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Belo Horizonte
2009
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Belo Horizonte
2009
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85 f.
CDU: 382
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Professor Paulo Neves de Carvalho da Fundação João Pinheiro, como requisito parcial para a
Banca examinadora
AGRADECIMENTOS
minha formação profissional. Em especial, gostaria de agradecer ao Sr. Jorge Duarte, pela rica
oportunidade de aprendizado, e ao Dr. Accacio F. dos Santos Jr., pelas valiosas lições e pela
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE FIGURAS
Figura 4 – Mapa dos Centros de Informações de Comércio Exterior nos Estados Federados da
Rede.........................................................................................................................................58
Comércio Exterior.....................................................................................................................64
Exportaminas e os parceiros.....................................................................................................74
participantes da rede..................................................................................................................75
LISTA DE TABELAS
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................16
2. GESTÃO EM REDE...................................................................................................19
2.1 O Contexto de surgimento da governança em rede.................................................19
2.2 Conceito de Gestão Em Rede..................................................................................22
2.3 Gestão Colaborativa ou Collaborative Management..............................................24
2.4 Policy Networks ou Redes de Políticas Públicas.....................................................25
2.5 Modelo Burocrático X Modelo de Gestão em Rede...............................................27
2.6 Potencialidades e desafios do modelo de gestão em rede.......................................30
2.7 Gestão da Rede........................................................................................................35
2.7.1 Gestão Compartilhada.................................................................................36
2.7.2 Gestão feita por uma Organização Líder.....................................................36
2.7.3 Gestão através de Entidade Especialmente Criada para este Propósito
(Network Administrative Organization)......................................................37
2.8 Gestão da Rede e Eficácia.......................................................................................38
2.9 Gestão da Rede: Tensões.........................................................................................41
2.9.1 Eficiência versus Inclusão...........................................................................41
2.9.2 Legitimidade Interna versus Legitimidade Externa....................................42
2.9.3 Flexibilidade versus Estabilidade ou Perenidade Institucional...................45
2.10 Constatações Preliminares................................................................................47
3. POLÍTICAS DE COMÉRCIO EXTERIOR: UM EXAME DAS ÁREAS DE
INTERVENÇÃO.........................................................................................................49
3.1 Acesso à Informação...............................................................................................49
3.2 Adaptação dos produtos às normas e especificações exigidas no exterior.............51
3.3 Investimento em Logística.....................................................................................51
3.4 Redução da Burocracia............................................................................................52
3.5 Redução do Viés Antiexportador............................................................................52
3.6 Complexidade e Multiplicidade de Atores..............................................................53
4. A CENTRAL EXPORTAMINAS.....................................................................................55
4.1 A Criação da Central Exportaminas........................................................................55
4.2 Iniciativas similares à Central Exportaminas no Brasil e no exterior.....................57
4.2.1 A U.S. Commercial Service Export Assistance Center de Atlanta........57
4.3 A Rede CICEX....................................................................................................58
15
1. Introdução
Este trabalho abordará com maior profundidade cada um destes aspectos, e procurará
confrontar o modelo de gestão da Central Exportaminas com o modelo teórico de gestão em
rede presente nas literaturas nacional e internacional, investigando se o modelo teórico
corresponde à realidade fática neste caso. Para tanto, far-se-á uma análise do surgimento da
Central Exportaminas, sua atuação no fomento ao comércio exterior, os projetos realizados
pela Exportaminas e seus parceiros, a coordenação de suas ações e a forma como estes se
relacionam.
fundamental para a articulação e integração das ações de comércio exterior para o estado de
Minas Gerais.
O trabalho está estruturado em sete capítulos, sendo que este primeiro introduz o tema
a ser desenvolvido, define o objetivo geral, os específicos, e os aspectos metodológicos. O
objetivo do capítulo seguinte é justamente apresentar a gestão em rede e seus diversos
aspectos. Serão abordados, neste capítulo, o contexto de surgimento da gestão em rede; o
conceito de gestão em rede, diferenciando-o de outros conceitos como o de collaborative
management e policy networks; a diferenciação entre o modelo burocrático e o modelo de
gestão em rede; as potencialidades e desafios deste modelo de gestão; as formas de gestão da
rede; e as tensões inerentes ao modelo de gestão em rede. No terceiro capítulo, proceder-se-á
a uma análise das políticas de comércio exterior, examinando as áreas de intervenção neste
campo. No quarto capítulo, far-se-á uma descrição do surgimento da Central Exportaminas, e
das iniciativas similares no Brasil e no exterior. O quinto capítulo mostrará a adesão dos
parceiros FIEMG, SEBRAE e FAEMG ao esforço institucional da Central Exportaminas, e as
implicações desta para a parceria, apresentando, sucintamente, a contribuição de cada
entidade no fomento ao comércio exterior mineiro. O sexto capítulo, de crucial importância,
traz as evidências de gestão em rede presentes na atuação da Central Exportaminas e seus
parceiros. Finalmente, o sexto capítulo apresenta as principais conclusões obtidas.
19
2. GESTÃO EM REDE
Se, de fato, a gestão pública colaborativa é nova e está se tornando uma forma
proeminente de governança, por que isto está ocorrendo? Uma perspectiva
argumenta que a mudança social é um determinante primordial para a gestão pública
colaborativa. Da mesma forma em que a organização hierárquica surgiu durante a
era feudal e a burocracia foi a forma dominante de organização durante a era
industrial, a era da informação nascente dá ensejo a estruturas permeáveis nas quais
as pessoas podem se interconectar, ultrapassando funções e fronteiras
organizacionais. Essa tese da mudança social preconiza que o mundo é caracterizado
por uma grande diversidade, onde o poder está disperso, não centralizado; onde as
tarefas estão se tornando menos especializadas, e não mais subdivididas; e onde a
sociedade demanda, em nível global, uma maior liberdade e individualização, mais
do que integração. Para muitos, é a era das redes e da colaboração2. (AGRANOFF
& MCGUIRE 2003, 23, tradução nossa)
1
As citações foram retiradas de artigos em inglês, e foram traduzidas para o português.
2
If, indeed, collaborative public management is new and is becoming the prominent form of governing, why is
this occurring? One perspective argues that societal change is a primary determinant of collaborative public
management. Just as the hierarchical organization emerged during the agricultural age and bureaucracy was
the dominant form of organization during the industrial age, the nascent information age gives rise to permeable
structures in which persons can link across organizational functions and boundaries. This social change thesis
argues that the world is characterized by extreme diversity “where power is dispersed, not centralized; where
tasks are becoming de-differentiated, rather than subdivided and specialized; and where society worldwide
20
É neste sentido que Goldsmith & Eggers (2006) afirmam que “mudanças significativas
em nossa sociedade permitem – e exigem - um governo em rede. Os problemas que os
cidadãos e seus representantes eleitos enfrentam hoje são demasiado complexos para soluções
do tipo “tamanho único”, oferecidas por uma burocracia hierárquica.”
Moura (1997), citado por Fleury (2002), enuncia ainda que “a abordagem de redes,
como expressão dos novos arranjos organizacionais que emergem na atualidade, indica o
esgotamento da capacidade de integração das instituições representativas tradicionais, da
eficácia das organizações burocráticas e do modelo de planejamento centralizado.” Esta
afirmação, embora condizente com a perspectiva ora abordada, parece-me um pouco
extremada. O que ocorre, de fato, é a percepção de uma limitação do modelo burocrático para
sanar todos os tipos de problemas, ensejando o surgimento de outros modelos, como o de
gestão em rede.
Outra perspectiva enuncia que os tipos de problemas enfrentados por governos hoje
não podem ser apreciados de forma eficiente através das burocracias tradicionais. A
resolução de problemas complexos como pobreza, saúde pública e desastres
naturais, requer mecanismos diferentes, que são mais flexíveis, mais inclusivos,
demands greater freedom and individuation, rather than integration. For many, it’s the age of the network and
collaboration. (AGRANOFF & McGUIRE 2003, 23)
21
mais adaptáveis e operam com maior velocidade (Alter and Hage 1993) daquilo que
se pode se perceber em organizações governamentais convencionais. Estes
problemas, muitas vezes denominados “wicked problems” – são problemas para os
quais não existem soluções claras, mas apenas soluções temporárias e imperfeitas
(Harmon and Mayer 1986). O’Toole (1997) sugere que as políticas que almejam
lidar com estes problemas precisarão, cada vez mais, de estruturas colaborativas para
sua execução. (MCGUIRE, 2006, p.3)
Uma questão recorrente abordada por Kettl (1996, 2000), Salamon (1981, 2002), e
outros autores, é a tendência atual do Estado de deixar de produzir bens públicos, e delegar
esta produção a outros agentes, uma vez que não só os problemas se tornaram mais
desafiadores, mas o governo perdeu parte de sua legitimidade como provedor destes bens.
Neste ínterim, duas abordagens conceituais surgiram para fundamentar a provisão de bens
e serviços públicos por atores não-governamentais nas últimas duas décadas. A corrente da
NPM (New Public Management), que sugere a provisão dos bens e serviços primordialmente
pelo Mercado – o que de fato foi aplicado em diversos países, sobretudo anglo-saxões.
Este tipo de análise, que tradicionalmente era aplicada somente no setor privado, passou a
englobar o setor público após a década de 1980, engendrando experimentos de privatização,
terceirização e mecanismos internos de mercado para a provisão de serviços públicos, tendo a
regulação um papel de grande importância nestes casos.
A segunda abordagem, conforme afirmam Rethemeyer & Hatmaker (2007), foi confiar
às redes a tarefa de lidar com problemas mais complexos além da deslegitimização dos
governos.
É exatamente neste contexto que Goldsmith & Eggers (2004) colocam, com
veemência, que “o foco no valor público irá mudar gradativamente a forma como o governo é
concebido: a idéia de governo baseado em programas e órgãos dará lugar para um governo
baseado em objetivos e redes.”
Finalmente, Kettl (1996) sustenta que a mudança mais significativa nas funções
administrativas ao longo do último século, nos setores público e privado, é o aumento
substancial na interdependência organizacional. Cada vez mais se observa a necessidade de
organizações trabalharem em conjunto, para alcançar seus objetivos.
Muitos são os conceitos dados às redes. De uma forma geral, elas são percebidas como
uma forma importante de governança multi-organizacional, formada por grupos de três ou
mais organizações legalmente autônomas que trabalham juntas para alcançar, não apenas
23
metas individuais, mas também metas coletivas (PROVAN & KENIS, 2007). Diferentemente
das organizações, as redes são estruturas horizontais, e não hierárquicas.
As redes são percebidas como formas de organização social que são mais do que a
soma dos atores, permitindo a interação interorganizacional, a ação e produção conjunta
destas organizações (ALTER & HAGE, 2003). São estruturas de interdependência
envolvendo múltiplas organizações ou partes, nas quais não há relação de subordinação, como
ocorreria num arranjo hierárquico.
Fleury (2002) aponta ainda que “as principais características das redes de políticas são
a horizontalidade e a interdependência entre os múltiplos nódulos ou participantes, o que as
distingue de outros formatos de gestão de políticas, como a contratação e as parcerias.”
Minha percepção é de que o melhor conceito para a gestão em rede é o híbrido entre o
conceito de Provan & Kenis (2007) e Fleury (2002). Assim, a gestão em rede pode ser
conceituada como a governança multi-organizacional, formada por grupos de três ou mais
organizações legalmente autônomas que trabalham juntas para alcançar, não apenas metas
individuais, mas também metas coletivas, de forma não-hierárquica e interdependente.
Os autores Goldsmith & Eggers (2006) ressaltam que a governança em rede representa a
convergência de quatro fontes de influência, que estão alterando a forma do setor público em
todo o mundo. A primeira delas é a tendência do governo atuar como terceira parte. Há várias
décadas já se observa o aumento do uso de empresas privadas e organizações não lucrativas –
em oposição ao uso de servidores do governo – na prestação de serviços e cumprimento de
metas de políticas. A segunda consiste no governo coordenado: a crescente tendência de
agências governamentais múltiplas, muitas vezes até mesmo em múltiplos níveis de governo,
unirem-se na prestação de serviços integrados. A terceira tendência é a revolução digital. Os
recentes avanços tecnológicos permitem às organizações colaborar em tempo real com
parceiros externos de formas anteriormente impossíveis. Finalmente, temos a tendência de
demanda do consumidor, que consiste no fato de que, cada vez mais, os cidadãos requerem
maior controle sobre suas próprias vidas e por mais opções e variedade de serviços
24
Para os autores, governar com uma rede de parceiros representa a síntese dessas quatro
tendências, combinando o alto nível de colaboração público-privada característico de um
governo como terceira parte, com as sólidas capacidades de gestão em rede de um governo
coordenado, aliadas ao uso da tecnologia para conectar a rede e oferecer aos cidadãos mais
possibilidades em termos de opções de prestação de serviços.
Neste ponto, é importante fazer algumas considerações acerca da gestão em rede, uma
vez que há uma discussão na literatura acerca da terminologia network management,
comumente confundida com collaborative management, ou gestão colaborativa.
Tampouco se deve confundir a gestão em rede abordada neste trabalho com o conceito
de “policy networks” de Rethemeyer & Hatmaker (2007), que em muito se diferencia do
conceito de rede de política pública de Börzel (1998). Rethemeyer & Hatmaker (2007)
definem o termo da seguinte maneira:
Como se nota, o conceito de “policy networks” destes autores está mais relacionado a
grupos de interesses que ambicionam influenciar o rumo das políticas públicas que terão
impacto sobre suas organizações, trocando para tanto recursos diferenciados. Não há,
entretanto, um esforço colaborativo conjunto no sentido de construir um resultado da rede,
como é o caso da gestão colaborativa, e mais especificamente, da gestão em rede.
3
Policy networks are a set of public agencies, legislative offices, and private sector organizations that have an
interest in public decisions within a particular area of policy because they are interdependent and thus have a
“shared fate”. (…) Such organizations constitute a “network” because they communicate intensively about
issues they care about and must exchange money, political support, and other resources to influence public
decisions and – most basically – to survive. (RETHEMEYER & HATMAKER, 2007, p.619)
26
O conceito de Börzel (1998), por sua vez, se aproxima do conceito de gestão em rede
abordado por este trabalho, na medida em que:
Não obstante os dissensos em torno do conceito de rede, temos que, em todos os casos,
os autores concordam que a gestão em rede se caracteriza basicamente por certos padrões de
relacionamento entre atores múltiplos, com distribuição de poder, de recursos e relações mais
horizontalizadas.
Embora seja de fato verdadeiro que a dependência mútua têm levado a um número
crescente de relações horizontais que ultrapassam diversas fronteiras, essas ligações
parecem “revestir” a hierarquia ao invés de substituí-la. 4(AGRANOFF, 2006, p.57)
A tabela 1 traz uma série de fatores que, em cada caso, favorecem o modelo de gestão
em rede ou burocrático.
4
Although it is certainly true that mutual dependency is leading to an increasing number of horizontal
relationships crossing many boundaries, lateral connections seem to overlay the hierarchy rather than act as a
replacement for them. (AGRANOFF, 2006, p.57)
28
Múltiplos níveis de governo prestam o serviço Um único nível de governo presta o serviço
A gestão em rede, portanto, tem-se revelado como uma boa solução nos dias de hoje
em decorrência da combinação de um contexto de globalização econômica, que traz novas
necessidades de flexibilidade, integração e interdependência; da complexificação dos
processos administrativos; e da transformação do papel do Estado e de suas relações com a
sociedade, onde surgem novos modelos de gestão que implicam na interação de estruturas
descentralizadas e parcerias.
Por outro lado, é preciso lançar um olhar crítico a este modelo de gestão, o que poucos
autores têm feito. Conforme salienta McGuire (2006):
5
The literature on collaboration is often celebratory and only rarely cautious (Berry et al.2004). There are few
studies that measure the impact of collaborative public management on Program outcomes, but the general
assumption in much of the public management literature is that collaboration is a positive factor to be pursued
by managers. That is, since collaboration is the new form of governance, it follows that collaboration in and of
itself must be desirable. (MCGUIRE, 2006, p.18)
30
Como bem ressaltam Goldsmith & Eggers, “abordagens em rede produzem tanto
oportunidades abundantes para melhorias significativas nos serviços públicos, assim como
grandes desafios gerenciais.”
Fleury (2002) enumera uma série de vantagens inerentes a este modelo de gestão. As
redes são apontadas, por exemplo, como boas soluções quando é preciso administrar políticas
e projetos onde há escassez de recursos, complexidade de problemas, multiplicidade de atores
envolvidos, interação simultânea de agentes públicos e privados, centrais e locais, bem como
uma demanda crescente por benefícios e por participação cidadã.
Potencialidades Desafios
Outros autores como Provan & Kenis (2007) ressaltam como virtudes das redes o
potencial para aumentar o aprendizado inter-organizacional, o uso ótimo de recursos, a maior
capacidade de planejamento para atacar problemas complexos, e a oferta de melhores serviços
para os usuários ou beneficiários. Ademais, de acordo com os autores, a eficácia da rede é
atestada justamente pelo fato de que o esforço conjunto traria resultados que as organizações,
agindo isoladamente, não seriam capazes de produzir.
32
Neste mesmo sentido caminham Teisman & Klijn (2002), que em um estudo realizado
na Holanda atestaram que muitas vezes, organizações governamentais não estão preparadas
para trabalhar em rede. Instâncias do governo em geral, ressaltam os autores, não trocam
6
Numerous conflicts occur over agency turf, the contribution of resources, staff time devoted to the network, the
location of meetings and conferences, and most importantly, threats of withdrawal because of frustration over
time and effort expended to achieve results. (AGRANOFF, 2006).
7
In some cases, collaborative arrangements attain a collaborative advantage which is concerned with the
potential for synergy from working collaboratively.. In many cases, however, “collaborative inertia” is the more
apt description of the collaborative process. Participants in a collaborative endeavor often cannot agree on
common aims, the amount of power within the collaboration is unequal, trust is difficult to build, and
participants often do not know with whom they are linked. The stark conclusion from this research is that
“unless the potential for real collaborative advantage is clear, it is generally best, if there is a choice, to avoid
collaboration” (MCGUIRE, 2006, p.421)
34
Administrar a Medir o
mudança desempenho da
rede
Os autores salientam que, para se obter resultados de redes, é preciso haver um marco
referencial abrangente, que contenha uma série de estratégias que contemplem as sete áreas
cruciais, segundo eles, para a accountability: estabelecimento de metas, alinhamento de
valores, estabelecimento de confiança, definição de incentivos, medição de desempenho,
compartilhamento de riscos e gestão de mudanças.
É consenso entre os autores que as redes exigem algum tipo de elemento integrador.
Seja um ente especialmente criado para coordenar e gerenciar a rede, seja um conjunto de
participantes que dividam a tarefa de coordenação, seja uma organização líder dentro da rede
– o fato é que é elementar para o sucesso da rede que haja algum esforço no sentido de
coordenar as atividades, lidar com problemas, e assegurar a prestação de serviços de
qualidade. Este é reconhecidamente, um elemento essencial de uma rede bem-estruturada.
De acordo com Goldsmith & Eggers (2006), “esse organizador atua como uma
“central” e muitas vezes é a única entidade a estabelecer elos com todos os demais
participantes de rede.” Os autores afirmam ainda que a administração pública muitas vezes se
apresenta como o integrador ideal, em decorrência de sua autoridade e imparcialidade,
vantagens que lhe conferem maior capacidade de integrar os participantes da rede e coordenar
as atividades.
Provan & Kenis (2007) elaboraram, com muita clareza, um modelo que tipifica a
forma de coordenação das redes. A primeira forma de gestão da rede é aquela que os autores
denominam de gestão compartilhada.
36
A segunda forma de gestão colocada pelos autores segue uma direção diametralmente
oposta: é a rede governada por uma organização líder. Neste tipo de gestão, todas as
principais atividades no nível da rede são conduzidas por apenas um membro da rede, que
atua como a organização líder, e que também toma as decisões mais importantes da rede. A
gestão, neste modelo, conforme explicam os autores:
estar bem alinhadas às metas da organização líder.8 (PROVAN & KENIS, 2007,
p.235-236)
Assim, não obstante a novidade da rede da Central Exportaminas, é mais provável que
ela se enquadre no modelo de gestão feita por uma organização líder. Indubitavelmente, a
SEDE é a entidade mais preponderante na rede da Central Exportaminas, e certamente a mais
crítica para sua existência no futuro.
2.7.3 Gestão através de Entidade Especialmente Criada para este Propósito (Network
Administrative Organization)
8
becomes highly centralized and brokered, with asymmetrical power. A lead organization provides
administration for the network and or facilitates the activities of member organizations in their efforts to achieve
network goals, which may be closely aligned with the goals of the lead organization. (PROVAN & KENIS, 2007,
p.235-236)
38
Na seção anterior, vimos que existem formas diferenciadas de se gerenciar uma rede.
Nesta seção, veremos os critérios que levam à escolha de uma em detrimento da outra, e como
esta escolha pode influenciar no sucesso da rede, ou sua eficácia.
Separamos três fatores, apontados por Provan & Kenis (2007), que seriam
determinantes na escolha do modelo de gestão da rede: a confiança, o tamanho da rede
(número de participantes), e o consenso para o alcance dos fins comuns. Os autores propõem
que, basicamente, quanto maior o número de participantes, mais o consenso para o alcance
dos fins da rede diminui, provando ser mais eficaz a adoção de um modelo centralizado, como
a gestão por uma organização líder ou a gestão por uma NAO.
9
Trust can be explained as an aspect of a relationship that reflects the willingness to accept vulnerability based
on positive expectations about another’s intentions or behaviors. (MCEVILY, PERRONE & ZAHEER, 2003,
p.92)
40
A tabela abaixo mostra um resumo dos fatores mencionados nos parágrafos anteriores,
que condicionam a decisão por um determinado tipo de gestão da rede.
41
Um último aspecto acerca da gestão em rede diz respeito às tensões inerentes a este
tipo de gestão. Focaremos nosso estudo em três delas: Eficiência versus Inclusão,
Legitimidade Interna versus Legitimidade Externa e Flexibilidade versus Estabilidade.
Para aumentar a eficiência, Provan & Kenis recomendam que se opte pelo modelo de
organização líder, cujos custos de envolvimento direto são bastante reduzidos. Esta forma de
gestão é de fato muito mais eficiente, mas o trade off se evidencia por uma redução no
42
Já no caso da gestão através de uma entidade criada para coordenar a rede (NAO), os
autores consideram que esta forma de gestão traz de fato um maior equilíbrio entre eficiência
e inclusão, pois essencialmente, uma NAO permite a participação através de representantes,
ao mesmo tempo em que há pessoal encarregado das funções administrativas.
O principal argumento destes autores é que a legitimidade deve ser considerada interna
e externamente, o que nos traz à tensão supramencionada. Por um lado, uma preocupação
fundamental na rede é desenvolver legitimidade interna entre os participantes. Isto é
especialmente relevante quando consideramos que algumas organizações competem entre si.
Se os participantes não perceberem as interações e esforços coordenados como uma forma
legítima de conduzir suas atividades, com a percepção clara de benefícios através da rede, a
rede somente existirá no papel, com baixo envolvimento dos participantes para alcançar os
fins comuns.
Por outro lado, a gestão de qualquer rede deve se ocupar de forma a preencher
expectativas externamente à rede. Provan & Kenis (2007) colocam da seguinte maneira:
43
Ademais, ao passo que se dá à rede uma feição pública isto siginifica que os
participantes estarão menos envolvidos em interações com grandes stakeholders da
rede, como financiadores, trabalhando mais entre si e através do pessoal a nível da
10
By doing such things as attracting customers, securing funding, dealing with governmental, and so on,
network governance can provide the external “face” of the network. Outside groups can see that the networks is
an entity in its own right, and not simply a group of organizations that occasionally get together to discuss
common concerns. (PROVAN & KENIS, 2007, p.243)
44
rede. Assim, os participantes podem se sentir excluídos ou podem pensar que sua
credibilidade está sendo minada.11 (PROVAN & KENIS, 2007)
11
In addition, providing a public face to the network means that participants will less likely be directly involved
in interactions with major network-wide stakeholders, such as funders, working instead with one another and
through network-level staff. Thus, participants may feel left out or that their credibility is being undermined.
(PROVAN & KENIS, 2007)
45
Através das redes, as organizações podem trabalhar umas com as outras de forma
rápida e eficiente para alcançar metas específicas que requerem uma série de recursos e
expertise que as hierarquias, sozinhas, não conseguiriam alcançar. As organizações podem
reduzir ou mesmo desmanchar seus relacionamentos e desenvolver laços com outras
organizações, à medida que as atividades mudam. Esta flexibilidade permite ás redes
responder de forma rápida às mudanças trazidas pelo ambiente de concorrência, ou outras
ameaças, bem como às oportunidades.
Ao mesmo tempo, redes que não estão focadas simplesmente em algum projeto de
curto prazo, temporário, devem se preocupar com sua sustentabilidade. A estabilidade é
crucial para manter a legitimidade, dentro ou fora da rede. Redes estáveis implicam que
participantes podem desenvolver relacionamentos de longo prazo, pelo menos com alguns
membros.
12
Essentially, flexibility is important for ensuring rapid network responses in ways that meet changing
stakeholder needs and demands. But stability is important for developing consistent responses to stakeholders
and for efficient network management over time. (PROVAN & KENIS, 2007, p.245)
46
Redes de gestão compartilhada são altamente flexíveis e adaptáveis, uma vez que
elas são moldadas pelos participantes de forma contínua. Esta forma é ideal para os
casos projetos de curto prazo (…). As redes geridas por uma organização
especificamente criadas para este fim tendem a ser mais formais, com ênfase maior
na estabilidade (...) As organizações líder também tendem para o lado da
estabilidade, especialmente porque a organização líder luta para manter seu papel
dominantes, ou o faz através de mandatos. 13 (PROVAN & KENIS, 2007, p. 245)
Num contexto de gestão através de uma organização líder, a tendência, diante das
dicotomias, é de se favorecer a eficiência, em detrimento da inclusão; a legitimidade externa
em detrimento da legitimidade interna; a estabilidade em detrimento da flexibilidade.
13
Shared-governance networks are highly flexible and adaptable, since they are shaped by the participants
themselves on an ongoing basis. This form is ideally suited to the short-term project-oriented tasks (…). NAO-
governed networks are likely to be much more formalized, emphasizing the stability end of the continuum. (…)
Lead organization networks also fall on the stability side of the tension continuum, especially as the lead
organization either strives to maintain its dominant role or does so through mandate. (PROVAN & KENIS,
2007, p. 245)
47
Este capítulo buscou realizar, de forma sumária, uma síntese dos aspectos principais
da gestão em rede. Iniciou-se com a investigação de seu surgimento, passando por sua
conceituação. Em seção posterior, procedemos a uma avaliação das distinções entre a gestão
em rede e a gestão burocrática, apontando, até mesmo, quando é mais adequado utilizar um
destes modelos em detrimento do outro.
A análise das tensões presentes na gestão em rede também foi realizada neste trabalho,
e mostrou-se extremamente relevante para a compreensão das perspectivas para a Central.
Três tensões foram analisadas: eficiência versus inclusão, legitimidade interna versus
legitimidade externa, e flexibilidade versus perenidade institucional.
Das três tensões abordadas, aquela que maiores implicações traz à Central
Exportaminas é a terceira, na medida em que a excessiva flexibilidade presente na ausência de
personalidade jurídica da Central Exportaminas pode torná-la vulnerável a mudanças de
governo e diretrizes políticas, comprometendo sua estabilidade. Ao mesmo tempo, caso a
Exportaminas venha a integrar a estrutura hierárquica da SEDE, ou venha a adquirir
personalidade jurídica tornando-se uma autarquia ou similar, isto em muito comprometerá sua
autonomia e liberdade, tolhendo uma série dos benefícios da gestão em rede, e aproximando-a
48
O próximo capítulo explora justamente este argumento, realizando uma análise das
políticas de comércio exterior, com o objetivo de demonstrar que estas estão imersas num
contexto de complexidade e multiplicidade de autores - o nicho preferencial para a adoção de
um modelo de gestão em rede.
Uma grande parte da informação tem característica de bem público: seu consumo
pelo exportador não reduz o seu valor para outras empresas e é difícil quem investe
em obter a informação impedir que ela seja pelo menos em parte apropriada por seus
14
Addressing complex issues that demand multilateral coordination, as is often the case in the public sector (…)
requires more than just achieving the goals of individual organizations. It requires collective action and the
governance of these activities14. (PROVAN & KENIS, 2007, p.231
50
Dado o poder regulatório do Estado, é natural que ele se encarregue desta atividade.
O Estado também deve atuar melhorando as condições fitossanitárias e revendo o
papel da Receita Federal como instituição responsável pelas aduanas, melhorando as
regulamentações. Outra meta seria se aproximar de universidades e centros de
pesquisa de forma a ajudar os exportadores a desenvolver tecnologia própria.
(PINHEIRO & GIAMBIAGI, 2006, p.243)
O leitor poderá perceber, nos próximos capítulos, que a SEDE, de fato, tem investido
intensamente no desenvolvimento dos portos secos de Minas Gerais, facilitando a tramitação
aduaneira, e tem empreendido esforços grandiosos para promover o crescimento do principal
aeroporto de Minas Gerais, o AITN, dotando-o até mesmo, em iniciativa pioneira no país, de
um aeroporto industrial, com regime de entreposto aduaneiro diferenciado. Cabe ainda
mencionar, embora de forma breve, que a SEDE contratou, em 2009, com recursos do Acordo
de Empréstimo do BIRD15, uma consultoria especializada para propor soluções logísticas para
o escoamento da produção de frutas tropicais do Jaíba, Norte de Minas, de maneira a
viabilizar o incremento da exportação de frutas, sobretudo do Limão Tahiti, que vêm
ganhando parcelas significativas no mercado internacional. O estudo compreende também o
exame da viabilidade da implantação de um centro de perecíveis nas imediações do Aeroporto
Internacional Tancredo Neves, o que permitiria a exportação de produtos frescos, o que
atualmente têm sido feito através de aeroportos fora do Estado, como o Aeroporto de
Viracopos, o que onera os custos dos produtores, por exigir o transporte de longa distância.
15
Acordo de Empréstimo do BIRD Nº. 7547-BR
53
4. A CENTRAL EXPORTAMINAS
4.1 A Criação da Central Exportaminas
Fonte:http://www.desenvolvimento.mg.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=206&Itemid=114
56
Contudo, quando de sua criação, não houve uma preocupação em dotar a Central
Exportaminas de personalidade jurídica. Pode-se afirmar até mesmo que, no mundo jurídico, a
Central Exportaminas não existe. Não é entidade de direito público, ou mesmo privado.
Sequer consta no organograma oficial da Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Econômico, não obstante seu orçamento seja totalmente proveniente de recursos do tesouro
estadual, em dotações específicas da Secretaria e que, informalmente, se insira na
Superintendência de Comércio Exterior. Esta ausência de personalidade jurídica traz o
benefício da flexibilidade, mas, conforme veremos em seções subseqüentes, também é um
fator de risco à perenidade institucional.
De fato, em todos os convênios ou contratos de qualquer espécie da Cental
Exportaminas, incumbe à Secretaria firmá-los, e estes passam necessariamente pelo crivo do
setor jurídico, em obediência à Lei 8.666 de 1993.
Originariamente, imaginava-se a Central Exportaminas, ou Central de Atendimento ao
Exportador Mineiro, como uma entidade responsável por prover informações acerca de
comércio exterior, com foco em micro e pequenas empresas. Neste ínterim, a Secretaria de
Desenvolvimento Econômico firmou um convênio com a BM&F, que previa a criação de um
Call Center, cujos custos de manutenção seriam arcados pela Bolsa de Mercadorias e Futuros.
À BM&F competiria também a veiculação, em seu website, de uma página sobre a Central
Exportaminas, e a cessão de microcomputadores e mobiliário, em regime de comodato, para a
instalação de uma sala de suporte operacional. É importante mencionar que o INDI também
figurou como signatário deste convênio, e seu papel seria de prover o gerente da Central
Exportaminas. A SEDE, por sua vez, seria incumbida de implantar a sala de suporte
operacional, fornecer estagiários, dentre outras obrigações.
Inicialmente, como se pode notar, a parceria entre a Secretaria de Desenvolvimento
Econômico e as instituições convenentes (INDI e BM&F) possuía uma série de limitações.
Não se pode se dizer, por exemplo, que as organizações perseguiam um fim comum, atuando
de forma interorganizacional. De fato, a BM&F promovia cursos voltados à capacitação do
exportador juntamente com a Exportaminas, mas de forma esporádica. Quanto ao Instituto
Mineiro de Desenvolvimento Integrado, entidade do governo do estado responsável pela
captação de investimentos, sua contribuição restringiu-se à indicação do gerente da
Exportaminas, que era proveniente dos quadros desta instituição. Com relação aos recursos
para a manutenção da Exportaminas e condução de suas atividades intra-organizacionais,
estes eram exclusivamente provenientes da Secretaria.
57
No Brasil, fôra introduzida iniciativa similar, embora com atuação mais tímida. Trata-
se da rede CICEX. A rede CICEX foi introduzida em setembro de 2004 pelo Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, através da Secretaria de Comércio Exterior,
no âmbito do Programa de Regionalização de Centros de Informações de Comércio Exterior.
O Programa objetivava difundir a cultura exportadora e promover as exportações em nível
estadual e municipal.
Os Centros de Informações de Comércio Exterior implantados em estados e
municípios cumpririam basicamente três funções. A primeira delas é a divulgação de
instrumentos de apoio elaborados pelo governo federal, como o software “Aprendendo a
Exportar”, e os websites “Radar Comercial” (análises de mercados e produtos), AliceWeb
(estatísticas de comércio exterior), “Canal Universitário”, “Vitrine do Exportador”, entre
outros. A difusão de informações de comércio exterior, abrange, ainda, manuais, publicações,
estudos setoriais, calendários de feiras e exposições, legislação e normativos, resultados de
negociações internacionais, cadastros, etc.
A segunda função consiste na orientação ao público sobre diversos temas relacionados
com comércio exterior, tais como primeira exportação, práticas de licenciamento de
exportação e importação, mecanismos de defesa comercial, sistemas de financiamento e
seguro de crédito à exportação, preferências tarifárias na exportação, Sistema Geral de
Preferências (SGP), acordos internacionais, barreiras técnicas e comerciais às exportações,
acesso ao mercado internacional, entre outras gestões.
Finalmente, cumpre aos Centros o Suporte institucional, mediante parcerias com
órgãos governamentais, entidades de classe, bancos e instituições de apoio às atividades das
empresas de pequeno porte, com vistas ao processo de aumento das exportações, da base
exportadora e da diversificação de produtos e mercados.
Em resumo, a finalidade dos Centros de Informações de Comércio Exterior é
disseminar e facilitar o acesso a informações especializadas de comércio exterior, possibilitar
maior proximidade com o usuário, bem como orientar os exportadores e potenciais
exportadores no caminho da exportação.
A Exportaminas aderiu à rede CICEX em 2008, que conta hoje com a participação de
nove estados da Federação: Acre, Bahia, Pará, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio
Grande do Sul e São Paulo.
59
Figura 4 – Mapa dos Centros de Informações de Comércio Exterior nos Estados Federados da Rede
CICEX.
Fonte: MDIC.
Basicamente, o objetivo das Trade Points é servir como uma fonte de informações de
comércio exterior e uma porta de acesso a redes comerciais. Todas as Trade Points oferecem
os seguintes serviços:
• Registro no GTDS (Global Trade Directory System) – uma enorme base de dados de
empresas de todo o mundo.
• Acesso ilimitado à base de dados do World Trade Point Federation, que interliga mais
de 100 Trade Points no mundo.
Ademais, a WTPF conta com uma série de parceiros que contribuem com os esforços
da ONG, como o International Trade Center, o Banco Mundail, a World Trade
Organization, Coface, CBI, Ernst & Young, UNECE e UNCTAD. A figura abaixo mostra
como cada um dos parceiros arrolados contribui para o esforço da WTPF.
Figura 8 – A Rosa dos Ventos da Central Exportaminas, mostrando as entidades parceiras e sua data de
adesão
A tabela abaixo detalha a natureza jurídica, a função, área de atuação e a origem dos
recursos de cada um dos convenentes, que doravante denominaremos parceiros.
64
16
É importante ressaltar que ao se tratar as ações relativas ao comércio exterio e quando forem feitas referências
a ações e políticas de governo, o período de análise utilizado é de 2002 a 2009, isto é, os dois mandatos do
Governador Aécio Neves.
66
Neste ínterim, o INDI realiza acordos com instituições estrangeiras, promove trabalhos
de prospecção de parceiros, associações, subcontratações, transferência de tecnologia e outras
modalidades de acordos de cooperação, além de trabalhar no apoio a missões de empresários
estrangeiros no Estado.
5.1.4 O SEBRAE
17
Declaração dada à Assessoria de Comunicação da Central Exportaminas, em 26 de agosto de 2009, em virtude
da comemoração dos cinco anos de sua existência..
http://www.exportaminas.com.br/noticias/noticia_conteudo.aspx?ca=1210
69
5.1.5 A FIEMG
internacional. Também nas ações de comércio exterior, Minas Gerais acertou no trabalho
conjunto entre governo e a iniciativa privada"18.
Do mesmo modo que o SEBRAE, a FIEMG é um parceiro central na rede da Central
Exportaminas. Desde sua adesão ao esforço conjunto da Exportaminas em 2008, diversos
projetos já foram iniciados com a colaboração dos parceiros, além da promoção de eventos
em conjunto. De fato, a proximidade das atividades entre a FIEMG e a Exportaminas faz com
que haja um grande potencial para o trabalho em parceria.
5.1.6 A FAEMG
18
Declaração dada à Assessoria de Comunicação da Central Exportaminas, em 26 de agosto de 2009, em virtude
da comemoração dos cinco anos de sua existência..
http://www.exportaminas.com.br/noticias/noticia_conteudo.aspx?ca=1210
71
A definição dos mercados-alvo e dos setores prioritários ocorreu por meio de reuniões
entre os parceiros, atingindo o consenso de todos, o que, notadamente, fortaleceu a
consecução dos objetivos em comum. Estabelecidos mercados e setores a serem priorizados, a
atuação das várias instituições seria mais focada, obtendo melhores resultados.
74
A literatura de redes sugere, muitas vezes, que este tipo de gestão favorece a
alavancagem19 de recursos, sejam estes recursos financeiros, de conhecimento ou outros.
A ampliação das atividades da Exportaminas, com a entrada dos novos parceiros, foi
acompanhada por um incremento substancial de seu orçamento. Entre 2006 e 2009, o
orçamento da Central Exportaminas cresceu mais de 500%, atingindo o patamar de 2,9
milhões de reais em 2009.
O incremento dos recursos do tesouro estadual destinados à consolidação da Central
Exportaminas se justifica, em grande parte, pelo aumento do número de projetos em que a
Exportaminas passou a participar, através dos convênios firmados com os participantes da
rede.
Os projetos abaixo, conduzidos em conjunto com a FIEMG e o SEBRAE, são bons
exemplos da alavancagem dos recursos financeiros. Com a contribuição financeira de
diversos parceiros, é possível aumentar a abrangência dos projetos, tanto no referente ao
escopo, quanto às empresas beneficiadas.
19
O termo alavancagem é a tradução literal do termo leverage, em inglês, e significa estimular,
incentivar, promover. Neste estudo, o sentido que buscamos é exatamente a capacidade de levantar mais recursos
através do esforço conjunto.
75
Figura 12– A participação da Central Exportaminas, através da SEDE, em projetos dos participantes da rede
Em cada um dos projetos, uma das instituições atua como líder, e conta com o apoio
das demais, sem haver, contudo, uma relação de hierarquia.
Dada a vasta quantidade de projetos conduzidos pelos parceiros da Central
Exportaminas, este estudo se limitará a citar alguns deles, de forma sucinta, apenas de forma a
evidenciar o caráter colaborativo presente na interação entre os partícipes na condução
conjunta dos projetos.
O quadro abaixo traz uma visão mais completa das atividades da Central
Exportaminas, com todos os principais projetos e as parcerias estratégicas que auxiliam em
sua condução.
77
Figura 13 – Plano de Trabalho da Central Exportaminas em 2009, que mostra todos os principais
projetos e parceiros em sua execução
abdicar de certas atividades realizadas internamente, mesmo que elas possam ser feitas de
maneira mais eficaz através do esforço conjunto, pois têm receio de perder espaço e, com
isso, legitimidade.
Finalmente, no caso estudado, as evidências denunciam a existência de uma
organização líder, como integradora da rede. Isto é bastante claro principalmente quando
consideramos que: são repassados à Exportaminas exclusivamente recursos da SEDE; a
Secretaria teve a iniciativa de sua criação e provocou as demais entidades, convidando-as a
fazer parte do esforço institucional; vários projetos conduzidos pela Exportaminas estão
diretamente vinculados à SEDE, como é o caso das contratações de consultorias com recursos
do Banco Mundial. Ademais, a SEDE é a única entidade a estabelecer elos com todos os
demais participantes da rede.
83
7. CONCLUSÃO
Conforme este trabalho mostrou, políticas de comércio exterior estão imersas num
ambiente de complexidade e multiplicidade atores. Mesmo quando tratamos do simples
fornecimento de informações ao empresário, observamos uma intensa fragmentação dessas
informações, presentes em diversas organizações diferentes.
Neste sentido, o modelo de gestão em rede oferece uma boa proposta na forma de
arranjos de colaboração e articulação de múltiplas entidades. Este modelo tem ganhado força
nos últimos anos, o que pode ser explicado de duas maneiras. Primeiramente, em decorrência
das mudanças sociais advindas do século XXI, com a era da informação, crescimento
exponencial da tecnologia, e a dispersão do poder, que ensejam a demanda cada vez maior das
pessoas por flexibilidade, rapidez e soluções customizadas, e não as de tamanho único
oferecida pelas burocracias hierárquicas tradicionais. Um segundo argumento parte
justamente do princípio de que o modelo burocrático encontra limitações para lidar com a
complexidade dos problemas atuais, sendo a gestão em rede uma das alternativas para
solucioná-los.
Hoje, cinco anos após sua criação, é possível afirmar que a Central Exportaminas
desempenha um papel de integração e articulação de políticas de comércio exterior. É
precisamente nesta articulação e interdependência dos parceiros na condução de projetos que
reside a principal preocupação deste trabalho. Afinal, com base nas características observadas
na Exportaminas, podemos falar num modelo de gestão em rede? Tudo indica que sim. Esta
constatação por si só, contudo, é bastante incipiente, fazendo-se necessário investigar suas
implicações para a Central Exportaminas e suas perspectivas para o futuro.
– a SEDE. Várias são as evidências que corroboram esta assertiva: a começar pelos recursos
para a manutenção da Central Exportaminas, que provém exclusivamente da SEDE; ou
mesmo pelo fato de que a indutora da criação da Exportaminas foi a Secretaria, e a mesma foi
a responsável por atrair os demais parceiros. A SEDE é, sem dúvida, a entidade preponderante
na rede e cuja contribuição é vital para a existência futura da Central Exportaminas.
Todavia, observa-se que mesmo os parceiros mais atuantes ainda não atingiram todo
seu “potencial colaborativo”. Em muitos projetos, a Exportaminas tem atuação limitada aos
aportes financeiros; muitas ações permanecem sendo conduzidas pelas organizações
isoladamente, malgrado haja incontestáveis benefícios advindos da integração dos esforços.
Um aspecto de grande relevância abordado por este trabalho diz respeito à tensão
existente entre flexibilidade e establidade nas redes. A ausência de personalidade jurídica da
Exportaminas, articuladora da rede, traz um perigo potencial de sua dissolução caso as
diretrizes políticas ou lideranças do governo venham a mudar. Em contrapartida, a
Exportaminas está isenta da maior parte dos procedimentos burocráticos a que se submete a
Secretaria de Desenvolvimento Econômico, e a eventual aquisição de personalidade jurídica
ou sua incorporação na estrutura hierárquica da SEDE pode comprometer os benefícios
provenientes de sua flexibilidade. No entanto, haja vista que autores como Provan & Kenis
(2007) afirmam que a preponderância da flexibilidade sobre a estabilidade caracteriza redes
cuja duração é determinada, destinadas a subsistir a curto prazo, e uma vez que este
claramente não era o intuito da SEDE quando da criação da Exportaminas, é recomendável
que se empreenda ações no sentido de majorar sua estabilidade como instituição.
Finalmente, é importante frisar que o modelo de gestão em rede, não obstante suas
virtudes, não substitui de maneira nenhuma o modelo burocrático, que ainda prepondera nas
organizações. A gestão em rede surge como um modelo alternativo, ideal para situações
especiais, sobretudo na presença de problemas complexos, que serão melhor solucionados,
com a atuação conjunta de diversos atores, em relações não-hierárquicas. Este é,
indubitavelmente, o caso das políticas de comércio exterior.
87
REFERÊNCIAS
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