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2017 - 07 - 07

Reta Final OAB - Edição 2017


8. DIREITO AMBIENTAL

Elisabete Vido

Índice

CONCEITO DE MEIO AMBIENTE 451

COMPETÊNCIA LEGISLATIVA 451

COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA (PROTEÇÃO/FISCALIZAÇÃO) 451

PRINCÍPIOS 455

POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 455

INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL 456

TUTELA DE PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO 461

INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL 462

MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL 462

INSTRUMENTOS DE POLÍTICA URBANA 463

RESPONSABILIDADE AMBIENTAL 463

CONCEITO DE MEIO AMBIENTE

De acordo com o art. 3º, I, da Lei 6.938/1981, meio ambiente é “o conjunto de condições,
leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e
rege a vida em todas as suas formas”.

Existem quatro espécies de meio ambiente:

  – Natural: composto pelos elementos bióticos (com vida) e abióticos (sem vida), que
existem sem a intervenção do homem;

 – Artificial: composto pelos bens materiais ou imateriais construídos pelo homem para
sua sobrevivência ou conforto;

 – Cultural: composto pelos bens materiais e imateriais frutos da intervenção humana,


que possuem algum valor histórico, paisagístico, arqueológico. Esses bens compõem o
patrimônio cultural;

  – Do trabalho: composto de bens que são necessários para o exercício da atividade


laboral, respeito normas de segurança e medicina do trabalho.

COMPETÊNCIA LEGISLATIVA
COMPETÊNCIA LEGISLATIVA

a) Privativa da União(art. 22, IV, XII, XXVI, da CF/1988): sobre energia; energia
nuclear; água e exploração de recursos minerais; e

b) Concorrente(art. 24, I e VI, da CF/1988): da União, Estados e Distrito Federal sobre o


meio ambiente em geral, notadamente direito urbanístico, florestas, caça, pesca, fauna,
entre outras.

Note que o Município só pode legislar sobre assuntos de interesse local (art. 30, I, da
CF/1988).

COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA (PROTEÇÃO/FISCALIZAÇÃO)

 É comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios. De acordo com o art. 23, III,
IV, VI, VII e XI, da CF/1988, a competência para proteger o meio ambiente é comum da
União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

Entretanto, a união terá competência material exclusiva para elaborar e executar planos
nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social;
planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente
as secas e as inundações; instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos
e definir critérios de outorga de direitos de seu uso; instituir diretrizes para o
desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos;
estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação; explorar os serviços e
instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a
lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios
nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições: toda atividade
nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante
aprovação do Congresso Nacional; sob regime de concessão ou permissão, é autorizada a
utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos medicinais, agrícolas, industriais e
atividades análogas; sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a
utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais; a
responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; sob regime de
permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de radioisótopos de
meia – vida igual ou inferior a duas horas; a responsabilidade civil por danos nucleares
independe da existência de culpa (art. 21, IX, XVIII, XIX, XX, XXI, XXIII, da CF/1988).

O município terá competência material ambiental para ordenar o uso territorial do


município (art. 30, VIII e IX, da CF/1988).

• Previsão Constitucional

A proteção do meio ambiente natural é previsto constitucionalmente no art. 225 da


CF/1988:
A previsão constitucional para o meio ambiente artificial, está no art. 182 da CF/1988:
O meio ambiente cultural é previsto constitucionalmente no art. 216 da CF/1988:
PRINCÍPIOS

a) Princípio da prevenção: que significa que se há certeza científica da violação ao


bem ambiental, e, portanto, devem ser tomadas medidas no sentido de preservar da
melhor forma possível o meio ambiente, usando de instrumentos como o EPIA/RIMA e os
licenciamentos (art. 225, § 1º, IV, da CF/1988). Tal princípio parte da premissa que o dano
ambiental é irreparável na sua composição original, portanto se existe a certeza do dano
ambiental, ela deve ser evitada. O princípio da prevenção é comtemplado nas Leis
11.428/2006 e Lei 12.187/2009, que tratam respectivamente da mata atlântica e da mudança
do clima;

b) Princípio da precaução: nesse caso não há a certeza científica do dano ambiental e,


mesmo que exista a dúvida, o bem ambiental deve ser protegido. O princípio da precaução
se justifica na ideia de que existe a possibilidade do risco ambiental ocorrer, então deve
impedir que o dano ocorra. Com base nesse princípio o STJ já chegou a inverter o ônus da
prova. No Brasil esse princípio foi introduzido pelo ECO 92.

c) Princípio do limite: este princípio é dirigido ao Poder Público, para que este fixe
limites máximos de emissão de poluentes, ou seja, fixe padrões de qualidade ambiental. O
princípio do limite é contemplado na Res. 18/1986 do Conama que tratou do controle da
poluição do ar por veículos automotores.

d) Princípio do desenvolvimento sustentável: que significa que é preciso equilibrar a


proteção ambiental com o desenvolvimento econômico, protegendo a capacidade das
futuras gerações de suprir suas necessidades. O princípio do Desenvolvimento Sustentável
é previsto na Lei 12.187/2009 e na Lei 12.305/2010, que contemplam respectivamente a
mudança do clima e os resíduos sólidos.

e) Princípio do usuário-pagador: significa que aquele que utiliza recursos naturais


com fins econômicos deve pagar por estes bens ambientais, que são por sua natureza
limitados. O princípio do usuário-pagador é contemplado na Lei 11.428/2006 que trata do
bioma mata atlântica.
f) Princípio do Poluidor-Pagador: que significa a imposição para o causador de dano
ambiental o dever de recuperar o meio ambiente degradado. Lembrando que a
indenização é a medida apropriada quando não for possível a reparação ou a compensação
do dano causado (art. 225, § 3º, da CF/1988). O princípio do poluidor-pagador é
contemplado na Lei 12.305/2010.

POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

A política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo preservar, melhorar e recuperar
a qualidade ambiental, e para sua implantação foi criado o Sisnama.

a) Sisnama: é um conjunto de órgãos articulados para viabilizar a proteção ambiental


(art. 6º da Lei 6.938/1981). Fazem parte do Sisnama:

i) Órgão Superior:composto pelo Conselho de Governo que assessora o Presidente da


República na Política Nacional de Meio Ambiente e nas diretrizes ambientais;

ii) Órgão deliberativo e consultivo: que é o Conama, composto pelo Ministro do Meio
Ambiente e representantes dos Estados, Distrito Federal, Municípios, ONGs e sindicatos. O
Conama estabelece normas e critérios para o EPIA/RIMA e licenciamento ambiental e
define normas e padrões nacionais de controle da poluição, acompanha a implementação
das Unidades de Conservação;

iii) Órgão Central: composto pelo Ministério do Meio Ambiente;

iv) Órgãos Executores: composto pelo Ibama, que possui poder de polícia ambiental,
cuida do zoneamento e impactos ambientais, licenciamento ambiental e fiscalização geral
na proteção ao meio ambiente, e pelo Instituto Chico Mendes, que administra as Unidades
de Conservação;

v) Órgãos Seccionais e Locais: compostos pelas Secretarias dos Estados e Municípios.

Diante da possibilidade do dano ambiental será necessário para a realização de uma


obra o EPIA/RIMA ou o licenciamento.

INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

a) Padrões de qualidade ambiental: pelos quais se estabelecem critérios para a


manutenção e proteção dos recursos naturais. Esses padrões podem ser feitos pelo Conama,
Estados, Distrito Federal e municípios.

b) Zoneamento ambiental: que significa organizar o território de acordo com a


proteção ambiental, como por exemplo, as zonas industriais.

c) EPIA/Rima: será usado no caso de uma determinada obra trazer uma significativa
degradação ambiental (art. 225, § 1º, IV, da CF/1988; art. 9º, III, da Lei 6.938/1981; e art. 3º
da Res. Conama 237/1997).

O EPIA é o estudo prévio de impacto ambiental realizado por uma equipe


multidisciplinar contratada pelo empreendedor que faz um diagnóstico ambiental da área
do empreendimento. O estudo apontará os impactos negativos ou positivos e as medidas
mitigadoras e compensatórias do impacto ambiental. São exemplos de obras que precisam
do EPIA/RIMA: estradas de rodagem com 2 (duas) ou mais faixas de rolamento; ferrovias;
aeroportos; portos etc.
O RIMA é o relatório que explica simplificadamente o EPIA, normalmente é público,
preservando-se apenas o sigilo industrial (arts. 9º e 11 da Res. Conama 1/1986). Note que a
audiência pública para discutir o relatório não é obrigatória, mas pode ser requerida pelo
Ministério Público, ou por mais de 50 cidadãos, entre outros (Res. Conama 9/1987).

Mesmo que o EPIA/RIMA seja negativo, a decisão não vincula o órgão ambiental na
decisão sobre a realização da obra.

d) Licenciamento ambiental: será necessário diante da possibilidade do dano


ambiental (Res. Conama 237/1997 earts. 8º, I, e 10 da Lei 6.938/1981). É um procedimento
que corre perante um órgão competente, cuja finalidade é examinar a viabilidade
ambiental de um empreendimento, obra ou atividade e no fim, se for o caso, conceder a
licença ambiental.

O licenciamento é composto por três fases:

i) Prévia (art. 8º, I, da Res. Conama 237/1997), que analisará a localização e a


viabilidade ambiental, definindo requisitos básicos e condicionantes para a realização da
obra, e tem duração pelo prazo de até 5 (cinco) anos;

ii) Instalação (art. 8º, II, da Res. Conama 237/1997), que autoriza o início das obras,
desde que tenha cumprido as condições anteriormente determinadas, e tem duração pelo
prazo de até 6 (seis) anos; e

iii) Operação (art. 8º, III, da Res. Conama 237/1997), que autoriza o funcionamento da
obra, e tem duração de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.

A licença concedida poderá ser cassada, suspensa ou modificada, mediante decisão


motivada (ato vinculado), quando ocorrer violação da lei ou da licença; falsos dados no
procedimento de licença; superveniência de graves riscos ambientais ou de saúde.

e) Unidades de Conservação(art. 225, § 1º, III, da CF/1988 e Lei 9.985/2000), que são
espaços protegidos por possuírem aspectos naturais relevantes.

A criação de Unidade de Conservação depende de realização de estudos técnicos e


consulta pública (art. 22, § 2º, da Lei 9.985/2000), salvo na criação de estação ecológica (EE)
ou reserva biológica (RB), onde a consulta pública não é obrigatória. Pode ser criada por
ato do poder público através de lei ou decreto.

Nas Unidades de Conservação existe a necessidade da elaboração do plano de manejo


(art. 2º, XVII, da Lei 9.985/2000), que é um documento técnico, onde estabelece o
zoneamento, as normas para o uso da área e o manejo dos recursos naturais.

Outra necessidade é a zona de amortecimento (art. 2º, XVIII, da Lei 9.985/2000), que é o
entorno da unidade onde existem restrições nas atividades para preservar as UC. As únicas
que não precisam de zona de amortecimento são as áreas de proteção ambiental (APA) e as
reservas particulares do patrimônio natural (RPPN).

As Unidades de Conservação podem ser Unidades de Proteção Integral ou Unidade de


Uso Sustentável.
UNIDADE DE PROTEÇÃO INTEGRAL UNIDADE DE USO SUSTENTÁVEL

Permite o uso indireto, para visitas ou Permite o uso sustentável das populações
pesquisas tradicionais

• Área de Proteção Ambiental – art. 15 da


Lei 9.985/2000;

•Estação Ecológica – art. 9º da Lei •Área de Relevante Interesse Ecológico – art.


9.985/2000; 16 da Lei 9.985/2000;

• Reserva Biológica – art. 10 da Lei •Floresta Nacional – art. 17 da Lei


9.985/2000; 9.985/2000;

• Parque Nacional – art. 11 da Lei •Reserva Extrativista – art. 18 da Lei


9.985/2000; 9.985/2000;

•Monumento Natural – art. 12 da Lei •Reserva da Fauna – art. 19 da Lei


9.985/2000; e 9.985/2000;

•Refúgio de Vida Silvestre – art. 13 da Lei •Reserva de Desenvolvimento Sustentável –


9.985/2000. art. 20 da Lei 9.985/2000; e

•Reserva Particular do Patrimônio Natural –


art. 21 da Lei 9.985/2000.

f) Área de preservação permanente (APP): é “área protegida, coberta ou não por


vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a
estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger
o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas” (art. 3º, II, da Lei 12.651/2012).
A supressão da área de preservação ambiental apenas será autorizada nas hipóteses de
utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto ambiental previstas na Lei
12.651/2012.

g) Reserva legal: é a área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural,


com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do
imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a
conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da
flora nativa (art. 3º, III, da Lei 12.651/2012).
TUTELA DE PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO

Patrimônio Cultural são todos os bens móveis e imóveis, materiais e imateriais que
dizem respeito à origem, à identidade, à memória do povo brasileiro.

Previsão Constitucional:
INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL

Para tutelar o patrimônio brasileiro temos os seguintes instrumentos (art. 216, § 1º, da
CF/1988):

• Inventários;

• Registros;

• Desapropriação;

• Vigilância; e

• Tombamento.

a) Tombamento (Dec.-lei 25/1937): o tombamento pode ser: de ofício, voluntário,


compulsório. Poderá ser realizado pela União, Estados e Município. O tombamento
depende de um procedimento administrativo por um ato judicial, onde o proprietário é
notificado para fazer o registro no livro de Tombo provisório.

São efeitos do tombamento: averbação na matrícula do imóvel, que permite a alienação


desde que seja dada a preferência para a União, os Estados e os Municípios, além disso, o
proprietário deve conservar e restaurar o bem, não podendo alterar o bem, salvo se houver
autorização especial, bem como zelar pelo entorno; e

b) Registro (Dec. 3.551/2000): serve somente para bens imateriais, tais como saberes,
lugares, formas de expressão e celebrações.

MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL


INSTRUMENTOS DE POLÍTICA URBANA

a) Plano diretor (arts. 39 a 42-B da Lei 10.257/2001): é elaborado pelo município e


aprovado pelo legislativo. Para sua elaboração, deve se levar em conta a acessibilidade e a
participação popular. Uma vez que o plano diretor tenha sido aprovado, o Prefeito que não
cumprir responderá por improbidade administrativa. Hipóteses em que o plano diretor é
obrigatório (art. 41 da Lei 10.257/2001); e

b) Estudo de impacto de vizinhança (EIV): que só existe na área urbana a partir de


uma lei municipal.

RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

• Responsabilidade Ambiental (art. 225, § 3º, da CF/1988)

O causador do dano ambiental responderá penal, administrativa e civilmente.

a) Responsabilidade civil (art. 14, § 1º, da Lei 6.938/1981): é objetiva, ou seja, será
necessário demonstrar o dano e o nexo causal entre o dano e a conduta do agente, não
importando a culpa.

A responsabilidade pode recair sobre a pessoa física ou jurídica. O ente público


responderá objetivamente quando empreende uma obra, mas se apenas fiscalizar sua
responsabilidade é subjetiva.

A reparação do dano ambiental deve ser sempre específica (in natura), mas se não for
possível deve-se proceder à compensação e, em último caso, à indenização;

b) Desconsideração da Personalidade Jurídica (art. 4º da Lei 9.605/1998): a


desconsideração pode ser determinada quando a personalidade jurídica for obstáculo ao
ressarcimento do dano ambiental; e

c) Responsabilidade penal (art. 225, § 3º, da CF/1988 e art. 3º da Lei 9.605/1998): a


pessoa que causou o dano ambiental pode responder penalmente, inclusive se ela for
pessoa jurídica. Nesse último caso, o crime deve ter sido cometido por ordem de
administrador, diretor ou órgão colegiado no interesse da própria pessoa jurídica. A pessoa
física pode ser punida com penas privativas de liberdade, restritiva de direitos, multa ou
prestação de serviços à comunidade (art. 21 da Lei 9.605/1998). A pessoa jurídica pode ser
punida com pena restritiva de direitos, ou multa.

© desta edição [2017]

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