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HERMENÊUTICA BÍBLICA
O QUE É INTERPRETAÇÃO?
SUBJETIVIDADE NA INTERPRETAÇÃO
Ninguém é totalmente objetivo, ou seja, não temos conhecimento pleno da realidade da forma
como realmente é. Todo ser humano tem um processo diferente de raciocínio, nossa mente
interpreta de acordo com o que já conhecemos, por isso que a interpretação é subjetiva, isto é,
depende de cada sujeito. Podemos ter os mesmos textos bíblicos, a mesma bíblia, mas podemos
chegar a conclusões diferentes. Os intérpretes são dos mais variados contextos: ricos, pobres,
aflitos, desesperados, doutos, leigos, letrados, iletrados etc. Tudo isso afeta nossa compreensão
do texto.
NEUTRALIDADE NA INTERPRETAÇÃO
Todos nós temos conhecimentos prévios que adquirimos ao longo da nossa vida, inclusive, de
outras denominações que fizemos parte. Temos gostos, predileções, temos nossa própria visão
de mundo. Podemos aceitar uma informação porque gostamos de um determinado pregador,
porque acreditamos que ele tem credibilidade, porque se expressa bem etc; podemos aceitar
uma interpretação porque ela veio da tradição ou porque a maioria das pessoas pensam de
determinada maneira, então deve ser a interpretação correta. Note que essas informações que
tomamos como verdade não passaram pelo crivo da razão e da análise aprofundada. Apenas
aceitamos. Temos uma tendência de aceitar aquilo que já conhecemos e rejeitar o que é
diferente. Portanto, não somos imparciais, sempre tomaremos partido daquilo que acreditamos
como verdade e isso guiará nossa interpretação.
DIFICULDADES DE INTERPRETAÇÃO
Eis algumas dificuldades que temos para interpretar o texto bíblico e o motivo pelo qual surgem
inúmeras denominações e doutrinas estranhas.
AFASTAMENTO TEMPORAL
O último texto bíblico foi escrito a quase 2000 anos. Estamos muito distantes do tempo
dos autores bíblicos e por isso temos dificuldades em saber exatamente o que eles
disseram e acessar essas informações.
AFASTAMENTO CONTEXTUAL
Os hábitos, costumes, tradições, reinos, cidades, governos, cultura etc, já não existem
mais. Vivemos em contextos sociais totalmente diferentes dos tempos bíblicos. Hoje
vivemos em um sistema capitalista, em uma república, com um estado federado, na era
da internet, do celular etc. Nossa compreensão de mundo não contribui para que
posamos imaginar como era aquela sociedade. Só podemos acessar o mundo antigo
através de muito estudo sobre história. E não saber como funcionava a sociedade
antiga, também influenciará nas nossas interpretações, pois teremos sempre uma
tendência de analisar a Bíblia com um olhar do século XXI.
AFASTAMENTO LINGUÍSTICO
As três línguas (Hebraico, Aramaico, Grego) que o Antigo e Novo Testamentos foram
escritos não existem mais. São consideradas línguas mortas. Você pode perguntar: Mas
a Grécia não fala grego e em Israel não se fala hebraico? Sim. Porém, há muitas
diferenças de sintaxe, gramaticais, vocabular etc. O Grego bíblico é o chamado koine e
o atual é o Demotique. Da mesma forma que em Israel não se fala o Hebraico Bíblico,
fala-se o Hebraico Irish ou Idich. E o Aramaico não existe nenhum país que o tenha como
língua oficial.
AFASTAMENTO AUTORAL
Sabemos que todos os autores bíblicos estão mortos. Não temos como acessá-los e
perguntar o que eles queriam dizer em determinado texto. Coube ao intérprete atual
tentar reproduzir a intenção desses autores.
Não somos totalmente objetivos, não somos oniscientes, não conseguimos reproduzir
a época dos autores, somos limitados aos recursos interpretativos que dispomos hoje,
bem como somos sujeitos a falhas. Tentamos corrigir os erros de interpretação a todo
momento. O nome das nossas bíblias nos garantem isso, temos o exemplo da Bíblia
Almeida Revista e CORRIGIDA ( ARC).
Vamos relembrar que as CÓPIAS não foram inspiradas por Deus. Apenas os escritos
originais. No processo manual de reproduzir os textos bíblicos houve erros dos copistas,
como vermos alguns a seguir. Também não temos mais os autógrafos (escritos
originais), apenas temos cópias. Perderam-se com o uso, desgaste natural do material
usado para a escrita (papiro, pergaminho etc.).
“V” MOVEL – algumas letras eram confundidas. Ex: Abraão para Avraão e vice-versa.
PULAR UMA LINHA - Também por distração os copistas pulavam linhas inteiras. Ex: o
copista parou a redação em uma determinada linha, deixava para recomeçar a redação
em outro momento e quanto voltava, em vez de começar na linha 15, onde parou,
começou na linha 17 e não se deu conta do erro.
LETRAMENTO- não havia muitos eruditos versados nas línguas originais no mundo
antigo. O índice de analfabetismo beirava os 95%. E ainda assim os doutos eram da
aristocracia, que não queriam fazer esses tipos de trabalhos manuais.
COPISTAS LEIGOS- os copistas leigos, datados do século I e II, eram pessoas que sabiam
ler e escrever (Grego, Hebraico) e tentaram fazer as cópias sem nenhuma técnica ou
estudo. Frequentemente as cópias produzidas neste período apresentavam muitos
erros. Só a partir do século III que surgiram os copistas profissionais que melhoraram a
transmissão dos textos. A transmissão do texto bíblico era feita a mão (daí o nome de
manuscrito) até o século 15, quando a impressa foi inventada. A partir deste momento
houve uma maior padronização dos textos. Quase que os erros foram eliminados.
Mas como então podemos saber se temos a bíblia de forma fiel ao original?
Primeiro – motivo espiritual- porque jesus nos garantiu isso, afirmando que não
ficaríamos órfãos, que o Espírito Santo nos guiaria em toda a verdade.
Segundo – motivo cientifico- porque temos o livro mais bem atestado da história.
Temos só em grego mais de 5700 manuscritos antigos, em latim 10000 (veremos isso
em aula específica) etc. Quando um copista errava, outros acertavam a cópia da mesma
passagem. Então temos como corrigir o que fora modificado. Teólogos ateus e cristãos
concordam que a bíblia tem de 90 a 97% de credibilidade. Portanto, Deus preservou as
escrituras como sua palavra fiel.
FALTA DE CLAREZA:
Em alguns casos a Bíblia não nos fornece instruções precisas em determinado assunto.
Falta clareza. Um exemplo seria o batismo, sabemos que devemos batizar os crentes.
Porém não sabemos a maneira correta de fazer isso. Daí surgem os reformados que
dizem que é por aspersão (derramamento) e os batistas e a nossa igreja (CCR) que diz
que é por imersão. Quem está com a razão neste caso? Todos. Todas as formas são
lícitas. A forma não importa, porque não está clara na bíblia, mas importa o ato em si.
GÊNEROS LITERÁRIOS:
Na bíblia há vários gêneros literários que devem ser interpretados como de fato são. Daí
a necessidade de se ter vários métodos de interpretação (iremos estudá-los mais
adiante na EBD). Temos salmos, biografias, parábolas, narrações, apocalipses etc. Para
cada gênero há uma forma correta de interpretação. Quando jesus afirma que: ”se o
nosso olho nos faz pecar, devemos arrancá-lo”, não está dizendo que temos que fazer
isso ao pé da letra. Esta passagem possui, evidentemente, um sentido figurado. Jesus
usou um exagero para demonstrar que devemos mutilar nosso pecado em nós, ou seja,
arrancar o pecado e não o membro. Da mesma maneira, quando jesus diz que devemos
amar uns aos outros, a interpretação reivindica uma forma literal e não figurada. É
interessante notar que nem sempre sabemos com certeza a fronteira entre o que é
literal e o que não é.
PECADO:
O pecado cega o entendimento acerca das escrituras. Já dizia o apostolo Pedro que
muitos leem as escrituras e as deturpam para a própria condenação. O homem natural
não discerne as coisas espirituais, não sabe que precisa ser salvo, não sabe como ser
salvo e nem se há salvação. Se Deus não o revelar, ficará perdido em sua própria
consciência.
TRADUÇÕES (TÉCNICAS): Há quem diga que já há uma perda interpretativa na origem,
isto é, já na tradução. A depender da técnica utilizada. O ideal é que tenhamos as duas
formas em mãos, porque as vezes não entendemos o sentido do texto e em outras vezes
a versão já interpreta demais. Um equilíbrio é necessário.
Nesta técnica a ênfase é na forma, ou seja, ocorre a tradução do jeito que a palavra
estava escrita nas línguas originais. Vejamos:
Nesta modalidade a ênfase está no sentido e não na forma, como segue os exemplos:
VERSÕES X TRADUÇÕES:
Versões são as variações textuais das traduções dentro de uma mesma língua. Ex: Bíblia
Almeida, Trinitariana, NVI ...
Traduções são as adaptações das línguas originais para uma determinada língua atual.
Ex: tradução do Grego para o Português.
CONHECIMENTO DO INTÉRPRETE:
O conhecimento do intérprete deve ser vasto para entender melhor as escrituras. Ter
conhecimento de gramática, história, cultura judaica, as línguas originais etc. Portanto,
sem conhecimento formal obviamente há uma limitação interpretativa.
INSPIRAR – Deus soberanamente escolheu homens que estariam autorizados para falar
em nome Dele. Estes homens nos deixaram um legado, que é a nossa Bíblia hoje.
A Bíblia é um livro divino e humano simultaneamente. Deus revelou aos autores bíblicos, houve
a intermediação profética e o produto final foi a Bíblia. Deus quis escrever sua palavra em
parceria com o homem. Tendo isso em mente podemos perceber o motivo pelo qual devemos
orar e estudar: para que tenhamos uma compreensão melhor das escrituras.
Essas são noções interpretativas do que temos que focar quando estamos diante da Bíblia:
O AT E O NT SE INTERPRETAM
INTENÇÃO DO AUTOR:
Procuramos reproduzir sempre a intenção do autor e não a nossa. E a bíblia não tem
nenhum significado oculto. Tudo que ela quis revelar está evidente. Isso afasta a ideia
da cabala judaica que procura significados ocultos na bíblia através dos números para
previsões do futuro.
Muitas pessoas pensam que a palavra de Deus se renova a cada dia, então temos que
ter várias interpretações e sentidos de um mesmo texto. Não é assim que funciona. O
texto tem sentido único, porém a aplicação depende do receptor, caso esteja triste,
alegre, desesperado etc. A palavra se aplica de diferentes maneiras. Ex: Os últimos serão
os primeiros e os primeiros os últimos”. Nesta frase jesus está dizendo que os primeiros
(judeus), aqueles que tinham a primeira aliança, serão os últimos no reino de Deus,
porque eram incrédulos e os gentios seriam os primeiros. Este é o sentido real. Qual
seria a aplicação? Um crente pode receber esta palavra dessa forma: que na sua
faculdade ele tirou a pior nota, mas vai estar entre os primeiros da turma futuramente.
Nem sempre é fácil fazer esta distinção. Em caso de dúvida procure um irmão de sua
confiança ou seu pastor e tire suas dúvidas. Para se fazer essas distinções é necessário
um conhecimento mais técnico.
CONCLUSÃO
A maioria do surgimento de doutrinas equivocadas e denominações diversificadas se dá
em virtude de uma má interpretação dos textos bíblicos em decorrência das dificuldades
apontadas.