2019, os objetivos reestruturar a escala dos servidores que
estratégicos para o setor são total moderniza- executavam a tarefa de impressão do DOU.
ção do Parque Gráfico da IN, para que o órgão Muitos deles com mais de 20 anos de ati-
vidade na função. Para alguns, foi necessá-
possa reforçar sua função de oferecer servi-
ria uma realocação e mudança na jornada
ços gráficos de qualidade, de importância es-
de trabalho para outros turnos e escalas.
tratégica para o Estado e manter, assim, sua Com o fim do DOU impresso, aumentou a
relevância institucional, consolidada durante capacidade da IN em aceitar novos servi-
esses 210 anos. Para isso, foram definidos ços gráficos, o que antes era mais difícil,
produtos, ou entregas, que estão, dessa ma- devido ao déficit de pessoal. Agora, com
neira, divididos: Produto (Entrega principal): a volta da DGM à atividade, a IN pode se
concentrar na impressão de livros, revis-
Novos equipamentos e procedimentos im-
tas, provas, carteiras, pastas e demais pro-
plementados.
dutos de seu portfólio de serviços.

Muito se fala atualmente a respeito da


 Subprodutos (Entregas importância de se reduzir o consumo de
intermediárias): Elaboração papel, tanto no setor público, quanto no
do plano de modernização do privado. Essa política evitaria o desmata-
parque gráfico; mento e diminuiria a poluição ambiental,
produzida pelos resíduos na fabricação, do
 Definição dos tipos de próprio papel, e, no nosso caso, dos servi-
equipamento; ços gráficos. Nesse aspecto, porém, cabe
ressaltar que a IN só utiliza papel certifi-
 Estudo do parque gráfico atual; cado, oriundo de árvores plantadas, espe-
cificamente para a produção de celulose
 Estudo de novas tendências
(matéria-prima do papel). Quanto à redu-
para parques gráficos;
ção do consumo de papel e a consequente
produção de resíduos, com a finalização da
 Definição da forma de
impressão do DOU, a IN reduziu drastica-
aquisição (compra ou locação);
mente uma média de 40 toneladas men-
 Avaliação do custo em relação sais com sobras de bobinas, descartes de
ao orçamento; impressos, panos de limpeza, embalagens
plásticas, de metais e outros materiais.
 Elaboração dos termos de O fim do DOU impresso, também, trouxe
referência; uma economia de cerca de R$ 800 mil por
mês com o custo de produção.
 Licitação, contrato, entrega;
Essa nova realidade da IN, pós-DOU im-
presso, vem a atender as metas do Progra-
 Adequação da infraestrutura
ma da Agenda Ambiental na Administração
física e tecnológica; Pública  (A3P) – à qual a IN aderiu em 2017
– do Ministério do Meio Ambiente, que
 Capacitação de pessoal orienta os órgãos acerca do descarte e da
designado. redução da geração de resíduos.

34 . IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018


SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO - Drones conquistam os ares

SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
Drones conquistam os
ares, alegram o domingo e
revolucionam a economia
do Século XXI
Marcelo Maiolino e Lisandra Nascimento

Monomotores dão lugar a drones


na pulverização, gerando economia
de custos e redução no uso de
defensivos agrícolas

CC0 Creative Commons, Pixabay

No início de março, a agência de das mais diversas atividades: entrete- está se espalhando por praticamente
notícias BBC divulgou que a Google nimento, fotografia, fiscalização e mo- todas as atividades humanas. Como na
estava, discretamente, desenvolvendo, nitoramento, entrega de mercadorias, indústria automobilística, que leva para
por intermédio de uma de suas subsidi- entre outras. as ruas o que criou para as pistas, é o
árias, tecnologia de inteligência artificial desenvolvimento tecnológico decorren-
No Brasil, os drones são legalmen-
capaz de analisar imagens captadas por te dos investimentos no aperfeiçoamen-
te identificados como Veículos Aéreos
drones militares e identificar o inimigo. to dos drones que permite o surgimento
Não Tripulados (VANTS) e seu uso civil
Essa informação seria, então, transmiti- de modelos mais baratos e, portanto,
está sujeito às normatizações da Agên-
da aos controladores, em terra, a quem acessíveis, destinados ao entretenimen-
cia Nacional de Aviação Civil (Anac),
caberia decidir atacar ou não. to e a pequenas atividades comerciais e
Agência Nacional de Telecomunicações
de fiscalização, como a captura de ima-
A notícia teve grande repercussão (Anatel) e Departamento de Controle
gens publicitárias e o monitoramento de
na opinião pública. Primeiro, porque do Espaço Aéreo (Decea), a quem ca-
vias de tráfego (ver box na página 39).
a imagem da Google não costuma ser bem regular o uso desses aparelhos a
associada à indústria de defesa; segun- partir de suas respectivas áreas de atu- Some-se aos preços em queda dos
do, em razão da sofisticação tecnológica ação (ver box na página 38). Para uso VANTS a tecnologia cada vez mais so-
do projeto, o passo seguinte seria dotar civil e visando o entretenimento, a bu- fisticada e o resultado será a abertura
as aeronaves de capacidade de “optar” rocracia é mínima e pode ser feita no de novas possibilidades de uso e, mais
por atacar o que lhes parecesse ser uma próprio sítio da Anac, onde, também, importante: oportunidades de negócios.
ameaça, o que, na opinião de alguns podem ser encontradas informações e a É o caso, por exemplo, dos fabricantes
especialistas, é muito perigoso. legislação pertinente à operação dessas chineses, que, com seus modelos bara-
aeronaves não tripuladas. tos, graças ao seu baixo custo de pro-
Embora o uso militar dos drones dução, ajudaram a popularizar VANTS
não seja novidade, a inteligência arti- Para a população em geral, o uso domésticos. Agora, eles e outros fabri-
ficial agrega potencialidades inéditas mais evidente dessas pequenas má- cantes de todo o mundo voltam seus
para um aparelho que, nos últimos quinas voadoras é o recreativo. Mas olhos para o campo, onde começam a
anos, tem se consolidado como um por trás dessa brincadeira, desenrola- se formar enxames de drones destina-
importante vetor para a realização -se uma revolução que, gradualmente, dos à micropulverização de lavouras.
SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO - Drones conquistam os ares
Ao que tudo indica, monomotores des- compra-se outro. Seres humanos exi- Já existe um ramo do jornalismo que se
pejando nuvens de defensivos agrícolas gem salários, seguros, horas extras, in- caracteriza pelo uso desse aparelho para
sobre extensas áreas será, em breve, tão denizações; drones requerem, apenas, captura de imagens a serem usadas em
obsoleto quanto o fogão a lenha. Com baterias e alguma manutenção. uma reportagem. É o “dronalismo”. O
a tecnologia atual, pequenos quadri- neologismo não parece ser uma modi-
Os drones (nome que, em inglês,
cópteros (aparelhos com quatro hélices) nha passageira; afinal, já há artigos aca-
significa zangão, apelido dado em razão
podem pairar sobre o local exato da dêmicos tratando do assunto1 e até uma
do barulho de suas hélices) têm tudo
plantação que necessita de um reforço espécie de “musa”. A americana Sally
para se tornar cada vez mais onipresen-
contra as pragas e despejar somente o French2 ganhou notoriedade em todo o
tes. No Brasil, órgãos públicos como o
necessário para livrar aquela peque- mundo ao usar drones para fazer suas
Departamento de Polícia Federal (DPF)
na área da ameaça. Quem ganha é o reportagens.
e o DETRAN do Distrito Federal já os
agricultor, que reduz custos; o consu- utilizam em operações de fiscalização. Membro do Missouri Drone Jour-
midor, que leva para casa um alimento Até no mundo das artes e dos espetá- nalism, programa da Universidade do
mais puro; e a natureza, que será me- culos, essas máquinas voadoras estão Missouri dedicado a ajudar alunos a
nos infectada por venenos agrícolas. As ganhando espaço. Em 2017, cerca de usar bem os VANTs, a Drone Girl define
empresas de pulverização tradicionais uma centena desses “zangões” sobrevo- dronalismo como uma variação do fo-
verão seu mercado se encolher rapida- aram os céus do Rock in Rio, entre um tojornalismo, mas de um novo ângulo:
mente e, a menos que sejam capazes show e outro, fazendo desenhos com lu- o aéreo. Ela explica que, embora isso
de se reinventar e absorver essa nova zes coloridas. Este ano, uma esquadrilha não seja novidade, pois sempre foi feito
tecnologia, desaparecerão. A revolução de 1.200 drones luminosos desenhou o com helicópteros, especialmente em re-
industrial não para. símbolo olímpico sobre o estádio onde portagens sobre condições de tráfego e
foi realizada a cerimônia de abertura catástrofes. “Hoje”, diz, “podemos fazer
Graças a sensores cada vez mais
dos jogos de inverno de Pyeongchang, a mesma coisa com um drone, muito
precisos, hoje já é possível pilotar re-
na Coreia do Sul. A façanha entrou mais barato, fácil de operar e acessível
motamente uma aeronave sobre linhas
para o Guinness Book, livros dos recor- a qualquer pessoa”.
de transmissão de eletricidade a fim
des, como o maior número de drones
de detectar algum eventual defeito.
voando simultaneamente. O recorde
Os grandes e caríssimos helicópteros e
anterior, de 500 aparelhos, havia sido
suas tripulações estão perdendo espaço
estabelecido na Alemanha, em 2016.
para um “brinquedo” e suas câmeras,
com grande redução de custo e de ris- Diz a sabedoria popular que cada
co de acidente, além de um significati- ponto de vista é visto de um ponto. Se
1- http://www.revistageminis.ufscar.br/
vo aumento de produtividade. Se uma for assim, o ponto de vista de um drone
index.php/geminis/article/view/153
aeronave tripulada cair, tem-se uma é visto como um dos pontos altos do jor- 2- http://thedronegirl.com/author/
tragédia; se um drone se acidentar, nalismo nos dias de hoje. Isso mesmo! sallyannfrench/

CC0 Creative Commons, Pixabay

Atividades de lazer também estão na mira dos


fabricantes de VANTS com modelos acessíveis
e fáceis de manobrar

36 . IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018


SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO - Drones conquistam os ares
Bundesarchiv, Bild 146-1975-117-26 / Lysiak / CC-BY-SA 3.0 [CC BY-SA 3.0

Bomba V1, usada pelos nazistas para


bombardear Londres e Antuérpia é a
avó dos drones

DAS BASES DE LANÇAMENTO DA mento em que os drones começaram


a ganhar o mercado civil. O divisor
LUFTWAFFE AOS CONTROLES DE de águas desses pequenos aparelhos
voadores ocorreu em 2006, quan-
JOYSTICK do um jovem mexicano, então com
18 anos, mudou-se para os Estados
Ao contrário do que possa pare- tripuladas remotamente não eram Unidos para acompanhar sua namo-
cer, tendo em vista sua tecnologia, novidade, mas exigiam cerca de 30 rada americana, grávida. Enquanto
a história dos drones não é nova. pessoas para controlá-las. Karem o green card não saía, para matar
Assim como a Internet, surgiu como fundou, então, a empresa Leading o tempo, Jordi Muñoz comprou um
uma necessidade militar que, pou- System com o objetivo de aprimo- helicóptero de controle remoto. Em
co a pouco, ganhou o mundo civil rar a tecnologia dos drones. Seu pouco tempo, o hobby se transfor-
até se tornar parte do dia a dia da primeiro modelo, o Albatross, voou maria em uma empresa multimilio-
população. 56 horas sem recarregar as baterias nária, a 3D Robotics.
e exigiu, apenas, três operadores. O
Devido às suas características téc- sucesso de seu invento chamou a O grande feito do rapaz, que, em
nicas, pode-se estabelecer a inven- atenção do Pentágono, que passou 2016, esteve no Brasil para uma sé-
ção da bomba V-1 como o ponto a financiá-lo. De lá para cá, essas rie de palestras, foi adaptar joysticks
de partida para o desenvolvimento máquinas voadoras tornaram-se o da Nintendo (popular fabricante de
dos drones. A arma foi criada pelos principal instrumento de ação estra- jogos) para facilitar o controle da ae-
nazistas, na Segunda Guerra Mun- tégica do exército americano. ronave. Paralelamente, desenvolveu
dial, para bombardear as Cidades estabilizadores e piloto automático,
de Londres, na Inglaterra, e Antu- No Brasil, o primeiro VANT de que tornando os drones da sua empre-
érpia, na Bélgica, entre junho de se tem notícia voou pela primeira sa muito fáceis de serem pilotados e
1944 e março de 1945. A sigla V-1 vez em 1983. Foi o BQM1BR, fabri- muito mais seguros. O consumidor
é a abreviação de Vergeltungswaffe cado pela extinta Companhia Brasi- comum adorou a novidade e, com
1, que significa “arma de represália”. leira de Tratores (CBT). O protótipo isso, estava aberta a porta para o
Ainda durante o conflito, a Força Aé- tinha propulsão a jato e serviu como surgimento da indústria de drones.
rea Alemã (Luftwaffe) lançaria uma alvo aéreo para treinamento de pilo-
versão aperfeiçoada, a V-2. tos de combate. Para se ter uma ideia da importân-
cia desse mercado, ressalte-se que,
Tal como o conhecemos hoje, o Como o desenvolvimento tecnoló- em 2020, o Brasil deve movimen-
VANT foi criado por Abe Karem, um gico leva à redução dos preços e à tar US$ 11,2 bilhões e ter três mi-
engenheiro aeroespacial israelense, popularização de produtos que, ini- lhões de drones, segundo o Gartner
que se radicou nos Estados Unidos cialmente, eram restritos a governos Group, empresa de consultoria espe-
em 1977. Naquela época, aeronaves e grandes empresas, houve um mo- cializada em tecnologia.

IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018 . 37


SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO - Drones conquistam os ares
Necessidade de

Rogério Lyra
regulamentação
surgiu nos anos
1940
A popularização dos drones deco-
lou há relativamente pouco tempo,
mas a preocupação com sua regu-
larização não é nova. Em 1940, a
Convenção de Chicago – tratado
internacional que embasa o Direito
Aeronáutico Internacional, até hoje
em vigor – recomendou que os go-
vernos interviessem na aviação civil,
inclusive regulando o voo sem piloto.

De fato, após a Segunda Guerra


Mundial (1939-1945), ocorreu, in-
clusive no Brasil, um grande cresci-
mento da atividade aeronáutica, im-
pulsionado pelo desenvolvimento de
novas tecnologias e pelo aumento da
produção de aviões, decorrentes do
esforço de guerra. Na prática, essa
tendência traduziu-se em preocupa-
ções com a soberania e a segurança.

Atualmente, a regulamentação do
uso de drones orienta-se, basicamen-
te, pelas mesmas diretrizes estabele-
cidas pelos membros da Convenção
de Chicago há quase 80 anos: asse-
gurar o uso ordenado do espaço aé-
reo e a segurança dos cidadãos. Na Roberto Honorato, da
linguagem legal brasileira, os drones Anac: normas brasileiras
são conhecidos como Veículos Aére- atendem à necessidade
os Não Tripulados (VANTS). de fiscalização sem
impedir a viabilização da
Para Roberto Honorato, Superinten- atividade
dente de Aeronavegabilidade da Agên-
cia Nacional de Aviação Civil, o mundo,
hoje, vive um momento de transição, No âmbito da Anac, o principal foco 154%, percentual ainda mais significa-
no qual há a necessidade de estabelecer da regulamentação são as aeronaves tivo se se considerar os efeitos da crise
corredores específicos para cada moda- remotamente pilotadas de uso não econômica que perpassa esse período.
lidade de transporte aéreo. “No futuro”, recreativo. Os drones militares estão “Uma legislação muito burocrática de-
prevê, “os céus serão compartilhados fora de sua jurisdição. As normas de sestimularia o cadastramento”, avalia
por VANTs e aeronaves comandadas Honorato, acrescentando que a RBAC-
uso dos VANTS, no que diz respeito
por pilotos a bordo, mas, para que essa
à Anac, estão consolidadas na Regu- -E 94 foi elaborada de maneira trans-
realidade se concretize, ainda é preciso
lamentação Brasileira de Aviação Ci- parente e em colaboração com a socie-
amadurecer a tecnologia”, explica o
vil Especial nº 94, de maio de 2017 dade civil, sem descuidar da questão
executivo da Anac.
(RBAC-E 94, complementar às normas da segurança dos voos e dos cidadãos.
No que diz respeito aos drones, a re- dos demais órgãos) e, segundo Hono-
gulamentação apoia-se sobre um tripé: rato, são uma combinação bem suce- A elaboração da norma começou a de-
além da Anac, fazem parte desse siste- dida das necessidades de fiscalizar e de colar em 2011, quando o Departamen-
ma a Agência Nacional de Telecomu- viabilizar a atividade. Um dado que, to de Polícia Federal (DPF) formalizou
nicações (Anatel), responsável pelos em certo sentido, atesta essa afirmação solicitação junto à ANAC para que esta
aspectos relacionados à radiocomuni- é o crescimento do número de drones coordenasse a legalização da atividade,
cação entre controladores e aeronaves no País. Segundo estatística da Anac, juntamente com outras entidades go-
não tripuladas; e o Departamento de em julho de 2017, a frota cadastrada vernamentais para viabilizar legalmen-
Controle do Espaço Aéreo (Decea), a era de 13.256 unidades; em feverei- te a atividade, haja vista que o próprio
quem cabe estabelecer os usos e limites ro deste ano, esse número alcançou DPF tinha interesse em realizar ações
do espaço aéreo. 33.675 VANTs, um crescimento de que poderiam se beneficiar do uso de

38 . IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018


SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO - Drones conquistam os ares
aeronaves não tripuladas, tais como fiscalização de fronteiras, pulverização de fertilizantes agrícolas; inspeção de linhas
inspeção visual de áreas sob suspeita, entre outras. Cabe lem- de transmissão de energia; visualização das condições
brar, porém, que as Forças Armadas já faziam uso de drones de trânsito a distância, de modo a se permitir a ação
muito antes disso. Foi somente a necessidade crescente de uso da polícia antes que se formem engarrafamentos; e, até
civil para as mais diversas finalidades que motivou a regula- mesmo, a entrega de pequenas mercadorias. Esta, po-
mentação do uso dos VANTs no Brasil. rém, ainda não está disseminada no Brasil por questões
de segurança, logísticas e legais, mas, em vários países,
Entre esses usos, os mais “visíveis” pela população em empresas como a Amazon estão testando essa tecnolo-
geral são o recreativo, o militar e o voltado à fiscalização, gia. Por isso, não será de se espantar se, daqui a alguns
como a que faz o Detran do Distrito Federal (ver box abai- anos, a exclamação “o carteiro chegou!” for substituída
xo). A cada dia, surgem novas possibilidades, tais como por “o drone chegou!”.

Há algo de

Lisandra Nascimento
novo nos céus
de Brasília
O Detran do Distrito Federal começou
a usar drones em dezembro de 2017,
mas as notificações só serão emitidas
a partir de abril deste ano, garante o
piloto de helicóptero Marcus Marinho,
Chefe da Unidade de Operações Aé-
reas do órgão. Entre as irregularida-
des mais comuns já flagradas por essa
nova modalidade de operação estão
a mudança de direção sem sinaliza-
ção e o uso de celulares ao volante.

O emprego de Veículos Aéreos Não


Tripulados – VANTs, no monitora-
mento do trânsito, apoia-se sobre o
tripé Educação, Fiscalização e Mo- Marcus Marinho defende o emprego dos drones como uma alternativa mais
flexível e barata ao uso de sistemas fixos de monitoramento
bilidade, mas, até o mês que vem,
com o início efetivo da fiscalização,
o foco será, apenas, educativo. No
que diz respeito à mobilidade, a relação à segurança e à privacidade
ideia é usar os aparelhos em ações dos motoristas. Marinho explica que
nas quais eles possam fornecer in- os VANTs operam em uma altitude
formações que ajudem a assegurar que não ameaça a segurança e, ao
a fluidez do trânsito, o que, na opi- mesmo tempo, permite a visualização
nião de Marinho, é o maior benefí- de infrações.
cio decorrente do uso de drones.
“As imagens ficam armazenadas na
câmera do drone e, posteriormente, Foto aérea do pátio do Detran-DF,
De acordo com o servidor do Detran-
são transferidas para os computado- capturada pelo VANT usado
-DF, o uso dessas pequenas aeronaves nas fiscalizações
proporciona não apenas uma alter- res do Detran, onde um agente as
nativa operacional importante, mas, analisa em busca de infrações. A au-
também, uma significativa economia tuação só é realizada se a foto for su- pecificamente, Plano Piloto e Tagua-
para os cofres públicos, haja vista que ficientemente nítida e a placa visível”, tinga. Por exigência do Departamen-
“os drones são muito mais baratos do detalha o chefe da Unidade de Ope- to Nacional de Trânsito – Denatran,
que a instalação e manutenção de es- rações Aéreas, acrescentando que a fiscalização por videomonitora-
truturas fixas de monitoramento”. O o documento enviado ao motorista mento, de qualquer natureza, seja
aparelho usado pelo Detran-DF custa, conterá, apenas, a indicação da irre- por intermédio de drones ou câme-
no mercado, cerca de R$ 2.500,00, gularidade. A foto ficará no Detran, à ras fixas, exige que a via seja sina-
um valor acessível até mesmo para disposição para contestações e, se for lizada. Falar ao celular enquanto di-
pessoas físicas. esse o caso, só será exibida ao próprio rige é uma infração grave e acarreta
motorista reservadamente. uma multa de R$ 191,00; manusear
A iniciativa do órgão de trânsito do o aparelho, por sua vez, é uma irre-
Distrito Federal despertou alguns Por enquanto, as ações têm ocorrido gularidade gravíssima e resulta em
questionamentos, especialmente em em pontos considerados críticos, es- multa no valor de R$ 295,00.

IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018 . 39


Cultura

da
Para
Renato
:
Foto

Ezequiel Marqies
Boaventura, Pedro Paulo
Tavares e Rogério Lyra

MAIS QUE UM RAPAZ


LATINO-AMERICANO
Entrevista com Jotabê Medeiros, autor do livro
Belchior, apenas um rapaz latino-americano,
publicado pela Editora Todavia, em 2017

Nascido em 1962, o repórter e crítico musical Jotabê Medeiros já atuou na CNT/Gazeta,


na Veja São Paulo e nos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo. Em 2014
lançou seu primeiro livro, O bisbilhoteiro das galáxias.
CULTURA - Entrevista com Jotabê Medeiros, autor do livro Belchior
Experiente crítico musical, o jor-
nalista Jotabê Medeiros publicou em
2017 o livro Belchior, apenas um rapaz
latino-americano, sem esperar sequer
passar a comoção nacional pela morte
do cantor cearense e ídolo nacional, fa-
lecido pouco antes. De uma só penada,
Jotabê desfaz, pelo menos em parte, o
triste conceito de que o Brasil é um país
sem memória, tantos são os artistas es-
quecidos de outras tantas artes além da
musical. Não elimina, mas atenua essa
dolorosa realidade.

Na entrevista a seguir, Jotabê


vai além, quando aponta caminhos
para se manter viva a obra de artistas
como Belchior. “A principal via para
recuperarmos o interesse pela obra do
artista é o interesse do público. Para
isso, devem ser feitos livros, musicais,
discos etc. A curadoria é um grande
caminho, devemos ter pessoas ligadas
e interessadas em colocar essas obras
em circulação”, indica.

Apesar de pouco volumoso, o livro


de Jotabê Medeiros requer uma leitura
demorada de suas 240 páginas. O ideal
seria a Editora Todavia tê-lo publicado
em formato multimídia para saciar a
sede do leitor de saltar de uma página
para uma nova audição desta ou da-
quela música de Belchior. Não importa
se do clássico disco Alucinação ou de
outros menos tocados. As revelações de
Jotabê despertam no leitor essa vonta-
Editora Todavia

de de ler e ouvir, ouvir e ler, e, a cada


nova audição, compreender a grandeza
da obra de Belchior.
com Assum preto é de estabelecer um Em certas canções, Belchior
Em outra dimensão, o livro ins-
diálogo do Brasil com as ideias artísti- se relaciona com versos de outros
tiga o leitor a entender melhor a obra
cas, a simultaneidade está na cabeça astros, a exemplo de Caetano Ve-
de outros artistas nacionais e interna-
dos artistas no mundo todo. Ao mesmo loso. Em Apenas um rapaz latino-
cionais, harmonicamente postos lado a
tempo, elas assumem significados dife- -americano há referências como
lado pela criatividade de Belchior, pois
rentes”, clareia Jotabê em um dos tre- um antigo compositor baiano me
o livro explica os diálogos entabulados
chos da entrevista. dizia... Mas como o senhor cita
com Luiz Gonzaga, Beatles, Caetano
em seu livro, o próprio Belchior
Veloso, Drummond de Andrade, João Mas nem só de música trata o livro se referia a esses registros como
Cabral de Melo Neto e retrocede até de Jotabê, afinal é uma biografia. E lá es- uma espécie de extensão, de com-
Dante Alighieri, numa prova da univer- tão atuações de Belchior em gravuras, pin- plemento de canções de outros le-
salidade do cantor cearense. “Belchior turas, traduções até chegar-se ao lamentá- tristas. Afinal, trata-se de diálogos
gostava muito da figura de John Len- vel autoexílio de Belchior e detalhes do seu musicais ou de um manifesto de
non. A questão da relação de Blackbird falecimento no Rio Grande do Sul. opinião contrária?

IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018 . 41


CULTURA - Entrevista com Jotabê Medeiros, autor do livro Belchior
Eu acho que a geração do Belchior, alidade. Os jovens são a realidade que Neto, Dante Alighieri, ou, por exemplo,
que se chamava Pessoal do Ceará, teve pode mudar o mundo. E é essa lição Sergio Aberrau, não têm hierarquização
um problema de aceitação. Eles eram dele que identificamos na interpretação dentro da obra dele. A compreensão de
mais jovens que os tropicalistas, que já de Elis Regina em Como nossos pais e que a arte é grande porque ela tem res-
tinham o caminho aberto por Caetano Velha roupa colorida. Mas, não são as sonância dentro do espírito humano é
Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque. únicas, ele tem várias outras canções muito mais importante do que a esteti-
Para eles se afirmarem na música popu- que tratam dessa metamorfose. Ao zação disso. Belchior conseguiu relacio-
lar brasileira tiveram de dizer: aqui che- mesmo tempo, Belchior não é messiâni- nar tudo isso.
gamos, temos nossos conceitos, a nossa co, e isso o diferencia de certos artistas
música, e isso fez com que Belchior fosse de nossa época. Ele é muito diferente Como Belchior resolvia as
desafiar a arte num terreiro, como um de Renato Russo, que diz vocês devem contradições de ser um artista de
capoeirista numa contenda. Na verdade, fazer isso. Nessa frase Amar e lidar com um país periférico, lutando con-
o Pessoal do Ceará admirava os tropica- as coisas me interessa mais, Belchior tra a hegemonia cultural, tendo a
listas. Belchior tinha, de fato, um pensa- vive esse sentimento, aquilo para ele faz necessidade de ressaltar suas ori-
mento diferente dos tropicalistas, que era mais sentido, isso tem uma grandeza ar- gens nordestinas, sul-americanas,
o de abraçar a cultura estrangeira e fazer como quando afirma em A palo
tística muito grande, de ele falar para a
dela um amálgama dentro do princípio
juventude. Ou seja, ele faz um diagnós- seco que um tango argentino lhe
de Oswald de Andrade, da antropofagia,
tico da realidade. cai bem melhor que um blues, e,
ou seja, o de abraçar uma coisa nova.
Belchior genialmente relacio- ao mesmo tempo, dialogar com o
Belchior achava que existia um tipo de
na Luiz Gonzaga com Paul McCar- rock anglo-saxão e exaltá-lo de for-
brasileiro, uma cultura brasileira que pre-
tney, transformando o Blackbird em ma explícita?
cisava ser realçada. Então, fez essa opo-
sição ao Caetano, mas gostava dele e Assum preto. Happiness is a warm gun, Belchior acalentou a ideia de uma
teve muita influência dele, inclusive. No de John Lennon, tem seu refrão ex- humildade latino-americana, de uma
final, quando Belchior morreu, Caetano plicitamente traduzido em Comen- arte, pela compreensão maior do Brasil
escreveu nos jornais o texto Canções de tário a respeito de John. Pode-se dizer
do que era a cultura latino-americana,
Belchior não são das que morrem. Isso que o Álbum branco foi o disco dos
tanto é que ele gravou um disco em es-
confirma que a admiração era mútua e Beatles mais influente no imaginá-
panhol com a versão das próprias mú-
que Belchior teve um peso singular den- rio musical de Belchior?
sicas com artistas uruguaios, e somente
tro da música popular brasileira.
Belchior gostava muito da figura a canção Apenas um rapaz latino-ame-
Em pelo menos duas canções, de John Lennon. A questão da relação ricano já é um manifesto disso. En-
Belchior fala, com certa nostalgia, de Blackbird com Assum preto é de es- tão, existe uma irmandade na cultura
da juventude. Em Como nossos tabelecer um diálogo do Brasil com as latino-americana, uma proximidade de
pais, imortalizada na voz de Elis ideias artísticas, a simultaneidade está sentimentos, de perspectivas, só que
Regina, a letra relembra que o na cabeça dos artistas no mundo todo. fazemos com que isso seja distanciado,
novo sempre vem. Em Velha roupa Ao mesmo tempo, elas assumem signifi- quase impossível. Belchior sonhava
colorida, ele nos alerta que preci- cados diferentes. Nesse sentido, temos a
com isso. Ele amava Mercedes Sosa,
samos todos rejuvenescer. Por que grandeza de um artista como Luiz Gon-
Victor Jara, amava todos sesses artis-
essa necessidade de se manter jo- zaga, o grande artista popular brasileiro,
tas desse universo cultural e o esforço
vem? Que força poderosa atribuía ela amalgama, tem a mesma qualidade.
dele era sustentar esse discurso, vamos
Belchior à juventude ou era apenas A diferença está na difusão das obras,
dizer, ele tratava essa questão de uma
uma espécie de negação do fluxo as quais a cultura anglo-saxônica con-
maneira “xiita”.
normal da vida, que nos leva todos segue alcançar o universo e Luiz Gon-
ao envelhecimento? zaga alcançou só o Brasil. Luiz Gonzaga Na obra de Belchior, são vi-

Eu acho que era uma questão me- não é menor e, dentro dessa visão, é síveis as pistas de que ele partiria

tafórica, que é a seguinte: para Belchior, como um radar que fica concentrando para um autoexílio. Na música Co-
as pessoas precisavam se desligar do na sua poética aquilo que é universal, mentário a respeito de John, os versos
passado e acreditar mais nas próprias como Fernando Pessoa quando diz “eu saia do meu caminho/eu prefiro andar
forças, precisamos todos rejuvenescer, sou pessoa, falar de uma pessoa não sozinho/deixem que eu decida a minha
abandonar as velhas crenças, os velhos me soa bem, pouco me importa”. Tanto vida... são um tributo a John Len-
ídolos e acreditar que nós somos a re- Fernando Pessoa, João Cabral de Melo non, mas, também, podem ser in-

42 . IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018


CULTURA - Entrevista com Jotabê Medeiros, autor do livro Belchior
terpretados como uma dica do de- pego pela Lava-Jato. Isso envolveu você aponta um seguidor dessa
saparecimento futuro de Belchior? uma complexidade muito grande no obra ou estamos condenados a ou-
mundo artístico. vir cantores de uma só música?
Eu acho que ele deu muitas dicas.
Agora, essas dicas estão no conceito O Brasil é tido como um país Nós temos muitos artistas de gran-
filosófico dele. A sociedade moderna sem memória devido à falta de re- des qualidades. O hip hop hoje é muito
gistro de muitas trajetórias artísti- sofisticado no Brasil. Pegue um artista
para o Belchior estava sendo opressiva,
cas, seja de cantores, escritores, como Criolo, Racionais, que são artis-
essa questão das redes sociais, do exi-
atores e outras profissões. No caso tas de um alcance social muito grande.
bicionismo, você ter que falar de você
de Belchior, o seu livro saiu no
Agora, o que Belchior fez é complicado
mesmo, uma espécie de egolatria co- mesmo ano do falecimento dele,
de falar. Eu não gosto de cobrar das no-
letiva, isso tudo era opressivo para ele. fato que, de certa forma, atenua
vas gerações um seguidor, ou seja, um
Ao mesmo tempo, ele gostava de ser ar- a prática do esquecimento. Quais
cara que consiga se equiparar àquele
tista, e não gostava daquilo que estava alternativas o senhor aponta para
manter vivo o legado de um artista cara do passado. Você não vai ter um
acontecendo no Brasil e no mundo. Ele
multifacetado como Belchior? Orlando Silva de novo, um João Gilber-
tinha uma antevisão, uma capacidade
to de novo, você vai ter algo tão bom
muito grande de enxergar o futuro. Se Nós tivemos um período em que
quanto. O que Belchior fez, além de
analisarmos bem, é muito profética a tudo era determinado pela indústria
refletir e questionar o Brasil do seu tem-
obra dele. Então, o verso eu prefiro an- musical, as grandes gravadoras. Esse
período entrou em colapso, as grava- po, foi que o Brasil é um país que tem
dar sozinho é um pouco isso, já é uma
doras hoje não têm poder de inserção, uma riqueza cultural muito grande. Isso
ruptura. Ele tinha anunciado em várias
de divulgação que tinham no passado, projetou ele como um artista universal.
músicas e letras dele. Sem contar as
de monopólio. Hoje em dia, estão sen- Quando Fernando Pessoa diz que quan-
mais remotas, dos anos 1970, nas quais
do descobertos vários artistas da músi- do você fala da sua aldeia, você fala do
as pessoas enxergam uma profecia. ca brasileira, os heróis brasileiros. No mundo, Belchior falava disso quando
Tem mais a ver com o desaparecimen- caso de Belchior, a qualidade da música diz “eu nunca aceitei a minha cearen-
to político, a ditadura, a repressão que e da arte dele foi mais forte do que o
cidade, a minha nordestinidade”. É na-
faziam com que as pessoas, de repente, esquecimento. Os dez anos em que ele
tural fingir algo que eu não sou. Essa
virassem só um retrato na parede. ficou afastado só fizeram crescer o mito
formação ele teve lá em Sobral toman-
dele. Agora acontece uma reedição de
As rusgas entre Belchior e Fag- do banho de rio, ouvindo cantadores de
discos que foram cruciais na obra de
ner não impediram o nascimento Belchior. Evidentemente que existe o rua, um alto-falante na cidade tocando
de outras belas canções da MPB, interesse comercial. A principal via para Luiz Gonzaga, esse conteúdo está den-
como Mucuripe. Os desentendi- recuperarmos o interesse pela obra do tro da obra dele. A música nordestina se
mentos dos dois astros podem ser artista é o interesse do público. Para isso relaciona com os mouros, e esse contex-
chamados de incompatibilidade de devem ser feitos livros, musicais, discos to está dentro de Belchior, porque tem
etc. Devemos recuperar, por exemplo, a originalidade.
gênios ou era algo mais grave?
obra de Tim Maia e colocá-la no lugar
Eles tinham grandes diferenças Quais foram suas principais
que ele merece. A internet promoveu
artísticas, foram parceiros em algumas o interesse dos jovens de 15, 20, 25 fontes no meio dos intérpretes

canções, cantaram juntos em alguns anos pelas obras de Belchior, Gilberto para a realização deste livro?

festivais, se apresentaram juntos, gra- Gil, Caetano Veloso. A curadoria é um


O Pessoal do Ceará. Eu falei com
grande caminho, devemos ter pessoas
varam juntos. Na verdade, tinham mais Jorge Melo, que é um parceiro do Bel-
ligadas e interessadas em colocar essas
diferenças de personalidades. Fagner chior em 29 canções. Falei com Graco,
obras em circulação.
era um pouco mais conservador, de outro parceiro dele. Amelinha, com
um outro universo político. Belchior era A temática de Belchior per- Fagner, mas ele não quis falar, Lídia
manece atual e universal como se
mais libertário, mais introspectivo. Des- Menezes, que foi a primeira intérpre-
vê em uma de suas músicas mais
de que se conheceram, Fagner tinha te de Belchior. Quando você pesquisa
conhecidas, Alucinação, nos versos
pouco mais de 17 anos. Eles tiveram em São Paulo, nós temos uma série de
em que aponta um preto, um pobre,
desavenças que até viraram confrontos pessoas importantes pra ele. Belchior
um estudante, uma mulher sozinha...
físicos. Fagner tinha uma relação mui- referindo-se até mesmo às dificul- morou aqui um tempo, a ex-mulher
to complicada com Belchior, chegou dades vividas por ele no início da Ângela, os filhos deles, Camila e Mi-
mesmo a dizer que ele deveria ter sido carreira. No cenário atual da MPB, kael, foram fontes importantes. Teve o

IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018 . 43


CULTURA - Entrevista com Jotabê Medeiros, autor do livro Belchior
depoimento de Lenine. E, também, a O senhor encontrou alguma Eu, particularmente, acho que
banda Metrô comentando sua relação dificuldade com os familiares (es- tem muito material inédito dele, mas
com Belchior. posa, filhos, parentes) de Belchior não tem músicas inéditas, a não ser
Como era Belchior, artista do para publicar seu livro? que se recuperem faixas que não fo-
mainstream e sua relação com pro- No começo dos trabalhos, foi ram gravadas com a voz dele. A últi-
dutores, gravadoras, músicos e a muito mais difícil, porque ele estava ma gravação dele foi em 2011, com
mídia em geral? desaparecido. Ninguém queria falar um pianista gaúcho, feita no Uruguai.
a respeito dele porque era meio que Ele gravou, se não me engano, qua-
Ele era um cavalheiro, nunca subia uma traição falar de um cara que não tro canções. Vem por aí, além do li-
a voz com alguém. Não há relato que queria ser encontrado. Mas, depois
vro da irmã dele, relatos de pessoas
ele tenha gritado com alguém, sempre que eu falei com certas pessoas, me-
que conviveram, nos últimos anos,
falava num tom cavalheiresco e era lhorou um pouco. Depois, algumas
com Belchior. Lá no Rio Grande do
muito apegado à tecnologia. Quando pessoas vieram me procurar para fa-
lar. Inclusive, uma das irmãs de Bel- Sul, saiu um livro do advogado Jorge
ele começou no Ceará, mal tocava vio-
chior, a Ângela, não gostou do meu li- Cabral, que abrigou Belchior. Agora
lão. Ao chegar a São Paulo, no início de
vro e disse à Folha de S. Paulo que iria vai sair mais um do radialista Dogival
1972, por volta de 1974, ele começou
a aprender macete de estúdio, a gravar entrar com uma ação para recolhê-lo Duarte, maranhense radicado no Rio
das livrarias, mas isso não se concre- Grande do Sul.
em estúdio, tanto que ele produziu o
tizou. Na minha avaliação, não existe
primeiro disco do grupo Aguilar e da Quais são seus próximos pro-
mais lugar para esse tipo de atitude,
banda Performática em 1980, um gru- jetos literários e jornalísticos?
nem amparo legal.
po de vanguarda de São Paulo, criado
pelo artista plástico José Roberto Agui- O que vem aí de novidade a res- Eu tenho uma proposta de fazer a
lar, também entrevistado no livro. Pro- peito de Belchior? Há algum mate- biografia do compositor e cantor Luiz
duziu, ainda, discos com Paulo Miklos e rial inédito musical a ser lançado? Melodia, falecido ano passado.
Arnaldo Antunes, além de ser parceiro
de Toquinho, um dos artífices da Bossa-
-Nova, parceiro de Vinícius. Veja que a
sofisticação de sua trajetória artística foi
muito grande. Belchior partiu de uma
vida precária, pois ele não era músico, e
se tornou produtor.

Em suas músicas, Belchior


sempre nos mostrava um inconfor-
mismo com o sistema de valores
conservador sem, contudo, se en-
gajar a fundo politicamente. Qual
era a sua orientação política?
Ele participou de movimentos
estudantis no Ceará e esse amadureci-
mento político foi crescendo aos pou-
cos. Ele era anarquista. Tem uma mú-
sica sua que diz “sempre desobedecer,
nunca reverenciar”. Ao mesmo tempo,
ele foi um dos participantes mais ativos
do movimento das Diretas-Já. Ele subiu
ao palco, cantou de graça em várias ci-
dades do País para que o Brasil recupe-
rasse a possibilidade de ter uma eleição
direta para presidente da República.
Também vale ressaltar que ele lutou
muito pela causa dos direitos autorais
dos artistas brasileiros, inclusive partici-
pou de reuniões no Congresso Nacional
e se encontrou com o presidente José
Sarney para tratar desse assunto. Em-
bora ele não fosse adepto de nomes, de
influência política.
Ilustração: Geanderson da Silva Junior

44 . IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018


MEIO AMBIENTE

Um deserto e suas águas


Cristóvão de Melo

no coração do Brasil
No Estado do Tocantins, um magnífico santuário de cerrado,
entremeado de dunas, rios e chapadas, abriga uma variada fauna e
é habitado por pessoas de rica história e cultura
Seu nome vem de uma planta chamada gar árido, com temperatura média anual de
jalapa, da família das trepadeiras com raí- 30 graus Celsius. Cortado por uma teia de
zes tuberosas, de propriedades purgantes, rios, riachos e ribeirões, todos de água lím-
mas que os habitantes da região também pida e transparente, suas veredas de buri-
utilizam para fazer aguardente. Esse ter- tis evocam o Grande Sertão de Guimarães
ritório, recentemente divulgado no Brasil Rosa. É impossível não se impressionar com
inteiro por uma telenovela, já é conhecido as riquezas naturais da região do Jalapão,
desde tempos imemoriais por habitantes no Estado do Tocantins, na qual foi criado
pré-históricos da América do Sul. É um lu- um parque estadual com o mesmo nome.
Foto: Cristóvão de Melo

Dunas do Jalapão, no sopé da Serra


do Espírito Santo
MEIO AMBIENTE - Um deserto e suas águas no coração do Brasil

Muito antes disso, porém, há cer- No Morro do Homem, Município de Estado do Tocantins é uma terra reple-
ca de 350 milhões de anos, o Jalapão Novo Acordo, encontram-se inscri- ta de cursos d’água que lhe enchem
fazia parte do fundo de um oceano. ções rupestres que comprovam a pas- de beleza e mistério.
sagem do homem pré-histórico pela
Foi há 60 milhões de anos que sur- A microrregião do Jalapão tem
região. Muito pouco se sabe a respeito
giram a Chapada das Mangabeiras – cerca de 53,3 mil Km² e está loca-
dos seres humanos que ali estiveram,
que separa a bacia do rio Tocantins da até porque os estudos
bacia do rio Parnaíba – e o chapadão arqueológicos acerca
do Espigão Mestre – que segrega as do local ainda são es-
bacias dos rios Tocantins e São Fran- cassos. Alguns guias
turísticos contam aos
cisco. Essas formações geológicas de-
visitantes teorias não
limitam, no seu interior, o Jalapão. comprovadas de que os
Sua gente é o fruto da imigração autores das inscrições
deixaram o local e fo-
de nordestinos, que se estabeleceram
ram se estabelecer na
no vale do Rio do Sono por volta de meca pré-histórica da
1863. Os negros, descendentes de es- Serra da Capivara, no
cravos, chegaram em 1909, vindos da Piauí.
Bahia e ali se fixaram, miscigenando-
-se com os índios Xerente, com quem
Mapa do
aprenderam o artesanato de capim Estado do
dourado. Desde então, esse conhe- Tocantins
Tocantins, o Toca, IBGE, Censo 2010
cimento é repassado, de geração em
geração, pela comunidade quilombo- como é carinhosamente chamado pe-
lizada no leste do estado, fazendo
los nativos, foi o último estado criado
la da Mumbuca, localizada no interior fronteira com o Maranhão, o Piauí e
na federação brasileira. Desmembra-
do parque, entre os Municípios de a Bahia. Seu território abriga deser-
do de Goiás em 1989, por manda-
Mateiros e de São Félix do Tocantins. mento constitucional, que veio con- tos, dunas, nascentes de água, cacho-
O artesanato de capim dourado e da sagrar uma secular reivindicação dos eiras e fontes de água quente, tudo
seda do buriti é a principal fonte de habitantes da parte setentrional do isso entrecortado por uma vegetação
renda da comunidade. estado goiano, o Tocantins passou a composta majoritariamente pelos
integrar a região Norte do País. Seus biomas cerrado e caatinga, com ma-
Há 10 mil anos, porém, no pa- biomas fazem a transição de cerrado tas de galeria incrustradas nos seus
leolítico, o Homo sapiens já havia para a Floresta Amazônica. Cortado cristalinos caminhos de água.
estado no Jalapão, ali deixando suas pelos rios Tocantins e Araguaia, que Ali correm os rios Sono, Soni-
marcas. se juntam ao norte de seu território, o
nho, Novo, Balsas, Preto e Caracol.
Daniel Zilenovski [CC BY-SA 3.0] No Jalapão, encontram-se
olhos-d’água, chamados de
fervedouros pelos locais.
São belíssimas piscinas de
água natural, que brota por
afloramento dos lençóis freá-
ticos. A água é, geralmente,
azulada, morna e borbulha
sobre a areia branca que
cobre o fundo dos fervedou-
ros – fenômeno chamado de
ressurgência. “Para que este
atrativo natural funcione é
preciso que o mesmo realize
Capim dourado,
planta utilizada
pela comunidade
Mumbuca para
a confecção de
artesanato

46 . IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018


MEIO AMBIENTE - Um deserto e suas águas no coração do Brasil
Julius Dadalti [CC BY-SA 4.0]
cional e até um reality show de uma
rede de TV americana já foram roda-
dos no local. Turistas, na sua maioria,
brasileiros e estrangeiros, em busca
de aventura e de contato com a na-
tureza, têm o Jalapão como destino.
“Em 2016, 11.363 turistas visitaram
o Jalapão. Em 2017, foram 14.580
e, em 2018, até o final de fevereiro,
Cachoeira
da Velha, no 2.076 pessoas estiveram na região”,
Rio Novo, esclarece Miranda.
no Parque
Estadual do
Jalapão, com
25 metros de Sávio Freire Bruno [CC BY-SA 3.0]
altura.

o licenciamento ambiental da ati- patos mergulhões, seriemas, tucanos


vidade turística junto ao Naturatins e urubus. O pato mergulhão (Mergus
(órgão estadual oficial de meio am- octosetaceus), ameaçado de extinção,
biente)”, informa Marcos Miranda, desperta o interesse de cientistas de
Diretor de Planejamento e Projetos várias partes do mundo.
Estratégicos, da Superintendência de
A criação de unidades de conser-
Desenvolvimento Turístico do Estado
vação no território do Jalapão ajuda
do Tocantins (Seden).
a proteger um pouco a exploração do
“Existem 10 principais fervedou- subsolo, que possui reservas de urânio,
ros abertos para visitação na região: ferro, manganês e ouro. E, também,
“Fervedouro do Ceiça; Fervedouro preveniu a exploração do potencial hi- O pato mergulhão (Mergus
do Alecrim; Fervedouro do Recanto octosetaceus)
drelétrico da região, que teria mudado
do Salto; Fervedouro do Rio Soninho; completamente o sistema de cachoei- O crescimento do turismo é mo-
Fervedouro dos Buritis; Fervedouro ras e rios que desaguam no Tocantins. tivo de alegria para o governo do es-
do Buritizinho; Fervedouro da Koru-
O parque estadual do Jalapão, tado, mas, também, de preocupação
bo; Fervedouro do Pequizeiro; Ferve-
localizado a 180 Km de Palmas, é uma com a preservação do meio ambiente
douro Bela Vista; e Fervedouro Mum- e com o exercício daquela atividade
unidade de conservação de proteção
buca.”, completa Miranda. econômica de forma organizada e se-
integral, criada há 17 anos pela Lei
Ffpaniago [CC BY-SA 3.0] estadual nº 1.203/2001, cujo objetivo gura. Por isso, “a Seden vem desen-
volvendo o Projeto Turismo Legal que
é o de preservar os recursos naturais
objetiva: dar suporte aos proprietários
da região em que está inserido, o que
ou arrendatários de atrativos naturais
restringe suas formas de exploração,
para adequação da estrutura turística
permitindo apenas o aproveitamento
e de mitigação de impactos ambien-
indireto de seus benefícios. A unida-
tais; e para a regularização ambiental
de tem quase 159 mil hectares, que,
(licenciamento ambiental); assessorá-
apesar das dimensões gigantescas,
-los na adequação da atividade turísti-
equivalente ao tamanho da Cidade de
Fervedouro do Buritis cas às normas e legislações que afetam
São Paulo, encontra-se toda circuns-
o setor; apoiar as Agências de Viagens
crita aos Municípios de Mateiros e São
e Turismo na regularização ambiental
A fauna do Jalapão é composta Félix do Tocantins.
por antas, capivaras, gambás, jacarés, (licenciamento ambiental); e capacitar
A procura pelo Jalapão tem cres- e credenciar guias de turismo e condu-
lobos-guarás, macacos, onças, rapo-
sas, tamanduás-bandeiras, veados- cido de forma constante nos últimos tores de visitantes para atuação pro-
-campeiros, além de cobras – casca- anos, principalmente pela divulgação fissional regular no Parque Estadual
véis, jiboias e sucuris. Entre as aves, feita por programas televisivos. Docu- do Jalapão. Este ano de 2018 encerra
estão araras-azuis, emas, papagaios, mentários, uma novela de alcance na- o prazo final para todos os atrativos

IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018 . 47


MEIO AMBIENTE - Um deserto e suas águas no coração do Brasil
Cristóvão de Melo, a partir do mapa do IBGE e localização via Google Maps

Localização do Parque
Estadual do Jalapão no
leste do Tocantins

naturais, agências de viagens e ope- Instrumento de gestão integrada Bio) é responsável pela gestão de três
radoras turísticas, guias e condutores e participativa, o mosaico busca am- unidades de conservação; o Instituto
de turismo se regularizarem”, explica pliar as ações de proteção para além de Meio Ambiente e Recursos Hídri-
Marcos Miranda. dos limites das unidades de conser- cos da Bahia (Inema) faz a gestão de

O Mosaico vação, compatibilizando a presença duas unidades e o Instituto Natureza

do Jalapão Áreas do Mosaico do Jalapão


Em 30 de setembro de 2016, o
Ministério do Meio Ambiente (MMA)
publicou no Diário Oficial da União
a Portaria nº 434, criando o Mosaico
de Unidades de Conservação do Ja-
lapão. A área abrange nove unidades
de conservação geridas pelos Estados
da Bahia e de Tocantins, com algumas
que também adentram os Estados do
Piauí e do Maranhão. Juntas, totali-
zam quase três milhões de hectares.
Com isso, o Brasil passa a ter 15 mo-
saicos reconhecidos oficialmente.
Seden (TO)

Ministério do Meio Ambiente

da biodiversidade, a valorização da de Tocantins (Naturatins), também


sociodiversidade e o desenvolvimen- duas. Existe, também, uma unidade
to sustentável no contexto regional. É do Município de São Félix do Tocan-
preciso dizer que, mesmo sob prote- tins e outra sob gestão privada, a Re-
ção, as unidades de conservação do serva Particular do Patrimônio Natural
Jalapão sofrem pressão do agronegó- Catedral do Jalapão.
cio e das atividades de turismo.
A região está inserida no bioma
O mosaico abrange unidades cerrado e nela se encontram as nas-
próximas, justas ou sobrepostas, per- centes de afluentes de três importan-
Miranda, Diretor de Planejamento tencentes a diferentes esferas de go- tes bacias hidrográficas brasileiras:
e Projetos Estratégicos,
da Superintendência de verno ou de gestão particular. No Tocantins, Parnaíba e São Francisco.
Desenvolvimento Turístico do Estado Jalapão, o Instituto Chico Mendes de Por isso, o Jalapão é uma região estra-
do Tocantins (Seden) Conservação da Biodiversidade (ICM- tégica para o País.

48 . IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018


Os Desconectados Cristóvão de Melo

Colagem de imagens do Pixabay


(CC0 Creative Commons) feita por
Cristóvão de Melo
CRÔNICA - Os Desconectados

– Sinto muito, senhor. Não que esta unificação tenha tra- material biológico para o mapeamento
Como disse que se chama- zido democratização no ir e vir entre as genético, exigidos de todas as pessoas a
nações. Os processos de solicitação de partir do advento do SMI. Quando lhe
va, mesmo?
vistos continuaram a ser mecanismos alcançaram, ainda lhe foi dada a opção
– José Kabaite, com K. lucrativos para países com barreiras de fazê-lo voluntariamente, mas, ele,
à entrada, assim como para os “coio- assim como outros, se negou.
– Não existe qualquer
tes” que burlavam essas estruturas, A punição para os dissidentes
registro de sua pessoa no por meio de todo tipo de subterfúgio, era conhecida. Foi divulgada em to-
Sistema Mundial de Infor- inclusive os financeiros. Os sistemas de dos os meios de comunicação dispo-
mações. O SMI tem tudo! saúde ficaram ainda mais restritos aos níveis: o exílio na Casa de Carvalho,
Ele sabe tudo! Na verdade, cidadãos, de preferência aos habitantes nome curiosamente escolhido por
se não está no SMI, o se- dos distritos, cujos perímetros virtuais uma brincadeira feita por um técnico
nhor... não existe! foram criados pelo SMI. brasileiro que, durante um congresso
A segurança, ampliada e unifica- de elaboração da nova ordem de se-
– Vivo nessa cidade há gurança mundial, disse ao seu inter-
da em escala global, paradoxalmente,
mais de 40 anos! Apenas locutor, em termos indecorosos, que
criou mais barreiras à liberdade do
não quero participar dessa cidadão comum: obstáculos ao fluxo os que se recusassem a colaborar de-
loucura coletiva! de gente, protecionismos comerciais veriam ser mandados para “um lugar
disfarçados de medidas sanitárias e bem longe”. E assim nasceu a ex-
Este foi o último diálogo travado
outras práticas burocrático-adminis- pressão consagrada para designar o
por José Kabaite antes de ser preso,
trativas continuaram e se exacerbaram exílio de segurança máxima do SMI:
julgado e mandado para a Casa de
após a implantação do SMI. A única a Oak House.
Carvalho, lugar para onde eram envia-
dos os “desconectados”, pessoas que coisa facilitada nos novos tempos foi A Casa de Carvalho era um lugar
ficaram de fora do Sistema Mundial de o exílio dos “desconectados” para a ermo, evacuado dos cidadãos comuns,
Informações, o SMI, implantado entre Casa de Carvalho. deixado somente para os “desconec-
os anos de 2020 e 2030 em todo o tados”. Lá chegavam, por avião ou
Por e-mail, carta ou visita de um
orbe terrestre. O acordo entre os países navio, as pessoas que não admitiram
agente do SMI, todos foram avisados
se deu após o colapso bancário de se- ser registradas no SMI. Eram recepcio-
de que, a partir daquele dia, ninguém
tembro de 2018, quando praticamente nadas pelos coordenadores (“desco-
poderia ficar de fora do controle do
todas as contas correntes foram zeradas nectados” monitorados pelo sistema)
novo sistema, “para o seu próprio
por um ataque coordenado de hackers, e recebiam tarefas que as mantinham
bem, para o bem de todos...”. Os
que fundiram os registros das moedas permanentemente ocupadas.
“desconectados” eram pessoas que,
tradicionais com os das criptomoedas. Nesse lugar, José Kabaite viveu
como José Kabaite, por uma ou vá-
Quando tentaram corrigir o problema, ainda quarenta anos, tornando-se um
rias razões, ficaram de fora do cadas-
os hackers fizeram um segundo ataque simpático nonagenário. Em todo o pe-
tramento. Sim, era possível ficar de
que destruiu o sistema mundial de in- ríodo desde que lá chegou, ele e seus
fora do SMI, voluntariamente, mas as
formações bancárias. O caos se insta- companheiros não tiveram acesso a
consequências eram terríveis, assim
lou e o status social de cada indivíduo redes eletrônicas de comunicação.
anunciavam as publicidades oficiais.
teve que ser recuperado e checado pelo Apenas cumpriam suas atividades
Nos primeiros dois anos da integração
cruzamento de dados remanescentes, comunitárias com afinco: construíam
do sistema, foi dado prazo aos inte-
inclusive de redes sociais. suas próprias moradias, fabricavam
ressados sem documentos, sem conta
O SMI consistiu na obrigatoriedade bancária, homônimos e toda sorte de suas vestimentas e produziam seus
de fusão de todos os sistemas públicos “exceções” às regras para que fizessem alimentos. Bebiam a cerveja e o vi-
de segurança existentes das nações. Do espontaneamente seu cadastro. nho que faziam. Intercambiavam in-
FBI ao SVR. Da Polícia Federal brasileira ternamente as rações diárias. Suas
Até foragidos da justiça ganha- jornadas de trabalho não passavam
à Polícia Montada do Canadá, tudo foi
riam progressões de pena e perdões de seis horas. Condenados a uma pri-
unificado. Um documento único foi cria-
judiciais, se se entregassem e fizessem são que lhes parecia mais livre do que
do. Certidão de nascimento, passaporte,
o recadastramento, porque, a partir do o mundo dos “conectados”, podiam,
previdência, carteira de trabalho, plano
improrrogável último dia de registro, a já com as crianças nascidas na Casa
de saúde, informações biométricas, es-
nova justiça, de alcance mundial, seria de Carvalho, ver o pôr do sol magní-
tado civil e uma infinidade de dados de
muito mais rigorosa na aplicação da lei. fico, todos os dias, nas paisagens pa-
cada ser humano vivente e não-vivente
foi armazenado em um banco de dados, Mas Kabaite, por meio de variados radisíacas, isoladas do mundo, nesta
supostamente protegido física e ciberne- pretextos, conseguiu não ser submetido ilha que um dia se chamou Maui, no
ticamente de qualquer ataque. ao cadastro biométrico nem à coleta de arquipélago do Hawaii.

50 . IMPRENSA NACIONAL - Novos Rumos da Comunicação Pública - ANO 2 - nº 6 - MARÇO/ABRIL - 2018


IMPRENSA NACIONAL
ATENÇÃO PARA OS VALORES REFERENTES
A PUBLICAÇÃO DE MATÉRIAS E
ASSINATURAS ELETRÔNICAS
DOS JORNAIS OFICIAIS

Imprensa Nacional, publicando a história oficial do Brasil desde 1808

www.in.gov.br
Gambá-de-orelha-branca
(Didelphis albiventris)

Em nossa área verde, a


salvo dos perigos urbanos,
esse pequeno gambá,
também conhecido por
saruê, timbu, mucura
ou micurê, dentre
outros nomes, pode
se desenvolver belo e
saudável.
Foto: Rogério Lyra

http://www.in.gov.br

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