CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS Disciplina: Historiografia Evelin Kauane Natalia Ferreira de Amorim Nayara Prado Sobrinho Otávio
RESUMO DO CAPITULO “HETERONOMIA RACIAL NA SOCIEDADE DE
CLASSES”, DE FLORESTAN FERNANDES
Em “Heteronomia racial na sociedade de classes”, Florestan Fernandes
parte da premissa que aborda a situação histórico-social em que se encontra o negro e o mulato durante a consolidação da sociedade de classes em São Paulo, onde à ordem social competitiva e o regime das classes sociais não foram executados de forma homogênea e imediata. São Paulo se alterou de forma desigual, ao mesmo tempo em que manteve às mesmas estruturas arcaicas presentes no antigo regime, para Florestan isso se nota em duas extremidades: nos círculos sociais constituídos pela elite e nos setores dependentes da plebe. O segundo grupo possuía menor participação no que o autor chama de “interesses práticos”, ou seja, que estão ligados a economia. Por mais que a reintegração da ordem social não torne determinado grupo étnico ou racial mais ou menos privilegiado de forma objetiva, a participação em processos de desenvolvimento de cunho econômico ou sociocultural dependia necessariamente de recursos financeiros, o que mostra o drama dos negros e mulatos na cidade, pois estes encontravam-se em situação desvantajosa dentro desse processo, por conta da má integração na vida urbana. O crescimento econômico dependia diretamente dos recursos morais, desta maneira, os ex-agentes do trabalho escravo já adentravam neste processo com grande desvantagem. Este processo da consolidação da sociedade de classes servia para que o distanciamento entre negros e brancos fosse mantido, assim como o era antes da abolição da escravatura, quando o negro devia obediência ao seu senhor na sociedade de castas. Assim, a ligação entre a organização da sociedade baseada na distinção entre branco ou negro era preservada durante a formação das classes sociais em São Paulo por meio da mentalidade, das relações e, principalmente, do comportamento que mantinham seu caráter arcaico do antigo regime. Tomando para análise o preconceito e discriminação existentes nos nossos dias, diz Florestan, pode-se imaginar que estejam diretamente ligadas as desiguais condições econômicas, sociais e políticas. Porém, a interpretação aqui deve ser outra: o distanciamento e isolamento sociocultural mantido através da reprodução de estruturas arcaicas vividas pelos negros na sociedade escravocrata e que se enraizaram, sendo custoso dissociar discriminação racial do desejo de manter os privilégios dos dominantes. Foram quatro os fatores que acarretaram o isolamento do negro e do mulato socialmente, sendo eles: degradação pela escravidão, anomia social, empobrecimento e integração deficiente. Segundo o autor a desigualdade social, política e econômica vigente na relação entre brancos e negros, não teve meramente sua gênese no preconceito de cor e na discriminação racial, mas sim, é fruto da negação e da dificuldade em superar os estereótipos e os padrões das relações raciais de ordem escravocrata e senhorial. O sentimento cômodo dos agentes em estarem imersos em um cenário social com resquícios arcaicos, levou o Brasil a estar em uma situação análoga á dos Estados unidos, denominada pelo autor de “Inércia sociocultural”, ou seja, mesmo que o branco não se sentisse motivado racionalmente a competir ou exercer domínio sobre os negros e os mulatos, o mesmo se mostrava passivo diante a reprodução de antigos padrões raciais. Para Florestan, o mito da democracia racial serviu para difundir uma falsa realidade sobre os negros, dentre as quais os negros não tinham problemas, que não existe distinção entre raças do povo brasileiro, prestigio e poder social foram distribuídos igualmente entre todos, a ideia de que os negros viviam satisfeitos e que não há nenhum tipo de injustiça social com os mesmos. Então, o mito da democracia racial contribuiu para a isenção dos brancos frente a questão da desigualdade racial, podendo assim, responsabilizar os negros pelos seus próprios dramas. Apesar da discriminação racial ser categoricamente recusada pela elite, havia uma repulsa frente ao tratamento igualitário do negro, onde os círculos sociais mais abastados se opunham ás reivindicações dadas pela população negra através dos movimentos sociais, utilizando-se de argumentos como de que esses tipos de ações vem como forma de "prejudicar o negro" e "quebrar a paz social", o que claramente mascara o preconceito contra o “homem de cor”. O negro não era repelido dessas questões de forma explica, mas sim nas pequenas ações estruturais, da qual ele não era aceito sem restrições. Sendo assim, o autor nos mostra que persistia ao mesmo tempo uma repulsa a tratar de forma igual o negro, e também de acatamento a novos ordens do regime pós-abolição, sendo ambivalente, isso apenas serviu para mascarar toda exclusão econômica-social do negro nessa sociedade. Então, essa sociedade (aqui analisada por Florestan: São Paulo) contribuiu para a construção ilusória da existência da “democracia racial” a qual foi conferido a São Paulo. Para essa existência ilusória de “democracia racial”, estruturalmente afim de não criar tensões, criaram as consequências que tiraram o negro e o mulato da área dos benefícios do processo de democratização. Com isso gerou os diversos problemas que colocou o negro como incapaz ou irresponsável que gerou assim os dramas, usando o termo de Florestan Fernandes, “da população de cor”, também acabou por isentar o branco de qualquer responsabilidade como se esse não tivesse responsabilidades em relação a “população de cor”, sendo assim, só se viam as aparências levando essa falsa consciência sobre a realidade racial no Brasil. Essa consciência levou a crer que no Brasil não existiria preconceito, que as oportunidades são iguais para todos, o que passou a ter a propensão de isentar as elites que estavam envolvidas na exploração do negro e de joga-lo para fora do âmbito econômico. Por fim, Florestan coloca que o desiquilíbrio vigente entre a ordem racial e a ordem social se dá pela permanência e reprodução das formas arcaicas de dominação patrimonialista e também que o atraso da primeira ordem possui resquícios do antigo regime, e que isso só poderá ser eliminado futuramente através de um uma normalização progressiva da vida democrática e da ordem social correspondente, no entanto, enquanto isso não ocorrer a dominação racial do branco sobre o negro permanecerá.