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MORFOLOGIA INTERNA
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All content following this page was uploaded by Roberto da Silva Camargo on 18 February 2014.
Morfologia Interna
O conhecimento das estruturas dos órgãos internos dos insetos é a base para
se entender o seu funcionamento. Estes estão agrupados em sistemas, tais como:
digestório, respiratório, reprodutor, excretor, circulatório e endócrino. Abaixo seguem
a descrição e o funcionamento dos órgãos que constituem esses sistemas.
Estrutura geral
O sistema digestório ou tubo digestivo inicia-se pela boca e termina no ânus, percorrendo o
corpo do inseto longitudinalmente. O espaço entre a parede do corpo e o canal alimentar se chama
hemocele ou cavidade geral; espaço que encontra-se preenchido pela hemolinfa. O sistema digestório
divide-se em três regiões:
O estomodeu é revestido por uma cutícula e constituído de células achatadas e não diferenciadas,
denotando que nesta região não ocorre secreção e pouca absorção. A faringe tem a musculatura bem
desenvolvida para a ingestão e passagem posterior do alimento. O esôfago geralmente apresenta uma
forma tubular simples, servindo como junção entre a faringe e o papo. No papo ou inglúvio, o alimento
é armazenado por algum tempo, sob ação de enzimas e, posteriormente, dirige-se ao proventrículo,
uma porção mais ou menos dilatada, dotada de rugas ou dentes quitinosos para a trituração dos alimentos.
Ao final do estomodeu, encontra-se a válvula cardíaca que tem a função de impedir o retorno do
alimento do mesêntero para o estomodeu, de onde se projeta para a região anterior do mesêntero.
As glândulas salivares presentes na cabeça estendem-se para a região anterior do tórax (protórax)
com seus dutos salivares abrindo-se na hipofaringe, para umedecer o bolo alimentar. Além disso, a saliva
possui enzimas que agem sobre os carboidratos, como amilases, maltase, invertase, etc, e que começam suas
ações logo da entrada dos alimentos na cavidade oral, para auxiliar na digestão. Outras funções da saliva
são limpar estiletes bucais, impedir coagulação do sangue do hospedeiro (hematófagos), entre outras.
As células secretoras do epitélio são endócrinas quando retêm suas secreções, liberando-as
para o interior do ventrículo; merócrinas quando liberam suas secreções sem sofrer grandes mudanças;
e holócrinas, quando as células se desintegram, sendo substituídas por células novas, que se dividem
na base do epitélio. Estas células secretam todas as enzimas digestivas: amilases, maltases, invertases,
lipases e proteases, que hidrolisam respectivamente os amidos, maltose, sacarose, lipídios e proteínas.
Os restos alimentares que não foram digeridos, nem absorvidos, permanecem no lúmen do
intestino médio, passando a seguir para o interior do intestino posterior. No ponto de inserção entre
o intestino médio e o posterior, abrem-se ductos ou tubos de Malpighi (sistema excretor), e assim os
compostos nitrogenados (catabólitos que são liberados na hemolinfa) irão se misturar aos dejetos
vindos do intestino médio. O mesêntero termina na válvula pilórica, que se liga ao proctodeu e regula
o fluxo dos dejetos entre o mesêntero e o proctodeu. O material permanece no lúmen do intestino
médio junto com as excretas dos tubos de Malpighi, entrando então no intestino posterior (proctodeu).
Proctodeu ou intestino posterior (Figura 3.3): origem ectodérmica; nesta região ocorre a
absorção de água, sais e demais moléculas, e ocorre também a eliminação das fezes pelo ânus. É um
tubo simples e subdividido em duas regiões: íleo (anterior) e cólon (posterior). Em continuação a
este, se encontra o reto, porção dilatada em forma de ampola, que leva a uma abertura terminal, o
ânus. Nessa região estão presentes as glândulas retais que reabsorvem água e nutrientes essenciais,
antes que os excrementos sejam eliminados, sendo de extrema importância para insetos que se
alimentam de materiais secos, como grãos armazenados, bem como para os insetos que vivem em
ambientes com escassez de água. O proctodeu apresenta três camadas de músculos que favorecem a
movimentação e a evacuação dos dejetos, que são as fezes.
Esta morfologia possibilita que o excesso de água e moléculas pequenas, como açúcares
simples, passem rapidamente da porção anterior do intestino médio para os tubos de Malpighi,
evitando assim a diluição da hemolinfa e permitindo a concentração do alimento.
As câmaras filtro são adaptadas de acordo com a origem do líquido vegetal ingerido. Insetos
que se alimentam do fluído localizado no xilema, como as cigarras, ingerem um líquido rico em íons,
escasso de compostos orgânicos e com baixa pressão osmótica. Já os insetos que se alimentam de líquido
do floema (como cochonilhas e pulgões), apresentam uma câmara-filtro altamente especializada. Esta
transporta açúcares (através de bombeamento ativo) e água (passivamente) da região anterior, do
mesêntero para o íleo, e posteriormente, do cólon para o reto, cuja excreta é denominada “honeydew”.
Estrutura geral
O sistema circulatório é provido de um vaso dorsal e órgãos pulsáteis acessórios, com tecidos
associados. O vaso dorsal é um tubo aberto na extremidade anterior e fechado em sua extremidade
posterior. Este vaso é dividido em duas partes (Figura 3.5):
a) coração: parte do vaso contida no abdome, na região posterior; possui aberturas (óstios ou
ostíolos) para a entrada da hemolinfa; b) aorta: tubo fechado, em continuidade com o coração, inicia-
se no tórax e termina na cabeça, com sua abertura logo atrás do cérebro.
Lateralmente ao coração, há tecidos que originam os diafragmas, conhecidos como dorsal e ventral.
O dorsal é formado por tecidos conectivos e músculos transversais, e o ventral, por estrutura fibromuscular.
Estes são responsáveis em dividir o corpo em três seios, que são os espaços onde circula a hemolinfa:
Seio pericárdio ou dorsal: envolve o vaso dorsal e tecidos associados (músculos alares);
Seio perivisceral ou visceral: envolve o trato digestório e seus órgãos;
Seio perineural ou ventral: envolve a corda nervosa ventral, separado do seio perivisceral
pelo diafragma ventral.
Nas pernas, a circulação ocorre pelos órgãos pulsáteis localizados em cada tíbia, logo abaixo
da articulação com o fêmur. O tecido pulsátil é em formato de um saco, ou é uma membrana ativada
por um músculo compressor.
O fluxo da hemolinfa no corpo dos insetos está esquematizado na Figura 3.6: (1) O coração
dilatado em diástole aspira a hemolinfa, que está no seio pericárdico, por meio dos ostíolos. (2) A
contração sistólica então impele a hemolinfa para frente em direção à aorta até a cabeça, sendo que
neste momento, as válvulas ostiolares estão fechadas. (3) Na parte torácica, o vaso dorsal recebe a
hemolinfa que circulou nas asas, foi coletada pelo seio pericardíaco e aspirada pelos órgãos pulsáteis
tergais (dorsais), estando de volta à corrente circulatória e descarregada na cabeça, logo atrás do
cérebro. (4) Da cabeça, a hemolinfa percola-se posteriormente, a qual é coletada nos seios perivisceral
e perineural. (5) A hemolinfa tem deslocamento ântero-posterior, irrigando o trato digestório, órgãos
reprodutores, sistema nervoso e traquéias, e é coletada diretamente dos seios. (6) Os movimentos
ondulatórios dos diafragmas e as contrações musculares abdominais, facilitam o deslocamento da
hemolinfa para trás; através das passagens marginais dos diafragmas, ela move-se para cima, sendo
coletada no seio pericardíaco e admitida no coração, por diástole.
Hemolinfa
A hemolinfa é um fluído aquoso contendo íons, moléculas e células; fluído claro e na maioria
das vezes sem coloração, mas podendo apresentar pigmentos variados. Todas as trocas químicas entre
os tecidos dos insetos são mediadas via hemolinfa, onde os hormônios são transportados, os nutrientes
absorvidos no intestino são distribuídos e os excretas são removidos pelos tubos de Malpighi, que
sempre estão banhados e flutuando na hemolinfa. Além disso, serve também como reservatório de
água, com seu principal constituinte, o plasma. Este é uma solução aquosa de íons inorgânicos,
lipídios, açúcares (principalmente trehalose), aminoácidos, proteínas, ácidos orgânicos e outros
compostos. Altas concentrações de aminoácidos e fosfatos orgânicos caracterizam a hemolinfa dos
insetos, e muitas estão associadas com a proteção ao frio.
Células Função
Amebócitos Fagocitose e habilidade de unirem-se para formar cistos protetores
em volta dos parasitas;
Proleucócitos Provavelmente precursores de outros tipos de hemócitos;
Além disso, a hemolinfa fornece proteção e defesa aos insetos contra: injúria física; entrada de
patógenos, parasitas e outras substâncias estranhas, e às vezes, contra ação de predadores.
A respiração ocorre por um sistema traqueal aberto, ramificado, por onde o ar penetra e é
eliminado igualmente por esse mesmo sistema, ou pelo tegumento. Este sistema ramificado entra em
contato com todos os órgãos internos e tecidos, apresentando traquéias extremamente numerosas em
tecidos com altas necessidades de oxigênio.
No controle de gases e substâncias tóxicas, os insetos têm condição de evitar a perda de vapor
de água ou a intoxicação por gases, por meio de seu aparelho de oclusão, parte integrante do espiráculo
funcional. Este compreende um ou mais músculos associados com partes cuticulares que permitem
a oclusão do espiráculo.
Espiráculos: estruturas por onde penetra o ar oxigenado e sai o ar com CO2; constituídos por
uma abertura externa, um esclerito anelar (denominado de peritrema), o átrio ou vestíbulo e a válvula
de oclusão;
Traquéias, traqueíolos ou traquéolas: condutos de ar;
Sacos aéreos: são traquéias dilatadas (sem tenídio) em diversas partes do corpo, para formar
vesículas de parede fina, cuja função primordial é armazenar ar oxigenado;
Traqueoblatos: são células de origem epidérmica que revestem a traquéia, posteriormente
diferenciando-se em traqueíolos;
Tenídio: uma estrutura mais espessa, com quitina, de forma helicoidal, que reveste todas as
traquéias e traquéolas, cuja função é manter a traquéia distendida, aberta, e livre para o fluxo de ar.
Fluído traqueolar: líquido contido nos traqueíolos, levando às células o oxigênio.
A abertura externa do átrio é circundada pelo peritrema (estrutura quitinosa espessa), sendo
semelhantes em seu formato, que geralmente é circular, elíptico ou alongado. O ar, antes de entrar nas
traquéias, é filtrado pelo átrio ou vestíbulo (uma antecâmara), tendo sua passagem controlada pela válvula
de oclusão, cuja função é impedir a entrada de poeira, gases, água e substâncias tóxicas indesejáveis.
A troca de gases nos tecidos é realizada por condutos intracelulares com diâmetro menor que 1
m, denominados traquéolas e que são ramificações terminais das traquéias. Na extremidade das
traquéolas e em contato com o tecido, encontra-se um líquido traqueolar, que permite as trocas gasosas.
Apnêustico: não há espiráculos funcionais, sendo um sistema fechado, o oxigênio entra por
difusão através da superfície do corpo. Encontrado em insetos aquáticos e endoparasitas;
Polipnêustico: caracterizado por apresentar pelo menos oito pares de espiráculos funcionais,
holopnêustico: o arranjo mais primitivo com dez pares funcionais, encontrado, por exemplo, nos
gafanhotos; hemipnêustico: apresenta um ou mais pares não funcionais, geralmente encontrado em
larvas; peripnêustico: com nove pares funcionais, sendo que os espiráculos protorácicos e abdominais
encontram-se abertos e os do metatórax, fechados; encontrados nas formas imaturas de Hymenoptera;
Ventilação
É o percurso que o ar faz pelo sistema traqueal ao circular pelo corpo. O ar entra pelos
espiráculos, que apresentam uma movimentação rítmica de abre-e-fecha, para evitar a perda de água
para o ambiente. Esta ventilação pode ser direta ou indireta.
Certas espécies obtêm o O2 alocando os seus espiráculos dentro dos aerênquimas de plantas
aquáticas. Este hábito ocorre em larvas de Donacia (Coleoptera), Chrysogaster (Diptera) e larvas e pupas
de Notiphila (Diptera). Essas espécies vivem na lama, contendo uma baixa concentração de oxigênio.
A respiração cutânea (apnêusticos) ocorre em larvas de primeiro ínstar, pois apresentam seu
sistema traqueal preenchido por líquido e espiráculos fechados, como exemplo, larvas de Braconidae
e Ichneumonidae (Hymenoptera) e em Diptera parasitas.
O sistema consiste de um par de ovários, com dois ovidutos laterais que convergem para um
oviduto comum. Este continua, posteriormente, pela vagina, que se abre no exterior através do
gonóporo feminino ou vulva. Existe ainda a espermateca, que recebe e armazena os espermatozóides
durante o intervalo entre a cópula e a fecundação do óvulo e glândulas acessórias. Os ovários são
órgãos mais ou menos compactos, presentes na cavidade geral do corpo. Cada ovário é composto de
um número variável de tubos separados, os ovaríolos contendo os óvulos em formação e que se abrem
no oviduto lateral (Figura 3.8). O número de ovaríolos por ovário permanece constante dentro de
uma espécie, variando amplamente entre elas. Por exemplo, alguns pulgões e besouros apresentam
apenas um ovaríolo por ovário, em contraposição, uma rainha de cupim pode apresentar mais de
2.000 ovaríolos por ovário.
Os ovaríolos são classificados de acordo com a presença ou ausência de células nutrizes e sua
localização no ovaríolo (Tabela 3.2).
Adicionalmente, os ovidutos laterais estão ligados a cada ovário, formando um oviduto comum
contínuo até a vagina. O oviduto serve como um conduto para os ovos a serem depositados, e em
alguns Lepidoptera, a vagina forma uma estrutura copulatória, onde o macho deposita seus
espermatozóides, que a partir desse ponto encaminham-se para a espermateca (onde são armazenados),
mantendo-os viáveis até o momento da fecundação do óvulo.
As glândulas acessórias ou coletéricas estão presentes na região distal da vagina e têm como
funções fornecer material para a confecção da ooteca, ou produzir secreções para fixar os ovos no
substrato em que serão ovipositados.
A maioria das estruturas que formam o sistema nervoso está disposta ventralmente sob o tubo
digestivo, exceto o cérebro que está localizado na cabeça, sendo conectado a um par de nervos, ao
redor do estomodeu, o anel circum-esofagiano e a um número variável de gânglios dispostos em um
cordão nervoso, ou corda nervosa ventral (dupla).
De acordo com o local para o qual o estímulo é dirigido, os neurônios podem ser agrupados
em quatro tipos:
Os corpos celulares dos interneurônios e dos neurônios motores estão agregados dentro de
fibras, interconectando todos os tipos de células nervosas, para formar centros nervosos chamados
gânglios. Estes são responsáveis pela formação do sistema nervoso central (SNC), que consiste em
uma série de gânglios unidos pelo cordão nervoso longitudinal e ventral, denominados de conectivos
e, horizontalmente, unidos por comissuras (Figura 3.12). O SNC apresenta um cérebro, que, às vezes,
pode ser denominado de gânglio supra-esofagiano, e outra massa ganglionar localizada abaixo do
esôfago, o gânglio subesofagiano, sucedido por uma série de pares de gânglios torácicos e abdominais.
dois nervos antenais sensoriais e partem dois nervos antenais motores. 3. Tritocérebro: abaixo do
deuterocérebro, relacionado com todos os demais sinais que chegam do corpo (Figura 3.13).
O sistema nervoso periférico consiste de nervos que deixam ou chegam ao sistema nervoso
central para inervar os músculos ou órgãos dos sentidos, que recebem os estímulos mecânicos,
químicos e térmicos do ambiente externo.
Funcionamento
Centros endócrinos
Corpora cardiaca: que são corpos neuroglandulares pareados, localizados atrás do cérebro;
eles armazenam e liberam neuro-hormônios, como os protorácico-trópicos, que estimulam a atividade
secretora das glândulas protorácicas.
Glândulas protorácicas: glândulas pareadas, geralmente localizadas no tórax ou na cabeça;
secretam ecdisteróides, principalmente o ecdisônio, que, após a hidroxilação, promovem o processo
de muda do exoesqueleto.
Corpora allata: são corpos glandulares pequenos, discretos e pareados, cuja função é secretar
hormônio juvenil, regulando a metamorfose e a reprodução.
Hormônios
Neuro-hormônios: são peptídeos responsáveis por muitos eventos na vida dos insetos, como
desenvolvimento, homeostase, metabolismo e reprodução, incluindo a secreção dos hormônios juvenis
e ecdisteróides. Um exemplo é o hormônio protorácico-trópico, que estimula as glândulas protorácicas
a produzirem os ecdisteróides, que, antes de serem liberados na hemolinfa, são armazenados nos
corpora cardiaca.
Ecdisteróides: é a designação para qualquer esteróide que promova a atividade do processo de
muda, sendo produzido pelas glândulas protorácicas. O ecdisônio ou ecdisona, principal ecdisteróide é
liberado na hemolinfa e convertido nos tecidos periféricos, em 20-hidroxiecdisônio, que é a forma ativa do
hormônio. Além de atuar na metamorfose, os ecdisteróides também são produzidos pelos ovários e atuam
na maturação ovariana, ou seja, no processo de deposição de vitelo no interior dos oócitos.
Hormônio juvenil: é um sesquiterpeno produzido pela corpora allata; esse hormônio é
liberado na hemolinfa à medida que é produzido e atua nos processos da metamorfose durante os
estágios imaturos; nos adultos, ele atua na maturação sexual e no comportamento.
Visual
Quase todos os insetos dependem da visão para suas atividades, exceto insetos subterrâneos
e endoparasíticos. Os componentes básicos são as lentes para condensar o campo de visão para células,
as quais contem substâncias químicas sensíveis à luz e um complexo sistema nervoso, suficiente para
interpretar e agir de acordo com a informação visual. Para tanto, os órgãos de percepção específicos
são os olhos compostos e ocelos.
Olhos compostos
Estrutura
Os olhos compostos são formados por omatídios, que variam em número de acordo com a
espécie. Existem aproximadamente 10.000 omatídios nos olhos das libélulas e no macho das abelhas,
5.500 em operárias de abelha Apis mellifera, e em casos extremos, operárias de formigas têm apenas
um único omatídio em cada lado da cabeça, como em Ponera punctatissima.
Os omatídios são hexagonais e sensíveis à luz. Cada omatídio é composto por córnea, cone
cristalino e uma região receptora denominada de retina. A retina é composta por um conjunto de sete
células pigmentadas, denominadas retínulas. Estas secretam uma estrutura em forma de bastão que as
circundam, chamada de rabdoma. O omatídio está circundado por células pigmentadas acessórias, sendo
que as primárias cobrem o cristalino, e as secundárias dispõe-se lateralmente, ambas formando a íris.
Trajeto da luz
A luz que entra pela córnea, é concentrada no cone cristalino de alto índice de refração e
dirige-se ao rabdoma, sendo distribuído para as retínulas. Posteriormente, o estímulo é direcionado
ao protocérebro do inseto. Uma imagem é formada, apresentando aparência de mosaico.
Muitos insetos possuem uma visão colorida, particularmente, abelhas e borboletas que visitam
flores para se alimentarem. Variação nos pigmentos dos olhos permite a detecção de diferentes
comprimentos de ondas de luz (cores). Os insetos detectam pobremente o final do espectro vermelho,
mas detectam bem o ultravioleta, fornecendo um padrão de atração visível.
Estão presentes em muitas larvas e na maioria dos insetos adultos. Estes podem ser de dois
tipos: ocelos laterais e dorsais.
Ocelos laterais
São estruturas de larvas e pupas, pois apresentam omatídios e sete células retinulares. Estão
arranjados na cabeça para que não ocorra nenhuma sobreposição dos campos visuais, formando um
mosaico grosseiro compensado pelo movimento contínuo da cabeça.
Ocelos dorsais
Estão localizados no vértice da cabeça, ao lado dos olhos compostos, e/ou na fronte.
Estruturalmente, são semelhantes ao ocelo lateral, com um grupo de células visuais e de uma lente
comum. Servem para a percepção de pequenas variações da intensidade luminosa, sendo
“estimuladas”, pois aumentam a resposta à luz recebida por meio dos olhos compostos.
Estemas
Olhos simples, laterais, características das larvas dos insetos holometábolos, impropriamente deno-
minados de ocelos, que são olhos simples medianos que ocorrem em várias ninfas e adultos de insetos.
Mecânico
O corpo dos insetos é recoberto por projeções cuticulares, que recebem os estímulos mecânicos.
Estes são pelos, cerdas rígidas ou estruturas campaniformes. Esses estímulos são recebidos por
receptores chamados sensilos tricóideos, que são pelos que ampliam a área de contato. Os sensilos
estão associados a células tricógenas (grandes e vacuoladas), e um neurônio bipolar base que transmite
o estímulo ao corpo (ver Capítulo 2, Figura 2.1).
Atribuem-se as seguintes funções: táctil (antenas, palpos, cercos e tarsos), orientação no ar,
sentido de gravidade e pressão (proprioceptores).
Táctil: Os pelos táteis estão distribuídos por todo o corpo e em grande número, por exemplo,
a perna mesotorácica de Schistocerca (Orthoptera: Acrididae) apresenta cerca de 1.500 a 2.000 pelos
mecanoreceptores.
Químicos
O estímulo químico é processado pelos órgãos do olfato (ação à distância) e gustação (ação de
contato). Os receptores químicos responsáveis pela percepção do olfato são os sensilos basicônico e placódeo.
Esses sensilos estão localizados principalmente nas antenas, como foi verificado nas abelhas,
que têm olfato particularmente apurado e nas baratas, que são capazes de localizar o alimento,
movimentando-as em todas as direções. Em outros insetos, palpos maxilares e labiais apresentam sensilos
olfativos, por exemplo, baratas e grilos localizam o alimento através de sensilos localizados nos palpos.
Sonoros
O estímulo sonoro provém de vibrações que são propagadas pelo ar ou substrato, incluindo
a água. Geralmente, a recepção das vibrações ocorre por um órgão de audição, denominado tímpano.
Este é composto de uma membrana cuticular fina, com uma ou mais traquéias associadas e grupos de
sensilos escolopóforos ou órgãos cordotonais. Estes órgãos são um grupo de sensilos com um único
ponto de inserção. A recepção da vibração pode ser: não timpânica e timpânica.
Não timpânica: é uma forma simples de recepção sonora que ocorre em algumas espécies de
insetos. Esta recepção acontece por meio de um sensilo alongado e muito sensível, respondendo à
vibração produzida próxima à origem do som. Os órgãos sensoriais especializados que recebem as
vibrações são mecanorreceptores subcuticulares, denominados de órgãos cordotonais. Todos os insetos
adultos, e muitas larvas, têm um órgão cordotonal específico, o órgão de Johnston, localizado dentro
do pedicelo antenal (segundo segmento). Sua função primária é o sentido de movimento do flagelo
antenal em relação ao resto do corpo, para regular a velocidade do voo. Adicionalmente, é atribuída
uma função auditiva em alguns insetos.
Timpânica: o tímpano é um receptor específico, composto por uma membrana que responde
aos sons produzidos a determinadas distâncias, transmitida pela vibração do ar. Estes órgãos estão
localizados, (a) ventralmente no tórax, entre as pernas metatorácicas dos louva-a-deus (Mantodea); (b)
no metatórax de muitas mariposas da família Noctuidae; (c) pernas protorácicas de muitos ortopteróides;
(d) laterais do primeiro segmento abdominal dos gafanhotos; (e) nas asas de algumas mariposas.
Térmico e Hídrico
Fásicos: responsáveis por contrações rápidas, movimentando apêndices como asas, pernas, etc;
Esqueléticos: movimentam de forma sobreposta um segmento sobre o outro, sendo
responsáveis pela expansão e retração necessárias à respiração;
Viscerais: formam os órgãos internos.
Estrutura
Todos os músculos dos insetos são estriados, embora a aparência de alguns não denote esta
característica. A aparência estriada é devida ao arranjo de cadeias protéicas contráteis, formando
porções claras e escuras.
Os músculos são compostos por fibras que têm unidades chamadas de fibrilas ou sarcostilos
ou miofibrilas, situadas em um plasma nucleado, o sarcoplasma. A fibra é recoberta por uma membrana
denominada sarcolema. O sarcoplasma tem, em sua composição, actomiosina, uma proteína
responsável pela contração.
Os músculos estão arranjados de acordo com as partes do corpo: cabeça, tórax e abdome.
Cabeça: os músculos mais importantes são os cervicais, das peças bucais e antenas. Estes são
compostos por músculos elevadores, depressores, retratores e rotatórios, responsáveis pela
movimentação da cabeça; os músculos das peças bucais são os depressores (aproxima as peças) e
elevadores (afasta as peças); os músculos das antenas são os antenais (movimentação rotatória) e os
escapulares (movimentos verticais).
Tórax: os mais importantes são os músculos das asas e pernas. Nas asas tem-se os músculos
dorso-ventrais (elevam as asas), dorso-longitudinais (abaixam as asas) e os pleurais anteriores e
posteriores (movimento rotatório das asas). Nas pernas tem-se os flexores, extensores e rotatórios.
Abdome: os músculos mais importantes são os extensores, flexores e rotatórios.
GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA-NETO, S.; CARVALHO, R. P. L.; BATISTA, G. C. de;
BERTI-FILHO, E.; PARRA, J. R. P.; ZUCCHI, R. A.; ALVES, S. B.; VENDRAMIM, J.
Entomologia agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002. 920 p.
GULLAN, P. J.; CRASTON, P. S. The insects: an outline of entomology. London: Chapman &
Hall, 1994. 491 p.
Figura 3.8. Sistema reprodutivo feminino dos insetos. Em destaque: estrutura do ovaríolo.