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PRéMIO NQEEL

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ADSQOffiKS
Físicos modernos
e suas descobertas
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DOS RAIOS X AOS QUARKS: FÍ SICOS
MODERNOS E SU
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SBI/IFUSP 305 M 81024882

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Pensamento Cientí fico

Tradução de Wamberto Hadson Ferreira


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Este Ir TO OU qualquc parte dele '

n ã o pode ser reprodu zido , por qualque r


sem autoriza çã o escrita do Editor .
meio , Sum á rio
Impress o no Brasil
Editora Universi dade de Bras í lia
Campus Universi t á rio - Asa Norte
70910 Bras í lia . Distrito Federal
Copyrig ht © 1980 by Emilio Segr è
Direitos exclusivos de edi ção em lí ngua portuguesa:
Editora Universi dade de Bras í lia
Ediçã o original:
Pcrsonaggi e Scoperte nella Fí sica Contempor â nea , publica do
por Mondad ori Editore, Milã o , 1976 Pref á cio
Tradu ção baseada na edi çã o de 1980 publica da Capítulo I Introdu çã o 1
por W . H . Freeman andCom pany O mundo do físico em 1 S 95 . Novos horizontes . Pieter
Zeeman. Joseph John Thomson. Wí lhelm Conrad R óntgen.
Equipe Técnica
Editor: . Capitulo II H . Becquer el , os Curie e a Descobe rta da Radioat ivi -
Antonio Carlos Avres Maranh ã o dade 27
J
A descoberta ' ' predestinada" de Becquerel . Os Cune e um
í ndices e Controle de Texto: grande salto à frente.
Regina Coeli Andrade Marque s
Fatirna Rejane de Meneses Capítido III Rutherf ord no Mundo Novo: A Transmu ta çã o dos
Element os 47
Supervisã o Gráfica : Inicio da carreira de Rutherford . Pesquisas de radioatividade.
Elmano Rodrigu es
Os discípulos e a descoberta da transmuta çã o.
Ant ô nio Batista Filho
Capa : Capitulo IV Planck , um Revoluc ion á rio Obstina do : A ld é ia da
Nanche Las - Casas Quantiz a çà o 63
, .i ISBN 85 - 230- 0078- X Os pilares teóricos da física . Um problema abrangente: o
corpo negro. Max Planck .
Ficha Catalog rá fica
elaborad a pela Bibliote ca Central da Univers idade de Bras lia Capítulo V Einstein - Novas Formas de Pensar: Espa ço , Tempo ,
í
Relativi dade e os Qiianta 81
Uma juventude nada convencional. Relatividade. Grã os de
Segr è , Emilio luz e impactos moleculares . Do escrit ó rio de patentes à
S 455 f Dos raios X aos quarks . Trad . de Wamher to H . Jama
mundial . A ordem mundial entra em derrocada e o espa ço é curvo.
Ferrcira . Bras í lia , Editora Universi dade de Os últimos anos e a solid ã o de Einstein .
Bras í lia , cl 987 .
345 p . ( Cole çã o Pensame nto Cientific o , 24 j Capítulo VI Sij Ernest e Lorde Rutherf ord of Nelson 105
De volta à Inglaterra . Novas luzes sobre as part ículas alfa .
T í tulo original: From x - rays to quarks: modern
physicist s and their discover ies . O n úcleo at ómico. O átomo planetário. O mesmo, mas
dijerente: o conceito de isotopismo. A desintegra çã o do n ú cleo.
53.007 53( 09 ) Diretor do Laborat ório Cavendish.
t
s é rie Capitulo VII Bohr e os Modelos At ó micos 123
O jovem Bohr e o átomo de hidrogé nio. Os raios X ocupam seu
lugar . O átomo quantizado é estabelecido. A física de Weimar e de
!!
\.
Copenhague. O principio de exclus ã o.
. ^
> I Uv »* X i niidiiiiente uma Verdadeira Mecânica Qu â ntica 153 8 . J . J . Thomson : m é todo da par á bola para achar e/ m de
Lcmis de Broglie: ondas de mat éria. Wemer Heisenberg e í ons 317
Wolfgang Paulv matnzes mágicas. Paul Adnen Maurice Dirac: 9 . O á tomo de hidrogé nio de Bohr 319
abstração e beleza matem ática. Frwin Schródinger. O significado 10 . Sinopse de mec â nica qu â ntica 321
das equa ções. Uma nova vis ão da realidade: complementaridade .
Os mist érios s ão explicados , mas peimanecem as d ú vidas. Bibliografia 323
í ndice onom ásuco 333
Capítulo IX O Maravilhoso Ano de 1932: N é utron , Pósitron , í ndice remissivo 341
Deuté rio e Outras Descobertas 179
A descoberta do néutron . A descoberta do deut éno. O pósitron . A
nova física nuclear.

Capítulo X Enrico Fermi e a Energia Nuclear 203


Descobertas em Roma. A descoberta da fissã o. As etapas rumo à
bomba at ó mica. Elementos transur â nicos. Mobilizaçã o da
física. Conseqiiências da bomba. A obra final de Fermi .

Capítulo XI E. O . Lawrence e os Aceleradores de Particulas 227


Física em grande escala. Os primeiros aceleradores. Lawrence
e o cíclotron. Políticas e personalidades. Corrida por energias mais
altas.
Capítulo XII Al é m do N ú cleo 245
As part ículas elementares . A nova ci ê ncia no Jap ão. Descoberta
do p íon. Uma horda de novas part ículas . Antinúcleons . A quedo
da paridade. A câmara de bolhas. Ordem no caos.

Capítulo X I I I Novos Ramos do Velho Tronco 275


Eletrodinâ mica quâ ntica. Lazer e maser. Física nuclear .
O efeito M õssbauer. Supercondutividade. Outros efeitos quâ nticos
macroscópicos. Nas fronteiras da física: astrofísica, biologia.
O cientista perplexo.

Capítulo XIV Conclus õ es 295


Tend ências futuras. As entranhas da fí sica. •

Apê ndices 1 . Lei de Stefan ; lei de Wien 303


2 . Planck: a busca da f ó rmula de radia ção do corpo
negro 305
3 . Einstein : argumentaçã o heur í stica para postular a
exist ê ncia dos quanta de luz 307
4 . Movimento browniano 309
5 . Flutua çõ es de energia do corpo negro segundo Eins -
tein 31 1
6. Calor especí fico dos só lidos s ^ pundo Einstein 313
7 . A e R dc Einstein 315

•>*
Pref ácio

i •

Este livro baseia - se em palestras que pronunciei na Universidade da


Calif ó rnia em Berkeley , na Universidade de Chicago e na Accademia
Nazionale dei Lincei , de Roma . As muitas solicita ções que tenho recebido ,
desvanecido , de pessoas que desejavam v ê - las impressas , levou - me a reuni -
las e publicá - las .
As palestras se dirigiam a um p ú blico que tinha curiosidade pelo
mundo dos f í sicos e , nelas , tentei descrev ê - lo como o faria para um amigo
pr ó ximo que trabalhasse em outro campo de atividades . Em outras palavras ,
tentei mostrar n ã o apenas principais descobertas , mas tamb é m a forma
como se chegou a elas , as personalidades dos f í sicos rnais importantes e os
erros que foram cometidos antes de que se descobrisse o caminho correto . O
lado humano e a sequ ê ncia dos acontecimentos , com frequ ê ncia , assumem
uma dimens ã o dram á tica .
A experi ê ncia també m me mostrou que muitos jovens cientistas
desejam conhecer mais a respeito das personalidades dos ciendstas impor -
tantes e n ã o uma mera sucess ã o de nomes ligados a alguma descoberta ;
espero que o presente livro possa , ao menos parcialmente , satisfazer essa
leg í tima curiosidade .
O livro n ã o pretende de forma alguma constituir - se em uma hist ó ria da
f í sica moderna , e menos ainda ser um texto resumido da mat é ria . Trata - se ,
na realidade , de urna vis ã o impression í stica dos acontecimentos, da forma
como os vi ao longo da minha carreira cient í fica , que come çou por volta de
1927 . Naturalmente , tal enfoque n ã o pode ser abstraí do de contexto geral e ,
por esse m ó rivo , o relato se inicia antes . A escolha de pessoas e de temas é,
portanto , subjetiva , limitada e matizada pelas minhas experi ê ncias pessoais .
Agrade ço à falecida Sra . Laura Fermi , ao Professor J . Heilbron e a
muitos dos meus contempor â neos e colegas por suas cr í ticas e sugestõ es .
També m agradeço ao ProfessorF. Rasetti , ao Instituto Solvay , ao CERN , ao
Instituto de Tecnologia da Califó rnia e ao Laborat ó rio Lawrence Berkeley ,
al é m de a outros , pelas ilustra ções .

Emiiio Segr è
janeiro de 1980
!
Capitulo I
1 Introdu ção

Matemática e Física s ão palavras que quase sempre evocam lembran ç as


desagrad á veis de conceitos difíceis de entender e que se relacionavam com
indiv í duos estranhos . Em minha fase escolar , os professores vez por outra
diziam que as ci ê ncias eram um assunto “ á rido ” e muitos estudantes
concordavam com essa classifica ção. A vis ão das f ó rmulas matem á ticas
impressas era uma indica çã o certa de incompreensibilidade ou até de magia
negra . Mesmo hoje em dia , as ci ê ncias s ão acusadas de atividades in í quas
com tanta frequ ê ncia que nos esquecemos de que a elas també m podem ser
atribu ídas algumas boas ações .
A despeito dessas opiniões negativas , a pesquisa cientifica é t ão
fascinante , dram á dea e plena de interesse humano quanto a cria çã o artistica .
N ã o obstante, a maior parte dos aspectos histó ricos e biográficos que ganham
realce em disciplinas literárias ou art ísticas quase sempre são omitidos no ensino
das ci ê ncias . Tal fato ocorre provavelmente em razão do cará ter cumulativo
das ciê ncias. Se n ão tivesse havido um Newton , alguma outra pessoa teria
inventado o cálculo e descoberto a gravitação , mas sem Shakespeare n ão teria
havido um Hamlet . Portanto , encontram -se mais justificativas para o estudo
da vida de Shakespeare do que para o estudo da vida de Newton .
Acredito , entretanto , que tamb é m a fí sica tein um rico componente
humano , e é sobretudo esse componente que desejo descrever aqui .
Restrinjo-me à f í sica, porque é o campo de que tenho conhecimento direto .
Espero que essa familiaridade possa ajudar - me a transmitir um pouco da
inspira ção , do esfor ç o criativo e do drama contido no trabalho cient í fico .
F.sses aspectos hist ó ricos deveriam ser de interesse n ão apenas para
f í sicos . Com frequ ê ncia se diz — e provavelmente com razão
s éculos XIX e XX constituem uma era t ã o brilhante e t ão peculiar para as
— que os
ciê ncias quanto a Renascen ça o foi para as artes . Aqueles que tiveram a
ventura de ser contempor âneos dos Michelangelos ou dos Shakcspeares de
nossa era poder ã o recordar -se desse fato com uma rapidez e umpathos que
superam aquilo que se pode depreender apenas das obras. Embora Marie
Curie , um dos maiores expoentes desta outra Renascen ç a , tenha dito que
‘ riz Science nous devons nous int éresser aux choses , non auxpersonnes" ( em ci ê ncia ,

devemos interessar - nos pelas coisas e n ão pelas pessoas ] , acredito que tal
opini ã o seja excessivamente r ígida .
Neste livro tentarei evocar as personalidades de alguns dos grandes
f í sicos deste s éculo e salientar algumas de suas realiza çõ es , procurando
2 Introdu çã o Introdu çã o 3

torn á - las apreens í veis para os leigos . Com um pouco de boa vontade e za çà o dos franceses pode ser medida pela rea çã o de Pasteur e de outros
algumas lacunas , isso ser á poss í vel . Evitarei ser muito t écnico para ser cientistas franceses diante dos desastres da guerra . Amargurados , feridos no
intelig í vel para aqueles que n â o s â o profissionais . De quando em vez , os mais fundo de seu patriotismo , associaram eles a derrota à atitude de
leitores poderã o pular algumas p áginas , se as acharem muito dif í ceis , sem negligê ncia quanto à s ci ê ncias nos cinquenta anos anteriores e lembraram
perder o fio da meada . com orgulho o papel desempenhado pelas ci ê ncias na defesa do pa í s durante
Mas é necess ário que se tenha algum conhecimento de f í sica . Embora a Revolu ção e durante as guerras napoleô nicas . Pasteur esperava que , atrav é s
todos possamos admirar o Davi , de Michelangelo , ou ler Hamlet ( e mesmo das ci ê ncias , se pudesse apressar a recupera çã o da Fran ça .
nesses dois casos pode haver grandes diferen ças de ponto de vista , A Alemanha , em r á pido processo de ascens ã o e dominada pelos
dependendo de nossa forma ção ), n ã o é poss í vel entender a dupla natureza militares , tinha tomado um rumo imperialista . A longa luta entre a
dos quanta de luz ou a equa çã o de Schr õdinger sem um m í nimo de preparo. autoridade civil e a autoridade militar , que durara mais de sessenta anos ,
As fó rmulas matem á ticas simplificam a hist ó ria . A matem á tica é a linguagem infelizmente terminara com a vit ó ria dos militares . Bismarck fora demitido
natural da íí sica , conforme Galileu salientou , c , embora Volta e Faraday em 1890 . O C áiser Wilhelm II ( 1859 - 1941 ) era , entre os governantes da
tivessem escrito grandes teorias de f ísica sem fazerem uso de uma linguagem é poca , jovem e inexperiente . Considerando - se brilhante — o que n ã o era
matem á tica formai , pensavam matematicamente c o desconhecimento que
ambos tinham da inatem á tica - padrâ o os torna menos - e n ão mais - inteli -
verdade — acreditava ele que estava governando a Alemanha de forma
soberba e propiciando - lhe uma fase gloriosa . No in í cio da Primeira Guerra
gí veis . í ' : [ “ Levo -
Mundial , declarou o seguinte : lchfiihre euchherrlichen Zeiten entgeger
N ã o devemos ainda esquecer que muitos avan ços cient í ficos foram os a tempos gloriosos ” . ] Era apenas sua opini ã o .
conseguidos mediante as contribui çõ es de uma multid ã o de trabalhadores ,
que prepararam o terreno e fizeram o trabalho preliminar essencial . Trata - se No mundo de 1895 n ã o havia avi õ es , praticamente n ã o havia telefones
de pessoas quase sempre desconhecidas ou esquecidas em sua qualidade de e a eletricidade era muito prec ária . O oceano podia ser cruzado num navio a
indiv í duos , mas que, coletivamente , sã o indispens á veis . Al é m do mais , os vapor , mas mesmo ent ão , setenta e cinco anos depois que os transad â nticos
fatos cient íficos relacionam -se entre si e podem coincidir no tempo e no tinham come ç ado a fazer uso do vapor , os navios eram ocasionalmente
espa ço . Se procurarmos acompanh á - lo bem de perto , esse intrincado contra - equipados com velas suplementares . A principal forma de comunica çã o era
o correio , n ã o apenas entre lugares distantes , mas tamb é m dentro das
ponto pode levar a complicações e confus õ es . Por isso , escolhi seguir a
tend ê ncia dos eventos , às vezes em detrimento da ordem cronol ó gica estrita . pró prias cidades. Paris , por exemplo , tinha um sistema bastante rá pido de
correio pneum á tico: uma rede de tubos em que as cartas eram impulsio -
O Mundo do Físico em 1895 nadas por ar comprimido . As ruas eram iluminadas a gá s .
Em 1895 , n ão havia autom ó veis . Mas , dois anos mais tarde , quando
E natural que comecemos nossa hist ó ria por volta do ano de 1895 Erncst Rutherford visitou a exposi çã o do Crystal Palace , em Londres ,
porque durante dois ou três anos dessa é poca os f í sicos deram uma guinada escreveu o seguinte para sua m ãe: “ O que mais despertou meu interesse
decisiva: algumas descobertas experimentais ampliaram um conhecimento foram as carruagens sem cavalos , duas das quais estavam treinando nos
microscó pico do mundo ató mico. Os qu í micos j á sabiam da exist ê ncia dos p á tios em frente ” . Essas carruagens andavam a cerca de 12 milhas por hora
á tomos desde pelo menos cem anos antes e , atrav é s da teoria cin é tica dos mas faziam “ muito barulho ” e “ chocalhavam ” . Contudo , mesmo sem
gases , os f í sicos també m obtiveram bom aproveitamento das ideias sobre o autom ó veis havia acidentes de trâ nsito , quando os cavalos que puxavam
á tomo , mas nada se conhecia a respeito da sua composi çã o e estrutura . . cabriol é s ou charretes escapavam ao controle . Alguns anos mais tarde , em
No mundo ocidental , que foi onde come ç ou a revelar - se o conheci - 1906 , a ci ê ncia perderia um de seus maiores nomes em um desses acidentes .
mento da estrutura do á tomo , a Inglaterra , a Fran ç a e a Alemanha eram os N ã o havia polui çã o , mas as estradas cheiravam a estrume , consequ ê ncia t ã o
tr ê s pa íses l í deres na á rea de ci ê ncias . As tr ês grandes pot ê ncias passavam por inevit á vel dos meios de transporte daquela é poca quanto a fuma ça dos
situa çõ es pol í ticas e sociais diferentes . A Inglaterra estava no auge do nossos ve í culos movidos a gasolina . As cidades eram menores e mais bonitas
esplendor sob o império da Rainha Vitó ria. A Rainha , que se tornara do que hoje em dia , mas nem sempre dispunham de condi çõ es de
Imperatriz da í ndia em 1876 , estava no trono desde 1837 . A celebra çã o de saneamento satisfat ó rias .
seu jubileu em 1887 transfermou -se em uma demonstra çã o da lealdade do Os laborat ó rios de f í sica eram muito diferentes em mat é ria de
pais para com ela e de orgulho por seu impé rio . Enriquecida por 2.500 . 000 organiza çã o e de equipamentos se comparados com os atuais. Em geral
milhas quadradas de territ ó rios recentemente adquiridos , a Britannia havia apenas um professor , que quase sempre morava no pr ó prio labora -
“ dominava os mares ” em espl ê ndido isolamento . t ó rio e que tinha pouqu í ssimos assistentes . Atualrncnte , quando classifi -
A Fran ç a ainda estava sofrendo as consequ ê ncias das derrotas da guerra camos uma institui çã o , fazemo - lo segundo a pot ê ncia de seu acelerador ou
franco - prussiana de 1870 e 1871 , que representara violento abalo para seu talvez a capacidade de refrigera çã o de suas instala çõ es criogê nicas . Mas em
ego e para a imagem que o povo francê s tinha de si mesmo . A desmorali - 1895 os aceleradores c as instala çõ es criog ê nicas estavam muito longe de se
Introdu çã o Introdu çã o 5

tornarem uma realidade , embora a liquefa çã o do ar em escala comercial ti -


vesse sido conseguida antes daquele ano .
Uma das formas de classificar um laborat ó rio era segundo acapacidade
da bateria que esse laborat ó rio possu ía . Os laborat ó rios daquela é poca Figura 1.1 . Uma bobina dc
precisavam de eletricidade para as experi ê ncias , mas n ão podiam extrair Ruhmkorff. ( Dc Urbanitzky ,
eletricidade dos geradores , pela simples razã o de que praticamente n ã o havia Electricity , 1890 . ) Trata - se de um
transformador cm que a cor-
geradores ; assim , mantinham as baterias nos porões . Uma bateria era r e n t e no enrolamento prim á -
constitu ída por urna s é rie de pilhas elé tricas ; quanto maior o n ú mero dessas rio é repentinamente interrom -
pilhas , mais elevado o status do estabelecimento . Diversos tipos de pilhas pida. Tal fato gera urna volta -
el é tricas tinham sido aperfei çoadas desde a “ pilha el é trica ” original de Volta , gem elevada no enrolamento
de 1800 . Todas baseavam - se no mesmo princí pio , mas variavam na secund á rio , que lan ça uma cen -
telha no ar . O enrolamento ser -
composi çã o de seus el é trodos e nas solu ções eletrol í ticas . Muitos labora - via para suprir v á lvulas ou tu-
t ó rios cient í ficos usavam as pilhas de Bunsen , que podiam alcan ç ar alta bos de decarga .
voltagem ( até 1 , 95 volts ) e fornecer altas correntes . ,Mas era uma tarefa
bastante dif ícil mantê- las sempre em condi çõ es de funcionamento , pois
continham ácido sulf ú rico e á cido n í trico , que corro í am o an ó dio de zinco e criando entre os terminais do secund ário uma diferen ç a de potencial .
exalavam vapores fortes e inc ó modos . Embora o enrolamento prim á rio fosse feito dc arame grosso , com poucas
H á instru çõ es pormenorizadas sobre o manejo de baterias de pilhas de voltas , o secund á rio era um arame fino com tantas voltas , que tinha milhas de
Bunsen ê m um manual de fí sica franc ê s dc autoria de Adolphe Ganot , comprimento . Uma grande bobina de RuhmkorfTdesse per í odo , preservada
publicado em 1863. ( Foi a edi ção desse livro que me apresentou à f í sica 11a Royal Institution de Londres , tem um enrolamento secund á rio de 280
quando eu tinha mais ou menos onze anos dc idade. ) Ao rel ê - lo faz pouco milhas e podia produzir centelhas de 42 polegadas. Desse modo , o
tempo , fiquei impressionado com a lucidez dessas instru çõ es e delas passo a comprimento das centelhas , como a for ç a de urna bateria , podia servir de
traduzir alguns trechos: padr ã o para classificar um laborat ó rio .
“ A mistura de á gua e ácido sulfú rico deve ser preparada com A produ çã o de v á cuo tem dominado a pesquisa fí sica h á mais de cem
anteced ê ncia .. . Primeiro , entorne a á gua em uma tina de madeira , depois anos e todos os progressos feitos nas pesquisas sobre o á tomo coincidiram
acrescente o correspondente a um d é cimo do volume da tina de á cido com os progressos feitos na tecnologia do v á cuo . Nos laborat ó rios de 1895 , o
sulf ú rico , de forma a que a solu çã o indique 10 a 1 1 graus na escala de á cidos v ácuo , criado por bombas primitivas , era necess á rio para experi ê ncias sobre
de Baum é . Se n ão dispuser de uma escala de Baum é, a á gua ficará suficiente - descarga de eletricidade através de gases , experi ê ncias que resultaram na
mente acidulada quando se tomar t é pida e ningu é m suportar á uma gota descoberta dos raios X e do elétron n ã o muito tempo depois.
dessa água na l í ngua . As pilhas devem ser colocadas. .. em uma mesa dc A Figura 1.2 mostra a bomba que foi usada por Sir William Crookes em
madeira totalmenic seca .. . Depois , com um funil , entorne ácido n í trico no suas pesquisas sobre descargas el é tricas em tubos de v á cuo . Os tubos a serem
recipiente interno poroso at é um m á ximo de dois cent í metros abaixo da esvaziados de ar eram conectados à bomba atrav és do tubo de secagem que
borda ... Os cones truncados que se encaixam no filamento devem ser continha ácido fosfó rico , â direita . O merc ú rio no recipiente à esquerda
cuidadosamente trabalhados com uma lixa , para garantir uma boa cone - pingava pelo tubo descendente , expelindo o ar do aparelho bolha a bolha . O
xã o .. . O qu ê se precisa observar acima de tudo é a amalgamação das placas de n ível de merc ú rio no tubo medidor , como o n í vel de um baró metro , indicava
zinco . Uma placa dever á estar amalgamada quando se ouvir um sibilo na o grau de vácuo obrido . O reservat ó rio de merc ú rio tinha de ser levantado e
á gua acidulada enquanto a pilha n ã o estiver em uso .. . a água acidulada abaixado muitas vezes e manualmente , tarefa espinhosa para o té cnico
també m poder á produzir vapor e mesmo ferver .. . Para amalgamar as placas encarregado de esvaziar de ar os tubos e recipientes do professor . Em todas
de zinco .. . coloque - as , uma ap ó s a outra , em um vaso de lou ça que contenha essas bombas , o padr ão de v á cuo perfeito era o bar ó metro . O vácuo que se
um pouco de á gua acidulada e dois quilogramas de mercú rio e espalhe sobre podia conseguir com uma bomba desse tipo era cerca de um milh ã o de vezes
as placas com uma escova de ferro ... ” pior do que o que chamar íamos em nossos dias de um v á cuo decente .
Um dos instrumentos mais importantes da é poca era a bobina de Para saber em pormenor o que os f í sicos estavam fazendo na virada do
RuhmkorfT ( bobina de indu çã o ) , que era usada para produzir altas dife - século , precisaremos dar uma olhada em uma das principais publica çõ es da
ren ças de potencial e longas centelhas ( Figura 1 ) . O instrumento compunha - é poca , o Annalen der Physik . Pouco tempo antes , a mesma publicaçã o tinha o
se de duas espirais enroladas em urna barra de fen o cil í ndrica e isoladas entre t í tulo Annalen der Physik und Chemie , porque a f í sica e a qu í mica ainda eram
si . Urna bateria el é trica produzia uma corrente no enrolamento prim ário e consideradas corno ci ê ncias irm ã s , em contraste com nossa atual tend ê ncia à
essa corrente era repetidamente interrompida por um disjuntor . A varia çã o especializa çã o , que criou uma publica ção para cada sub- ramo da fí sica. Os
da corrente prim á ria induzia uma corrente no enrolamento secund á rio , remas tratados nos Annalen eram a liquefa çã o dc gases ; a mensura çã o de
6 Introdu çã o Introdu çã o 7

n ã o era isso em absoluio -o que acontecia . Em 1905 , por exemplo o


,
, com alguns cientistas rejeitando incontinenti a
ceticismo ainda imperava
teoria corpuscula r da mat é ria e outros reconhecend o a utilidade da teoria j
at ó mica na qu í mica , mas considerand o- a longe da reaJidade Esses
. cé ticos
4 nã o eram loucos nem incompeten tes . Por exemplo , pouco tempo antes Sir
Air
Ir a p -Jl -,
PhOiphOnC IU 1 1
Benjamin Collins Brodie ( 181 7 - 1880 ) , professor de qu í mica em Oxford ,
elaborara relat ó rios e escrevera livros para mostrar que os á tomos n ã o eram
necess á rios à qu í mica . Com toda a seriedade , desenvolver a um sistema de
t i onde os á tomos foram exclu í dos , e ao qual deu o nome de “ qu í mica ideal ” .
Sentiu - se ofendido quando usaram arames e bolas para construir modelos de
mol é c ulas em qu í mica orgâ nica : considerou essas constru çõ es como uma
“ obra de carpinteiro e de natureza inteiramente materialista ” , um ultraje ,
algo absolutamen te abaixo da dignidade da qu í mica . í
Em 1887 , o estandarte do antiatomism o foi erguido por Wilhelm
'

Osrwald ( 1853 - 1932 ) , um proeminent e qu í mico alem ã o e um dos primeiros s


li cientistas a serem laureados com o Pré mio Nobel ( 1901 ) . Naquele ano , na \l
qualidade de professor de qu í mica em Leipzig , Ostwald pronunciou uma
I Figura 1.2. Uma bomba dc v á cuo dc merc ú rio . ( De aula inaugural na qual apresentou uma doutrina “ energé tica ” , em que J

S. P . Thomson , Light Visible and Invisibte, 1897 . ) A afirmava que todos os fen ô menos podiam ser explicados atrav és da açã o
rec í proca da energia , sem a necessidade de á tomos. Mais tarde , publicou um
bomba ama prendendo o ar no tubo descendente. O
tubo rnedidor compara o vácuo obtido com o vácuo manual de qu í mica que n ã o usava a teoria at ó mica e em 1909 esse livro foi I
do bar ó metro .
traduzido para o ingl ês com o t í tulo de Fundamental Principies of Chemistry . 1
Ostwald manteve -se arraigado em sua posiçã o at é queJ .J . Thomson e S . A .
Arrhenius conseguiram abalar - lhe as convic çõ es e ele retratou -se na edi ção
calores espec í ficos; ondas eletromagn éticas e, especificam ente , tentativas de de 1912 de sua Allgemeine Chemie .
reproduzir , com ondas eletromagn é ticas , todos os fen ô menos da ó ptica: Entre os f í sicos , um dos mais not á veis c é ticos com rela çã o à “ hip ó tese ”
difra çâ o , rota çã o do plano de polarização , e assim por diante . A termodi - at ó mica foi Ernst Mach ( 1838 - 1916 ) , que era tamb é m afamado psicó logo . Na
nâmica tinha ent ã o cerca de quarenta anos de idade e ainda n ã o estava edi ção de 1906 de The Analysis of Scnsations , Mach faz referê ncia aos “ á tomos e
totalmente consolidada . As descargas de gás eram estudadas com a espiral de mol éculas hipoté ticos e artificiais ‘ da f í sica e da qu í mica ” e , sem negar “ o
Ruhmkorff ecom v álvulas como as das Figuras 1.6 e 1.7 . A teoria cin é tica dos valor desses instrumentos para seus prop ó sitos especí ficos e limitados ” ,
gases estava -se desenvolve ndo com grande rapidez , embora n ã o houvesse comparou - os aos s í mbolos da álgebra . Somente ap ós ver as cintila ções das
muita gente interessada nela , e algumas das grandes figuras que atuaram part í culas alfa é que se convenceu de que os á tomos existiam , ou pelo menos
nessa á rea n ão tivessem recebido o reconhecim ento que mereciam . Josiah diminuiu o n í vel de seu ceticismo .
Willard Gibbs ( 1839 - 1903 ) , que lecionava na Universida de de Yale, foi A razã o desse ceticismo tã o di í undido n ã o era tanto a oposi çã o ao fato
ignorado pela rfiaior parte do mundo cient ífico ( à exceçã o de Maxwell e de de que ningu é m nunca tinha “ visto ” um á tomo de maneira convincente .
alguns outros ). Ludwig Boltzmann ( 1844 - 1908 ) , um dos fundadores da Mesmo hoje em dia , ningu é m ainda viu um á tomo no sentido literal , mas as
mecâ nica estat í stica, lamentou -se em Viena de que ningu é m nos pa í ses de provas em favor dos á tomos sã o mais convincente s do que as provas em favor
l í ngua alem ã dava aten çã o à sua obra . Outros assuntos tratados nas publica - de coisas que muita gente tem “ visto ” , como milagres e discos voadores .
ções daquela é poca eram qu í mica , f í sica e dissocia çã o i ô nica , o in í cio do con - Devemos recordar tamb é m que , embora a Lei de Avogadro — volumes
ceito de íons em solu ção e o relacionam ento entre termodin â mica e equil í - iguais de gás à mesma temperatura e press ã o cont ê m o mesmo n ú mero de
brio qu í mico . Ningu é m pensava seriamente em construir modelos de á to -

moléculas tivesse sido formulada em 1811 , s ó em 1860 , quase cinquenta
mos ; isso n ã o apenas estava alé m da viabilidade, mas o á tomo ainda nao
tinha atingido pleno reconhecim ento . em um mol —

anos mais tarde , é que esse n ú mero de Avogadro o n ú mero de mol éculas
foi “ medido ” , ou que os cientistas tiveram um pressenti -
E evidente que os qu í micos sabiam da “ hip ó tese ” at ó mica , mas nem mento de sua magnitude , junto com a ordem de magnitude de diversas
todos participava m da cren ça na realidade dos á tomos . Numa vis ã o quantidades at ó micas , como a massa e o volume at ó micos .
retrospectiv a , uma vez que os qu í micos elaboravam fó rmulas qu í micas e No final do s é culo XIX , mesmo um homem como Max Planck receava
tinham conhecime nto da Lei de Avogadro e das Leis dc Eletró lise de manifestar sua cren ç a no á tomo . Conforme o pró prio Planck lembra na sua
Faraday , parece- nos que deveriam tamb é m ter acreditado nos á tomos . Mas Autobiografia Cient ífica , era “ n ão apenas indiferente , mas , em certa medida , at é
Ò
Introdu çã o

mesmo hostil à teoria ató mica ” . E só veio a aceitá- la quando ela se tornou
necessária para a fundamentaçã o teó rica de sua lei da radiação.
! Introdu ção 9

Proeminentes personalidades cient í ficas podiam facilmente ser identi -


ficadas em cada país . No Reino Unido , alista incluiria Lorde Kelvin ( William
Thomson , 1824 - 1907 ). Em 1895, Lorde Kelvin tin íTa setenta e um anos de
idade , recebera o t í tulo de barão tr ê s anos antes , ocupara a cadeira de
filosofia natural na Universidade de Glasgow durante quase meio século e era
considerado o maior íísico do Reino . Tinha sido enorme a influ ê ncia por ele
exercida sobre as gerações de estudantes a quem orientou e inspirou direta Figura 1.3. Hcndrik Antoon Lorcniz
ou indiretamente através de suas obras . Um contempor â neo de Lorde (1853- 1928) . O trabalho de Lorentz
Kelvin , ainda mais importante que ele, foi James Clerk Maxwell ( 1831 - 1879 ), marca os limites alcan çados pela
que morrera jovem , e s ó mais tarde foi reconhecido como um dos maiores fisica cl á ssica e constitui o elo entre
a geração de Maxwell e a de Einstein
f í sicos que já existiram . Outros luminares brit ânicos desse per í odo foram e Planck.. A personalidade de Lo -
Lorde Rayleigh ( 1 842- 1919 ) , o qu í mico Sir William Crookes ( 1 832- 1919 ) c Sir reniz exerceu forte influê ncia no
Willi à m Ramsay ( 1852 - 1916 ) . Em 1884 ,J .J . Thomson ( 1856 - 1940 ) sucedeu a mundo dos f í sicos em raz ào do
Lorde Rayleigh como “ professor Cavendish ” da Universidade de respeito que ele inspirava. ( Fun -
Cambridge, cargo que ocupou durante trinta e cinco anos . Mas , entre as da çã o Nobel . )
v á rias gerações de f í sicos , ele pertencia a um grupo mais
jovem . Michacl
Faraday ( 1791 - 1867 ) , que , para n ó s , parece pr é - hist ó rico , n ã o estava mais
distante da gera çã o de 1895 do que Max Planck , que morreu em 1947 , est á eletromagn é ticas , provando por a mais b a validade das equa çõ es de Maxwell
para a nossa gera ção; na realidade , aparentemente estaria mais pr óximo , e inaugurando o campo da radiocomunicaçà o .
porque no século passado a ci ê ncia caminhava em ritmo mais lento . Eram esses os grandes nomes da ci ê ncia em 1895 . Mas havia tamb é m
O cen ário cient í fico da Fran ça era dominado por Louis Pasteur ( 1822 uma gera ção mais jovem , na qual estavam inclu ídos J . J . Thomson na
1895), bi ólogo , f í sico e qu í mico , que morreu no mesmo ano de 1895. N ão
-
Inglaterra ; Ludwig Boltzmann , na Á ustria ; Max Planck ( 1858 - 1947 ) e Philipp
havia nenhum f í sico francês que possu í sse a estatura cient í fica de Pasteur ; Lenard ( 1862 - 1947 ) , na Alemanha ( Einstein nessa é poca tinha apenas
Ampere ( 1 775- 1836 ), Fresnel (1788 - 1827 ) e Carnot ( 1796 - 1832 ) já eram dezesseis anos de idade, era um desconhecido e n ão se sobressa ía muito
figuras do passado. Pasteur era o representante da ci ê ncia francesa , um como estudante ) , eJules - Henri Poincaré ( 1854- 1912 ) , na Fran ça . Poincaré
cientista e tanto , um grande benfeitor da humanidade e uma personalidade estava apenas na casa dos quarenta , mas já era universalmente reputado

arrebatadora pelo menos a distâ ncia . Embora aqueles que escrevem sobre
Pasteur o pintem como um santo , os in ú meros documentos pol ê micos que
corno o maior matemá tico vivo. Interessava-se não apenas por matem á tica ,
mas tamb é m por f í sica , astronomia e filosofia , al é m de ser considerado um
elaborou d ão a entender que deve ter sido um homem bastante inclinado ao dos maiores talentos liter á rios da Ffan ça . Seus famosos cursos na Sorbonne
debate . Incorporava o esp í rito otimista do fim do s éculo : esperan ç a no foram essenciais para a divulgação do Treatise on Electnáty , de Maxwell , entre
progresso , confian ça em que a ci ê ncia solucionaria todos os problemas e os os eruditos de todo o Continente.
cientistas e outros pensadores serviriam , em ú ltima instâ ncia, de inspiração H . A . Lorentz ( 1853 - 1928 ) , tamb é m foi um dos luminares daquela
essa que foi ' derrotada pela Primeira Guerra Mundial e desde ent ão
desapareceu da face da terra . Pasteur proclamava de forma eloquente que os

para todas as pessoas com suas ideias de concó rdia e de justi ça convicçã o é poca (vide Figura 1.3) . Representava a Holanda , qtie gozava de um
desabrochar cientifico t ão extraordin á rio que vá rios de seus melhores
cientistas tiveram de emigrar por n ã o encontrarem emprego em seu pr ó prio
laborat ó rios eram os templos da humanidade , que a paz prevaleceria sobre a pais .
guerra e que a ciê ncia conduziria a é pocas de gl ó ria. Calculo que em 1895 havia aproximadamente mil f í sicos , em compa -
A figura mais eminente da ci ê ncia alem ã era Hermann Ludwig ra çã o com os sessenta mil que provavelmente existir ã o hoje em dia. Eram
Ferdinand von Helmholtz ( 1812- 1894) . Helmholtz desfrutou de uma razoavelmente bem pagos e relativamente bem considerados . N ã o é
posi çã o ú nica e bastante influente na Alemanha , semelhante à posiçã o de seu verdade , conforme acreditam algumas pessoas , que a import â ncia virai das
arnigo Lorde Kelvin , na Inglaterra . Era rival de Maxwell r parte de sua obra ci ê ncias só tenha sido reconhecida h á pouco tempo . Um cientista como
sobre a teoria da eletrodin âmica , que discordava da teoria de Maxwell , Helmholtz podia aproximar - se do C áiser sempre que quisesse; o Cá iser,
manteve durante muitos anos uma divis ã o entre os cicndstas . Foi Heinrich demonstrando seu interesse pelas ci ê ncias , fez com que a nova Postdamer
Hertz ( 1857 - 1894 ), o aluno mais brilhante e mais admirado de Helmholtz , Bnicke fosse decorada com as est á tuas de C . F. Gauss , “ o Pr í ncipe dos
quem resolveu o conflito cm favor de Maxwell . Em 1887 , Hertz levou a Matem á ticos ” , de W. CL R ò ntgen , de H . Helmholtz edo industrial e inventor
cabo as famosas experi ê ncias em que demonstrou a exist ê ncia das ondas de aparelhos el é tricos W . v . Siemens . ( Essas est á tuas foram destru ídas
10 Introdu çã o Introdu ção 11

durante a Segunda Guerra Mundial . ) Na Fran ça , Napole ã o III , imitando cena na Itália e na Fran ça durante pelo menos trinta anos . A alegoria
seu
ilustre tio , recebia cientistas importantes na Corte. A Inglaterra concedia o mostrava o lluminismo levando o Obscurantismo, que era o g ê nio das
grau de cavaleiro a seus cientistas famosos com a mesma frequ ência com que trevas, a testemunhar as grandes descobertas e as grandes inven çõ es de uma
o faz hoje em dia e, de quando em vez , elevava os maiores dentre civilizaçã o que se inspirava no Poder Divino : o barco a vapor , o “ tel égrafo
eles à
categoria de nobres — Lorde Kelvin , por exemplo. Lorde Rayleigh quase
sempre recebia em sua propriedade a visita de amigos pol í ticos , inclusive do
el é trico ” , o canal de Suez e o t ú nel do monte Cenis . O Obscurantismo então
assistia ao espet áculo de todas as pessoas unidas num elo de fraternidade ,
Primeiro - Ministro . enquanto que , a seus p é s , a terra se abria e o tragava. O bal é se encerrava com
Essa é poca , que testemunhou o nascimento de uma nova f í sica , o triunfo da Ci ê ncia , do Progresso , da Fraternidade e do Amor .
caracterizou -se por pensamentos novos e empreendedores em todas as
á reas , n ão apenas nas ci ê ncias. Era um período de fermentação social Novos Horizontes
e
intelectual , de exalta çã o do indiv í duo na literatura e de revolta contra o
-
academicismo nas artes apenas a arquitetura proclamava de maneira Agora voltemos à f í sica propriamente dita e à obra que levou ao enten -
obstinada as virtudes do passado . Eclodiam movimentos de car á ter socialista dimento da estrutura ató mica . Os anos de 1895 a 1897 foram fundamentais
em todos os lugares , enquanto que o anarquismo atingia o cl í
max da em raz ã o de quatro grandes descobertas : os raios X , o el éctron , o efeito
viol ê ncia com o assassinato de membros da realeza e de chefes de Estado . Zeeman e a radioatividade . Embora a descoberta do el éctron tenha sido a
Na França , os impressionistas e outras novas escolas de pintura estavam ú ltima do ponto de vista cronol ógico (foi conclu ída apenas em 1897 com a
em ebuli çã o , embora n ã o fossem muito valorizadas as obras mais mediçã o da propor çã o crnre sua carga e massa ), dela tratarei em primeiro
contro -
versas , como as de Van Gogh , que n ão encontravam nenhum mercado . No lugar , visto que é parte do resultado da longa preocupa çã o de cientistas do
mundo da m ú sica , Debussy continuava a compor na semi - obscuridade . s éculo XIX com a descarga de eletricidade em tubos de “ v á cuo ” .
As
duas grandes figuras literá rias eram Anatole France e Émile Zola . France Em um antigo estudo ( 1883 ) , a respeito de descargas el é tricas em gases ,
retratava o car á ter espec í fico de seu pa í s e Zola era um romancista Michael Faraday descobriu que “ a rarefa çã o do ar favorece extremamente
da escola
naturalista , bastante popular , que acusou a sociedade francesa ao defender
a fen ô menos de incandescê ncia ” ( “ Experimental Researches on Electricity ” ).
inocê ncia de Dreyfus no affaire que manteve o pa í s em turbul ê ncia por v á rios Examinou a incandesc ê ncia em diversos gases a baixa pressã o e nunca
anos no final do s é culo . conseguiu isol á - la em “ descargas intermitentes vis í veis e elementares ” .
A Inglaterra passara pela pungente experiê ncia intelectual de Descreveu a beleza dessa incandescê ncia e observou o espa ç o escuro nas
assimilar a
teoria da evolu ção de Darwin . Em 1895, treze anos ap ós a morte de Darwin , Her proximidades do anodo que hoje em dia leva seu nome . O vácuo que
bert Spencer , o filósofo do movimento científico na tradição darwiniana , ainda- conseguia obter era muito parco , mais parco do que ele , Faraday , podia dar -
estava bem vivo aos setenta e cinco anos de idade , e continuava se conta, embora tivesse consciê ncia de que “ o vácuo mais perfeito que se
a pensar e a
escrever manifestando a confian ça no progresso que era t í pica daquela fase . podia conseguir ” estava longe de ser um v á cuo absoluto.
Na literatura , Oscar Wilde deliciava as platéias com peças espirituosas , Em 18 58 , Julius Pl úcker teve a id éia de aproximar um im ã de um tubo
enquanto Thomas Hardy e George Meredith , com uma tend êpcia de “ v á cuo ” para ver o que aconteceria à descarga. Pl ú cker ( 1801 - 1868 ) era
algo
sombria , escreviam os ú ltimos romances vitorianos. H . G . Wells e G . B . um matem á tico alem ã o , um topó logo que mais tarde veio a ser professor de
davam os primeiros passos de suas carreiras . Shaw , ainda um iniciante como
Shaw
f í sica em Bonn e passou a interessar -se pela rela çã o entre magnetismo e
dramaturgo popular , exercia maior influ ê ncia como esp í rito provocativo da descargas de gás (devemos recordar que naquela é poca era normal que um
Sociedade Fabiana , uma instituição socialista , do que como escritor . cientista se dedicasse a mais de urn campo: Gauss era matem á tico e f í sico ,
A Alemanha produzira Friedrich Nietzsche , o poeta de Assim Kirchhofi era qu í mico e professor de fisica teó rica ) . Quando Pl ú cker
Falou
Zaratustra e o fil ósofo do super - homem movido pelo “ desejo de poder ” . aproximou o í m â do tubo de v á cuo , percebeu algum desvio magn é tico da
As
doutrinas de Nietzsche eram uma manifesta çã o dr á stica e completa do descarga . No ano seguinte , registrou ter visto uma fosforescê ncia verde no
esp í rito inovador e de revolta contra os valores vigentes no final do s é culo vidro do tubo perto do c á todo e conseguiu fazer com que as manchas de
XIX . Em 1895, Nietzsche estava doente e n ã o mais escrevia fosforescê ncia mudassem de pusi çã o usando um im ã . Mas n ã o p ôde fazer
mas
influ ê ncia começava a fazer -se sentir nas obras de outros , como sua muito mais , porque o v á cuo que tinha conseguido n ã o era suficiente.
exemplo, na poesia e nos romances de Gabriele D ’ Annunzio , por
expoente £ m 1869 , Johann Hittorf ( 1824 - 1914 ) , aluno de Pl ú cker , teve mais
estetico e fan á tico do nacionalismo italiano bornbas de merc ú rio
e futuro “ super - homem ” da sucesso Nos anos
. intermedi á rios , as primeiras
Primeira Guerra Mundial . Infelizmente , os ideais de Nietzsche entraram em uso e ele conseguiu esvaziar os tubos al é m do que seus
inspirar homens mais perigosos, como os futuros ditadores
viriam a '

Mussolini e antecessores tinham conseguido . Percebeu a sombra projetada de um objeto


Hider . colocado em frente ao cá todo , sinal de que a descargase originava no pró prio
O otimismo predominante e a cren ça nas ci ê ncias no cá todo . O nome Kathodenstrahlen , raios catódicos , foi inventado em 1876 por ,
final do s é culo
forarn expressos no aclamad í ssimo Bal é Excelsior . criar ã o iialiana lavada E . Goldstein ( 1859 - 1930 ) . Em 1879 , William Crookes efetuou pesquisas .
*

3
12 Introdu çã o 13
Introdu çã o

sistem á ticas dos raios cat ódicos em tubos que esvaziara


bomba apeifei ç oada que ele mesmo havia desenhado . É de ar coin uma Todas essas atividades coincidem no tempo c não há d ú vida dc que vários
dos trabalhos feitos
es cient í ficas e informavam
um de seus relató rios que Crookes tinha certeza de ter elucidativo ler em cientistas liam as publicaóçõ se
rios . Agora , tratemos da Holanda e de Pieter
especialmente satisfató rio. A pressão interna era de 40 x atingido um v ácuo
10 3 mil í metros de

ein diferentes laborat
mercú rio , cerca de um milh ã o de vezes mais elevada l ceinan .
dispomos nos grandes aceleradores modernos , e n ão do que a de que
ele teria conseguido medi - la . consigo imaginar como pieter Zeeman
Hoje em dia. sabemos que os raios catódicos o
movem rapidamente, mas naquela é poca ningu é m s ã eléctrons que se O nome electron já tinha sido sugerido por G. Johnstone Stoney' ern
cimento da pr ó pria exist ê ncia dos el éctrons . O que tinha qualquer conhe- IS 94 . Al é m disso , acreditava - se que as cargas elé tricas que se movem dentro
se
raios cató dicos era que sa íam do cá todo de um tubo sabia a respeito dos do á tomo erain responsáveis pela emiss ã o de luz . V á rios outros fen ô menos
ar , atingiam a parede do tubo do lado altamente exaurido de serviam para apoiara id éia de cargas elé tricas puntifonnes , mas as opiniI ões a
viajavam aparentemente em linhas retas, visto que
oposto , tornando - a luminosa , respeito do tema eram vagas . De repente, em 1894 , Pieter Zeeman ( 865-
caminho projetavam sombras n í tidas , e eram desviados objetos colocados em seu 1943 ), um jovem fí sico desconhecido que trabalhava em Leyden , fez urna
ningu é m pudesse ter certeza a esse respeito . por um í m à, embora desco berta fundamental que foi imediatamente seguida por uma explica çã o
Surgiram inflamadas discuss õ es com rela çã o à .* teó rica do já famoso H . A . Lorentz.
cat ódicos . O que eram ? Alguns diziam natureza dos raios Zeeman nasceu na Holanda . Estudou com Kamerlingh Onnes e mais
que eram corp úsculos , part ículas tarde tornou - se assistente de Lorentz . Ainda lia Faraday como ciê ncia viva e
projetadas do cá todo; outros acreditavam tratar -se de
que possa parecer , as opini ões se dividiam segundo as ondas. Por estranho como fonte de inspira çã o . Observou que Faraday , em sua eterna procura de
1892 , Hertz afirmou ter prova experimental de nacionalidades . Em uma rela çã o entre as v á rias “ forças da natureza ” , tinha tentado influenciar a
podiam ser part ículas, logo, tinham de ser ondas.
que os raios cat ó dicos n ã o luz pelo magnetismo . Essas tentativas tinham levado à importante desco -
Wiedenlann ( 1826 - 1899 ), Goldstein e todos os f ísicos alemGustav Heinrinch bata da rota ção magn é tica do plano da polariza ção da luz produzida em
Mas na Inglatera , Crookes insistia em que esses ã es concordavam . vidro por um campo magn é uco ; h á um famoso retrato de Faraday segurando
raios eram part í culas um pedaço de cristal de rocha que imortaliza o fato . Em 1862 , em uma de
carregadas eletricamente (Crookes chamou - os de
alguns fí sicos ingleses - Kelvin , J . J . Thomson entre maté ria radiante ” ) e
afirmar que eram “ part í culas ” . outros - insistiam em
suas ú ltimas experi ê ncias , Faraday tentou tamb ém — sem sucesso
influenciar a emiss ã o de luz de vapor de s ódio por um campo magn é tico .

Finalmente , em 1895 na Fran ça, Maxwell , em 1870 , també m negara a possibilidade desse fen ô meno .
descobriu suficientes provas de que osJean
Baptiste Perrin ( 1870 - 1942) Zeeman percebeu que dispunha de uma aparelhagem muito melhor
raios cat ó dicos eram part í culas do que a de Faraday . Um pequeno efeito podia ter escapado a Faraday , que
carregadas negativamente. Tendo produzido i aios cató dicos em
descarga bastante exaurido de ar , deslocou - os para uma grade dum tubo de trabalhava com espectioscó pios prism á ticos de baixo poder de resolu ção ,
demonstrou que tinham carga negativa. Podiam ser desviados por um
ç Faraday e enquanto que Zeeman podia fazer uso de uma grade de difra çã o . Anun -
levados para dentro da grade de Faraday ou dela retirados , dependendo im ã e ciando a descoberta do “ efeito Zeeman ” , ele disse o seguinte:
movimenta çã o que se fizesse com o í in ã. Foram experi ê ncias da “ Se um Faraday pensava na possibilidade da relaçã o acima citada ,
que abriram caminho para outras descobertas. importantes talvez ainda se possa tentar experimentar mais uma vez com os excelentes
Jean Perrin era um eminente f ísico franc ês formado em Paris engenhos da especiroscopia de hoje , pois ao que eu saiba , isso ainda n ão foi
NormaleSupé rieure . Era pai de um outro f í sico importante , Francispela É cole
assim fundou uma das mais proeminentes dinastias de
(outras importantes fam ílias de cientistas foram os
Perrin , e
cientistas da França
Becquerel ,
» feito por ningu é m ” . [ Philosophical Magazine ( 5 ) 43 , 226 ( 1897 ) . ]
Zeeman tentou a experi ê ncia e logo observou um leve alargamento das
linhas espectrais criadas pelo campo magn é tico (vide Figura 1.4). Deu -se
Brillouin , algumas das quais serão estudadas mais adianteos). Curie e os conta de que as bordas das linhas ampliadas eram polarizadas e , ao
Primeira Guerra Mundial , Jean Terrin fez delicadas Antes da aperfei çoar a t é cnica , percebeu um tr í plice ou um d ú plice de acordo com a
movimento browniano usando esferas coloidais de guta - percha
experi ê ncias sobre o orientação relativa da dire çã o de observa ção e do campo magn é tico.
atuavam como mol é culas gigantes . A partir dessas experi
, que Comunicou sua descoberta a Lorentz , que logo apresentou uma explicação a
ê ncias , determinou respeito das observa çõ es .
indiretamente a carga do el éctron . No final de sua vida , veio . .*

ativamente da pol í tica francesa como militante esquerdista e participar A id é ia fundamental é que a luz era emitida por part í culas carregadas
Nova Iorque ap ó s ter fugido da Fran ça ocupada .
morreu em ( el éctrons) que se moviam no á tomo . O movimento dessas paruculas era
Entre o trabalho de Perrin c o trabalho diretamente i influenciado pelo campo magn é tico correspondente às leis clássicas do
Thomson , fez -se alguma coisa de import â ncia sobre o el é ctron
correlato dej. J V
clearoniagnetismo. A partir da mudan ça de frequ ê ncia da luz emitida ,
técnicas espectroscópicas, mas relacionada com o
ligado com Zeeman e Lorentz puderam determinar e/m , a carga espec í fica das part í culas
problema geral do eléctron . que provocam a emissão de luz , bem como o sí »r>b*4e da carga . Zeeman
Ss ml
14 Introdu çã o 1 n tradu ção 15

Joseph John Thomson

Na é poca em que o el é ctron foi descoberto , J . J . Thomson era professor


Cavendish da Universidade de Cainbridge ( vide Figura 1.5 ) . Nascido em
1856 , nos arredores de Manchester , e pertencente a uma fam í lia ligada ao
com é rcio , esperava - se dele que prosseguisse com as atividades familiares ,
mas as circunst â ncias o conduziram ao estudo de ci ê ncias e , em 1876 , foi
admitido no Trinity College de Cambridge. Ali preparou - se , como era
comum naquela é poca , para um severo exame escrito , conhecido popu -
larmente como tripo, ern razão dos trip é s cheios de carvão usados para
aquecer as salas onde se realizavam as provas . Os aprovados eram apelidados
de wranglenEm 1880 , terminou o curso como segundo wrangler , como
Maxwell o fora anos antes .
J . J . Thomson assistiu a algumas das aulas de Maxwell , mas foi com
Lorde Rayleigh , que sucedeu a Maxwell como professor Cavendish , que
Thomson concluiu diversos estudos te ó ricos . Em 1884 , Rayleigh renunciou
à cá tedra , pois tinha - se comprometido a n ã o exercê - la por mais de cinco
anos . Thomson candidatou - se a ocupar seu lugar , conforme ele mesmo
relata , “ ponderando seriamente sobre o trabalho e a responsabilidade
envolvidos ” . Tinha apenas vinte e oito anos de idade e n ã o esperava que o
escolhessem . Mas , para sua surpresa , foi ele o escolhido . Os que o indicaram
ou tiveram muita sorte ou enxergavam muito . Thomson diz ainda : “ Senti -
me como um pescador que , com um aparato de pesca de segunda , tivesse
Figuja 1.4 . O efeito Zeeman nas linhas espectrais amarelas por acaso lan çado a linha em um local pouco promissor e fisgasse um peixe
de sódio
( linhas D ) . No alto, as linhas Dj c D na aus ê ncia
2 de um campo excessivamente pesado para sei trazido à terra . Semi a dificuldade de
magn ético. Embaixo , as mesmas linhas se multiplicam quando
a perseguir a emin ê ncia de um homem como Lorde Rayleigh ” . E de observar -
fonte é colocada em um campo magn ético. As linhas m ú ltiplas sà o
polarizadas . A direçã o da observaçã o está em â ngulo reto
com a do se que ele n ã o faz men çã o a Maxwell , embora cm outro trecho se refira à
campo magn é tico. indica çã o do primeiro professor Cavendish (fevereiro de 1871 ):
“ Acredita - se que a universidade primeiro tivesse procurado contato
i com Sir William Thomson ( mais tarde Lorde Kelvin ) e depois com von
Helmholtz , o grande f í sico e fisiologista alem ã o , mas nenhum dos dois tinha
cometeu primeiro um erro com rela çã o ao sin â l , mas condi çõ es de aceitar o cargo . Na é poca de sua escolha , a obra de Maxwell era
logo o corrigiu . Em
questã o de sinais , mesmo um holand ês t ão meticuloso conhecida de muito poucos e sua reputa çã o n ã o se comparava à que tem hoje
quanto Zeeman pode
desorientar -se . em dia ( 1936 ) . . . O fato é que , mesmo quando de sua morte , a verdade a
1

As descobertas de Zeeman que mais merecem


aten ção sà o o sinal
respeito de sua suprema contribui çã o para a f í sica —
a teoria do campo
eletromagn é tico - ainda era uma quest ã o em aberto ” . ( Recollections arui
negativo e o valor de e/m , que era cerca de mil vezes maior
para um á tomo inteiro com base nas noções primitivas do que se esperava Reflections , págs . 96 e 101 . )
então tinham a respeito de massas ató
que os cientistas de
micas. O efeito Zeeman provou mais Thomson conseguiu renovar o laborató rio , introduzir novos m é todos
tarde ser um instrumento poderoso para esclarecer de ensino e fundar uma escola de pesquisas que teve grande ê xito . Uma s é rie
a
decisivo para a descoberta do princí pio de Pauli, do estrutura ató mica , e de descobertas fluiu do Laborat ó rio Cavendish : entre as principais , citem - se
pormenores sobre o mecanismo da emissão , e assim spin do el éctron de o el éctron , a câ mara de nuvens , os primeiros trabalhos importantes na á rea
se perfeitamente na mecânica qu ântica e tomou -se por diante. Enquadrou - da radioatividade , e is ó topos . Entre os estudantes estavam Rutherford , C .
para ela uma importante T. R . Wilson , R . J . Strutt ( filho de Lorde Rayleigh ) , J . S . E . Townsend , C . G .
prova experimental .
Barkla , O . W . Richardson , F. W . Aston , G . I . Taylore G . P. Thomson , e todos
Nas experi ências de Zeeman , os eléctrons estavam se tornaram famosos .
á tomos . Mais ou menos ao mesmo tempo , os el é presos dentro dos
ctrons livres tamb é m faziam
sua entrada no palco da f í sica , sobretudo através da obra
de . . J J Thomson . N . T .: Nome dado na Universidade de Cambridge aos melhores estudantes de matem á tica .
1 (>
Introdu çã o Introdu çã o 17

Figura 1.6. ( a ) Uma das válvulas de des -


B V carga dc Thomson , reproduzida de
um desenho publicado na Philosofihual
Magaiine [ 4 4 , 293 ( 1897 ) ]. Os el é ctrons
gerados pelo cá todo A podern ser des-
© viados por urn im à externo e transfe -
ridos para um coletor ( gaiola de Fara -
day ) conectado a um eletr ô metro que
Earth. mede a carga total ( b ) Outra das válvu -
,

las de descarga de Thomson , repro -


c duzida da mesma publica ção. Um fei -
xe de raios cat ó dicos emitidos pelo
c á todo C e focado em A e B passa entre
D e E , onde h á um campo el é trico . Um
campo magn é tico perpendicular ao
(a) ElectrorrwUr campo el é trico c criado por espirais
localizadas fora da vá lvula .

: i' 7o
Dc
r

A TX
Figura 1.5. Joseph John Thomson ( 1856 - 1940 ) , o famoso f í sico
ingl ê s , celehVà do por suas ( b)
experi ê ncias com o élcctron e os is ótopos. Foi o terceiro diretor do Laborat
Uma foto de Thomson estudando uma vá lvula de raios ório Cavendish .
cat ó dicos pode ser vista no Sal Ao
Maxwell de Confer ê ncias do Laborat ó rio . Aparentemente,
Thomson n á o tinha muita
destreza , mas seu racioc í nio era r á pido quando se tratava de
aparelhos. ( Laborat ó rio Cavendish , Universidade de Cambridgc. ) funcionamento dos
captar o
sua experiência . Na Figura 1.6 - a , os raios íoram produzidos a partir do
cá todo A na válvula à esquerda . Através de uma fenda no â nodo B os raios
. i

passaram para a segunda válvula e puderam ser desviados com o uso de um


«

í m à para dentro de uma esp écie de gaiola de Faraday . A carga coletada foi
* v
negativa . Assim ficou demonstrado que os raios cató dicos eram partí culas
A descoberta dos raios X por Rõ ntgen ( assunto tratado mais carregadas negativamente . Experi ê ncias semelhantes tinham sido feitas por
adiante ,
neste mesmo cap í tulo ) permitiu um novo m é todo de ionização de
gases e J . Perrin na Fran ça . Em um segundo tipo de v álvula ( Figura 1.6 - b ) , os raios
maiores esclarecimento s a respeito do comportamento dos íons gasosos . cat ó dicos gerados em C foram passados atrav é s das fendas terradas A e B ,
Thomson começ ou a trabalhar nessa linha , que acabou por conduzi - lo ao formando um estreito feixe de raios que se transferiram para a extremidade
estudo dos el éctrons livres . da v álvula . O local em que o feixe atingiu a extremidade bulbosa da v álvula
Em 1897 , Thomson comprovou a natureza corpuscular dos raios foi marcado por um pequeno tra ço dc fosforescê ncia brilhante .
cat ó dicos e mediu a velocidade e a rela ção entre carga e masSa dos Quando Thomson conectou a.s duas placas de metal E e D ( vide Fig ura
corp ú sculos . A Figura 1.6 mostra duas das válvulas usadas por Thomson em 1.6 - b ) com os terminais de uma bateria , a mancha fosforescente moveu -se ,
mostrando que os raios cat ódicos eram desviados pelo campo el é trico . Com
Introdu çã o 19
18 Introdu çã o

urn campo magn é tico perpendicul ar ao campo el é trico , pôde ele ent ã o Pouco mais tarde , em 1899 , usando t écnicas e ideias desenvolvi
das por
. . Thomson mediu a carga e a massa do
desviar os raios magneticam ente. A deflex ã o magn é tica j á tinha sido seu cx - aluno C . T. R Wilson , J J .
, em circunst â ncias
observada , mas J . J . Thomson foi o primeiro a observar a deflex ã o el é trica . el é ctron isoladamen te . Wilson tinha observado que de condensaçã o para
Sua aparente ausência foi a primeira motivaçã o para a pesquisa de J . J . favorá veis , as cargas el é tricas atuam como n ú cleos porque a água se
Thomson . Porque ningu é m linha visto a deflex ão el é trica nas v árias d écadas vapores supersatura dos . Favorecem a forma çã o de neblina
pela presen ça de cargas
durante as quais os raios cat ó dicos foram objeto de pesquisa ? Por uma condensa sobre eles. Em tal neblina , determinada a da velocidade com
simples ta / á o : a n ã o ser que haja um v á cu ò suficiente no tubo rat ó di é n , n ã o -
el é tricas , pode se medir o volume
do
das got
total
í
de
culas
á gua
partir
precipitado ou a partir da
se pode estabelecer nenhum campo el é trico . Um vá cuo insuficiente é um que caem , e seu n ú mero a partii
condutor e nenhum campo el étrico está tico pode manter -se em um v ácuo supersatura ção inicial . Com esses dados , obté -
m se o n ú mero de got ículas
desse tipo . Mas Thomson teve êxito , n ã o apenas com a aparelhage m contido na neblina . Da carga total transportad a pela neblina , diretamente
, êntica à carga
mostrada na Figura 1.6 , mas també m com outras duas . mensurável , acha -se então a carga em uma got cula média id í
Em agosto de 1897 , escreveu seu famoso trabalho , onde descrevia do el é ctron . do eléctron
experi ê ncias “ para testar a teoria das part í culas eletrificad as ” e aplicou os Essa pesquisa, feita no10Laborat ó rio Cavendish , deu a carga
á ticas absolutas . A partir do
como em cerca de 3 x IO unidades eletrost
'

resultados de suas mediçõ es à determinação da proporção entre a carga e a .


valor medido de /m e tamb é m se chegou à massa do el é ctron
massa das part í culas que compunham os raios cat ó dicos ; a partir das
mesmas experi ências , deduziu també m a velocidade das part í culas . Eis u m O m étodo das gotas foi mais tarde aperfeiçoado por R . A . Millikan
( 1910 ) nos Estados Unidos . Millikan observou
não uma neblina , mas
resumo de seu racioc í nio : a quantidade total de eletricidade Q transportad a
por uma determinad a corrente é igual ao n ú mero de part í culas N ou got ículas isoladas , e transformo u o m étodo em um m é todo de precisão que
10 . Durante muitos
dava o n ú mero 4 , 78 x IO esu para a carga do eléctron

corp ú sculos , nela contidos , vezes a carga e de cada uma: 1929 , para
anos esse valor foi o melhor diretamente medido. Mas em , muito mais
Ne =d surpresa de todos , descobriu - se um erro de cerca de 1 por cento
em uma
do que o erro poss í vel previsto . A origem da discrep â ncia estava do i
medi çã o deficiente da viscosidad e do ar . Hoje em dia o valor da carga }•;
Depois , mediu a energia W transportad a pelos corp ú sculos medindo o
calor desenvolvid o ; este tinha de ser igual à energia cin é tica das part í culas de
massa m e velocidade v :
el é ctron é conhecido com a precis
4 , 803242 x IO 10 esu ; oe / m , conhecido
'
ã o de cerca de 3 panes por milh ã
com uma precisã o de cerca de 6 partes

o e é de

17
por milh ã o , é de 5, 272764 x 10
'
esu /g .
A descoberta do el é ctron , por mais importante que fosse , foi obscure -
i Nmi 2 = W cida por uma outra descobena que ocorrera no final de 1895
. Essa grande
C R ò ( 1845 - 1923 ) , que espantou o mundo
descoberta foi feita por W . . ntgen
raios
!v
Tendo desviado o feixe de part í culas magneticam ente , ele descobriu ao anunciar “ um novo tipo àt raios ” e demonstrar o que esses !f!
que": poderiam fazer . 9

mv Wilhelm Conrad R òntgen


~
= Bp
, cidade
Wilhelm Conrad R ò ntgen ( Figura 1.7 ) nasceu em Lennep
onde p é o raio de curvatura da trajetó ria e B , o campo magn é tico . Visto q ue a situada na Ren â nia . Sua m ã e era holandesa e a fam í lia mudou - se para
Apeldoorn , na Holanda , quando ele tinha tr ê s anos de idade . Ap ó s estudar
energia , a quantidade de eletricidade , o campo magn é tico e o raio da - em
curvatura eram mensur á veis , ele p ô de deduzir que : na Holanda , R ò ntgen foi para Zurique em 1865 e ali matriculou se
é cnico . Primeiro estudou com
engenharia mecâ nica no Instituto Polit , de
j

Rudolf Clausius , o grande termodinam icista , e depois com August Kundt


2W Kundt
quem se tornou muito amigo . As mais importantes contribui çõ es de
m Q lB lpl
' '

ocorreram na á rea da acú stica , mas ele tamb é m é conhecido por uma .
tinha o valor de 2 , 3 x 1017 esu /g , muito maior do que e / m para loris em determina ção engenhosa , embora grosseira , do n ú mero de Avogadro
eletr ó lise . -
R ò ntgen graduou se no Instituto Polit é cnico em
recebeu o t ítulo de doutor pela Universida de dc Zurique . Em 1870 ,
1868 e em 1869
voltou à
No trabalho de 1 897 , 1 homson fez outra observa çã o digna de nota : os
rzburg c depois em
corp ú sculos que constitu í am os raios cat ódicos eram os mesmos , qualquer Alemanha como assistente dc Kundt , primeiro em ú W
tendo sido
Estrasburgo; passou a exercer o cargo dz Privat Dozent e em 1 875 ,
que fosse a composi ção do cá todo ou do anticatodo ou do gás na válvula . Alemanha ,
Tratava -se de um componente universal de toda a mat é ria . nomeado professor de F í sica em uma pequena universida de da
Introdu ção Introdu çã o 21

Figura 1.8 . Uma das primeiras imagens


Figura 1.7 . Wilheim Conrad obtidas por R õ ntgen com o uso de raios X ,
R õ ntgen ( 1845 - 1923 ) , à é poca ou “ Raios de R õ ntgen ' ’ , mostrando os os -
da descoberta dos raios X . sos de uma m ào . Essa imagem foi obtida
( Deutsches Museum , Munique . ) em 22 de dezembro de 1895 . ( Deutsches
Museum , Munique . )

começou uma carreira acad êmica normal como um bom ( ísico , mas n ão
extraordin á rio . Em 1888 , fez um trabalho importante mostrando entretanto , estava coberta por uma cartolina negra e nenhuma luz ou
que a nenhum raio cató dico poderia ter escapado dali . Surpreso e perplexo com o
corrente de convecção era a mesma que a corrente de condu
ção . Hoje essa fen ô meno , R õ ntgen decidiu pesquisá- lo mais a fundo. Virou a tela, de modo
descoberta pode parecer banal , mas devemos lembrar que Faraday traba
lhou muito para convencer -se de que a eletricidade de uma pilha era a - a que o lado sem platinociane ro de b ário ficasse voltado para a v álvula ; mesmo
mesma que a eletricidade produzida por uma m á quina eletrostá tica , fato assim , a tela continuava a brilhar . Ele entã o afastou a tela para mais longe da
que em sua é poca n ão era absolutamen te ó bvio . R õ ntgen provou que a v álvula e o brilho persisdu . Depois , colocou diversos objetos entre a v álvula e
corrente obtida por cargas em movimento era a mesma corrente em um a tela e todos pareceram transparentes . Quando sua m à o escorregou em
fio . frente à v álvula ele viu os ossos na tela ( Figura 1.8 ) . Descobrira “ um novo ripo
També m fez boas mediçõ es de calores espec í ficos , campo padrão de
interesse em seu tempo . Passou de uma universidad e para outra e, no outono de raio ” , conforme ele mesmo explicou em sua primeira publica çã o sobre o
de 1888 , assumiu o quarto cargo , uma cadeira na mesma Universidad e de assunto .
Wurzburg , onde tinha sido assistente de Kundt . Era uma boa universidade , R õ ntgen estava trabalhando sozinho no laborat ó rio . Continuou a .
embora n ã o fosse das mais conceituadas . At é o in í cio de novembro de 1895 , trabalhar sozinho nos dias que se seguiram , sem falar de suas observa çõ es a
Rõ ntgen já tinha escrito quarenta e oito trabalhos , hoje praticamente ningu é m . Sua mulher percebeu que ele estava preocupado , sem saber a
esquecidos . O quadrag é simo nono foi o á pice de sua obra . causa , e come ç ou a afligir - se . O marido só lhe disse que estava trabalhando
Na noite de 8 de novembro de 1895 , R õ ntgen estava trabalhando em algo importante . Mais tarde , explicou - lhe por que tinha sido reticente:
uma v álvula de Hittorf que rinha coberto totalmente com uma
com ficara t ão ató nito com sua descoberta, sua incredulidad e era tal , que sentira
cartolina necessidade de convencer - se a si mesmo muitas outras vezes a respeito da
negra . A sala estava inteiramente à s escuras. A certa distâ ncia da v álvula havia
uma folha de papel , usada romo tela . tratada com plaiinot i a n c t o rir b r i exist ê ncia daqueles novos raios . Finalmente , registrou sua descoberta eru
á o.
Para seu espanto , R õ ntgen vi ti -a brilhar , emitindo luz . Alguma coisa devia
(hap .is fotográ ficas , r s ó ent ã o passou a ter certeza.
ter atingido a tela para que ela reagisse dessa forma . A v álvula de R õ
Em 28 de dezembro de 1895 , fez entrega de um relat ó rio preliminar ao
ntgen , Secret á rio da Sociedade F í sico - M é dica , de Wurzburg . Esse relat ó rio foi
22 Introdu çã o Introdu ção 23

imediatamen te reproduzido e , antes do in í cio de 1896 , j á estava sendo medo de n à o conseguir esvaziar a v álvula suficienteme nte , o que , para sorte
distribu í do . Em sua comunica ção s ó bria e concisa , R õ ntgen n ã o revelou sua , n à o aconteceu . A Rainha teve o espet á culo que queria .
nenhuma das suas sensa çõ es e d ú vidas iniciais . O relat ó rio come ça da O trabalho de R õ ntgen sobre os raios X foi perfeito á luz do
seguinte forma : conhecimen to existente em sua é poca . Mas ele, Rõ ntgen , n ã o conseguiu
“ Se passarmos a descarga
de uma grande bobina de Ruhmkor íf atrav é s apreender a natureza dos raios X . Ao concluir seu famoso relat ó rio de 1895 ,
de um aparelho Hittorf ou de Lenard , de Crookes ou de outro suficiente - escreveu o seguinte:
mente esvaziado de ar , e cobrirmos a v á lvula com uma manta bem ajustada “ Ser á que os novos raios n à o se devem à s vibra çõ es longitudina is
de cartolina negra , observarem os, em um compar ú mento inteirament e à s existentes no é ter ? Devo confessar que a cada momento que passa mais
escuras , que uma tela de papel coberta com platinocian eto de b á rio acredito nessa ideia durante minhas pesquisas e agora, portanto , cabe a mim
se
ilumina e fluoresce da mesma forma , quer se ponha voltado para a v á lvula de anunciar tal suspeita , embora saiba muito bem que essa explica ção exige uma
descarga o lado tratado quer se ponha o outro lado ” . [ ‘‘ Ú ber eine neue Ari corroboraçáo maior ” .
von Srrahlen ” , Sitzungsberichte der Phys. Mediz . Gesellschaft zu A “ corrobora çá o maior ” nunca chegou , mas passaram - se bem uns
Wurzburg 1 J 7 , 132
( 1895 ) . Traduzido cm Nature 53, 274 ( 1896 ) . ] dezesseis anos at é que o trabalho de Max von Laue e de Fricdrich e Knipping
R õ ntgen prosseguiu descrevendo as descobertas resultantes de suas esclarecesse as d ú vidas a respeito da natureza dos raios X .
sete semanas de pesquisas " secretas ”: os objetos tornavam Nos meses que se seguiram à sua descoberta , R õ ntgen foi convidado a
-se transparentes
diante de seus “ novos raios ” em diferentes graus ; as chapas fotográficas
eram fazer palestras em todo o mundo , mas recusou todos os convites , à exce çã o
sens í veis aos r a j o s X ; ele n à o conseguia ver qualquer reflexo ou retra çã o
dos de um , pois queria continuar a estudar seus raios X . Escrevia r á pidos
raios dignos de nota , nem podia desviá- los com um campo magn é tico ;
os
bilhetes para colegas que lhe pediam que demonstrass e os novos raios , para
raios X originavam -se na área da ampola de descarga onde os raios cat ó
dicos lhes pedir desculpas e informar que n ào tinha tempo para fazer quaisquer
colidem com a parede da ampola de vidro . confer ê ncias ou demonstra çõ es . A exceçã o foi ao C áiser , a quem R õ ntgen
Em Io de janeiro , tinha distribu ído o relat ó rio preliminar que mostrou seus raios X em 13 de janeiro de 1896 .
provocou grande agita ção . O documento era inacredit ável — mas , em A id éia de fazer demonstrações para o Cáiser tinha- o deixado ansioso .
it “ Espero ter um pouco da sorte do C áiser com essa
anexo , estavam fotografias em raios X de suas m ãos, o que fornecia
provas v álvula ” - disse ele -
“ pois esse tipo de v á lvula é muito sens í vel e quase sempre se
que n à o podiam ser refutadas com facilidade . Entre os que receberam essa quebra com
primeira comunicaçã o estavam Boltzmann , Warburg , Kohlrausch , Lorde facilidade .. . e s ã o precisos uns quatro dias para expelir inteiramente o ar de
Kelvin , Stokes e Poincaré. Ao ler o documento de R õ ntgen , muitos cientistas uma outra ” . Mas nada se quebrou . Um convite para a corte como o que
correram a seus laborat ó rios , pegaram suas espirais de centelhas e pro - R õ ntgen recebeu envolvia , al é m da palestra e da demonstraçã o , jantar com o
curaram ver os raios X . E conseguiram . Cá iser , receber uma condecora çã o ( Kronen -Ordern 2. Klasse ) e , no momento da
Em janeiro de 1896 , a not ícia da descoberta dos raios Xj á tinha criado despedida , fazer rever ê ncias a Sua Majestade . A prop ó sito disso , Richard
em todo o mundo uma enorme como çã o . Podemos imaginar o deslum - Willst à tter , o grande qu í mico org â nico que deslindou as complexida des da i -l
bramento em relaçã o a esses raios aos quais quase tudo se tornava clorofila , conta que ele e Fritz Haber , o sintetizador da am ó nia , ap ós terem
transparente e por meio dos quais todos podiam ver seus pr ó prios ossos .
'
feito suas descobertas , licaram na expectativa de receber um convite do
C á iser . Por isso , treinaram fazer rever ê ncias . Willstà tter era um colecionado r
Podiam -se ver praticament e os dedos sem os m ú sculos , mas com an é is ,
como se podia ver tamb é m uma bala alojada no corpo . As consequ ê ncias
de porcelanas e havia um vaso precioso no sal ã o em que ambos estavam
para a medicina foram imediatame nte percebidas . N ã o se precisava ser um treinando . Como era de se esperar , os exercí cios terminaram esfacelando o
vaso . Os dois n ã o foram convidados pelo C á iser , mas esse treinamento n ã o
cientista para valorizar a descoberta. Ao futuro fí sico A . N . da Costa
Andrade , ainda um menino em 1896 , tinham ensinado que Deus podia ver - representou uma causa perdida . Ambos , mais tarde , foram laureados com o
to Pr é mio Nobel e , segundo o cerimonial , tiveram de fazer rever ê ncias ap ó s
das as coisas e todos os lugares ; ap ós ouvir falar dos raios X , ele come çou a acre -
ditar naquilo de que antes duvidava. Em 23 de janeiro , R õ ntgen fez seu ú nico receberem o pr é mio das m ã os do Rei da Su écia .
Em 8 de fevereiro de 1896 , R õ ntgen escreveu a seguinte carta a seu
pronunciam ento p ú blico a respeito da descoberta, diante da Sociedade grande amigo Ludwig Zehnder , descrevendo cloq ú entemente os aconte -
Fí sico - M é dica. Foi saudado com uma tempestade de aplausos . cimentos que envolveram sua descoberta: »
Um pouco dessa excitaçã o envolveu - me trinta anos mais tarde , “ Prezado Zehnder !
quando
era estudante em Roma . Um velho curador do Instituto de Fí sica , Os bons amigos ficam para o final . É sempre assim que acontece . Mas
Augusto
Zanchi , contou - me como passara cena vez uma noite inteira tentando voc ê é o primeiro a receber uma resposta . Agrade ç o - lhe muito por tudo o
expelir o ar de uma válvula com uma bomba de merc ú rio porque a que escreveu a meu respeito . Ainda n à o posso usar suas especula çõ es sobre a li
Rainha da Itália queria ver os raios X e pedira ao professor de f ísica natureza dos raios X , visto aparentemen te n ão ser muito recomend á vel ou
que lhe
fizesse uma demonstra çã o . Durante toda a noite o pobre curador util tentar explicar um fen ô meno de natureza desconhecid a com uma
teve
introdu çã o
Introdu çã o 25
hip ó tese que não deixe nenhum lugar a d
para mim qual seja a natureza dos raios . E vidas . N ão está inteiram ente claro
ú
ai rigos sobre os raios X , em 1896 e em 1897 . Depois , voltou aos velhos temas
serem raios de luz longitu dinais é para a possibil idade de eventua lmente c , nos vinte e quatro anos que se seguira m , elaboro u sete relató rios de
fato é que são import antes. E , quanto a mim de import â ncia secund á ria . O interess e efé mero , deixan do a pesqui sa dos raios X para outros cientist as
isso , minha obra recebeu reconh e -
cimento de muitas fontes. Boltzm ann , mais jovens e menos preocu pados . A raz ã o para isso ficaria apenas no campo
Warbu
que ) Lorde Kelvin , Stokes , Poinca r é e outros rg, Kohlra usch e ( nada menos das especu la çõ es .
pela descob erta e , ao mesmo tempo , seu já me manife staram sua alegr ia Em 1902 R õ ntgen foi lauread o com o primeir o Pré mio Nobel de F í sica.
signific a muito para mim e deixo que os reconh ecimen to . Isso realrne nte Em 1900 , tinha -se transfe rido para Muniqu e , onde veio a ocupar o cargo de
dina . N ã o estou nada preocup ado ! invejos os fiquem falando em sur -
diretor do Institut o de Fí sica Experi mental .
Eu n ão tinha falado com ningu é m a Em 1914 assinou o famoso manife sto dos cientist as alem ães em
mulher contei apenas que estava fazend o respeito de meu trabalh o . A minha solida riedad e a uma Aleman ha militar ista , mas depois arrepen deu - se .
pessoa s , ao descob rirem , diriam : Der alguma coisa a respeit o da qual as Sofreu conside ravelm ente durante a Primeir a Guerra Mundia l c com os
Rõntgen ist wohl verrikkt geworden
( Rõ ntgen ficou mesmo ensand ecido ) . efeitos econ ó mico - finance iros do conflit o , vindo a morrer em Muniqu e em
No dia Io de janeiro enviei as novas
cópias e , depois , o diabo que se encarre 10 de feverei ro de 1923 , com setenta e oito anos .
gasse do resto! O Wiener Pressei oi o
primeir o a tocar die Reklametrompete (“ o
seguida os outros seguira m seu exempl o . Eu trompe te do arauto ” ) e logo em
n o
próprio trabalh o nas reporta gens. A fotogra fiaâ, chegav a a reconhe cer meu
leva a um fim , mas foi transfo rmada na coisa para mim , é um meio que
fui - me acostum ando ao turbilh ã o , mas isso mais import ante . Aos poucos
levou tempo . H á exatamen te
quatro semana s que n ão consigo fazer uma
só experiê ncia! Outras pessoa s
poderi am trabalh ai , mas eu n ã o . Você n ã o imagin
a como as coisas ficaram
confus as .
Em anexo , encamin ho - lhe as fotogra fiass
mostrá - las em aula , para mim não faz prometi das . Sc quiser
diferença. Mas eu recome ndaria que as
colocas se em vidro e moldur a , para que n ã o sejam
a ajuda das explicações , você n ã o ter roubada s . Creio que , com
á problem as; caso contrá rio , é s ó
escreve r - me.
Uso uma grade Ruhmk orff de 50 / 20 cent
Deprez e uma corrente prim ária de cercaí metros com um interrupt or
de 20 ainp è res . Minha
aparelh agem , que continh a uma bomba Raps ,
evacuaçã o total do ar . Os melhor es resultad exige vá rios dias para a
os s ã o obtidos quando o espaço
de ccntelh amento de um conden sador conecta
do em paralelo é de cerca de
três cent ímetros .
Com o tempo a aparelh agem ficar á cheia de furos
Qualqu er m é todo de produ ção de raios cató dicos ter ( com uma exceção).
l â mpadas incande scentes segund o Tesla e com v á á ê xito , inclusiv e com
lvulas sem eletrod os. Para a
fotogra fia , eu uso de três a dez minutos , depend endo
das condi ções das
experi ê ncias .
Para sua aula, envio - lhe a caixa de bú ssola , o
rolo de madeira, o
conjunt o de pesos e a folha de zinco , bem como uma
conserv ada de uma m ã o , feita por Pernet , de fotogra fia muito bem
Zurique . Mas , por favor ,
devolv a esse materia l logo que poss í vel , e coberto
uma tela maior com platino cianeto ? Recome ndapor seguro . Você disp õ e de
ções a todos os seus .
( Dr . \V . C . R õntgen, p . 8 7 ) R õ ntgen ”
Apó s a descob erta de R õ ntgen , os f í sicos e o pessoal
passara m avidam ente a investig ar os novos raios . No ano ligado à medici na
mais de mil trabalh os sobre o assunto . O pr ó pr io R õ
de 1896 , j á havia
ntgen escreve u mais dois
Capítulo II
H . Becquerel , os Curie e a
descoberta da radioadvidade

Os anos imediatame nte anteriores e posteriores a 1895 maracaram um


raios
ponto de reviravolta na f í sica , n ã o apenas cm virtude da descoberta dos
X , do elcctron c do efeito Zeeman , mas tamb é m da descoberta mais li
revolucion á ria , que foi a da radioativid ade . í
.
No final de 1895 , R õ ntgen enviou informações prelimina res sobre seus
" novos raios ” a v á rios colegas , entre os quais Henri Poincar é , o matem á tico
que sempre demonstrar a grande interesse por pesquisas b ásicas de f í sica .
Poincar é tinha participado dos debates relativos à natureza dos raios
cat ó dicos , tentando confirmar a constitui çã o corpuscula r de tais raios A
.

descoberta de R õ ntgen talvez o tenha entusiasma do mais do que a qualquei


outro cientista francê s ( embora , no primeiro semestre de 1896 , somente na
Comptes - rendus , da Acad émie des Sciences , tivessem sido publicado s 135
estudos e coment á rios ) .
Poincar é era membro da Acad é mie des Sciences e tinha o h á bito de
( requentar as sess õ es semanais daquela institui çã o . Na sess ã o de 20 de
janeiro de 1896 , mostrou as primeiras fotografia s dos raios X que lhe haviam
sido enviadas por R õ ntgen . Quando Henri Becquerel , um de seus colegas da
,
Academia , perguntou - lhe de que parte da v álvula emergiam os raios
Poincar é respondeu que aparentemen te os raios eram emitidos da á rea da
v álvula oposta ao cá todo , a á rea em que o vidro se tornara fluorescen te .
Becquerel imediatam ente pensou na possibilid ade de uma rela çã o entre
raios X e fluorescê ncia e no dia seguinte começ ou a fazer testes para verificar
se substâ ncias fluorescen tes emitiam raios X , iniciando assim uma s é rie de
experi ê ncias que , em algumas semanas , levaram à descoberta da radio -
atividade .

A Descober ta “ Predestina da ” de Becquerel


O interesse pela fosforesc ê ncia e pela fluoresc ê ncia estava arraigado na
fam í lia Becquerel. O pai de Henri Becquerel , Edmond , era filho de Antoine
C é sar Becquerel e Henri Becquerel era pai de Jean Becquerel . Esses
representant es de quatro gera çõ es foram f í sicos de renome ; dessa forma ,

durante quase oitenta anos , de 1828 a 1908 , sempre houve um às vezes at é

dois Becquerel na Academia . Vale a pena dizer alguma coisa a respeito
dessa notá vel dinastia, em parte porque a hist ó ria mostra como Henri
— ii . uecquciel, os Curie e a

i
Descobe rta da Radioati vidade H . Becquer el , os Curie c a Descobe rta da Radioati vidade 29

Becquer el estava predesti nado a descobr ir a radioativ


declarou isso . idade — e ele mesmo
1
Devemos come çar pelo av ô de Henri , Antoine
1878 ) nasceu na é poca pr ó pria que lhe permitiu ,
C é sar Becquer el ( 1 788 -
quando jovem , servir sob o
1
comando de Napole ão. Foi um dos primeiros
oficiais a graduar -se na École
Polytech nique , que durante muitos anos represento u
fonte de especial istas nas áreas técnica , cientific a para a Fran ça uma rica
militar. Muitos dos
grandes nomes da ciê ncia francesa se aperfei ç e
oaram nessa escola , que
obrigava os estudant es a usarem uniform e militar , para
ind í cio de classe social , e transmiti a uma disciplin apagar qualquer
a r í gida e um profund o
esp í rito patri ótico . Certa vez , tive a oportuni dade de dar uma
Polytech nique e lembro - me de ter lido , acima da c á tedra de aula na É cole
Ftç ura 2.1 . Henri Becquerel
onde eu falava , ( 1852 - 1908 ). Tr ê s
gera çõ es
os nomes de ex - professo res : Arago , Ampere , dos Becquerel , todos Bsicos,
Poisson , Fourier , Cauchy , foram membros da Acade -
Fresnel , Monge, Becquere l e vários outros . A
lista era suficien te para mia Francesa , à s vezes como
intimida r qualque r professo r que viesse de fora .
Praticam ente era pré - contempor â neos . ( Ciccione ,
requisito para uma carreira t écnica , cient ífica ou militar Rapho. )
na Fran ça ser um
polytechnicien, isto é , portador de diploma da É cole
Curie enfrento u dificuld ades por n ão possuir tal
Polytech nique , e Pierre
diploma .
O polytechnicien Antoine C ésar Becquere l
participo
leô nica na Espanha, em 1810 - 1812 mas em 1815 , u da guerra napo - Naturell e , fora nomeado professo r da École Polytech nique e publicar a
Napoleão , pediu baixa do Exé rcito . Fora ferido nas campanh ap ós a queda de
estudos sobre fosforescência e fluorescê ncia ( Figura 2.1 ) . Hoje em dia sabemos
disso , comunica ram - lhe que sua sa ú de estava muito prec as e , por causa por que , ao ouvir Poincar é falar sobre a descober ta dos raios X , ele imaginou
á ria e lhe restava
pouco tempo de vida ( mas chegou aos noventa anos de que os dois fen ô menos podiam estar relaciona dos entre si . Mas as primeira s
idade ) . Voltou - se
ent ã o para a f í sica e em breve era professo experi ê ncias de Henri tiveram resultad os negativo s : as subst â ncias fosfores -
r dessa mat éria no Musée
dHistoir e Naturell e de Paris , do qual , mais tarde , veio a ser centes ou fluoresce ntes que ele testou não emitiram raios X. Enquant o isso ,
quinhent os e vinte e nove artigos e seis manuais , um deles
diretor . Escreveu
em sete volumes . em 30 de janeiro de 1895 , a Revue Genérale des Sciences publicou um artigo de
Fez pesquisa s sobre fosfores cê ncia e tratou desse assunto Poincaré sobre os raios X , no qual ele fazia a seguinte indagaçã o: “ Será que
extensiva mente em
dois de seus livros . Tamb é m é conhecid o por estudos sobre todos os corpos cuja fluorescê ncia é suficient emente intensa emitem tanto
eletricid
eletroqu í mica , quando descobri u alguns dos efeitos eletrot é rmicosade e
raios luminoso s quanto raios X de Rõ ntgen , qualquer que seja a causa de sua
mesmo tempo , era homem famoso e bastante respeitad o .
que quase sempre topava com seu nome quando , em crian ça , lia - me de
Lembro
. Ao

a velha

fluoresc ê ncia ?" “ Em caso posiuvo ” afirmava ele —
tipo n ã o estariam associad os a uma causa el é trica ” .
“ os fen ô menos desse
edi ção do manual de Ganot , que me desperto u para a f ísica Becquer el retomou suas experi ê ncias e , dessa vez , tentou o sal de
.
Edmond , o filho de Antoine C é sar , que viveu de 1820 a ur â nio , sulfato de potássio de urânio , que ames tinha estudado com o pai .
praticam ente seguiu as pegadas do pai , exceto quanto ao serviço 1891 ,
militar . Foi Em 21 de fevereiro , fez um relató rio à Academi a :
admitido na É cole Polytech nique , tornou - se assistent e do pai e “ Cobri uma . .. chapa fotogr á fica . .. com duas folhas
pro í essor no Mus ée. O cargo de professo r do Musée estava - se tornando depois de papel negro
grosso , t ã o grosso que a chapa n ã o ficou manchad a ao ser exposta ao sol
esp é cie de trust heredit á rio , passando de pai para filho , pois mais urna durante um dia inteiro. Coloque i sobre o papel uma camada de substância
bisneto de Antoine C ésar , Jean ( 1878 - 1953 ) , també m ocupou tarde o fosfores cente e expus tudo ao sol por v á rias horas. Quando revelei a chapa
a mesma
cadeira . Quatro gera ções dos Becquere l viveram , conforme escreveu fotogr á fica , percebi a silhueta da substância fosforesc ente cm negro sobre o
em um artigo , na m è me maison , même jardin , m ême laboratoire ( “ Jean
mesma casa , negativo . . . A mesma experiê ncia pode ser feita com uma l âmina de vidro fina
mesmo jardim , mesmo laborat ó rio ” ) , no Jardin des Plantes , em frente colocada entre a substâ ncia fosforesc ente e o papel , o que exclui a
Cuvier . Edmond Becquere l estudou a açã o qu í mica da luz e foi casa de
à
um dos possibili dade de urna a ção qu í mica resultant e de vapores que poderiam
primeiro s a fotografa r o espectro solar . Era tamb é m grande especiali sta emanar da substância quando aquecida pelos raios solares. Portanto ,
fluorescê ncia e a subst ância que melhor conhecia era o urâ nio . em
Projeto u um podemos concluir dessas experi ê ncias que a subst â ncia fosforesc ente cm
fluorosc ó pio e mediu intensid ade e dura ção da fluorescê ncia do ur â nio quest ã o emite radia çõ es que penetram no papel que é opaco à luz . . . ”
sob a
a çã o de diferente s luzes . ( Cornptes -rendus de 1' Académie des Sciences , Paris, 122, 420 ( 1896 ) . )
À cpoca da descober ta de R õ ntgen , o filho de Edmond Becquere É como se os raios X fossem efetivam ente emitidos pelo composto de
l,
Henri ( 1852 - 1908 ) , tinha sucedido ao pai na direçã o do Musée d Histoire ur â nio enquanto fluoresci a . Mas , uma semana mais tarde , quando a
H . Becqucrel , os Curie e a Descoberta da Radioatividade H . Becqucrel , os Curie e a Descoberta da Radioatividade
30

-
Academia voltou a reunir se em 2 de março , Becqucici j á estava u c i u c dt
outras coisas . A razã o pela qual estava ciente de outras coisas c que u tempo
em Paris tinha mudado! Tentara ele repetir as experi ê ncias anteriores , mas
nos dias ’2 () e 27 de levei eiro o tempo eslava ruim e o Sol mal aparei ia Assim ,
ele colocou tudo em uma gaveta escura , deixando as amostras de sal de
urâ nio no lugar , sobre as chapas envoltas em papel . E dessa vez íez o seguinte
relat ó rio à Academia :
“ Como o Sol n ã o voltou a aparecer durante v á rios dias , revelei as

chapas fotogr áficas , a Io de março , na expectativa de encontrar imagens


muito deficientes . Ocorreu o oposto: as silhuetas apareceram com grande
nitidez . Pensei imediatamente que a a çã o poderia ocorrer no escuro ”.
[ Comptes -rendus, 126 , 1086 ( 1896 ) . ]
A Figura 2.2 . mostra uma das “ silhuetas ” que Becquerel percebeu ao
revelar suas chapas. Deu -se conta imediatamente de que tinha descoberto
alguma coisa de muito importante: o sal de ur â nio emitia raios capazes de
penetrar no papel negro , tivesse ou n ã o sido exposto previamente à luz do
Sol .
Eis uma situa çã o em que o acaso , a sagacidade e a vi \ aridade
constitu í ram elementos fundamentais . Henri Becquerel afirmava que Figura 2.2 A primeira chapa marcada pelos “ raios Becquerel ” . Sobre ela foi colocado um
pouco de sulfato de potássio de uranilo em 26 de fevereiro de 1 896 ; depois que a revelou , em-
tamb é m seu pai e seu av ô mereciam cré dito por essa descoberta . Segundo 1 ° de mar ç o , Becquerel percebeu que o ur â nio emitia uma radia çã o de n a t u r e z a desconhe
ele , o trabalho desenvolvido durante cerca de sessenta anos em seus cida que n ão dependia da fosforescê ncia do sai de ur â nio , conforme se acreditava . A . des - 1
laborat ó rios fatalmente , e no momento adequado , levaria à descoberta da -
coberta dos " raios Becquerel ” foi publicada nos Comptes rendus de l Acad émie des Sciem
es de

radioatividade . Mas , à é poca , a descoberta de Becqucrel aparentemente n ã o .


Pans 1122 501 ( 1896 ) ] . ( CEA . ) i' i

se comparava à de R õ ntgen e n ão provocou a excita çã o que a de R ò ntgen


havia provocado . Os cientistas continuavam a falar a respeito dos raios X e a h
o rádio , prepararam poderosas fomes que revolucionaram completamente a

testá - los e deixaram que os “ raios de Becquerel ” ficassem por conta de seu
descobridor . Em 9 de mar ço de 1896 , Becquerel já descobrira que a radia çã o nova ci ê ncia da radioatividade .
l!
$il .
Madame Curie ( 1867 - 1934 ) , em solteira Marie Sklodowska , nasceu em

t í.l .
emitida pelo ur â nio n ã o apenas escurecia as chapas fotográ ficas protegidas ,
Vars ó via em 7 de novembro de 1867 ( Figura 2.3 ) . Por parte de m ã e , sua
como tamb é m ionizava gases , transformando - os em condutores . A partir
da í , era poss í vel medir a “ atividade ” de uma amostra simplesmente fam í lia pertencia à nobreza menor . Seu pai , Vladislav Sklodowski , um I
medindo a ioniza çã o que ela produzia . O instrumento usado para essa cavalheiro culto que estudara em S ã o Petersburgo , era professor de
matem á tica e f í sica ; pouco depois do nascimento de Marie , veio a ocupar o
1
medi çã o í oi um r ú stico eletrosc ó pio de l â minas de ouro .
cargo de professor e inspetor - assistente de um gin ásio , uma espé cie de
%
Os Curie e um Grande Salto à Frente escola secund á ria . Madame Sklodowska era diretora de uma escola de IO.
meninas , fun çã o que desempenhou at é que Marie crescesse um pouco . Era !
*•

cat ólica praticante e como tal criou os filhos ; mas , logo após sua morte, a filha
Nesse ponto de nossa hist ó ria , cerca de dois anos ap ós a descoberta de
Becquerel , Pierre e Marie Curie entraram em cena . N ã o que Becquerel n ã o Marie , ent ã o adolescente , abandonou a religi ão e a ela nunca mais retornou .
!l í
; «i
;•
tenha dado continuidade a sua obra , ao contr á rio: prosseguiu nela com A fam í lia inclu í a um filho , Josef , e tr ê s filhas , Hela , Bronya e Marie .
entusiasmo . Mas restringiu - se ao urânio como fonte de seus r a j o s, pois o Era uma fam í lia extremamente patriota e as crian ças chegavam a N '
urâ nio era a subst ância que ele melhor conhecia . Anos mais tarde escreveu o participar de atividades culturais clandestinas no territ ó rio dominado pela i

seguinte: R ú ssia , sob o risco de serem presas ou de lhes acontecer algo pior . Por toda a
“ Mas , visto que os novos raios tinham sido identificados com o ur â nio , sua hist ó ria , a Pol ó nia quase sempre foi oprimida pelos vizinhos e ent ão era
parecia improv á vel a priori que a atividade de outros corpos conhecidos oprimida principalmente pela R ú ssia . As escolas polonesas eram obrigadas a ' .d
I
pudesse ser consideravelme nte maior , e as pesquisas sobre a generalidade do usar o idioma russo e a adotar livros que n ã o queriam . O antagonismo da
novo fen ô meno pareciam ent ão menos urgentes do que o estudo fisico de popula ção polonesa em rela çã o aos dominadores russos tinha base
sua natureza ” . religiosa , pol íú ca e lingu í stica . Os sentimentos eram fortes e a situa ção era ;:2

E assim , n ã o foi Becquerel mas os Curie que deram o salto à frente: tensa . Marie ficou profundamente chocada quando um dos amigos de seu
pesquisaram outros elementos e , ao descobrirem primeiramente o pol ó nio e irm ã o foi enforcado por quest õ es pol í ticas . Para reagir a essa press ã o , os
;
ii . Decquere l , os Curie c a Descober ta da Radioativ idade 33

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Figura 2. J . Marie SkJo -


dowska Curie ( 1867 1934 )
! e Pierre Curie ( 1859-
1906 ) , o mais famoso
dos casais de cientistas.
t, •
[ Oeuvres de Pierre Curie
( Paris: Gauthier - Villars ,
1908 ) . ]

uma é poca em que estavam na moda histó rias de hero í nas eslavas. O que d á
polonese s se transform aram ern patriotas fan á ticos e , ironicam ente , se um particula r realce a essa hero í na é que ela era um g ê nio e queria realment e
tornaram cru é is opressor es de minorias inocente s
quando tiveram estudar Física .
oportuni dade - foi o que experime ntaram os alem ães e os judeusa
quando se reconsut uiu urna Pol ó nia livre após a Primeira Guerra Mundial . Em Paris , Marie matricul ou - se na Faculdad e de Ci ê ncias e frequent ou
cursos de Física , Qu í mica e Matem á tica com os Professor es Lippman n , Bouty
Marie concluiu com distin çã o o curso secund ário aos dezessei s
anos . e Appell , este o autor do famoso tratado M écanique Rationnelle ( sobre mec â nica
Nesse meio tempo , o pai perdera a fortuna e as filhas tiveram de procurar
te ó rica). Fora da universid ade ela vivia entre os imigrant es polonese s , um dos
meios de sustentar -se . Bronya e Marie tinham ambi çõ es e erarri muito ligadas
quais era um jovem e talentoso pianista chamado Paderew ski . A vida de
uma a outra . Eram voluntar iosas , muito inteligen tes e muito polonesa .
s Marie foi um tanto bo émia na sua pobreza , mas sua extrema disciplin a e seus
Bronya seguiu para Paris , a fim de estudai Medicina, por sua pr ó pria conta e
'
h á bitos r ígidos de trabalho n ão eram nada boé mios . Ela estudava e
com algum aux ílio de Marie , que durante cerca de cinco anos trabalho u trabalha va com fanatism o , quase sem dinheiro e com muito pouca coisa
como governan ta — emprego que n ão estava muito acima do de emprega para comer . Em 1893, recebeu a bolsa de estudos Alexandr owitch , pequena
da
dom éstica —de v árias fam ílias , primeiro em Vars ó via e depois no interior .
Suas parcas economi as eram enviadas a Bronya , no entendim ento de que ,
doa çã o de 600 francos concedid a por uma organiza çã o polonesa . Como era
caracter í stico nela, alguns anos mais tarde guardou seus primeiro s sal á rios
tão logo a irm ã conclu í sse os estudos , lhe daria apoio . Foi assim
que , em para ressarcir o dinheiro da bolsa de estudos . Em 1894 , um f í sico polon ê s em
1891 , Marie abandon ou a Pol ónia , com uma passagem de 4 a classe para Paris visita a Paris , Joseph Kovalski , apresento u - a a Pierre Curie ( 1859 - 1906 ) .
c 4 rublos ( 20 d ó lares ) no bolso . Imagine - se uma jovem polonesa chegando a Pierre Curie ( Figura 2.3 ) era o segundo filho do fí sico Eugè ne Curie . O
Paris cm 1891 para estudar Física ! Era uma situa çã o totalmen te rom â ntica em pai . oficialm ente de religi ã o protestan te , era um livre - pensado r de ten -
35
34 H . Becquerel , os Curie e a Descobena da Radioatividade H . Becquerel , os Curie e a Descoberta da Radioatividade Í

d ê ncias esquerdistas . Em 1871 , participara da Comuna , n ào como comba -


tente , mas como m édico , instalando um hospital em sua pró pria casa . Pierre
parece ter sido um menino estranho , considerado mentalmente retardado ,
mas o pai teve suficiente discernimento para deixar que ele sozinho
desenvolvese livremente seus taJentos e n ào o forçou a frequentar as escolas
francesas da é poca . Quando tinha cerca de quatorze anos , contrataram um
tutor para Pierre , que lhe ensinou matem á dca e ajudou - o a aprender latim .
Pierre tinha grande facilidade para matem á tica e seu aprimoramento
intelectual foi muito r á pido: aos dezesseis anos , já era bacharel em ci ê ncias .
Em 1883 , aos vinte e quatro anos , foi nomeado chefe do laborat ó rio da É cole
de Physique et de Chimie de Paris , cargo modesto que ocupou durante vinte
e dois anos . Tinha uma natureza dif ícil e um orgulho quase que patol ó gico .
O fato de n à o ter estudado na É cole Polytechnique , de onde se recrutava a
maior pane dos cientistas franceses , constituiu obst áculo a uma carreira mais
brilhante .
Seu primeiro trabalho foi sobre a simetria dos cristais e piezeletri -
cidade , descoberta sua e de seu irm ã o Jacques. Depois , ampliou o
principio da simetria e aplicou -o ao estudo de muitos fenô menos f ísicos ; a esse
respeito , seu trabalho sobre magnetismo ainda pode ser considerado
bastante interessante. Ao que eu saiba , Pierre Curie foi o primeiro a
introduzir , na f í sica, id é ias que hoje em dia são chamadas dc teoria de grupos ,
que incluiria n í tidas distin çõ es entre vetores polares e axiais , e a import â ncia
da simetria para decidir que fen ô menos s ã o possíveis. Em conjunto , os
primeiros trabalhos de Curie d ão a estranha impress ão de que ele foi
precursor de Eugene Wigner e o tempo ampliou a import â ncia dessa
suposi çã o . À é poca em que conheceu Marie Sklodowska , no in ício de 1894 ,
Pierre Curie desfrutava de boa reputação cient í fica. Lorde Kelvin , entre
outros , já tinha reconhecido suas qualificações . Figura 24. Pierre e Marie Curie em seu laborat ó rio com o
Alguns meses ap ó s seu primeiro encontro com a estudante polonesa , d r j . Hurwic . )
Curie tinha tornado a decis ã o de casar -se com ela . Da parte de Marie , n ão
havia a menor dificuldade . Pierre era oito anos mais velho do que Marie , aparelhagem mostrada na Figura 2.4 , que havia sido projetada por Pierre
diferen ça de idade que n ào era comum para um casal naquela é poca ; ela , Curie . O aspecto mais digno de nota dessa aparelhagem é o sistema
entretanto , nunca tinha pensado em casamento e o obstá culo mais s é rio era compensador , cuja pane essencial é um quartzo piezel é trico ( lembremos
que, se casasse , nunca voltaria a viver na Pol ó nia , conforme tinha planejado . que a piezeletricida de tinha sido estudada por Pierre ejacques Curie ) . Todos
Mas , quando Marie foi passar as fé rias de verã o em seu pa í s , as eloquentes os eletr ô metros usados pelos Curie em suas experi ê ncias posteriores e todos
cartas de Pierre Curie acabaram por convencê - la. Ele era um escritor os eletrô metros usados no laborat ó rio de Madame Curie , apó s a morte de
talentoso , quase um poeta . Casaram -se em julho de 1895 e passaram a lua - Pierre , tinham essas mesmas características . Por outro lado , para ela , eles
de - mel pedalando pelo interior da Fran ç a em bicicletas que tinham “ nà o eram corretos ” . Mas , na verdade , eram instrumentos bons e funcio-
comprado com o dinheiro dado a Marie para seu enxoval . Por toda a sua vida navam satisfatoriame nte .
-
em comum , o principal lazer de ambos consistiu em explorar a natureza em Usando o eletr ô metro ( Figura 2.5 ) , Marie Curie verificou a consta
viagens de bicicleta . taçào de Becquerel de que a intensidade da radiação do urâ nio era
Quando de seu casamento , Madame Curie já tinha passado o que i proporcional ao total de urânio existente no composto e independente de
poder íamos chamar de exame de habilita ção . Pouco depois do nascimento sua forma qu í mica; n ão fazia diferen ça se a amostra era de sal de uranilo u m
de sua primeira filha , Ir è ne , em 12 de setembro de 1897 , ela pediu ao marido ó xido , ou de metal de ur â nio . Em consequ ê ncia , Marie Curie confirmou a
sugest õ es sobre um tema para a tese de doutorado . Ele lhe aconselhou o descoberta de Becquerel de que a emiss ão dos raios é uma propriedade
estudo do “ novo fen ô meno ” descoberto por Becquerel . Primeiramente , ela at ó mica do urâ nio . Decidiu , assim , examinar “ todos os elementos ent ã o
repetiu as experi ê ncias de Becquerel . Mas , para medir o fen ô meno com conhecidos ” e descobriu que somente o tó rio emitia raios “ semelhantes aos
maior precis ã o cm vez de usar o eletrosc ó pio de Becquerel u s o u a do ur ânio ” . Nesse ponto , depois de descobrir que o urâ nio n à o era o ú nico
36 H . Becquerel , os Curie e a Descoberta da Radioatividade H . Becquercl , os Curie e a Descoberta da Radioatividade 37

Se efetivamente existia um novo elemento , Madame Curie iria com


certeza encontrá - lo . Mas como ? Elaborou o que ela mesma considerou mais
tarde de m é todo básico da radioqu í mica . Como n à o sabia de nenhuma
propriedade qu í mica desse elemento — apenas que ele emitia raios

espontaneamente , teria de começar pela busca desses raios . Procuraria
tomar uma amostra de min é rio , dissolvê - lo , se fosse poss í vel , separá- lo em
seus componentes segundo padr ão de an álise qu í mica , e determinar para
onde a radioatividade se dirigia , fazendo uso de seu eletr ô metro . Madame
Curie sabia que as an álises quantitativas feitas com min é rios de ur â nio
tinham , na é poca , deixado margens de d ú vida de aproximadament e 1 % em
Figura 2.5 . Um desenho esquem á tico
do eletr ô metro, extraido do artigo pu -
termos de peso . Se esse 1 % contivesse a substância radioativa desconhecida e
blicado por Marie Curie em Rrvue se a radioatividade do min é rio fosse três vezes maior do que a radioatividade
.
Grn éralc des Sciences \ 10 , 41 ( 1899 ) ] que podia ser atribu ída a seu conte ú do de ur ânio , a subst â ncia desconhecida
O instrumento foi usado para medira tinha de ser umas trezentas vezes mais radioativa do que o ur â nio . Ela
ionização do ar provocada por radia - subestimou essa radioatividade: de fato , a subst ância com a forte radio -
çõ es emitidas pelas substâ ncias radioa - atividade n ã o era 196 da amostra , mas talvez uma parte por milh ã o , e sua
tivas colocadas em B. O condensador
AB continha a subst â ncia radioativa radioatividade por unidade de peso n ão era trezentas vezes , mas muitos
:
em sua chapa inferior. O eletr ô metro E milh õ es de vezes maior que a do urâ nio .
confirmava que o potencial produzido
pelo peso no quartzo piezel ó trico Q _ Sem se deixar abater pela magnitude da tarefa que estava empre -
endendo , disp ô s - se a isolar o novo elemento e come ç ou a estudar minu -
correspondia exatamente ao potencial
produzido pela corrente dc ioniza çã o. ciosamente cada amostra de min é rio . Logo deu -se conta de que n ã o poderia
prosseguir sozinha e sugeriu ao marido que unissem as forças nesse sentido ,
juntos , Pierre e Marie Curie começaram a tratar a uraninita c a concentrar - se
elemento que emitia radia ção espont â nea , Madame Curie prop ô s a palavra nos produtos mais radioativos , fazendo uso do engenhoso met ó do de an álise
radioatividade para esse fen ô meno . Foi tamb é m a í que lhe ocorreu um de Marie Curie .
lampejo de g ê nio e ela decidiu n ão limitar suas pesquisas a simples Uma vez que se tinha concentrado na parte altamente radioativa em
compostos de ur ânio e t ó rio , mas tamb é m a examinar os min é rios naturais . um res í duo muito pequeno , chegaram à conclus ã o de que tinham desco -
Conseguiu muitas amostras dc minerais da cole çã o do Mus ée e p ô s - se a berto um novo elemento. Estava longe de ser um elemento puro e , de fato , o
trabalhar . Conforme esperava , os minerais que continham ur ânio e t ó rio * elemento era apenas uma impureza saída de uma das amostras , mas sua
eram radioativos . Para sr • uu presa , entretanto , a radioatividade de alguns >
radioatividade indicava a existê ncia de um novo elemento . Chamaram - no de
deles era muito mai
m é todo de medi çâ r
" T ou quatro vezes maior , de acordo com seu
se poderia atribuir ao conte ú do de t ó rio ou de
polnmo — Marie SkJodowska - Curie n ão poderia ter escolhido outro nome .
Ern julho de 1898 , os Curie apresentaram um trabalho conjunto à Acad é mie
urâ nio desses rr : des Sciences anunciando a descoberta e explicando o m é todo pelo qual
A conclus à , rreta : aquelas amostras de min é rios deviam con - tinham chegado a ela . As datas s ão importantes : em fevereiro de 1896 ,
ter um elemento m f. m • ais radioativo do que o ur â nio ou o t ó rio . Antes de Becquerel descobriu a radioatividade . No final de 1897 , Marie Curie passou
divulgar essa lup ó u:. - ela fez urn teste. Observou que um determinado a interessar -se pelos “ raios de Becquerel ”. Em abril de 1898 , ela já tinha
mineral de ur â nio , a < dcolita , era bastante radioativo quando extra í do do determinado que elementos conhecidos eram radioativos e suspeitara da
_
solo . Reproduziu a < ,dcolita a panir de subst â ncias puras em laborat ó rio e exist ê ncia de novos elementos mais intensamente radioativos . Em julho do
descobriu que a calcolita artificial n à o era mais ativa do que qualquer sal dc mesmo ano , Pierre e Marie descobriram o poló nio . Tamb é m descobriram
ur ânio . Tal descoberta provou que o min é rio natural continha uma impure - que a substâ ncia desapareceria espontaneamente , reduzindo - se à metade
za altainente radioativa . Em 12 de abril de 1898 , seu amigo G . Lippmann em um per í odo caracter í stico chamado de meia - vida.
apresentou a primei! a comunica çã o de Marie Curie à Acad é mie des Sciences , Quando Marie Curie pediu a Pierre que trabalhasse junto com ela ,
que foi publicada no Comptes -rendus como de autoria de M . Sklodovvska - Curie. ele estava engajado no estudo do magnetismo , mas passou - se para a
Nesse trabalho era descrita , de forma resumida , sua experi ê ncia , bem como radioatividade , campo em que permaneceu at é a morte , em 1906 . Quanto a
apresentada a hip ó tese da exist ê ncia de um novo elemento radioativo ( a —
Madame Curie , todo o seu trabalho , de 1898 at é seus ú ltimos dias - trinta e
paiavra radioativo ainda n ã o era usada no documento ) e exposta a maneira
como ela havia testado essa hip ó tese .

seis anos de trabalho , seguiu a mesma linha : mais min é rios , n í veis mais
elc \ ados de purificaçã o , maiores concentra çõ es , e assim por diante . Era uma
38 H . Becquerel , os Curie e a Descoberta da Radioatividade H . Becquerel , os Curie c a Descuberta da Radioatividade

tareia decidida que exigia incr í vel entusiasmo m u i t a intelig ê ncia e ai


obstina çã o que caracierizavarn Madame Curie .
Quando os Curie conseguiram seu primeiro produto altamenu]
radioativo , a partir da uraninita, utilizaram uma an álise qu í mica do mineral
segundo o m é todo padrã o . No grupo dos sulfetos , insol ú veis em solu çõ es
á cidas , descobriram o pol ó nio . Mas depois descobriram tamb é m a radio -
atividade no grupo do b á rio ( b á rio , estr ô ncio e cálcio ) . De in í cio , n ã o Cw ,-* s
'

conseguiram isolar a radioatividade do b á rio ; quando , finalmente , tiveram


v»*; L- - -
A ' :"

ê xito , mediante a cristalizaçã o fraccional , descobriram uma nova subst â ncia


intensamente radioativa , à qual deram o nome de rádio . Em setembro de|
1898 , anunciaram a descoberta do r á dio em seu terceiro trabalho , em
colabora çã o com G . B é mont , qu í mico franc ê s que os auxiliou nas pesquisasl
que levaram à identifica çã o do r á dio . B é mont tamb é m tinha ajudado os
Curie a achar um laborat ó rio ; esse laborat ó rio era pouco mais do que um
barracão com goteiras , ú mido no inverno e muito quente no verão ( Figuras
2.6 e 2.7 ) . N ã o linha nenhuma das caracter í sticas de um laborat ó rio qu í mico
que hoje s ã o consideradas indispens á veis , tais como uma c ú pula fum í vora , e
era totalmente inadequado para a tarefa do ponto de vista da sa ú de . Mas
naquela é poca ningu é m sabia dos efeitos da radioatividade e nada havia dc
melhor em disponibilidade .
O Professor Eduard Suess , grande geó logo vienense , cedeu gra -
tuitameme aos Curie uma tonelada de res í duos das minas de uraninita de
Joachimstal , na Tchecoslov áquia , que era ent ã o praticamente o ú nico centro
ativo de minera çã o de ur ânio . O urâ nio tinha sido extra í do dos min é rios e o
que os Curie ganharam foram res íduos que n ã o tinham interesse para
ningu é m , mas que eles sabiam conter rá dio . Para aqueles que sabem o que
significa dissolver cem quilos de um miné rio à m ã o , usando m é todos
rú sticos parecerá inacreditá vel que duas pessoas tenham conseguido f á z ê- lo. l
Levando -se em conta os vapores existentes em um laborat ó rio sem c ú pula Figura 2.6 . Ó laborat ó rio da É cole de Physique et de Chimie de la Ville de Paris , onde os
fum í vora , al é m do trabalho f í sico de misturar os solventes e do aquecimento Curie realizaram as pesquisas que levaram à descoberta e isolamento do r á dio. ( De Oeuvrcsde
de subst âncias , por m é todos primitivos , apenas o esp í rito indom á vel Pierre Curie, Paris , 1908 . )
daquela mulher polonesa poderia ter superado tais obst á culos . Ela encar -
regou - se da tarefa f í sica mais árdua , enquanto Pierre , que n ã o era t ã o forte
quanto ela , se encarregava das outras . Dois anos mais tarde , j á tinham uma rai s cat ó dicos . Os Curie , basicamente , estavam interessados nas pró prias
quantidade de r á dio suficiente em sua amostra para poderem detectar uma
°
substâ ncias radioativas. Descreveram os m é todos de medi çã o da radio -
mudan ç a no peso at ó mico aparente da subst ância . O bário comum tem um a& vidade e as raz õ es pelas quais a radioatividade deveria ser considerada
peso at ó mico de 137 . As fra çõ es mais ricas no r á dio da amostra dos dois uma propriedade at ó mica e n ã o uma propriedade molecular . Tinham
cientistas mostravam um peso at ómico de 174 . Madame Curie estava em cstudado as subst âncias radioativas comuns , ur ânio e t ó rio ; e depois os novos
busca do r á dio puro , que como sabemos hoje em dia , tem um peso at ó mico elementos , pol ó nio , rá dio e actí nio , o ú ltimo dos qâ ais tinha sido descobeito
de 226 . Levou mais doze anos para consegui -lo , mas j á em 1900 estava no Por Andr é Debierne, um amigo e companheiro dos Curie , em 1889 . Depois
caminho certo e tinha feito um progresso substancial pelo menos nos : a respeito da natureza qu í mica das substâ ncias , de seus espectros
m é todos , sen ã o na execu çã o . | ó p ú cos , dos efeitos das radia çõ es e da chamada radioatividade induzida
Em 1900 , Marie e Pierre Curie apresentaram uma comunica çã o a uma pela primeira e ú nica vez , citaram Rutherford ) . Finalmente , fizeram
confer ê ncia internacional de f ísica , realizada em Paris , sobre “ As novas refer ê ncia aos grandes problemas n ã o resolvidos: a origem cia energia
crr dda e a natureza das radiaçõ es emitidas .
substâ ncias radioativas e os raios que emitem ” . Na mesma confer ê ncia ,
Henri Becquerel tamb é m apresentou um trabalho que tratava sobretudo das
^ J á vimos que o novo elemento , o pol ó nio , emitia part í culas e ,
radia çõ es emitidas . A ele parecia claro que , pelo menos no que diz respeito a naturalmente , energia . Era mesmo poss ível medir o calor e isso apresentava
uma parte da radiaçã o , havia uma í ntima analogia com os raios X e com os uma outra dificuldade para os fí sicos . Em 1 898 , a conserva çã o da energia j á
40 H . Becquerel , os Curie e a Descoberta da Radioatividade
, H . Becquerel , os Curie e a Descoberta da Radioatividade 41

ti 55?!, «
t' que C . Wiegand e eu usamos o que t í nhamos entendido da ess ê ncia
tf , acumulada na d écada anterior .
O Relat ó rio Curie foi um pequeno tratado sobre a radioatividade

1
ê
i: m conforme era conhecida em 1900; em 1904 , Marie finalmente escreveu sua
rese de doutoramento, um tratado semelhante , poré m atualizado.
At é 1902 Marie já havia perdido cerca de dez quilos em consequ ê ncia
mm Tv

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de seu trabalho , mas ainda tinha rádio suficiente paraajud á- la a medir o peso
um ató mico . Descobriu que era de 225 , uma resposta quase correta . Tamb é m
77 ' '• r . ‘
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tinha urna quantidade suficiente de r ádio para observar as linhas espectrais.
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ml i O relat ó rio apresentado em 1900 continha alguns erros no espectro , mas


dava corretamente as duas linhas mais intensas, e n à o h á d ú vida de que ela as
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il 1111 havia observado . N ào espanta que o casal tenha começado a sofrei de doen ças
estranhas e de difí cil diagn óstico . É muito prová vel que tenham recebido
radiaçã o e ingerido substâ ncias radioauvas em quantidades suficientes para
<43
deixá - los enfermos. Embora Pierre tenha morrido de acidente , Marie
chegou aos sessenta e sete anos de idade , mas ficou doente durante muito
tempo e , finalmente , morreu de anemia aplástica , uma das consequ ê ncias da
superexposi çã o à radiação. Seu genro , F. Joliot, examinou os livros de
anota çõ es de Marie e constatou que estavam intensamente contaminados de
radioatividade . Al é m disso, Marie cozinhava em casa e seus cadernos de
receitas ainda estavam contaminados cinquenta anos ap ós terem deixado de
ser usados .
i . Enquanto isso , como progrediu a carreira dos Curie ? Poder - se- ia
imaginar que teriam recebido algum auxílio ap ós os anos de incansá vel
labuta durante os quais fizeram memorá veis descobertas e perderam a
sa ú de . Grandes nomes das ci ê ncias , como Lorde Kelvin , tinham reconhe -
r
!
r cido as contribui çõ es feitas pelo casal de cientistas , mas a burocracia oficial
francesa, responsá vel pelo sustento m í nimo dos dois , n ã o o tinha feito .
Figura 2.7. Parte interna do laborat ó rio dos Curie. [ De Qeuvres de Pierre Curie, Paris , 1908 . ) Algumas autoridades mais chegadas arranjaram a Legi ã o de Honra para
> •. Pierre , mas ele recusou - a , dizendo que precisava era de um laborat ó rio , n ão
de urna condecora ção . Os amigos insistiram em que aceitasse a homenagem ,
. ressaltando que isso o ajudaria a conseguir um laborat ó rio. Mas Pierre
t
beA
ii estava
^ efinidae os cientistas n ão demonstravam muita vontade quanto
a desistir defà . De onde vinha a energia do pol ó nio ? Foram apresentadas as
hipó teses mais absurdas . Uma id éia incorreta , embora n ão de todo
continuava o orgulhoso e obstinado de sempre e n ã o recebeu nem a
condecora çã o nem o laborat ó rio . Em 1898 , candidatou -se à cá tedra de fí sica
e qu í mica da Sorbonne, mas n ão a conseguiu . Naquela é poca , seu sal á rio era
irracional , foi exposta por Marie Curie em seu primeiro trabalho sobre a
radioatividade ( 1898 ). Pressupunha a exist ê ncia de raios que encobrissem

modesto cerca de 500 francos por m ê s . Ele tinha duas filhas para educar ,
Irene ( Figura 2.8 ) , que veio a ser uma cientista digna dos pais , e Eve , que se
todo o mundo , em todas as direçõ es , algo semelhante aos neutrinos. Por tornou pianista e mais tarde ficou conhecida por uma famosa biografia da
alguma razão misteriosa , esses raios só eram absorvidos por subst â ncias mãe.
radioauvas , que os capturavam e produziam calor . Ernest Rutherford Em 1900 , os Curie foram bafejados pela sorte . A Universidade de
apresentou a id éia de que a radioatividade poderia depender da possibi - Genebra ofereceu a Pierre uma cá tedra em condi çõ es bastante favor á veis . Ele
lidade de a amostra ser ou n ão bastante fracionada . Os pró prios Curie hesitou , mas acabou cedendo . Tal fato , entretanto , chegou ao conhecimento
tinham pesquisado se o aquecimento ou o resfriamento de uma amostra das autoridades francesas , que finalmente , lhe deram um cargo na Sorbonne
aumentaria ou diminuiria sua radioatividade —
a qu í mica sugeria tal
experi ê ncia , mas nada aconteceu . Tamb é m tentaram comprimir tal amostra ,
em 1904 . Pierre ficou muito satisfeito , sobretudo porque , ingenuamente ,
julgou que , como professor de f í sica , teria direito a um laborat ó rio . Mas
mas nada do que fizessem alterava a radioatividade . Era um grande mist é rio . estava enganado . A c á tedra n ã o dava direito a nenhum laborat ó rio c , na
De fato , a taxa de decaimento dos elementos radioativos s ó veio a ser alterada é poca de sua morte , Pierre Curie ainda n ã o conseguira um laborat ó rio
ap ós a Segunda Guerra Mundial , e ent ã o por sutis influ ê ncias qu í micas em adequado . Na medida em que os Curie continuavam a trabalhar em
H . Beeque rel , os Curie e a Descob
erta da Radioa tividad e H . Beequ erel , os Curie e a Descob erta da Radioa tividad e 43

nuisible. L'exemple des dccoiwcitcs de A' obe.l est unaetrnstn/ ur , les ex/ dosijs puissants
ontpernas aux hornmes dcjairc des iravaux admirables. lis sont aussi uu moyen lerrible
de destruclion entre les mains des grands crimineis qui entrainent les peuples vers la
guerre . Je suis de ceux qui pensent avec Nobel que ihumanit é tirera plus de bien que de
mal des d écouvertes nouvelles” ( Lex Piix Nobel en 1903 ).
[ “ Pode -se ainda conceb er que, em m ãos crimin osas , o rádio venha a
tornar - se bastant e perigo so , e aqui podem os indaga r - nos se é vantajo so para
a human idade conhec er os segred os da natureza , se est á madura para
usufru ir desses segred os ou se esse conhec imento lhe será nocivo . O
exemp lo das descob ertas de Nobel é caracter í stico, os podero sos explos ivos
tê m permit ido aos homen s executar tarefas admir á veis . S ã o tamb é m um
meio terr í vel de destruiçã o nas m ãos dos grande s crimino sos que arrastam os
povos para a guerra . Estou entre aquele s que pensam , como Nobel , que a
human idade extrair á mais bem do que. mal das novas descob ertas . ” ]
As palavr as de Curie s ã o dignas de nota porque mostram tamb é m uma
consci entizaçáo dos proble mas que debatem os hoje em dia . Demon stram
ainda que o otimism o das d écadas anterio res estava começando a esvane cer -
Figura 2.8 . Mane Curie se.
com a filha Ir è ne . A
m ã e treinou a filha em Na é poca em que foram lauread os com o Pr é mio Nobel , Pierre tinha
pesquisa s cientific as e , quarent a e quatro anos e Marie trinta e seis ; ambos já tinham a sa ú de precá ria
durante a Primeira e estavam cansad os . Viviam em grande isolame nto, procur ando usufrui r da
Guerra Mundial , le - vida no campo o m á ximo que podiam . Seu c í rculo social era compos to , na
vou - a como assistent e
maior parte das vezes , de velhos amigos da á rea das ciê ncias: . Perrin , P .
Langev in , G . Urbain , A . Cotton , A . Debier ne , G . Gouy e outros , Jtodos f í sicos
no serviço de ambu -
lâ ncias equipada s com
aparelho s radiol ògicos ou qu í micos . Durant e certo tempo interes saram - se pelo espirit ismo , mas
que ela mesma criara. logo desisti ram . Tamb é m conhec iam alguns artistas : na casa dos Curie
( Arquivo s do Instituto
do R á dio . )
podia- se encontra r tanto o esculto r Rodin quanto alguma famosa dan ç arina
do Folies Berg è res .
Em 19 de abril de 1906 , uma terr í vel trag édia desabo u sobre Marie. Ao
condi çõ es deplor á veis , o problem a do laborat ó atravess ar uma rua de Paris , à tarde , Pierre foi atrope lado por uma carrua
rio foi - se transfo rmand o em gem
obsess ã o . Em 1902 , Pierre apresen tou sua candid cujo cavalo tinha -se soltado das rédeas . A morte de Pierre perturb ou Marie
atura à Acade mia france sa . profun damen te e ela passou a sentir - sc extrema mente s ó e sobrec arrega da
Era obriga çã o dos candid atos fazer visitas aos
membr os e cumpri r outras de respon sabilid ades e trabalh o e , al é m do mais , envolta numa aura de fama
formal idades o que Curie despre zava. Com alguma relut ncia
â , fez o que era que n ã o era de seu agrado . Afasto u - se de tudo , real çando sua person alidade
necess á rio . Mas a cadeira foi destina da a E . H .
Amaga t , conhec ido pela reserva da e sua inclina çã o para o isolame nto . De 1900 a 1 906 , Marie deu aula
liquefa çã o de gases ; hoje sabemo s que Amaga t n ã o pode
Curie . Ap ó s essa derrota , Curie desisti u de procur
ser compar ado a na É cole Norma le Femini ne , em S è vres , e depois ocupou o cargo de Chef de
Fran ça . Em 1905 , poré m , um ano antes de
Academ ia .
ar reconh ecimen to na
sua morte , foi eleito para a —
Travaux na Faculd ade de Ci ê ncias isto é , assisten te do marido . Em seguid ,
foi indicad a para o lugar de profes sora da Sorbon ne , em substit ui ção aa
Em 1903, os Curie receber am o Pré mio Nobel Pierre . Sem fazer qualqu er coment á rio , Marie deu prosseg uiment o à s aulas
juntam ente com Henri de Pierre sobre radioat ividade , partind o exatame nte do ponto onde ele as
Beeque rel . Esse fato contrib uiu bastan te para melhor
do casal , mas nem o Pr é mio Nobel nem o Pr rnio
ar a situa ção financ eira interr omper a .
ê Os í ris , de 25.000 franco s , Em 191 1 , foi lauread a com um segund o Pr é mio Nobel . Tamb é m por
que recebe ram mais tarde , propic iaram a eles o ansiad o
labora t essa mesma é poca teve um caso com P . Langev in , quest ã o particu lar que loi
Quand o da apresen ta çã o do Pr é mio Nobel , Pierre Curie ó rio .
discurs o com as seguin tes palavra s : encerr ou seu assunto de muitos comentá rios escand alosos , pois Langev in era casado e
‘'
On peut concevoir encore que dam des mains crimine hnha Filhos . Sua mulher abando nou - o por um certo per í odo e é um dos
lies dangereux el ici on peut se demander si
lles le radium puí sse devenir filhos de Langev in que relata esses episódios em uma biogra fia do pai .
Vhumanit é a avanlage à connaitre les secrets
de la nature , si elle est mure pour en profiter ou si cetle J á citei o nome de Langev in ( 1872 - 1 946 ) diversa s vezes . Trata - se de um
connaissance ne lui sera pas brilha nte f í sico franc ê s que exerceu grande influ ê ncia em sua é poca . Como
' •* J c a Descoberta da Radioatividade H . Becqucrd , os Curie e a Descoberta da Radioatividade 45

estudante , trabalhara coin Pierre Curie e , na Inglaterra , comj . J . Thomson .


Suas principais realiza çõ es ocorreram no campo da teoria , onde sua
an á lise das propriedades magn é ticas dos materiais é um cl á ssico de valor
eterno . Durante a Primeira Guerra Mundial , devotou - se a problemas
pr á ticos de detecção de submarinos e aperfei ç oou osciladores el é tricos de
quartzo , os ancestrais daqueles usados em relógios modernos. A extrema
clareza de seu pensamento e sua capacidade de express ã o fizeram dele u m
professor bastante conceituado . í ntimo amigo dos Curie e de Einstein s
Langcvin estabeleceu v í nculos internacionais e , sob muitos aspectos tornou -
se urn representante semi - oficial das ci ê ncias francesas . Tamb é m dedicou -se
a ideias libertárias e rnais tarde tornou -se um militante comunista . Durante a
ocupa çã o alem ã na Fran ça , participou de movimentos de resistê ncia e no
final fugiu do pais. Voltou ap ós a guerra , quando tinha perdido todos os
parentes com as persegui çõ es nazistas .
Como iniciante em estudos de f í sica , vim a conhecer Langevin na casa
de um famoso matem á tico , em Roma , onde ele era h ó spede dc honra.
Langevin imediatamente traç ou para mim um eloquente paralelo entre a
f í sica que eu estava estudando e a que era estudada em sua é poca . A
termodin â mica , que lhe parecia bastante abstrata , era um dos principais
assuntos de seu tempo . Hoje em dia podemos considerar - nos afortunados
pelo fato de a f í sica lidar com bel í ssimos modelos concretos e , ao mesmo 1
tempo , destruir tantos conceitos abstratos . Pouco podia ele suspeitar a
respeito do que viria a acontecer nos pr ó ximos anos com o desenvolvimento
da mecâ nica qu â ntica . Senti - me lisonjeado com a aten çã o que um homem
tão famoso dava a urn estudante insignificante , com a gentileza de ter - se i

dirigido a mim quase como a um colega . Certamente era um homem


encantador .
Figura 2 9. Marie Curie conversando com R. A. Millikaii no Congresso Volta realizado cm Roma
Por ocasi ã o da Primeira Guerra Mundial , Marie era uma celebridade .
em 1931 . Atr á s dc Millikan est á R . Fowler; à direita W . Heisenberg.
mundial , e o Governo Iranc ês fmalinente destinara verbas para o laborat ó rio
lmejado havia tanto tempo ; mas esse laborat ó rio s ó terminou de ser
^
constru í do ap ó s a guerra e foi usado apenas durante um per í odo menos ativo
da vida de cientista de Marie Curie . No in í cio da guerra , Marie Curie
aos Estados Unidos , onde o Presidente Harding ofereceu - lhe de presente o
r ádio adquirido com contribui çõ es feitas por cidad ãs norte - americanas.
mostrou - se indignada com a falta de equipamento radiol ó gico dos hospiitais Bem no in í cio , foi poss í vel perceber que o r á dio poderia ter efeito sobre
de campo , onde poderia ser de grande utilidade e , pessoalmente , tentou o tecido biol ógico . Um dos primeiros a queimar -se foi Henri Becquerel , ao
remediar a situa çã o organizando um servi ço de ambul â ncias equipadas carregar no bolso do colete um pouco de r á dio preparado pelos Curie . Os
com aparelhos de raios X . Levou consigo , na qualidade de assistente , a filha Curie tamb é m sofreram les õ es provocadas pelo r á dio . Espalhou - se a id éia de
de dezoito anos de idade . Mal posso imaginar urn general franc ê s discutindo que essa nova subst â ncia podia ser ú til para controlar tumores e , assim ,
com Marie Curie . evidenciou -sc que teria um valor comercial . Mas os Curie resolveram n ã o
Ap ó s a guerra , uma jornalista norte - americana , a Sra . VV . B . Meloney , patentear qualquer um dos processos que tinham aperfei ç oado para isolar a
conseguiu entrevistar Marie Curie . Trata - se de um fato memorá vel , pois substâ ncia , resolu ção essa que se enquadrava em suas cren ças e que tem sido
Madame Curie escondia - se de rep ó rteres , de ca ç adores de aut ó grafos e , dc freq ú entemente citada como prova de grandeza de esp í rito e de superio -
maneira geral , de qualquer tipo de publicidade . A Sra . Meloney aparen - ridade . Em minha opini ão , embora possa haver diferentes pontos de vista
temente conseguiu cair nas gra ças de Marie Curie . Prometeu - lhe que as sobre a é tica do patenteamento de descobertas cientí ficas , n ã o h á nenhuma
mulheres norte -americanas forneceriam a ela uma grande amostra de r á dio . virtude espec í fica em recusar os benef í cios que podem advir da pr ó pria
Surpreendentemente , embora tivesse aperfei ç oado os processos t é cnicos obra .
usados no isolamento do r á dio , Marie Curie dispunha de muito pouco r á dio Mais tarde Marie Curie participou ativamente da coopera çã o inte -
para seu uso pr ó prio ou no laborat ó rio . Em 1921 . fez uma triunfal viagem lectual internacional atrav és da Liga das Na çõ es . Em 1929 , fez uma outra
46 H . Becquerel , o.s Curie e a Descoberta da Radioatividade Cap ítulo III
viagem aos Estados Unidos. Enquanto isso , no novo laborat ó rio , prosseguia
com o trabalho de sua vida sobre o velho tema de isolar as fam í lias Rutherford no mundo novo:
radioativas . Preocupava -se tamb é m com o aperfei çoamento de jovens cola -
boradores inclusive sua filha Ir è ne .
a transmutação dos elementos
Mas a sa ú de de Marie estava cada vez mais cambaleante . Sofreu duas
operaçõ es de catarata que a deixaram com a vis ã o bastante deficiente .
Quando a conheci , em 1931 , ela parecia frágil e pá lida ( Figura 2.9 ) .' Suas m ã os
envoltas em gaze , cheias de queimaduras provocadas por radia çã o con -
torciam - se nervosamente . Afinal conseguira o laborat ó rio , mas j á era tarde
demais Tamb é m tinha uma aposentadoria aprovada pela Assembleia
Nacional francesa e duas casas , uma em Paris e outra na Riviera . No final , o
destino foi am á vel com ela , permitindo - lhe assistir , nos ú ltimos meses de
vida , à grande descoberta de sua filha e de seu genro : a radioatividade Embora Erncst Rutherford ( 1 87 1 - 1937 ) tenha sido um gigante na á rea
artificial . Morreu em 1934 num sanat ó rio nos Alpes franceses . da f í sica , devemos lembrar que ele n ã o trabalhou sozinho e que seu nome
tamb é m tem um significado simb ó lico. Os progressos ocorridos na f í sica
dependem de muitas contribui ções feitas por v á rios cientistas num deter -
minado per í odo de tempo at é que , finalmeme , se chegue à frui çã o total . O
ú ltimo pesquisador é que quase sempre recebe o maior cr é dito . Nessas
condi çõ es , para n ã o perder o fio da meada deste livro, devo omitir certos
nomes importantes . N ã o é f á cil seguir todas as interaçõ es entre pesquisa -
dores e mostrar at é que pomo um f í sico se inspirou em outro . Por exemplo ,
Becquerel , os Curie e Rutherford leram os resultados dos trabalhos de cada
um e ocasionalmente trocavam id é ias sobre esses trabalhos , mas é dif í cil
— —
seguir e at é mais dif í cil descrever com efici ê ncia esses interc â mbios t ão
importantes . As cita çõ es contidas nos trabalhos cient í ficos de cada um d ã o
uma id é ia do intercâmbio intelectual entre os cientistas .
Al é m do mais , certos cientistas criaram “ escolas ” em torno de si . O
relacionamento entre mestre e disc í pulo varia segundo o caso , mas quase
sempre as personalidades se complementavam umas às outras e tornavam a
obra mais produtiva . Outros cientistas s ão solit á rios ; todos os est á gios
intermedi ários entre esses extremos n ã o deixam de existir . Rutherford foi
uni dos mais famosos criadores de uma escola e seus colaboradores fizeram
muitas descobertas oriundas dos laborat ó rios por ele dirigidos . Basta
mencionar O . Hahn e F . Soddy , no Canad á ; H . Geiger , E . Marsden , N .
Bohr , G . Hevesy e H . G . Moseley cm Manchester ; e J . Chadwick , P. M . S .
Blackett , J . D . Cockcroft , E . T S . Walton , M . Oliphant , M . Goldhaber , C . E .
Wynn -Williams e outros em Carnbridge . É fá cil perceber como a inspira çã o e
a lideran ça de Rutherford se ampliaram e se suplementaram com o
intercâmbio entre seus disc í pulos .
In í cio da Carreira de Rutherford
Rutherford ( Figura 3.1 ) nasceu em 13 de agosto de 1871 , perto de
Nelson , na South Island da Nova Zel â ndia , no seio de uma fam í lia escocesa
que havia emigrado para aquela regi ã o . Sua m ã e era prolessora prim á ria e
pianista . Tocar piano nas condi ções que predominavam na Nova Zel ândia
em 1870 era forte ind í cio n ã o s ó de cultura como tamb é m de perseveran ça .
O pai de Rutherford era um homem engenhoso e en é rgico que mudou de
n u i a ç ao aos Elemento s Rutherf ò rd no Mundo Novo: A Transmu tação dos Element os 49

Figura 3.1 . Ernest Rutherf ò rd


-
( 187 1 1937 ) aos vinte e um anos
de idade. ( De A .S . Eve , Ruther -
ford ( Londres: Cambridg e Uni -
versity Press . 1930 ) .|

profissã o v á rias vezes. Foi fazende iro , depois montou uma '
i

c, no final , passou a operar uma pr ó spera ind ústria pequena fá brica


de seda vegetal . A fam í lia
vivia cm ú Trv mbiente de pioneiri smo
^ em clima subtrop
tinha seis irm ãõs e cinco irmãs , três dos quais morreram ical . Rutherf ò rd
ainda crian ça .
O jovem Rutherf ò rd frequen tou a escola primária na
Nova
com a idade de dez anos , já lia o livro de Balfour Stewart sobre Zel â ndia e,
Í' .
um começo raro para fí sicos ; em crian ça , eles em geral descobr
em
.
f í sica N ã o é
um livro
de f ísica que os fascina . Em 1882 , a fam í lia de Rutherf
ò rd mudou - se para
Pelorus Sound e ali ele fez os estudos secundá rios e depois entrou
Nelson College . ( Quando , quase meio scculo depois , Rutherf rd para o
ò teve de
escolher um t í tulo de nobreza , optou por Lorde Rutherf
ò rd of Nelson . )
Recebeu do College uma bolsa de estudos de 55 guin é us, o
que era
para mantê - lo durante um ano . Consegu iu fazer 580 sobre 600 suficien te
no
exame dc admissã o e foi o primeiro classific ado ern ingl ês , francpontos Figura 3.2. O primeiro laborató rio de Rutherfò rd . Localizav a - se em um porà o do Canter
-
ê s , latim , bury College, na Nova Zel â ndia . Ali Rutheifor d realizou pesquisas sobre a propaga çã o da
histó ria , matem á tica , f í sica e qu í mica . Em 1889 , recebeu outra
estudos e foi para o Canterb ury College , onde havia sete professo res
bolsa de corrente alternada de alta frequ ê ncia no ferro. Constatou que um fio de aço magnetiza
do
e cento e I pode agir como detector de uma descarga oscilante , fato que j á era conhecido de outros, mas
cinquen ta alunos. do qual Rutherf ò rd ainda n âo se havia dado conta. Dessa forma, conseguia transmitir e
É uma coincid ê ncia curiosa o fato de Rutherf ò rd e receber sinais dc r á dio a uma curta dist ância entre um oscilador e um detector colocado em
Marie
começ ado a carreira estudand o a magneti za çã o do ferro . Para Curie terem i
um amplo dep ósito, que mais tarde foi demolido. Essa pesquisa, à qual Rutherfòrd deu con
-
o bachare lato tinuidade em Cambridg e , levou ao aperfei çoamento de um detector de ondas hertzianas de
em ci ências , ele escreve u uma tese sobre a magneti za ção fin magn é tico . ( Universid ade de Canterbu ry. )
descarg a de alta frequ ê ncia ( Figura 3.2 ) . É digno de nota que , em ferro
do por
estudan te da Nova Zel ândia pudesse fazer tais experi ê ncias para
1889 , um \
uma tese .
Essa obra inicial já mostra as caracter í sticas de Rutherf rd .
demonst rar que o ferro de um fio atrav é s do qual tivesse
ò Sua vontade era
passado uma
\* Em 1894 , aos vinte e três anos de idade , Rutherfò rd concorre u a uma
bolsa de estudos financia da pela Exposi ção de Londres de 1851 . Essas
descarg a de alta frequê ncia magneti zava -se apenas “ superfic
ialment e ”. i bolsas de estudos dnham sido institu í das pelo Pr í ncipe Consorte , o marido
Rutherf ò rd magneti zou o fio usando a descarg a e mostrou
que ele estava da Rainha Vit ó ria , que desejava dedicar os recursos restantes da exposi çã o a
magneti zado . Depois , mergulh ou o fio em ácido n í trico , dissolve ndo
a superf í cie . A magneti za çã o desapar eceu . Essa pesquisa foi
apenas bolsas dc estudos para s ú ditos do Imp é rio Brit â nico . Tais bolsas ainda
publicad a mais existem e constitue m importan te recurso em termos educacio nais para a
tarde na colet â nea de suas obras .
Comuni dade Britâ nica . ( Quando , anos mais tarde , surgiu a id é ia de acabar

ii
50 Rutherford no Mundo No \ 'o: A Transmuta çã o dos Elementos Ruiherford no Mundo Novo: A Transmuta çã o dos Elementos 51

com elas , Rutherford exerceu toda a sua influ ê ncia para que issu n ã o De in í cio , Rutherford prosseguiu seus estudos sobre magnetismo . Em
acontecesse . ) Rutherford foi o segundo colocado , mas o vencedor desistiu , o outra carta , conta que tudo estava correndo bem , que tinha de preparar
qu é lhe permitiu continuar os estudos na Inglaterra . Diz - se que , quando relat ó rios sobre seus estudos para um semin á rio e que todos acatavam suas
recebeu o an ú ncio da premiaçã o , Rutherford estava na í azenda da fam í lia , opini ões com muita seriedade . O trabalho sobre magnetismo logo veio a ter
colhendo batatas . Leu o telegrama que trazia a not í cia e disse : “ Esta é a ú ltima aplica çã o prá tica , pois sua descoberta foi usada na detecçà o de sinais sem
batata que colho em minha vida ”. Teve de tomar dinheiro emprestado para fio . Marconi estava fazendo coisa semelhante na Itália , mas havia diferen ças
as despesas de viagem . No percurso , parou em Adelaide para um encontro fundamentais entre os dois . Marconi , mais inventor do que cientista , estava
com W . H . Bragg ( 1862 - 1942) , que també m viriaaserum dos maiores f ísicos interessado sobretudo nas possibilidades prá ticas do detector . Rutherford ,
do Impé rio . Bragg era pouco mais velho que Rutherford e , à é poca , era ainda embora tivesse reconhecido as potencialidades de aplicação de seus estudos ,
um jovem professor. Mais tarde , W . H . Bragg e seu filho , W . L. Bragg ( 1890 - n ão estava tio interessado nessas potencialidades . N ã o obstante , o detector
1971 ) , fizeram descobertas memor á veis na á rea da cristalografia e dos magn é tico de fio era de grande importâ ncia e chegou mesmo a causar
raios X . W . L. Bragg sucedeu a Rutherford em Manchestcre em Cambridge . problemas legais quanto a patentes at é que o aperfei çoamento das v á lvulas
Rutherford chegou a Cambridge, Inglaterra, em setembro de 1895 , e de v á cuo o tornaram obsoleto .
foi aceito como aluno de pesquisas por J . J . Thomson , que , conforme j á
vimos , tinha sido nomeado professor do Instituto Cavendish ainda bem Pesquisas de Radioatividade
jovem . Quando da chegada de Rutherford , Cambridge estava passando por
importantes transforma çõ es em seu curriculum , abrindo maior campo para o Enquanto isso , Rò ntgen tinha feito sua espantosa descoberta e todos
treinamento experimental e inaugurando laborat ó rios para estudantes procuravam avidamente trabalhar com os raios X . Rutherford , junto com
estrangeiros. O primeiro aluno estrangeiro a trabalhar sob o novo plano de Thomson , começou a medir a ionizaçã o produzida pelos raios X e , em 1897 ,
reformas foi Rutherford . Sua fama espalhou -se rapidamente entre os ap ó s a descoberta da radioatividade , imediatamente aplicou sua experi ê ncia
companheiros , que logo se deram conta de que estavam tratando com na medi çã o da ioniza ção produzida pelo urâ nio .
algu é m fora do comum. N ão muito tempo após sua chegada, um colega Em longo trabalho realizado no Laborató rio Cavendish , cm 1898 ,
escreveu o seguinte: “ Temos aqui um coelho que veio de terras ant í podas e Ruiherford percebeu que havia dois tipos de radiaçã o emitidas do urâ nio:
que está cavando bem fundo ” . chamou - os de alfa e beta . Essas radiaçõ es distinguem - sc por sua capacidade
Existe uma respeitável coletânea da correspond ê ncia de Rutherford . de absorção na maté ria . Ao mesmo tempo , os Curie estavam descobrindo o
——
Ele escrevia regularmente para a m ãe a cada duas semanas enviava uma
cana, o que fez durante toda a sua vida e ela viveu at é os noventa e dois
pol ó nio e o r á dio . Tamb é m eles , assim corno Becquerel , estavam estudando
as propriedades das radia çõ es emitidas por substâncias radioativas. Seus
anos . Enquanto ainda estava na escola secund á ria , ele se enamorara de uma esfor ços e os esfor ç os de Rutherford e de muitos outros pesquisadores
colega, Mary Ncwton , e também escrevia para ela. A maior parte das cartas de coincidem de uma maneira complicada . N ã o era raro ocorrerem erros , mas
Rutherford para sua m ã e est ã o desaparecidas , mas talvez ainda existam ; em alguns anos tinham chegado à conclus ã o de que os raios beta eram raios
Mary guardou as que lhe eram dirigidas. Uma dessas canas cont é m a cató dicos , isto é, el éctrons . Al é m disso , P . V . Villard , na Fran ç a, descobriu
seguinte descri çã o deThomson , conforme a opini ã o de Ruiherford em 1895 : uma radia çã o mais penetrante , chamada gama , que é similar aos penetrantes
“ Fui at é o laborat ó rio e ali encontrei Thomson , mantendo com ele um raios X . Mas os raios alfa permaneciam um mist é rio. Tanto Rutherford
longo bate - papo . Trata - se de um homem de conversa bastante agrad á vel , quanto os Curie suspeitavam tratar -se de part í culas , á tomos carregados
nada fossilizado . Quanto â apar ê ncia , é um sujeito de altura m é dia , moreno eletricamente e projetados a uma alta velocidade. Do ponto de vista
e ainda muito jovem
— sempre mal - barbeado e de cabelos relativamente
compridos . Seu rosto é um pouco longo e magro . Tem uma cabe ça boa e um
-
fenomenol ógico , caracterizavam se por sua capacidade de absor çã o e pelo
pequeno desvio em um campo magn é tico . Talvez o leitor conheça a famosa
par de sulcos verticais bem acima do nariz . Falamos sobre generalidades e figura freq ú entemente encontrada em manuais , que remonta à é poca dos
sobre trabalho de pesquisa , e ele pareceu apreciar o que eu ia fazer . Curie e Becquerel ( Figura 3.3 ). També m se suspeitava que os raios alfa
Convidou - me para almo ç ar , em Scroop Terrace , onde o encontrei junto com i tinham um alcance definido .
a esposa , mulher aJta e morena um tanto p álida , mas bastante e íoq ú eme e Em 1898 , vagou um cargo na Universidade McGill , em Montreal , e
am á vel ; fiquei conversando durante mais de uma hora ap ó s terminado o Rutherford decidiu apresentar -se como candidato . Foi uma decis ã o repen -
jantar e depois voltei para a cidade ... Esqueci de mencionar a grande coisa tina . Mudar -se de Cambridge , o centro mundial da f í sica , para uma
que vi : o ú nico menino da casa , de uns tr ê s anos e meio , um guri robusto , universidade colonial no Canad á era um salto no escuro . Mas Rutherford
com um ar sax à o , mas o mais bonito quej á conheci ern termos de aparê ncia e unha um esp í rito aventureiro e , afinal de contas , tinha vindo da Nova
de tamanho ” . ( Eve, Rutherford, p . 15 . ) Zel â ndia , que n ã o era exatamente o centro cient í fico do mundo. Al é m do
O menino era G . P . Thomson , o futuro descobridor da difra çá o do
el é ctron , que morreu em 197 5 .
roais , sempre — e justificadamente — teve grande confian ç a em si mesmo .
Conseguiu uma carta de recomenda çã o com J J . Thomson , que escreveu o
* » V U . .v .
1 1 uiMiiuu
^ au tios Elementos

Figura 3.3. Os tr ê s tipos de raios: alfa ,


beta e gama . Distinguem - se por suas
trajet ó rias em um campo magn é tico
em â ngulo reto ao sentido do movi -
mento . Os raios alfa ( n ú cleos de h é lio )
sã o carregados positivamente ; os raios
beta ( el éctrons ) s ão muito inais leves e
carregados negativamente; os raios ga -
ma , an á logos aos raios X , sâ o quanta de C
radia ção eletromagn é tica ( fó tons ) . Co -
mo s âo neutros , n ã o sã o desviados
pelo campo magn é tico . Rutherford foi
responsá vel pela nomenclatura . ( De
Marie Curie , Thesn ( Paris : Gauthier -
Villars , 1904 ) . )

seguinte: “ Nunca tive um aluno que mostrasse tanto entusiasmo ou


capacidade para pesquisas originais quanto o Senhor Rutherford e tenho Figura 3.4 . Rutherford na Universidade McGill , Montreal , em 1905 . Nesse ano , ele come ç ou ,
certeza de que , se ele for o escolhido , instalará uma importante escola de as pesquisas sobre as propriedades das part í culas alfa . O isolamento dessas partí culas levou -
f í sica em Montreal . Eu consideraria afortunada qualquer institui çã o que o mais tarde à descoberta de um n ú cleo pesado no á tomo . ( De Eve , Rutherford . )
usufru ísse dos servi ços do Senhor Rutherford como professor de f í sica ” ( Eve ,
p . 55). O que era absoluta verdade ; mas já li cartas semelhantes sobre pessoas
Rutherford obteve algumas substâ ncias radioativas e come çou a
^^
que n ã o tin n nada de Rutherford . Rutherford foi aceito como professor ,
mas primeiro viajou at é a Nova Zel â ndia , para casar -se com Mary Newton , e
depois seguiu com ela para o Canad á. Seu sal á rio era de 500 libras por ano ,
pesquisar o problema descrito a seguir . R . B . Owens e Rutherford tinham
observado que as correntes de ar influenciavam a ioniza çã o produzida por
soma considerá vel e cerca do dobro do salá rio de Pierre Curie na é poca . Esse subst â ncias radioativas . Rutherford suspeitou que elas emitiam gases
fato reflete as condi çõ es no Imp é rio Brit â nico em compara çã o à s da radioativos . Os Curie j á tinham visto que objetos colocados nas proximi -
Rep ú blica francesa. dades de fontes radioativas podiam adquirir “ radioatividade induzida ” , que
O novo ambiente de Rutherford em Montreal era bastante receptivo ( agora sabemos ) é causada por dep ó sitos ativos desprendidos de gases que
( Figura 3.4 ) . Ele encontrou laborató rios de f í sica e qu í mica recé m - cons - escapam das fontes radioativas . Se n ão tomarmos precau çõ es , a forma ção de
tru í dos apoiados e financiados por um benfeitor da universidade , o dep ósitos radioativos se torna um excelente exemplo de fen ô menos n â o -
milion á rio William MacDonald . O chefe do departamento , John C.ox , reprodut í veis. Anos mais tarde , tive uma experi ê ncia desse tipo ( piando da
observou Rutherford durante algumas semanas c chegou â seguinte con - descoberta da fiss ã o do urânio , embora soubesse perfeitamente da possibi -
clusão: “ Creio que é melhor que eu me encarregue de dar as suas aulas e de lidade de gases radioativos e de dep ó sitos ativos .
todas as outras atividades do cargo de professo í . Você continuará a fazer o Assim , constatou -se que subst â ncias radioativas desprendiam gases
que tem de fazer ” . Eis a í uma demonstraçã o de not á vel generosidade e radioativos , bem como os tr ês tipos de radiaçã o . Essa descoberta abalou os
inteligê ncia . Rutherford deu - se muito bem com os colegas e
cartas isso fica evidente —
em suas
com eles estabeleceu as mais cordiais rela çõ es ,
— alicerces da qu í mica e é necess ário que se leiam os relat ó rios originais para
apreciar a perplexidade sentida na é poca . Rutherford disse o seguinte: “ Se se
baseadas no respeito m ú tuo pela contribui çã o de cada um deles . tratar de gases , n ã o tenho d ú vida de que vou conseguir demonstrá - lo ” .
5 -1 Rmhcrlonl no Mundo Novo: A Transmuta çã o dos F. l niiniios Ruiherford no Mundo Novo: A Transmuta çã o dos Elementos 09

Assim , deu in ício a urna experi ê ncia bem simples , no verdadeiro estilo O outro problema dizia respeito à natureza dos raios alia . Tamb é m
Rutherford , usando uma v álvula aberta equipada com uma s é rie de seriam um gás ; Rudierfoi d testou essa hipó tese, mas o resultado foi negativo .
eleirodos , conectada a um eletrô metro ( Figura 3.5 ) . Pasmou os gases , Entã o , tentou outra coisa . Se fossem part í culas carregadas , qual seria sua
misturados com ar , atrav és da v álvula . O gás entrou por uma extremidade e rela çã o entre carga e massa , isto é , sua carga espec í fica ? Eram ou nao
saiu pela outra. Ele mediu o fluxo e, por conseguinte , a velocidade do g á s . desviados em um campo magn é tico? As opiniões sobre esse ponto b á sico
Mediu també m a radioatividade na entrada e ao longo de toda a válvula e sua variavam . Rutherford , em uma publica çã o , discordou de Becquerel , que , a
depend ê ncia da velocidade do gás. A partir dessas medi ções Rutherford princí pio , julgava que os raios alfa n ão eram desviados por um campo
conseguiu determinar a meia - vida de gases radioativos. Tamb é m fez outras magn é tico . Depois , ambos concordaram em que eram desviados . Exami -
experiências para convencer-se de que os portadores de radioatividade eram naram v árias hip ó teses e chegaram a alguns resultados experimentais
realmence gases , porque essa conclusã o parecia muito estranha . erró neos , conforme se pode ver nos Cullected Papers de Rutherford . Mas,
Nesse ponto , Sir William MacDonald doou ao laborat ó rio equipa - finalmente, Rutherford chegou à importante conclus ã o de que a carga
mentos para liquefa çã o de ar . Rutherford passou o ar que continha os gases espec í fica para os raios alfa era semelhante à do h é lio ionizado . Descobriu
radioativos através de uma v álvula de cobre resfriada com ar l íquido para tamb é m que , quando se aquecem substâ ncias radioativas , elas emitem h é lio
verificar se os gases radioativos se condensavam . Descobriu que eles res - e que o mesmo ocorre com minerais radioativos . Todo esse trabalho levou
friavam e que, quando a válvula era aquecida , vaporizavam - se de novo. Mas , tempo , mas , entre 1903 e 1904 , Rutherford se convenceu de que as part ículas
quando tentou medir a temperatura da vaporiza çã o cometeu um erro : alfa eram í ons de h é lio . Agora era uma quest ã o de tempo prov á - lo .
acreditou ter achado uma diferen ça de comportamento das v á rias erna -
naçõ es ”, que era como chamava os gases. Uso a palavra várias porque ele
tinha gases origin ários de t ó rio ou de ur ânio. Hoje sabemos que as Os Disc í pulos e a Descoberta da Transmuta çã o
emanações sã o isotó picas e, por conseguinte, todas t ê m id ênticas tempera -
turas em estado de ebuli çã o e de vaporiza çã o . Mas Rudierford
descobriu Enquanto o estudo f í sico da radioatividade estava provocando esses
diferen ças sistem á ticas na evapora çã o , o que mostra que mesmo ele , resultados surpreendentes , tamb é m os estudos qu í micos estavam revelando
ocasionalmente , podia cometer erros . De qualquer forma , a pr ó pria fen ô menos espantosos . Crookes descobriu em 1900 que, ao precipitar
descoberta da exist ê ncia de gases radioativos estava correta e foi muito hidr ó xido de ferro em uma solu çã o salina de uranilo , toda a radioatividade
importante . Mostrou também que , de algum modo, os átomos de urâ nio e passava para o precipitado e o ur â nio permanecia inativo. Mas , ap ós alguns
de t ó rio desintegravam -se e que , entre os fragmentos , havia gases . dias , o precipitado perdia sua atividade e o ur â nio a readquiria . Fen ô menos
semelhantes ocorriam em outras subst âncias radioativas em diferentes

escalas de tempo às vezes em horas , à s vezes em minutos . Era como se
fossem fantasmas nos laborat ó rios que se divertissem em p ô r de volta
durante a noite as prepara çõ es cuidadosamente isoladas durante o dia . Tudo
parecia misterioso , at é que Rutherford e Soddy , a quem nos referiremos em
MO*
breve , tiveram a id é ia de que as substâ ncias radioativas transmutavam - se
uma na outra .
Í ARTAf
Examinemos um exemplo de transmuta çã o . O urânio produz conti -
nuamente , por sua desintegra çã o espont â nea , uma outra substâ ncia radio -
ativa — — UX , que por sua vez , se desintegra espontaneamente. Em um
min é rio n ã o alterado , tudo isso ocorre à mesma taxa , ou seja , o mesmo
n ú mero de á tomos de U e de UX se desintegra espontaneamente a cada
segundo . Mas , se separarmos quimicamente o ur â nio da subst â ncia ativa ,
UX , cuja radioatividade é a ú nica que pode ser observada em virtude da
A
*1 natureza das radia çõ es , constataremos qu é a atividade do UX se reduz com a
caracter ística de meia - vida de UX porque j á n ã o é reabastecida por ur â nio .
Ao mesmo tempo , o ur ânio , que tinha perdido sua radioatividade pela
separa çã o de UX , volta a adquiri -la . Portanto , temos duas curvas de
Figura J . y Aparelhagem para detectar a emana çã o do ló rio c medir
sua meia -vida . O ar ,
passado pelo material C , transporia o gás radioativo até a ampola à direita.
e H servem para medir a ioniza çã o causada pelo gás . A partir desse c
Os eletrodos E , F

auvidades uma para a subst ância separada e outra para o urâ nio . Uma
desce e a outra sobe ( Figura 3.6 ). A soma das atividades é constante , porque
á lculo e da velocidade
do gá s é que se obtem a meia vida . [ Do artigo de Rutherford e F.
Soddy em Tramací ions of lhe
corresponde a urânio em equil í brio ou urânio como é encontrado em um
Cli/ mical Society tf / . 321 ( 1902 ) | M min é rio natural .
» t u l u mundo INOVO : A 1 ransmutação
“ O
dos Elementos Rutherford no Mundo Novo: A Transmuta çã o dos Elementos 57

Rutherford e Soddy esclareceram toda a complexa fenornenologia ,


reduzindo-a à norma fundamental segundo a qual cada á tomo radioativo
tem uma probabilidade definida (constante no tempo ) de desintegrar - se
espontaneamente em uma unidade de tempo. Essa probabilidade é
caracter ística da substância examin áda e n ão depende de nada mais ,
conforme tinha sido claramente demonstrado por Rutherford em 1900. f oi
uma id é ia brilhante e revolucion ária, mas nela estava contida a transmutaçã o
de á tomos , algo que até mesmo Rutherford hesitava em mencionar , porque
soava muito parecido com alquimia. De fato, quando ele informou a seus
colegas de Montreal o que havia descoberto e explicou os fen ô menos , eles o
aconselharam a usar de prud ência quando apresentasse as provas , a fim de
n ão ser considerado louco . Mas os fatos estavam ali e n ã o podiam ser
refutados.
Agora passaremos a Soddy. Quando Rutherford começou a sentir
«

necessidade de um qu í mico , este apareceu na pessoa de Frederick Soddy


( 1877 - 1956). Soddy tinha estudado na Inglaterra e fizera o Ph . D . em
qu í mica . Ao procurar emprego em alguma parte do Imp é rio Brit â nico ,
candidatou -se a um lugar em Toronto. Enviou uma carta c um telegrama e
ficou esperando ansiosamente por uma resposta . Como n ã o chegasse nada ,
Soddy , homem de a ção , embarcou para o Canad á a fim de verificar o que
estava acontecendo. Ao chegar a Nova Iorque , disseram - lhe que o cargo que
estava cobi çando já tinha sido preenchido . Mas , como ainda dispunha do
bilhete da passagem, decidiu ir até Montreal. Ali mostrou as cartas de
recomenda çã o e solicitou um cargo na Universidade McGill . Foi contratado
pelo departamento de qu í mica. Rutherford , que precisava de aux ílio, falou
com Soddy , mostrou lhe o que estava fazendo econdivou -o a trabalhar com
ele . Soddy logo se uniu a Rutherford e ambos tornaram - se í ntimos
colaboradores. De 1900 a 1903, trabalharam juntos e constataram a teoria
das transmuta çõ es radioativas. Mais tarde , Soddy contribuiu para a elabo -
ração do conceito de isotopismo, segundo o qual, em sua forma primitiva ,
pode haver substâncias quimicamente id ê nticas, mas diferentes quanto a
suas propriedades radiotivas . Soddy tamb é m cunhou o termo “ isot ó pico ” ,
para indicar que as subst âncias colocam -se no mesmo lugar no sistema
Figura S .6. ( a ) Curvas de crescimento e de decai - peri ó dico dos elementos qu í micos . Exerceu o cargo de professor de qu í mica
m e n t o do urânio X (Th 288 ). As cursas
mostram em Oxford , por é m seu g ênio criativo perdeu a força com o passar do tempo .
- \ .
que a atividade do UX extraí do do ur â nio , que .
unha perdido sua atividade no momento da ex-
. Depois de Soddy , outros estudantes chegaram a Montreal , inclusive
tração do UX , volta a adquiri- la; assim ,
a soma algumas futuras “ celebridades ” , como Otto Hahn ( Figura 3.7 ) . Hahn nasceu
das duas atividades é uma constante . Mais tarde , em Frankfurt , em uma fam ília de negociantes . Em crian ça e como estudante ,
essas curvas foram usadas no bras ã o ( b ) de Lorde
Rutherfotd . ( fb) De Eve, Rutherford .)
nunca demonstrou sinais de precocidade. Formou - se em Marburg em 1901 ,
depois de ter estudado qu í mica orgânica , e foi aceito como assistente de
Theodor Zincke , seu professor . Hahn havia planejado seguir carreira como
industrial em uma das firmas alem ã s de produtos qu í micos que então
estavam no auge . Zincke sugeriu - lhe aprender ingl ês e , assim , mandou - o
trabalhar com Sir William Ramsay, o especialista em gases nobres que tinha
descoberto o neon , o cr í pton e o x ê non .
Ramsay estava tentando trabalhar na á rea de radioqu í rnica , sem
muito sucesso , e n ão era muito apreciado por Rutherford . N ã o obstante , este
sugeriu um excelente problema para Hahn : extrair o r á dio de uma certa
Rutherf ord no Mundo Novo: A Transmu ta çã o çlps Elemen tos 59
58 Ruiher íord 110 Mundo Novo : A Transm uta çã o dos Elemen tos 0 ‘
-
Mas n ã o se passou muito tempo at é que Hahn convenc esse Rutherf ord
é poca , o
e Boltwo od de que tinha raz ã o . Devemo s lembrar que naquela
,
era desconh ecido e , nessas condi çõ es , cada vez que se descobr ia
isotopis mo element o,
uma nova subst ância radioati va, julgava -se que era um novo
- cabe ç a quando se ser insepar á vel de um
constitu indo um quebra constatava
fazer uso
element o j á conheci do . O radiotó rio de Hahn é um isó topo para
(
n ã o é , do de vista
do vocá bulo moderno ) do t ó rio e , por consegu inte , ponto
vel do ó rio . Mas , como o Th se desinteg ra em
qu í mico , diretarn ente separ á t
228 , e este , por sua vez , se desinteg ra em
MsTh , que é um is ó topo de Ra ( Ra )
de o Th
RaTh , é poss í vel primeir amente separar MsTh de Th e entã o , depois
no MsTh , isolar o primeir o em um estado
ter - se transfor mado de novo
de Th ,
relativam ente puro . Assim , obtemos uma separa çã o de RaTh a partir
o que seria imposs í vel realizar diretam ente . Talvez fic á ssemos espanta dos
fatoTie -R utherfor d e Hahn à é poca n ã o terem captado o conceito de
com o -
;
bem n í tidos de is ó topos
isotopis mo , visto que tinham descobe rto exempl os
mas , quando a mente n ã o est á prepara da , a vista n ã o reconhe ce , conform e j á
observa mos em diverso s casos . .
Hahn trabalho u com Rutherf ord durante aproxim adamen te um ano
Em 1906 , voltou à Aleman ha , para o Instituto de Qu í mica Org â nica Emil
Fischer , mas continu ou a atuar na área da radioqu í rnica . Em 1 907 , aliou -se a
e de
uma jovem qu í mica vienense , Lise Meitner ( Figura 3.7 ) , que era assistent
Max Planck , e os dois instalar am um importa nte centro de pesquis as
, no
nucleare s . Ap ós alguns anos , Hahn consegu iu seu pi ó prio laborat ó rio .
Instituto C á iser Wilhelm , de Berlim Dahlem , ainda jumo
com Meitner
Em 1933 , Meitner preciso u fugir dos nazistas e emigrou para a Su écia alguns
meses antes de Hahn e Sirassin ann descobr irem a fiss ã o do ur â nio . Hahn
tinha , na é poca , cinquen ta e nove anos de idade , e talvez isso constitu a
exempl o extremo de uma descobe rta feita por um cientista relativa meme
idoso .
nao
Entre as muitas maravil has divulga das durante esse per í odo
m de ocorrer falsas descobe rtas : raios “ n ” , com o tr á gico ep í logo do
deixava do
suic í dio do homem que acredita va tc los descobe rto ; a transmut a çã o
Figura J . 7 . Ouo Hahn ( 1879 - 1968 ). Esse renomado radioquim ico alcm à o , aluno dc Ruiher - merc ú rio em ouro anuncia da por
, qu í micos que procura vam promov er - se ,e
ford , deixou sua marca na á rea da radioqu í rnica , desde a descober ta de novas subsi á ncias mais . Por outro lado , at é 1904 o grande D . I . Mendele ev , cientist ajá de
outras
ser
certa idade , mas ainda audacio so , n ã o acredita va que o h é lio pudesse
radioativ as naturais at é a descober ta da fiss ã o do ur â nio. A seu lado, Lise Meitner ( 1878 -
1968 ) . ( Ullstein Bilderdie nst . )
resultad o de transmuta çõ es at ó micas .
Rutherf ord passou a ser muito procura do como confere ncista , pois
gostava de viajar , e assim visitou muitas universi dades dos Estados
Unidos e
prepara çã o de cloreto de b ário que continh a rá dio . Nem Ramsav nem Hahn deslocar - se . A
imagina vam que tal prepara çã o continha outro isó topo de Ra , Ra 228 ; o r á dio da Comuni dade Brit â nica sempre que o trabalho lhe permitia
Univers idade de Yale , oferece u - lhe um cargo muito bem - remuner ado , mas
comum (aquele descobe rto pelos Curie ) é Ra 226. Hahn , no final , tamb é m idade
descobr iu outro isó topo radioat ivo de t ó rio , ao qual deu o nome de Rutherf ord recusou - o , alegand o que “ eles agem como se a univers
radiot ó rio (Th ) . R . B . Boltwoo d , famoso radioqu imico da Univer sidade de fosse feita para estudan tes ” . Mas manteve sua forte amizade com Boltwoo d ,
Yale e amigo í ntimo de Rutherf ord , n ã o ficou convenc ido com o trabalh o de de Yale . A longa e curiosa corresp ond ê ncia trocada entre os dois , que ali á s j á loi
Hahn e , em carta enviada a Rutherf ord , comento u que o radiot ó rio era “ um publicad a , fornece urn retrato v í vido da radioqu í rnica da é poca , embora
composto de t ó rio e estupide z ” . Foi assim que Hahn chegou a Montre al omita os importa ntes trabalho s realizad os pelos Curie .
cercado de uma reputa çã o um tanto duvido sa . Para aumenta r o ceticism o de A origem da energia liberada em desinte gra çõ es radioati vas continu ava
Rutherf ord , este e Soddy tinham descobe rto um outro isó topo de Ra , a ser um dos grandes mist é rios nessa á rea . Rutherf ord , juntamem e com os
chamad o ThX ( Ra 224 ). Curie , A . Labordc e outros , mediu essa energia e chegou a um n ú mero

*
Jl
60 Rutherfo rd no Mundo Novo : A Transm utaçã Rutherf ord no Mundo Novo: A Transmu taçã o dos Element os
o dos Elemen tos 61

espantos amente elevado . Julgou ent ão que os materiai s


na ferra poderia m influen ciar enormem ente seu equil
radioati vos existen tes I 9. Radiaçõ es dos produto s ativos . Signific ado do aparecim ento dos
lhe deu a oportun idade de solucion ar uma antiga
í brio té rmico , e isso fl raios beta e gama na ú ltima mudan ça rá pida nos radioele mentos .
querela entre Lorde Kelvin
e os geó logos . Lorde Kelvin tinha calculad o a taxa de resfriam V 10 . Diferen ça entre transfor mações radioativ a e qu í mica .
ento daTerra e 11 . Exposi ção sobre as experi ê ncias feitas para medir a carga dos
a partir dai inferiu o lapso de tempo escoado entre o
estado de uma esfera
incande scente em fus ão e o estado atual . O resultad o foi um i raios alfa .
12. Magnitu de das mudan ças que ocorrem nos radioele mentos .
excessiv amente curto em compar açã o com as per í odo j
provas oferecid as pela
geologi a ; da í as divergê ncias . Quando Rutherfo rd analisou o calor I 13 . Origem dos radioele mentos .
pelas subst â ncia :, radioati vas existent es na Terra , resolveu - se
'
forneci do I Trata - se de um resumo da obra de Rutherf ord realizad a até aquela
Rutherfo rd , orgulho so dessa constataçã o , descrev eu da
o problem a , f . é poca . Ele tinha bons motivos para ficar circulan do pelo laborat ó rio e
divulga çã o de sua descobe rta : seguinte forma a | cantan do em voz alta: “ Avante , soldado s de Cristo!”
. Mas a fase de Rutherf ord no Canad á estava chegand o ao fim . Seu
Entrei na sala , que estava meio às escuras , e logo consegu
Lorde Kelvin em meio à plat éia ; percebi que teria i distingu ir retorno à Inglater ra coincidi u com um novo per í odo de atividad es . Agora
problem as com a ú ltima devemos deixá - lo de lado por um instante , para n ão perturb ar a sequ ê ncia
parte de minha palestra reladva à idade da Terra , pois minhas
opini õ es £ hist ó rica dos aconteci mentos .
conflita vam com as dele. Para meu al í vio , Kelvin logo
adorme ceu , mas,
quando fui - me aproxim ando do ponto importa nte, dei - me
aquela velha raposa estava acordad a , com urn olho aberto e lan ç andode que
conta \
mim um olhar de desd ém ! De repente, veio - me a inspiração , e sobre ~
eu afirmei que
Lorde Kelvin tinha consegu ido identifi car a idade da Terra ,
visto que a partir ;
de ent ão n ã o se havia descobe rto nenhum a outra fonte .
Essa declara
profé tica refere -se ao que estamos examina ndo esta noite: o rádio ! , ção
s ó ! O velhote estava sorrindo para mim !” ( Eve , .
E vejam
p 107 ) .
Em 1903, Rutherf ord foi eleito para a Rnyal Society de Londres
maio de 1904 , pronunc iou a Conferê ncia Baker sobre e , em ]
Mudan ças em Corpos Radioat ivos ” . A Conferê ncia Baker “ Sucess ão de
unha sido criada *
por um microsc opista amador do s éculo XVII , que deixara
uma doa çã o
especia l para sua realiza çã o . O confere ncista é chamad o
apr nta ção de sua obra e tal convite é uma das mais elevada s honraspara fazer uma
^
ciê ncia-britâ nica pode conferi r . Rutherf ord fez uma outra Confer
em 1920 .
que a
ê ncia Baker ^
í

Na Confer ê ncia Baker de 1904 , ele relacion ou os itens


descobe rtas: de suas

1. Nomenc latura .
2. Taxa de desinteg ra ção espont ânea da atividad e excitada do t rio
ó edo
r á dio em diferent es per í odos de exposi çã o à emana çã o e para diferent
es tipos
de radia çã o. ’

3 . Teoria matem á tica das mudan ças sucessiv as .


4 . Aplica ção da teoria para explicar as mudan ças no ( a )
t ó rio , ( b )
act í nio e ( c ) r á dio .
5 . Questã o do baixo ritmo de mudan ça produzi do pelo r á dio : ^
-
compar a ção da mat é ria com o rádio tel ú rio de Marckw ald .
6 . Radioat ividade aparente da mat é ria ordin ária , devida em
)
parte a
um dep ó sito ativo de taxa de mudan ç a lenta na atmosfe ra .
7 . Compar açã o das mudan ças sucessiv as no urânio , t ó rio , act í nio
e
r á dio .
8 . Exposi ção sobre o signific ado das mudan ç as “ sem raios ” nos
radioele mentos .
f Capítulo IV
>

Planck , um revolucion ário obstinado :


a id é ia da quantizaçã o

Nos cap í tulos anteriores enfoquei basicamente as principais desco -


bertas de car á ter: experimenta l , como os raios X e a radioativida de . Nossos
her ó is eram acima ~cle tudo f í sicos que tiniram descortinado esses novos
mundos. Agora , precisaremo s voltar - nos para a outra , face da f ísica , que,
embora menos acess í vel ao leigo , é de igual import â ncia . Refiro - me ao
desenvolvim ento de ideias teó ricas que foram fundamenta lmente novas e
t à o revolucion á rias em seus pr ó prios campos quanto a descoberta dos
raios
X e da radioativida de .
Assim , podemos ver a delicada trama entre teoria e prá tica que conduz
a f í sica em seu progTesso de ziguezague entre novos fatos e novas teorias . O
objetivo final da f í sica é descrever a natureza e prever fen ô menos , coisa que é
imposs ível fazer partindo de teorias aprior ísticas: ficar íamos encalacrado s
ap ó s alguns passos e os erros se misturariam uns aos outros e nos levariam a
outros caminhos que n à o o certo . Por outro lado, apenas o uso de
experi ê ncias faria com que nos emaranh á ssemos em uma atordoante teia de
fatos desconexos , sem a menor esperan ça de desenred á - los . A combina çã o
da teoria com a pr á tica , propiciada pelo uso da linguagem matem á tica , é que
permite os espantosos resultados que a fí sica tem alcan çado . A tarefa rnais
importante realizada por Galileu foi ter compreendid o o poder dessa alian ça
e ter indicado os meios de consegui - la .
É como se quase sempre a f ísica seguisse urna linha predestinada e os
grandes cientistas simplesmen te acelerassem o processo . Se n à o houvesse
um cientista em determinado momento e lugar , haveria um outro e este
outro descobriria a mesma coisa . Exceçã o importante é constitu í da pela
descoberta do quantum de a çã o , ao qual dedicaremo s este cap í tulo .
Os Pilares Teó ricos da F í sica

No final do s é culo XIX , a f ísica cl á ssica tinha atingido alturas


admir á veis: sua estrutura era harmoniosa e , at é certo ponto , completa . A
mecâ nica tinha amadurecid o com a ajuda de Newton , e Lagrange a
sistematizara a tal ponto que eia parecia oferecer um modelo universal . A
esperan ça era que cada cap í tulo da f í sica poderia reduzir - se à mec â nica . Essa
expectativa , no entanto , foi se desfazendo , sobretudo porque o eletro -
magnetismo maxwelliano j á n ã o parecia poder ser reduzido à mecâ nica , co -

v
mo o pr ó prio Maxwell esperava . De qualquer modo , a estrutura do universo
t í aiick, um Revoluci on ário Obstinad o: A Id é ia da
Quantiza çã o Planck, um Revoluci on ário Obstinado: A Id é ia da Quantiza çã o 65
parecia repousar sobre dois pilares : mecâ nica e
Boltzmar m j á livera pressentim entos a respeito dessa id eletroma gnetismo . postulad os , podem -se extrair consequê ncias praticame nte inesperad as e
é ia quando incluiu ,
em seu tratado sobre a teoria de Maxwell , a remotas . Por exemplo , a termodin âmica prev ê o abaixame nto do ponto de
pergunta de Fausto no drama d ç congelam ento da água sob pressão , o que explica o fluxo das geleiras .
Goethe : War es ein Gott der diese /Ceichen schrieb ? ' "
( Houve um Deus que A termodin â mica tem omesmog rau de certeza que seus postulad os . O
escreveu esses sinais ? ” ] . A hist ó ria b í blica do Gé nese
poderia ser reescrita em racioc í nio em termodin âmica é quase sempre sutil , mas é absolutam ente
linguage m moderna . " Fa ç a - se a luz! ” transfot mou - se em :
s ó lido e conclusiv o . Veremos corno Planck e Einstein nele se apoiaram com
V F - d TT ( ) absoluta confian ça e de que modo considera ram a termodinâ mica como a

V x E = - 1r dB
dt
V

V x H
H 0
l <3E
= -c dt
4-
An ] ! l
ú nica base absolutam ente firme para construir uma teoria f í sica . Sempre que
tinham de enfrentar grandes obstáculos , recorriam a ela .
A termodin â mica distingue os fen ô menos revers í veis dos irrevers í veis .
i Um exemplo dos primeiros é a colis ão elástica perfeita entre duas esferas
isto é , as equa çõ es de Maxwell que governam o conform e considera das em mecânica ; por outro lado , a expans ã o de um gás
luz . E , para o moviment o dos corpos celestes ,
campo eletromag n é tico da
em um v ácuo é irrevers ível . Na nossa experi ê ncia quotidian a , vemos
fen ô menos praticame nte revers í veis em ambos os sentidos do tempo . Por
F = ma
, mm exemplo , em uma colisão el ástica poder íamos come çar do final , reverter
rl2 todas as velocidad es e voltar ao est ágio inicial . Isso n ão é poss í vel com os
J fen ô menos irrevers í veis . Ningu é m viu ainda todas as mol é culas de um
ditada por Newton . volume de gás concentrare m -se espontane amente em um canto de um ,

Uin ponto de vista tã o radical é t ão ing é nuo quanto o dos recipient e . Se filmarmo s um fen ô meno , podemos fazer o filme rodar para a
listas que acreditam em uma interpret ação literal da B í blia . fundame nta- frente ou para tr á s . Sc o fen ô meno for revers í vel , n ã o acharemo s nenhum

com o eletroma gnetismo maxwelli ano , embora ambos tivessem


Alé
despeito de todos os triunfos , havia ainda algumas pequenasm do mais , a
conforme sugeria Lorde Kelvin . Era difícil conciliar a mecâ nica “ nuvens ,
newton iana
! í
crit é rio para afirmar se o filme está rodando de maneira correta ou inversa ,
mas , se o fen ô meno for irrevers ível, veremos que existe uma forma correta
dc rodar o filme . Quando uma chama sob uma chaleira esfria a á gua até
mados por in ú meras experi ências e Hertz tivesse demonstr
sido confir - congelar , chegamos à conclusão de que observam os um fen ô meno irrevers í -
ado que a vel às avessas .
equa çã o de Maxwell abrangia os fen ô menos da luz. \
Um terceiro pilar da f í sica , talvez o mais firme , era a A possibilid ade de passarmo s de um estágio de um sistema para outro,
ci ê ncia da reversive lrnente , depende apenas dos está gios inicial e final . O sentido do
termodin â mica : essa ci ê ncia é bastante diferente da mecânica
e do eletro -
magnetism o porque pode ser aplicada a todos os modelos ,
embora n ã o i tempo em fen ô menos irrevers í veis é determina do . A id é ia de reversibi lidade
pode ser aprimora da e expressa quantitat ivamente pelo conceito de entro-
fugira nenhum em particula r . Em sua forma cl á ssica, originou -se de um
estudo cient í fico do motor a vapor de Sadi Carnot ( 1796 - 1832 ) . pia . A entropia de um sistema é a quantidad e que se relaciona com esse
Mais tarde sistema da mesma maneira que seu volume ou sua energia , e pode ser
foi aperfei çoada pela descober ta da conservaçã o da energia
Mayer ( 1814 - 1878 ) , Herrnann von Helmhol tz e W . Thomson , e
por Robert medida com experiê ncias apropriad as. Uma mudan ça irrevers ível aumenta
da por R . Clausius . A termodinâ mica clássica é consequ sistemati
ê ncia de duas
za -
I a entropia de um sistema isolado e assim a entropia aumenta , ou , pelo
menos , n ão diminui com o tempo.
propostas aparentem ente in ócuas : ( 1 ) É poss í vel construir um motor
de gerar energia indefinid amente. Tal motor é chamado capaz 5 At é a í , tudo bem . Mas todos os fen ô menos mecâ nicos e eletromag n é ti -
de moto - contí nuo cos nos esquema s dessas duas ciências s ão revers íveis. Depara- se- nos ent ão a
do primeiro tipo e a proposta afirma a conserva çã o da
energia .
imposs í vel construir um motor que só faça retirar calor de uma fonte ( 2 ) É seguinte pergunta : se todos os fen ô menos elementar es s ã o revers í veis e todos
temperatur a constante e o converta em trabalho mecâ nico .
a uma os fen ô menos fí sicos são uma combinaçã o deles , de onde vem a ó bvia
palavras de Lorde Kelvin ( 1848 ) , "é impossível , por meio de
Para usar as i irreversib ilidade do mundo macroscó pico ?
uma for ça Esse problema fundamen tal preocupo u durante algum tempo algu -
material inanimad a , extrair efeito mec â nico de qualquer
por ção de mat é ria I mas das maiores inteligê ncias do século XIX . A nova ci ê ncia da mecâ nica
resfriand o -a abaixo da temperatu ra do mais frio dos objetos
[ W. Thomson , Mathematical and Physical Paper , vol . I , . que a cercam ”. •r. estat í stica que resultou de seus esfor ç os introduzi u os conceitos de probabi -
Universi ry Press, 1882 ). ] Esse seria o moto-*cont í nuo p do174 ( Cambrid ge lidade e , assim , reduziu a distância entre a mec â nica e a eletricida de , de um
Observe se que ele seria tá o ú til , do ponto de vista pr á tico ,
segundo tipo . lado , c a termodin â mica , dc outro . Entre os fundador es da mec â nica
quanto o moto -
cont í nuo do primeiro tipo , porque , por exemplo , retiraria
calor unicamen te
do mar e o transform aria em trabalho . Se isso fosse poss í vel ,
problema s práticos de energia estariam resolvido s. A partir desses dois
todos os \ estat í stica estavam Maxwell , R . Clausius , L . Boltzman n e J . W. Gibbs.
Descobriu -se que a segunda lei da termodin â mica n ã o tem uma
validade absoluta , mas uma pr obabilida de extremame nte alta . Essa probabi -
lidade é t ão alta que , se quis éssemos observar uma exceçã o cm uma escala
*

M
í
66 Planck, um Revolucioná rio Obstinado: A í d éia da Quaniiza
çà Planck , um Revolucion á rio Obstinado: A Í d éia da Quamiza çã o 67
. ah
1' .

x = bv / kT
h g u i a -/ . I . ( a ) O gr áfico da distribui ção dc velocidade de
mol é culas em um g á s mostra o numero
.
de mol éculas n por intervalo de unidade de
velocidade . Essa curva pode ser usada para qualquer corpo negro à temperatura I , a densidade dc energia por intervalo de
( b ) Para radia çã o do
massa molecular m e qualquer tempertura absoluta T , frequ ê ncia de unidade ) é representada graficamente . A curva pode ser usada para qual -
que .v ( Nil 2 kT ) i ' 1r e a escala da ordenada seja tal , que desde que a escala da abscissa seja tal ,
= quer temperatura , desde que a abscissa tenha uma escala tal que * = hvlkTe a ordenada
-
va é y = x‘ exp( x 2 ). A velocidade mais provável é
uma mol écula é (
= ) ( SmhrkT ) uln . A equa çã o da cur -
( 2 kT / m ) iric a energia cinética m édia
3/ 2 ) kT independente da massa ni.Esses resultados foram obtidos por Maxwell.
de —
tenha uma escala que y ( TT* b :C 3lk *T * ) u . A equa çã o da curva é y = x */ ( exp x - 1 ) . As formas
limitantes de Rayleigh e de Wien s ão apresentadas no quadro , para o x pequeno .

macroscó pica , ter í amos de esperar muito mais tempo do que o Resultado importante da mecânica estat í stica foi a descoberta leita por
de idade . Por exemplo , dadas muitas moléculas universo tem Maxwell da lei que governa a distribui çã o de velocidade em um g á s
em
impede que essas mol é culas se acumulem na metade urn recipiente , nada monat ô rnico . Maxwell chegou à conclus ão dc que o n ú mero de mol é culas
Mas, para ver um evento desse tipo , talvez tivéssemosesquerda do recipiente . cm um determinado intervalo de velocidade é proporcional á densidade do
de esperar
extremamente longo , de aproximadamente 1010 anos , a ordem deum tem- po g ás e depende apenas da temperatura do g á s e da massa absoluta das
de da idade do universo . Assim , o grande Maxwell magnitu -
escreveu o mol éculas . Podemos calcular essa distribui çã o de velocidade com a mecâ ni -
Lorde Rayleigh : " Moral . A segunda lei da termodin seguinte para
â mica tem o mesmo n í vel ca estat í stica , mas n à o com a termodin â mica . Maxwell descobriu essa lei em
de verdade que a afirma ção de que, se voc ê 1859 por um racioc í nio intuitivo , mas n ão rigoroso . Forneceu melhores
d ’água no mar , n ã o conseguirá reaver o atirar o conte ú do de um copo
mesmo conte ú do ” . [ Rayleigh , Lijeof provas mais tarde , mas sua tese inicial é espantosamente clara e mostra a
Lord Rayleigh , p. 47 ( University of for ça de seu gê nio . Só em 1921 é que O . Stern obteve uma confirmaçã o
Wisconsin Press, 1968 ) . ]
A entropia considerada pela termodin â experimental direta ( vide Figura 4.1 ) .
lidade do estágio de um sistema e també m damica é uma medida da probabi
“ desordem ” do sistema . Tanto
- A mecânica estat í stica teve muito sucesso e foi profundamente estuda -
a probabilidade quanto a da por Boltzmann e por muitos outros f í sicos depois de Maxwell . Provocou
desordem tendem a aumentar em um sistema
isolado. muitas quest ões sutis e dif í ceis . Um resultado digno de nota foi que qualquer
A mecânica estat í stica possibilita grau de liberdade de um sistema em equil í brio t é rmico tem a energia cin é tica
al é m do escopo da termodinâmica . -nos enfrentar problemas que vào
Mas exige modelos mais circunstancia - m é dia de ikT . Foi poss í vel provar rigorosamente esse resultado com base na
dos ou outros postulados e é, portanto , mecâ nica cl ássica e , em muitos casos , ele chegou a ser verificado experimen -
menos segura e imutá vel do que a
termodin âmica . Tanto a termodin âmica telmente , mas em outros casos falhou . Assim , por exemplo , os graus internos
ú teis apenas quando aplicadas a problemas quanto a mecânica estat ís ú ca sà o
que envolvem muitas partículas de liberdade de um á tomo n ã o se manifestavam no calor espec ífico e um gás
ou , de um ponto de vista mais t écnico monat ô rnico tinha um calor espec í fico como se os á tomos fossem pontos , o
muitos graus de liberdade .
que certamente n ão s ã o . Esses paradoxos atordoaram os estudiosos de
oo i iaiick , um Revolucionário Obstinado : A Id é ia da Quantização A Id é ia da Quantização 69
Planck, um Revolucionário Obstinado :
mec ânica estat í stica , como Boltzmann , Lorde Kelvin , Lorde Rayleigh e
muitos outros . Mas n ão suspeitavam eles que a raiz das dificuldades estava ele se devotava obstinadamente . Primeiro explicarei o problema e depois
simplesmente na validade da pró pria mecâ nica cl ássica. falarei de Planck .
Talvez o tratado mais perfeito sobre a mecânica estatí stica cl ássica Um corpo negro é um corpo que absorve completamente as radiaçõ es
tenha sido escrito porjosiah Willard Gibbs , em 1902: um livro pequeno , mas eletromagn é ticas que sobre ele caem . O orif í cio de uma cavidade , tal como a
de apreci á vel n í vel de dificuldade e sutileza, intitulado Elementary Principies of porta de um forno , na prádea se comporta como um corpo negro . O poder
Statistical Mechanics . O autor, o maior físico norte -americano do século XIX , emissivo - ou emissividade - de um corpo é a potê ncia eletromagnética
tinha uma inteligê ncia profundamente original e cr í tica . Levou uma vida um emitida por unidade de superfí cie . O poder de absorção é a fração de energia
tanto isolada, dando aulas na Universidade de Yale , e foi reconhecido por incidente que é absorvida . Para um corpo negro o poder de absorção a é igual
gente como Maxweel , mas n ão era particularmente apreciado nos Estados a 1 porque absorve toda a energia incidente , pela pró pria defini ção de corpo
Unidos de sua época . No prefácio do livro ele diz o seguinte: negro . A radia ção é emitida em forma de ondas eletromagn éucas , de certa
“ Al ém do mais , evitamos as mais s érias frequê ncia , e todas as frequê ncias est ão nela representadas , cada uma com
dificuldades quando , desistin - sua pró pria intensidade . Poder í amos examinar a radiação com um espec -
do da tentativa de elaborar hip óteses referentes à constituição de corpos
materiais , analisamos indaga çõ es estatí sticas como em um dom í nio trosc ó pio e achar a energia em cada intervalo de frequ ência , obtendo a
da distribui çã o espectral da energia . É poss í vel calcular a temperatura de um
mecânica racional . No atual est ágio da ci ê ncia , parece pouco poss í vel a
elaboração de uma teoria dinâmica de ação molecular que abranja os j forno olhando para dentro dele atrav és do vidro da portinhola . J á em 1792 ,
T. Wedgewood , o fabricante de porcelana e antecessor de Darwin , unha
fenô menos da termodinâmica, da radiação e das manifestações el étricas que
acompanham a uniã o de á tomos . Mas qualquer teoria que não levar em
conta esses fen ô menos será evidentemente inadequada . Mesmo
i observado que , quando são aquecidos , todos os corpos se tornam vermelhos
à mesma temperatura . Essa observação r ú stica foi formulada do ponto de
que limite- vista cient í fico e de modo preciso por Kirchhoff , que em 1859 provou pela
mos nossa aten ção aos fenômenos distintamente termodinâmicos , não .
fugiremos às dificuldades em quest ões t ão simples como os graus de I termodinâmica que a proporção entre emissividade e coeficiente de absor -
liberdade de um g ás diatômico . Ê conhecido o fato de que , embora a teoria | ção é uma fun çã o apenas da frequ ência e da temperatura e independe da
determine para o gás seis graus de liberdade por mol écula , em nossas natureza do corpo . Para um corpo negro que tenha um coeficiente de
experiências sobre calor espec í fico , não podemos contar com mais de cinco . | j absor ção 1 , o poder emissor depende apenas da temperatura e da frequê n -
Certamente , quem basear seu trabalho em hipó teses relativas à constituição i cia , pouco importando de que modo o corpo negro é obtido na prá tica . A
da matéria estará construindo alguma coisa sobre um alicerce inseguro . Figura 4.2 mostra um aparelho cl ássico usado pelos fisicos do Reichsanstalt
Dificuldades desse tipo já dissuadiram o autor de tentar explicar os para medir a emissividade de um forno fechado mantido a determinada
mistérios da natureza e forçaram - no a satisfazer -se com o objetivo mais temperatura .
modesto de deduzir algumas das propostas mais ó bvias relacionadas com o Podemos facilmente avaliar que a descoberta da lei que rege a
ramo estat í stico da mecâ nica . Neste ponto , n ã o pode haver erro quanto ao emissividade de um corpo negro constitui problema importante . O fato de
consenso das hipóteses com os fatos da natureza , pois não sc pressupõe nada independer da natureza do corpo indica um cará ter geral do resultado , mas
T a esse respeito . Ò ú nico erro em que se pode cair é a falta de consenso entre as mesmo os cientistas que trabalhavam nessa área não podiam suspeitar que
premissas e as conclusões e isso com certo cuidado , pode - se basicamente consequ ê ncias amplas e fundamentais viriam a ter as pesquisas sobre a
tentar evitar ” . emissividade de um corpo negro .
Qual o ponto de vista da termodinâmica a respeito da emissividade do
corpo negro ? O primeiro e mais importante resultado é a lei de Kirchhoff
Um Problema Abrangente : o Corpo Negro citada acima . Tal resultado poderia ir mais al é m ? Em combinação com a
teoria eletromagn é tica , poderia proporcionar maiores detalhes . A emissivi -
H á um outro problema um tanto semelhante à distribui ção da dade total tinha de ser proporcional à quarta pot ê ncia da temperatura , o que
velocidade de uma molé cula de gás - o problema do corpo negro . A havia sido descoberto experimentalmente pelo f í sico austr í aco J . Stefan
( 1835 - 1893 ) em 1879 e , em 1884 , Boltzmann obteve esse resultado ao
termodinâmica cl ássica pode indicar algumas importantes limitaçõ es à sua
solu ção , mas não pode resolv ê- lo completamente . Alguns fisicos experimen - combinar a termodin â mica com a teoria da eletricidade de Maxwell ( vide
tais de renome , como Heinrich Rubens ( 1865 - 1922 ) , Ernest Pringsheim Ap ê ndice 1 ) .
Outro passo foi dado por W . Wien em 1893 . Conseguiu ele , mais uma
( 1859 - 1917 ) e Otto Lummer ( 1860 - 1925 ) , do Physikalisch Technische
vez atrav é s da termodin âmica combinada com a teoria de Maxwell ,
Reichsanstalt de Berlim ( o equivalente alemão do íf ureau Nacional de Padrões demonstrar que a emissividade era o produto do cubo da frequê ncia
dos EUA ) , já estavam trabalhando nessa área na virada do s éculo , bem como
outros fí sicos teó ricos de outros locais , como W . Wien , Lorde Rayleigh ej . H .
multiplicado por uma fun ção do quociente da frequ ê ncia dividida pela tem -
peratura . A partir da lei de Wien , torna - se fá cil deduzir a lei de Stefan . A lei de
Jeans . Acima de tudo , um termodinamicista cl á ssico de realce, Max Planck , a Wien nos conduz at é onde é poss í vel ao combinar a termodin â mica com a
f .t
70 Planck, um Revolucion ário Obstinado: A Id é ia da Quantiza ç ao Planck , um Revolucion á rio Obstinado: A Id é ia da Quantiza çao 71
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lharam todas as tentativas de encontrar a f ó rmula exata para a emissividade ,
inclusive tentativas importantes feitas pelo pr ó prio Wien . Os resultados obti - k
••
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/ *i ' MtZ ikari

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dos eram incompat í veis com a experi ê ncia , à s vezes at é absurdos , porque pre - 'JCmjr Àn
V
t nrw .váairkjtrji yy
viam uma emissividade total infinita . Em lugar da emissividade , quase sempre F O O G f
/
conv é m examinar a densidade de energia no volume do corpo negro , P
por A
exemplo , dentro de um forno. A densidade de energia també m pode ser 1
analisada com rela çã o à frequ ê ncia , e a densidade de energia é simplesmen -
h
te proporcional à emissividade ; o fator de proporcionalidade é ATTIC ,
onde c é /
a velocidade da luz. /
(b)

Max Planck ( b ) Curvas de emiss à o do corpo negro a uma frequê ncia constante e temperatura vari ável ,
comparadas com dados experimentais . ( De H Rubens e F . Kurlbaum , em Annalen der Physik 4 ,
Agora passemos a Max Planck ( Figura 4.3 ) , que viria a dar um passo 649 ( 1901 ) .!
decisivo ao descobrir a lei da emissividade e, atrav é s dela , abrir novos e
insuspeitados campos em toda a f í sica . Planck nasceu em 1 8 de abril de 18 58,
em Kiel , Alemanha , descendente de uma fam í lia de advogados
e ministros duas celebridades : Kirchhoff e Helmholtz . O primeiro dava aulas perfeitas e
protestantes . O pai era renomado professor de Direito . Os Planck de alto n í vel que , vez por outra , provocavam sono nos estudantes . O
tons -
titulam exemplo das melhores qualidades dos alem ã es: a honestidade segundo n ã o preparava as aulas de modo satisfat ó rio e era muito dif í cil
dedica çã o ao dever e talvez tamb é m uma certa rigidez de cará >

aspectos t í picos da fam ília . A vida de Planck foi arruinada


ter eram acompanhar - lhe o racioc í nio . Planck , como Heiririch Hertz , que teve os
trag é dias pessoais . Suas voca çõ es eram a m ú sica , á rea em que
por violentas mesmos professores , relata esses fatos em algumas cartas à fam í lia . Por sua
demonstrou pró pria conta , escolheu uma tese sobre termodin â mica e obteve o certificado
alta capacidade profissional , e o alpinismo , esporte a
idade avan çada .
que se dedicou j á em cm Munique no ano de 1879 .
A iam í lia de Planck mudou - se para A tese era importante , mas passou despercebida . Segundo Planck ,
Munique, na Bav á ria , em 1867 , Eindruck Null ( nenhuma impressã o ). Helmholtz n ã o a leu , Kirchhoff n ão a
antes da unifica ção da Alemanha . Max fez o
gin ásio em Munique e ali teve aprovou e , quando Planck tentou inostrá - la a Clausius, este n ão foi
um bom professor de F í sica , H . Mueller, que
enfatizava o princ í pio dc encontrado . Nessa tese , Planck aplicou algumas de suas ideias ao estudo dos
conserva ção da energia com exemplos que
impressionavam o jovem aluno . / equilí brios termodin â micos e escreveu boa parte daquilo que mais tarde
Na Universidade de Munique , matriculou - se
em cursos relativamente % riaa incluir em um famoso livro sobre termodin â mica, que se tornou texto -
^padr
insignificantes e depois , seguindo o costume alem ã o de mudar Si.

dade , matriculou -se na de Berlim , onde frequentou cursos de universi - gg ão para várias gera çõ es de fí sicos . Max Planck , entretanto , n ão sabia que
m i n i s t r a d o », n n r Gihhs c p m r e o n a r a a o\ p A ^ v á rias formas O n o r t e - a m e r i c a n o rinha
/ 1* idiius um Revolucion ário Obstinado : A Ideia da Quantizaçã o 1 lanuq um Revolucion á rio Obstinado: A Ideia da Quanuza ção 73

A descoberta da lei da emissividade era uma meta digna de seus


esfor ç os e nela Planck começou a trabalhar em 1897 . Wien , depois de ter
descoberto algumas das propriedades gerais da lei da emissividade usando a
termodinâmica, julgou , em 1893, tê-la descoberto integralmente e elaborou
uma fó rmula. Essa fó rmula , de in ício , parecia estar em conson â ncia com
dados experimentais , conforme mostram as Figuras 4.1 -ae 4.2 - b . Asseme -
lhava se um pouco à lei de distribui çã o de mol éculas em um g ás e , no seu
todo , parecia digna de cr édito . Planck. tentou , durante alguns anos , obt ê- la ,
combinando rigorosamente a termodinâmica com a eletrodin âmica. Mas
Bolrzmann mostrou que esse racioc ínio estava errado , porque n ã o fazia a
an álise estat í stica correta exigida para calcular as condi çõ es de equil í brio.
Surgiriam contesta ções p ú blicas , entre as quais a de um dos alunos de
Planck , que atacava as bases matem áticas da mecâ nica estat í stica; Boltzmann
respondeu -as à altura, e tinha razào , conforme o pró prio Planck veio a
confirmar mais tarde .
A despeito desses vaiv é ns , Planck perseverou em sua obra e chegou a
um resultado importante. A termodin âmica mostra que a radia çã o em um
Figura 4. J . Max Planck corpo negro n ão depende da natureza das paredes, mas apenas da
( 1858 - 1947 ) por volta temperatura das paredes. Planck ent ão pensou em analisar um corpo negro
de 1900 . Sua descober - com paredes feitas de osciladores hertzianos cujo comportamento poderia
ta do quantum de a çã o
( 1900 ) causou uma re-
ser calculado . Dessa forma, evitou tratar com a constitui ção detalhada de
volu çã o na filosofia na- mol éculas reais , que era desconhecida à é poca . Com essa importante
tural introduzindo simplificação , Planck descobriu que a potê ncia emissiva tinha de ser
uma dcscontinuidade proporcional à energia m édia dos osciladores . Por outro lado , conforme
ern muitos campos da Maxwell e Boltzmann haviam demonstrado , a mecânica estat ística inequi -
fí sica e for çando uma
mudan ç a radical na
vocamente exigia que a energia m édia do oscilador fosse proporcional à
descri ção dos fen ô me- temperatura absoluta:
nos .
(E) = ( R / A ) T = kT
publicado seus resultados em Transactions oflhe Connecticut Academy of Sciences onde ( £ ) é o valor m é dio da energia do oscilador , R é uma constante
— certamente bem às escondidas —
e , quando Planck descobriu esse fato ,
í universal que aparece na relação entre pressão , temperatura e volume e uma
ficou bastante desapontado .
O primeiro local de trabalho de Planck foi em sua cidade natal , Kiel .
*
4
m à ssa de um g ás perfeito pV = RT , e A é o n ú mero de Avogadro , isto é, o
n ú mero de mol éculas contidas em um mol . Em outras palavras , para uma
mol écula em volume V, ter -se - ia pV = é T- Planck chamou a propor çã o
Quando Kigchhoff morreu , em 1889 , a Universidade de Berlim chamou R / A = k de constante de Boltzmann , nome que hoje em dia j á é aceito
^
Boltzmann que estava em Viena, para suced ê- lo. Boltzmann a princí pio
aceitou , mas depois mudou de id é ia , porque n ã o lhe agradava a atmosfera
prussiana de Berlim . Ap ós sua recusa , a Universidade de Berlim , um tanto
universalmente. Boltzmann , no entanto , nunca utilizou k em seus trabalhos ,
registrando - o como R/ A , quando necessário . A combina çã o dos resultados
de Planck sobre a rela ção entre energia m édia do oscilador e for ça emissiva
inesperadamente, recorreu a Planck . Helmholtz era a figura mais importante > d á , entã o ,
de Berlim , e agora Planck vinha a travar conhecimento com ele e a t ê- lo como
colega , da í resultando sua grande simpatia e respeito por Helmholtz . Em sua
I
4

^
autobiografia , ele registra que Helmholtz o elogiou em duas ocasiões: por sua 8 - kT
u { v ,T ) = r
teoria de solu çõ es e poi seu elogio a Hertz .
A dedicaçã o de Planck a quest õ es b á sicas e gerais levou - o a envolver - se
conforme Rayleigh acentuou . Essa lei n ã o parecia concordar com dados
no problema do coipo negro , que era independente de modelos ató micos ou
experimentais e, al é m disso era obviarnente indefensá vel porque a
de outras hipó teses espec í ficas . Planck idolatrava o absoluto c o corpo negro
pot ê ncia emissiva total , integrada em todas as frequ ê ncias , seria infinita .
eia o absoluto .
74 Planck , um Revolucion á rio Obstinado: A Id éia da Quantizaçà o Planck, um Revolucion á rio Obstinado: A Id é ia da Quantizaçào 76
^
No inicio de seu trabalho , Planck desejava achar a prova para uma
Os osciladores hertzianos da parede do corpo negro t ê m urna certa
f ó rmula proposta por Wien : u { v ,T ) = A e - 11 que aparentemente estava
^
em conson â ncia com dados experimentais . Como mestre em termodin
â mi -
distribui çã o de energia e uma distribui çã o de entropia . hm equ í brio , a
entropia tem de ser m áxima e pode ser calculada estatisticamen te com o uso
ca , ele postulava uma express ã o para a entropia dos osciladores que daria da equaçã o fundamenta] de Boltzmann . Para calcular a probabilidade por
a
f ó rmula de Wien , e tentou mostrar que sua escolha , que obedecia à s exig ê n - m é todos de an álise combinató ria , Planck achou conveniente dividir a
cias da termodin â mica , era muito especial . energia de um oscilador em quantidades pequenas , mas finitas , de modo
Nesse meio tempo , algumas experi ê ncias começ aram a lan ç ar d ú vidas que a energia dos osciladores pudesse ser registrada como £ = Pc , onde P é
sobre a fó rmula de Wien . No Reichsanstalt os f ísicos estavam chegando à um n ú mero inteiro. Com essa hip ó tese , Planck p ô de calcular a energia
conclus ã o de que a baixas frequ ê ncias , para a radia çã o infravermelha , as m édia de um oscilador e , assim , chegou à fó rmula do corpo negro . Planck
diverg ê ncias eram maiores do que erros experimentais poss í veis . Planck confiava em que c podia tornar - se arbitrariament e pequeno e que a
inteirou - se desses resultados e tentou alterar sua express ã o para a decomposi çã o de £ em quanridades finitas seria apenas um artif í cio de
entropia
da radia çã o , generaJizando - a ( vide Ap ê ndice 2 ) . A partir da nova express ã o , cálculo . Mas , para que os resultados combinassem com a lei termodin â mica
voltou a calcular a emissividade e descobriu uma fó rmula , que foi divulgada , de Wien , c tinha de ser finito e proporcional à frequ ê ncia do oscilador
em 19 de outubro de 1900 , no Semin á rio de Fí sica da Universidade de
Berlim . Nesse mesmo dia , Rubens e Kurlbaum confrontaram a fó rmula de e = hv
Planck com os resultados de suas pr ó prias experi ê ncias e chegaram à
conclusã o de que se encaixavam perfeitamente . Planck tinha descoberto a onde h é uma nova constante universal , denominada apropriadamen te
f ó rmula do corpo negro . Talvez fosse apenas uma feliz interpola çã o mas constante de Planck .
aparentemente n ã o havia erro . Dessa maneira , a densidade de energia no corpo negro torna - se
No entanto , era preciso justificá - la do ponto de vista teó rico . Planck
declarou o seguinte no seu discurso pelo Pr é mio Nobel , vinte anos mais 8 7T V * h
tarde:
u ( v, 7 )
'
~
rl e hulkT
_
“ Mas , ainda que a f ó rmula da radia çã o estivesse perfeita e irrefuta -
^
velmente correta , teria sido , afinal de contas , apenas uma fó rmula de onde hv é uma quantidade finita , um quantum de energia . O oscilador
interpola çã o descoberta por um feliz acaso do raciocí nio e isso nos teria harm ó nico n ã o podia ter nenhuma energia conforme ensinado pela
deixado relativamente insatisfeitos . Em consequ ê ncia , a partir do dia da eletricidade e pela mec â nica cl á ssica , mas apenas valores discretos m ú ltiplos
descoberta , dispus - me a dar - lhe uma interpreta çã o f í sica , o que me levou a integrais de hv . A fó rmula de Planck para hvlkT < 1 d á uma ex-
examinar as rela çõ es entre entropia e probabilidade segundo os conceitos de press ã o aproximada do limite cl á ssico descoberto por Rayleigh ; para
Boltzmann . Ap ó s algumas semanas do mais intenso trabalho que j á realizei hvlkT !> 1 , d á a fó rmula descoberta por Wien em 1893 e , para os casos inter -
na vida , as coisas come çaram a clarear e visõ es inesperadas reveleram - se a medi á rios , discorda de ambos , mas , naturalmente, apó ia - se nas medidas
distancia ” . [ Les Prix Nobel en 1920. ) experimentais ( vide Figuras 4.1 b , parte interna , e 4.2 - b ) .
O que é que Planck tinha feito ? Primeiro , sem nenhuma dificuldade , O resultado é revolucion á rio . Um juiz competente e nada t í mido como
achaia a express ã o da entropia da radia çã o , correspondente à sua f ó rmula Einstein disse o seguinte a respeito:
“ Todas as minhas tentativas de adaptar as bases te ó ricas da f í sica a essas
para // ( t ' , 7 ) , tendo , por é m , de justificá - la depois . Enquanto lidava com a
termodin â mica cl á ssica , Planck estava pisando em terreno conhecido, novas no çõ es fracassaram integralmente. Era corno se o ch ão tivesse sido
terreno no qual era mestre ; mas a tarefa extrapolou os limites da termodi - arrancado de debaixo dos p é s de algu é m e esse alguern n ã o visse nenhuma
n âmica cl á ssica . Era preciso fazer uso dos m é todos de mecânica estat í stica , -
base firme onde pudesse apoiar se ” . (Schlipp , Albert Einstein, Pkilosopher -
com os quais estava menos familiarizado e , acima de tudo , nos Scieniisl , p . 45 . )
quais tinha
muito menos confian ça . Mas era a ú nica maneira de poder prosseguir . Era evidente que a teoria nem era um pesadelo nem uma fantasia ,
Entre a entropia e a probabilidade ( deixando - se de lado algumas s é rias porque as consequ ê ncias experimentais foram abrangentes , corretas e
dificuldades na defini çã o de probabilidade ) est á a rela çã o antes desenvol - concretas . Desde o primeiro trabalho , Planck salientou que da lei de Stefan e
vida por Boltzmann ( e gravada em sua sepultura , em Viena ): da lei termodin â mica de Wien é poss í vel inferir as duas constantes
universais £ ç k , e destas , a carga do el éctron , o n ú mero de Avogadro e muitas
\ outras coisas . No documento de Planck de 1900 , achamos /? = 6 , 55 x IO 27 '

S = klog \\/ erg - sec . ç k = 1 , 346 x IO 16 erg . / 0 C ( Figuras 4.4 e 4.5 ) . Hoje sabemos que
'

onde H ' é a probabilidade termodin âmica e k , a constante universal , que 1


| = 6 , 6262 x 10 - 27 erg . seg ek = 1 , 380 x 10 - 16 . erg./ ° C . As diferen ças sã o
^
Planck chamou de constante de Boltzmann . m ínimas . A partir desses í ndices , Planck obteve a carga do el é ctron e o
n ú mero de Avogadro . Passaram -se quase vinte anos para que esses cálculos
/ o iitiiiLk, um Revolucion á rio Obstinado: A Ideia da Quantiza çã o planck, um Revolucion ário Obstinado: A Ideia da Quantização 77

Hierbç i liud A uod k univeraelle Constante.


9 . Ueber das Gesct* Durch Substitution in (9) erh &lt man :
der Energieverteilung im Nonnalspectrum ;
von Max P l a n c k .
1
T " x; lo* l + ( if ) '
(In tnderer Fortn mitgeteilt ia der Deutachen Pbjraiktlischen GeMlUchsfl, kr
Sitiung vom 19. October and rom 14 . December 1900 , Verbtndlungeo ( 10
.
2 p. 202 und p. 237. 1900 . ) -1
and sus \0 ) tolgt dsnn dw gesuchte EnerfieTerteilungsgeeets:
Binleltufig .
Die oeueren Spectralmessungen von 0 . L u i n m e r u n d
E . P r i n g a h e i m 1 ) und noch auffá lliger diejenigen von
H. R u b e n s u n d F. K u r l b a u m 1) , welche zugleich ein frllher
(1 2 )
-
ê rtAr
" -c - 1 \

oder auch , wenn man mit d « n in Q 7 angegehenen SubaUta


-1
-
tioDen ntatt der Scbwingungtsahl r wiader die Wellenl&nge l
von H ; Beckmann 8) erhaltenes Resultat bestá tigten , haben
einfQhxt .
gezeigt, dass das zuersi von W . W i e n aus molecularkinetischen
Betrachtungen und spà ter von mir aus der Theorio der elektro
raagnetischen Strahlung abgeleitete Gesetz der Energieverteilung
- ( 13) E - . 8nek
y- *
1

iin Nonnalspectrum keine allgemeine Gliltigkeit besitzt.


Die Theorie bedarf also in jedem Falle einer Verbesserung ,
und ich will im Folgenden den Yersuch machen , eine solche
auf der Grundlage der von mir entwickelten Theorie der
elektromagnetiscben Strahlung durchzuflihren . Dazu wird es Figura 4. y Outros trechos do mesmo artigo de Planck . Acima , a equa ção ( 12 ) cont ém a f ó rmula
vor aliem ndtig sein , in der Reihe der Schlussfolgerungen , para distribui ção de energia na radiação do corpo negro como uina fun ção da fireqQéncia veda
temperatura M . A constante /jhparece aí, bem como a velocidade da luz ceda constante de Boltz
*

welche rum Wien 'schen Euergieverteilungsgesetz fllhrten , daa - mann k . Abaixo , os valores numéricos dch e item 1900 (fórmulas ( 15) e ( 16)) . Usando esses
jenige Glied ausfindig zu machen , welches einer Ab & nderung e
n ú meros , pode -se obter os valores num éricos da carga do el éctron , do n ú mero de Avogadro
dc outras constantes universais da física . Esses valores mantiveram - se inigualados durante
f à hig ist ; eodann aber wird es sich darutn haudeln , dieses
Glied aus der Reihe zu entfernen und einen geeigneten Ersatz muitos anos .
daf ú r zu schaffen .
Dass die physikalischen Grundlagen der elektromagnetischen
Strahlungstheorie , einschliesalich der Hypothese der „ natllr -
licben Strahlung 1* , auch einer gesch â rften Kritik gegenUber
Stand halten , habe ich in ineinem lotzten Aufsatz 4) Uber diesen
Hieraua und aua ( 14 ) ergeben sich die Werte der Natur-


0' *
Figura 4.4 . A pá gma - ti - 1) 0 L u m m e r u , E. P r i D g n h e i m , Verhaodl. der Deutach . Pbysiksl . constanten :
tulo do artigo de Max .
Geeellach . 2 p. 168. 1900. ( 15) A 6 , 55 . 10 - 77 erg . sec ,
Planck publicado em .
2 ) H . R u b e n a u n d F. K u r l b a u m , Sitzuugsber . d k . Akad . d .
Annalen der Physik ( 4 , 553
( 1901 ) ] , no qual acons -
.
Wiaaenacb zu Berlin vom 25. Oclober 1900, p. 929
. -.
.
3) H . B e c k c n a n n , Inaug. DilserUtioa , TlibiogCu 1898. Vgl. auch
(16 ) * .
= 1 , 346.10 ~ u .
gr*d
H . R u b e n a , Wied. Aon. 69 . p 582 . 1899. Das sind dieselben Zahlen , welche ich in meiner frtiheren
^
tante aparece pela pri -
meira vez , assinalando
o nascimento da fí sica
.
Aooftlan d » r Phyilk. IV . Folj*. i .
.
4 ) M . P l a n c k , Ano d . Phyo . 1 p. 719 . 1900 .
38
Mitteilung angegeben habe.
.
1) O. L a r a a e r a n d E. P r i n g a h e i m , Verh &ndl der Deatacben
qu â ntica . .
Physikal. Genelbacb. 2 p. 174. 1900.
( ELngegnngen 7 . Junir 1901.)

fossem suplantados , o que se deve em grande pane aos f í sicos do


Reinchsanstalt , e de outras institui çõ es de Berlim , que mediram as constantes
de radiaçã o , e á teoria de Planck , que estabeleceu pela primeira vez um
v í nculo entre campos da f í sica tã o distanciados entre si .
Planck acrescenta uma nota pungente : revolucion á rias n ã o podiam ser assimiladas com facilidade . A despeito das
v á rias dificuldades citadas acima , o trabalho de Planck n ã o foi ignorado mas
,
“ Deu - me especial satisfa çã o , em contrapartida à s muitas docep çõ es que
en í rrntci , ouvir o pr ó prio Ludwig Bolt / m a i m lalai de seu interesse c total n ã o chegou a constituir o centro das aten çõ es . Houve muitas descobertas
concord ância com minha nova linha de racioc í nio ". espetaculares naquela época e o pr ó prio Planck desconfiava tanto dos
Mas , embora Boltzmann estivesse de acordo , o racioc í nio de Planck m é todos usados que passou anos tentando explicar , de uma forma menos
teve de enfrentar in ú meras e s é rias obje çõ es . Ideias t ã o fundamentais e t ã o revolucion ária , os resultados a que chegara .
78 Pianck , um Revolucion ário Obstinado: A Id éia da Quamiza çâ o Pianck, um Revolucion á rio Obstinado: A Ideia da Quamiza çâo 79

Em 1931 , o f í sico norte - americano R . W . Wood perguntou - lhe como norte - americanos a enviarem um carro para transport á - lo a um lugar
tinha inventado algo t à o incr í vel como a teoria dos quanta . Pianck respondeu relativamente seguro , em G ò itingen . Pianck sobreviveu à guerra e a
o seguinte : Alemanha , tentando demonstrar que estava emergindo da barb á rie , con -
“ Foi um ato de desespero . Durante seis anos Fiquei lutando com a cedeu - lhe diversas honrarias . Preparou -se uma grande solenidade para
celebrar seu 90° anivers á rio , m s ele morreu poucos meses ames , em 4 de
teoria dos corpos negros . Era preciso que eu descobrisse uma explica çã o
teó rica a qualquer pre ço que n â o fosse a inviolabilidade das duas leis da outubro de 1947 . ^
termodin â mica ” . ( Armin Hermarm , The Genesis of Quantum Theor- y ( MIT Press ,
1971 ) , p . 23 . ]
Ao final de sua vida , ele fez outro comentá rio:
“ Minhas tentativas in ú teis no sentido de conciliar de alguma forma o
quantum elementar com a teoria cl á ssica prosseguiram durante muitos anos
e me custaram um grande esforço . Muitos de meus colegas viram nisso quase
que uma tragédia , mas o meu enfoque era diferente porque o profundo
aperfei çoamento de meus conceitos , resultante desse trabalho , significou
muito para mim . Agora tenho certeza de que o quantum de a çã o tem um
significado muito mais fundamental do que eu imaginava antes ” .
Mesmo no in í cio , poré m , Pianck tinha consci ência da import â ncia de
sua descoberta : conta - se que , durante um passeio , ele dissera ao filho ter
descoberto qualquer coisa digna de um Newton .
Com o passar do tempo , Pianck tornou -se um dos fí sicos alem ã es mais
considerados. Foi secret á rio da Academia Prussiana de Ci ê ncias , e um dos
mais renomados representantes das ciê ncias na Alemanha . Einstein , apesar
de n ã o sentir a menor simpatia pelas condi çõ es da Alemanha de ent ã o , tinha
profundo respeito por seu colega , mesmo que os enfoques pol í ticos e
cient í ficos de ambos fossem totalmente opostos . A amizade entre os dois foi

refor çada pelo amor que ambos devotaram à m ú sica que eles tocavam
juntos. Al é m de sua emin ê ncia cient ífica , o cará ter de Pianck inspirava
respeito em todo o mundo . Conservador arraigado , viu -se compelido
pela for ç a dos fatos e pelo rigor da l ógica a promover uma das maiores
revolu çõ es na filosofia natural .
Sofreu rudes golpes no decorrer de toda a sua vida . Sua primeira
mulher morreu em 1909 e dos quatro filhos que teve com ela , tr ês morreram
durante a Primeira Guerra Mundial (o mais velho morreu no front e as duas
filhas casadas morreram de parto ). Mais tarde ele casou - se de novo e teve
outro filho . Com setenta e cinco anos de idade , assistiu à ascens ã o de Hitler .
Para um patriota alem ã o como ele, foi um golpe s é rio. A pedido de amigos e
colegas , Pianck aceitou a presid ê ncia da Kaiser Wilhelm Gesellschaft ,
atualmente chamada de Sociedade Max Pianck , institui çã o importante que
prestou apoio a boa parte da ci ê ncia alem ã . O fardo era pesado e , naquelas
circunst âncias , bastante desagrad á vel , mas Pianck considerou ser de seu
dever tentar salvar o que fosse poss í vel . Chegou a falar com Hitler na
esperan ça de conseguir atenuar algumas das piores aberra çõ es do Fulirer , i
mas foi posto porta afora . Mais tarde, o filho sobrevivente de seu primeiro
casamento foi condenado à morte pelos nazistas por ter conspirado contra
Hider em 1944 . Pianck , que ent ão já estava bem idoso , perdeu a casa em um
bombardeio aé reo e ficou acuado entre os alem ã es em fuga e os aliados que
avan çavam . Um f í sico alem ão ouviu falar de sua situaçã o e convenceu os
Capítulo V
Einstein —
novas formas de pensar:
espaço , tempo , relatividade e os quanta

No conceito popular , Albert Einstein ( 1879 - 1955 ) é a encarna ção da


f í sica . Neste caso , creio que a opinião p ú blica está certa e que, salvo fatos
imprevistos , que possam vir a ocorrer no que resta deste século , Einstein
será considerado o maior físico do século XX e um dos maiores de todos os
tempos. Se Rafael pudesse voltar á vida, pintaria com certeza uma moderna
Escola de Atenas de fisicos. E , a meu ver, incluiria Einstein junto com Galileu ,
Newton e Maxwell apontando para o cé u , enquanto Faraday e Rutherford
estariam apontando para a terra.

Uma Juventude nada Convencional

Einstein nasceu em Ulm , em 14 de março de 18 7 9 , de uma fam ília judia


alem ã na qual predominavam id éias liberais . O pai era engenheiro, mas n ão
teve sucesso do ponto de vista financeiro. Albert passou a infância em
v. Munique e , embora em casa revelasse ind ícios de precocidade , na escola n ã o
\ í oi um aluno excepcional. No curso secund ário , n ã o apreciava os m é todos
alem ães de ensino e discutia com os professores que , por sua vez , o tratavam
mal. A partir dessas primeiras experi ê ncias, desenvolveu ele uma constante
sensação de hostilidade para com a Alemanha imperial. Condições desfa -
vor á veis em termos de negócios levaram a fam ília a emigrar para Mil ão em
1894 e Einstein , que ficara em Munique para concluir os estudos , alegou
estar doente para poder reunir-se à fam ília , na Itália . Gostou mais daquele
• paí s , e durante o curto período que ali passou , fez uma viagem a pé de Mil ão
at é Gé nova, ou seja, uma distância de 100 milhas .
. ;

Posteriormente, tentou entrar para a Escola Politécnica de Zurique


( Eidgenossische Technische Hochschule ou ETH ) , mas lhe negaram a
matr ícula . Ele n ão apenas n ão tinha o necessário diploma do curso
secund ário , como també m foi reprovado no exame de admissã o , embora se
tivesse saido muito bem em matem á tica e fisica. Para conseguir matricular-
se , estudou no gin ásio em Aarau . Ali foi muito feliz e apaixonou -se pela
Su íça , tendo , mais tarde, adotado a cidadania daquele pa ís , que manteve
pelo resto da vida . Quando finalmente, entrou para a ETH , seus professores
de matem á tica eram H . Minkowski e A . Hurwitz , scholars de primeira
Einstein - Novas Formas de Pensar: Espa ço , Tempo, . . . f Einstein - Novas Formas de Pensar: Espa ç o , Tempo, .. . 83

tempo para pensar sem ser perturbado . Mais tarde , aconselhou os jovens a
procurarem empregos semelhantes , pois , segundo ele , tais empregos davam
tempo para pensar e , por isso , eram os mais apropriados para as pessoas que
tivessem ideias originais . Come çou a escrever artigos sobre f í sica , que
enviava para os Annalen der Physik , ent ã o sob a direçã o de W . Wien , já famoso
por seus estudos sobre o corpo negro . Apresentou um trabalho em 1901 ,
dois em 1902 , um em 1903 e um em 1904 . Eram estudos profundos na á rea
da termodin â mica e da mecânica estat í stica . Mas, sem que Einstein o
soubesse , o trabalho já tinha sido realizado por Gibbs ; coisa parecida
ocorreu com o de Planck alguns anos mais tarde .
Em 1905 , o g ê nio de Einstein eclodiu com uma luminosidade
insuperada . Em março , maio e junho ele escreveu tr ê s obras , cada uma das
quais sozinha , teria sido suficiente para imortalizá- lo . Somente Newton , aos
vinte e tr ê s anos de idade , confinado pela praga que devastava sua aldeia de

Woolsthorpe , tivera um vigor semelhante . A primeira obra Ú ber einen die
Erzeugung und Verwandlung des Lichies berrcfenden heuristischen Gesichtspunkt ( Um

ponto de vista heur í stico sobre a gera çã o e transforma ção da luz ) conté m a
descoberta dos quanta de luz e , como aplicaçã o secund á ria , a explicação do
efeito fotoel é trico ( Figura 5.2 ) . A segunda - Ú ber die von der Molekularkine -
tischen Theorie der W àrme Geforderte Bewegung von in ruhenden Flussigkeiten suspen -
dierten Teilchen (Sobre os movimentos de part í culas suspensas em l í quidos em
repouso conforme a teoria cin é tica do calor ) — cont é m a teoria do
movimento browniano , mostra mais uma vez a exist ê ncia real dos á tomos e
determina a constante de Boltzmann de urna nova maneira . A terceira
Figura 5.7. Albert Einstein ( 1879 - 1955). Foto daiada do perí odo em que
trabalhava
federai de patentes em Berna e escreveu as obras imortais que foram publicadas no escni ó riu
( Figura 5.3 )— Zur Elektrodynamik bewegter Korper ( Sobre a eletrodin â mica dos
Physik em 1905 . nos Annalen der

corpos em movimento ) cont é m a teoria espec í fica da relatividade , da qual
sai a famosa fó rmula E = mc 2 que é praticamente tudo o que o p ú blico
sabe a respeito de Einstein . A verdade é que h á algumas pessoas que
acreditam que esse é “ o segredo da bomba at ó mica ”! É um segredo , no
categoria , mas aprendeu muito pouco com eles, que nem chegaram a dar entanto , que n ã o mais existe , da mesma forma que o unicó rnio: ambos s ã o
conta de sua presen ça . No entanto , Einstein já tinha dado
- se
in ício a $uas produtos da imagina çã o .
medita çõ es solitá rias sobre os grandes problemas da f í sica moderna , unindo Essas obras , sobre temas diferentes , t ê m alguma caracter í stica em
à inspira çã o informa çõ es retiradas de suas pró prias leituras .
Fez amizade comum que deriva da personalidade cient í fica de Einstein . S ã o revolucio -
com um colega de estudos , Mareei Grossmann , um su íço que n á rias , abertas e fazem uso de m é todos matem á ticos simples . Ele alcan ça
depois veio a resultados inteiramente surpreendentes aplicando uma l ógica rigorosa ,
ser um professor de matem á tica de respeitável reputação.
Einstein gostava solidamente baseada em experi ê ncias .
mais do laborató rio de f ísica prá uca , onde podia ver fenô menos
com seus
pró prios olhos , do que dos s í mbolos matem á ticos.
Ao graduar-se, teve dificuldade em encontrar Relatividade
emprego ;
trabalhou como professor subsrituto e dava aulas particulares de fde in í cio ,
ísica . Ern
1902, a fam í lia Grossmann conseguiu -lhe um emprego Primeiro tratarei da terceira obra , sobre relatividade . Dela emergiram
tó rio federal de patentes no Cantão de Berna .
modesto no escri - gTandes consequ ê ncias pr á ticas que v ã o do equil í brio da energia em uma
Mais ou menos nessa é poca , bomba at ó mica bem como no Sol , at é a din âmica necess á ria à constru çã o de
Einstein casou -se com Mileva Maric. Tiveram dois filhos ,
ser professor altamente conceituado de engenharia daum dos quais veio a grandes aceleradores de part í culas . Acima de tudo , esse documento
Califó rnia, em Berkeley . Universidade da provocou uma revolu ção em nossos conceitos de tempo e espa ço . Durante
s éculos , os fil ó sofos tinham tentado analisar esses conceitos sem nunca

u
O emprego no escrit ó rio de patentes servia perfeitamente &
( Figura 5.1 ). Enquanto se desincumbia de suas fun para Einstein chegarem a resultados tio profundos e tão definitivos quanto os de Einstein .
çõ es no escrit ó rio , Para facilitar o entendimento desta e de outras obras de Einstein ,
examinando as inven ções que lhe eram encaminhadas , tamb m
é achava precisarei fazer uma breve digress ã o a respeito da luz. O estudo cient í fico da
84 Einstein Novas Formas de Pensar: Espaço, Tempo,.. .
Einstein - Novas Formas de Pensar: Espaço, Tempo , . . . 85

0. Vber einen
die Erxeugung und Verwandlung des IAchtet 3. Zur Elcktrodgnamik beweejter
K õ rper ;
betreftenden Keui' istischey\ Qesichtspunkt ; von A» Einstein,
. .
von A Einstein
Zwischen den tkeoretiBcken Vorstellungen , welebe sich die
Physiker Uber die Gase und andere ponderable õ
K rper ge -
Di\ B die Elektrodyaftuiik Maxwell
wlrtig nufgefatí t zu werdeu pflegt

.— wie dieselbe gegen
in ihrer Anwendung auf
-
bewegte K õ rper zu A » ymraetrien ÍQhrt, welche
bildet haben , und der Maxwellschen Theorie der den Phinomenen
magnetischen Prozesoe im sogenannten leeren
elektro
Raume besteht
- nicbt aiizuhaften sebeinen , ist bekannt Man
die elektrodjnamiBche Wecbselwirkung zwiechen
.
denke z B. an
ein tiefgreifender formaler Unterschied. W â brend
wir uns neten und einem Leiter. Das beobachtbare Phã nomen
einem Mag -
n á mlich den Zustand eines K õ rpers durch die há ngt
Lagen uod Ge
schwindigkeiten eiuer zwar sehr groBen , jedoch endlichen
An -
- hier iiur ab ron der Relativbewegung ton Leiter und
w & brend nacb der Ublicben Auffksiung die
Magnet,
zabl ron Atomen und Elektronen fUr rollkomm beiden Fàlle , dafl
en bestimmt der eine oder der andere dieser K õ rper der bewegte
tei, itreog
anaehen , bedieneu wir uns zur Bestimraung
des elektromag ne- Toneioander zu treonen eind . Bewegt sich nimlicb der
Magnet
tischen Zustandes eines Raumes kontinuierlicher und rubt der Leiter, eo entsteht in der Umgebung de » Magneten
r à umlicher
Funktionen , so íIAB siso eine endliche Anzahl
nicht ala genOgend anzusehen ist zur vollsUlndigen
des elektromagnetischen Zustandes eines
ron Grõ Ben
Festlegung
Raumes. Nach der
I ehi elektrisches Feld ron gewissem Energiewerte , welche»
den Orten , wo sich Teile de» Leiter» befinden , einen
.
erzeugt Ruht aber der Magnet und bewegt ich der Leiter
so entsteht in der Umgebung de» Magneten kein *
an
Strom
,
elektrisches
Feld , dagegen im Leiter ein é elektromotorísche Kraft , welcher
an sich keine Energie entspricht, die aber

Gleicbheit der
Relatitbewegung bei den beiden ina Auge gefaBten Fàllen
.
5 Vber die von der molekularkinetischen
der W ãrme geforderte Bewegung von in
Theorie
ruhenden Figura 3.2. Acima, a pá-
orausgesetzt
— zu elektrischen Strõ men ton derselben Gr õ Be
und demselben Verlaufe Veranlaasnng gibt, wie im eraten Falle
Figura 5.J . A terceira
FiasHgkeiten suspendierten Teilchen
; gina - t í tulo do primei-
die elektrischen Krftfte . grande obra de 1905 .
Beispiele ftbnlicher Art, lowie die miBlungenen Versuche,
von A , Einstein . ro dos tr ès grandes tra -
balhos de 1905 , a for-
eine Bewegung der Erde relatir zum ,,Lichtmedium zu kon
“ -
Intitulada "Sobre a ele-
statieren , fuhren zu der Vermutung , dafl dem Begriffe trodin ã mica dos cor -
mula çã o por escrito da der pos em movimento" é
hip ó tese dos quanta de absoluten Ruhe nicht nur in der Mecbanik, sondem aucb in
In dieser Arbeit » oll gezeigt werden , daB nach der molekular o documento sobre a
kinetischen Theorie der W&rme io FlQssigkeiten
K õ rper ron mikroskopisch sicbtbarer Grõ Be infolge der
luspendierte
- luz . O manuscrito ti -
nha chegado aos Anna -
der Elektrodynamik keine Eigenachaften der Erscheinungen ent
sprechen , sondem daB rielmebr fOr alie Koordinatensysteme, - relatividade . Chegou
aos Annalen der Physik
kularbowegung der WUrrae Bewegungen yon solcher
Mole -
Gr õ Be
Un (Ur Physik em 18 de
mar ç o de 1905. Abai-
fUr welebe die inechanischen Gleichungen gelten , auch die
gleichen elektrodynoraischen und optischen Gesetze gelten , wie
em 30 de junho de 1905
c foi publicado no vo -

!
ausfilhren mttasen , daB dieie Bewegungen leicbt mit die» fUr die GrõBen erater Ordnung bereits erwiesen ist Wir
dem xo , o segundo grande lume 17 , p. 891. Os
Mikroskop nacbgewiesen werden k õ nnen. Ee ist m õglich wollen dieae Vermutung (deren Inlia.lt im folgenden „Prinzip
, daB trabalho: a formulaçã o dois artigos anteriores
die hier zu behandelnden Bewegungen mit der por escrito da teoria der RelHtivitiLt“ genannt werden wird ) zur Voraussetzung er -
„Brown »chen Molekularbewegung “ identisch »indsogenannt ; die mir
en
molecular do movi- beben und auBerdem die mit ilim nur icheinbar uiirertrâgliche
foram publicados no
mesmo volume nas pá -
*
erreichbaren Angaben Uber letztere sind jedoch so ungenau mento browniano, re -
, 5' ginas 132 e 549 , respec -
daB ich mir hierttber kein Urteil bilden konnte. cebido para publica- *1
•s tivameme.
2
çã o em 11 de maio de
1905 .

í
w porque duas ondas de fases opostas e de mesma amplitude podem destiuir -
' *.
luz começou na Renascen ça e atingiu o auge na é poca de
Newton e de C .
í se uma à outra — as cristã s de uma enchendo os vales da outra . Mas a
interfer ência n ão pode ser explicada com a teoria corpuscular. Alé m do mais ,
Huygens . Esses dois grandes expoentes dos prim ó rdios da f í sica ós Galileu
tinham formulado teorias conflitantes sobre a luz . Segundo Newton p - a teoria das ondas exige que nos fen ô menos de refraçào a luz seja propagada
, a luz mais lentamente em meios mais densos , enquanto que na teoria corpuscular
era constitu ída de projéteis que se moviam a grande velocidade ;
segundo ocorre o contr ário. També m a esse respeito as experi ê ncias favorecem a
Huygens , era constitu í da de ondas propagadas em um meio bastante i teoria das ondas .
delicado , o é ter . Durante anos , ambas as teorias permaneceram conflita ;
ntes Mais tarde , as equa çõ es de Maxwell , que pareciam quase sobre -
mas , no in ício do s éculo XIX , demonstrou -se que a luz podia í humanas em sua for ça e generalidade , explicaram todos os fen ô menos da luz
mostrar
fenô menos de interfer ê ncia , isto é , acrescentando - se luz à luz , podia- se obter conhecidos . A velocidade da propagação podia relacionar - se com quanti-
escurid ão . Essa ocorr ê ncia é facilmente explicada pela teoria

u
das ondas , dades el é tricas que podiam ser medidas em laborat ó rio por instrumentos
86 Einstein - Novas Formas de Pensar : Espa ç o , Tempo , .. Einstein - Novas Formas de Pensar: Espa ço , Tempo, ... 87

el é tricos como condensadores , galvan ô metros e im ã s , que n ã o pareciam ter outros , procurara dar- lhe urna formula çã o. Lorentz , G . F . Fitzgcrald e
qualquer rela çã o com a luz . Como a luz foi reduzida a vibra çõ es el é tricas do Poincar é tinham dedicado muita aten çã o ao assunto . 1 .o i e n t /. julgava que as
é ter , suigiu o problema de determinar as propriedades do é ter . Em algumas equa çõ es de Maxwell n ã o mamem a mesma forma quando passam de um
teorias , o é ter era dotado de propriedades mecâ nicas espec í ficas , como um sistema de refer ê ncia a outro segundo as regras dadas por Galileu e ,
coeficiente de elasticidade . De qualquer modo , todas as teorias precisavam aparentemente , baseadas no bom - senso . Chamando - se dex a coordenada
de alguma espécie de é ter . de espa ç o e de t o tempo no primeiro sistema ; e dex ' e / ' as quanddades
Se uma fonte de luz ou um observador move - se em rela çã o ao é ter , esse correspondentes no segundo sistema , que se move a uma velocidade v em
movimento deve de alguma forma manifestar -se . No caso do som propagado rela çã o ao primeiro sistema , as equa çõ es de transforma ção de Galileu ficam :
no ar , quando uma fonte se move com a velocidade do som em rela çã o ao ar
em repouso ( mach 1 ) , ocorrem efeitos espetaculares , que j á foram chamados
de barreira do som . Por outro lado , n ão se poderia observar nada que mostrasse
x
t'
=x
= /.
— vt

um movimento relativo ao é ter . Por exemplo, tinha -se descoberto


que a velocidade de propagação da luz no v á cuo é sempre c = Transformando as coordenadas de um sistema para um outro segundo
2 , 997924 x 1010 cm / seg . Esse resultado fora. constatado com precis ã o por A . essas regras , observam - se mudan ças dignas de nota nas equaçõ es de
A. Michelson e mais tarde por Michelson e E . W . Morley , que tinham reali - Maxwell . Ressalte - se particularmente que o tempo é o mesmo nos dois
zado medi çõ es com um dos interfer ômetros de Michelson orientado em sistemas .
vá rios sentidos em rela ção à direção do movimento da Terra . Lorentz linha descoberto uma transforma çã o de coordenadas , a
Michelson ( 1852- 1931 ) nasceu em Strelno (ent ão na Pr ú ssia ) , mas a famosa transformaçã o de Lorentz , que deixa as equa çõ es de Maxwell
fam ília emigrou para a Calif ó rnia quando ele ainda era crian ça , e Michelson invariantes e , quando v < c , reduz - se à transforma çã o de Galileu . É expressa
cresceu em uma cidade mineira semelhante à quelas vistas nos filmes de pelas seguintes equa çõ es :
faroeste . Foi para a Academia Naval em An ápolis , Maryland , onde se graduou
como guarda - marinha . Seu treinamento militar foi seguido por uma longa e x - vt
brilhante carreira cient í fica que o tomou um dos mais famosos f í sicos norte - V l - ( v l t )*
americanos e o primeiro norte- americano a ser laureado com o Pr é mio
Nobel . Suas medi çõ es da velocidade da luz sã o um dos pilare da teoria da t - ( vlefx
^
relatividade, conforme ensinada atualmente mas , ao que tudo indica , n ã o
I
V l - { vk )1
teriam influenciado Einstein em 1905.
Einstein provavelmente estava convencido a pnon de que as equaçõ es A transforma çã o de Lorentz é correta , mas , à é poca , parecia ser pouco
de Maxwell tinham exatamente a mesma forma em todos os sistemas de mais do que um recurso matem á tico .
refer ê ncia em movimento retil í neo uniforme com rela çã o uns aos outros . Einstein atacou o problema da transforma çã o do tempo e do espa ç o
Talvez tenha chegado a suas conclus ões ainda jovem , enquanto meditava com um enfoque profundo e com entusiasmo quase infantil . Com uma
sobre como uma onda eletromagn é tica apareceria a um observador"que a l ógica convincente, analisou cuidadosamente os conceitos de tempo e
estivesse seguindo a uma velocidade r . De qualquer modo , para ele , a espa ço usando um m é todo operacional que , para cada conceito introduzido ,
constâ ncia da velocidade da luz era indiscut í vel . Tinha de ser a mesma em exigia uma especifica çã o rigorosa e concreta de como medir as magnitudes
todos os sistemas de refer ê ncia , embora Einstein provavelmente n ã o envolvidas . Naturalmente estava interessado n ã o nos instrumentos e em
conhecesse a confirma çã o direta de Michelson , pois n ã o a cita em seu mecânica , mas na l ógica da experi ê ncia . Resultados inteiramenie inespe -
trabalho de 1905 . A postula çã o axiom á tica de Einstein do princ í pio da rados surgiram de sua an álise , como , por exemplo , a relatividade da simul -
relatividade faz lembrar os princ í pios da termodin âmica e afirma: taneidade: fatos que ocorrem em diferentes locais e ao mesmo tempo , para
( 1 ) Postulado da relatividade: N ã o é poss í vel distinguir um sistema de um observador , n ã o parecem simult â neos para outro observador que se
refer ê ncia de outro movendo -se com velocidade constante em magnitude e mova em rela çã o ao primeiro . Do mesmo modo , h á o paradoxo dos gê meos:
dire çã o em rela çã o a ele . Tais sistemas s ã o chamados de inerciais . O termo um irm ã o gê meo permanece em um sistema de referê ncia e o outro se afasta
distinguir significa que cada experi ê ncia realizada no primeiro ou no segundo cm movimento uniforme e retil í neo , inverte a dire çã o do movimento e
sistema d á o mesmo resultado para um observador relacionado com o retorna . Quando o segundo irm ão g ê meo volta a encontrar o primeiro , acha -
0 mais velho . Se formos c é ticos a esse
sistema . |* V:
respeito , a experi ê ncia j á foi realizada
( 2 ) Postulado da const â ncia da velocidade da luz : A velocidade da luz é c m part í culas que se desintegram , e o resultado previsto pela relatividade
°
independente do movimento de sua fonte . confirmado . Acima de tudo , ficou evidente que n ã o era a transforma çã o
Os f í sicos anteriores a Einstein tinham enfrentado as dificuldades de Galileu , mas a de Lorentz que correspondia à maneira correta de medir o
apresentadas pela eletrodin â mica dos corpos em movimento . Hertz , entre | ^
tempo e o espa ço .
òò Einstein - Novas Formas de Pensar: Espaç o, Tempo , .. .
Einstein - Novas Formas de Pensar: Espaço, Tempo, ...
89
A l ógica de Einstein é irrefut ável , embora â é poca soasse desagrad
á vel a
muitos f ísicos em raz ão de sua aparente contradi çã o com a experi ê ncia q úê ncia, a teoria s ó veio a tornar -se familiar para os f í sicos uma gera ção mais
do
quotidiano. Sublinho aparente porque , na realidade, essa contradi ção n ão tarde. Id éias genuinamente novas em f ísica solidificam -se com muita
existe . lentid ã o , sobretudo porque a geração que as cria n ão consegue "senti - las ” .
Um dos professores de Einstein, Hermann Minkowski ( 1864 1909 , Os fí sicos mais amadurecidos podem aprender , mas a verdadeira
invento ..' i delicada express ão matem á tica para a transform
- )
la ção ocorre quando os contemporâneos morrem e os sucessores passam a
assimi -
a ção das
coordenadas de espa ço e tempo. Introduziu um espaço quadridimensional , considerar as id éias novas como básicas. Testemunhei esse fen ô meno bem
tr ês dimens ões de espaço e uma de tempo. A caracter í stica de perto na mecâ nica dos quanta . Devo acrescentar ainda que a nova geraçã o,
especí fica desse
espaço é que a distâ ncia entre dois pontos n ã o é dada pelo teorema de doutrinada desde o in ício , n ão tem consciê ncia de muitos dos dilemas e
Pit ágoras que, no espaço ordin á rio , diz: j2 objeçõ es que os criadores t ê m de enfrentar .
quadridimensional de Minkowski usa uma forma = x 2 -F y 2 + z 2. O espaço A relatividade s ó foi sendo aceita aos poucos. Por exemplo ,
um pouco diferente: mesmo em
> —
j2 = x 2 + 2 + r 2 r 2/ 2. A introdu ção do tempo em espaço quadridimensional
e o sinal menos em frente ao ú ltimo termo é que modificam radicalmente
1922 , a Academia Sueca concedeu o Pré mio Nobel a Einstein " pelo serviço
por ele prestado à f í sica teó rica e particularmente por sua descoberta da lei do
a
situação. Em uma conferê ncia histó rica , pronunciada em 1908 , Minkowski efeito fotoel étrico ” . Pode parecer estranho que a relatividade não seja
apresentou seus novos conceitos com as seguintes palavras : mencionada , mas , numa retrospectiva , a meu ver , houve sabedoria nessa
"Cavalheiros, as noções de espa ço e tempo que
desejo apresentar - lhes escolha . N ão é que a relatividade seja um tema de importâ ncia secund á ria ,
emergiram do terreno da f ísica experimental e ali reside sua for ça . São mas é que os outros "servi ços ” de Einstein foram imensos .
radicais . Daqui em diante , o espaço por si mesmo , e o tempo , por si mesmo, *
estão desdn àdos a transformar - se em meras sombras e apenas uma Gr ã os de Luz e Impactos Moleculares
espécie
de uni ão dos dois preservará uma realidade independente ” . ( Confer ê ncia
aos 80. Versammlung Deutscher Naturforscher und Aerzte, Coló nia, 1908. ) I Voltemos agora ao primeiro dos dois trabalhos escritos por Einstein no
Quando Minkowski viu o trabalho original de Einstein , lembrou -se de
seu aluno e disse o seguinte : " Imaginem só! Eu nunca esperaria uma coisa
i surpreendente ano de 1905. A meu ver , é uma das maiores obras já
realizadas em física. Naquela é poca, os cientistas sabiam que a luz era 5
'

tão inteligente vinda desse camarada ” .


As consequ ê ncias da teoria da reladvidade são vastas , profundas e
inesperadas. Segundo o modo de pensar de Einstein a velocidade da luz
I constitu í da de ondas eletromagn é ticas ; se havia alguma coisa de
isso. No entanto, Einstein tinha d úvidas e revelou a natureza dual da luz
corpuscular e ondulató ria . Essa descoberta, junto com o aspecto dual
certo , era
— I
aparece como uma constante universal e seu car á ter fundamental transcende correspondente da maté ria, tornou -se a maior conquista do século. Newton <

sua conexão histó rica com o eletromagnedsmo. Relaciona espaço e tempo na e Huygens foram inesperadamente reconciliados por uma profunda
transforma ção de Lorentz ; é a velocidade limite que n ão pode ser superada revolu ção na filosofia natural , que mostrou estarem ambos , em
parte ,
na transmissão de sinais; aparece na conexão entre velocidade , energia e certos .
momentum de um ponto material que tem a massa m em repouso . Essa Planck quantizava a energia dos osciladores que formavam as paredes
conexão é dada pelas fó rmulas E = - v 2lc 2 a p mvl\/ \ - vVc2 A
massa dos corpos , definida como a propor ção entre for ç a=e aceleraçã o , torna -- » de sua vers ã o do corpo negro . Com referê ncia à radiação propriame
p ô de apenas dar a expressão u { v,T ) . Acredito que ele mesmo n ão tinha
nte dita,
se vari ável com a velocidade . A conservaçã o da rnassaj á n ão constitui uma lei
precisa e substitui uma generalização da conserva ção da energia , na qual a
? d ú vidas de que as equações de Maxwell descreviam exatamente
as ondas
eletromagn é ticas que enchem a cavidade. Einstein , no entanto , perguntava -
massa pode transformar - se em energia segundo a f ó rmula
í se se a descrição de Maxwell era compat ível com a fó rmula do
corpo dcT
Planck e chegou à surpreendente conclusã o de que a pró pria luz dnegro êv íãler
composta de quanta quase-corpusculares . N ã o posso deixar de lado seu
wr 2 = E. racioc í nio porque , quando o li, s ú a força e simplicidade me atingiram quase
F í sicos modernos chegaram a descobrir " part í culas ” sem massa , sendo que fisicamente ( vide Ap ê ndice 3) .
a mais not ável o quantum de luz ( vide mais adiante) . Para essas part í culas , Einstein observou que a derivação de Planck , ao consideraras trocas de
E = cp , e elas se movem com a velocidade da luz em Relaçã o a qualquer sistema energia entre osciladores e radiaçõ es , " pressup õe implicitamente que a
inercial . energia pode ser absorvida e emitida pelo oscilador isolado apenas em
Os novos conceitos desnortearam os f ísicos . Mesmo um grande físico quanta de magnitude hvy isto é , que a energia de uma estrutura mecâ nica
teó rico como H . A . Lorentz , que achara a transformaçã o b ásica capaz de oscila çõ es , bem como a energia da radiação , pode ser transferida
para a apenas nesses quanta , em contradi çã o com as leis da mec ânica e da
relatividade , teve dificuldade para aceitar as novas id éias . N ão que a
matem á tica apresentasse um obstáculo : as dificuldades nesse campo eram eletrodin â mica ” .
A f í sica cl ássica leva - nos inevitavelmente ao enfoque Rayleigh -
m í nimas . A barreira estava na verdadeira forma de pensar e , em conse - Jeans da
fó rmula de Planck . É v á lido para hvfkT < 1 , e nela h n ã o aparece . Para

i
90 Einstein - Novas Fornias dc Pensar: Espa ç o , Tempo , .. . Einstein - Novas Formas de Pensar: Espa ço , Iempo, . .. 91

hvlkT > 1 , a fó rmula de Wien é v álida, e os conceitos cl ássicos fracassam .


Einstein concentrou sua aten çã o na f ó rmula de Wien e a partir dela obteve problemas Einstein reconheceu sua natureza fundamental e nunca deixou
uma express ão para a entropia de uma radiaçã o de certa frequ ê ncia
de meditar sobre eles at é que fossem encontradas as solu çõ es , cm parte por
em certo volume , ou , mais precisamente , para a variaçã o dessa
contida ele mesmo , em pane por outros fí sicos .
entropia ao Agora , voltemo - nos para o segundo dos estudos de Einstein de 1905 .
mudar o volume , mantendo constante a energia . Observa ele que “ essa
No ano de 1827 , o bot ânico escoc ês Robert Brown ( 1 773 - 1858 ) observou que
equação mostra que a entropia da radiação monocrom á tica de densidade
suficientemente pequena varia com o volume como a entropia de um gá s gr ã os de p ó len ou outros objetos pequenos suspensos na água fazem urn
movimento aleat ó rio . Esse movimento , chamado de browniano, se deve ao
ideal ... ” Depois vai adiante , para calcular a entropia pelo m é
todo de impacto das mol éculas do fluido que cerca o objeto . Einstein apresenta uma
Boltzmann , concluindo que: teoria sobre o movimento browniano , com base na teoria cin é tica dos gases .
“ Se a radia çã o monocrom á tica de frequ ê ncia v
e energia E é encerrada Essa teoria d á um m é todo novo e direto para determinar a constante de
em um volume v por paredes perfeitamente refletoras , entã o
a probabilidade Boltzmann e , por conseguinte , o n ú mero de Avogadro , e també m uma prova
( relativa ) de que a qualquer momento toda a energia de
radia çã o seja quase tang í vel da exist ê ncia de mol éculas (vide Apê ndice 4 ) .
encontrada no volume parcial v do volume r„ é dada por
Do Escritó rio de Patentes à Fama Mundial
/. Iir

Esses trabalhos extraordin ários foram notados pela comunidade


cient ífica: j á em març o de 1906 , Planck publicou um estudo de Einstein
A partir da í , conclu í mos ainda que a radia çã o monocrom á tica sobre a teoria da relatividade. Mas ninguém tinha visto o autor . Nem o autor
de tinha deixado o escrit ó rio de patentes para conversar com os grandes f í sicos
pequena densidade de energia ( dentro do campo de validade da f ó rmula de
radiaçã o de Wien ) comporta -se em rela çõ es termodin â micas teó teó ricos. N ã o obstante, alguns jovens e ousados cientistas decidiram ir a
ricas como
se consisdsse dt quanta distintos de energia independentes de Berna para saber quem era aquele Senhor Albert Einstein . Encontraram -no
magnitude hv. * em seu escrit ó rio . Sua vida particular parecia um tanto bo é mia , mas ele era
Einstein leva esse resultado muito a s é rio , a despeito da
esmagadora de todos os fen ô menos de propaga ção em favor de uma prova polido e prontificou - se a esclarecer quaisquer d ú vidas que existissem a
teoria
de ondas para a luz, e diz o seguinte: respeito de suas id éias. Einstein começou a corresponder -se com Planck e
‘‘Se ent ão , na medida da depend ê
ncia da entropia no volume, a Lorentz e logo as autoridades su íças ofereceram - lhe um modesto cargo na
radia çã o monocrom á tica de densidade suficientemente Universidade de Berna . De in í cio , n ã o quiseram nomeá - lo Privai Dozent por
pequena se compor -
ta como um meio descontínuo consisundo de
quanta de energia de questões burocráticas , mas em 1908 a Universidade de Zurique concedeu -
magnitude /u' é razo á vel indagar - se se as leis de emiss ã o e transforma lhe tal t í tulo . A Universidade Alem ã de Praga ofereceu lhe uma cá tedra em
luz s ão constitu í das como se a luz fosse composta desses mesmos çã o da 1909 e ele a aceitou . Mas Einstein n ã o se senua feliz em Praga , na Á ustria dos
quanta de Habsburgos , onde predominava uma atmosfera hipócrita e anti-semita.
energia .
Trataremos desse assunto no próximo cap í tulo ”. ( Einstein , Annalen der Einstein n ã o tinha muita simpatia pela religi ã o em termos formais e era
Physik 19, 143, 1904 . ) fundamentalmente agn óstico , pelo menos no que diz respeito a qualquer
No capí tulo seguinte, ele trata do efeito fotoelétrico bem como teologia formal . Ficou alividado quando , em 1912 , p ôde retornar a sua
de
an á lises fotoqu í micas e outras id é ias . Tudo isso s ã o
exemplos que confir - amada Su íç a , desta vez para a ETH ( Escola Polit é cnica de Zurique ) , onde
mam sua hipó tese dos quanta de luz. tinha estudado .
Foi enorme o progresso realizado a partir das id éias de
Planck . Ele Em Praga , Einstein lizera amizade com P. Ehrenfest , amizade que mais
tinha apenas quantizado os osciladores materiais formando
as paredes do tarde veio a fortalecer - se e durou até a morte deste . Paul Ehrenfest ( 1880-
corpo negro , talvez sem mesmo acreditar na realidade de n í 1933 ) era um f í sico teó rico austr í aco que tinha sido aluno de Boltzmann .
veis de energia .
O tô nus do trabalho inicial de Planck e mesmo
a impressã o de que a quantizaçà o era para ele— do trabalho posterior — d á
pouco mais que um artif ício de
Casara -se corn uma física russa , Tatiana , e com ela escreveu um famoso
artigo sobre mecâ nica estaL Í stica para a Encyclopedia of Mathematics. Ehrenfest
cálculo . Para Einstein , por outro lado , era urn tinha mais capacidade para esclarecer pontos obscuros da f í sica do que para
fen ô meno
parucular, a luz, isto é, o próprio campo eletromagn é fundamental ; em
criar teorias originais. Era um professor de alta capacidade did á tica e
tico , é quantizada .
Naturalmente a quantiza çà o apresenta enormes dificuldades
se se tentar
demonstrava muita diligê ncia nas tentativas de identificar novos talentos . Era
conciliá - la com fen ô menos de propagação da
luz . Em vez de fugir desses famoso pelo afeto com que encorajava os jovens e estimado por seus muitos
amigos e alunos em raz ã o de suas qualidades humanas . Sucedeu a Lorentz
0
N do A . Para facilitar ao leitor moderno , usei
em 1912 e fundou uma escola que logo come çou a ampliar - se . Infelizmente ,
sendo R a consiame dos gases e N o n ú mero ,
as consianiesAeL Einstein usã P = hlkcR ' N
de Avogadro .
Ehrenfest era sujeito a fases de profunda depress ã o e , durante uma delas , em
1933, suicidou - se .
r 92 Einstein - Novas Formas de Pensar: Espa ço, Tempo,... Einstein - Novas Formas de Pensar: Espa ço, Tempo, . .. 93

Um estudante de f ísico -qu í mica origin á rio de rica fam ília de Praga 9 para a depend ê ncia de temperatura do calor especí fico representando
-
uniu -se a Einstein. Tratava se de Otto Stem ( 1888 1969 ) , sobre quem falarei
- 1 á tomos em cristais como osciladores de determinada frequ ê ncia ( vide
mais adiante . Stern tinha -se dado conta de que Einstein era o f í sico do Apê ndice 6). Segundo a teoria dos quanta ,eles só poderiam ter a energia nhv
futuro, 1
ou melhor, do presente, e aproveitou -se de sua pr ó pria independ ê ncia corn n como n ú mero inteiro. Se hv < kT , estaremos no dom í nio da f ísica
financeira para estudar e trabalhar com ele. Este é outro exemplo do inter - | clássica e os osciladores ter ão a energia m édia de 3kT. O calor ató mico , isto é,
relacionamento das carreiras de muitos dos grandes f ísicos. o calor especí fico referente a um á tomo , é 3k , conforme Dulong e Petit ti -
Por esta é poca, Einstein já se unha tornado um f ísico importante do nham achado . Se , entretanto , kT < hv , a quantização torna -se apreci á vel e
ponto de vista profissional . Em 1909 , em uma reuni ão realizada em “
j obteremos um calor espec í fico muito diferente do clássico . Do ponto de vi ' a
Salzburgo , conheceu Planck, Wien , Sommerfeld , Rubens , Nernst e outros qualitativo quando os osciladores são altamente estimulados , a adição de um
grandes físicos modernos. Sentiu prazer em debater frente a frente com quantum de energia produz uma mudança energética que é pequena e *

todos eles . Antes disso , poré m , já tinha aperfei çoado suas ideias de 1905. comparaçã o à energia já existente no oscilador e aí n ã o estaremos muito
Conforme mencionei acima , ao calcular a entropia da radiação e adotar longe do caso cl ássico , que pressupõe mudar continuamente a energia . Para
a lei de Wien para u { v,T ) , Einstein concebera a ideia dos quanta de luz e que tal situaçã o ocorra, a temperatura do ambiente em volta do oscilador
relacionara -a com provas experimentais. A entropia da radiação está deve ser tal que kT t> h v. Na realidade a energiado oscilador será ent ão kT cm
infimamente vinculada à flutua ção da energia contida em um determinado tennos brutos , o que é muito , se comparado com os poss í veis saltos de
volume e a hipó tese dos quanta de luz fornece uma expressão bastante j energia hv. No caso extremo e oposto kT < h v aagita ção pela temperatu -
simples para tais flutuações . O que acontece se se efetuam os cálculos n ão ra é insuficiente para produzir saltos dê quanta no oscilador, que, assim , se toma
usando alei aproximada de Wien , que s ó é v álida sehvt> kT , mas alei exata de incapaz de absorver energia do ambiente em torno. O comportamento do
Planck ? Einstein fez o cálculo rria ís uma vez e conseguiu uma fó rmula oscilador é dominado por suas propriedades qu ânticas e o calor espec í fico
notá vel para a flutuação da energia contida em um volume fixo e em certo desaparece .
intervalo de frequ ê ncia em torno de v. .; A teoria foi aperfei çoada por P. Debye e outros e está em conson â ncia
Einstein achou dois tennos que tinham de sei somados ( vide Apê n - com dados experimentais.
dice 5). O primeiro é um term fido em 1905 com a fó rmula de Wien Tais considerações são importantes porque mostram que a constante
e é perfeitamente análogo à expii ^ áo da flutuação do n ú mero de mol é culas h desempenha um papel vital na mecâ nica das mol éculas e dos á tomos . O
gasosas e * m volume. Indica a estrutura granular da energia radiante e ê xito desses conceitos serviu para despertar mais interesse ainda oelns
confirrn ' £ “ wA isto é, que a luz se comporta como se fosse composta conceituar ' ’ qu ânticas , que ainda se restringiam a um c í rculo inuuo
*

de qua ^
J . energia e - hv . A segunda expressã o , por outro lado , é reduzi d ' ' lados .
exatanu iue a que se obteria . artir da teoria eletromagn é tica pura e é
causada pela interferê ncia com tiva ou destrutiva das ondas . O fato digno A Ordem entra em Derrocada e o Espaço é Curvo
\I

de nota da presen ça de ambos ii • ca a natureza dual da luz ondulat ó ria e
Em lizou -se a primeira s é rie de Confer ências do Cons : .
corpuscular. As id é ias de Newton e de Huygens , que pareciam exclusivas
entre si , s ão confirmadas . Conforme Einstein escreveria em 1909:
| Solvay so .

) ° quanta ( Figura 5.4 ) . Essas confer ê ncias derivam seu

“ E inegável que existe um extenso grupo de dados relacionados à nome de E inventor de um m é todo industrial para a preparaçã o
radia çã o que mostram ter a luz certas propriedades fundamentais que f de carbonate • > " soda . Solvay instituiu e Financiou uma sé rie de

podem ser entç udidas muito mais facilmente a partir do ponto de vista da encontros inte u i obre f í sica , com temas preestabelecidos , para os
teoria newtorm . ia de admissão do que a partir do ponto de vista da teoria i quais se c o n v i d a o mdes físicos relacionados à área escolhida . As
ondulatória. Portanto , sou de opini ão que a pr ó xima fase do desenvolvi - conferê ncias , limitadas a de trinta pessoas , tinham lugar em Bruxelas . A
mento da Física teó rica nos trará uma teoria da luz que pode ser interpretada l) orientaçã o dos debates i . laçã o de convidados para o primeiro deles foram

-
t .s como uma espé cie de fusã o das teorias ondulató ria e da emiss ã o ... ” - elaboradas em grande pane por H . Walther Nernst ( 1864- 1941 ) , professor de
Enquanto isso , em 1907 , Einstein tinha descoberto outra importante f í sico-qu í mica em Berlim , um dos principais termodinamicistas da é poca e
aplica çã o das id éias do quantum . Em 1819 , P. L. Dulong e A . T. Petit tinham uma força da ci ê ncia alem ã. Nernst tinha descoberto um teorema impor -
anunciado que , segundo seus cálculos , " Les atomes dc tous les corps simples ont 4 tante, às vezes chamado de terceiro princí pio da termodin âmica , segundo o
exactement la même capacitepour la chaleur" ( “ Os á tomos de todos os elementos qual a entropia de qualquer subst â ncia pura ao zero absoluto era a mesma :
t ê m exatamente a mesma capacidade t é rmica ” ] , e Boltzmann tinha explicado zero . Seu teorema tinha profundas ra í zes na teoria qu ântica. Em razã o de
esse í ato com o princí pio da eq ui parti ção da energia . No entanto , quando se suas altas qualifica çõ es em f ísica e lingu í stica e de suas habilidades
tornou poss í vel medir calores espec í ficos a baixas temperaturas , graças á diplomá ticas e prest ígio geral , H . A . Lorentz era um convidado permanente
disponibilidade de ar l í quido e a outros m é todos criogê nicos , descobriu - se e quase sempre atuava como presidente do encontro. O n ú mero restrito de
que a lei de Dulong e Petit tinha muitas exceções . Einstein forneceu a razã o participantes e o n ível dos convidados asseguravam debates ardentes e
yt tmstein - Novas Formas de Pensar: Espa ço, 1 empo,..
'

LniMClli l N i) v a:> U i. iv . ..... . . .

Figura 5.4. Participantes do Conselho Solvay de 1911 . De pé,


da esquerda
para a direita : O . Goldschmidt , M . Planck, H . Rubens, A .
Sommerfeld
Lindemann M . de Broglie, W . Knudsen , F. Hasen ò hrl, H. Hostelet , T
,
, T.
Herzen , j. Jeans, E . Rutherford , H . Kamerlingh Onnes , A . Einstein , ..
P
Langevin. Sentados , da esquerda para a direita: H . W . Nernst
louin , E. Solvay, H . A. Lorentz, O . Warburg J . Pcrrin, W . Wien , M . - Bril -,
, L. Einstein foi para a ETH , em 1912 , mas ali ficou pouco tempo . Os
H . Poincaré. ( Instituto Solvay. )
. Curie grandes fí sicos de Berlim o queriam na capital do Reiche assim apresentaram -
lhe ofertas bastante atrativas para o Instituto C áiser Wilhelm ou para a
Academia Prussiana , à sua livre escolha . As fun ções de magist é rio seriam
m í nimas e ele teria a m áxima liberdade para trabalhar , um salá rio generoso e
prof í cuos. Por tradição , os soberanos belgas mostravam seu outras vantagens . Nernst e Planck foram a Zurique para apresentar a oferta
reuni õ es convidando os participantes a um jantar . interesse pelas pessoalmente , o que constituiu uma atitude rara . Einstein n ã o precisou de
Como resultado desses -
mais que um dia para decidir se . Informou aos visitantes que daria um
encontros Einstein tornou -se amigo da Rainha Elizabeth

ela manteve uma correspond ência que durou muitos


Na confer ê ncia de 1911, Planck , como sempre,
anos
da Bélgi ca e com
.
passeio e retornaria com uma rosa —
uma rosa vermelha se aceitasse ou uma
rosa branca se recusasse. Retornou com uma rosa vermelha. Mas institiu em
de vista conservador e prudente, enquanto Einstein , que manifestou um ponto uma condi ção: queria manter a cidadania su íça. Essa insistê ncia provocou
se estava tornando alguns problemas, pois embora Einstein se considerasse cidad ão su íço , a
conhecido como a figura de maior realce, mostrou se -
mais flex í vel . Pouco Prú ssia o considerava cidad ão prussiano .
depois, quando Einstein recebeu a proposta de uma cá tedra
Curie e Poincar é, que o tinham conhecido na na ETH , Maric ••
T A despeito de sua brilhante posi çã o , Einstein n ã o se sentia bem na
reuni ão
saram abertamente, em uma carta de recomendaçã o, o de Solvay, expres - Alemanha imperial . Apreciava a companhia dos colegas e outras atra çõ es
ele tinham . alto conceito que por oferecidas por Berlim , mas n ão o militarismo prussiano . Para escapar à
atmosfera de quartel que sentia em Berlim , quase sempre ia até a Holanda ,
96 Einstein - Novas Formas de Pensai : Espa ç o , Tempo, . . . Einstein - Novas Formas de Pensar: Espa ço, Tempo, . .. 97

von E ò tv õ s confirmou esse fato na Hungria , em 1891 , e precisã o ainda maior


foi conseguida por R. H . Dicke em 1963.
A relatividade geral , em oposi çã o à relatividade restrita , nã o estava na
primeira linha do interesse dos f ísicos , e Einstein teve de enfrentar o
problema sozinho . Do ponto de vista matem á tico , a teoria geral é conside-
ravelmente mais dif í cil do que a teoria especí fica da relatividade e exige o uso
de “ an álise tensorial ”, que, na é poca , era praticamente desconhecida dos
fí sicos . O pr ó prio Einstein sentiu -se impedido pelas dificuldades matem á-
ticas , at é que seu amigo Grossmann lhe apresentou as obras de B . Riemann e
B . Christof íel e , mais importante, as de G . Ricci - Curbastro eT . Levi - Civita ,
que forneceram os necess ários instrumentos matem á ticos. Einstein p ôde
ent ã o operar em espaços curvos e relacionar os efeitos gravitacionais à
curvatura do espaç o que , por sua vez , é relacionada à presen ça de mat é ria ou
energia .
Estou - me antecipando um pouco . A declara çã o de guerra em 1914 foi
acompanhada de uma invesdda geral de patriotismo ingé nuo e prim ário ,
especialmente na Alemanha . Reagindo às acusações lan çadas pelos Aliados ,
talvez às vezes exageradas , contra a Alemanha , principalmente no que diz
respeito à invas ão da Bélgica , que era um pa í s neutro , os cientistas alem ães
responderam com um manifesto defensivo em que cada frase começava com a
Figura 5.5. Da esquerda para a direita: Zeeman , Einstein e Ehrenfest em Amsterd à
por volta de expressã o: Es ist nicht tuahr.. . ( N ão é verdade... ) e, ao final , proclamava a
1920. Einstein e Ehrenfest eram velhos amigos e foi provavelmente durante uma das visitas aos solidariedade dos cientistas para com os militares . Infelizmente , entre os
Ehrenfest que ele, Einstein , aproveitou a oportunidade pnta ir ao laborat ó rio de Zeeman . signatá rios do manifesto estavam nomes altamente respeitá veis , como
( Museurn Boerhaave, Leiden , Pa í ses Baixos . )
Rõ ntgen , Planck , Nemst , Wien e muitos outros. Quando se dava o caso , eles
acrescentavam tí tulos aos nomes , como Geheimrat ( Conselheiro Privado do
4 Imperador ) ou Exzellenz (Sua Excel ê ncia ) , detalhe ali á s bastante ir ó nico , se
para encontrar -se com os amigos Lorentz e Ehrenfest ( Figura 5.5) . No in ício pensarmos que algu ém como Rõ ntgen poderia imaginar que um t í tulo
de sua estada na Alemanha , Einstein divorciou -se; mais tarde, veio a casar -se i
oficial iria acrescentar alguma força a sua assinatura . Mas era assim a Alemanha
com uma prima , com quem viveu o resto de sua vida.
imperial . É evidente que muitos dos signat á rios , inclusive R õ ntgen , eram
Estamos- nos aproximando do fatal agosto de 1914 . Einstein estava ing é nuos e mais tarde se arrependeram dessa atitude. Outros , como Planck,
engajado nas primeiras pesquisas sobre a relatividade geral , uma ampla aprenderam a li çã o com os pr ó prios fatos . Embora continuassem arrai -
extens ão do princ í pio da relatividade para movimentos arbitr ários . É claro
gadamente patriotas , n ão foram envolvidos tempos depois pela ret ó rica
que dois sistemas , acelerados um em compara çã o com o outro , n ã o s ã o nacionalista de Hider. Einstein recusou -se a assinar o documento e chegou a
equivalentes . O fato é que aparecem forç as inerciais em um que n ão s ã o pensar em organizar um manifesto de oposi çã o , mas n ão levou o plano
encontradas no outro . Um exemplo simples é um elevador em queda livre adiante. De qualquer modo , já tinha feito s é rios inimigos em virtude de sua
sobre a superfície da Terra: para um observador que esteja dentro dele , a posi çã o pol í uca .
gravidade desaparece . Tal fato obviamente n ão é a mesma coisa que um Einstein estava absorvido em seus esforços no sentido de desenvolvera
elevador em repouso em relação à Terra , para o qual a gravidade efetiva- reladvidade geral . Várias vezes julgou ter adngido a meta tão almejada, logo
mente existe. Einstein , no entanto , observou que , ao introduzirem -se descobrindo que havia falhas graves nessa teoria . Finalmente , conseguiu
campos gravitacionais apropriados , podem -se tomar os dois sistemas cumprir com seu programa de formula çã o de leis f í sicas de uma maneira
acelerados equivalentes um ao outro. Para que isso seja poss í vel , é necess á rio válida para qualquer sistema de refer ê ncias , provocando uma nova interpre -

que as massas inerciais que aparecem na equa çã o F ma sejam iguais à massa
gravitacional que aparece na equa çã o F = kmmlr 2. Esse fato digno de nota,
ta çã o da gravita ção. O progresso conceituai e a clareza da teoria são
marcantes , embora os resultados experimentais sejam modestos . Previa ela
quase sempre expresso quando se diz ser a massa gravitacional igual à massa alguns pequenos efeitos que podiam fornecer provas experimentais: a
inercial , tinha sido descoberto por Galileu em suas experi ê ncias quase mudan ç a do peri élio de Mercú rio , o desvio de raios de luz por uma massa ,
lend á rias na torre inclinada de Pisa e confirmado por Newton , que efeito vis í vel em um eclipse solar, e a mudan ça de frequ ê ncia das linhas
cuidadosamente constatou que p ê ndulos do mesmo comprimento , mas de espectrais emitidas por astros maci ços . Infelizmente, todos esses efeitos s ão
materiais diferentes , tê m o mesmo per í odo . Com maior precis ão , o Bar ã o R . pequenos e de dif í cil observa çã o , de modo que , mesmo agora , n ã o h á
98 Einstein Novas Formas de Pensai-: Espa ço , Tempo, ... Einsiein - Novas Formas de Pensar: Espaço, Tempo, . .. 99

nenhuma confinna çâ o experimental absoluta ou inequ í voca da teoi ia gn al Ar ,


da relatividade . N ã o obstante , a redu çã o da relatividade a um eleito
geom é trico da curvatura do espa ço é um conceito magn í fico e de imensa
£2
rfiPV,
ô !.
vtf -

/ .
importâ ncia em astrof í sica e cosmologia . É aqui que a relatividade geial fel
A
1.
recebe a parte que lhe cabe e se toma indispensá vel para descrever e
interpretar as observa çõ es astron ó micas. &
Em 1917 , Einstein publicou outra obra de grande importâ ncia uma
nova e bem simples deriva çã o da lei do corpo negro , que d á condnuidade a
conceitos bastante profundos . A emissão de luzjá n ão era considerada de um
ponto de vista maxwelliano . Pela primeira vez , leis estatísticas , as mesmas
iiilte. ;í - '

que se aplicam ao decaimento radioadvo , eram estendidas a fen ô menos


eletromagn é ticos .
A teoria at ó mica de Bohr já existia ent ão , mas o mecanismo da emissão
da luz a partir de um á tomo continuava a ser um misté rio . Einstein conseguiu

levantar uma ponta da cordna que encobria o fen ô meno e seus trabalhos de
1917 , perspicazes , assinalaram um marco na teoria moderna. Neles , Einstein
abandonou a causalidade estrita da f í sica clássica e apresentou conceitos de
probabilidade. Nessas condi çõ es , seu trabalho continha o germe da mecâ -
nica qu â ntica e da profunda revolu çã o por ela causada . Al é m do mais sem
qualquer men çã o expl ícita das aplicações , continha tamb é m as id éias bá sicas Figura 5.6. Einstein conversando com o matem á tico italiano E . Enriques no p á tio da Universi-
ao funcionamento dos lasers e mascrs t ã o empregados hoje em dia . dade de Bolonha durante uma visita realizada àquela institui ção em outubro de 1921 .
També m neste caso a id éia profunda de Einstein é t ão simples que
pode ser explicitada em palavras , sem ser necess ário recorrer a fó rmulas.
( Para um esquema mais completo , vide Ap ê ndice 7 . ) conclus ã o , que deriva diretamente da relatividade , mediante an álises sutis —
Einstein examinou um corpo negro em equil í brio t é rmico contendo ,
al é m da radia çã o , á tomos especificamentc simples com apenas dois n í veis de

e at é certo pomo rec ô nditas das flutua çõ es da energia e da densidade do
momentum (quantidade de movimento ).
energia . Um pode passar de um n í vel para o outro emitindo ou absorvendo
um quantum de luz de frequ ê ncia */ = ( £ , - E 2 )lh onde E , , E 2 s ão as energias Os Ú ltimos Anos e a Solid ã o de Einstein
dos dois n í veis . Ao precisar que o á tomo e a radia çã o se mant ê m em
equil í brio estat ístico , isto é, que o n ú mero de á tomos que passam por Enquanto Einstein estava absorvido nesses estudos , a guerra tinha
segundo do estágio inferior para o estágio superior , ou vice-versa , é o tomado seu curso , terminando em 1918 com a derrota da Alemanha e a
mesmo , obteve ele notá veis rela ções entre as probabilidades de transi ção e a ru í na do velho regime do C áiser , sem nenhuma lamentaçã o por parte de
emissividade da radia çã o . Baseou o cálculo na probabilidade de ocorr ê ncia Einstein . Ap ós um per í odo revolucion ário , a nova Rep ú blica de Weimar
do decaimento radioativo , adequadamente modificada . Trata - se de um trouxe para a Alemanha grandes esperan ç as de democratiza çã o . Mas o
enfoque radicalmente distinto do m é todo eletromagn é tico cl ássico . Einstein governo mostrava - se extreinarnente fraco , era solapado por dentro e por fora
chamou de A a taxa de transfer ê ncia espont â nea do á tomo do n í vel superior e incapaz de governar com o vigor necessá rio .
para o inferior , e de B a taxa de transfer ê ncia do estágio superior para o Em 1919 , ocorreu um eclipse total do Sol , que possibilitou a consta -
inferior , ou vice - versa , sob a influ ê ncia da radia çã o de emissividade u { v. T ) . ta çã o de algumas das consequ ências da relatividade geral . Realizaram - se
Entre outras coisas , mostrou que as duas taxas de transfer ê ncia induzida s ã o vá rias expedi çõ es com esse propó sito e os resultados , embora n ã o muito
iguais . O A e o B de Einstein atualmente constituem um conceito bá sico em claros , favoreceram as teorias de Einstein . Nesse ponto é que a popularidade
fí sica . de Einstein eclodiu . Por motivos que n ã o s ã o para mim muito claros , ele
A introdu çã o dos coeficientes A e B com seu significado baseado na repentinamente se tornou uma figura bastante popular , mesmo entre
probabilidade , em conexão com a emissão de luz , representa uma tend ê ncia pessoas que ainda nada conheciam de sua obra . Era tratado como um astro
inteiramente nova e um pren ú ncio de coisas que estavam para acontecer . de cinema õ ucõrrio um grande animador de audit óTiõTmas també m passou
Nesse mesmo trabalho de 1917 , Einstein forneceu també m uma nova J~ * ter inimigos figadais sem qualquer motivo racional . Surgiu at é mesmo uma
prova do resultado que tinha conseguido anos antes, que dizia que , al é m da socíêdã3ê cient ífica andensteiniana , onde nomes respeitados e respeit á veis
energia Av , os quanta de luz tamb é m t ê m uma quanddade de movimento /; vlc *r se misturavam a demagogos , dementes e futuros recrutas nazistas . Einstein
no sentido da propaga çã o da luz . De um modo notá vel , chegara ele a essa \ cra convidado a fazer palestras em p ú blico sobre a relatividade . Aceitava tais
1 UU Einstein - Novas Fornias dc Pensar: Espaço, Tempo,. . .
Einstein - Novas Formas de Pensar: Espaço , Tempo, . . .

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Figura y 7. Einstein , conforme de - ]


senho do famoso artista Max Lie- j
-
bermann ( 1847 1935 ) em Berlim , j
em 1925 . ( Com autorizaçã o do Ins - s
titute for Advanced Study , de Prin - J
ceton , N . J . ) í

convites , mas as palestras eram interromp idas por seus adversá rios e
transform adas em torpes demonstra çõ es pol í ticas . Einstein n ào tinha muito
autocontro le e reagia atrav és da imprensa de uma maneira que , segundo Figura 5.8. Arthur Holly Compton (1892- 1967 ), em foto tirada por F. Rasetti durante uma ex-
seus curs ã o ao lago de Como organizada para os participantes do Congresso Volta cm 1927 . Em
amigos mais í ntimos , n ão era absolutam ente a ideal .
A situação tomou um rumo dif í cil , pois os extremista s n ã o hesitavam .
1922 Compton tinha feito estudos experimentais sobre colis õ es f ó ton - el é ctron . ( Cortesia de
F. Rasetti . )
em assassinar os inimigos . O assassinato de W . Rathenau , Ministro dos
Negócios Estrangeir os da Rep ú blica de Wcimar, foi uma advert ê ncia a
respeito do que poderia acontecer . Tratava -se de um grande patriota e Figura
ilustre da ind ú stria alem ã que trabalhara infatigá vel e proveitosa rnentc em opunha a representar o papel do grande cientista e era evidente que gostava
favor da organiza ção da economia de guerra e depois fora elevado ao cargo disso . Talvez esse fato explique algumas de suas afeta çõ es , sua maneira
de ministro . Era amigo pessoal de Einstein e sua rnorte, bem como a dos estranha de vestir -se e alguns h á bitos que podem ter sido um tanto
socialistas K . Liebknech t e Rosa Luxembur go , e de outras figuras notá veis , exibicionis tas . Afinal de contas , era admirador e amigo de Charles Chaplin .
era apenas um prel ú dio do que viria a acontecer durante a era nazista . Mas nenhuma dessas atividades desviava Einstein de seus estudos mais
Einstein j á estava -se sentindo saturado e iniciou uma longa viagem pelo s é rios . O ano de 1922 fora testemunh a de outra confirmaçã o espetacula r de
mundo . Os amigos , Planck , von Laue e outros , insistiam em que ele n ã o seus conceitos sobre os quanta quando o í f sico norte- americano Arthur Holly
deveria abandonar a Alemanha num per íodo dif í cil como aquele e que n ã o Compton ( 1892 - 1967 ; Figura 5.8 ) descobriu que os raios X eram espalhado s
deveria aceitar nenhuma das in ú meras propostas que vinha recebendo do por el é ctrons livres como part í culas com uma energia /? vc com um momento
exterior . Leyden atra í a - o de maneira bastante peculiar tanto por causa de sua h vfc . conforme Einstein havia predito . Particularm ente, o quantum difundido
amizade com Ehrenfest quanto por causa da insist ê ncia de Lorentz em que tinha uma frequ ê ncia diferente , que variava de acordo com o â ngulo dc
ele ali se fixasse . Mas, ao final da viagem , Einstein voltou a Berlim depois de difusã o . Eram fatos que a teoria ondulató ria n ão poderia explicar .
ter estabeleci do rela çõ es pessoais nos Estados Unidos e em outros pa í ses . A A dualidade onda - corp ú sculo da luz estava -se tornando cada vez mais
situaçã o parecia ter - se acalmado um pouco por volta de 1924 , e ele passou a evidente quando um f ísico indiano desconhec ido, Satiendran ath ( S . N . ) Bose
levar uma vida social relativame nte ativa . Em casa , recebia grande variedade ( 1894 - 1974 ) , apresentou um manuscrito a Einstein em busca de sua opiniã o .
de pessoas , inclusive o pintor Sleevogt , o m édico Plesch , o qu í mico F. Haber , O manuscrit o continha uma nova confirmaçã o da fó rmula do corpo negro ,
os m ú sicos F . Kreisler e A . Schnabel , o industrial e Ministro do Exterior Craf obtida atrav és da mec â nica estat í stica ; mas Bose considerav a os quanta de luz ,
Rantzau e o pintor M . Lieberm ã nn ( Figura 5.7 ). Em seus momentos de lazer , aos quais aplicava a mecâ nica estat í stica , de uma forma diferente da usual . A
continuav a a tocar violino , atividade que exerceu durante toda a vida . N ã o se diferen ça b á sica é que , na mec ânica estat í stica de Boltzinann , cada mol écula
. 102 Einstein - Novas Formas de Pensar : Espa ço , Tempo , . . . Einstcin - Novas Formas cie Pensar: Espa ç o , Tempo , . . . 103

tem uma individualidade ; portanto , podemos designar cada uma por urn convenc ê- lo . At é o fim da vida , Einstein , um dos grandes criadores da fisica
nome e assim reconhecê - la . Em contraste , para Bose , os quanta de luz s ã o qu â ntica , manteve - se cé tico quanto à interpreta çã o de Copenhague , embora
absolutamente id ê nticos . Para Boltzmann , a troca da mol é cula A pela estivesse ficando cada vez mais isolado em seu ponto de vista .
mol écula B permite uma nova configuraçã o , que deve ser considerada à Com a ascens ã o do nazismo , Einstein finalmente emigrou da Alema -
parte ; mas para Bose a troca de dois quanta idê nticos n ã o implica outra nha , onde sem d ú vida alguma teria sido morto , e , depois de alguma
configura çã o . O resultado é uma nova confirma çã o da fó rmula do corpo peregrina çã o , fixou - se no Institute for Advanced Study de Princeton , New
negro . Einstein leu o trabalho que Bose lhe havia enviado , traduziu - o e fez jersey . A chama de seu g ê nio estava - se enfraquecendo < Einstein , que
*

com que fosse publicado em um periódico alem ã o , acrescentando algumas durante d écadas enxergai a ruais à frente do que qualquei outro homem e
palavras de louvor e o comentário de que o que Bose tinha feito pelos quanta que intoduzira algumas das mais profundas e mais prof í cuas ideias no
de luz ele mesmo, Einstein , demonstraria ser tamb é m poss ível para as campo da f í sica , passou a dedicar- se a problemas que aparentemente n ã o
mol éculas . Einstein manteve a promessa e em 1924 publicou um trabalho tinham solu ção e que talvez estivessem sendo colocados de forma err ó nea .
sobre o tema . Assim surgiram as novas estat ísticas , que seriam complemen - As linhas mestras da nova f í sica que se originaram em Berna , Zurique e
tadas dois anos depois pela obra de Fermi e Dirac , que mostraram n ã o serem Berlim n ão tiveram sequ ê ncia a partir de Princeton .
as estat ísticas de Bose e de Einstein as ú nicas poss íveis , mas que , na natureza , N ão obstante, Einstein ainda estava destinado a desempenhar um
existem os dois tipos . Trataremos dessa questã o mais adiante , quando papel importante , embora paradoxal para um pacifista : pressionar os
falarmos de Fermi . Estados Unidos para que fosse constru í da a bomba at ó mica. Chamo esse
Como era de se esperar , Einstein també m calculou as flutua çõ es de um papel de paradoxal , mas trata - se de posi ção que se enquadrava em seus
gás Bose-Einstein e mais uma vez descobriu um ind ício da natureza dual n ã o pró prios princí pios nas circunstâncias da Segunda Guerra Mundial . Mas era
apenas dos quanta , mas també m - e aí vinha uma novidade - das mol é culas . um passo mais pol í tico do que t écnico : Einstein certamente n ã o estava em
A dualidade onda -corp ú sculo estava-se tornando cada vez mais dia com a f ísica nuclear da d é c ada de quarenta , nem contribuiu tecnicamente
evidente a partir da nuvem de mist é rio em que estava envolvida . Mais ou para o desenvolvimento da energia at ó mica . Em 18 de abril de 1955 ,
menos naquela é poca , L . de Broglie fez progressos decisivos nesse campo . terminou seus dias tranq ú ilamente , em Princeton , aos setenta e seis anos de
Vamos falar a esse respeito mais tarde , mas aqui tamb é m a contribui çã o de idade.
Einstein foi muito importante , sobretudo em seu papel de avalista de A respeito de si pr ó prio , certa vez afirmou o seguinte: “ Deus é
conceitos novos e surpreendentes . inexor á vel no oferecimento de dons . Deu - me apenas a teimosia de urna
A propor çã o que a fama de Einstein crescia , ele ia fazendo pronuncia - mula . N ã o ! Deu - me tamb é m um agudo sentido do olfato !”
mentos pol í ticos e humanitários com maior frequ ê ncia. Tamb é m assumiu
uma posi çã o firme de pacifista e de defensor do Estado de Israel . Quando
Israel foi criado , muitos anos mais tarde , ofereceram a Einstein o cargo de
Presidente , mas , sabendo de suas pró prias qualidades e limita çõ es , ele
declinou do convite . Qualquer boa causa podia ganhar o apoio de Eiastein ,
do mesmo modo como qualquer bom f ísico que ele conhecesse poderia
obter uma recomenda ção de sua pane . Assim , ironicamente , qualquer
recomenda çã o feita por Einstein , que pnrna facie deveria significar muito ,
passou a n ão ter valor . •
Em 1927 , a mecâ nica qu ântica n à o - relativista já poderia ser considera -
da completa e as primeiras linhas de sua interpretaçã o , segundo a famosa
interpreta çã o de Copenhague , já tinham sido formuladas . Bohr apresen -
tou um trabalho a esse respeito à Confer ê ncia Internacional de Fí sica , reali -
zada em Como para celebrar o centenário de Volta. Einstein n ão compare-
ceu à Confer ê ncia porque n ão queria visitar a Itália fascista , mas pouco mais
tarde , quando Bohr repetiu as mesmas id éias no Conselho Solvay , recebeu a
oposi çã o dc Einstein . Bohr , que muitas vezes se inspirara em Einstein , tinha
por ele verdadeira idolatria , e Einstein j á fizera repetidas manifesta çõ es de
admira çã o e apre ço por seu colega. A rejeiçã o de Einstein aos mais caros
conceitos de Bohr deixaram - no amargurado e desorientado . Surgiu da í um
longo debate , durante o qual Bohr destruiu todas as obje çõ es apresentadas
por Einstein , mas teve de enfrentar outras sem contudo , conseguir
Capítulo VI
Sir Ernest e Lorde Rutherford of Nelson

I
1

Com as obras de Planck. e d è Einstein descrevemos o est ágio em


que se
encontrava a fí sica teó rica at é a Primeira Guerra Mundial e at é o
per íodo
imediatamente posterior àquele conflito . Mas deixamos a í f sica experimen -
tal por volta de 1907 , quando Ernest Rutherford partiu do Canadá para a
Inglaterra , onde viria a exercer o cargo de professor da Universidade de
Manchester . Dessa é poca at é a Primeira Guerra Mundial , as pesquisas
progrediram com rapidez e Rutherford era a figura dominante. Neste
cap í tulo , trataremos de sua obra e de outras descobertas experimentais
daquele per íodo .
De Volta à Inglaterra

A cá tedra de í f sica em Manchester , uma das mais importantes universi -


dades provinciais inglesas , vagara em virtude de Sir Arthur Schuster ( 1851
1934 ), grande espectroscopista , ter decidido aposentar -se , mas com a
-
condi çã o de que Rutherford Fosse seu substituto . A despeito de suas origens
alem ãs , Schuster era um homem inteiramente anglicizado. Herdara uma
fortuna e gastara parte dela equipando seu departamento com um excelente
laborató rio . Embora o campo de estudos de Rutherford pouco tivesse a ver
com o de Schuster, Sir Arthur deu -se conta dc que n ã o poderia encontrar
melhor sucessor c fez o poss í vel para convencer Rutherford a aceitar o cargo .
Arranjara uma dotaçã o para o Instituto e també m financiara uma bolsa para
um íf sico teó rico , que mais tarde veio a beneficiar H . Bateman , G. C . Darwin
( neto do naturalista ) e Niels Bohr. Schuster tamb é m tinha um
assistente
alem ão , Hans Geiger ( 1882- 1945 ), que trabalhou sob a orientação de
Rutherford e depois se tomou um í f sico nuclear de primeira linha . Geiger
sempre manteve contato com Rudierford e , após voltar a seu país de origem ,
de l á contribuiu para o desabrochar dos estudos nucleares . Seu nome é
familiar para todos aqueles quejá lidaram com substâ ncias radioativas e que
provavelmente j á fizeram uso de seu invento , o contador Geiger, um dos
mais ú teis instrumentos para a detec ção da radioatividade. També m como
integrante da equipe de Manchester estava um técnico , W . Kay , que auxiliou
Rutherford durante todo o periodo em que este ali atuou .
Manchester dispunha , no entanto, de pequena quantidade de rádio ,
menos de 20 miligramas , e Rutherford precisava de r á dio , que , à é poca , era
produzido quase que exclusivamente pelas minas dejoachimstal , na Á ustria
106 Sir Ernesi e Lorde Rutherford of Nelson Sn Ernesi e

( atualmemc territ ó rio da Tchccoslová quia ). A Academia de Ci ê ncias de


Viena emprestou 350 miligramas de brometo de r á dio a Ramsav , do
Universicy College , em Londres . Esse empr é stimo destinava - se tanto a
Ramsav quanto a Rutherford , mas houve um atrito entre os dois cientistas ,
que acabaram por n â o querer dividir a oferta . Felizmente , Rutherford
conseguiu outros 350 miligramas como empr éstimo feiro pela Academia de
Ci ê ncias de Viena c assim o problema ficou resolvido . O r á dio emprestado
permaneceu em poder de Rutherford durante toda a Primeira Guerra
Mundial . No final da guerra , o Governo ingl ê s quis confiscá - lo como
propriedade do inimigo , mas Rutherford insistiu em que o r á dio devia ser
comprado como se se tratasse de um neg ó cio comum . Com o resultado da
venda , p ô de ele ajudar o empobrecido Instituto de Viena e seu diretor ,
Professor Stefan Meyer , que tinham ficado arruinados com a guerra . Esse ato
de justi ça e generosidade comoveu profundamente os cientistas austr í acos .
Tendo -se fixado em Manchester e obtido o r ádio de que precisava ,
Rutherford mais uma vez lan ç ou -se à pesquisa . De in í cio , voltou a investigar
velhos temas . Usando m é todos espectroscó picos , conseguiu uma confirma -
ção definitiva de que a part í cula alfa era h é lio ionizado . Fez isso com a ajuda
de T. Rovds , outro benefici á rio da bolsa de estudos da Exposi çã o de 1851
( Figura 6.1 ) .

Novas Luzes sobre as Partí culas Alfa


Figura 6. 1. A aparelhagem de Ruiherford
Em 1908 , Rutherford recebeu o Pr é mio Nobel de Qu í mica . No e Royd para demonstrar a natureza das
discurso de aceita ção , “ A Natureza Qu í mica das Part í culas Alfa Origin á rias part í culas alfa . A agulha A conté m ra -.
de Subst â ncias Radioativas ” , descreveu a contagem de part í culas alfa dô nio, cujas part í culas alfa emergem do
vidro e enchem o tubo T com h élio a
isoladas atrav és do m é todo da cintila çã o , ou seja , ele contava os á tomos um a baixa pressà o. O h é lio , empurrado pelo
um , olhando , por um microscó pio de baixa pot ê ncia, os reflexos no sulfeto merc ú rio no tubo de descarga V , mostra
de zinco provocados pela chegada de part ículas alfa . Geiger participou o espectro de emiss ã o caracteristico . | Do
ativamente desse trabalho , que at é certo ponto era entediante e exigia de Phdoiophical Magazine 17, 281 , ( 1900 ) . ]
ambos longas horas em meio a trevas absolutas .
Se o leitor desejar ver cinula çõ es , tudo o que precisa fazer é olhar para
os n ú meros de um mostrador luminoso de rel ó gio com uma lente de
aumento , o que deve ser feito depois que o observador tiver ficado no escuro Para a contagem , Rutherford e Geiger usaram um m é todo bem
durante algum tempo , como faria no primeiro instante em que se levanta ern engenhoso que mais tarde í oi muito ampliado e bastante aperfei çoado . As
meio à escurid ã o . Contando á tomos , Rutherford e Geiger conseguiram um cintila çõ es produzidas por part ículas alfa sobre uma tela de sulfeto de zinco
meio de determinar o n ú mero de Avogadro , a carga do el éctron e outras n â o s ã o facilmente vis í veis e para cada observador pode - se atribuir um í ndice
constantes universais que tamb é m puderam ser descobertas mediante de rendimento definido como a raz ão entre o n ú mero de cintila ções que
experi ê ncias inteiramente diferentes , como , por exemplo , o estudo da ocorrem e o n ú mero observado . Suponhamos que dois observadores
radia çã o dos corpos negros . Os n ú meros obtidos por ambos os m é todos sc ( Rutherford e Geiger ) estejam olhando para a mesma tela c que cada um
correspondiam e essas experi ê ncias convenceram , mesmo o mais cé tico dos conte as cintilações que v ê pressionando uma chave como aquela usada para
fí sicos , da exist ê ncia reaJ dos á tomos , derrubando a velha guarda mais - enviar uma mensagem telegráfica e assim marcando tamb é m o instante da
observa çã o . H á tr ês tipos de sinal : ( 1 ) do primeiro observador sozinho , ( 2 ) do
obstinada e mais conservadora .
Essas experi ê ncias també m ajudaram a persuadir os ingleses dos
m é ritos da teoria dos quanta , na medida em que a carga el é trica do el é ctron e
outras constantes determinadas por Rutherford estavam tã o pr ó ximas dos
^ *cgundo observador sozinho e (3 ) dos dois observadores juntos . O seu
n ú mero é

valores dados anteriormente por Planck , usando a teoria da radia çã o dos


corpos negros .
« i = Vi
” -
ni — 7} tn n 12 = TLT»"
108 Sir Ernest e Lorde Rutherford of Nelson
Sir Ernest e Lorde Rutherford of Nelson
109

ondeai, V 2 s ão os rendimentos dos observadores ; n é o n ú mero


do de oscilaçõ es ocorridas ; etf j, n 2 n , 2 s ã o os n ú meros observa desconheci- redor. A atra ção eletrostá tica entre o n ú cleo carregado posiuvamente e os
y
separadamente e em conjunto. Da í, que n = nxn 2 ln .
dos por 1 e 2 el éctrons carregados negativamente estabilizava o á tomo . Rutherford afirmou
12
Hoje, os olhos dos observadores s ão substitu ídos por aparelh explicitamente que n ão estava preocupado com a estabilidade do sistema ,
eletr ó nicas ou contadores Geiger , mas o princ í pio do m é agens um ponto vulnerá vel que levava a grandes dificuldades. Uma part ícula alfa
todo permanece o considerada como uma carga puntiforme maci ça , incidindo sobre o n ú cleo ,
mesmo.
é repelida segundo a lei de Coulomb e , conforme Newton j á tinha calculado ,
Rutherf ord enfrentou outro problema que aparentemente era segue uma ó rbita hiperbólica, com o n ú cleo em um dos pontos focais da
mais simples do que a contagem de á tomos : a descri çã o e muito
fen ô menos que acompanhavam a passagem das part í culas explica çã o dos j hip é rbole ( Figura 6.2) . Aparentemente, Rutherford tinha aprendido isso
alfa atrav é s da ainda como estudante na Nova Zelândia . Os el éctrons , milhares de vezes
matéria. Atacou o problema com a ajuda de v á
rios alunos. Por volta de 1904 , mais leves do que o n ú cleo , n ão afetam a trajetó ria da part í cula alfa . A
W. H . Bragg e R. D . Kleeman tinham descoberto partir
que as í culas alfa com desse modelo, pode-se determinar a probabilidade de a part ícula alfa ser
determinada energia t ê m um alcance bem caracter í stico , epart os dois Braggs ( pai
e filho ) unham estudado a ioniza çã o ao longo da
desviada ern um certo ângulo 6 ao cruzar uma l âmina delgada .
trajet ó ria . Ernest Marsden í Em termos concretos , o n ú mero de part ículas alfa que caem
( 1889 - 1970 ) , um estudante da Nova Zel â ndia que tinha sobre uma
vindo trabalhar com tela que subtende um ângulo sólido DOJ visto do alvo , por part ícula incidente
seu famoso compatriota em 1909 , casualmente observou que, vez no alvo que conté m n á tomos por unidade de volume e espessura t , é
as part ículas alfa , em vez de seguirem direta ou quase diretam por outra , I dado
ente , eram por nt daldu ) com
defletidas pela matéria e se desviavam em ângulos consider á veis .
Quando t*
Marsden descreveu essa observaçã o a Rutherford , o profess V -
or fez com que ?
T
ele repetisse a experi ê ncia . Os grandes desvios surpreenderam Rutherf dor 2 Ze 2V 1
ord .
Mais tarde , ele declarou que foi como se algu é m lhe tivesse dito
em uma folha de papel , a bala tivesse ricocheteado!
que , ao atirar \ d (O mv '1 sen 4 ( 0/ 2 )
Passaram -se vá rias semanas. Certo dia , em 1911 , Rutherford t
onde 0 é o ângulo de desvio , v a velocidade das partículas em a sua
anuncio
que agora sabia por que as part ículas de Marsden tinharn -se desviado u massa do n ú cleo é considerada infinita com relaçã o am . Rutherf
massa . A
â ngulos largos . E , al é m disso , sabia qual era a estrutura
em .
4 ord enviou o
do á tomo . manuscrito de seu trabalho para o Philosophical Magazine em abril
de 1911 .
O N ú cleo Ató mico

O que tinha acontecido ? Naquela é poca , havia diversos i


ató micos . Lorentz utilizou a id éia de que o eléctron era elasticamentemodelo
preso
s
a
um centro fixo , o que explicava o efeito Zeeman . Havia
o oscilador
Planck e outros modelos , inclusive um dej . . Thomson , que imagino de l
J
á tomo feito de uma carga el é trica positiva difundida em uma u urn $ í
eléctrons interpolados , corno passas em um pudim . Mas um
esfera com
á tomo desse
tipo , popular na Inglaterra , n ã o poderia espalhai part í culas alfa em â ngulo
grande porque , se a part í cula alfa se aproximasse do centro do pudim , Figura 6.2. Trajet ó ria ( dc
penetrando- o , estaria em uma á rea de carga m é dia zero e assim n ão P a P ’ ) de uma part ícula
desviar se. O mesmo se aplicaria se essa part ícula fosse para
-
poderia
longe do centro , K alfa desviada por um n ú -
fora do á tomo . cleo . Os desvios de partí -
Vá rios cientistas , inclusive o f ísico japon ê s H . Nagaok ,
a tinham
culas alfa que passam a -
pensado na possibilidade de um á toino constru ído à semelhan ç a do sistema
T trav é s de uma folha fina f;
de metal seguem a lei
solar , mas isso ainda era vago e especulativo . Rutherford forneceu uma que foi calculada com
base
experimental só lida para essa teoria ao criar um modelo ató mico que ainda é ,
•í base nesta figura. Isso
v álido hoje em dia . Embora atualmente o á tomo deva provou a exist ê ncia de
ser descrito mais em - um centro de espalha -
termos da mecâ nica qu â ntica do que da f ísica cl á ssica , felizme
NA

nte as duas mento no â omo carre-


á reas permitem os mesmos resultados no caso das experiê ncias de Rutherford . gado , mais tarde chama -
Rutherford imaginou a hip ó tese de que toda a carga positiva ( 7.e ) e a massa * do de n ú cleo. [ Do artigo
estivessem concentradas em um pequeno volume no centro , ao qual deu o de Rutherfo rd no Philo -
nome de n úcleo . O n ú cleo era cercado por Z el éctrons que giravam em seu sophical Magazine 21 , 669
( 1911 ) 1
110 Sir Ernest e Lorde Rutherford of Nelson r Sir Ernest e Lorde Rutherforri of Nelson 111

tratando das dimensões e constitui ção do n ú cleo , observou que Bohr tinha
aduzido argumentos para atribuir uma origem nuclear aos eléctrons
emitidos no decaimento radioativo , assim diferenciando el éctrons at ó micos
de el éctrons nucleares . Com rela çã o à carga nuclear, Rutherford apresentou a
hip ó tese de van den Broek , bem como a lei de Soddy sobre o deslocamento
Figura 6 . J . A aparelhagem usada por H . radioativo . Esta diz que um n ú cleo muda sua natureza qu í mica de acordo
Geiger c E . Marsden para estudar o espa - com seu lugar no sistema peri ódico , movendo - se dois lugares para trá s na
lhamento de partí culas alfa. R é a fome de emissã o de uma part í cula alfa e um para a frente na emiss ã o de uma partí cula
partí culas alfa , encerrada ern um recipien - beta . Isso , naturalmente , deriva da carga da part í cula alfa Z = 2 e da carga do
te de chumbo dentro do recipiente de v á -
cuo B . Um fino feixe de partí culas alfa pas - eléctron : -- 1 . Ao emitir uma part í cula alfa , o n ú cleo perde duas unidades de
sa através da fenda e colide com uma carga ; ao emitir um el éctron , ganha urna .
fina folha de metal F. As part í culas alfa que Os raios X s à o ú teis na medi çã o do n ú mero at ó mico usando - se os
passam arrav és da folha colidem com a tela m é todos baseados na difus ã o , primeiramente sugeridos porW . Barkla , ou os
fluorescente S e sâ o observadas atrav é s do
microscó pio M , que , com B , pode ser
poderosos m é todos inventados por H . G . J . Moseley . Finalmente , h á o
movido em volta de TF. ( Do Philoiophiail seguinte trecho:
Maga úne 25, 604 ( 191 3 ) .| “ Bohr passou a concentrar sua aten çã o nas dificuldades de construir
á tomos segundo a teoria do ‘ n ú cleo ’ c demonstrou que a posi çã o est á vel dos
‘ eléctrons externos n ã o pode ser deduzida da mec â nica cl á ssica . Introduzin -
do urna concep çã o relacionada com o quantum de Planck , mostrou que, sob
Usando o modesto aparelho que é mostrado na Figura 6.3 , Geiger v certas hip ó teses , é poss í vel construir moléculas e á tomos simples a partir de
Marsden confirmaram essa fó rmula em todos os seus detalhes , mudando a n ú cleos positivos e negativos , como , por exemplo , a mol écula e o á tomo do
subst â ncia sobre a qual as part ículas alfa s ào projetadas , o que altera Z , hidrogé nio e o á tomo do h é lio , que se comportam , sob muitos aspectos ,
mudando a velocidade das partículas alfa , a espessura da folha ou mudando como mol é culas ou á tomos reais . Embora possa haver uma grande diferen ça
o â ngulo de observa çã o , 6. de opini ã o quanto à validade e quanto ao significado f í sico na base das
O n ú mero Z , caracter í stico da natureza qu í mica do alvo , foi chamado suposi çõ es apresentadas por Bohr , n ã o pode haver d ú vida de que as teorias
n ú mero at ó mico . Ele representa a carga el é trica do n ú cleo , em unidades de Bohr s ã o de grande interesse e importâ ncia para todos os f í sicos , como o
iguais à carga do el éctron , mas com o sinal contrá rio: para o hidrogé nio . Z = 1 , primeiro e definitivo esfor ço no sentido de construir mol éculas e á tomos
para o h élio , Z *= 2 , e assim por diante . Essa descoberta lan ç ou nova luz simples e explicar seus espectros ” .
sobre a defini çã o do elemento qu í mico . A cada elemento podia - se agora
associar um n ú mero inteiro Z, que também fornece o n ú mero de el éctrons Por uma quest ã o de clareza , s ó darei mais detalhes sobre o trabalho de
em ó rbita . Quando , por volta de 1869 , Mendeleev , com genial intui çã o , Bohr no cap í tulo seguinte .
aperfei çoou seu sistema peri ó dico , unha ordenado os elementos de acordo
com o peso at ó mico de cada um . Agora o modelo de Rutherford revelava que O Mesmo, mas Diferente : O Conceito de Isotopismo
o que conta é o n ú mero at ó mico , e n ã o o peso . A primeira pessoa a observar
tal fato foi Antonius van den Broek ( 1870 - 1926 ) , um cientista amador da Mais ou menos por essa é poca estava -se tornando cada vez mais
Holanda , em 1913. evidente que existiam á toinos id ê nticos do ponto de vista qu í mico mas
diferentes ern termos de radioatividade. J á ern 1906 Boltwood tinha demons -
O Á tomo Planetá rio frado em Yale que o i ô nio n ã o podia ser separado do tó rio. Em 1910 ,
Marckwald , F . Soddy e O . Hahn tinham demonstrado a mesma inseparabi -
Neste ponto torna - se muito dif ícil seguir detalhadamente as descober -
f Y£ lidade
'
: para o MsTh ( descoberto por Hahn ) e o r á dio , e outros exemplos
12S quase simult âneas de muitos aspectos do á tomo nuclear . Podemos ter % uv.v $ç
irielhantes tamb é m foram descobertos . Em 1912 , Rutherford apresentou o
uma id é ia da situa çã o lendo , por exemplo , um artigo publicado por
Rutherford em fevereiro de 1914 , intitulado “ A Estrutura do Á tomo ” ( em Problema da separaçã o de RaD do chumbo a dois de seus pesquisadores ,
de Hevesy e F. A . Paneth , austro - h ú ngaros que estavam visitando o
Philosophical Magazine VI , 26 , 937 ) . Nesse trabalho, Rutherford tratava da laboratório de Rutherford . Disse - lhes o seguinte: “ Se você s forem qu í micos
dispers ã o de part í culas alfa e beta e das conclus õ es que podem ser extra í das
no que diz respeito à localiza çã o de caxgas positivas. Deu entã o aten çã o
especial à passagem de part í culas alfa no hidrogé nio e à s colis ões com o que

fcj gnos desse nome , separem - os ” . Ap ó s dois anos de trabalho , durante os
lis tentaram de tudo , os dois homens infelizmente tiveram de desistir.
Mas de Hevesy e Paneth transformaram sua derrota em vit ó ria inven -
hoje chamamos de pr ò tons ou n ú cleos de hidrog é nio . Em outra ocasi ã o , a “ t é cnica dos tra çadores ” , que , enriquecida pela descoberta posterior
i iZ Sir Ernest e Lorde Rutherford o í Nelson Sir Ernest c Lorde Rutherford of Nelson 113

da radioatividade artificial, veio a ser uma das t écnicas mais importantes da Mas voltemos a Manchester. O modelo at ó mico, depois de formulado
ci ê ncia moderna , talvez equivalente ao microsc ó pio. Eis como funciona: por Rutherford , foi mais aperfei ç oado por Bohr do que pelo pr ó prio Ru -
Dadas subst âncias que sejam id ê nticas do ponto de vista qu í mico , mas dis - therford . Este , por seu lado , prosseguiu com o estudo dos raios beta c gaina ,
tingu í veis por sua radioatividade , é poss í vel realizar experi ê ncias em que os chegando a resultados válidos , mas n ào revolucion á rios . Nesse meio tempo,
á tomos radioativos podem sempre ser reconhecidos , mesmo ap ó s a ocor- a Inglaterra entrara na guerra e a popula çã o do Laborat ó rio de Manchester
r ê ncia de reaçõ es complicadas . Por exemplo , se algu é m comer sal comum diminuiu . Rutherford també m foi -se envolvendo cada vez mais no trabalho
misturado com sal que contenha s ó dio radioauvo , um exame da radioati - para o AJmirantado e com a defesa do Impé rio . Esses compromissos o
vidade de uma gota de sangue ou de uma amostra de urina revelará a levaram à Am é rica , onde passou um período considerável em Washington .
quantidade de s ódio ingerida na amostra medida . A capacidade de reconhe- Enquanto isso , tomara-se Sir Ernest . Ind ício dos tempos ainda relativamente
cer á tomos classificados por sua radioatividade permite a solu çã o de proble- civilizados foi o fato de , durante a guerra , Rutherford ainda poder manter
mas bastante importantes que, caso contrário , permaneceriam inteiramente correspond ê ncia com Stefan Meyer na Á ustria e com Geiger na Alemanha.
inacess í veis. Geiger , por seu lado , conseguiu que J . Chadwick , um dos melhores alunos
Estava-se , portanto, estabelecendo o conceito de isotopismo em subs - de Rutherford , que tinha sido preso e internado na Alemanha durante a
t â ncias radioativas ; em 1913, Soddy cunhou esse nome, que significa “ mes - 1 guerra , continuasse a realizar pesquisas naquele pa í s .
mo lugar ” no sistema peri ódico . O isotopismo logo iria ampliar- se para
n ú cleos está veis. Em 1912 , J . J . Thomson descobriu ind í cios de que o fen ô -
meno do isotopismo n ão se limitava a elementos radioativos , mas era uma
propriedade geral de muitos elementos. Mediu a razão entre massa e carga
i A Desintegra çã o do N úcleo

Por volta de 1917 , Rutherford era um dos poucos cientistas que perma -
de í ons positivos com o chamado m é todo parab ólico. Nesse m é todo , as
deflexões perpendiculares de um feixe de íons s ã o produzidas por meio de
um campo magn é tico e um campo elé trico que são paralelos entre si e
-
*
neciam no Laborató rio de Manchester , juntamente com seu técnico Kay . Fal -
tava - lhe, poré m , a ajuda de estudantes capacitados a quem pudesse encarre
-
gar de experiê ncias. Marsden, o fiel Marsden , antes de voltar como professor
perpendiculares à velocidade dos íons com uma carga e e massa m . Se o cam - a seu pa í s , a Nova Zelâ ndia, em 1915 , unha observado um fen ô meno
po el é trico E e o campo magn é tico B seguem ao longo do eixo x e os íons
-
estão se movendo na direção z , os desvios s ão tais que íons com a mesma 4 estranho: a presen ça de algumas partículas com alcances excepcionalmente
longos quando bombardeava o ar com partículas alfa. Uma poss í vel explica-
razã o e / m , independente de sua velocidade , caem numa pará bola localizada * çã o é que se tratava de n ú cleos de hidrogé nio , porque aparecem recuos de
em um plano perpendicular à velocidade do feixe ( vide Ap ê ndice 8 ) . longo alcance quando o hidrogé nio é bombardeado com part ículas alfa. Mas
Quando J . J . Thomson aplicou esse m étodo ao neon , descobriu que o Rutheriod suspeitou que fosse outra coisa de enorme importância e, em
elemento continha í ons de massas 20 e 22 vezes à quelas do hidrogé nio . j demorado e paciente estudo realizado sobretudo quando suas fun çõ es ofi -
Thomson considerou a possibilidade de que í ons de uma massa 22 ; ciais o permi ú am , decidiu verificar a natureza da partí cula projetada. Em um
pudessem ser obtidos pelo composto NeH 2 , mas descobriu que essa trabalho de novembro de 1917 , perguntava se se tratava de á tomos N , He , H
hip ó tese apresentava grandes dificuldades. Em 1913 , v á rias tentativas de
fracionar Ne em diferentes is ó topos tiveram ê xito apenas parcial . As
ou Li. -
Em junho de 1910 , Rutherford já estava pronto para publicar um
pesquisas de Thomson abriram o campo da espectroscopia de massa , no trabalho intitulado “ Colis ões de Part í culas Alfa com Á tomos Leves ”. A obra
qual se obteve grande ê xito após a Primeira Guerra Mundial , graças a F. W . era composta de quatro partes. As tr ês primeiras eram excelentes , mas
Aston ( 1877 - 1945 ) , que aperfei çoou espectrosc ó pios que davam a massa abrangiam pesquisas mais ou menos rotineiras ; a quarta , subtitulada “ Um
i ô nica com uma precis ã o cada vez maior . Eleito An ó malo no Nitrogé nio ” , afirma o seguinte :
Um dos resultados importantes conseguidos por Aston foi a descoberta “ Devemos concluir que o átomo de nitrogé nio se desintegra sob for ças
de que os pesos reladvos de todos os á tomos examinados , à exce çã o do intensas liberadas na estreita colisã o com uma part í cula alfa r á pida e que o
hidrogé nio e do l í tio , eram um n ú mero inteiro comparado com a acuidade á tomo de hidrogé nio que é liberado formava parte integrante do n ú cleo de
da medição, uma parte por mil , quando tomando -se 1 / 16 do peso de O 16 nitrogénio . .. Os resultados, como um todo , indicam que, se se dispusesse de
como unidade . Pressup ô s -se , ent ão , que os n ú cleos eram constitu í dos de part í culas alfa - ou de projé teis semelhantes - de mais energia ainda para
pr ó tons e el éctrons. Os pró tons conferiam aipassa; os el éctrons ajustavam a experimentação , poder íamos ter certeza de decompor a estrutura nuclear de
carga e , sendo cerca de 1 / 1840 mais pesaif òs do que os pr ó tons , n ão muitos dos á tomos mais leves ” . [ Philosophical Magazine, 31, 581 ( 1919 ) . ]
alteravam grandemente a massa nuclear . As divergê ncias origin árias da Era isso a desintegraçã o nuclear , o sonho dos alquimistas em uma
“ regra do n ú mero inteiro ” foram interpretadas em razã o da perda de massa forma mais atualizada . Rutherford tinha realizado todas as experi ê ncias de
que ocorre quando part í culas livres se unem , segundo a lei de Einstein controle poss í veis antes de anunciar sua descoberta . Queria estar absoluta -
E = mc2 ( vide tafribé m p . 140 ) . mente certo dos resultados obtidos e isso custou - lhe cerca de três anos . A
Figura 6.4 . A aparelhagem usada por Ruihcrford para observar a primeira desintegra çã o
nuclear . A ilustra çã o íoi retirada de Radiationsfrom Radioachue Substances , de Rutheríord , Chadwick
e Ellis ( Cambridge University Press , 1931 ) , onde na realidade aparece duas vezes! Mostra ela um
recipiente sem arque pode ser enchido de gá s ( nitrog é nio ) e cont é m uma fonte de partí culas alfa
-
colocadas em D . Visto que o alcance DS é maior que o das part í culas alfa , pode se concluir que
partículas que causam as cintilações na tela F sã o emitidas na desintegra çã o de n ú cleos do gá s
nitrogé nio atingidos por part í culas alfa. Um estudo detalhado mostra que os fragmentos s ã o
pr ó tons . Figura 6.5. A desintegra ção de um n ú cleo de nitrogénio em uma câmara de nuvens , con -
forme observada por Blackett . A fome contém Pb 212 -f Bi 21 + Po 212 em equil í brio

"

radioativo e emite part í culas alfa com dois alcances: 8 , 6 e 4 , 8 cm . Uma das part í culas com
Figura 6.4 mostra a aparelhagem usada por Rutherí ord . Trata - se de alcance mais longo atinge um n ú cleo de nitr.og ê nio e rompe - o segundo a rea çã o
7 NH + jHe = «O
4 17
+ , H . O traço transverso mais longo é o do pr ó ton , o outro o

aparelhagem que custou menos de um milion ésimo do que custa hoje em de hOw . | De P . M . S . Blackett e D . Leaem Proceedmgs ofiht RoyalSocieí y , Londres 136 , 325
dia um acelerador ; mas precisava do olho do cientista ao microscó pio , ( 1932 ). ]
exigência que nem sempre se pode preencher .
As experi ê ncias de Ruther íord se repetiram em Viena e alguns de que era capaz , escreveu a seu ex - professor e as duas autoridades
cientistas austr í acos descobriram maior n ú mero de desintegra çõ es do que esclareceram o assunto , evitando assim divergê ncias que pudessem vir a
Ruther íord havia descoberto . Levantou -se um debate acalorado , mas , no ocorrer .
finai , chegou - se à conclus ão de que Ruther íord estava certo . No Laborat ó rio Rutherford foi convidado a pronunciar a Confer ê ncia Baker pela
Cavendish , P . M . S. Blackett obteve imagens na c â mara de bolhas de Wilson •
segunda vez em 1920 . À semelhan ça da primeira ocasi ã o ( 1904 ) , resumiu o
que confirmavam os resultados de Ruther íord ( Figura 6.5 ) . trabalho que havia realizado , dessa vez tratando do per í odo em Manchesier ,
isto é , a partir da formula çã o do modelo de á tomo nuclear até a desinte-
Diretor do Laborató rio Cavendish gra çã o do n ú cleo . Ao descrever o á tomo , citou detalhes de suas experi ê ncias
sobre a dispers ã o de part ículas alfa e depois citou trabalho de Barkla e
No fina] da guerra , J . J . Thomson aposentou - se do Laborat ó iio Moseley , que estabeleciam a exist ê ncia do n ú mero at ó mico. Ainda tinha
Cavendish ( Figura 6.6 ) e passou a ocupar a fun ção de Master no Trinity muitas reservas quanto ao trabalho de Bohr . Depois , descreveu em porme-
College , de Cambridge . Procurou -se um sucessor à sua altura para o cargo de nores seu trabalho sobre a desintegra çã o . Nessa conferê ncia , manifestou
professor Cavendish e diretor do laborató rio , mas n ão era tarefa fá cil . O novo tamb é m algumas id é ias tentativas sobre a poss í vel exist ê ncia de uma
diretor teria de seguir uma impressionante linha de sucess ã o : Maxwell , part í cula neutra com urna massa similar à do pró ton ( termo que tinha
Rayleigh e j. J . Thomson . Em termos de capacidade cient ífica , o candidato cunhado para referir - sc ao n ú cleo de hidrogé nio ) . Considerava essa part í cula
ó bvio era Rutherford . O sucessor tamb é m tinha de dispor de apreci á vel dose hipot é tica mais como um á tomo de hidrog é nio em que o el éctron tivesse
de autoconfian ç a em vista de poss í veis compara ções com seus antecessores . i c do dentro do n ú cleo , neutralizando -o eletricamente . Essa especula çã o , no
Rutherford n ão era homem dado a medos e não era nada modesto nem tinha — ^
k final das contas , mostrou sua importância , conforme veremos mais adiante .
motivo para sê- lo . Mas queria ter certeza de que J . J . Thomson n ã o também especulou sobre um poss ível is ó topo de hidrog é nio de massa 2
procuraria exercer grande influ ê ncia no Laborat ó rio. Com toda a franqueza I (deut é rio ) .
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