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Rogério Fonseca de Souza (1) (rogerio.fsouza@yahoo.com.br), Jorge Nei Brito (2) (brito@ufsj.edu.br)
RESUMO: Em um mercado altamente competitivo onde não há mais fronteiras para a concorrência, é
fundamental tanto para a sobrevivência quanto para a conquista de novos mercados que as empresas
melhorem continuamente seus processos, aumentem sua produtividade e reduzam seus custos operacionais.
A área de manutenção, como parte estratégica dos resultados do negócio, deve ter seu desempenho
acompanhado através de indicadores de performance que possibilite análises correlacionadas para tomada
de ações de correção e manutenção dos resultados. Neste trabalho são apresentados os principais indicadores
de manutenção, os chamados indicadores de classe mundial, com foco não apenas na medição e
acompanhamento desses valores que é a etapa final do processo, mas evidenciando a importância na
definição, metodologia de cálculo, periodicidade de medição e principalmente na tomada de decisão. Dessa
forma os indicadores atingem seu objetivo que é possibilitar a análise crítica do que se mede, e dessa forma
contribuir com a governança da manutenção.
ABSTRACT: In a highly competitive marketplace where there are no longer boundaries for competition, it is
critical both for survival and the conquest of new markets that companies continually improve their processes,
increase their productivity and reduce their operating costs. The maintenance area as a strategic part of the
results of the business must have its performance accompanied by performance indicators that enable
correlated analysis to take corrective actions and maintain results. In this work the main indicators of
maintenance, the so-called world-class indicators, focusing not only on the measurement and monitoring of
these values, which is the final step of the process, but highlighting the importance in the definition, calculation
methodology, periodicity of measurement and mainly in decision making is presented. In this way, the
indicators achieve their objective, which is to enable the critical analysis of what is measured, and thus
contribute to the maintenance governance.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1. Indicadores
Indicadores são medidas ou dados numéricos estabelecidos sobre processos que se quer
controlar; ou seja, são a base para a tomada de decisões, pois são dados concretos que revelam o
que realmente está ocorrendo em determinado processo, eliminando a percepção, a intuição e a
subjetividade. São os indicadores que permitem ser os Gerentes menos intuitivos e mais analíticos.
2.3. Normas
Além dos livros, artigos e periódicos sobre indicadores de manutenção, existem também
normas que podem contribuir com a metodologia para definição e classificação dos índices a serem
medidos nas empresas, como as internacionais SMRP americana e EN 15341 europeia, bem como a
nacional ISO 55000.
2.3.1. Norma SRMP
A EN 15341 é uma norma europeia que também classifica os indicadores em grupos, porém
os correlaciona com as hierarquias da estrutura dos processos, níveis técnico, operacional e
estratégico, Quadro 2. Além disso a referida norma leva em consideração elementos internos e
externos à organização que podem ter influência nos indicadores, como cultura da empresa e da
comunidade ao seu entorno, localização etc.
QUADRO 2. Indicadores x grupos conforme norma EN 15341.
FIGURA 1. Fatores que influenciam os indicadores - Norma EM 15341. Fonte (FIGUEROA, 2017).
2.3.3. Norma ISO 55000
A ISO 55002 faz parte do conjunto de outras normas que em conjunto formam a ISO 55000,
e trata especificamente de indicadores. Faz uma abordagem de níveis hierárquicos de processo como
a norma europeia (EN 15341), mas não define formas de cálculo nem de coleta como as
anteriormente citadas. A seguir tem-se os exemplos de indicadores classificados por grupos.
- Para o Sistema de Gestão Estratégica
i. Índices de satisfação dos clientes.
ii. Resultados da pesquisa de sociedade ou reputação.
iii. Impacto ambiental, por exemplo, custo do carbono.
iv. Nível de serviço.
- Para os Sistemas de Ativos
i. Disponibilidade do sistema de ativos.
ii. Desempenho do sistema de ativos (por exemplo, tempo em funcionamento, Eficiência).
iii. Custo unitário do produto ou serviço.
Para os Ativos:
i. Confiabilidade (tempo médio/distância entre falhas).
ii. Condição dos ativos, desempenho ou índice de saúde.
iii. Custo do ciclo de vida.
iv. Expectativa de vida.
v. Desempenho energético dos ativos.
Aceitável Ser considerado por todos, adequado para medir o aspecto operacional desejado
Não pode ser ambíguo. A medida deve comunicar uma mensagem bem clara em
Claro
relação à operação que está sendo medida
Como vai ser feita a medição Tempo decorrido entre duas intervenções de manutenção
3. METAS
Existem várias literaturas quanto aos tipos de metas. Para (FALCONI,2004) "existe dois tipos
de metas: metas para manter e metas para melhorar", conforme apresentado na Quadro 5.
QUADRO 5. Objetivo das classes de criticidade dos equipamentos.
As metas devem ser estabelecidas com base em um desdobramento das metas estratégicas
do negócio. Dessa forma, no momento de definição, deve-se levar em consideração alguns pontos.
Caso contrário, pode-se estabelecer valores inatingíveis ou mesmo desnecessários de serem
atingidos.
A meta é um valor muito particular, individual, pessoal de cada empresa. É um erro, inclusive
comum e constante, metas serem estabelecidas com base em valores de outros negócios, setores,
países etc. Deve-se sim buscar conhecer as referências, os benchmarks e as melhores práticas, mas
esses valores não podem e não devem fundamentar as metas.
Outra forma que é utilizada para definição de metas é usar como base o histórico e, através
dele, chegar a um valor a ser perseguido. O que muitas vezes não se leva em consideração é que o
cenário mudou, as exigências mudaram, a tecnologia mudou, a concorrência aumentou e devido a
isso e a outros fatores, tem-se que ser melhor e mais eficaz do que se foi no passado que compôs o
histórico. Pode-se ter realizado o melhor trabalho; entregado os melhores resultados; ter sido
benchmark no setor ou processo, mas isso foi ontem e talvez para o hoje e para o amanhã, mesmo
sendo duro dizer, pode-se não valer de nada.
Para se ter metas dentro dessa realidade, tem-se que partir para as metas base zero, ou seja,
não "contaminadas" ou influenciadas por nada, mas sim calculadas com base na realidade e na
necessidade de cada processo ou negócio em um determinado momento.
Na visão de (FALCONI,2004) "temos que perseguir as metas absolutas. Por exemplo:
queremos zero defeito no produto final, zero acidente no trabalho, zero quebra de equipamento,
zero estoque, zero retrabalho etc. ".
4. GESTÃO DE INDICADORES
CLASSIFICAÇÃO
PÚBLICO ALVO INDICADORES
DOS INDICADORES
Disponibilidade física Confiabilidade
Estratégicos Alta gestão
Custo de manutenção OEE
Média gestão,
Táticos Número de falhas Backlog
engenheiros e técnico
Supervisores e Aderências às ordens de serviço programadas
Operacionais
executantes Tempo médio para reparo (MTTR)
Fonte: Autor (2017).
O indicador Disponibilidade Física (DF), Equação 1, mede o tempo em que o ativo físico ficou
disponível dentro das horas calendário do período estudado. Sua unidade de medida é a
percentagem (%) e quanto maior melhor.
4.1.2. Mean Time Between Failure (MTBF) - Tempo Médio Entre Falhas
O indicador Tempo Médio Entre Falhas (MTBF), Equação 2, mede o tempo médio em que o
ativo físico operou entre ocorrências de manutenções não programadas. Sua unidade de medida é
"Horas" e quanto maior melhor.
𝐻𝑜𝑟𝑎𝑠 𝑇𝑟𝑎𝑏𝑎𝑙ℎ𝑎𝑑𝑎𝑠
𝑀𝑇𝐵𝐹 = ∑ 𝑁° 𝑑𝑒 𝐼𝑛𝑡𝑒𝑟𝑣𝑒𝑛çõ𝑒𝑠 𝑁ã𝑜 𝑃𝑟𝑜𝑔𝑟𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎𝑠 (2)
- Horas trabalhadas: É o tempo total em horas em que o ativo físico trabalhou dentro do
período estudado.
- ∑ N° de Intervenções Não Programadas: É a quantidade de paradas não programadas do ativo
físico dentro do período estudado.
O indicador Tempo Médio Para Reparo (MTTR), Equação 3, mede o tempo médio em que o
ativo físico voltou a ficar disponível após uma manutenção não programada dentro do período
estudado. Sua unidade de medida é "Horas" e quanto menor melhor.
- ∑ Horas de Manutenção Não Programadas: É: tempo total em horas em que o ativo físico
ficou indisponível por manutenções não programadas dentro do período estudado.
- ∑ N° de Intervenções Não Programadas: É a quantidade de paradas não programadas do ativo
físico dentro do período estudado.
O indicador Backlog (BL), Equação 4, mede a carga de trabalho futura em dias por especialidade
(mecânica, elétrica etc.) de acordo com o HH disponível para execução. É uma "foto" do momento.
Sua unidade de medida é "Dias" e deve ser mantido em um determinado valor que não deixe o
processo vulnerável a falhas.
∑𝐻𝐻 𝑒𝑚 𝐶𝑎𝑟𝑡𝑒𝑖𝑟𝑎 𝑑𝑒 𝑆𝑒𝑟𝑣𝑖ç𝑜
𝐵𝐿 = ∑ 𝐻𝐻 𝐷𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛í𝑣𝑒𝑙 𝑃𝑎𝑟𝑎 𝐸𝑥𝑒𝑐𝑢çã𝑜 (4)
- ∑ HH em Carteira de Serviço: É o tempo total em horas em que o ativo físico ficou indisponível
por manutenções não programadas dentro do período estudado.
- ∑ HH Disponível Para Execução: É a quantidade de paradas não programadas do ativo físico
dentro do período estudado.
O indicador Service Accuracy (SAM), Equação 5, mede a quantidade de manutenções que são
realizadas dentro do limite de ± 10% do menor intervalo de manutenção. Indicador muito utilizado
para equipamentos móveis. Sua unidade de medida é a percentagem (%) e quanto maior melhor.
O indicador Horas Extras da Equipe (HE), Equação 7, mede a porcentagem de horas extras
realizadas pela equipe de manutenção com relação as horas totais trabalhadas. Sua unidade de
medida é a percentagem (%) e quanto menor melhor.
∑ 𝑁° 𝑑𝑒 𝐻𝑜𝑟𝑎𝑠 𝐸𝑥𝑡𝑟𝑎𝑠 𝑅𝑒𝑎𝑙𝑖𝑧𝑎𝑑𝑎𝑠 𝑃𝑒𝑙𝑎 𝐸𝑞𝑢𝑖𝑝𝑒
𝐻𝐸 = { ∑ 𝑁° 𝑑𝑒 𝐻𝑜𝑟𝑎𝑠 𝑇𝑟𝑎𝑏𝑎𝑙ℎ𝑎𝑑𝑎𝑠 𝑃𝑒𝑙𝑎 𝐸𝑞𝑢𝑖𝑝𝑒
} 𝑥 100 (7)
5. ANÁLISE DE INDICADORES
O indicador Backlog (BL) mede a carga futura de trabalho. É um indicador bastante crítico pois
tem relação direta com o quadro de pessoal (head count) da área de manutenção, e também com a
condição dos ativos físicos.
Serão apresentados os dois pontos fundamentais da análise de indicador, a importância da
tendência e da visão de um período maior, bem como a correlação com outros indicadores. Também
será visto como esses pontos podem, se não considerados, levar a interpretações erradas e,
consequentemente, também a decisões erradas.
Analisando os dados da Figura 3, e sem correlacionar com outros indicadores, tem-se uma
situação bastante crítica onde o BL, em dias, está muito alto se comparado à meta estabelecida. Isso
pode nos direcionar para alguns entendimentos, que nosso efetivo de mão de obra está
subdimensionado, ou seja, devemos contratar mais pessoas ou fazer um contrato de mão de obra
para executar as atividades. Que nossos equipamentos estão com um risco alto de quebra e com isso
temos um alto risco no processo.
Dias
175 146,8
150
125
100
75
50
25
0
ABR
Meta - 84 Backlog Total
Analisando a mesma informação, agora na Figura 3, porém com a visão semanal do mês de
abril, dessa forma já se começa a ter condição de verificar a tendência do indicador. Aqui, a decisão
do gestor pode ser diferente da anterior. Pode-se ler, por exemplo, que se tem atividades que
requerem um HH (Homem Hora) maior, mas que a mão de obra disponível é suficiente; inclusive há
tendência de queda do BL.
Dias
168,0
175
156,0
146,8
150
109,8
125
100
75
50
25
0
14 15 16 17
Meta - 84 Backlog Total
Na Figura 5 foi reduzido o zoom sobre a informação e agora tem-se a visão da tendência ao
longo dos meses do ano. Analisando nessa ótica não há situação de emergência ou necessidade de
contratação de mão de obra. É evidente que houve um aumento pontual em determinado mês,
porém a tendência é de queda e a situação está sob controle se comparado o resultado real x meta
esperada.
Dias
175
149,1
146,8
150
113,7
125
104,1
100
86,2
82,5
80,7
75
56,0
50,8
50
25
0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET
Meta - 84 Backlog Total
Analisando de forma correlacionada as informações das Figuras 5 e 6 pode-se ter uma visão
mais sistêmica de como está o processo. Dessa forma é possível um diagnóstico mais real da situação
bem como identificar quais ações devem ser tomadas.
Horas
60
50
43,5
42,5
38,4
37,7
40
37,2
37,0
36,4
36,2
34,4
30
20
10
0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET
Meta MTBF
É fato que a situação do processo está controlada, uma vez que o MTBF ao longo dos meses
está acima da meta estabelecida, mesmo que em alguns meses o BL esteja cima do aceitável para
uma situação de risco controlado dentro da realidade analisada.
Pode-se concluir que os ativos físicos estão sendo bem geridos e o risco do processo está sob
controle. Fica claro que os meses em que houve o aumento do BL, em dias, é fruto de atividades que
necessitam de um alto valor de HH para serem executadas. Por outro lado, devido aos valores de
MTBF no mesmo período, sabe-se que se trata de atividades de baixa prioridade e que devido a isso
oferecem pouco risco ao processo de forma macro.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Gerenciamento de indicadores é uma ciência muito mais ampla do que apenas analisar de
forma periódica os resultados mensuráveis e quantitativos de um processo ou negócio. Gerenciar
indicadores é ser criterioso em todas as etapas, desde a definição do que medir, qual será a meta,
periodicidade, dentre outros.
Gerenciar indicadores ter a percepção de quais são necessários para se ter uma correta visão
sistêmica do que se mede, ou seja, o quanto o indicador definido representa para a gestão do que se
pretende controlar. É ter claro que, para um processo decisório, não se pode analisar um ou outro
indicador de forma individualizada. A análise sempre deve ser feita correlacionando indicadores,
inclusive de outras áreas de interface.
Deve-se sempre utilizar os indicadores da melhor forma para se ter os resultados esperados.
É preciso lembrar mais uma vez que, ter muitos CONTROLES não quer dizer, necessariamente, ter
CONTROLE do processo.
REFERÊNCIAS