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Sociedades Comerciais

Lições 3ª e 4ª do Programa

Tipicidade e Autonomia da vontade

Só podem ser criadas sociedades comerciais que vão de encontro com a tipificação
compreendida na lei.

Ao abrigo da autonomia privada, a lei aceita interferência, desde que as regras


adoptadas para regular a estrutura interna da sociedade não ponham em causa a essencialidade
do tipo  as regras adoptadas não podem descaraterizar o tipo em causa.

Assim, de acordo com o art.1º/2 e 3 do CSC, as sociedades comerciais devem adoptar


um de quatro tipos. O empresário tem assim, liberdade para escolher o tipo negocial, mas não
pode criar uma espécie de sociedade diferente das previstas, com base em cláusulas por si
imaginadas, recorrendo a regras de mais que um tipo societário.

Ao abrigo da liberdade de estipulação e, com o respeito pelo princípio da tipicidade e


das normas imperativas, o empresário pode regular aspectos da sociedade que possui.

Aparecimento e desenvolvimento dos tipos societários

Sociedade em nome colectivo

Em que dois ou mais sócios, juntando os respectivos esforços e capacidades financeiras,


resolvem empreender conjunta e articuladamente uma actividade económica lucrativa, como
se fossem uma só pessoa, respondendo, pessoal e solidariamente e sem limite com os restantes
sócios, perante os credores sociais pelas dívidas da sociedade, como se se tratasse de uma
actividade individual.

Sociedades em comandita

Tratava-se de um tipo social que permitia a um ou mais sócios (os comanditários)


permanecer na sombra, limitando a sua responsabilidade ao capital que disponibilizavam. O
sócio que constituía a face visível do negócio (o comanditado) assumia a sua direcção e a
responsabilidade ilimitada pelos respectivos resultados.

Sociedade anónima

As sociedades anónimas podem assumir diversas configurações, consoante a estrutura


do respectivo capital:

> Relativamente fechadas – com limitações à transmissibilidade das respectivas


participações. Têm um cariz familiar. A lei permite-lhes o aproveitamento de regras que
as aproximam das sociedades por quotas;

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> Modelo típico de sociedade anónima – com pequena ou média dimensão. É o modelo
tal como resulta do CSC. As participações são livremente transmissíveis e são
desprovidas de elementos subjectivos;
> Grande sociedade anónima – estrutura orgânica complexa, correspondente à grande
sociedade anónima, criada pela Reforma Societária de 2006. Sempre que adoptar o
modelo de governação clássico, deverá possuir uma fiscalização complexa;
> Sociedade com capital aberto ao investimento – podem estar cotadas ou não.
Sociedades constituídas com apelo ao público ou relativamente às quais ocorre uma
oferta pública de valores mobiliários, não são apenas aquelas cujas participações
(acções) ou outros valores mobiliários se encontram admitidos à negociação em
mercado regulamentado – bolsa de valores. Existem outras sociedades anónimas, cujo
capital também se está aberto ao investimento público – e sujeitas, a um regime jurídico
mais rigoroso –, embora possam apresentar, relativamente às cotadas, regras
estatutárias específicas. Sociedades abertas todas as que se constituem ou emitem
valores mobiliários por meio de oferta pública.

Sociedades por quotas

Permite organizar em estruturas pequenas, com um número reduzido de sócios,


actividades económicas com limitação da responsabilidade dos sócios ao capital social subscrito.

O tipo social paradigmático

O regime jurídico da sociedade anónima assume-se como paradigmático do regime das


sociedades comerciais (em especial daquelas que são de responsabilidade limitada). Exemplo –
art.248º/1 do CSC, segundo o qual as regras referentes às assembleias gerais das sociedades
anónimas são aplicáveis às sociedades por quotas, em tudo o que não estiver especificamente
regulado para estas.

A sociedade por quotas, mantém-se, contudo, como modelo da sociedade em nome


colectivo, dada a vertente subjectiva associada à respectiva participação (art.189º/1 do CSC).

Autonomia da vontade e concorrência

As sociedades comerciais, em regra, movem-se livremente no mercado concorrencial em


que se integram, e em função do qual são constituídas, praticando actos ou celebrando
contratos que não sejam legalmente proibidos – princípio da autonomia privada dos respectivos
sujeitos.

Este princípio é sinónimo de faculdade de autorregulação de interesses ou permissão


genérica de produção de efeitos jurídicos, correspondendo a uma área reservada na qual as
pessoas podem desenvolver as actividades jurídicas que entenderem, com respeito pelas regras
imperativas.

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O domínio das sociedades comerciais é privilegiado da autonomia privada, em que
sobrelevam os interesses dos empresários (os sócios) e de todos os que se encontram
directamente envolvidos (inclusive, clientes e credores – art.64º/1/b).

No que respeita aos valores mobiliários, quando emitidos em massa e oferecidos no


mercado, ao público em que geral, eles requerem que a ordem jurídica tome as precauções
adequadas, estabelecendo limites apertados à livre iniciativa dos agentes e surgindo então, um
número mais significativo de disposições de carácter cogente ou injuntivo para tutelar tais
situações.

Quanto ao mercado, em que actuam os sujeitos de Direito em questão, ele é, por


natureza, concorrencial. A concorrência é formada pela livre participação dos agentes
económicos, limitadas pelo direito que todos têm de aceder ao mercado. A liberdade é, também
aqui, sinónimo de permissão genérica de actuação, sendo admitido tudo aquilo que, em tutela
de interesses alheios legítimos, não for, directa ou indirectamente, proibido.

Podemos concluir serem as situações de tipicidade legal excepções ao princípio da


autonomia privada, não apenas a nível dos próprios tipos societários, como quanto à forma de
representação do próprio capital social.

Estamos num domínio em que não há que procurar a autorização para a prática de um
acto ou a celebração de um contrato, mas apenas verificar que a solução contratual não põe em
causa regras imperativas ou os princípios caracterizadores do próprio sistema jurídico-
societário.

Principais características dos diversos tipos societários

Sociedades em nome colectivo

> Sociedades comerciais participadas por um ou mais sócios (pessoas singulares ou


colectivas);
> Os sócios assumem responsabilidade pessoal, solidária e ilimitada, mas subsidiária;
> O seu regime encontra-se nos arts.175º a 196º do CSC;
> A lei remete para as disposições das sociedades por quotas – art.189º/1.

Temos dois tipos de sócios:

> Sócios de capital – aqueles que realizam uma entrada em dinheiro ou em espécie;
> Sócios de indústria – aqueles que realizam actividades através do seu trabalho.

Quanto à firma (designação pela qual a sociedade irá ser conhecida), esta deve ser
constituída de forma a que a todos seja possível identificar que estão perante uma sociedade
em nome colectivo. Se não for possível identificar todos os sócios no nome da sociedade, de
acordo com o art.177º, deve existir pelo menos o nome de um dos sócios e um respectivo
aditamento, por exemplo, “Mafie & Companhia”.

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Mas a firma pode prefigurar situações onde um dos sócios é outra sociedade, com um tipo
societário distinto, tendo uma responsabilidade diferente. Importa assegurar nesses casos, que
a firma, por exemplo, “António Silva Lda. & outros”, não se confunda com a designação do outro
tipo societário. Para além dos outros sócios (“& Outros”), o sócio que dá crédito à sociedade em
nome colectivo é a sociedade por quotas “António Silva Lda.”.

A firma é um elemento distintivo do próprio tipo societário. Quando olhamos para o nome
de uma sociedade devemos imediatamente associar esse nome a uma realidade e a um
determinado regime de responsabilidade.

Regime de responsabilidade

Cada sócio é responsável para com a sociedade pela prestação da sua entrada; e responde
solidariamente com os restantes sócios e ilimitadamente perante os credores da sociedade,
pelas dívidas desta – art.175º.
Subsidiária – só tem lugar quando o património não é suficiente para fazer face às dívidas
da sociedade, de modo que os credores pessoais dos sócios também não sejam defraudados
perante os credores sociais. Mas não tem de haver hierarquização.
Os sócios da indústria são também responsáveis nas relações externas, sendo a sua
responsabilidade subsidiária – art.178º.

Participações sociais
As participações denominam-se partes sociais e não são representadas por títulos –
art.176º.

Sociedades por quotas

As sociedades por quotas são reguladas pelos arts.197º a 270º-G, contudo, existem
remissões para algumas normas das sociedades anónimas, uma vez que são o modelo das
sociedades comerciais.
Relativamente à firma:
> Esta pode ser formada com ou sem sigla;
> Deve ser composta pelo nome (ou firma) de todos ou de alguns dos sócios, ou aludir à
actividade que a sociedade se propõe a prosseguir;
> Deve concluir com “Limitada” ou a abreviatura “Lda.”

Regime de responsabilidade
Cada sócio responde pela sua entrada, mas solidariamente com os restantes sócios e
até ao montante do capital social subscrito – art.197º/1.
Só a sociedade responde pelas suas dívidas, perante os credores (art.197º/3), excepto
se os sócios garantirem expressamente que se responsabilizam pelas mesma “até determinado
montante”.
O regime de responsabilidade pode ser clausulado, o que significa, que relativamente a
alguns sócios e a alguns actos, aqueles podem responder para além do capital a que
subscreveram – característica que pessoaliza este tipo societário.

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Participações sociais
A parte denomina-se quota e não é titulada (arts.197º/1 e 219º/7). O seu valor mínimo
é de 1,00€ - art.219º/1 e 3 e art.250º/1.

Sociedades Anónimas

A grande sociedade anónima – sociedade emitente de valores mobiliários admitidos à


negociação em mercado regulamentado (sociedade cotada). Uma grande sociedade anónima é
aquela que por dois anos consecutivos, ultrapasse dois dos seguintes três limites (art.413º/2/a):
> Total do balanço de vinte milhões de euros;
> Quarenta milhões de euros de vendas líquidas e outros proveitos;
> Uma média de duzentos e cinquenta trabalhadores durante o exercício.

Subtipos actuais

> Sociedade anónima simplesmente – disciplinada pelas normas do CSC, com


excepção daquelas que forem unicamente aplicáveis à grande sociedade anónima
(ou à cotada);
> Grande sociedade anónima – à qual se aplica o CSC em geral, com as especificidades
impostas em razão da respectiva dimensão – arts.413º/2/a; 374º-A; 396º/1; 414º/4
e 5; 423º-A/4;
> Sociedade anónima aberta (não cotada) – regulada pelas disposições do CSC e
sujeita ao regime mais rigoroso do CVM (arts.13º a 29º);
> Sociedade anónima (aberta) cotada – além dos preceitos normativos comuns a
qualquer grande sociedade anónima ou sociedade aberta, regras próprias e
específicas constantes do CSC –arts.77º/1, 414º/6 e 423º-B/5.

Enquadramento legal e firma

Arts.271º a 464º - o regime específico das sociedades anónimas abertas extrai-se do


CVM (arts.13º a 29º). Relativamente ao regime aplicável às participações e a algumas das suas
vicissitudes (nomeadamente emissão e transmissão) há também que recorrer a este diploma
(arts.39º a 107º).

Firma – os princípios geralmente aplicáveis às sociedades por quotas são válidos, com
as adaptações a este tipo societário. Deve concluir com a expressão “sociedade anónima” ou
“S.A.”.

Regime de responsabilidade
A responsabilidade dos accionistas pelo valor da entrada é individual e exclusiva –
art.271º. Se o acionista realizar a totalidade da sua participação, ele não terá mais qualquer
responsabilidade pela actividade societária, para além da que possa vir a assumir
especificamente a título puramente pessoal (diferente das SQ).
Só a sociedade é responsável pelas suas dívidas (art.271º contrario sensu). Limitando-
se a responsabilidade do acionista ao montante que subscreve.

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Participações sociais
As participações sociais designam-se por acções, correspondendo a fracções do capital
co o mesmo valor nominal (mínimo 0,01€), ou sem valor nominal, representadas por títulos
(livremente transmissíveis) ou meramente escriturais (art.271º, 274º, 276º/2 e 298º e seguintes
do CSC e arts.39º e seguintes do CVM).

Sociedades em comandita

Arts.465º a 480º. Pode revestir um de dois modelos:


> Comandita simples – são-lhes aplicáveis as regras das sociedades em nome colectivo.
As participações são todas não tituladas e denominam-se partes sociais. A firma é
designada pelo nome ou firma de um sócio, acrescentada pela expressão “em
comandita” – art.467º;
> Comandita por acções – são-lhes aplicáveis as regras das sociedades anónimas. As
participações sociais dos comanditados são partes sociais e as dos comanditários
são acções tituladas e regidas pelos preceitos que caracterizam o regime das
sociedades anónimas. Quanto à firma estas são iguais às de comandita simples, com
a diferença que devem finalizar-se por “comandita por acções” – art.467º.
Regime de responsabilidade
É composto por duas espécies de sócios, com regimes de responsabilidade distintos –
art.465º/1.
> Sócios comanditados – assumem a responsabilidade pelas dívidas da sociedade;
> Sócios comanditários – não respondem por quaisquer dívidas da sociedade, para
além do capital que subscreveram.

Sociedades entre cônjuges

A lei admite que os cônjuges constituam, entre si, uma sociedade comercial – art.8º/1
com as devidas regras.
Não o podem fazer se dessa celebração ou participação resultar a possibilidade de
defraudar o princípio da imutabilidade do regime de bens, consagrado na nossa lei civil –
art.1714º/1 do CC.
O art.8º do CSC diz-nos que em todas as sociedades de responsabilidade limitada os
cônjuges podem ser simultaneamente sócios e, nas sociedades por quotas, os únicos sócios.
Sendo a quota um bem comum do casal, a lei considera como sócio o cônjuge que tenha
celebrado o contrato de sociedade ou, em caso de aquisição em vida da sociedade, o que tenha
encabeçado o acto aquisitivo – art.8º/2 do CSC.
A preocupação da lei com a individualização e identificação

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