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Quem inicia os estudos literários, mais cedo ou mais tarde, passa por um texto central
que guiou (podendo dizer que até mesmo hoje ainda guia) a maneira de pensar
literatura: a Poética de Aristóteles. Logo no início, o filósofo define a essência da poesia
(termo aqui corresponde à literatura, uma vez que essa palavra só entra em circulação
no séc XVII), a mimeses (em tradução livre significa imitação), conceito que Platão, na
República, empregou na critica aos poetas, uma vez que estes “copiam” em três graus
de distância à “verdade” ou o mundo das ideias. As leituras posteriores de Aristóteles
levaram os escritores a procurar um maior grau de “realismo”, assim, a literatura seria
um espelho, um reflexo da realidade. Entretanto, parece não ser bem isso o que o
filósofo conceitua, já que diferencia claramente literatura de história, esta como o que
“é” e aquela como tudo que “poderia ser”, além da utilização do termo verossimilhança,
tido como uma verdade na obra literária, não tendo que corresponder à realidade,
dizendo que é preferível contar algo impossível na realidade, mas passível de ocorrência
na obra, do que algo possível da realidade, mas pouco crível na obra. Mas sigamos. Nos
séculos XVIII e XIX, os escritores buscaram dar o maior grau de realidade, “realismo”,
contudo, isso já ocorria anteriormente como bem observou Ian Watt na “Ascensão do
Romance”, vendo em Fieldings, Defoe e Richardson, como precursores. Desta forma, o
que seria esse “realismo” que os poetas buscavam¿ Vejamos algumas respostas,
tomando a geração de 70 do Séc. XIX de Portugal para exemplificação.
Por fim, podemos notar indícios da modernidade já na geração de 70. Vimos que os
jovens dessa geração, Antero, Eça, Teófilo, buscavam “acelerar” a política, cultura e
literatura portuguesa rompendo com o “passado” para alcançar algo melhor. Ora, não é
precisamente isso que define a modernidade¿ Uma época de aceleradas transformações,
com a crença de que a tecnologia, a ciência e as artes caminhavam para o bem maior, ou
seja, uma progressividade histórica. Como maior exemplo da modernidade, há os
modernistas, alimentada pelo modernismo: Mário de Andrade nosso maior exemplo.
Não confundir os dois termos: modernidade é usada em relação ao período pós-idade
média, já modernismo é um movimento intelectual-artístico do século XX. Observando
as características dos modernistas fica difícil não incluir a geração de 70 nesse grupo:
espírito pioneiro, nojo e aversão às artes presentes, seguiram o modelo dos movimentos
revolucionários, preferiam agir coletivamente, olhavam para além do reino das artes,
fizeram manifestos. De acordo com Bauman em “O Mal- Estar da Pós-Modernidade”,
os modernistas, em contraponto com nossos artistas atuais (pós-modernismo),
acreditavam que “tudo o que vem depois é também (tem de ser ou deve ser) melhor,
enquanto tudo que reflui para o passado é pior”. Desta forma, os modernistas não
queriam romper com a realidade, mas se viam como “propulsores”, confiantes de que há
uma progressividade história. Para encerrar, sabemos que toda classificação literária é
falha, nada é puro, seja gênero ou uma escola literária. Entretanto, seguindo o
pensamento de Bauman, a geração de 70 pode ser tida como a “vanguarda” no mundo
artístico moderno, antes mesmo que os modernistas, já em meados do séc XIX.
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