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ORTEGAconvidado
AOL; GUIMARÃES AS;
ria ter um quadro preexistente insidioso10. mastigação geralmente acarretando fadiga muscular. Os sin-
Em relação ao deslocamento de disco e assimetrias faciais em tomas dor e cansaço são indicativos de dano tecidual mus-
adolescentes, em curto período de observação, não foram encon- cular pela alteração do seu metabolismo histológico, uma vez
tradas evidências de que desordens do disco pudessem determinar que fibras musculares lesadas estão associadas com processos
alteração nas mudanças dimensionais normais da mandíbula11. inflamatórios reparadores, o que explica a sensação dolorosa
Histórias de traumatismos ou cicatrizes na região mento- nessas situações25. Sabendo que a maioria dos quadros de DTM
niana também devem chamar atenção, uma vez que o diag- é de origem muscular26, o controle do sobreuso dessas estrutu-
nóstico de fraturas na região da cabeça da mandíbula pode ras deve ser orientado para pacientes e cuidadores.
não ter sido feito no atendimento emergencial da criança com
laceração no queixo12 . Padrão hereditário
Mesmo sem haver impacto acidental, foi constatada uma A maioria dos estudos que abordam aspectos genéticos
correlação positiva entre cirurgias para exodontia de tercei- relacionados à DTM tem enfoque em doenças imune-infla-
ros molares em adolescentes e adultos jovens, e sinais e sinto- matórias27, sem estabelecer um padrão de herança mende-
mas de DTM13. Esse resultado não está vinculado à cirurgia em liano para o entendimento exato da frequência de DTM na
si, mas sugere que a abertura de boca forçada por um tempo população. Apesar de não ter sido encontrado estudo que
maior pode ser entendida como fator de injúria tecidual nas correlacione de forma direta DTM entre crianças e parentes
estruturas do sistema “da mastigação”, o que também ocorre de primeiro grau, foi constatado que a frequência de cefa-
nos casos de traumatismos. leias em crianças é influenciada pela frequência da cefaleia
da mãe 28. No entanto, os próprios autores reconhecem que
Parafunções existem inúmeros fatores associados, inclusive os não genéti-
A infância é o período da vida onde o indivíduo adquire há- cos, que podem influenciar nesse quadro.
bitos orais parafuncionais e os mais frequentes são os de sucção Recentemente foi constatado que existem pessoas gene-
não nutritiva, que estão relacionados com as sensações de con- ticamente susceptíveis à DTM, havendo diferença clínica em
forto e proteção psicológicas da criança. Usando as catecolami- relação à susceptibilidade entre indivíduos homo e heterozi-
nas como marcadores biológicos de estresse, ficou sugerido que gotos no gene responsável pela produção de citocinas pró-
a perpetuação desses hábitos em crianças maiores perde a fun- -inflamatórias29. Porém, também se sabe que fatores gené-
ção de acalmar14 e, no entanto, muitos indivíduos não abando- ticos desempenham papel importante em condições clínicas
nam hábitos orais parafuncionais durante a primeira infância15. com dor persistente, provavelmente pelos mecanismos mo-
Outros hábitos não infantilizados como onicofagia e hábito de duladores da dor como sensibilidade nociceptiva, bem estar
mascar chiclete aparecem como prevalentes em idades maio- psicológico, respostas inflamatórias e autonômicas, e alguns
res16. Os hábitos podem atravessar a infância e perdurar até a genes mostram evidências preliminares para associação com
idade adulta, como a onicofagia, ou trocados por outros uma quadros de DTM 30. O exposto nos leva a inferir que, como a in-
vez que, estando incorporados no subconsciente, os indivíduos fluência genética pode estar presente nos diversos mecanis-
não percebem que os fazem. mos da etiopatogenia da DTM, além dos fatores moduladores
Em relação ao bruxismo, estudos epidemiológicos em crian- de dor, a predição exata da doença ainda não é possível com
ças de idade escolar apontam uma frequência variando entre o conhecimento científico atual.
6,2% e 11,7%, sendo mais prevalente em meninos17,18. No en-
tanto, o padrão mais comum do bruxismo, que pode ser dividido Oclusão
em diversas classificações, não pode ser considerado um hábito A relação direta entre oclusopatias e DTM foi preconizada e
aprendido uma vez que é uma atividade inconsciente que ocorre aceita de forma irrestrita pela comunidade odontológica durante
principalmente durante o sono19. O entendimento atual sobre muito tempo. No entanto, frente aos novos conhecimentos sobre
a etiologia do bruxismo aponta para uma origem em nível de a doença e com o emprego de metodologias e recursos de pesqui-
sistema nervoso central para a instalação e manutenção desse sas mais adequados, essa relação foi sendo abandonada, dando lu-
hábito parafuncional, não o relacionando a causas periféricas, gar ao modelo etiológico biopsicossocial31, e retirando da oclusão
como a oclusão19, 20, 21. Por estar associada a diversos fatores pre- a sua importância na etiologia dos quadros de DTM32.
disponentes, incluindo o estresse, essa é uma condição de difícil A plausibilidade biológica para estabelecer uma origem oclu-
controle e não existem evidências científicas adequadas que su- sal para as DTM é dificultada inclusive por algumas características
portem o tratamento do bruxismo em crianças22. epidemiológicas, como a predominância entre mulheres33, sendo
Apesar de não ter sido encontrada associação significante que mesmo na infância e na adolescência as meninas apresentam
entre hábitos orais parafuncionais em crianças com dentição maior número de sinais e sintomas do que os meninos34. Mais uma
decídua e DTM23, sabe-se que as parafunções orais têm gran- vez enfatizando que sinais e sintomas isolados não necessaria-
de importância no desenvolvimento dessa condição clínica em mente significam que a doença está instalada.
idades mais avançadas24. Os hábitos parafuncionais são dano- A melhora da sintomatologia da DTM após a colocação
sos, uma vez que solicitam de forma excessiva os músculos da de um dispositivo interoclusal ou após um ajuste oclusal
não são contundentes para provar uma etiologia oclusal, indivíduo, e são passíveis de intervenção. No entanto, fica claro
uma vez que a melhora no quadro pode ser pela mudan- que existem limitações do profissional no sentido de evitar ou
ça na relação entre maxila e mandíbula determinadas pelo controlar os fatores de risco. Frente ao exposto, é viável consi-
aparelho e não pelos contatos oclusais propriamente ditos. derar ainda que medidas de controle podem estar presentes não
Além disso, muitos indivíduos apresentam melhora dos sin- só em nível ambulatorial, portanto individualizado, como podem
tomas de forma espontânea, caracterizando a DTM como existir em nível de saúde pública, representadas por estratégias
uma condição clínica passível de auto remissão 35. Sendo educativas com vistas ao esclarecimento ou ao aumento da per-
assim, é bem estabelecido que o risco de uma criança de- cepção do cuidador para o problema.
senvolver DTM está mais relacionado com fatores não oclu- Porém, o mais importante é que o profissional que tenha
sais 36, não existindo evidências científicas que respaldem a a responsabilidade de cuidar da saúde bucal de uma criança
indicação de terapias ortodônticas e/ou ortopédicas para a saiba que, frente às novas evidências, o seu campo de ação pro-
prevenção ou o tratamento das DTM 37,38. fissional precisa ser estendido, inclusive para o entendimento
das DTM e da dor orofacial. Esse conhecimento, acompanhado
Considerações Finais das ações clínicas cabíveis, deve ser usado como parte de um
Diante da literatura disponível, pode-se perceber que causas planejamento amplo no sentido de promover saúde e, assim,
reconhecidamente relacionada à DTM podem advir de padrões proporcionar o almejado atendimento de excelência na prática
comportamentais e ambientais, independente da genética do clínica da Odontopediatria.
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