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CEMATA – CAMPUS DE ENSINO MATA

CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DA ADMINISTRAÇÃO

DIREITOS HUMANOS APLICADOS À ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

(20h/a)

Instrutores:

MAJOR PM NORONHA

TEN BM GILSON

COMISSÁRIO ESPECIAL PACÍFICO

Recife-PE,

DEZ/2017

1. A IMPORTÂNCIA DOS DIREITOS HUMANOS

a) Um pouco de história e a dignidade da pessoa humana


A história dos Direitos Humanos apresenta etapas que assinalam a progressiva
extensão do conteúdo do conceito.
Por sua índole, pode-se dizer que os Direitos Humanos nascem com o homem.
As raízes do conceito se fundem com a origem da História e a percorrem em todos os
sentidos. Neste imenso lapso de tempo, o homem, desde as mais diversas culturas,
procura ideais e aspirações que respondem à variedade de suas condições materiais de
existência, de seu desenvolvimento cultural, de sua circunstância política. O núcleo do
conceito de Direitos Humanos (DH) se encontra no reconhecimento da dignidade da
pessoa humana que se expressa num sistema de valores e exerce uma função
orientadora sobre a ordem jurídica porquanto estabelece o bom e o justo para o homem.
É uma forma abreviada de mencionar os direitos fundamentais da pessoa humana
adquiridos no processo histórico de civilização da humanidade. Sem eles a pessoa
humana não consegue existir ou não é capaz de se desenvolver e de participar
plenamente da vida.
Historicamente o princípio que a invoca é tão antigo quanto a humanidade e
inicialmente eram consideradas afirmações morais sem qualquer base jurídica adquirida
com a evolução da sociedade. Supõe-se que desde que o ser humano começou a
estabelecer relações interpessoais, havia, neste momento, o surgimento de perdas,
ganhos, partilhas, tanto de forma isolada como recíprocas entre as pessoas. Porém,
estes sistemas de relações sociais não eram formalizados, sendo pautados,
principalmente, por meio de hábitos sociais, crendices ou meios não formais de
convívio social.
Com a crescente interação social e o estabelecimento de sistemas
hierárquicos, tanto sociais, como econômicos, pautados pela modernização,
principalmente dos meios de produção, surgiu a necessidade de uma formalização dos
direitos fundamentais da pessoa, os quais ganharam mais força com o surgimento do
constitucionalismo, uma vez que várias Constituições buscavam não somente dar
forma ao Estado, mas também garantir direitos individuais e coletivos renegados pelos
agentes estatais. Assim, não se limita, atualmente, a preservação da integridade física
das pessoas na medida em que deve preservar também os direitos sociais, econômicos,
culturais, ambientais e demais necessidades que, possibilitem uma melhor qualidade de
vida e felicidade ao ser humano durante sua existência.

b) Características dos Direitos Humanos


As características dos Direitos Humanos mostram a sua importância no tocante
à necessidade de sua efetivação, respeito e implementação na constituição de qualquer
país que os recebam, sendo elas:
b.1) Imprescritibilidade (são permanentes);
b.2) Inalienabilidade (não se transferem);
b.3) Irrenunciabilidade (não são renunciáveis);
b.4) Inviolabilidade (não podem ser desrespeitados);
b.5) Universalidade (aplicam-se a todos os indivíduos);
b.6) Efetividade (garantidos até por coerção);
b.7) Interdependência (constituições e legislação infraconstitucional não podem chocá-
lo);
b.8) Complementaridade (devem ser interpretados sistemicamente com a finalidade da
sua plena realização).

1.1 O DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS (DIDH) E O


DIREITO INTERNAICONAL HUMANITÁRIO (DIH)

a) A Organização das Nações Unidas (ONU) e a Declaração Universal dos Direitos


Humanos (DUDH)
Partindo da necessidade de aprofundar a defesa dos Direitos Humanos, que
reforçam a existência de qualquer ser humano, e em face do holocausto ocorrido durante
a 2ª guerra mundial (1939-1945), período histórico que foi marcado pelo desrespeito a
esses direitos, emergiu entre as principais nações mundiais o sentimento de criar
mecanismos que evitassem os males causados pelo conflito armado, sendo fundada a
Organização das Nações Unidas.
Embora não seja o único órgão internacional de defesa dos direitos humanos, a
ONU é sem dúvida o de maior hegemonia. Criada em 24/10/1945 e situada
originalmente em São Francisco, Califórnia, inicialmente contava com 51 membros.
Hoje sua sede fica em Nova Iorque e conta com quase 200 membros.
A Organização das Nações Unidas (ONU), ou simplesmente Nações Unidas
(NU), é uma organização internacional cujo objetivo declarado é facilitar a cooperação
em matéria de direito internacional, segurança internacional, desenvolvimento
econômico, progresso social, direitos humanos e a realização da paz mundial.
Seu documento originário é a Carta das Nações. No entanto, o de maior
destaque é a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10 de dezembro de 1948,
que firmou as Liberdades públicas, direitos econômicos e direitos de fraternidade.
Vale a pena ressaltar que esse documento foi elaborado como uma
recomendação aos países, na tentativa de todos segui-la. Diferentemente dos tratados,
não há nela qualquer sanção em caso de violação de seus preceitos. Essa hoje ainda é a
maior crítica à DUDH. Para dar executoriedade e efetividade a essa declaração,
surgiram outros documentos, entre eles: o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e
Políticos de 1966 e o Pacto Internacional sobre os direitos econômicos, sociais e
culturais também do mesmo ano. O Brasil aderiu a ambos em 1992.
De seus escritórios em todo o mundo, a ONU e suas agências especializadas
decidem sobre questões administrativas em reuniões regulares ao longo do ano. A
organização está dividida em instâncias administrativas, principalmente: a Assembleia
Geral (assembleia deliberativa principal); o Conselho de Segurança (para decidir
determinadas resoluções de paz e segurança); o Conselho Econômico e Social (para
auxiliar na promoção da cooperação econômica e social internacional e
desenvolvimento); o Secretariado (para fornecimento de estudos, informações e
facilidades necessárias para a ONU) e o Tribunal Internacional de Justiça (o órgão
judicial principal).
Além dela, outros órgãos complementam as outras agências do Sistema das
Nações Unidas, como a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Programa Alimentar
Mundial (PAM) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
A figura mais publicamente visível da ONU é o Secretário-Geral, cargo
ocupado desde 2007 por Ban Ki-Moon, da Coreia do Sul. A organização é financiada
por contribuições voluntárias dos seus Estados membros, e tem seis idiomas oficiais:
Árabe, Chinês, Inglês, Francês, Russo e Espanhol.
Como já foi dito, a Declaração Universal dos Direitos Humanos é de fato um
dos principais instrumentos na luta pelo respeito aos Direitos Humanos. Ela traz em
seu bojo oito valores, os quais deveriam ser praticados por todos os povos, sendo eles:
• A paz e a solidariedade universal;

• A igualdade e a fraternidade;

• A liberdade;

• A dignidade da pessoa humana;


• A proteção legal dos direitos;

• A justiça;

• A democracia;

• A dignificação do trabalho.

Porém, apesar de valores tão nobres e necessários à humanidade, não se pode


dizer que os Direitos Humanos são imutáveis, estáveis, definidos pela DUDH,
considerando estar por ela amparado de forma perene. Se assim fosse, seria o mesmo
que desconsiderar a amplitude dos acontecimentos históricos na vida social. Diante
disto, pode-se inferir que estes direitos mudam, não são estáveis, estando em constante
processo de evolução.
É através deles que se procura proteger as pessoas como seres sociais dentro
dos diversos contextos em que atua. Mas, na prática, isto pode não ocorrer. Como
exemplo pode-se citar a questão dos homossexuais, que têm garantido sua liberdade
de expressão e o direito de ir e vir, porém vez por outra a mídia noticia violações a
esses direitos por puro preconceito. Neste caso há a supressão da liberdade, a qual é
um dos valores da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

A CF do Brasil de 1988 tem um forte apelo social, garantindo direitos


individuais e coletivos que teoricamente dariam condições de uma vida digna a todas
as pessoas domiciliadas em território brasileiro. Isto se constata quando se analisa de
forma pormenorizada o Capítulo I da Carta Magna, em especial o Artigo 5º, que
praticamente trouxe os artigos da DUDH para dentro dela.
No entanto, quando se utiliza a primazia da realidade para melhor avaliar
como a dignidade está sendo oferecida às pessoas em território brasileiro, percebe-se
que o Estado infelizmente tem feito pouco para garanti-la, conforme normatizada
através das várias legislações existentes.

b) Conceitos de DIDH e DIH

O DIDH é um conjunto de normas internacionais, convencionais ou


consuetudinárias (baseadas nos costumes), que estipulam acerca do comportamento e os
benefícios que as pessoas ou grupos de pessoas podem esperar ou exigir do Governo.
Já o Direito Internacional Humanitário é um conjunto de normas internacionais,
convencionais e consuetudinárias, destinadas a resolver problemas causados diretamente
por conflitos armados internacionais e não internacionais.
Protege as pessoas e os bens afetados, ou que podem ser afetados, por um
conflito armado, e limita o direito das partes no conflito de escolher os métodos e os
meios de fazer a guerra.
A finalidade tanto do direito internacional humanitário (DIH) como do direito
internacional dos direitos humanos (DIDH) é proteger a vida, a saúde e a dignidade das
pessoas, porém sob óticas distintas. Assim, não se surpreende quando algumas normas,
apesar de terem formulação distinta, possuem a mesma essência ou são idênticas.
Por exemplo, os dois ramos jurídicos protegem a vida humana, proíbem a tortura
ou outros tratamentos cruéis, estipulam direitos fundamentais das pessoas submetidas a
processo penal, proíbem a discriminação, dispõem sobre a proteção das mulheres e das
crianças, regulamentam aspectos do direito a alimentos e à saúde.
Contudo, o DIH contém disposições sobre muitas questões que estão fora do
âmbito do DIDH, como a condução das hostilidades, o status de combatente e de
prisioneiro de guerra e a proteção do emblema da cruz vermelha e do crescente
vermelho. Do mesmo modo, o DIDH dispõe acerca de aspectos da vida em tempo de
paz que não estão regulamentados pelo DIH, como a liberdade de imprensa, o direito de
reunião, de votar e fazer greve.
Os principais tratados de DIH aplicáveis em caso de conflito armado
internacional são as quatro Convenções de Genebra de 1949 e seu Protocolo Adicional I
de 1977.
As Convenções de Genebra e seus Protocolos Adicionais compõe o núcleo do
Direito Internacional Humanitário, o qual regula a condução dos conflitos armados,
buscando limitar seus efeitos. Protegem especificamente as pessoas que não participam
das hostilidades (civis, profissionais da saúde e humanitários) e as que deixaram de
participar, como os soldados feridos, enfermos e náufragos e os prisioneiros de guerra.
As Convenções e seus Protocolos estipulam medidas a serem tomadas para evitar
ou colocar um fim em todas as violações. Contêm normas estritas para lidar com as
chamadas “infrações graves”. Os indivíduos responsáveis pelas infrações graves devem
ser encontrados, julgados ou extraditados, seja qual for sua nacionalidade.
As principais disposições aplicáveis em caso de conflito armado não
internacional são o artigo 3º comum às quatro Convenções de Genebra e as disposições
do Protocolo Adicional II.
O artigo 3º comum às quatro Convenções de Genebra marcou uma ruptura,
porque, pela primeira vez, abrangia as situações de conflitos armados não internacionais.
Estes tipos de conflitos variam enormemente. Compreendem as guerras civis
tradicionais, conflitos armados internos que se propagaram a outros Estados ou conflitos
internos nos quais intervêm terceiros Estados ou uma força multinacional junto aos
governos.
O artigo 3º comum estipula normas fundamentais que são inderrogáveis. É como
uma mini convenção dentro das quatro Convenções de Genebra com as suas normas
essenciais condensadas, tornando-as aplicáveis aos conflitos de natureza não
internacional.
Determina o tratamento humano para todos os indivíduos em poder do inimigo,
sem nenhuma distinção adversa. Proíbe especialmente os assassinatos; mutilações;
torturas; tratamento cruéis, humilhantes e degradantes; tomada de reféns e julgamentos
parciais. Determina que os feridos, enfermos e náufragos sejam recolhidos e tratados.
Outorga ao CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) o direito de oferecer seus
serviços às partes em conflito.
Insta as partes em conflito para pôr em vigor, mediante os chamados acordos
especiais, a totalidade ou as partes das Convenções de Genebra. Reconhece que a
aplicação dessas disposições não afetam o estatuto jurídico das partes em conflito.
Considerando que a maioria dos conflitos armados atuais é de índole não
internacional, a aplicação do artigo 3º comum é da maior importância. É necessário
respeitá-lo completamente.
As principais fontes convencionais do DIDH são os Pactos Internacionais de
Direitos Civis e Políticos e de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966), as
Convenções relativas ao Genocídio (1948), à Discriminação Racial (1965),
Discriminação contra a Mulher (1979), Tortura (1984) e os direitos das Crianças (1989).
Os principais instrumentos regionais são a Convenção Européia para a Proteção dos
Direitos Humanos (1950), a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem
(1948), a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (1969) e a Carta Africana
sobre os Direitos Humanos e dos Povos (1981).
Apesar do desenvolvimento independente do ponto de vista histórico, em tratados
recentes os DIDH e DIH incluíram disposições cruzadas de ambos os direitos, por
exemplo, a Convenção sobre os Direitos das Crianças e seu Protocolo Adicional relativo
à participação das crianças nos conflitos armados e no Estatuto de Roma do Tribunal
Penal Internacional.
O DIH é aplicável em tempo de conflito armado, internacional ou não
internacional. As guerras em que intervêm dois ou vários Estados e as guerras de
libertação nacional são conflitos internacionais, com ou sem declaração de guerra, e
mesmo que uma das partes não tenha reconhecido o estado de guerra.
Os conflitos armados não internacionais são aqueles em que forças
governamentais combatem contra insurgentes armados ou em que grupos rebeldes
combatem contra eles. Dado que o DIH impõe normas a uma situação excepcional – o
conflito armado – não estão permitidas exceções à aplicação de suas disposições.
Já o DIDH é aplicado a todo o tempo: em tempo de paz ou de conflito armado.
Entretanto, de acordo com alguns tratados de DIDH, os Governos podem suspender
algumas normas em situações de emergência pública, que ponham em perigo a vida da
nação, desde que tais suspensões sejam proporcionais à crise e sua aplicação não seja
indiscriminada ou infrinja outra norma do direito internacional, inclusive o DIH.
Há normas que não permitem suspensões alguma, como as relativas ao direito à
vida, e as que proíbem a tortura ou tratamento ou penas cruéis, desumanas ou
degradantes, a escravidão e a servidão e a retroatividade das leis penais.
O DIH deve ser aplicado por todas as partes no conflito armado: nos conflitos
internacionais, deve ser acatado pelos Estados envolvidos e, nos conflitos internos, pelos
grupos que combatem contra o Estado ou que combatem contra eles.
No DIDH impõe-se obrigações aos Governos em suas relações com os
indivíduos. Muitos opinam que os agentes não estatais – especialmente os que exercem
funções de índole governamental – devem também respeitar as normas de direitos
humanos, mas nada é definitivo a esse respeito.

1.2 PROGRAMA ESTADUAL DE DIREITOS HUMANOS (PEDH)


a) Eixos do PEDH
O Programa Estadual de Direitos Humanos (PEDH) está estruturado em 4
eixos:
1) Direitos Civis e Políticos,com ações para: proteção à vida; proteção do direito à
liberdade; Sistema Prisional; Promoção da Cidadania; Crianças e Adolescentes;
Mulheres; População Negra; Sociedades Indígenas; Terceira Idade; e Portadores de
Deficiência.
2) Direitos Econômicos, Sociais e Culturais,com ações para: Política Agrária e
Fundiária; Emprego e Geração de Renda; Habitação; Educação; Saúde; Meio Ambiente.
3) Construção da Democracia e Promoção dos Direitos Humanos,com ações para:
Educação para Democracia e os Direitos Humanos; Conscientização e Mobilização
pelos Direitos Humanos; e Participação Política.
4) Ações Internacionais para Promoção dos Direitos Humanos, com ações para:
Implementação e Divulgação de Atos Internacionais; Apoio às Organizações e
Operações de Defesa dos Direitos Humanos.
Os itens constantes do PEDH relativos ao direito à vida e à integridade física; o
direito à liberdade; o direito à igualdade perante a lei, em grande medida, já estão
assegurados no texto constitucional; outros são alvo de discussões e projetos de lei que
tramitam na Assembléia Legislativa.
b) O Pacto pela Vida
O Pacto pela Vida é uma política pública de segurança, transversal e integrada,
construída de forma pactuada com a sociedade, em articulação permanente com o Poder
Judiciário, o Ministério Público, a Assembleia Legislativa, os municípios e a União. O
marco inicial foi a elaboração do Plano Estadual de Segurança Pública (PESP-PE 2007),
do qual saíram 138 projetos estruturadores e permanentes de prevenção e controle da
criminalidade, produzidos pelas câmaras técnicas, aglutinados em torno das linhas de
ação e executados por organizações do Estado e da sociedade.
O Pacto Pela Vida visa, principalmente, a prevenção de homicídios, mas
também cuida de um conjunto de crimes que despertam insegurança na população.
Trata-se de política pública baseada em modelo de gestão que prevê o monitoramento
permanente das ações e resultados. A meta básica é reduzir em 12% ao ano as taxas de
mortalidade violenta intencional em Pernambuco.
c) Modelo de Gestão
Criado como estrutura de governança, o Comitê Gestor do Pacto pela Vida
implantou um modelo de administração integrado, para acompanhar de perto as ações
desenvolvidas pelo programa. Este modelo está fundamentado na gestão estratégica e
por resultados, e avalia 26 Áreas Integradas de Segurança Pública (AIS) – divisão
territorial que foi feita em Pernambuco para acompanhamento de ações e resultados.
O Comitê se reúne todas as quintas-feiras, desde setembro de 2008, para
monitorar e planejar as diversas atividades, além de fornecer aos gestores das 26 AIS
informações estratégicas para auxiliar a tomada de decisão. Esse acompanhamento
possibilita um diagnóstico preciso da violência, permitindo a adoção de soluções para
continuar reduzindo a criminalidade no Estado.
Com esta estratégia, foram idealizadas estruturas de AIS onde policiais civis e
militares trabalham compartilhando o mesmo ambiente. Outro avanço do modelo foi a
implementação de um Planejamento Operacional onde as ações policiais integradas são
descritas com metas e resultados.
Finalmente, a meta estruturante do Plano Estadual de Segurança Pública é
construir um conjunto de ações de curto, médio e longo prazo, que busque interromper o
crescimento da violência criminosa de Pernambuco e que inicie um processo de redução
contínua dela.
3. AÇÃO DE DEFESA SOCIAL E DIREITOS HUMANOS: GRUPOS
VULNERÁVEIS

3.1 Crianças e adolescentes

Criança: Pessoa com até 12 anos de idade incompletos.


Adolescente: Pessoa com idade entre 12 anos completos e 18 anos incompletos.
Criança ou adolescente comete crime? Não. Praticando ato ilícito, crianças e
adolescentes cometem ato infracional.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990) define o ato infracional:


Art. 103: “Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção
penal.”
No Art. 104, esta lei dispõe acerca da inimputabilidade penal dos menores de 18
(dezoito) anos. Vejamos:
Art. 104: “São penalmente inimputáveis os menores de 18 dezoito anos, sujeitos às
medidas previstas nesta Lei.”

Quais medidas são aplicadas pela Justiça às crianças?


À criança se aplicam medidas de proteção:

• Encaminhamento aos pais e/ou responsáveis;


• Matrícula na escola;
• Inclusão em programa comunitário;
• Requisição de tratamento de saúde;
• Acolhimento institucional;
• Colocação em família substituta.

As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os


direitos reconhecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente forem ameaçados ou
violados, por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; por falta, omissão ou abuso
dos pais ou responsável; em razão de sua conduta
(Vide Art. 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente).

Quais medidas são aplicadas pela Justiça ao adolescente autor de ato infracional?
Em conformidade com o Art. 112 do ECA, aplicam-se as seguintes medidas
socioeducativas:
• Advertência;
• Obrigação de reparar o dano;
• Prestação de serviço à comunidade;
• Liberdade assistida;
• Inserção em regime de semiliberdade;
• Internação em estabelecimento educacional;
• Medidas de proteção previstas no Art. 101, incisos I ao VI do Estatuto da Criança e do
Adolescente.

Inimputabilidade não é impunidade

O que é a Doutrina da Proteção Integral?


O Art. 4º da Lei nº 8.069, de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente) roga que:
“É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária.”

A Doutrina da Proteção Integral, baseada no Art. 227 da Constituição Federal de 1988


(CF/88), postula que crianças e adolescentes são sujeitos de proteção e de reconhecidos
direitos.

O que a inimputabilidade garante?


A Constituição Federal de 1988 (CF/88) positivou uma série de direitos
fundamentais da pessoa em desenvolvimento e, dentre esses, há previsão de um
tratamento especial aos menores infratores. Uma dessas garantias é a previsão da
inimputabilidade, disposta no Art. 228 da CF/88, sendo estabelecido o início da
maioridade penal aos 18 anos completos. Portanto, consideram-se inimputáveis
penalmente os menores de 18 anos.

É proibido pela CF/88 que os menores de idade sejam enquadrados na


legislação penal comum, devendo ser submetidos à legislação especial. A
inimputabilidade penal garante, assim, que os menores tenham tratamento diferenciado
pela lei.

Discernimento mental incompleto:


O principal motivo que leva os menores de idade a serem considerados
inimputáveis penalmente refere-se à incapacidade destes em julgar sua conduta de
acordo com a lei e agir em conformidade com tal julgamento. Isso não quer dizer que
ficam impunes. Eles só não respondem penalmente. Mas suas atitudes são julgadas de
acordo com sua idade, ou seja, de acordo com o grau de discernimento alcançado.
O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê que, ao autor de ato infracional,
sejam impostas medidas socioeducativas, de caráter pedagógico, condizentes com sua
condição de pessoa em desenvolvimento. Assim, espera-se a correção da conduta e
aprimoramento da faculdade de julgamento ético/moral do adolescente. O Estatuto,
portanto, não é um instrumento de impunidade, mas de proteção.

Procedimentos na abordagem à criança e ao adolescente em fundada suspeita:


Pessoas com idade inferior a 18 anos são inimputáveis, não estão sujeitas às mesmas
penalidades impostas aos adultos, mas às medidas protetivas ou socioeducativas.

A quem informar quando um adolescente é apreendido?


A apreensão – privação da liberdade – do adolescente deve ser informada
imediatamente:
• À autoridade judiciária;
• À família do adolescente ou pessoa por ele indicada.
Informe os direitos do adolescente!
• O adolescente deve ser informado de seus direitos e do responsável pela apreensão.
Cidadão, eu sou (falar seu posto/graduação + nome), a serviço do(a) (falar o nome da
sua instituição). Você está apreendido por (falar o ato infracional ou existência de
mandado de busca e apreensão). Você tem o direito de permanecer calado, tem direito
à assistência familiar e tem direito à assistência de advogado.

O adolescente pode ser algemado?


• O adolescente não deve ser algemado.
• Uso de algemas só pode ser feito em caso de justificada necessidade.
• Quando algemar o adolescente, o policial deve fundamentar, no Boletim de
Ocorrência, os motivos da ação, com referência aos princípios de razoabilidade e
proporcionalidade.
Na identificação civil:
• O adolescente, civilmente identificado, não pode ser submetido à identificação
compulsória pelos órgãos policiais, de proteção ou judiciais, salvo para confrontação se
existir dúvida fundada.
Condução da ocorrência:
• Conduza a ocorrência à Delegacia Especializada da Criança e do Adolescente.
• Separe o adolescente apreendido dos presos adultos, ainda que eles tenham praticado
o delito juntos.
O adolescente NÃO pode ser conduzido no compartimento fechado da viatura
policial.
Estatuto da Criança e do Adolescente – Art. 178 - “O adolescente a quem se atribua
autoria de ato infracional não poderá ser conduzido ou transportado em compartimento
fechado de veículo policial, em condições atentatórias à sua dignidade, ou que
impliquem risco à sua integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade.”

Conduta no atendimento de crianças e adolescentes vítimas de violência:


• Demonstre interesse na ocorrência. Pergunte às pessoas envolvidas o que ocorreu.
• Avalie o risco da vítima no ambiente, com o objetivo de proteger a criança ou o
adolescente de novas agressões.
Entreviste as pessoas, com o intuito de saber:
• Quem é o agressor;
• Qual é seu parentesco ou relacionamento;
• Se houve agressões anteriores;
• Se o agressor ingeriu drogas ou bebidas alcoólicas;
• Se o agressor ofereceu drogas ou bebidas alcoólicas à vítima;
• Se foi utilizada arma de fogo ou arma branca;
• Se o agressor já ameaçou a vítima de morte.

IMPORTANTE:
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público
assegurar os direitos das crianças e adolescentes.
3.2 Grupos Étnicos

Etnia X Raça
Diante de muitas discussões centenárias por cientistas, filósofos e pensadores
os quais documentaram e conceituaram as pluralidades de espécies humanas espalhadas
na terra, chega-se hoje a conclusões em que termos como “raça” já é um desuso no meio
acadêmico quando se procura demonstrar diferenças culturais. Enquanto a ideia de raça
implica, erroneamente, a noção de algo definitivo e biológico, o conceito de
“etinicidade” tem um significado puramente social, referindo-se às práticas e às visões
culturais de determinada comunidade de pessoas que as distinguem de outras
A noção de raça é em termos de definição conceitual um dos mais difíceis de
chegar a um entendimento técnico tendo em vista que dependendo da análise poderá se
chegar a uma definição, ou, simplesmente não caracterizar um elemento conceitual. A
antropologia, entre os séculos XVII e XX, usou igualmente várias classificações de
grupos humanos no que é conhecido como "raças humanas", mas, desde que se
utilizaram os métodos genéticos para estudar populações humanas, essas classificações
e o próprio conceito de "raças humanas" deixaram de ser utilizados, persistindo o uso do
termo apenas na política, quando se pede "igualdade racial" ou na legislação quando se
fala em "preconceito de raça". Um conceito alternativo e sinônimo é o de "etnia".
Segundo GIDDENS, 2005, “o conceito de raça é um dos mais complexos da sociologia,
especialmente devido à contradição entre seu cotidiano e sua base científica (ou
inexistência desta). Para esse sociólogo:
A raça pode ser entendida como um conjunto de relações sociais
que permitem situar os indivíduos e os grupos e determinar
vários atributos ou competências com base em aspectos
biológicos fundamentados. As discriminações raciais
representam mais do que formas de descrever as diferenças
humanas – são também fatores importantes na reprodução de
padrões de poder e de desigualdade dentro da sociedade.
(GIDDENS, 2005, p.205).
Para o Prof. Dr. Kabengele Munanga, o conteúdo da raça é morfo-biológico e o
da etnia é sócio-cultural, histórico e psicológico. Um conjunto populacional dito raça
“branca”, “negra” e “amarela”, pode conter em seu seio diversas etnias. Uma etnia é um
conjunto de indivíduos que, histórica ou mitologicamente, têm um ancestral comum,
têm uma língua em comum, uma mesma religião ou cosmovisão; uma mesma cultura e
moram geograficamente num mesmo território.

Conceituação
O preconceito étnico é uma antipatia baseada em uma
generalização errônea e inflexível. Pode ser sentida ou expressa;
dirigida a um grupo como um todo ou a indivíduo pelo fato dele
ser parte desse grupo (Allport apud Guimarães, 2012, p.48).
Considera-se como preconceito racial uma disposição (ou
atitude) desfavorável, culturalmente condicionada, em relação a
membros de uma população, aos quais se têm como
estigmatizados, seja devido à aparência, seja devido a toda ou
parte da ascendência étnica que se lhes atribui ou reconhece
(NOGUEIRA apud GUIMARÃES, 2012, p. 78)
Discriminação – o preconceituoso age de modo ativo em
detrimento de seu desafeto. Seu comportamento procura impedir
os membros de determinado grupo de usufruírem certos tipos de
emprego, áreas residenciais, direitos políticos, oportunidades
educacionais ou recreativas, igrejas, hospitais, ou algum tipo de
privilégio social. A segregação é uma forma institucionalizada
de discriminação, protegida pelas leis ou pelos costumes.
(ALLPORT apud GUIMARÃES, 2012, p. 49)
A sociedade brasileira é uma das mais ricas de todo o mundo em termos de
cultura e diversidade racial, as fontes de dados sobre a questão racial vêm-se
aperfeiçoando e mostram claramente que as atitudes discriminatórias contra as
populações indígenas e negras persistem em nossa coletividade. Tais situações são
altamente prejudiciais aos direitos humanos, constituindo obstáculos ao
desenvolvimento harmonioso de uma sociedade rica em diversidade tornando-se
barreira ao progresso de um Brasil mais justo e mais democrático.

Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual proteção da lei.
Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a
presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação (Artigo 7º da
Declaração Universal dos Direitos Humanos)

O preconceito é uma das formas mais comuns – e graves – de violação dos


direitos humanos. Ter um preconceito, “pré-conceito” é formar um conceito antes de
averiguar os fatos reais. No geral é fazer um julgamento ao que é considerado diferente
do referencial, ou seja, é fazer um juízo de valor, ou formar uma opinião sem maiores
referenciais sobre pessoas, raças, etnias, gêneros, geração, classes, religião, deficiências,
entre outros. Hoje em dia, temos de estar atentos aos mecanismos do preconceito, que
algumas vezes vêm do inconsciente. Algumas pessoas sequer percebem que estão
agindo de forma preconceituosa, entretanto, as consequências do preconceito são
sempre concretas: tratamento desigual, discriminação e exclusão social que afeta o
outro.
A discriminação que as pessoas praticam acaba sendo reproduzida também nos
grupos, organizações e instituições, que reproduzem a mesma em um nível maior, onde
a ação da discriminação deixa de ser pessoal para ser institucionalizada - nas escolas, no
mercado de trabalho, nas mídias escritas e televisivas. Assim, a discriminação e o
preconceito se transformam em barreiras contra a inclusão e a participação de grupos
mais vulneráveis na sociedade. Esse é um dos mecanismos da exclusão social, que se
manifesta de diferentes formas por meio das barreiras físicas, atitudinais ou sistêmicas.
Guimarães (2012) complementa dizendo que “a tipologia de Allport deixa
claro que, para a psicologia social, o preconceito racial envolve atitudes crenças e
comportamentos”. Essas atitudes, crenças e comportamentos se baseiam em
julgamentos negativos que delimitam o lugar de cada um, vítima e preconceituoso no
contexto social. Tendo sua gênese nas representações sociais ou coletivas a cerca da
população negra.

Representações sociais

Para Moscovici (1981, p. 181)


por Representações sociais entendemos um conjunto de
conceitos, proposições e explicações originado na vida cotidiana
no curso de comunicações interpessoais. Elas são o equivalente,
em nossa sociedade, aos mitos e sistemas de crença das
sociedades tradicionais; podem também ser vistas como a versão
contemporânea do senso comum. (MOSCOVICI apud
OLIVEIRA, 1999, p. 106)

A exemplo de que para o senso comum, a “cor da pele”, é a cor bege que por
sua vez não representa a cor da pele das pessoas negras. Ou ainda quando se diz que
quando se está passando por uma fase difícil na vida, se está passando por uma “fase
negra”. Revelando a cor negra como um aspecto negativo.

Tipos de preconceitos e discriminações


Não podemos ver os preconceitos e discriminações de forma isolada. Para
ilustrar citaremos dois casos – uma mulher indígena e um homem do campo. Uma
mulher indígena, fora de sua aldeia, sofre discriminação não só por ser mulher, mas
também por ser indígena e estar fora de seu povo; Um homem do campo, que vem para
a cidade grande em busca de trabalho, sofre discriminação não apenas por ser homem
do campo, mas também por estar desempregado.

Racismo
Quando um negro chegava ao Brasil era imediatamente batizado e separado
dos demais membros quebrando-lhes os vínculos familiares, esse recurso era utilizado
pelos senhores de engenho para que eles não se reagrupassem - apesar de algumas etnias
terem ódios profundos entre si. Todavia, forçados as convivências “promíscuas” de
etnias, houve um sincretismo mais forte do que o já existente quando ainda em África,
somado a aculturação de outros valores e das influências do islamismo disseminadas
pelos negros mulçumanos. Pela necessidade de fazer cultos as suas divindades,
aproveitou-se o negro dos ensinamentos de catequese para burlar com o sincretismo os
senhores e igreja.
Na visão do professor Kabengele Munanga,
[...] racismo é geralmente abordado a partir da raça, dentro da
extrema variedade das possíveis relações existentes entre as
duas noções. Com efeito, com base nas relações entre “raça” e
“racismo”, o racismo seria teoricamente uma ideologia
essencialista que postula a divisão da humanidade em grandes
grupos chamados raças contrastadas que têm características
físicas hereditárias comuns, sendo estas últimas suportes das
características psicológicas, morais, intelectuais e estéticas e se
situam numa escala de valores desiguais. [...] Visto deste ponto
de vista, o racismo é uma crença na existência das raças
naturalmente hierarquizadas pela relação intrínseca entre o físico
e o moral, o físico e o intelecto, o físico e o cultural. O racista
cria a raça no sentido sociológico, ou seja, a raça no imaginário
do racista não é exclusivamente um grupo definido pelos traços
físicos.
A discriminação de raça, cor ou etnia é chamada de racismo. No Brasil, as
populações que mais sofrem com o racismo, são os negros (ou afrodescendentes) e os
indígenas.

A prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de


reclusão, nos termos da lei. (Inciso 42 do Art. 5º. Constituição Brasileira)
Apesar do rigor da lei, contudo, o racismo no Brasil persiste e assume outras
formas. Em muitos casos, é o chamado “racismo cordial”, se fundamenta no faz de
conta que há um respeito e que as raças são tratadas de forma igual. O racismo se
esconde em vários aspectos da sociedade. Muita gente acredita que todos têm acesso a
tudo – saúde, educação, trabalho; só basta querer! – o que não é sempre verdade, pois o
racismo e as formas de discriminação são muitas vezes sutis, ou seja, são disfarçadas
por mecanismos que organizações e instituições adotam no dia a dia. Os movimentos
populares, as pastorais e outros movimentos sociais, desde as rebeliões da escravatura
até hoje lutam constantemente pela mudança desse quadro no Brasil. Foram as lutas e
reivindicações do movimento negro que fizeram o racismo ser, hoje, crime sem fiança.

Racismo Institucional
É compreendido como o fracasso coletivo de uma instituição em prover um
serviço profissional e adequado às pessoas por causa de sua cor, cultura ou origem
étnica. Ele pode ser detectado em processos, atitudes ou comportamentos que denotam
discriminação, resultante de preconceito “inconsciente”, ignorância, falta de atenção ou
de estereótipos racistas que coloquem minorias étnicas em desvantagem, ou seja, toda
forma de ocorrência que coloca em uma situação de desigualdade um coletivo, neste
caso, um coletivo étnico.
Ele não difere dos outros tipos de racismo, mas ele acontece através das
instituições, onde o processo de desenvolvimento institucional privilegia determinado
tipo de grupo étnico em detrimento de outros, por exemplo, na hora das contratações no
mercado de trabalho ou quando o Estado deixa de eletrificar determinada comunidade
rural, ribeirinha, e desenvolve a mesma eletrificação em outra comunidade étnica.

Verificaremos, neste capítulo, alguns cuidados a serem tomados para evitar e


reprimir o racismo.

Racismo – Crença de que algumas pessoas, por suas características físicas hereditárias
ou por sua cultura, são superiores a outras.

Discriminação Racial – É o racismo traduzido explicitamente em atos e/ou em


palavras. Realiza-se em atitudes de distinção ou exclusão em função de cor ou raça,
anulando ou restringindo o reconhecimento ou exercício de direitos humanos e
liberdades fundamentais.

Aspectos legais
A Constituição Federal/88, no Artigo 3º, inciso IV, garante a promoção do bem de
todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação. A discriminação racial, na legislação brasileira, se relaciona com duas
diferentes práticas criminosas:

1. Racismo: Crime previsto no Art. 5º, inciso XLII da nossa Constituição e no Art. 20
da Lei nº 7.716/89. Configura-se quando as ofensas não tenham uma pessoa ou pessoas
determinadas, e, sim, venham a menosprezar determinada raça, cor, etnia, religião ou
origem, agredindo um número indeterminado de pessoas. Esse crime é inafiançável e
imprescritível, sujeito à pena de reclusão.

2. Injúria Racial: Crime previsto no Código Penal, Art. 140, § 3º. Considera-se injúria
racial quando as ofensas de conteúdo discriminatório são empregadas à pessoa ou
pessoas determinadas. Este é um crime que tem por objetivo atingir a honra subjetiva,
ou seja, aquilo que alguém pensa sobre si mesmo.
Policial, seja o primeiro a respeitar a lei.
Procedimentos na abordagem policial
Em sua atuação, saiba que: Racismo é crime!!
Todos os grupos sociais têm suas particularidades. Tente conhecê-las e
respeitá-las. Negros, brancos, índios e asiáticos – todas as pessoas – são iguais em
direitos e deveres, todavia com diferentes culturas que devem ser respeitadas. Você
deve usar expressões do tipo: cidadão, cidadã, senhor, senhora.
Não use termos pejorativos, discriminatórios ou irônicos.
“Elemento suspeito cor padrão” é discriminação:
Alerta-se para a total inadequação da expressão acima. Ao utilizar o termo
“elemento suspeito cor padrão”, o agente policial reforça uma associação injusta entre a
cor da pele negra e ser suspeito. A própria composição das corporações, nas quais se
encontram muitos policiais negros, é uma prova de como essa associação é inadequada
e preconceituosa. Assim, o agente policial, ao agir no sentido de promover direitos, não
deve usar, sob nenhuma hipótese, expressões como essa. Mais do que isso, recomenda-
se que, ao receber orientações em que conste o referido termo, o agente policial solicite
que a orientação seja reformulada tendo em vista não ser “elemento suspeito cor
padrão” adequado nem como termo técnico de abordagem policial nem como expressão
corrente da comunicação.

Procedimentos no atendimento de ocorrência de racismo

Você detém o poder e a obrigação de:


• Fazer cessar a ação criminosa, caso esteja ainda ocorrendo;
• Prender em flagrante o autor do crime de racismo;
• Conduzir preso, vítima e, quando possível, mais duas testemunhas para a Delegacia.
É recomendado conduzir preso e vítima separadamente;
• Lavrar o Registro de Ocorrência.

Combate à discriminação racial nas instituições de segurança pública


As Instituições de Segurança Pública – polícias militares, polícias civis,
guardas municipais, etc. – como organizações públicas, devem ser representativas da
comunidade no seu conjunto, responder às suas necessidades e ser responsáveis perante
ela. Para serem representativas, tais instituições precisam garantir o acesso dos
profissionais a todos os postos, eliminando o racismo que restringe a ascensão da
população negra aos níveis estratégicos, gerenciais e de formulação de políticas.
A discriminação nos procedimentos de recrutamento, seleção ou promoção
deve ser identificada e providências devem ser tomadas, com vistas à sua superação.

3.3 Idosos

Com quantos anos uma pessoa é considerada idosa?


Pessoa idosa é aquela que tem 60 anos ou mais.

Contextualização
A sociedade brasileira passa por um acelerado processo de envelhecimento.
Os dados estatísticos populacionais indicam o crescimento da população de idosos na
última década e o aumento da esperança de vida ao nascer.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano
2000, a população com 65 anos ou mais representava 5,9% do total de brasileiros. Em
2010, esse número aumentou para 7,4%. A esperança de vida ao nascer no Brasil, em
2010, chegou a 73,4 anos, o que revela um aumento de três anos em relação aos
indicadores do Censo 2000.

Direitos e medidas de proteção ao idoso


A pessoa idosa tem direito ao envelhecimento, portanto o Estado tem o dever
de proteger sua vida, sua dignidade, sua saúde e sua integridade física, psíquica e
moral.

Estatuto do Idoso
Art. 4º: “Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação,
violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão,
será punido na forma da lei.
§ 1º É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso”.
Tipos de violência contra a pessoa idosa:
• Física: Uso da força física para compelir o idoso a fazer algo, para feri-lo, provocar-
lhe dor, incapacidade ou morte.
• Psicológica: Infringir pena, dor ou angústia mental com expressões verbais e não
verbais e que possam envolver medo da violência, abandono, isolamento ou que
provoquem vergonha, indignidade e impotência.
• Negligência: Recusa ou omissão de cuidados devidos e necessários ao idoso, por parte
do responsável (familiar ou não) ou instituição. Obs.: É preciso ter atenção também aos
sinais de autonegligência, tais como o idoso não querer ir ao médico, não tomar
remédios, não se alimentar, descuidar da higiene. A autonegligência pode levar ao
suicídio.
• Financeira e Econômica: Exploração imprópria ou ilegal e/ou uso sem
consentimento de recursos materiais e/ou financeiros do idoso.
• Abandono: Ausência ou deserção do responsável governamental, institucional ou
familiar, ou qualquer um que tenha por obrigação a responsabilidade de prestar socorro
a uma pessoa idosa que necessite de proteção.
• Maus-tratos: O mau-trato ao idoso é um ato (único ou repetido) ou omissão que lhe
cause dano ou aflição e que se produz sem qualquer relação na qual exista expectativa
de confiança.
• Abuso e Violência Sexual: Refere-se ao ato ou jogo sexual de caráter homo ou
hetero-relacional, utilizando pessoas idosas sem o seu consentimento. Esses agravos
visam obter excitação, relação sexual ou práticas eróticas por meio de aliciamento,
violência física ou ameaças.
"Art. 39. Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica assegurada a gratuidade dos
transportes coletivos públicos urbanos e semi urbanos, exceto nos serviços seletivos e
especiais, quando prestados paralelamente aos serviços regulares.";
São reservadas 02 (duas) vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual ou
inferior a 02 (dois) salários mínimos;
Possuem desconto de 50% (cinquenta por cento), no mínimo, no valor
das passagens, para os idosos que excederem as vagas gratuitas, com renda igual ou
inferior a 2 (dois) salários mínimos.
Dentre outros direitos previstos no Estatuto do Idoso.
Onde denunciar?
A – Disque 100: É um órgão de assistência direta e imediata da Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República que tem por competência legal exercer as
funções de Ouvidoria Geral da Cidadania. Funciona como um instrumento ágil, direto,
de conhecimento da realidade de vida das pessoas, como os direitos humanos estão
sendo ameaçados, violados ou negligenciados e, sobretudo, do que deve ser feito para
garanti-los, preventivamente.
B – Promotoria de Defesa dos Direitos das Pessoas Idosas: O Promotor de Justiça pode
adotar medidas para proteger os idosos que estejam em situação de risco. Por exemplo:
abandonados pela família; vítimas de maus-tratos por parte de seus familiares;
negligenciados pelos familiares e/ou pelo cuidador e/ou maltratados em instituições de
longa permanência (abrigos). Em quaisquer desses casos, alguém da família, amigo ou
vizinho pode procurar o Ministério Público/Promotoria do Idoso de sua cidade para
fazer uma denúncia.
Todo cidadão tem o dever de comunicar violação dos direitos do idoso que tenha
testemunhado ou de que tenha conhecimento.
C – DEPI (Delegacia Especializada de Proteção ao Idoso):
Pode ser acionada caso o idoso seja vítima de algum crime como furto, roubo, lesão
corporal, maus-tratos, cárcere privado, discriminação, desvio de bens, estupro, ameaça
etc. Também é o órgão competente para receber denúncias
caso o idoso saia para suas atividades diárias e não retorne à sua residência,
configurando um possível desaparecimento; bem como caso o idoso perca documentos
ou cartão de benefícios do INSS. Se na sua cidade não tiver Delegacia do Idoso, dirija-
se à Delegacia de Polícia mais próxima.

Atenção: Os Conselhos Nacional, Estadual e Municipal do Idoso não recebem


denúncias. Trata-se de um equívoco comum.
Medidas de Proteção:
No caso de violação dos direitos da pessoa idosa, o Ministério Público pode aplicar
medidas de proteção. São elas:
• Encaminhamento à família ou curador;
• Orientação;
• Apoio e acompanhamento temporários;
• Requisição para tratamento de saúde para o idoso ou familiar;
• Inclusão em programa de auxílio;
• Abrigo temporário.
Informe e conscientize a sociedade sobre a violência contra a pessoa idosa.
Procedimentos na abordagem ao idoso em fundada suspeita
Considerando os procedimentos gerais de abordagem, atente para os seguintes aspectos:
Como chamar a pessoa idosa?
• Utilize termos como senhor/senhora ou pergunte o nome. Não utilize termos que
possam ser considerados pejorativos – como tio, velho, coroa, vovô.
Faça com que o idoso entenda o que você diz.
• O idoso não possui a mesma capacidade de audição e visão dos jovens, portanto
verbalize pausada e articuladamente.
Cuide da integridade física do idoso abordado.
• Lembre-se das limitações físicas da pessoa idosa. Sempre que houver condição de
segurança, evite colocá-lo em uma posição desconfortável durante a busca pessoal: de
joelho ou deitado.
• Quando for necessário algemar a pessoa idosa, faça com as mãos para a frente, se
não trouxer prejuízo à segurança.
• Não conduza o idoso no compartimento fechado de segurança das viaturas. Leve-o
no banco de trás, no meio de dois patrulheiros – salvo no caso de imperiosa
necessidade de segurança para a guarnição.

3.3 Mulheres
A violência contra as mulheres constitui uma das principais formas de violação
dos seus direitos humanos, atingindo-as em seus direitos à vida, à saúde e à integridade
física. É um fenômeno que apresenta distintas expressões – violência psicológica, física,
moral, patrimonial, sexual, tráfico de mulheres, assédio sexual – e que requer, portanto,
que o Estado Brasileiro adote políticas acessíveis e integrais.
Importante - Entendem-se por políticas acessíveis as políticas que respeitam as
diversidades de gênero, raça, etnia, orientação sexual, deficiência e inserção social,
econômica e regional existentes entre as mulheres.
Já políticas integrais são políticas que englobam as diferentes modalidades
pelas quais o fenômeno da violência contra a mulher se expressa.
A violência contra a mulher constitui um problema que atinge mulheres de
diferentes classes sociais, origens, regiões, estados civis, escolaridades ou raças. Os
números relativos aos casos de violência contra as mulheres são alarmantes e
representam um alto custo para os governos, com gastos nas áreas de saúde, jurídica, do
trabalho, entre outras (Faleiros, 2007; Jacobucci & Cabral, 2004). Além disso, a
violência contra as mulheres tem repercussões para sua saúde física e mental.

A principal vítima é a mulher


27 municípios, de 01/08/06 a 31/07/07, mostram que o sexo feminino é a
principal vítima das violências doméstica e sexual, da infância até a terceira idade. Do
total de 8.918 notificações de atendimentos de violência doméstica, sexual e outras
violências registradas no período analisado, 6.636, ou seja, 74% referiam-se a vítimas
do sexo feminino. As mulheres adultas (20 a 59 anos) foram as que mais sofreram
violência: 3.235 atendimentos, representando 79,9% do total de agressões (MS, 2008).
(Fonte: Vigilância de Violência e Acidentes - VIVA)

Observe que homens e mulheres são atingidos pela violência de maneira


diferenciada: enquanto os homens tendem a ser vítimas de homicídios no espaço
público, as mulheres têm maior probabilidade de morrer em decorrência da violência
praticada dentro de seus próprios lares, na grande parte das vezes promovida por seus
(ex)-companheiros e familiares, sendo um crime muito mais difícil de ser combatido,
tendo em vista acontecer na esfera privada, familiar.

A violência e a saúde da mulher


Estima-se que a violência de gênero seja responsável por mais óbitos das
mulheres de 15 a 44 anos quando comparada com o câncer, a malária, HIV, problemas
respiratórios, metabólicos, infecciosos, acidentes de trânsito e as guerras. As
repercussões dessa violência incluem lesões permanentes e problemas crônicos. As
decorrências incluem depressão, apatia, sintomas fóbicos, ansiedade e desordem do
estresse pós-traumático, aumento do uso de álcool e drogas e alterações do sistema
endócrino.
A violência doméstica afeta todas as áreas da saúde da mulher: física,
reprodutiva e mental. Pesquisas mundiais apontam que 35% dos motivos de procura das
mulheres aos serviços de saúde estão relacionados às consequências da violência
doméstica e não são puramente queixas decorrentes de lesões físicas (Minayo, 2009).
A violência contra a mulher constitui uma forma de violência que foi definida
pela Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher – “Convenção de Belém do Pará”, como: Qualquer ação ou conduta, baseada no
gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher,
tanto no âmbito público como no privado.
(Art. 1º da Convenção do Pará).
Para compreender a definição de violência contra as mulheres, é necessário
considerar que o tema abarca diferentes formas de violência, tais como:
A violência doméstica ou em qualquer outra relação interpessoal, em que o
agressor conviva ou haja convivido no mesmo domicílio que a mulher e que
compreende, entre outras, as violências física, psicológica, sexual, moral e patrimonial
(Lei 11.340/2006);
A violência ocorrida na comunidade e que seja perpetrada por qualquer
pessoa e que compreende, entre outros, violação, abuso sexual, tortura, tráfico de
mulheres, prostituição forçada, sequestro e assédio sexual no lugar de trabalho, bem
como em instituições educacionais, estabelecimentos de saúde ou qualquer outro lugar;
A violência institucional que é perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus
agentes, onde quer que ocorra.
Segundo a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres,
“a violência contra as mulheres não pode ser entendida sem se considerar a dimensão de
gênero, ou seja, a construção social, política e cultural da(s) masculinidade(s) e da(s)
feminilidade(s), assim como as relações entre homens e mulheres. A violência contra a
mulher dá-se no nível relacional e societal, requerendo mudanças culturais, educativas e
sociais para seu enfrentamento e um reconhecimento das dimensões de raça/etnia, de
geração e de classe na exacerbação do fenômeno” (SPM, 2007, p. 8).
De acordo com Lei 11.340, de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), a
violência doméstica e familiar contra a mulher deve ser entendida como:
Qualquer ação ou omissão baseada no gênero que cause à mulher morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial no âmbito da
unidade doméstica, no âmbito da família ou em qualquer relação íntima de afeto, na
qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de
coabitação (Lei Maria da Penha).
A violência doméstica contra a mulher compreende ainda:
✓ Violência física – entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou
saúde corporal;
✓ Violência psicológica – qualquer conduta que lhe cause dano emocional e
diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou, ainda, que vise degradar ou controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz,
insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou
qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à
autodeterminação;
✓ Violência sexual – qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a
participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou
uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua
sexualidade; que a impeça de usar qualquer método contraceptivo; que a force ao
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem,
suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais
e reprodutivos;
✓ Violência patrimonial – qualquer conduta que configure retenção, subtração,
destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos
pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a
satisfazer suas necessidades;
✓ Violência moral – qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
As causas da violência doméstica e familiar contra a mulher devem ser
compreendidas a partir da definição de violência contra as mulheres da Convenção de
Belém do Pará, que traz a questão de gênero (ou seja, a perspectiva da construção social
das masculinidades e das feminilidades) como a base do problema.
Assim, para entender as causas da violência contra as mulheres, é preciso
começar pela definição de gênero. Segundo Kabeer (1990), gênero deve ser entendido
como: O processo por meio do qual indivíduos, que nasceram em categorias biológicas
de machos ou fêmeas, tornam-se mulheres e homens pela aquisição de atributos de
feminilidade e masculinidade, definidos localmente.
O termo gênero indica rejeição ao determinismo biológico suposto no uso de
palavras como “sexo” e evidencia que os papéis desempenhados por homens e mulheres
são uma construção social. Saffioti (2001, p.129) afirma que o único consenso existente
sobre o conceito de gênero reside no fato de que se trata de uma modelagem social
estatisticamente, mas não necessariamente, referida ao sexo.
Assim, adotar uma perspectiva de gênero significa: “Distinguir entre o que é
natural e biológico, o que é social e culturalmente construído e, no processo, renegociar
as fronteiras entre o natural – e, por isso mesmo, relativamente inflexível – e o social –
relativamente transformável” (Kabeer, 1990).Para uma diferenciação entre sexo e
gênero, veja tabela a seguir:

Sexo X Gênero
Sexo Gênero
Macho e fêmea Masculinidades e feminilidades
Determinismo biológico Construção social e histórica das
diferenças entre homens e mulheres
Naturalização das diferenças Possibilidade de mudanças
entre homens e mulheres

Importante:
A construção social dos sexos atribui diferentes espaços de poder para homens
e mulheres, nos quais a mulher em geral ocupa lugares de menor empoderamento, de
desvalorização e de subalternidade. Não se fala, portanto, em diferenças, mas em
desigualdades que são produzidas e reproduzidas em diferentes espaços – no âmbito
doméstico, no trabalho, nas religiões, nas profissões etc. A violência contra as mulheres
só pode ser entendida no contexto das relações desiguais de gênero, como forma de
reprodução do controle do corpo feminino e das mulheres numa sociedade sexista e
patriarcal. As desigualdades de gênero têm, assim, na violência contra as mulheres sua
expressão máxima que, por sua vez, deve ser compreendida como uma violação dos
direitos humanos das mulheres. (Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra
as Mulheres /Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2007, p.8)
Assim, as violências baseadas no gênero, entre as quais se destaca a violência
contra as mulheres, surgem como uma estratégia de manutenção desta hierarquia social,
segundo a qual as mulheres devem ser submetidas ao poder masculino.
Veja a seguir os resultados de duas pesquisas realizadas recentemente que
possibilitaram identifica as razões para manutenção do vínculo conjugal.
Razões para Manutenção do Vínculo Conjugal
• Dependência afetiva;
• Receio de não arranjar outro parceiro, por já estar velha, por ter filhos;
• Medo de ficar só;
• Percepção de que é incapaz de tocar a vida e de educar os filhos sem um companheiro;
• Medo da perda;
• Esperança de que o par conjugal mude;
• Preocupação com o sofrimento que o parceiro poderá ter em função da separação e
com as dificuldades que poderá enfrentar sozinho;
• Falta de apoio de familiares para lidar com os desafios trazidos pela separação.
Fonte: Casais participantes de atendimentos psicossociais relacionados à violência
conjugal no contexto da justiça em Brasília (Pondag, 2009).

Legislação pertinente: Lei Maria da Penha.


Somente a partir de 1988, com a promulgação da Constituição Federal, a
mulher passou a ter reconhecida sua igualdade, em direitos e obrigações, em relação à
sociedade conjugal, notadamente em relação ao homem (Art. 226, parágrafo 8º).
O art. 226 determinou ao Estado que criasse mecanismos para coibir a
violência doméstica: “O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um
dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas
relações.”
Em 07 de agosto de 2006 o Presidente da República sancionou a Lei 11.340:
Lei Maria da Penha, criando mecanismos para coibir e prevenir a violência
doméstica e familiar contra a mulher, dispondo sobre a criação dos juizados de
violência doméstica e familiar contra a mulher, alterando dispositivos do Código Penal
e da Lei de Execuções Penais e estabelecendo medidas de assistência e proteção às
mulheres em situação de violência doméstica.
Esta lei foi denominada de “Lei Maria da Penha” em homenagem à luta de
Maria da Penha Maia Fernandes, mulher que foi vítima de violência doméstica e que
durante quase 20 anos lutou para que a justiça punisse o seu agressor (seu ex-marido),
que tentou matá-la por duas vezes, deixando-a tetraplégica após desferir tiros em suas
costas, enquanto dormia, e tentando eletrocutá-la durante o banho.
Somente após a condenação do Governo Brasileiro junto à corte
Interamericana de Direitos Humanos com o pagamento de indenização à Maria da
Penha, é que foi promulgada uma legislação que propusesse medidas efetivas de
enfrentamento à violência doméstica e familiar.
A lei, finalmente, regulamenta o art. 226, parágrafo 8º da Constituição Federal
e insere no ordenamento jurídico interno os preceitos estabelecidos na Convenção sobre
a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, na Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e em outros
tratados internacionais ratificados pelo Governo Federal.
A Lei Maria da Penha trouxe várias conquistas. Entre elas podemos destacar:
✓ Vedou a aplicação da Lei 9.099/95, Lei do Juizado Especial Criminal (criada para
crimes de menor potencial ofensivo), ou seja, deve ser instaurado inquérito policial
para apuração dos crimes praticados contra a mulher, impedindo a elaboração de
termo circunstanciado;
✓ Acabou com uma prática antiga utilizada pelas Delegacias de Polícia, que
encarregavam a mulher de entregar ao marido a intimação para comparecimento, o
que gerava mais problemas para a vítima, que muitas vezes desistia de denunciar o
agressor. Hoje o parágrafo único do Art. 21 da lei determina que: “A ofendida não
poderá entregar intimações ou notificação ao agressor.”
✓ Vedou a aplicação de penas de cesta básica ou outra prestação pecuniária. O
agressor não temia o processo criminal, pois sabia que seria condenado ao
pagamento de cesta básica, o que muitas vezes era usado como forma de humilhar a
vítima e fazê-la desistir do processo;
✓ Trouxe a possibilidade da decretação da prisão preventiva do agressor, conforme o
disposto no art. 20 da lei. Essa medida foi possível de ser adotada porque o Art. 42
da Lei Maria da Penha modificou o Código de Processo Penal.

Importante - Embora a lei não utilize o termo “rede de atendimento”, sobre o qual você
estudará mais a frente, percebe-se que ela tem como pano de fundo ou princípio o
atendimento da mulher vítima de violência doméstica ou familiar em “rede”, ou seja,
estabelece medidas integradas de prevenção da violência doméstica e familiar.
Na questão do cumprimento de pena, a nova lei estabeleceu o embrião da
chamada Justiça Terapêutica, ao determinar que: Nos casos de violência doméstica
contra a mulher, o juiz poderá determinar o comparecimento obrigatório do agressor e
programa de recuperação e reeducação.

Medidas Protetivas.
A Lei Maria da Penha traz um rol de medidas que podem ser decretadas pelo
juiz a requerimento do Ministério Público ou a pedido da mulher. Essas medidas visam
garantir maior efetividade à lei e proteção à mulher vítima de violência, resguardando
sua integridade física, além de proteger seus bens.
O juiz pode obrigar o agressor a:
I – Suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao
órgão competente, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
II – Afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III – Proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o
limite mínimo de distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de
comunicação;
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física
e psicológica da ofendida;
d) restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe
de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; e
e) prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
Em relação à mulher, o juiz poderá:
I – Encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitário de proteção ou de atendimento;
II – Determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domicílio, após afastamento do agressor;
III – Determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos
relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;
IV – Determinar a separação de corpos.
Para proteger os bens do casal ou de propriedade particular da mulher, o juiz
pode determinar:
I – Restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;
II – Proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra,
venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial;
III – Suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;
IV – Prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e
danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a
ofendida.

Rede de atendimento à mulher em situação de violência


O enfrentamento à violência contra a mulher exige o envolvimento da
sociedade em seu conjunto: os três poderes, os movimentos sociais, as comunidades.
Isso significa construir uma rede, a que chamamos Rede de Atendimento à Mulher
em Situação de Violência: uma ação que reúne recursos públicos e comunitários em
um esforço comum para enfrentar a violência doméstica e contra a mulher em nosso
país. A complexidade do enfrentamento à violência contra as mulheres se expressa nas
diferentes formas que essa violência assume: violência sexual, doméstica, física e
emocional, violência psicológica e violência social.
É importante notar que o trabalho em rede requer dos serviços e profissionais
envolvidos a atuação conjunta para buscar soluções, articulação dos equipamentos e das
instituições da rede de atendimento, atendimento qualificado e humanizado e
profissionais capacitados. O trabalho em rede favorece o estabelecimento de vínculos
positivos por meio da interação entre indivíduos; favorece reflexão, troca de
experiências e busca de soluções para problemas comuns; estimula o exercício da
solidariedade e da cidadania; mobiliza pessoas, grupos e instituições para utilizar os
recursos da própria comunidade; aumenta a resistência a partir de entrelaçamentos;
fortalece vínculos comunitários e estimula o protagonismo social (AFONSO, 2005).
Segundo a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as
Mulheres, a rede de atendimento faz referência ao conjunto de ações e serviços de
diferentes setores (em especial, da assistência social, da justiça, da segurança pública e
da saúde), que visam à ampliação e à melhoria da qualidade do atendimento; à
identificação e ao encaminhamento adequados das mulheres em situação de violência; e
à integralidade e à humanização do atendimento.
Atualmente, em especial após a promulgação da Lei Maria da Penha, as
mulheres em situação de violência podem contar com uma série de serviços, a saber:

Centros de Referência de Atendimento à Mulher: Os Centros de Referência são


espaços de acolhimento/atendimento psicológico e social, orientação e encaminhamento
jurídico da mulher em situação de violência. Eles devem proporcionar o atendimento e o
acolhimento necessários à superação de situação de violência, contribuindo para o
fortalecimento da mulher e o resgate de sua cidadania (Norma Técnica de Padronização
– Centro de Referência de Atendimento à Mulher, SPM: 2006).
O Centro de Referência deve exercer o papel de articulador das instituições e
serviços governamentais e não governamentais que integram a Rede de Atendimento.
Assim, os Centros de Referência devem, além de prestar o acolhimento e atendimento
da mulher em situação de violência, monitorar e acompanhar as ações desenvolvidas
pelas instituições que compõem a Rede.
Casas-Abrigo: As Casas-Abrigo são locais seguros que oferecem moradia protegida e
atendimento integral a mulheres em risco de vida iminente em razão da violência
doméstica. É um serviço de caráter sigiloso e temporário, no qual as usuárias
permanecem por um período determinado, durante o qual deverão reunir condições
necessárias para retomar o curso de suas vidas.

Casas de Acolhimento Provisório – São casas de abrigamento temporário de curta


duração (até 15 dias), não sigilosas, para mulheres em situação de violência que não
correm risco iminente de morte (acompanhadas ou não de seus filhos) como, por
exemplo, em casos de mulheres que estão aguardando a concessão de uma medida
protetiva (de acordo com a Lei Maria da Penha) ou aguardando o beneficio do
pagamento de passagens para retorno ao seu município de origem, migrantes em
situação irregular, deportadas ou não admitidas. Vale destacar que as Casas de
Acolhimento Provisório não se restringem ao atendimento de mulheres em situação de
violência doméstica e familiar, devendo acolher também mulheres que sofrem outros
tipos de violência, em especial vítimas do tráfico de mulheres. O abrigamento
provisório deve garantir a integridade física e emocional das mulheres, bem como
realizar No Estado de São Paulo, as DEAMs são denominadas DDMs – Delegacias de
Defesa da Mulher.diagnóstico da situação da mulher para encaminhamentos
necessários.

Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher: As DEAMs são unidades


especializadas da Polícia Civil para atendimento às mulheres em situação de violência.
As atividades das DEAMs têm caráter preventivo e repressivo, devendo realizar ações
de prevenção, apuração, investigação e enquadramento legal, as quais dever ser
pautadas no respeito aos direitos humanos e nos princípios do Estado Democrático de
Direito (Norma Técnica de Padronização – DEAMs, SPM:2010). Com a promulgação
da Lei Maria da Penha, as DEAMs passam a desempenhar novas funções, que incluem,
por exemplo, a expedição de medidas protetivas de urgência ao juiz no prazo
máximo de 48 horas.

Postos, Núcleos e Seções de Atendimento à Mulher nas Delegacias Comuns


Constituem espaços de atendimento à mulher em situação de violência (que em geral
contam com equipe própria) nas delegacias comuns.

Defensorias da Mulher: As Defensorias da Mulher têm a finalidade de dar assistência


jurídica, orientar e encaminhar as mulheres em situação de violência. É órgão do
Estado, responsável pela defesa das cidadãs que não possuem condições econômicas de
ter advogado contratado por seus próprios meios. A SPM tem investido na criação e
consolidação de Defensorias da Mulher como uma das formas de ampliar o acesso à
justiça e garantir às mulheres orientação jurídica adequada, bem como o
acompanhamento de seus processos.

Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher: Os Juizados de


Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher são órgãos da justiça ordinária com
competência cível e criminal que poderão ser criados pela União (no Distrito Federal e
nos Territórios) e pelos estados para o processo, julgamento e a execução das causas
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher. Segundo a Lei
11.340/2006 (Lei Maria da Penha), que prevê a criação dos juizados, esses poderão
contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais
especializados nas áreas psicossocial, jurídica e da saúde.

Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180: A Central de Atendimento à Mulher


é um serviço do Governo Federal que auxilia e orienta as mulheres em situação de
violência através do número de utilidade pública 180. As ligações podem ser feitas
gratuitamente de qualquer parte do território nacional. O Ligue 180 foi criado pela
Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República em 2005 e conta
com 80 atendentes que cobrem o período de 24 horas diárias, inclusive nos feriados e
finais de semana – ocasiões em que o número de ocorrências de violência contra a
mulher aumenta. As atendentes da Central são capacitadas permanentemente em
questões de gênero, legislação e políticas governamentais para as mulheres. Cabe à
Central o encaminhamento da mulher para os serviços da rede de atendimento mais
próxima, assim como prestar informações sobre os demais serviços disponíveis para o
enfrentamento à violência. A Central Ligue 180 também recebe e encaminha as
denúncias das mulheres em situação de violência.

Ouvidorias: A Ouvidoria é o canal de acesso e comunicação direta entre a instituição e


o(a) cidadã(o). É um espaço de escuta qualificada, que procura atuar através da
articulação com outros serviços de ouvidoria em todo o país, encaminhando os casos
que chegam para os órgãos competentes em nível federal, estadual e municipal, além de
proporcionar atendimentos diretos. Portanto, a Ouvidoria visa fortalecer os direitos da
cidadã, orientando-a e aproximando-a da instituição, estimulando o processo de
melhoria contínua da qualidade. Vale notar que a SPM possui o serviço de ouvidoria
disponibilizado à população desde 2003.

Serviços de saúde voltados para o atendimento aos casos de violência sexual – A


área de saúde é responsável pela prestação de assistência médica, de enfermagem,
psicológica e social às mulheres vítimas de violência sexual, inclusive quanto à
interrupção da gravidez prevista em lei nos casos de estupro, conforme estabelecido
pela Norma Técnica de Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência
Sexual contra Mulheres e Adolescentes do Ministério da Saúde.

CRAS e CREAS – Os CRAS (Centros de Referência da Assistência Social) é uma


“unidade pública estatal responsável pela organização e oferta de serviços de proteção
social básica do SUAS” (BRASIL. MDS, 2009, pg. 9), enquanto o PAIF (Serviço de
Proteção e Atendimento Integral à Família) é o principal serviço desenvolvido nos
CRAS e “consiste no trabalho social com famílias, de caráter continuado, com a
finalidade de fortalecer a função protetiva das famílias, prevenir a ruptura dos seus
vínculos, promover acesso e usufruto de direitos e contribuir na melhoria de sua
qualidade de vida. (CNAS, 2009, pág. 6). O número de CRAS no Brasil, de acordo com
o Censo SUAS 2009 é de 5.798.
Nos CREAS (Centro de Referência Especializado em Assistência Social), por
outro lado, deve ser ofertado o PAEFI – Serviço de Proteção e Atendimento
Especializado a Famílias e Indivíduos, responsável pelo apoio, orientação e
acompanhamento a famílias com um ou mais de seus membros em situação de ameaça
ou violação de direitos. Nos CREAS deve ser ofertado esse atendimento especializado e
realizados os encaminhamentos para a rede de serviços locais. É importante enfatizar a
necessidade do acompanhamento e do monitoramento dos casos encaminhados. Os
CREAS podem ter abrangência municipal ou regional (localizado em um município-
sede, disponibilizando atendimento para municípios circunvizinhos vinculados).
Além dos serviços disponíveis para as mulheres, a Lei Maria da Penha prevê a
criação de serviços de responsabilização e educação do agressor, responsáveis pelo
acompanhamento das penas e das decisões proferidas pelo juízo competente no que
tange aos agressores, conforme previsto na Lei 11.340/2006 e na Lei de Execução
Penal. Esses serviços deverão, portanto, ser vinculados aos Tribunais de Justiça
estaduais e do Distrito Federal) ou ao executivo estadual e municipal (Secretarias de
Justiça ou órgão responsável pela administração penitenciária).

Importante - Por meio da realização de atividades educativas e pedagógicas que


tenham por base uma perspectiva feminista de gênero, o serviço deve contribuir para a
conscientização dos agressores sobre a violência de gênero como uma violação dos
direitos humanos das mulheres e para a responsabilização pela violência cometida. O
serviço poderá contribuir para a desconstrução de estereótipos de gênero, transformação
da masculinidade hegemônica e construção de novas masculinidades. Não constitui um
espaço de ‘tratamento’ dos agressores e deverá restringir-se ao acompanhamento dos
homens processados criminalmente (apenados ou não), com base na Lei Maria da
Penha. Não cabe ao serviço a realização de atividades referentes ao atendimento
psicológico e jurídico dos agressores, à mediação, à terapia de casal e/ou terapia
familiar e ao atendimento da mulher em situação de violência (SPM, 2010).

Procedimentos na abordagem à mulher em fundada suspeita:


Sendo agente de segurança, você pode abordar mulheres. Em sua atuação,
considere os seguintes aspectos:
Quem faz a busca pessoal na mulher?
A busca pessoal em mulher deve ser realizada por uma policial feminina, salvo
no caso previsto no Art. 249 do Código de Processo Penal, ou seja, se não importar
retardamento ou prejuízo da diligência.
Na ausência de policial feminina, poderá ser solicitado apoio de uma cidadã
civil ali presente, a qual receberá a devida orientação para fazer a busca pessoal.
• Na busca minuciosa, a policial feminina observará atentamente cabelos, seios e órgãos
genitais, devido à possibilidade de conterem drogas e/ou outros objetos ilícitos.
Proteja a mulher capturada ou detida:
• A mulher detida deve ser conduzida separada dos indivíduos do sexo masculino.
• A mulher presa deve ser colocada em local exclusivo para o sexo feminino.
• Tenha cuidados especiais durante a abordagem e condução da mulher gestante e
lactante, respeitando as limitações físicas da mesma.
Art. 766 do Código de Processo Penal: “A internação das mulheres será feita em
estabelecimento próprio ou em seção especial.”

Ampare a mulher vítima de violência!


• A mulher vítima de violência deve ser amparada e conduzida à
Delegacia Especializada. Na ausência desta, deve ser conduzida à delegacia mais
próxima. Devemos mostrar interesse na ocorrência e incentivar a mulher vítima de
violência a fazer o registro do fato, por ser a melhor forma de garantir seus direitos.

A Mulher Policial:
Nos procedimentos estudados, percebemos a necessidade e importância da
mulher policial na composição de uma guarnição. Em tempos de defesa dos direitos
humanos e respeito à dignidade da pessoa humana, a mulher policial reflete o
compromisso e a preocupação da instituição em preservar os direitos e garantias da
mulher tanto na situação de infratora, quanto nade vítima.
Além de garantir os direitos da mulher em ocorrências policiais, devemos
destacar a importância da Mulher Policial na Segurança Pública em nosso país.
• A discriminação de gênero, também atinge a classe policial militar, quando as
policiais são desencorajadas a desenvolver o serviço operacional.
Devemos promover e incentivar, cada vez mais, a integração da mulher nas profissões
ligadas à Segurança Pública.
Leis e Decretos:

Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT)

O que significa LGBT? LGBT é contração dos termos: Lésbicas, Gays,


Bissexuais, Travestis e Transexuais. É utilizado para identificar todas as orientações
sexuais minoritárias e manifestações de identidades de gênero divergentes do sexo
designado no nascimento.

Conceitos

• Identidade de Gênero: Refere-se a sentimentos, posturas subjetivas, representações e


imagens relativas a papéis e funções sociais. Baseada nos eixos masculino e feminino,
a noção de gênero expressa a recusa do determinismo biológico na construção da
identidade. Isto significa que: Uma pessoa pode identificar-se com um gênero diverso
de seu sexo biológico.

• Orientação sexual refere-se à direção do desejo afetivo e sexual.


O termo orientação sexual substitui a noção de opção sexual, compreendendo que o
objeto do desejo sexual não é uma escolha consciente, mas é fruto do processo
complexo de constituição do indivíduo.

A orientação sexual pode ser heterossexual, homossexual ou bissexual.


• Heterossexual: Quando o desejo afetivo e sexual tem como direcionamento único ou
principal pessoas do gênero oposto.
• Homossexual: Quando o desejo afetivo e sexual direciona-se a pessoas do mesmo
gênero.
• Bissexual: Quando o desejo afetivo e sexual está direcionado a pessoas de ambos os
gêneros.
Tendo em vista a diversidade da sexualidade humana, não se pode dizer que exista
alguma mais natural ou normal do que outra, pior, melhor, superior ou inferior.

Identidade sexual
Lésbica: Mulher que mantém relação sexual e afetiva com outra mulher.
Gay: Homem que mantém relação sexual e afetiva com outro homem. Nem todo
homem que faz sexo com outros homens se reconhece como gay, mas tem experiência
homossexual.
Bissexual: Homem e mulher que têm relação sexual ou afetiva com pessoas de ambos
os gêneros.
Travesti: Pessoa que nasce do sexo masculino ou feminino, mas que tem sua identidade
de gênero oposta ao seu sexo biológico, assumindo papéis de gênero diferente daquele
imposto pela sociedade.

Mulher Transexual: Pessoa que teve o sexo designado como masculino ao nascer, mas
que vive como e busca reconhecimento social no gênero feminino. Busca modificações
corporais do sexo para sustentar socialmente a vivência no gênero a que sente pertencer.
Homem Transexual: Pessoa que teve o sexo designado como feminino ao nascer, mas
que vive como e busca reconhecimento social no gênero masculino. Busca modificações
corporais do sexo para sustentar socialmente a vivência no gênero a que sente pertencer.

O que é homofobia?
O conceito de homofobia está ligado à violência. Não se discute aqui se a
pessoa gosta ou não gosta da homossexualidade ou bissexualidade.
Ser homofóbico é repudiar, odiar, discriminar, temer, ter aversão a
lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. A homofobia significa a
intolerância em relação à diversidade sexual e de gênero.
Além da violência física, o preconceito e a discriminação contra a população
LGBT restringem os direitos de cidadania, o direito à livre expressão afetivo-sexual e de
identidade de gênero. Existem também os termos LGBT fobia, Lesbofobia, Gayfobia,
Bifobia e Transfobia para designar a fobia a cada segmento especificamente.

Aspectos legais

A sociedade brasileira está formando, ainda, leis que protejam os direitos


específicos da população LGBT – tais como: direitos à união estável, adoção, herança,
registro civil, dentre outros.
Contudo, mesmo que não haja legislação específica, é importante ter em mente
que nossa Constituição Federal ampara os direitos fundamentais de todas as pessoas.
Constituição Federal, Art. 3º: “Constituem objetivos fundamentais da
República Federativa do Brasil IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.”
Considerando a necessidade de empreender esforços no sentido de buscar o
acesso às políticas nacionais de segurança pública à população de lésbicas, gays,
bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), previsto no Plano Nacional de Promoção da
Cidadania e Direitos de LGBT do Governo Federal, a Secretaria Nacional de Segurança
Pública (SENASP) criou, em 2010, o Grupo de Trabalho LGBT. O GT é um órgão
consultivo, propositivo e de assessoramento, junto ao Ministério da Justiça, sobre
políticas, programas e ações referentes à promoção do reconhecimento da diversidade
de orientação sexual e de identidade de gênero, ao enfrentamento de preconceito,
discriminação e violência contra a população LGBT na política nacional de segurança
pública. As principais competências do GT LGBT da SENASP/MJ são:
• Diagnosticar, fomentar e monitorar a promoção da política de segurança pública
referendada nas conferências nacionais LGBT, de Segurança Pública e de Direitos
Humanos para a população LGBT.
• Criar instrumentos técnicos para elaboração de diretrizes, de recomendações e de
linhas de apoio, visando o estabelecimento de ações de prevenção à violência e combate
à impunidade de crimes contra a população LGBT.
• Recomendar a elaboração de cursos, conteúdos e metodologias de ensino, específicos
ao tema, a serem utilizados na capacitação das polícias estaduais e guardas municipais,
de acordo com a Matriz Curricular Nacional para Ações Formativas dos Profissionais
da Área de Segurança Pública e da Matriz Curricular Nacional para a Formação das
Guardas Municipais.

Manifestações de afeto entre LGBTs:


Você, policial, pode ser solicitado a atuar na administração de conflitos relativos às
expressões públicas de afetos entre pessoas do mesmo sexo.
Algumas expressões de afeto entre homossexuais – tais como: andar de mãos dadas,
abraçar-se e beijar-se em público – podem gerar conflitos no espaço público ou podem
vir a ser objeto de queixa à polícia.
Lembre-se de que não há lei que criminalize as relações homoafetivas. É ilegal tentar
criminalizar os atos e expressões públicas de cunho não sexual entre pessoas do mesmo
sexo.
O critério é um só, sendo relações hetero ou homoafetivas:
A manifestação de afeto, em público, entre pessoas heterossexuais ou homossexuais
não constitui crime, desde que não seja um ato obsceno de cunho sexual. O policial
deve orientar a população sobre o direito à expressão pública de afeto.

Procedimentos na abordagem policial

Dividiremos as orientações técnicas segundo casos específicos que se seguem:

TRAVESTIS E MULHERES TRANSEXUAIS:


Seguindo os procedimentos de segurança e considerando as especificidades da
abordagem a travestis e mulheres transexuais, considere os seguintes aspectos:
De início, como se dirigir à pessoa?
• O policial deve respeitar a identificação social feminina caracterizada pela
vestimenta e acessórios femininos de uso da pessoa abordada.
• Deve utilizar termos femininos ao se referir à travesti e mulheres transexuais – tais
como: senhora, ela, dela.
Como nomear a pessoa abordada?
• Estabilizada a situação, o policial deve perguntar a forma como a pessoa abordada
gostaria de ser chamada: nome social (Em Pernambuco existe o Decreto nº
35.051/2010 que versa sobre o respeito ao nome social).
• A pessoa pode escolher um nome feminino, masculino ou neutro. O policial tem o
dever de respeitar a escolha, não sendo permitido fazer comentários ofensivos sobre o
nome informado.
Quem faz a busca pessoal na mulher transexual e na travesti?
• Prioritariamente, o efetivo feminino deve realizar a busca pessoal na mulher
transexual e na travesti. Tal orientação objetiva respeitar sua dignidade, reconhecendo
seu direito de identificar-se como do gênero feminino.
• Como em toda ação policial, devem ser considerados os procedimentos de
segurança. Avalie o grau de risco que a pessoa abordada oferece, considere as
diferenças de porte físico entre a policial e a pessoa abordada.
• O efetivo em segurança deve ter condições de pronta-resposta, em caso de reação.
• Caso ameace a segurança, a policial pode não realizar a busca pessoal na travesti e na
mulher transexual.
O nome no documento de identidade:
• Na identificação documental, deve-se evitar repetir em voz alta o nome de registro
da pessoa abordada (da cédula de identidade), caso seja diferente do nome social
informado.
• É preciso ser discreto ao solicitar esclarecimentos, para não constranger a pessoa.
Deve-se continuar a chamá-la pelo nome feminino informado.
• Os documentos oficiais, como registro de ocorrência, documentação administrativa
policial, dentre outros, deverão conter o nome social informado, devendo ser registrado
também o nome de registro (da cédula de identidade).
Proteja a travesti e a mulher transexual capturada ou detida.
• A travesti ou a mulher transexual capturada ou detida deve ser mantida em
separado dos homens, visando protegê-la de constrangimentos e/ou violência
homofóbica.
Ampare a travesti e a mulher transexual vítimas de violência!
• A travesti ou a mulher transexual vítima de violência deve ser amparada e
conduzida à Delegacia.
• Você deve mostrar interesse na ocorrência e incentivá-la a fazer o registro do fato
por ser a melhor forma de garantir seus direitos.

HOMEM TRANSEXUAL
Seguindo os procedimentos de segurança e considerando as especificidades da
abordagem aos homens transexuais, considere o seguinte:
De início, como se dirigir à pessoa?
• Os homens transexuais utilizam vestimenta e acessórios masculinos.
• Quando o policial observar uma pessoa com imagem masculina, caracterizada pela
vestimenta e acessórios masculinos, deve respeitar a identificação social masculina e
dirigir-se à pessoa com base nessa interpretação.
• Deve utilizar termos masculinos ao se referir a essa pessoa – tais como: senhor, ele,
dele.
Como nomear a pessoa abordada?
• Estabilizada a situação, o profissional de segurança pública deve perguntar a forma
como a pessoa abordada gostaria de ser chamada: nome social. A pessoa pode
escolher nome feminino, masculino ou neutro. O policial tem o dever de respeitar a
escolha da pessoa, não sendo permitido fazer comentários irônicos sobre o nome
informado.
• Prioritariamente, o efetivo feminino deve realizar a busca pessoal no homem
transexual. Isso se deve ao fato de que, mesmo com a intenção em proceder conforme a
identidade de gênero a ser expressa pela pessoa abordada, existe legislação específica
que regula a busca pessoal em mulheres.
• Assim, para obedecer ao exposto no Art. 249 do Código de Processo Penal, a busca
pessoal em mulheres deve ser feita por outra mulher, se não importar retardamento
ou prejuízo da diligência.
O nome no documento de identidade:
• Na identificação documental, deve-se evitar repetir em voz alta o nome de registro
da pessoa abordada (da cédula de identidade), caso seja diferente do nome social
informado.
• É preciso ter discrição ao solicitar esclarecimentos, para não constranger a pessoa,
confrontando-a com uma identificação não informada por ela. Deve-se continuar a
chamá-la pelo nome social informado.
• Os documentos oficiais, como registro de ocorrência, documentação administrativa
policial, dentre outros, deverão conter o nome social informado, devendo ser
registrado também o nome de registro (da cédula de identidade).
Proteja o homem transexual capturado ou detido.
• O homem transexual capturado ou detido deverá ser conduzido em separado dos
homens biológicos, pois há legislação específica relativa ao cárcere de mulheres.
Assim, em analogia ao disposto no Art. 766 do Código de Processo Penal, o homem
transexual deve ser mantido em separado, para
prevenir violência homofóbica.
Art. 766 do Código de Processo Penal: “A internação das mulheres será feita em
estabelecimento próprio ou em seção especial.”
Em qualquer situação, seja discreto na revista de pertences!

Deve ser respeitada a intimidade da pessoa abordada, evitando a exposição de


pertences de foro íntimo.

3.4 Portadores de deficiência

Podemos relacionar os tipos de deficiência em:


• Física/Motora
• Mental/Intelectual
• Sensorial (visual e auditiva)

Segundo o Censo Demográfico 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de


Geografia e Estatística (IBGE), 45,6 milhões de brasileiros apresentam algum tipo de
deficiência.

Contextualização
A pessoa com deficiência pode ser abordada?
A polícia deve estar preparada para executar um serviço de excelência à sociedade e
isso inclui preparar-se para atuar em quaisquer situações, estando envolvidas ou não
pessoas com deficiência. Desse modo, você estudará os procedimentos para abordar:
Procedimentos de abordagem a pessoa surda:

• As pessoas com deficiência auditiva estão propensas a um equívoco que pode ocorrer
durante a fase de verbalização da abordagem.
• Se o abordado surdo estiver de costas e não visualizar o policial, ele não toma
conhecimento da ordem de parar. Assim, o abordado poderá continuar caminhando
em frente, dando a falsa impressão de que não está acatando determinação legal de
autoridade policial.
• Essa situação pode induzir o policial a um erro de interpretação da conduta do
abordado e levá-lo ao uso inadequado de força.
• Assim, é necessário que você, policial, perceba que tem ferramentas para se
comunicar com a pessoa surda.
A abordagem à pessoa surda segue os mesmos procedimentos operacionais de rotina,
mas é necessário estabelecer outro elo de comunicação entre as partes.
• Estão relacionados a seguir, os comandos da abordagem na Língua Brasileira de
Sinais (LIBRAS), segunda língua oficial do Brasil. Você sabia que o Brasil é um país
bilíngue?
• Com estes sinais, você poderá se comunicar com a pessoa surda que também utilize
a Língua Brasileira de Sinais.
• Certifique-se de que o abordado veja você.
Dicas importantes:
Não adianta gritar com o deficiente auditivo. Articule bem as palavras para favorecer
a leitura labial. Quando lhe for solicitado prestar auxílio a uma pessoa surda, tente
também comunicar-se com ela pela escrita.
Ao conduzir uma pessoa surda vítima de crime à Delegacia de Polícia para registrar
ocorrência, explique a ela o que está acontecendo. Certifique-se de que ela entendeu
que não está sendo presa.
Ao perceber agitação na pessoa abordada, faça gestos para ela se acalmar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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