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A constituição é LIXO

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Escrito por Diversos Autores April 4, 2017

É enorme a quantidade de pessoas que atribuem ao poder público um amplo leque de


funções e responsabilidades. Se perguntarem a respeito de qualquer tema diretamente
relacionado ao dia-a-dia da população, a opinião corrente dirá: é um direito, portanto, cabe
ao estado. Esse anseio de parte da sociedade é oriundo da própria ação do agente
político, que tem na promessa de garantir todos os direitos possíveis, a despeito de não
prover à maioria e prover mal à minoria, sua moeda de troca para se manter na estrutura
de poder que o beneficia e o elege e reelege.

A constituição brasileira é um sintoma dessa mentalidade. Concebida e aprovada sob a


ressaca dos 20 anos de um governo militar, a carta magna é extensa, detalhada, confusa e
desequilibrada. Originalmente, continha 250 artigos. Há cabimento uma constituição
elencar como direito até o piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do
trabalho?

Para efeitos comparativos, a constituição dos estados unidos tem sete artigos originais e
27 emendas.

De 2000 a 2010, o país criou 75.517 leis, somando legislações ordinárias e


complementares estaduais e federais, além de decretos federais, o que nos dá 6.865 leis
por ano – ou seja, foram criadas 18 leis a cada dia.[1] Até mesmo para quem é da área

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legal, a tarefa de saber quais delas são relevantes para considerar no nosso dia-a-dia, a
fim de não ser retaliado pelo estado é árdua e trabalhosa de modo que, na prática, a
maioria dos cidadãos leva suas vidas seguindo as leis consuetudinárias.

Armada essa estrutura institucional e legal, é perfeitamente natural que uma pessoa reaja
quase sempre da mesma forma ao perder o familiar por falta de vaga nos hospitais: a
saúde é um direito que lhe foi negado. Ela não está errada. O art. 6º da constituição define
como “direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados,
na forma desta constituição”. É como se eu chegasse na sua casa durante o jantar e
fizesse um belo discurso: “Salve, salve, minha gente! É o seguinte: vocês têm direito à
moradia, à saúde, à escola, às terra dos outros, desde que improdutivas (se não forem, a
gente dá um jeito). De lambuja, para a vovó ali, uma dentadura nova; para o bebezinho,
uma linda chupeta sabor tutti-frutti. Mas é o seguinte, todo mês eu venho aqui pegar
36,56% de tudo o que o papai, a mamãe e a vovózinha ganham. Não se preocupem.
Confiem em mim.”

Sei que vocês sabem, mas permitam-me a repetição sistemática para lembrar-lhes e
motivá-los a difundir a informação: quem paga pelos direitos sociais não é o estado, somos
nós (concorde-se ou não).

A nota dissonante na existência de tais direitos na constituição e na manutenção sem


oposição do discurso mantenedor dessa leviandade social é que a garantia legal e as
promessas retóricas se mantêm vigorosas a despeito de os serviços públicos serem
prestados de forma ruim e precária — quando são prestados. O que a constituição fez foi
tipificar uma utopia. Os resultados são exemplares: desejos ilimitados para realizações
limitadas geram insatisfação, impotência e angústia.

As leis que promovem obrigações são as mesmas que arruínam nosso senso de
responsabilidade, porque há uma crença disseminada, inclusive entre os profissionais do
direito (talvez justamente por causa da profissão), de que as leis garantem os direitos. O
que a lei faz, geralmente, é criar novos problemas ao tentar disciplinar determinadas
condutas e relações, não propriamente resolver as questões que pretendia solucionar
quando foi criada.

Para que serve a constituição federal, também, quando nos garante a segurança, em troca
de todos os tributos que pagamos ao estado? E que não são poucos, algo em torno de
40% do PIB, ou seja, de tudo que se produz no brasil? A verdade é que não temos
nenhuma segurança e o pior é que o cidadão, hoje, não pode ter, ao menos, uma arma,
nem em sua residência, para se defender. A alegação oficial, até parece brincadeira, é que
as armas são perigosas. Melhor, assim, que fiquem apenas com os bandidos, para que as
pessoas não se machuquem!

Existe um decreto-lei de 1966 em pleno vigor, por exemplo, que estabelece como crime no
brasil, sujeito a pena de seis meses a dois anos de prisão, fabricar açúcar em casa. As leis
comerciais brasileiras são regidas por um código de 160 anos, em que o regime de
governo mencionado ainda é o império.

Em 1990, em Brasília, a câmara dos deputados discutia um projeto definindo o que é


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presunto. O projeto do deputado Hilário Braun era didático: “Art. 1º. Denomina-se presunto
exclusivamente o produto obtido com o pernil do suíno ou com a coxa e sobre coxa do
peru. Parágrafo único. O produto obtido com a matéria-prima do peru terá o nome de
presunto de peru.”

Durante os trabalhos de elaboração da constituição federal de 1988, a proposta do


deputado José Paulo Bisol para o inciso I do art. 5º era a seguinte: “Homens e mulheres
são iguais perante a lei, exceto na gestação, parto e aleitamento”.

Agora vejamos o que diz a constituição do brasil no artigo 5º.

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade…”

Se todos são iguais perante a lei, como podemos criar “cotas” para universitários? Logo
estamos mostrando que há diferenças e se há diferenças, alguma coisa está errada nessa
lei de cotas.

A constituição de 88 é quase senil. Em compensação, já foi remendada 73 vezes — 67


emendas constitucionais propriamente ditas e seis emendas de revisão. E recebeu sua
primeira emenda com apenas três anos e quatro meses de vida, por um motivo de
“extrema importância” para os políticos — a necessidade de redefinir a remuneração de
deputados e vereadores.

As constituições brasileiras sempre tiveram essa tradição de se alienar da realidade —


tendência que a constituição de 88 exacerbou. Ela não emana do povo, como diz o seu
preâmbulo, mas da vontade doidivanas das elites oligárquicas, corporativas e utópicas que
a fizeram na época.

O jurista Paulo Ferreira da Cunha analisa justamente a relação entre utopia e constituição
de 88, observando que é da natureza de todas as constituições apresentarem certo caráter
utópico: “As constituições, se não forem simples folhas de papel com a regulação dos
órgãos do poder, as cores da bandeira e o local da capital dos países (pouco mais ou
pouco menos que isto), têm um espírito e um conteúdo mais ou menos utópico. Utópico no
sentido de almejarem descrever, com a minúcia possível, uma sociedade que consideram
melhor, planificada, racional, com traços de geometrismo, de uniformidade, certa
igualitarização, etc.” Para ele, a constituição é uma utopia e, como tal, é também uma
narrativa, que se aproxima dos gêneros literários, como o romance.

O inciso XIV em relação ao IX é pura confusão. Ao falar em “sigilo da fonte quando


necessário ao exercício profissional”, os constituintes se esqueceram que o Artigo 5º não é
privativo de jornalistas e se destina as pessoas em geral, inclusive estrangeiros que
moram no brasil. Logo, se for interpretado ao pé da letra, esse artigo está dizendo que
toda e qualquer informação é pública, bastando que não se revele sua fonte. De certo
modo, é como se esse inciso revogasse o inciso IV do mesmo artigo, que diz que “é livre a
manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”.

O jurista Paulo Ferreira da Cunha diz:

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“Evidentemente que uma constituição programática que não tenha mesmo em nenhuma
atenção nem o povo a que se destina, e de que deve emanar, nem sequer aquelas
verdadeiras constantes da natureza humana, ou da sua condição, uma constituição que
force a maneira de ser de uma nação, ou que descure o modo de funcionamento normal
de todos os homens, não só terá muitos problemas de afirmação, de força normativa,
como, na verdade, mesmo querendo construir um paraíso, será inevitável fabricante de
inferno.”

A constituição de 88 tem sido uma “fabricante de inferno”. Devido a seu caráter


excessivamente programático, querendo reformar a nação a golpes de lei, ela promove
conflitos muito mais do que os resolve. No fundo é uma constituição work in progress, ou
seja, uma revolução progressiva, sobretudo depois que o supremo tribunal federal, em vez
de se limitar a exercer o controle de constitucionalidade, resolveu controlar a própria
sociedade, impondo uma verdadeira revolução dos costumes que contraria a índole
histórica da nação. Cada vez mais, os grupos de pressão se apoderam de artigos da carta
que flertam com “um outro mundo possível” e, a partir do judiciário, impõem seus
interesses particulares à maioria da população, contribuindo para esfiapar o tecido social.
O racialismo xiita do movimento negro e o comportamento predador do movimento gay —
ambos com ostensivo apoio da justiça — são dois exemplos de como a constituição de 88
se tornou uma arma engatilhada contra a própria nação.

É certo que esse é um pecado comum às constituições modernas, que tendem a ser
prolixas e programáticas. Não apenas por serem filhas da revolução francesa, mas
também por serem um instrumento de poder da casta jurídica.

A emenda cons​titucional nº 65, a chamada “PEC da juventude”, é um exemplo desse


espírito revolucionário em permanente ebulição, que pode levar o país à bancarrota
econômica e moral. Pouco mais de um ano após sua aprovação, essa emenda já pariu o
estatuto da juventude, uma anomalia jurídica que transforma marmanjos de 29 anos em
crianças que deverão ser sustentadas pelo estado-mãe.

A constituição de 88 vê o indivíduo como marionete do estado. Em seu artigo 196, por


exemplo, ela afirma taxativamente que a “a saúde é direito de todos e dever do estado”, o
que exime o cidadão de qualquer compromisso com a preservação de sua própria saúde.
Foi o que ocorreu, por exemplo, com os pacientes que contraem Aids devido a um
comportamento promíscuo, em bacanais de sexo e drogas. O estado brasileiro banca todo
o tratamento desses indivíduos e não exige deles nenhuma contrapartida, impedindo até
mesmo que grupos religiosos — sob a ameaça de processos por homofobia — os exortem
a uma conduta moral. Resultado: depois de duas décadas de paradas gays patrocinadas
pelo estado a pretexto de combater a Aids, recentemente o ministério da saúde foi
obrigado a admitir o óbvio — os homossexuais contraem HIV 11 vezes mais que os
heterossexuais, apesar do elevado grau de conhecimento que possuem acerca do
contágio e prevenção.

O excesso de direitos sem a contrapartida de nenhum dever marca a constituição de 88


desde sua gênese. Como observa o jurista Luis Barroso:

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“Seu texto foi marcado, em sua versão originária, pela densificação da intervenção do
estado na ordem econômica, em um mundo que caminhava na direção oposta, e por uma
recaída nacionalista que impôs restrições ao ingresso de capital estrangeiro de risco, em
domínios como os da mineração, das telecomunicações, do petróleo, do gás etc.”

Com o governo de Dilma Rousseff, o nacionalismo e o intervencionismo ganharam novo


fôlego e não faltarão juristas para justificar as medidas protecionistas do governo no
próprio texto constitucional. Não se pode esquecer que o texto original da cons​tituição, no
capítulo sobre o sistema financeiro nacional, regulava, em seu artigo 192, parágrafo 3º, até
a taxa de juros. A norma era taxativa: “As taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e
quaisquer outras remunerações direta ou indiretamente referidas à concessão de crédito,
não poderão ser superiores a doze por cento ao ano; a cobrança acima deste limite será
conceituada como crime de usura, punido, em todas as suas modalidades, nos termos que
a lei determinar”.

Além disso, a constituição de 88 tem um outro vício: é, provavelmente, a mais corporativa


da história do Brasil. O jurista Luís Barroso chega a afirmar que ela “não escapou ao ranço
do corporativismo exacerbado, que inseriu no seu texto regras específicas de interesse
das mais diversas categorias, inclusive magistrados, membros do ministério público,
advogados públicos e privados, polícias federal, rodoviária, ferroviária, civil e militar, corpo
de bombeiros, cartórios de notas e de registros, que bem servem como eloquente
ilustração”. E, agora, a essas corporações de estado, se juntam as ONGs — outra forma
de corporativismo estatal até mais perniciosa. Valendo-se da hábil manipulação da
constituição, esses e outros grupos de pressão privatizam o direito para as minorias e
socializam o custo para todos.

Resumindo de forma clara e direta: A constituição brasileira é um LIXO!

Obs.: Você deve ter percebido no artigo que “estado” e nomes de países e de instituições
foram escritos em minúsculo, foi proposital. Muitos libertários adotam a grafia “estado” e de
nomes de países e de instituições em minúsculo. Argumentamos que se indivíduo, pessoa,
liberdade e justiça são escritas com minúscula, não há razão para escrever estado e
nomes de instituições com maiúscula. Países são aberrações político-geográficas, todos
são áreas onde se exerce um poder coercivo contra as pessoas que as habitam. A
justificativa de que a maiúscula tem o objetivo de diferenciar a acepção em questão da
acepção de “condição” ou “situação” não convence. Considere que grafar estado é uma
pequena contribuição para a demolição da noção disfuncional de que o estado é uma
entidade que está acima dos indivíduos.

Notas:

[01] Segundo matéria do site O Globo.

Autores: Lacombi Lauss, Bruno Garschagen, Fernando Lima, Renata Mariz, José Maria e
Silva e Uatá Lima.

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