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Gestão de riscos operacionais cria valor aos acionistas

O noticiário de 11 de novembro enfatizou o blecaute ocorrido na véspera em


cerca de 18 estados brasileiros. Nas diversas notícias, são relatados o não
funcionamento de sinais de trânsito, delegacias policiais não puderam registrar
ocorrências, hospitais e maternidades sem fornecimento alternativo de energia,
interrupção nos serviços de metrô e trens, suspensão das atividades em
agências da Caixa, paralisação no fornecimento de água, falhas em chamadas
de telefones fixos e celulares, entre outras consequências. Todos eventos de
riscos operacionais causados por outro evento de risco operacional. Se o corte
de energia elétrica tivesse ocorrido durante o horário comercial, provavelmente
as consequências seriam piores.

A definição mais conhecida sobre risco operacional, bastante difundida na


indústria financeira e que começa a ser disseminada fora do setor financeiro,
foi proposta pelo Comitê de Supervisão Bancária da Basileia, órgão integrante
do Bank of International Settlements (BIS): risco de perda, resultante de
inadequações ou falhas de processos internos, pessoas e sistemas, ou de
eventos externos. Esta definição inclui o risco legal, mas exclui os riscos
estratégicos e de imagem.

Uma vez, uma aluna, executiva de uma empresa multinacional, argumentou


que os prejuízos relativos a eventos de riscos operacionais são normalmente
cobertos por seguros, citando, hipoteticamente, uma planta industrial que sofra
danos e fique impedida de operar. Mesmo que os prejuízos materiais sejam
cobertos, sob uma abordagem mais estratégica, pensando na perenidade do
negócio, surgem as seguintes perguntas: E os contratos que não poderão ser
cumpridos porque a empresa parou de operar? E os clientes que não poderão
ser atendidos porque a empresa não possui um plano de continuidade de
negócios? E o cliente que não encontrará o produto nas prateleiras dos
varejistas, mas terá o produto concorrente disponível para consumo? Fica
evidente que os riscos operacionais podem acarretar riscos estratégicos e de
imagem.

Outro acontecimento de destaque, que recebeu bastante espaço na mídia


especializada em negócios, refere-se à chamada "crise dos derivativos", em
que os casos da Sadia e da Aracruz são emblemáticos. A maioria dos textos
aponta as operações com derivativos como a causa das grandes perdas, sem
uma análise mais cuidadosa do "todo".

As perdas com derivativos, um evento de risco de mercado (risco resultante de


variações em taxas de juros, câmbio, preços de commodities e cotação de
ações), foram provocadas por falhas de controles internos e por desvios na
governança corporativa, isto é, conforme o entendimento do Comitê da
Basileia, problemas de risco operacional. Este risco originou o risco de
mercado, que por sua vez levou a risco de liquidez (risco da empresa não
conseguir honrar seus compromissos financeiros), risco de imagem e, por fim,
ao risco estratégico, no caso da Sadia concretizado com a venda da empresa.

Apesar dos inequívocos progressos obtidos nas últimas décadas, a gestão de


riscos operacionais ainda não faz parte das prioridades de conselheiros e
administradores, incluindo gestores públicos. Infelizmente, muitos gestores
ainda consideram que gestão de risco está relacionada somente a riscos
financeiros ou fraude, ignorando os riscos a que seus negócios estão expostos
e que podem ter impacto decisivo no posicionamento competitivo e no futuro de
suas organizações. É o que chamo de miopia de risco.

A experiência tem demonstrado por meio de vários exemplos que, sempre que
a gestão de riscos de operacionais é falha ou negligenciada, ocorre destruição
de valor, seja para os acionistas e investidores, seja para outros stakeholders,
como funcionários, clientes e fornecedores.

A gestão de riscos operacionais cria valor para os acionistas ao reduzir o risco


associado às receitas operacionais, ao evitar ou diminuir perdas, ao tornar
processos mais eficientes, ao permitir respostas rápidas a contingências, ao
eliminar ou reduzir riscos, ao melhorar o desempenho do negócio como um
todo e ao alinhar a relação risco-retorno à estratégia da organização.

Fábio Coimbra - Professor da FIA, integrante do comitê de gestão de riscos do


IBGC e autor do livro "Riscos operacionais: estrutura para gestão em bancos".
Artigo publicado no jornal Valor Econômico em 25/11/09.

Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O


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