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O que poderia se tornar o nosso país sem o ideal da nação e a realidade de uma
burguesia nacional? A França dos anos 2010 começa a aproximar-se perigosamente do
modelo latino-americano tão bem descrito por Eduardo Galeano.
Ainda que a França nunca tenha sido um grande país industrial, ela foi por excelência o
país da luta de classes e o ensaio clássico de Marx chama-se com efeito "As lutas de
classe em França". Esta definição da nação por classes que ali estão em luta durou, ainda
que amortecendo, até ao século XX. Uma inventividade social real decorreu da mesma,
incluindo um sistema de extracção na fonte da mais-valia do capital, o sistema das
contribuições para a Segurança social, ainda em vigor.
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06/11/2018 A França no rumo do modelo colonial latino-americano
Fazer política e pretender governar é hoje ocupar-se da "redução dos défices" da gestão
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06/11/2018 A França no rumo do modelo colonial latino-americano
da polícia. A introdução do sistema da Dívida evoca a sorte dos países do Terceiro Mundo
pressionados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) nos anos 1970. Os franceses,
talvez por vaidade, querem continuar a crer que vivem numa das democracias do mundo
livre e dominante. A sua situação real é aquela do elo fraco num novo género de sistema
colonial, esta União Europeia que abrange países dominados e um país dominante, a
Alemanha, que impõe suas regras e seus homens.
Ora, existe um continente que vive esta situação desde há duzentos anos, próximo da
França culturalmente, pela língua e pelo temperamento, a América Latina cujo estudo
pode nos informar acerca do nosso futuro.
A história da América Latina opõe-se à dos Estados Unidos, cujo modelo económico
repousa na autonomia em relação à Europa, não sendo expatriadas as riquezas
produzidas. Aparentemente, o valor da igualdade, da horizontalidade, enfraqueceu a
relação de autoridade necessária para um mínimo de eficácia económica.
Porfirio Diaz e transformado o país numa colónia escravizada [3] . Diante do governo
nacionalista de Lazaro Cardenas, cujas reformas sociais são comparáveis àquelas da
Frente Popular em França, o cartel petrolífero dos EUA impôs um embargo entre 1939 e
1942!! [4] A Standard e a Shell partilhavam o território mexicano. Cardenas nacionaliza a
exploração do petróleo. Mais ao Sul, a economia da Venezuela repartira-se no século XX
entre o petróleo e os latifúndios tradicionais. Nos anos 1950, a Venezuela, considerada
como o grande lago de petróleo da Standard Oil Company, era a maior base militar
americana presente na América Latina. Já no século XIX a indústria na América do Sul
repousava na boa vontade dos capitalistas europeus, que controlavam o comércio.
"A nação não é senão um obstáculo a ultrapassar – pois a dependência por vezes
desagrada – e um fruto delicioso a devorar. (...) A grande galopada do capital
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06/11/2018 A França no rumo do modelo colonial latino-americano
Retorno à Europa
Este desvio pela América Latina revela de maneira empírica o erro fundamental dos
ideólogos de esquerda que pretendem que a saída do capitalismo passaria pela
destruição do Estado-nação.
24/Março/2018
1. Eduardo Galeano, Les veines ouvertes de l'Amérique latine, 1970, Pocket/Terre humaine, p. 330.
2. Ibid., p. 167.
3. John Kenneth Turner, "Mexico barbaro", 1911.
4. Eduardo Galeano, op. cit., p. 221.
5. Ibid., p. 289.
6. Ibid., p. 291.
[NR] "As veias abertas da América Latina" pode ser descarregado aqui .
[*] Historiador
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