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do e estabelecer uma comunicação com o outro, pois é ela sentido, expres-
são e comunicação, não sendo sucessivamente nem uma coisa nem outra,
mas as três a um só tempo.
Este é seu argumento para elaborar uma gramática do sentido e da ex-
pressão, que se interessa em descrever os fatos da língua em função de três
condições: a primeira se refere às intenções do sujeito falante, as quais são
suscetíveis de exprimir, o que requer que os diferentes sistemas da língua
sejam reagrupados ao redor dessas intenções; a segunda se refere às instân-
cias comunicativas que os fatos da linguagem revelam, o que exige que os
diferentes sistemas da língua sejam tratados do ponto de vista do sentido; a
terceira se refere aos efeitos do discurso que os diferentes sistemas da lín-
gua podem produzir, o que exige que os variados registros de uso lingüísti-
co sejam passados em revista, e não apenas os usos literários.
Se, por um lado, uma gramática com essas características só é possível
na hipótese de resolver o problema da diversidade das teorias lingüísticas,
por outro ela precisa levar em conta a existência de uma tradição gramatical
essencialmente escolar, para pôr em cena uma gramática morfológica que
descreva as partes do discurso (formas e sintaxe) e os componentes da frase
(orações), sempre ajudada por uma nomenclatura (nome, adjetivo, verbo,
oração principal ou subordinada, etc.) que esteja totalmente incorporada
pelos usuários escolarizados da língua.
E isso tem mesmo razão de ser, se concordarmos que existe uma tra-
dição de estudo lingüístico que, apesar das diferenças de pontos de vista,
tem estabelecido um consenso ao redor de conceitos e de procedimentos de
descrição dos sistemas da língua, especialmente no que se convencionou
chamar de abordagem semântica da linguagem. Como essa herança consti-
tui uma espécie de reconhecimento, a única forma de linguagem posta à
disposição desses usuários para falar o idioma, é necessário levá-la conta,
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mesmo que se queira criticá-la.
Para atingir esses objetivos, Charaudeau organiza três seções em sua
gramática. A primeira (Os Mecanismos do Sentido e a Construção das Pa-
lavras) fala do signo lingüístico, de seus conceitos (referencial, estrutu-
ral/contextual e situacional) e de sua forma (aspecto material e morfológico
e categorias formais), fala também da construção do sentido (o que se dá a
partir de diferenças por relações opositivas e combinatórias e se caracteriza
por domínios de experiência, conferindo ao sujeito falante uma relativa au-
tonomia na escolha da expressão) e da existência de três classes conceituais
para os signos lexicais (nome, verbo, adjetivo e advérbio): os seres, os pro-
cessos e as propriedades – vistos em suas características semânticas e for-
mais. Fala ainda das operações de classificação das palavras pelo ponto de
vista semântico, e da construção de palavras em decorrência das situações
de especialização, vulgarização ou cotidianidade (que se submetem a pro-
cedimentos de derivação, composição, abreviação e empréstimo – onde se
encontra um valioso comentário sobre o tema da preservação do idioma
francês diante da invasão dos elementos estrangeiros).
Trata, em seguida, dos procedimentos de transferência de sentido, um
recurso (atividade) que se destina a produzir algum efeito de discurso, que
pode ser de focalização, de distanciamento, de quantificação, de valoriza-
ção, de metaforização.
E, por fim, do valor social do signo, onde faz considerações a respeito
do conceito de “ameaça” à integridade da língua, do valor de identidade
dos socioletos e dos componentes da “marcha” lingüística.
A segunda parte do livro de Charaudeau se intitula “As Categorias da
Língua” e trata exaustivamente (da p. 119 à 629 = 510 páginas) do uso e
dos valores semânticos dos pronomes pessoais, dos artigos (atualizadores),
dos possessivos (marcadores de dependência), dos demonstrativos (marca-
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dores de designação), dos quantificadores (numeradores, intensificadores
ou indeterminadores), dos indefinidos (identificadores indeterminados), dos
apresentadores, dos qualificativos, das ações e dos atores, da localização
espacial, da situação temporal (coincidente, anterior ou posterior; pontual,
durativa e correlativa), da argumentação e das relações lógicas, da afirma-
ção e da negação, da modalização e da enunciação.
Cada um dos capítulos desta segunda parte é iniciado com considera-
ções sobre os problemas de terminologia e de definição no tratamento dado
pelas gramáticas tradicionais. Logo em seguida, o autor expõe sua própria
definição, que se baseia fundamentalmente nos aspectos semânticos.
“Os Modos de Organização do Discurso” é o título da terceira parte.
Nela, expõem-se os princípios de organização do discurso e, em seguida,
explicam-se quais as características do modo enunciativo, descritivo, narra-
tivo, argumentativo.
Construindo sua obra com a proposta de investigar quais os meios de
que o sujeito falante dispõe para se exprimir, Charaudeau mostra que o sen-
tido se constrói numa relação que subordina a referência do mundo à inter-
subjetividade dos interlocutores. E para isso, como se pretendeu aqui de-
monstrar, o instrumental teórico da gramática tradicional se mostra mais
uma vez – e em formato inovador – indispensável.
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