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ANÁLISE DA SISMICIDADE EM PORTUGAL: cartografia da perigosidade,

vulnerabilidade e risco sísmico na área entre a Figueira da Foz e a Nazaré

Anabela Ramos1
Lúcio Cunha1
INTRODUÇÂO

Sismos – Definição e conceitos


Falar sobre sismos, tremores de terra ou terramotos (sismos com efeitos catastróficos) implica, desde logo, apresentar
uma definição e uma série de conceitos que a ela se associam. Os sismos são o resultado de uma rotura mais ou menos
violenta no interior da crosta terrestre, correspondendo à libertação de uma grande quantidade de energia, e que provoca
vibrações que se transmitem a uma vasta área circundante. As vibrações propagam-se através de ondas sísmicas. A
libertação da energia ocorre no hipocentro e manifesta-se, com maior intensidade ou magnitude, na superfície do planeta,
no epicentro. Os instrumentos que registam a chegada das ondas sísmicas denominam-se sismógrafos. Reunindo os
dados de registo da chegada das ondas sísmicas às diferentes estações sismográficas é possível determinar a localização
do epicentro do sismo ocorrido.
Os sismos constituem, pois, processos naturais cuja perigosidade num determinado local depende da magnitude, ou
seja da energia libertada no epicentro, da distância ao epicentro, da profundidade do hipocentro e dos mecanismos de
propagação das ondas sísmicas (modelos de atenuação) e de resistência dos materiais, importantes para determinar
zonamentos de uso, como os graus de exposição e vulnerabilidade, importantes para avaliar mecanismos de prevenção e
mitigação.
O fenómeno de atenuação das ondas sísmicas é de grande importância para o conhecimento da forma como se dá a
propagação das ondas e dos fatores que mais contribuem para esse padrão. A vibração do solo num determinado local
varia de acordo com o tipo de fonte (ex: localização do epicentro, magnitude, efeitos da anisotropia na propagação,
duração das vibrações, direções preferenciais do movimento), forma como se dá a rutura, das características do meio
percorrido, dos efeitos locais definidos pela geologia superficial (30 m mais superficiais) e pela topografia (planície
aluvionar, vertente, etc.
Estão bem definidas as principais zonas de localização dos epicentros na superfície do planeta (Figura 1), que
correspondem a zonas interplaca, ou sejam, zonas de limites, convergentes, divergentes ou transformantes, entre placas
litosféricas. Existe também uma vasta distribuição de epicentros intraplaca.
Os sismos podem ser avaliados pela sua intensidade (avaliação dos danos causados sobre as populações – vidas e
bens) - Escala de Mercalli, pela sua magnitude, que significa a medição da energia libertada no epicentro – Escala de
Richter. É a escala de Richter a mais frequentemente utilizada, entre outras razões, por ser mais objetiva e servir para
comparar o grau de violência dos sismos à escala mundial.
Teoricamente, a magnitude de um tremor de terra pode ser um qualquer número real. Na prática os sismógrafos apenas
gravam aqueles cuja magnitude excede o valor 1.0 e nunca foi gravado nenhum que tenha excedido o valor 9.0. Os danos
causados por um tremor de terra aumentam com a magnitude mas, felizmente, a frequência dos mesmos diminui com a
magnitude.
A energia libertada por um sismo no seu epicentro é geralmente medida em ergs (unidade de energia do sistema cgs
correspondente a 10 -7 joules). Os sismólogos usam a escala de Richter dada por :
M = 0.67 log 10 E - 7.9
em que E representa a energia libertada e M a correspondente magnitude na escala.

1
Centro de Estudos em Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT), Universidade de Coimbra, Portugal, ana-baia@sapo.pt;
luciogeo@fl.uc.pt
Vulnerabilidades e Riscos: Reflexões e Aplicações na Análise do Território

Figura 1 – Distribuição dos epicentros no globo terrestre. Ocorrências sísmicas mostradas segundo a profundidade
da localização do foco ou hipocentro: amarelo (superficiais) = profundidade do
foco até 25 Km vermelho (intermédios) = profundidade do foco entre 26 e
75 Km negro (profundos) = profundidade do foco entre 76 e 660 Km
(http://domingos.home.sapo.pt/sismos_3.html)

Risco sísmico – abordagem conceptual


Em 2011 a população humana atingiu os 7 mil milhões de habitantes. Estima-se que em 2025 a população mundial
crescerá até aos 8,1 mil milhões e em 2050 atingirá cerca de 9,4 mil milhões (PRB, 2010). Ao mesmo tempo que a população
aumenta, aumenta a sua concentração em áreas urbanas (hoje, 54% da população mundial vive em áreas urbanas, uma
proporção que deve chegar a 66%, em 2050). Este crescimento da população urbana tem contribuído para a formação e,
sobretudo, para a expansão de grandes centros urbanos para locais propícios a desastres naturais, o que se tem refletido
em nefastas perdas humanas e económicas. Portugal não é imune a este fenómeno e tem o seu passado marcado pela
ocorrência de desastres naturais como sismos ou tsunamis. Apesar do nosso conhecimento sobre a vulnerabilidade
estrutural e perigosidade sísmica ser cada vez mais profundo, continua-se a assistir nos dias de hoje a grandes catástrofes
devidas a estes fenómenos, como foi o caso do sismo da China em Agosto de 2014 ou do Equador em Agosto do mesmo
ano. Uma das causas para tais acontecimentos é o fraco controlo da qualidade da construção e a falta de regulamentação
do desenvolvimento urbano. Para que tais medidas possam ser tomadas, é necessário que se compreenda o risco sísmico
da região. Posteriormente, podem ser definidas medidas de mitigação do risco sísmico que passam pela implementação de
códigos de construção mais rigorosos, proibição da construção em zonas com grande atividade sísmica ou criação de
planos de emergência (Spence, 2004; Lourenço, 2012).
Cada vez mais se verifica que, para além das suas fronteiras físicas, existe complexidade, interdependência e
interconectividade entre cidades que tornam os efeitos
de uma catástrofe maior do que o da escala local, ou seja de onde se dá o evento, estendendo-se esta interdependência,
por vezes, a todo uma região, ou mesmo a um país.
Todos os elementos caracterizadores de uma cidade como a sua população, localização, atividades económicas,
estatuto social, etc. são fatores que contribuem para caracterizar o risco sísmico de determinado local. Percebendo quais
os factores/características que contribuem para o risco de um sismo num dado espaço urbano podemos fazer um retrato da
cidade em termos do impacte que esse desastre natural causa (Davidson, 1997) e, consequentemente, definir estratégias
para mitigar o risco (Oliveira e Ferreira, 2007).

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A estratégia de identificação dos fatores que contribuem para o risco de desastre quando ocorre um terramoto começa
por tentar descrever todos os fatores que juntos contribuem para esse mesmo risco. Os principais fatores que contribuem
para o risco de desastre em caso de sismo são os seguintes (Oliveira e Ferreira, 2007):
1 – Hazard ou Perigosidade;
2 – Exposição;
3 – Vulnerabilidade;
4 – Impacte no Exterior;
5 – Capacidade de Resposta.

O factor Hazard ou Perigosidade é composto:


a) pela possibilidade de ocorrência de vibrações sísmicas de dada severidade num certo local e,
b) pelos efeitos colaterais (liquefação, deslizamentos, tsunamis, etc.).

Os efeitos colaterais que advêm de um sismo estão relacionados por exemplo com os tipos de solo, declives e outras
morfologias de cada cidade (Os riscos colaterais provocados por abalos sísmicos tais como incêndios, liquefação ou
tsunamis são os responsáveis pela contaminação das águas, solos, florestas, etc.).
A exposição diz respeito ao conjunto de elementos que numa cidade estão exposto ao risco. Não importa a perigosidade
ser muito elevada em determinada espaço se não tiver uma população e infraestruturas associadas e expostas a esse
mesmo processo perigoso; se assim for, não haverá danos nem interrupções e consequentemente não haverá risco. Desta
forma pode dizer-se qua a exposição inclui:
- Exposição da População;
- Exposição das Infraestruturas;
- Exposição das Actividades Económicas;
- Exposição Sócio-Política.
Ao abordarmos a vulnerabilidade, esta deve abranger:
- Vulnerabilidade da População, ou seja vulnerabilidade social
- Vulnerabilidade das Infraestruturas e Vulnerabilidade das Actividades Económicas, ou seja o valor dos bens
potencialmente afetados (custos potenciais);
- Vulnerabilidade Sócio-Política, ou seja a vulnerabilidade indireta.

O impacte no exterior constitui um fator que indica de que forma as perdas económicas, as interrupções nas redes de
comunicação, a vida política e social serão afetadas para além do local onde se registou o abalo. As cidades vão para além
das suas fronteiras. Por exemplo, o sismo do Faial 1998 teve repercussões a nível nacional e não apenas nas ilhas onde foi
sentido o sismo e onde se registaram os estragos. Outro exemplo, em que se verifica que de facto não existem fronteiras
para alguns processos naturais perigosos, foi o caso da erupção vulcânica, em 2010, na Islândia, que comprometeu
seriamente as redes de comunicação e transportes em muitos países europeus, com os consequentes prejuízos
socioeconómicos.
O fator Capacidade de Resposta descreve a eficiência de uma cidade em restabelecer as suas atividades e, para
isso,necessita de uma organização e planeamento operacional antes de ocorrer o sismo, recursos financeiros equipamento
e recursos humanos disponíveis, bem como de uma fácil mobilidade no pós-sismo.

Sismicidade e fontes sísmicas


O conhecimento que se tem hoje sobre os sismos permite afirmar que os epicentros não se distribuem igualmente ao
longo do globo, possibilitando definir diferentes regiões com padrões distintos de sismicidade, bem como definir as zonas
onde os sismos são gerados, as zonas sismogénicas. Estas possuem estruturas geológicas com determinado potencial
sísmico, capazes de gerar sismos com uma frequência espaço-temporal e uma gama de magnitudes características. Um país
pode ter diferentes zonas sismogénicas delimitadas pelo alinhamento de epicentros localizados instrumentalmente e pela
análise das réplicas, podendo desta forma definir uma zonagem sísmica.
A análise da informação sísmica, tendo como objetivo estabelecer, por exemplo, as zonagens sísmicas, as frequências,
os períodos de retornos ou magnitudes dos sismos, deve fazer-se através de uma compilação e análise, o mais exaustiva

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possível, dos catálogos sísmicos existentes, históricos e instrumentais. A publicação dos primeiros catálogos sísmicos
(sismicidade instrumental) ocorreu no início do séc. XX com a instalação dos primeiros sismógrafos mecânicos.
Os catálogos sísmicos contêm informação sobre a data e a hora da ocorrência do sismo, localização geográfica,
profundidade do foco e magnitude. Durante o séc. XX ocorreram, em cada ano, por todo o globo, cerca de 15 sismos com
magnitude superior ou igual a 7. De referir que um bom catálogo sobre informação sísmica é disponibilizado online pelo
Instituto de Geofísica de Espanha (www.ign.es).
A partir da década de 1960, com o aumento do número de estações e a melhoria dos instrumentos, foi possível
detetarem-se sismos de magnitude cada vez menor. Em 1963 foi intalada a rede mundial americana (WWSSN – World Wild
Standard Seismographic Network).
A sismicidade histórica (observada antes da existência de registos instrumentais) é baseada em relatos escritos que
indicam que a sismicidade se estende até ao séc. XVI na Europa, havendo referências a sismos ocorridos no início da Era
Cristã; estende-se a algumas centenas de anos atrás nos EUA; no Japão e no Médio Oriente estende-se até há mais de
2000 anos e na China até há cerca de 3000 anos.
A sismicidade passada pode também ser avaliada a partir de evidências de caráter geológico, pelo estudo da
paleossismicidade.
A Lei de Gutenberg e Richter (1954), para a caracterização das fontes sísmicas, diz que em cada região sismogénica os
sismos de menor magnitude são os mais frequentes, existindo uma relação linear entre o logaritmo decimal de N e M:
LogN = a-bM

N – número de sismos ocorridos num certo intervalo de tempo, de magnitude !M;


M – magnitude;
a – atividade sísmica da zona (nº de sismos de magnitude >0;
b – relação entre o nº de sismos de pequena magnitude e o nº de sismos de grande magnitude.

A atividade sísmica ocorre aleatoriamente distribuída ao longo do tempo. Há períodos de elevada atividade e períodos
de calma. Tendo em conta a magnitude dos sismos, é possível estimar “períodos de retorno” para eventos de diferentes
magnitudes.

Estimativa da perigosidade sísmica


A estimativa da perigosidade sísmica pode ser abordada numa perspetiva de análise determinística ou de análise
probabilística (Baker, 2008).
A análise determinística da perigosidade sísmica envolve a definição de um cenário sísmico particular sobre o qual é
baseada a avaliação da perigosidade do movimento do solo. O cenário consiste em supor a ocorrência de um sismo de
determinada magnitude (sismo de controlo – mais importante sismo histórico), gerado por uma determinada fonte situada
a uma certa distância do local em estudo.
A análise determinística fornece o cenário mais gravoso, mas não fornece informação sobre a probabilidade de ocorrência
do sismo de controlo, a probabilidade do sismo de controlo ocorrer no sítio que se escolheu e o nível de vibração que pode
ser esperado durante um certo intervalo de tempo (Baker, 2008).
A análise probabilística da perigosidade sísmica permite a combinação de modelos probabilísticos para a determinação
dos sismos e seus efeitos, permitindo identificar, quantificar e combinar a magnitude, a localização e as características do
movimento do solo, fornecendo um cenário mais completo da perigosidade sísmica.
Esta análise permite definir o período de retorno (Período de retorno = 1/probabilidade de não-excedência (de valores
máximos de aceleração do solo, num certo "t).
Na perspetiva probabilística, a severidade dos movimentos do solo é frequentemente expressa pela aceleração do
movimento do solo (A).

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A perigosidade sísmica (Hx) é definida como a probabilidade (P) da aceleração máxima do solo nesse local (Ax) exceder
um dado valor de referência da aceleração do solo (Ar) num certo intervalo de tempo ("t) (Baker, 2008).
Hx = P (Ax > Ar) "t

Sismicidade em Portugal
A sismicidade, em Portugal, não é, normalmente, nem muito intensa, nem muito frequente. No entanto, o território tem
sido atingido por diversos sismos com elevada magnitude e intensidade, tendo sido detetados eventos desde há mais de
dois milénios.
Bezzeghoud et al. (2012) e o website da Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica mostram o registo histórico dos
sismos mais significativos ocorridos em Portugal. O sismo mais antigo de que há registo em Portugal terá ocorrido no ano
63 AC. Afetou o que são hoje as costas portuguesas e da Galiza e terá provocado um enorme tsunami, com as populações
a fugirem do litoral para o interior. Em 382 há registo de outro grande sismo, com relatos de tsunami que fizeram desaparecer
ilhas que havia ao largo do Algarve. Outro dos grandes abalos em Portugal teve lugar em 1356 (24 de Agosto), com
intensidade semelhante ao de 1755.
De entre os acontecimentos que marcaram a história da sismologia em Portugal, Bezzeghoud et al., (2012) destacam os
seguintes eventos:
26 de Janeiro de 1531 - Causou severos danos no centro de Portugal continental e em particularmente na região de
Lisboa. O seu epicentro situa-se provavelmente na região de Benavente.
27 de Dezembro de 1722 - Afetou principalmente a região Algarvia provocando danos consideráveis em Loulé. Teve o
seu epicentro provavelmente no mar e gerou um tsunami local em Tavira.
1 de Novembro de 1755 - Um dos maiores sismos de que há memória histórica. Foi o sismo com consequências mais
catastróficas em Portugal, causando destruição generalizada na região de Lisboa e Algarve, tendo sido sentido nos
Açores, na Madeira, em Marrocos e por toda a Europa. Desencadeou um tsunami de enormes proporções. O número de
vítimas provocado por este sismo foi entre 60000 e 80000 pessoas, sendo grande parte desse número em consequência do
tsunami.
11 de Novembro de 1858 - Um dos grandes sismos que afetaram Portugal, provocando danos na zona de Setúbal.
23 de Abril de 1909 - Foi o sismo com maior intensidade que afetou Portugal continental no séc. XX, registado em vários
observatórios sismográficos, destruindo Benavente, onde se situou o epicentro. O epicentro deste sismo situa-se na
margem sudoeste portuguesa no entanto não existe ainda consenso relativamente à sua localização exata;
Sismo de 28 de Fevereiro de 1969 – Trata-se do maior sismo instrumental jamais registado em Portugal. Teve o seu
epicentro numa região localizada 200 km a sudoeste do cabo de S. Vicente, no limite sul da Planície da Ferradura. Apesar da
sua elevada magnitude (Ms=8.0) e elevadas intensidades sentidas (em particular na região algarvia com intensidade
máxima VIII) não causou qualquer vítima mortal, tendo só provocado danos materiais na região algarvia.
Em Portugal os eventos sísmicos têm os epicentros localizados, quer interplaca, quer intraplaca (figura 2), que se
relacionam com as zonas sismogénicas que geram os sismos que afetam Portugal (figura 3).

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Figura 2 - Sismicidade da região Açores-Tunísia (M> 3), entre 1912 e 1985


(Bufforn et al., 1988)

Figura 3 – Zonas sismogénicas de Portugal


(Batista et al.,2003)

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As figuras 4 e 5 mostram a estimativa do zonamento do risco sísmico para Portugal, resultantes da investigação de
vários autores.

Figura 4 - Estimativas do risco sísmico para Portugal.(a) Zonamento adotado pelo LNEC (1983); valores de
PGA para um período de retorno de 975 anos (b) Intensidades para um período de retorno de 500 anos
(Sousa, 1996). (c) PGA com um período de retorno de 475 anos (Pelaez and Lopez Casado,2002).
(d) Mapas de perigosidade sísmica para Portugal Continental
(Vilanova e Fonseca, 2007).

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Sousa (2006) mostra os mapas das perdas económicas e humanas para cenários de sismos históricos semelhantes aos
de 1909 e 1755 para os períodos de retorno de 475 e 975 anos (figura 5).

Figura 5 – Mapas de perdas económicas e humanas para sismos semelhantes


aos de 1909 e 1755
(Sousa, 2006).

ESTUDO DE CASO:CARTOGRAFIA DE SUSCETIBILIDADE; PERIGOSIDADE,


VULNERABILIDADE E RISCO SÍSMICO DA REGIÃO DA FIGUEIRA DA FOZ – NAZARÉ
(PORTUGAL CENTRAL)
Como estudo de caso do risco sísmico em Portugal Continental, pretende-se construir cartografia da suscetibilidade,
perigosidade, vulnerabilidade e risco sísmico, para fontes sismogénicas internas e externas, à escala regional, na área que
corresponde, aproximadamente, à plataforma litoral e relevos adjacentes entre a Figueira da Foz e a Nazaré (zona oeste de
Portugal Central), tendo em atenção os dados da sismicidade instrumental, mas também a análise dos dados da sismicidade
histórica (sismo de referência: 1755, M=8,5-9) relativamente a efeitos colaterais dos sismos: tsunamis, efeitos de liquefação
e deslizamentos.
O cruzamento dos mapas de perigosidade e vulnerabilidade permitirá avaliar e porventura estabelecer um zonamento
do risco sísmico de grande utilidade em termos de Ordenamento do Território.

Metodologia
Os conceitos utilizados no modelo conceptual de risco que seguimos estão de acordo com as propostas de Julião et al.
(2009). As cartas de suscetibilidade e perigosidade, vulnerabilidade e risco sísmico foram criados através do software
ArcGis10, recorrendo sobretudo às ferramentas das extensões 3D Analyst e Spatial Analyst.
Para a determinação da suscetibilidade e da perigosidade sísmica, os fatores tomados em linha de conta foram a
litologia, a tectónica (alinhamentos neotectónicos e núcleos diapíricos) e a distribuição dos epicentros, com os respetivos
valores de magnitude para os últimos cerca de 20 anos. Foi determinada a Vs30, ou seja, a velocidade das ondas de corte
(ondas s) nos primeiros trinta metros de profundidade, definida pelas características geológicas locais (Eurocódigo 8 – EN
1998). Outro fator importante é o Peak ground acceleration (PGA), ou aceleração de pico, que avalia a aceleração das
partículas do solo à passagem das ondas sísmicas. Para este estudo foi considerada o valor médio de aceleração de pico
de 100-150 cm/s2 em rocha podendo atingir valores superiores à superfície, devido ao agravamento da ação sísmica pelos
solos (Carvalho et al., 2004).

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Testou-se a aplicação do modelo de atenuação de Carrilho e Oliveira (1997) por ser aquele que se pode aplicar a
magnitudes de valores próximos dos existentes na área em análise e em condições de Crosta Continental Estável. A
aplicação dos modelos de atenuação no cálculo do risco sísmico têm importância para o conhecimento da forma como se
dá a propagação das ondas sísmicas e dos fatores que mais contribuem para esse padrão.
A carta de vulnerabilidade construiu-se tendo em conta os censos de 2011 e contemplou a população exposta, edificado
e a vulnerabilidade social.
A carta de risco sísmico obteve-se por operações de cálculo matricial (álgebra de mapas): Risco sísmico = Perigosidade
sísmica x Vulnerabilidade.

A Área estudada: localização, geologia e tectónica


A área localiza-se na bordadura ocidental de Portugal central, entre o cabo Mondego e a Nazaré (figura 6). Do ponto de
vista geológico este estudo incide sobre uma área complexa onde afloram unidades cujas idades vão do Jurássico
(Hetangiano) à atualidade, tendo bem presentes manifestações de tectónica ativa, como sejam as falhas classificadas
como ativas na carta neotectónica de Portugal, às quais se associam quase sempre outras manifestações de atividade
tectónica, como o diapirismo. A distribuição dos epicentros, na área em análise, para os últimos 20 anos, segue
tendencialmente a direção dos principais alinhamentos tectónicos e a localização dos núcleos diapíricos (Soure e Monte
Real). As magnitudes registadas não ultrapassam valores de 4.4.
A figura 7 mostra a velocidade de propagação das ondas S nos primeiros 30 m de profundidade (Vs30) nas diferentes
formações geológicas aflorantes e de acordo com a norma do Eurocódigo 8 – EN 1998.

Figura 6 – Localização da área de estudo Figura 7 – Distribuição das Vs30 nas formações
(elaboração própria) geológicas da área de estudo
(elaboração própria)

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As figuras 8 e 9 mostram, respetivamente, os principais acidentes tectónicos que afetam a área e a distribuição espacial
dos epicentros sísmicos, cujas magnitudes não ultrapassam M#4.4.

Figura 8 – Localização dos principais acidentes tectónicos Figura 9 – Distribuição dos epicentros
( falhas e diapiros). Carta Neotectónica de Portugal (Org. Ramos, A. M. 2014; www.ign.es)
esc. 1000 000 (Cabral e Ribeiro, 1988).

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Cartografia de risco sísmico


O cálculo matricial, obtido através da ferramenta raster calculator da extensão spatial analyst do software ArcGis10,
permitiu obter as cartas de suscetibilidade e perigosidade, vulnerabilidade e risco sísmico, para a área entre a Figueira da
Foz e a Nazaré, que constam, respetivamente, nas figuras 10, 11 e 12.

Figura 10 – Carta de perigosidade sísmica Figura 11 – Carta de vulnerabilidade


Org. Ramos, A.M., 2014) (Org. Cunha, L., 2014)

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Figura 12 – Carta de risco sísmico


(Org. Ramos, A.M. e Cunha, L.,2014)

RESULTADOS, DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS


A aplicação do modelo de atenuação permitiu calcular distâncias focais, partindo de um valor fixo de aceleração do solo
e valores de magnitude 1, 2, 3, e 4, obtendo-se distâncias focais, respetivamente, de 0.25, 0.96, 3,42 e 12,5 Km. A Figueira da
Foz, Soure, Monte Real e Leiria são as localidades que apresentam maior suscetibilidade sísmica para fontes locais.
Utilizou-se também o método de álgebra de mapas que contemplou a distribuição, de acordo com os diferentes tipos de
litologia, dos valores da Vs30 (velocidade das ondas de corte para uma profundidade de 30 metros, Eurocódigo 8),
unidades geológicas, distribuição dos alinhamentos tectónicos e dos epicentros. Os resultados obtidos por este método
mostram suscetibilidades sísmicas mais elevadas associadas às planícies aluviais e ao campo dunar, o que é de esperar
dado que este tipo de materiais contribuem para o aumento da vibração (aceleração de pico) do solo à passagem das ondas
sísmicas.
Não entrando em linha de conta com as questões da paleossismicidade, pelos resultados obtidos, podemos considerar
que a área apresenta suscetibilidade e perigosidade sísmicas baixas a moderadas para ocorrências de eventos sísmicos
relacionados com fontes locais. Maior cautela terá que ser tida na classificação do risco sísmico associado a fontes
sismogénicas externas. Referimo-nos em particular aos efeitos que se encontram descritos e que se fizeram sentir na área
em consequência do sismo de 1755: liquefação de solos, aumento do tamanho das ondas, em consequência do tsunami,
acompanhadas de inundações, que atingiram Buarcos (Figueira da Foz). Verificou-se também a subida das águas do
Mondego.

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Vulnerabilidades e Riscos: Reflexões e Aplicações na Análise do Território

Se admitirmos a repetição de um evento semelhante na atualidade, tendo em conta a ocupação urbana e o tipo de
edificado (em muitos casos desconhecido), principalmente em zonas próximas do litoral, estuários e planícies aluviais, será
de classificar a área em estudo com risco sísmico elevado quando se tratam de fontes sísmicas externas e tendo em conta
os registos dos sismos históricos.
Convém referir que no cálculo do risco associado a processos naturais perigosos como sismos e vulcões, o impacte no
exterior constitui um fator que indica de que forma as perdas económicas, as interrupções nas redes de comunicação, a
vida política e social serão afetadas para além do local onde se registraram os eventos.

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Vulnerabilidades e Riscos: Reflexões e Aplicações na Análise do Território

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http://domingos.home.sapo.pt/sismos_3.html

76 Organizadoras: Maria Isabel C. de Freitas, Magda A. Lombardo, Andréa A. Zacharias

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