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Física II – Electricidade e Magnetismo

Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto


Miguel António de Oliveira Regala

Construção de um emissor de rádio

Parte I

1 Prefácio
Imagine o leitor que um dia no futuro uma intensa tempestade geomagnética
provocada pelo Sol atinge a Terra. Todas as formas de comunicação, navegação e
sistemas elétricos são afectados. Numa situação como esta, um simples rádio
pode-se provar uma chave para a sobrevivência, mantendo as diferentes partes da
aldeia global ligadas. Dado a facilidade de obter os componentes do circuito, era
extremamente plausível que todos os indivíduos pudessem possuir tanto um
emissor como um receptor.
Na primeira parte deste trabalho são introduzidos conceitos teóricos e conceptuais
enquanto que na segunda parte descreveremos o processo de montagem de um.

1.1 Ondas electromagnéticas


O ser humano é muito limitado naquilo que consegue ver ou mesmo sentir.
À parte de muitas outras coisas, de átomos, fotões, ou outras dimensões, não
nos apercebemos que à nossa volta estamos rodeados de radiação
electromagnética, provocada pelos astros estrelares, pelo aparelho de
televisão, pela lâmpada, pelo telemóvel, etc.

No século XIX, o trabalho de James Clerk Maxwell tornou-se crítico para a


revolução nesta área. Maxwell conseguiu unir as teorias de campo existentes
na altura, campo elétrico e campo magnético, formando a teoria clássica do
electromagnetismo.
Esta teoria tem por base um conjunto de quatro equações, designadas equações de
Maxwell.

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1.1 Lei de Gauss – 1º Equação de Maxwell
Em física, define-se o fluxo de uma superfície como a taxa a que a superfície é
atravessada por uma dada grandeza.
Segundo a lei de Gauss, o fluxo elétrico em qualquer superfície fechada com
carga q no seu interior é dado por:

Φe S. Fechada =4πκq (1)

A carga interior, q , é o somatório das cargas no interior da superfície e κ a


constante de Coulomb.
Se a carga total for positiva, então as linhas de campo apontam para fora da
superfície. Caso contrário, com carga negativa, as linhas de campo apontam para
dentro da superfície.
Cargas elétricas produzem campo elétrico. Assim, com o aumento da carga
aumenta a quantidade de linhas de campo elétrico – aumenta o fluxo.

1.1.2 Lei de Gauss (C.Magnético) – 2º Equação de Maxwell

Φm S. Fechada =0 (2)

Dado que na natureza só se verifica dipolos magnéticos e nunca monopolos


(e.g não existem cargas “magnéticas” positivas) concluiu-se que numa
superfície fechada o fluxo magnético é zero.

O que acontece é que todas as linhas de campo que saem do polo norte de um
material magnético tem obrigatoriamente de entrar no polo sul do mesmo material.
Assim o total de linhas de campo que entra é igual as que sai, dai que o fluxo seja
nulo.

1.1.3 Lei de Faraday – 3º Equação de Maxwell


Pela lei de Faraday, numa superfície condutora que seja atravessada por um fluxo
magnético variável, resultará uma corrente induzida. Essa relação pode ser escrita
como:
−dΦm
∮ E⋅
dr=
dt
(3)

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Este é a base de funcionamento das bobinas, que são fios enrolados à volta de um
eixo, formando um anel – quando o campo magnético que o atravessa varia, este
induz corrente nos fios seguindo a regra da mão direita ( o campo magnético
aponta na direcção do polegar e a corrente segue o sentido anti-horário apontado
pelos dedos).

1.2 Lei de Ampere (corrigida) – 4º Equação de Maxwell


A lei de Ampere original dita que campos magnéticos são gerados por campos
elétricos. No entanto, Maxwell descobriu que campos magnéticos também são
gerados por campos elétricos variáveis. Esta descoberta é essencial para a
compreensão das ondas electromagnéticas.
A fórmula da quarta equação traduz-se em:

∮ B⋅
dr =4πκmI (4)

Com mais esta fórmula, percebeu-se que para existir um campo elétrico
variável não é preciso existir uma carga a produzi-lo – basta existir um
campo magnético também variável e vice-versa.
Uma onda electromagnética tem assim dois campos, B e E perpendiculares um ao
outro. A propagação de uma onda faz-se com a alternância de campos.
Desta forma pode-se produzir uma onda electromagnética que é capaz de viajar no
espaço, onde não existem cargas, correntes ou de um meio condutor outro que o
vazio, desde que mantenha esta variação dupla.

No caso específico do vácuo, a fórmula (4) passa a:


km dΦm
∮ B⋅dr =4πκmI
k dt
(5)

A velocidade de uma onda no vácuo é igual ao valor da constante da luz e


obedece a formula

E
=c (6)

B

Este valor foi deduzido da constante existente na fórmula (5) pois Maxwell
notou que
km 1
= (7)
k c2

Na sua altura, Hippolyte Fizeau foi um dos muitos que mediu, com um grau
de precisão considerável, o valor da constante da luz. Assim chegou-se à

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incrível conclusão que a própria luz é uma onda electromagnética.
Noutros meios que não o vácuo, a velocidade de uma onda é dada por
c
v= (8)
k
onde k é a constante dielétrica do material. No ar, a velocidade é de
aproximadamente 299913 km/h.

Anos depois dos estudos de Maxwell, Henrich Hertz colocou à prova a teoria,
efectivamente gerando e detectando ondas.

1.2 Ondas Harmónicas


Certo tipo de ondas são periódicas e podem resultar de várias ondas sobrepostas.
Estas ondas, chamadas harmónicas, podem ser descritas por uma função seno ou
cosseno. Estas ondas são representadas em duas dimensões.
t
F t= A0 sin 2 π φ (9)
P

Este tipo de ondas é caracterizado pelos seguintes parâmetros


• Comprimento de onda , λ
◦ A distância entre dois máximos ou mínimos consecutivos
• Amplitude , A
◦ A máxima distorção que a onda atinge desde o seu valor médio
• Período, T
◦ O tempo que leva uma onda a repetir-se (passar pelo mesmo ponto
de amplitude )
• Frequência, ƒ
◦ O inverso do período , indica o número de vezes que a onda se repete
por unidade de tempo

A amplitude da onda está directamente relacionado com o conceito de energia.


Uma onda com elevada amplitude tem mais energia do que uma com menor
amplitude. Por sua vez, a amplitude é originada pelo campo elétrico variável da
onda.
Estas ondas também verificam sempre a relação
λf =c (10)

Assim, λ e f são inversamente proporcionais – aumentar a frequência implica


diminuir o comprimento de onda e vice-versa.
A luz, também ela uma onda, possui comprimentos de onda na ordem dos 400 a
780 nanómetro, sendo visível aos nossos olhos. Se as outras ondas que nos
rodeiam possuíssem comprimentos de onda nesta banda, como por exemplo as
ondas rádio, a nossa percepção física do mundo mudava totalmente.

1.3.1 Ondas Rádio


As ondas rádio são ondas que dado as suas características de propagação foram
adoptadas para a transferência de informação. A banda de rádio, ou seja os valores

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que as frequências desta gama tomam como mínimo e máximo estão
compreendidas entre os 530 kHz até os 75 GHz. Esta banda é subdividida em
intervalos de frequência menores, como LF (Low Frequency), HF (High
Frequency), etc.
Para cada uma destas frequências está associado um tipo de propagação diferente ;
logo as frequências são escolhidas tendo em conta vários factores – energia
disponível, fiabilidade da propagação a determinada distância,etc.

1.3.1 Ondas Rádio – protocolo AM


Para além dos intervalos referidos , associa-se também a um determinado
protocolo de transmissão um canal, que não é mais de que um novo alcance de
frequências. Assim, por exemplo, o protocolo X pode utilizar a primeira metade
do intervalo da banda HF e o protocolo Y usa a segunda metade.
O protocolo de transmissão AM utiliza como padrão o intervalo 530 – 1700 kHz,
e está incluído na banda MF (Medium Frequency).
Nesta banda a propagação é atingida pela forma de ondas de superfície durante o
dia. Este nome é auto-explicativo : as ondas propagam-se ao longo da superfície
terrestre, seguindo os contornos do terreno. No entanto, dado que a própria Terra é
um condutor (e outros materiais no terreno também), é normal que exista
transferência de energia da onda para a superfície, desta forma atenuando a
distância que esta consegue percorrer.
No entanto, durante a noite as ondas viajam pelo céu nocturno – durante a noite
certas camadas da ionosfera são muito pouco activas, em contraste com o dia, em
que facilmente absorve estes sinais impedindo a transmissão.

1.3.2 Ondas Rádio – banda FM


O protocolo de transmissão FM utiliza como padrão o intervalo 88 – 108 MHz, e
está incluído na banda VHF (Very High Frequency).
Nesta banda a propagação é atingida por duas formas : refracção pela ionosfera e
transmissão por linha de visão. O segundo é o fenómeno mais recorrente. Dado
que este tipo de frequência é menos sujeito a interferências (relativamente a AM)
e porque a distância de propagação está directamente relacionado com a altura da
sua antena transmissora, este protocolo de transmissão é na actualidade o mais
utilizada.

1.4 Modulação
A modulação não é mais que um processo em que usamos uma onda portadora
para “codificar” o nosso sinal.
A distâncias de poucos metros, ao falamos produzimos um sinal sonoro que se
propaga e é mais ou menos audível dependendo de quão alto falamos ( no caso do
som, a intensidade do som, ou seja a amplitude da onda que é medida em
decibels).
No entanto a distâncias maiores é necessário arranjar uma forma diferente de
enviar o sinal, e é aí que entra a modulação. Neste processo temos uma onda,
chamada portadora, em que lhe é modificada proporcionalmente os parâmetros da
amplitude, frequência ou fase, proporcionalmente à nossa onda de sinal. Um
processo ao contrário é feito do outro lado, no qual se gera o sinal original a partir
da onda recebida.

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1.4.1 Modulação AM
Uma das modulações possíveis é a modulação em amplitude. Neste caso,
variamos a nossa onda portadora em amplitude, correspondendo em cada instante
a mesma amplitude do sinal original.

O processo resume-se a, no fundo, somar dois sinais : o sinal de entrada e o da


portadora. Uma consequência desta soma, é que a onda modulada vai ocupar o
dobro da largura de banda, dado que para qualquer instante de tempo t em que
existe uma amplitude A positiva, existe uma amplitude A negativa, igual em
módulo.

Assim, com um sinal de entrada de amplitude máxima 1kHz e uma onda portadora
de 20MHz, iríamos ter uma onda que variava entre 19 a 21 MHz.

1.4.1 Modulação FM
Outra modulação, mais comum, é a modulação em frequência. Neste caso,
variamos a nossa onda portadora em frequência, dependendo da amplitude do
sinal de entrada.

Assim, a frequência da portadora diminui quando a amplitude do sinal de entrada


é positivo, e aumenta no contrário.

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Existe um parâmetro β que é importante termos em consideração para
perceber a variação máxima da frequência que a onda modulada pode ter.
df
β= (11)
fm

df é a variação máxima da onda modulada e fm é a frequência da onda de


sinal. O parâmetro β é definido como o índice máximo de modulação e este
pode variar de região (país para país).
Assim, para um β=6 , uma sinal de entrada com frequência na ordem dos 10
kHz e uma onda portadora de 100MHz vamos ter uma variação máxima df de
60kHz e o sinal modulado variará entre 99.4MHz e 100.6MHz.

2 Idealizando um emissor rádio

2.1 Constituintes principais


Habitualmente um emissor de rádio, seja ele AM ou FM é composto por três
estágios principais:
• Transformação do sinal sonoro em eléctrico
• Estágio de amplificação
• Estádio de emissão

No primeiro, usamos um microfone para converter o sinal sonoro num sinal de


corrente alternada. Contudo este sinal é na maior parte dos casos muito pequeno
daí que haja a necessidade de o amplificar em corrente e tensão.
O estádio de emissão é constituído por algum tipo de oscilador que é responsável
por gerar a onda portadora a uma determinada frequência.
No caso de transmissão AM, o oscilador é quase que um componente do circuito
que pode ser separada e junta no final, quando se somam as ondas. No caso de
transmissão FM já é diferente. Isto porque a forma de variar a frequência é
variando a corrente total no circuito – dependendo do sinal no microfone..

3 Transistores
Os transístores são pequenos componentes que estiveram na base da revolução
electrónica.
Estes componentes permitem, genericamente, produzir um ganho de tensão ou
corrente e ainda podem actuar como interruptores. O transistor é composto por
camadas de dois tipos de semicondutores – N e P. Podemos assim ter dois tipos de
transístores:
• NPN
• PNP

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Transistores são constituídos por 3 camadas seguidas de semicondutores NPN ou
PNP. Cria-se duas barreiras no centro destas que, à semelhança dos diodos, só
permite a passagem de corrente numa direcção, quando na base existe uma tensão
de pelo menos 0.7 V (transístores de silício) . A partir daqui, o transistor diz-se no
modo activo, e correntes que entram na base obrigam a um aumento de corrente a
entrar no colector. Quando a corrente que passa na base não faz aumentar mais a
corrente no colector o transístor diz-se saturado. Por último, o transistor não actua
quando a tensão entre colector-emissor for máxima ( igual à fonte) , fazendo com
com que a corrente no colector seja mínima.

A diferença de Ic/Ib define-se como o ganho do transistor (β) e habitualmente tem


um valor de 100.
Como queremos sempre ter um ganho de corrente constante, interessa-nos nunca
passar a linha horizontal mínima (cutoff). Também nos interessa nunca estar antes
dos pontos nas linhas que são lineares , pois as correntes na base fariam aumentar
muito pouco a corrente no colector.

Uma forma simples de perceber como o transistor funciona é analisar o seguinte


modelo :

O que acontece é que para o transistor ser activado, a corrente Ib tem que fluir
para dentro do transistor e tem de existir um diferença de potencial maior que 0.7
V entre base-emissor. Ao aumentar a corrente em Ib, a resistência no colector
diminui, permitindo a passagem de mais corrente. Esta corrente é proporcional à
base e é dada por
Ic= βIb (12)

Assim a corrente no emissor será


Ie= IcIb= IbβIb= Ib 1B (13)

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3.1 Transistor como switch
Um outro conceito fundamental ao discutir transistor é a polarização deste. Para o
transistor estar em modo activo tem que ter uma diferença de potencial maior que
0.7 V em base-emissor. Assim pode se aproveitar este requisito para produzirmos
um switch variável : a partir desta tensão o transístor liga-se, senão permanece
desligado.
Observe-se o seguinte circuito

Neste circuito um LED é aceso quando a tensão produzida pelo painel fotovoltaico
na base é maior que 0.7 V, ligando o transistor e permitindo a passagem de
corrente no LED.
Generalizando, os transístores são muito usados em conjunto com outros sensores
que produzam tensões mínimas, o suficiente para elevar a tensão do transístor até
o valor mínimo de activação, permitindo que o circuito se “ligue”.

3.2 Transistores como common-emitter amplifier


Como já foi referido, os transístores podem actuar como amplificadores não só de
corrente mas de tensão. Podemos aproveitar o ganho de corrente no colector para
produzir um ganho de tensão.

Chamamos a esta configuração de circuito common-emmiter amplifier pois o

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emissor é comum ao sinal de entrada e ao colector (embora não seja visível no
esquema).
O ganho de tensão nesta configuração é dada por:
Vout Ve
Av= ; Vout =Vcc−Rc⋅Ic ; Ic=Ie= (14)
Vin RE

Ve
Vout =Vcc− Rc. =Vcc−Ve.Av (15)
RE

Em que Av é o ganho de tensão. Quanto à tensão no emissor, Ve


Ve=Vb−0.7 (16)

A escolha das resistências é o que confere o ganho e esta escolha depende da


corrente máxima que pode passar no circuito. Assim
Vcc
= R cR e (17)
Imax

Exemplo:
Vcc = 3 V
Imax (colector) = 1 mA
Rt ~ 25mV / Imax = 25 ohm
3
−3
=3k (18)
1∗10

Se fizermos Rc=2k e Re=1k então Rc+Re=3k e o ganho de tensão será de


−2k
Av= =−1.95 (19)
1k25

O ganho de tensão Av não tem unidades por ser uma constante. No entanto
podemos fazer a conversão para decibels ( intensidade de ganho )
ADb=20 log Av (20)

Daí que o nosso ganho seja de ~5.8 Db.


A resistência interna do transistor é importante porque sem ela, poderíamos obter
ganhos de tensão infinitos ( fazendo Re~0 ) .
O facto de o ganho ser negativo não é um problema, devido a duas razões.
Primeiro, caso estejamos a trabalhar com sinais DC, para contrariar o sinal
negativo podemos ter um segundo amplificador com emissor comum, de forma a
termos um ganho total de (-Av x -Av) que é positivo.
Por outro lado, se estivermos a trabalhar com sinais AC, invertermos uma onda
em amplitude não é mais que aumentar a sua fase ( em relação à original ) por um
factor de 180 graus. Em termos práticos isto não se traduz em problema, dado que
apenas significa que o tratamento deste sinal vai ser mais lento , numa quantidade
de tempo mínima.
Relativamente ao ganho de corrente em Vout
Vcc Vcc
Iout= − Ic= − βIb (21)
Rc Rc

Na prática, como queremos exclusivamente ganho de tensão nesta configuração,


fazemos com que Ib tenha uma corrente muito elevada, produzindo um ganho de

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tensão maior – olhando para (21) percebemos que com ganhos de tensão maiores
temos ganhos de corrente muito pequenos.
Convém explorarmos melhor a fórmula (16) para perceber esta ideia:
Ve=Vin−0.7=Rb⋅Ib−0.7 (22)

Dado que Rb é constante, aumentando Ib produzimos uma maior tensão em Ve


que se traduz num aumento de corrente em Ic correspondendo a um ganho de
tensão maior em Vout.

O circuito representado acima não está, no entanto, totalmente correcto. O


objectivo de um amplificador é realizar o seu trabalho sempre, qualquer que seja o
sinal de entrada. Ora, se este sinal não colocar o transistor com uma diferença de
potencial maior que 0.7 V entre a base-emissor, o transistor não liga e não existe
amplificação. Mais, se tivermos uma onda sinusoidal em que o seu ponto médio se
encontra exactamente em 0.7, o transístor vai ligar e desligar à medida que a onda
aumenta e diminui a sua energia.
Para prevenir isso precisamos de implementar uma técnica chamada “Bias”, que
consiste em fornecer uma tensão na base de forma a que, independentemente do
sinal de entrada, o transístor se encontre sempre ligado.

3.2.2 Common emitter biasing


Uma forma fácil de entender este processo é utilizando um divisor de voltagem.

Utilizando este circuito é possível obter uma voltagem de saída (Vout) que seja
proporcional ao quociente das resistências.
R2
Vout = ⋅Vin (23)
R1 R2

Por exemplo, seja R1=R2 então


R1 1
Vout = ⋅Vin= ⋅Vin (24)
R1 R1 2

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Podemos aplicar esta técnica ao nosso circuito

R1 e R2 são escolhidos dependendo de Vcc e do sinal de entrada. Imaginemos que


Vin = 0.1V e Vcc = 1V. R1 e R2 tem de produzir uma tensão igual a 0.6 V.
Fazendo
150
Vout = ⋅1=0.6 V (25)
100150

Na verdade o que interessa não é o valor intrínseco das resistências, mas a sua
proporção. Se R1 fosse 1k e R2 fosse 1.5k a proporção seria a mesma e obteríamos
igualmente 0.6 V.
O nosso sinal de entrada Vin é 0.1 V e somando as tensões alcançávamos o valor
mínimo de 0.7 V necessários a ligar o transístor.

No caso de termos um sinal AC , que é o mais relevante para este trabalho, a


tensão que colocamos na base (Vp) tem de ser especificamente escolhida, para
manter o funcionamento do transistor como requerido.
Em alusão ao gráfico na página 7, Vp costuma ser escolhido sendo Vcc/2.
Utilizando este valor aproveitamos ao máximo os níveis de operação correcta do
transístor, mantendo o nosso sinal antes do cut-off e depois do ponto de saturação.
Por exemplo, seja Vcc=3.5 V e Vin uma onda de baixa frequência (<100 Hz) de
amplitude A=1 V centrada em y=0. Fazendo Vp=3.5/2=1.75 V, se considerarmos
a nossa onda de entrada, esta fará variar a tensão na base em ordem unitária: 1.75
V + 1 V e 1.75 – 1 V.
Assim a tensão na base nunca é menor que o mínimo (0.7 V) mas também nunca

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chega ao valor máximo de operação ( 3.5 V) e o transístor deve comporta-se
como esperado.

3.3 Transistores como common-collector amplifier


Nesta configuração conseguimos ter um elevado ganho de corrente à custa de não
existir ganho de tensão, fazendo o colector ser comum ao sinal e ao emissor.

Nesta configuração,
Ie= IbIc= IbβIb= Ib1 β (26)

Assim o ganho de corrente será


Gi=1 β (27)

Relativamente ao ganho de tensão Av


Vout
Av= ≈1 (28)
Vin

Este tipo de circuitos facilmente se constroem em cascata, produzindo ganhos de


corrente cada vez maiores:
n
Gi=1 β1 β ...=1β  (29)

Em que n é o número de transístores nesta configuração em cascata ( output de um


liga à base de outro).

4 Osciladores
O oscilador é uma das componentes críticas num emissor de rádio. Este sub-
circuito é o responsável por criar uma onda portadora e pode-se elaborá-lo
recorrendo a vários métodos.

4.1 Osciladores – Oscilador de Cristal


Os osciladores de cristal são pequenos dispositivos que, quando alimentados com
uma determinada tensão, produzem um output que não é mais que uma onda com
frequência igual à especificada pelo produtor, em que a tensão varia de Vin a 0.

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Dado o seu custo reduzido e fácil implementação é uma escolha bastante racional
para implementar em circuitos.

4.2 Osciladores – Oscilador de Colpitts


Aproveitando as características dos condensadores , dos indutores e do conceito de
indutância, é possível elaborar um circuito que gera uma frequência facilmente
variável pelos componentes referidos.

À medida que os condensadores carregam e descarregam, a corrente move-se


numa direcção e na oposta, sendo retardada pelo indutor que se opõe a estas
mudanças. O transístor no circuito serve para amplificar este sinal em corrente
através do emissor, fazendo com que no próximo ciclo a onda não perca energia
(não seja atenuada), permitindo uma oscilação contínua.
A frequência de ressonância dada por um circuito deste tipo, LRC, é dada por
1
f= (30)
2π  L.C 

Neste caso específico será


1
f=


2π  L.
C1.C2
C1C2

(31)

(C1 e C2 encontram-se em paralelo).

Parte II

5 Circuito a montar
Após bastante pesquisa decidi montar o circuito representado no diagrama em
baixo. Por ter poucos componentes, ser alimentado por uma fonte de apenas 3 V,
ocupar pouco espaço e ser modulado em frequência, pareceu ser uma boa escolha,
em conjunto com o seu nome: “FM Bug”.

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Um indutor e dois condensadores em paralelo geram um estágio de oscilação,
produzindo uma frequência de aproximadamente 90 MHz. Um microfone
amplifica um pequeno sinal sonoro ; este por sua vez é amplificado em tensão no
primeiro transistor e amplificado em corrente no segundo. O condensador de 22n
mais à esquerda serve para impedir a passagem da corrente contínua, devido ao
ponto de polarização. O condensador de 22n mais à direita serve como uma
pequena bateria para os sinais com uma frequência muito elevada : nestes casos as
reacções químicas da bateria são muito lentas e não conseguem produzir uma
corrente suficientemente rápida relativamente à que o circuito requer, daí que o
condensador forneça alguma dessa corrente.

5.1 Análise DC circuito


A primeira coisa a ter em conta num circuito onde existem correntes AC é que os
condensadores tem um comportamento especial. De facto, a reactância de um
condensador depende da frequência do sinal que passa neste.
1
Xc= (32)
2πfc

Para frequências altas a reactância é bastante pequena e para frequências muito


baixas a reactância é alta. Para uma frequência igual a zero, que corresponde a
uma corrente contínua, a reactância é infinita e é como se tivéssemos o circuito
aberto entre os pontos que o condensador liga.

Com o auxilio do maxima calculamos alguns dados no primeiro transistor, com


configuração de emissor comum. Espera-se um ganho de tensão.

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f1: (3-Vp)/10000=(101)*Ib;
f2: (Vp-0.7)/1*10^6 = Ib;
solve([f1,f2]);
%,numer;
(%o) [[Ib = 2.2772277227700224E-6, Vp = 0.70000000000228]]
Ic=100*Ib;
(%o) Ic = 2.2772277227700225E-4
Rt = (25*10^-3)/(Ic+Ib);
(%o) Rt = 108.6956521740207
Av= -10000/Rt,%;
(%o) Av = - 91.99999999990891
Adb = 20*(log(Av)/log(10));
(%o) = Adb = 8.685889638065035
Iout = 3/10000 – 100*Ib;
(%o) = Iout = 7.2277227722997725E-5

A diferença de potencial no ponto Vp é de 0.7 V, e é chamado o ponto de


polarização, pois fornece esta voltagem à base do transístor mantendo-o activo. O
ganho de tensão é de aproximadamente 8.7 Db.

Já o segundo transístor encontra-se na configuração de colector comum e espera-


se um ganho de corrente em Vout.

f3: 3 - Vb = Ib - 47000;
f4: Ie*470 = Vb – 0.7;
solve([f1,f2]);
(%o) [[Ib = 2.2772277227700224E-6, Vp = 0.70000000000228]]
Ie = Ib*101;
(%o) Ie = 2.2999999999977227E-4

Por último vamos calcular o valor do indutor no oscilador de Colpitts, usando


(31), assumindo por hipótese que a frequência é de facto 90MHz (como
documentado).

f: 1/(2*%pi*sqrt(L*((47*10^-12*5.6*10^-12)/(47*10^-12+5.6*10^-12))));
solve(f=90*10^6);

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(%o) [L = 6.2496414122474282E-7]

Inicialmente tinha calculado L utilizando uma ferramenta que tinha em conta o


tipo de fio, as distâncias entre as voltas no indutor e altura, como
aproximadamente 0.042 uH, um valor substancialmente diferente e que produz
variações enormes. De facto
f: 1/(2*%pi*sqrt(0.042*10^-6((47*10^-12*5.6*10^-12)/(47*10^-12+5.6*10^-
12))));
(%o) 3.4717257932484376E+8

Que é de uma forma simples, um valor quase 4x maior do que o pretendido.

5.2 Análise Simulacional


Uma das primeiras coisas que pretendia ter ao estudar este circuito era uma
simulação que representasse correctamente este circuito. Utilizando o simulador
disponível em http://www.falstad.com/circuit/index.html elaborei o seguinte
diagrama:

O primeiro problema é que o simulador não suporta frequências de grande ordem


de grandeza. Assim modifiquei os valores no oscilador para ter uma onda de baixa
frequência.
Na imagem em cima a fonte de sinal encontra-se desligada. No entanto, ao ligá-la
não produz o resultado esperado:

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As variações abrutas no gráfico direito corresponde a ter aberto/desligado o
interruptor.
Parece óbvio que não temos uma simulação correcta, pois a onda varia em
amplitude e em frequência.

Outra simulação foi feita utilizando o QUCS mas não foi bem sucedida.

Para além de ter valores muito estranhos para as voltagens ( nomeadamente


voltagem que sai da fonte), o mesmo se passa em relação as frequências. O gráfico
da esquerda é a simulação para o intervalo 1-20 MHz e o da direita 1-200 Mhz.

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5.3 Montagem do circuito

O primeiro teste feito e também o mais ambicioso foi verificar se conseguia


receber algum sinal a partir do emissor, usando um rádio comum. Não se verificou
e procedeu-se a um extenso debugging do circuito.

Problema Resolução Resultado

Circuito alimentado Substituído por 2x pilhas de 1.5 ; foi experimentado usando O circuito continuou a não funcionar
por 2x pilhas de uma fonte de tensão no laboratório correctamente.
1.25 cada.

Montagem do Circuito foi montado numa placa PCB. O circuito continuou a não funcionar
circuito numa correctamente.
breadboard

Análise do circuito Verificação do funcionamento dos transístores recorrendo a O circuito continuou a não funcionar
com o osciloscópio. um multímetro. correctamente.
É visível uma onda
Verificação da montagem do circuito e respectivas soldas
estranha em vez de
uma frequência
bem definida, no
estágio de
oscilação.

O indutor feito à Ver em baixo, medição da indutância de um indutor. Chegou-se à conclusão que este pode
mão pode ter um ser o maior problema do circuito
valor de indutância
que não
corresponde ao
pretendido

-19/26-
5.3.2 Medição do valor da indutância de uma bobina
Para esta tarefa montamos o seguinte circuito.

Tendo em mente que a diferença de fase entre as ondas é dada por


ωL
dθ =arctg   (33)
R

Tiramos os seguintes valores para a diferença de tempo Δt entre dois máximos de


onda:
Δt = 88 ns
com uma frequência de
f = 2.119 Mhz
então
2π⋅f ⋅L
tan 2πfΔdt = (34)
R

Assim L= 0.1951 nH
Se fossemos a usar este indutor no nosso circuito, iríamos gerar uma frequência de
aproximadamente 5.1 E+9, que é um valor astronomicamente alto.
Assim podemos concluir que a utilização destes indutores para este tipo de
circuitos é muito precoce, pois não se consegue obter valores próximos usando
indutores diferentes. Se haviam dúvidas sobre o nosso indutor principal, estas
foram aumentadas : repare-se que mesmo este valor está muito longe daquele que
foi medido usando outros processos de medição ( 0.042 uH) .

6 Próximos passos no projecto


A prioridade é fazer com que o circuito funcione, nomeadamente transmitindo a
uma frequência de aproximadamente 90 a 100 MHz, correctamente modelando o
sinal do microfone.
O principal será fazer uma mudança de indutor / condensadores , para poder usar
uma bobina de fábrica, eliminando os problemas da actual.
Posteriormente, pretende-se adicionar mais um módulo ao circuito : introdução de
um sinal no circuito que seja proveniente de outra fonte – nomeadamente um sub-
circuito que gere um sinal para poder “imitar” uma transmissão em código morse.

7 Auxilares e referências

7.1 Rádio

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Rádio AM (530–1700 kHz)
• Rádio de ondas curtas (5.9–26.1 MHz)
• Banda do cidadão (27 MHz)
• TV canais 2–6 (54–88 MHz)
• Rádio FM (88–108 MHz)
• Rádio para Controle de tráfego aéreo (108–136 MHz)
• TV canais 7–13 (174–216 MHz)
• Banda L (1452–1492 MHz) para rádio digital (DAB)
• Banda C (3.9 a 6.4 GHz) usado para comunicação via satélite
• Rádio amador
• Bandas para uso militar
• Banda X 8–10 GHz
• Banda S 1750–2400 MHz
• Banda K (20–40 GHz), que é subdividida em:
• Banda Ka: K-above band, 27–40 GHz, usada para radar e
comunicação geral.
• Banda Ku: K-under band, 12–18 GHz, usada para comunicação via
satélite.
• Radionavegação radiofarol, tais como LORAN e GPS
• Banda V (50–75 GHz)

Retirado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Banda_%28r%C3%A1dio%29

-21/26-
Retirado de http://en.wikipedia.org/wiki/Radio_spectrum

7.2 Referências
http://qucs.sourceforge.net/docs/spicetoqucs.pdf
http://iut.geii.montp2.free.fr/telechargement/libre/Logiciels/qucs/workbook.pdf
http://www.mos-ak.org/eindhoven/papers/06_Qucs_MOS-AK_Eindhoven.pdf
http://en.wikipedia.org/wiki/Capacitive_coupling
http://en.wikipedia.org/wiki/Common_collector
http://www.wisc-online.com/objects/ViewObject.aspx?ID=SSE1602
http://en.wikipedia.org/wiki/Capacitor
http://en.wikipedia.org/wiki/LC_oscillator
http://en.wikipedia.org/wiki/Colpitts_oscillator
http://www.falstad.com/circuit/e-lrc.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Inductor
http://www.falstad.com/circuit/e-colpitts.html
http://www.electronics-tutorials.com/oscillators/oscillator-basics.htm
http://www.zen22142.zen.co.uk/Analysis/colfr.htm
http://sci-toys.com/scitoys/scitoys/radio/am_transmitter.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Crystal_oscillator
http://www.electronics-tutorials.ws/oscillator/crystal.html
http://www.allaboutcircuits.com/vol_3/chpt_4/6.html
http://www.technology2skill.com/electronics/common_collector_amplifier.html
http://hyperphysics.phy-astr.gsu.edu/hbase/electronic/emitfol.html
http://fourier.eng.hmc.edu/e84/lectures/ch4/node9.html
http://www.bcae1.com/transres.htm
http://www.bowdenshobbycircuits.info/r2.htm
http://en.wikipedia.org/wiki/Voltage_divider
http://www.colorado.edu/physics/phys3330/PDF/Experiment7.pdf
http://www.ecircuitcenter.com/circuits/trce/trce.htm
http://www.electronics-tutorials.ws/amplifier/amp_2.html
http://www.innovatia.com/Design_Center/Amplifier_Circuits.htm
http://www.allaboutcircuits.com/vol_3/chpt_4/4.html
http://www.allaboutcircuits.com/vol_3/chpt_4/12.html
http://www.massmind.org/images/www/hobby_elec/e_dance26.htm
http://hyperphysics.phy-astr.gsu.edu/hbase/electronic/npncc.html#c5
http://www.allaboutcircuits.com/vol_3/chpt_4/10.html
http://www.allaboutcircuits.com/vol_3/chpt_4/5.html
http://www.allaboutcircuits.com/vol_3/chpt_4/6.html
http://www.allaboutcircuits.com/vol_3/chpt_4/11.html
http://webpages.ursinus.edu/lriley/ref/circuits/node4.html
http://hyperphysics.phy-astr.gsu.edu/hbase/electronic/tranimped.html#c1
http://hyperphysics.phy-astr.gsu.edu/hbase/electronic/npnce.html#c3
http://en.wikipedia.org/wiki/Electrical_impedance
http://www.electronics-tutorials.ws/amplifier/amp_2.html

-22/26-
http://www.electronics-tutorials.ws/transistor/tran_1.html
http://www.kpsec.freeuk.com/trancirc.htm
http://en.wikipedia.org/wiki/Bipolar_junction_transistor
http://www.ngsir.netfirms.com/englishhtm/Amplifier.htm

7.3 Agradecimentos
Ao professor João Carvalho, pela inesgotável paciência, dedicação,
disponibilidade e contínuo suporte.
Ao professor Jaime Villate, pelo imenso apoio para perceber as matérias, prestado
dentro e fora das aulas.

7.4 Autor
Miguel Regala , 2ºano MIEIC
ei09128@fe.up.pt
mikfisher64@gmail.com

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