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Jean-Luc Nancy**
Universidade de Estrasburgo – França; European Graduate School – Suíça
* Originalmente publicado
Esse título não é uma provocação, e tampouco esconde como “Le nom de Dieu chez
uma empreitada insidiosa de captação. Não se trata de tentar Blanchot”, em Magazine littéraire,
deslocar Blanchot para o lado dessa nova correção (portanto in- n. 424, outubro de 2003
decência) política que toma a forma de um “retorno à religião”, (número dedicado a Maurice
Blanchot, intitulado: “O enigma
tão frágil e insípido como todos os “retornos”.
Blanchot, o escritor da solidão
Trata-se somente de considerar isto: o pensamento de Blan- essencial”); p. 66-68. Reimpresso
chot é suicientemente exigente, vigilante, inquieto e alerta para em La Déclosion (Déconstruction
não ter acreditado que deveria se ater àquilo que se impunha, no du christianisme, 1). Paris: Galilée,
seu tempo, como uma correção ateia ou como um bom tom de 2005, p. 129-133. Na primeira
publicação deste ensaio, no
proissão antirreligiosa. Isso não implica, no entanto, que esse
Magazine littéraire, aparece
pensamento tenha icado prisioneiro, por qualquer razão que o seguinte subtítulo: “Em
seja, de uma proissão ou de uma conissão de sentido inver- Blanchot, o nome de Deus não
so. Blanchot decerto airma um ateísmo, mas apenas o airma está simplesmente ausente. Ele
para melhor levar à necessidade de destituir conjuntamente e em foge e entretanto retorna, a cada
confronto tanto o ateísmo quanto o teísmo. vez está irmemente distanciado
e é em seguida evocado em seu
(Isso se passa num texto maior de A Conversa Ininita, no próprio distanciamento. Ele não
qual o ateísmo é associado à escritura1. Retornarei a isso, sem designa uma existência mas a
entretanto citar nem analisar tal texto, e tampouco nenhum ou- nomeação de um ausentamento
tro: no espaço e no contexto dessa nota, não está em questão do sentido.” (n.t.)
empreender uma análise. Contento-me com alusões a alguns ** Trad. Carlos Eduardo Schmidt
topoi blanchotianos no intuito de esboçar uma direção para um Capela e Vinícius Nicastro Honesko.
trabalho que virá mais tarde.) 1. Trata-se de “L’Athéisme et
Descartar juntos o ateísmo e o teísmo é considerar antes de l’écriture. L’Humanisme et le
tudo o ponto pelo qual o ateísmo do Ocidente (ou o duplo ateís- cri”. Traduzido para o português
como “O ateísmo e a escrita. O
mo do monoteísmo: aquele que ele suscita e aquele que ele ocul-
humanismo e o grito”, por João
ta) até agora jamais opôs ou substituiu Deus a ou por outra coisa Moura Jr, em A conversa ininita,
que não uma igura, instância ou Ideia da pontuação suprema 2: a experiência limite. São Paulo:
de um sentido: de um im, de um bem, de uma parousia – isto Escuta, 2007, p. 247-271. (n.t.)
é, uma presença cumprida, em particular a presença do homem.
É justo por esta razão que a associação do ateísmo à escritura
– associação provisória e prévia à deposição conjunta de preten-
sões teístas e ateias – assume a aposta de deslocar o ateísmo para