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A obrigatoriedade da presença das partes perante o

Juizado Especial Cível e a figura do preposto

Roberta Pappen da Silva1

O Juizado Especial Cível surgiu com a promulgação da Constituição Federal

de 19882 e foi regulamentado com a Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995, com a

finalidade de agilizar o procedimento judicial, buscando a solução de conflitos de

menor complexidade, permitindo e ampliando o acesso do cidadão ao Poder

Judiciário.

Voltados para uma solução rápida do problema apresentado, com toda a

segurança exigida e necessária, os Juizados Especiais Cíveis, através dos

princípios previstos no artigo 2º da Lei 9.099/95 3, formam um processo mais

simplificado, pois seus atos são condensados, sem perder a celeridade processual,

visando uma solução justa ao processo. 4

1
Juíza Leiga no Juizado Especial Cível de São Leopoldo, graduada pela Universidade do Vale
do Rio dos Sinos e pós graduanda em Processo Civil pela Universidade Luterana do Brasil.
2
A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 98, inciso I, menciona: “A união, no Distrito
Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I – juizados especiais, providos por juízes togados,
ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis
de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os
procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o
julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau;...”
3
Artigo 2o da Lei 9.099/95: “O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade,
informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação
ou a transação”.
4
“Os Juizados Especiais foram criados com o espírito voltado a facilitação e ampliação do
espectro do acesso à justiça, conjugado com o trinômio rapidez, segurança e efetivação do
processo, e em sintonia com o s princípios insculpidos no artigo 2 o desta Lei e todos os demais
que servem para a sua geral orientação.” (FIGUEIRA JR. Joel Dias; LOPES, Maurício Antônio
Ribeiro. Comentários a Lei de Juizados Especiais Cíveis e Criminais. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1995, p. 111)
Dando aplicabilidade ao princípio constitucional de acesso à Justiça e a

Justiça Gratuita, os Juizados Especiais Cíveis permitem que o cidadão 5 busque, sem

o intermédio de advogado para as causas até vinte salários mínimos 6, a solução de

seu problema, aplicando-se o direito ao caso concreto.

No procedimento previsto na Lei 9.099/957 existem duas audiências que são

realizadas no processo: a audiência de conciliação 8 e a audiência de instrução e

julgamento9.

O comparecimento pessoal da parte às audiências é obrigatório 10. A

5
O artigo 8o da Lei 9.099/95 prevê que não poderão ser parte no Juizado Especial Cível o
incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de direito público, as empresas públicas da União, a massa
falida e o insolvente civil.
6
O artigo 9o, §1o, da Lei 9.099/95 determina que nas causas de valor até 20 salários mínimos,
se a parte quiser, será assistida por procurador instituído junto ao Juizado especial. Já o §2 o do
mesmo artigo estabelece que o juiz alertará a parte quando achar que a causa assim o
recomende.
7
Na Lei 9.099/95 as audiências estão previstas na seção VIII (Da conciliação e do Juízo
Arbitral) e na seção IX (Da instrução e julgamento).
8
Esta audiência é dirigida pelo Conciliador e sua finalidade é buscar um acordo entre as partes
envolvidas no litígio.
9
A audiência de instrução e julgamento inicia-se com a tentativa de conciliação entre as partes.
Caso inexitosa, o juiz leigo colherá as provas, contestação, depoimentos e inquirirá as
testemunhas que houver para julgar a ação proposta, de forma imparcial, buscando uma melhor
solução ao processo.
10
Diz o enunciado n. 20 dos Juizados Especiais: “O comparecimento pessoal da parte às
audiências é obrigatório. A pessoa jurídica poderá ser representada por preposto.” É expresso no
art. 8º, parágrafo 1º, da Lei 9.099/95: “Somente as pessoas físicas capazes serão admitidas a
propor ação perante o Juizado Especial, excluídos os cessionários de direito de pessoas
jurídicas”. Neste sentido: ‘”CHEQUE. ILEGITIMIDADE ATIVA. Cessionária de direitos de pessoa
jurídica. Art.8º da lei nº 9.099/95. Recurso provido. Extinção do feito sem julgamento do mérito.”
(BRASIL. TJRS. Recurso Inominado n. 71000514513. Segunda Turma Recursal Cível. Relatora:
DR.ª Maria José Schmitt Santanna. DJ 08.06.2004). Ainda: “PROCESSUAL. ILEGITIMIDADE
ATIVA. As partes devem comparecer pessoalmente ás audiências no sistema da lei dos juizados
especiais. Processo extinto sem julgamento do mérito.” (BRASIL. TJRS. Recurso Inominado n.
71000467092. Primeira Turma Recursal Cível. Relatora: DR. Eugênio Couto Terra, DJ
19.02.2004). Reproduzo entendimento do processualista Luiz Rodrigues Vambier, em Curso
Avançado de Processo Civil, 5ª. Ed. RT acerca do conceito de legitimidade: ”O autor para que
detenha legitimidade, em princípio, deve ser o titular do direito afirmado em juízo ( art. 60. do
CPC). Quanto ao réu, é preciso que exista relação de sujeição diante da pretensão do autor. Para
que se compreenda a legitimidade das partes, é preciso estabelecer–se um vinculo entre o autor
da ação e a pretensão trazida em juízo. Terá de ser examinada a pretensão conflituosa trazida
pelo autor. A aferição da legitimidade processual antecede logicamente o mérito. Assim, como
regra geral, é parte legitima para exercer o direito de ação aquele que se afirma titular de
determinado direito que precisa da tutela jurisdicional, ao passo que, será parte legitima para
figurar no pólo passivo , aquele a quem caiba a observância do dever correlato àquele hipotético
direito”
finalidade é colocar as partes frente a frente, para que, em primeiro momento, se

possa concretizar uma tentativa de conciliação, e em um segundo momento, na

instrução, se possa ouvi-las, como preceitua o artigo 28 da Lei 9.099/95.

De acordo com o artigo 20 da Lei 9.099/95, a ausência do demandado à

audiência11, não havendo justificativa nos autos 12, acarreta, conseqüentemente, em

sua revelia13 e, assim, reputar-se-ão verdadeiros os fatos alegados no pedido

inicial14.

Em contrapartida, o artigo 51, inciso I, da Lei 9.099/95, regula a extinção do

feito sem julgamento do mérito caso o autor deixar de comparecer nas audiências do

processo.15

Se o autor for pessoa jurídica deverá apresentar na audiência o ato

constitutivo da empresa, bem como comprovação de que se encontra enquadrado

11
Importante mencionar a súmula n. 7 das Turmas Recursais do TJRS: “CITAÇÃO: ENTREGA DO ‘AR’.
– É válida a citação de pessoa física com a entrega do ‘AR’ no endereço do citando, ainda que não assinado
por ele próprio, cabendo-lhe demonstrar que a carta não lhe chegou às mãos”.
12
Aconselha-se que a justificativa seja efetuada até a abertura da audiência, conforme
determina o artigo 453, parágrafo primeiro do Código de Processo Civil Brasileiro. A aceitação ou
não da justificativa, está no exercício do poder discricionário do Juiz de primeiro grau (artigo 2 o e
5o, conjugados, da Lei 9.099/95)
13
Na hipótese de mais de um réu, todos intimados, a ausência de um não acarreta os efeitos da
revelia, se o(s) outro(s) comparecer(em) conforme determina o artigo 320, inciso I, do Código de
Processo Civil Brasileiro.
14
Importante mencionar que ao final do artigo 20 da Lei 9.099/95 através da exceção “salvo se
o contrário resultar da convicção do juiz”, alcança poderes instrutórios ao Juiz para resultar sua
convicção e, desta forma, haver uma melhor solução ao processo. Assim, deve-se ter plena
convicção de que o pedido elaborado resulta de um fato verdadeiro, buscando a equidade e
apurando a verdade para formar convencimento.
"As normas processuais devem estar sempre em consonância com todo o sistema instrumental e
em sintonia com os princípios orientadores do processo, não podendo ser aplicada isoladamente,
é o caso do instituto da revelia, que se reflete diretamente no próprio direito material objeto da lide.
A revelia não gera princípio de veracidade relativa (iuris tantum) e tampouco absoluta iuri et de
iure”. (ALVIM, Arruda. Comentário à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, 22.ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 214)
15
Salienta-se que comparecendo o autor na audiência de conciliação e ausentando-se na de
instrução, não haverá confissão de qualquer fato e o processo será arquivado sem julgamento do
mérito, ao contrário do réu que, ausentando-se em qualquer das audiências acarretará em sua
revelia e, se for de convicção do juiz, poderá ser julgado de imediato.
como Microempresa16.

Em se tratando de condomínio, a Convenção Condominial é a base para a

representação em juízo. Não se admitem prepostos para o condomínio, se a

convenção não tiver disposição neste sentido. A princípio, a regra é que o

condomínio deve ser representado pelo seu síndico através da apresentação da ata

de eleição.

O Juizado Especial Cível proíbe o ajuizamento em caráter de cessionários

de direito, conforme o preceituado no artigo 8º da Lei 9099/95 verificando-se a

ausência de pressuposto processual de validade por falta de capacidade para estar

em juízo.17

O artigo 9º, §4º da Lei 9.099/95 estabelece que “o réu, sendo pessoa jurídica

ou titular de firma individual, poderá ser representado por preposto credenciado”.

A representação da pessoa jurídica ocorre através dos indicados nos

estatutos ou no contrato social e do preposto através de uma carta de autorização 18

imputando-se a pessoa a função de preposto 19.

16
A condição de microempresa para os fins do artigo 38 da Lei 9.841/99 requer a comprovação
do enquadramento (artigo 2o, inciso I, do mesmo diploma legal). A comprovação deve ser feita
mediante prova do faturamento da empresa na época do ajuizamento da ação (através de certidão
da Fazenda Estadual ou documento equivalente), ou certidão estadual ou federal (Imposto de
Renda Pessoa Jurídica ou Gia Informativa Estadual), pois é com base no mesmo que será
possível aferir-se sobre seu enquadramento como microempresa.
17
Reza o artigo 8º, §1º, da Lei 9.099/95, que o cessionário de pessoa jurídica não poderá
propor ação perante o Juizado Especial, tendo em vista a ausência de pressuposto de validade
sendo que, no caso sub judice, o título executivo em questão apresenta como beneficiário a
pessoa jurídica.
18
Enunciado n. 42 do FÓRUM PERMANENTE DOS COORDENADORES DOS JUIZADOS
ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS DO BRASIL: O preposto que comparece sem Carta de
Preposição obriga-se a apresentá-la, no prazo que for assinado, para a validade de eventual
acordo. Não formalizado o acordo, incidem, de plano, os efeitos de revelia.
Existem duas correntes que tratam sobre a questão do vinculo empregatício

do preposto com a empresa a qual representa. A exigência legal de comparecimento

de preposto nas audiências possui uma principal finalidade, qual seja: a de facilitar a

realização de acordo.

19
A propósito, preleciona Fran Martins: “Em algumas dessas funções, contudo, o empregado
terá oportunidade de tratar com terceiros, em nome do comerciante, e realizar transações de que
resultam obrigações para o empregador. Nesse sentido, o empregado se torna verdadeiro
preposto do comerciante, sendo o empregado apenas um representante do mesmo. [...] Quando,
porém, age em nome da empresa o empregado, além de dar a sua contribuição própria, está
representando o comerciante, e as obrigações assumidas são de responsabilidade deste e não do
empregado individualmente. Por tal razão, tem o contrato entre o comerciante e os empregados
que o representam o nome de preposição. A preposição comercial se diferencia da simples
prestação de serviços, porque envolve o comerciante, ou seja, o preponente, a quem o preposto
responsabiliza. Não se confunde, porém, com o contrato de mandato, porque neste os serviços
prestados são de natureza eventual, enquanto na preposição a não eventualidade é uma
característica essencial”. (MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial, 7.ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1979, p. 154)
Segundo o entendimento de Plácido E Silva o preposto é “a pessoa posta adiante ou à testa,
designando a pessoa ou o empregado que, além de ser um locad7or de serviços, está investido
no poder de representação de seu chefe ou patrão”. O preposto pratica atos concernentes à
locação, sob direção e autoridade do preponente ou empregador, distinguindo-se do mero locador
de serviços, que só está obrigado a prestar o trabalho contratado, e o mandatário, que só pratica
os atos autorizados no mandato. Continua o mesmo doutrinador: ”Já o preposto é o empregado a
que se atribuíram poderes de representação para praticar atos ou efetivar negócios
concomitantemente à realização de serviços ou trabalhos a ele cometidos, como funções e
encargos permanentes”. Ressalta-se que não existe a figura da contratação de alguém para ser
preposto. (Plácido E Silva, Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 1984, v.3, p. 431)
A posição majoritária das Turmas Recursais do Tribunal de Justiça do Rio

Grande do Sul entende que é necessária a existência de vínculo entre o preposto e

a empresa para a qual representa 20. Entende esta corrente que fornecer uma carta

de preposição para quem não tem vinculação empregatícia evidencia a pretensão de

burlar a lei, pois o dispositivo legal previsto no parágrafo quarto do artigo 9º da Lei

9.099/95 não tem a finalidade de assegurar a mera presença física de alguém

representando a pessoa jurídica em audiência (credenciamento), mas sim, exigir a

presença das partes, enfatizando o princípio da celeridade, com maior rapidez na

solução dos litígios, via conciliação, ou mesmo o rápido desfecho do processo com

defesa eficaz, depoimento pessoal, etc. Enfatizam, que é a vinculação empregatícia

que dá ao preposto a ciência dos fatos e abre ensejo à aceitação de propostas de

conciliação, bem assim, autoriza-o a deduzir defesa e a prestar depoimento pessoal,

20
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. COBRANÇA INDEVIDA. REVELIA.
Preposto deve possuir vínculo empregatício, consoante orientação uniforme das turmas recursais.
Comprovada nos autos a diligência da consumidora em adimplir a parcela objeto de cobrança
indevida, ainda que com atraso. problema de comunicação entre o banco e a administradora não
pode ser oposto à consumidora. Indemonstrado maior prejuízo no período. Readequação do
“quantum” deferido na origem ao razoável. Recurso parcialmente provido. (BRASIL. TJRS.
Recurso Cível n. 71000491712. Segunda Turma Recursal Cível. Relatora: Dra. Mylene Maria
Michel, DJ 28.04.2004)
REVELIA – ARTIGO 20 DA LJE – PREPOSTO – VÍNCULO EMPREGATÍCIO NECESSÁRIO – A
revelia é reconhecida caso o preposto não possua vínculo empregatício com a representada ou
cumule funções no processo. (BRASIL. TJRS. Recurso Inominado n. 71000504043, Relator: Dr.
Gustavo Alberto Gastal, j. 06/04/04.)
DANO MORAL. COBRANÇA INDEVIDA. REVELIA. Presumem-se verdadeiros os fatos articulados
na prefacial, em face da revelia decorrente da ausência de vínculo empregatício do preposto
indicado pela ré. Daí resultar o reconhecimento da cobrança indevida e respectivo dever de
repetição dos valores cobrados, somados aos danos morais. Sentença confirmada por seus
próprios fundamentos. Recurso improvido. (BRASIL. TJRS. Recurso Cível n. 71000490375.
Primeira Turma Recursal Cível. Relator: Dr. Clóvis Moacyr Mattana Ramos, DJ 29.04.2004)
REVELIA. PREPOSTO. VÍNCULO TRABALHISTA. OBRIGATORIEDADE. Entendimento unânime
das Turmas Recursais Cíveis quanto à necessidade de vínculo trabalhista entre a pessoa jurídica
e o preposto nomeado. Impossibilidade de representação por pessoa credenciada estranha aos
quadros da demandada e que negou qualquer vínculo com a ré. Ilegitimidade da ré afastada,
porquanto celebrado contrato com empresa insolvente deve responder pelos danos causados
àqueles movidos à contratação pela oferta de passagem aérea pela conclusão do negócio.
Sentença confirmada por seus próprios fundamentos. Recurso Improvido. (BRASIL. TJRS.
Recurso Cível n. 71000492066. Primeira Turma Recursal Cível. Relator: Clóvis Moacyr Mattana
Ramos, DJ 08.04.2004)
caso em que tudo o que disser será considerado como sendo dito pela própria

empresa, obrigando-a, independentemente da categoria do empregado. 21

O enunciado n. IV, do II Encontro de Coordenadores dos Juizados Especiais

Cíveis e Criminais do Brasil, regula a matéria da seguinte forma: “A presença

pessoal, na hipótese de pessoa física, e através de preposto com vínculo

empregatício, no caso de pessoa jurídica, é obrigatória nas audiências de

conciliação e/ou instrução e julgamento”

Rogério Lauria Tucci22 preleciona que o preposto credenciado seja

“funcionário ou empregado do réu, com pleno conhecimento dos fatos questionados,

de sorte a poder, inclusive, prestar depoimento pessoal, em nome dele”. Assim, não

tendo sido cumprido os requisitos, completa o mesmo autor: “Não preenchidas

essas condições, por certo não haverá falar-se em preposição, devendo ser

considerado revel o demandado não comparecente”.

Esta corrente entende que, não existindo relação de emprego entre o

representante e a pessoa jurídica que integre o pólo passivo da demanda, não pode

o representante ser considerado preposto, mas sim, simples mandatário. Entender-

se o contrário seria, via de conseqüência, dispensar o comparecimento pessoal das

partes, e autorizar que toda e qualquer pessoa, seja ela física ou jurídica, envie

21
DANO MORAL. 1. REVELIA. Preposto sem vínculo empregatício. O instituto da preposição
tem origem no direito do trabalho e reclama a vinculação com a pessoa jurídica ré, modo a
assegurar a eficácia dos princípios orientadores do juizado especial, mormente o da celeridade.
Inexistente o vínculo, frusta-se a conciliação e esvai-se a possibilidade de pronta solução do litígio,
pois a proponente não estará obrigada a cumprir o que eventualmente venha a ser conciliado.
Preposição sem vínculo importa, portanto, burla á lei especial. 2. CADASTRAMENTO EM
ÓRGÃO DE PROTAÇÃO AO CRÉDITO POR DÍVIDA QUITADA TEMPESTIVAMENTE. DANO
MORAL PURO. Sentença reformada apenas pra reduzir a verba indenizatória. Recurso
parcialmente provido. (BRASIL. TJRS. Recurso Cível n. 71000479105. Primeira Turma Recursal
Cível. Relatora: Dra. Marta Lucia Ramos. DJ 25.03.04)
22
TUCCI, Rogério Lauria. Manual do Juizado de Pequenas Causas. São Paulo: Saraiva, 1985,
p. 95.
procurador em seu lugar, nas audiências a serem realizadas, o que definitivamente

não pode ser aceito, visto que implicaria no desvirtuamento do disposto no artigo 9 o

da Lei 9.099/95, qual seja: a obrigatoriedade do comparecimento pessoal das

partes.

Existe entendimento contrário, que entende que existindo uma carta de

credenciamento, pela qual a empresa delega os poderes necessários para que

determinada pessoa a represente em juízo, atuando como preposto, já é suficiente

para que seja suprimida a ausência de outro representante, porém, como dito

anteriormente, esta posição é minoritária.23

Importante mencionar que, nas causas acima de vinte salários mínimos,

onde o artigo 9º da Lei 9.099/95 dispõe sobre a obrigatoriedade da presença do

advogado, é vedada a acumulação das condições de preposto e advogado na

23
AUDIÊNCIA NO SISTEMA DOS JUIZADOS ESPECIAIS. PESSOA JURÍDICA.
REPRESENTAÇÃO ATRAVÉS DE PREPOSTO, NA FORMA DO ARTIGO 9, §4º, DA LEI N.
9.099/95. DESNECESSIDADE DA DEMONSTRAÇÃO DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO COM A
EMPRESA. BASTA TER A CONFIANÇA DA RÉ. Mantida a revelia, no caso, uma vez que a carta
de preposição apresentada já havia caducado, pois tinha validade temporal já esgotada. recurso
parcialmente provido, para reduzir o valor da condenação. Preposto é quem age em nome e por
conta de outra pessoa, bastando ter a confiança do preponente, estando expressamente
autorizado a tanto. Se o preposto, por não ser empregado, não tiver conhecimento dos fatos que
estão discutidos no processo, quem sofre as conseqüências dessa ignorância é o próprio
preponente. Por outro lado, alguém sem vínculo empregatício formal com a empresa poderá ter
mais conhecimentos específicos sobre a questão controvertida do que um empregado qualquer.
De qualquer sorte, trata-se de questão que interessa somente ao réu, não havendo
obrigatoriedade legal de que se trata de empregado formal. Nem tampouco há razoabilidade em
tal exigência. Sabemos a existência de precedentes em sentido contrário, inclusive no próprio
sistema de juizados especiais gaúcho. Todavia, juris dictio não é um exercício de mera autoridade.
O magistrado não pode transformar em comando normativo seu mero querer ou entendimento
individual. Quanto não se trata de disposição legal expressa (e ausente a possibilidade de
relativizar o comando, em virtude princípios ou regras opostos), cabe ao magistrado fundamentar
e dialeticamente convencer da razoabilidade de seu provimento. Os precedentes consultados,
porém, limitam-se a afirmar a necessidade da demonstração do vínculo empregatício, sem,
contudo, evidenciar a razão de tal entendimento. Se o entendimento inicial de um magistrado, sem
motivação, constitui mero ato de autoridade, sem base legal ou racional, esse entendimento não
pode constituir precedente para um juízo posterior. A reiteração de entendimentos fundados em
decisões anteriores não fundamentadas não tem o condão de transformar em verdadeiro o que,
inicialmente, foi apenas fruto da vontade individual de um magistrado (BRASIL. Recurso
Inominado n. 71000505289. Terceira Turma Recursal Cível Relator. Dr. Eugênio Facchini Neto DJ
18.05.04).
mesma pessoa (artigo 35, inciso I, e artigo 36, inciso II, da Lei 8.906/94 c/c o artigo

23 do Código de Ética e Disciplina da OAB). 24

Podemos concluir com o presente estudo, que a necessidade da presença

das partes para o prosseguimento da ação no Juizado Especial Cível se deve,

principalmente, pelos princípios insculpidos no artigo 2 o da Lei 9.099/95, devendo,

de preferência, no caso de empresa, que o preposto seja funcionário desta, a fim de

viabilizar a efetivação de acordo, explanando a verdade dos fatos ocorridos, enfim,

atuando com celeridade e prestando todas as informações necessárias para bom

andamento do processo.

BIBLIOGRAFIA:

ALVIM, Arruda. Comentário à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, 22ª ED.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000
FIGUEIRA JR. Joel Dias; LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Comentários a Lei de
Juizados Especiais Cíveis e Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995.
MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial, 7 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979
PLÁCIDO E SILVA, Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 1984, v. 3
TUCCI, Rogério Lauria. Manual do Juizado de Pequenas Causas. São Paulo:
Saraiva, 1985

24
PREPOSTO – VÍNCULO EMPREGATÍCIO NECESSÁRIO – CUMULAÇÃO DE FUNÇÃO –
REVELIA – ARTIGO 20 DA LEI 9.099/95 – A revelia é reconhecida caso o preposto não possua
vínculo empregatício com a representada ou cumule funções no processo. (BRASIL. TJRS.
Recurso Cível n. 71000504043, Rel. Dr. Gustavo Alberto Gastal, j. 06/04/04)
REVELIA - EMPRESA RÉ REPRESENTADA POR ADVOGADO CONSTITUÍDO, NA CONDIÇÃO
DE PREPOSTO - DECRETAÇÃO. INTELECÇÃO DO ARTIGO 3º DO REGULAMENTO DO
ESTATUTO DA ADVOCACIA E DA OAB QUE REGULAMENTOU A LEI 8.906/94. [...] O artigo 3º
do Regulamento do Estatuto da Advocacia e da OAB, publicado em 16.10 e 06.11 de 1994, veda a
cumulação das funções de advogado com a de preposto. [...] (BRASIL. TJMT. Recurso Cível - nº
050/99 Segunda Turma Recursal Cível. Relator: Juiz Cezar Bassan. DJ 25.05.1999)
PREPOSTO – VÍNCULO TRABALHISTA – OBRIGATORIEDADE – Entendimento unânime das
Turmas Recursais Cíveis da necessidade de vínculo trabalhista entre a pessoa jurídica e o
preposto nomeado. – Impossibilidade de representação pelo próprio advogado, inexistente o
vínculo. – Revelia mantida. – Recurso improvido. (BRASIL. TJRS. Recurso Inominado n.
01597544103, 2ª Turma Cível, Rel. Dr. Jorge Alberto Schreiner Pestana, j. 18.11.97)
"advogado não pode prestar depoimento pessoal pelo cliente" (Revista dos Tribunais, n. 651, p.
116)

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