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Outline of a concrete music theory

Pierre Shaeffer

O texto inicia-se definindo 21 termos que serão utilizados ao longo de seu desenvolvimento.
São eles:

1 – Extrato: qualquer ação que produza um som que possa ser gravado em disco, fita e etc.
Pode ser uma gravação “ao vivo”, ou um gravação produzida de gravações pré-existentes.

2 – Classificação material dos objetos sonoros: os objetos podem ser classificados


materialmente como:

Amostra – excerto de qualquer duração sem centro de interesse definido

Fragmento – trecho de alguns segundos com centro de interesse claro

Elementos – resultado da quebra de um fragmento, que gera componentes do som, como


ataque, decaimento, parte do corpo de uma nota completa.

3 – Classificação musical de objetos sonoros: possuem centro de interesse definido no tempo,


e faz juízo de valores do conteúdo, que pode ser simples ou complexo.

Monofonia – Dissolução de dois sons concomitantes, que só o ouvido pode fazer. “Numa
superposição de sons, a monofonia é equivalente a uma melodia distinguida pelo ouvido num
conjunto polifônico”.

Grupo – Monofonia estudada em suas repetições e/ou desenvolvimento interno.

Célula – formação sem repetição ou desenvolvimento. São complexos densos que se


desenvolvem rapidamente em ritmo, timbre e tessitura.

Nota complexa – elemento na monofonia que possui claros início, continuação e terminação.

- “Large note” – uma nota complexa que desenvolve suas características de ataque, duração e
decaimento. Se desenvolver-se demais, torna-se um Grupo, e será possível analisar seu
desenvolvimento no ritmo, timbre e tessitura.

A estrutura de um objeto sonoro pode ser manipulada por meio de:

Transmutação – manipulação que afeta a matéria da estrutura sem alterar sua forma.

Transformação – qualquer manipulação que mude a forma de uma estrutura em vez de sua
matéria

Modulação – manipulação nos parâmetros de estrutura (tessitura, dinâmica, timbre).

O som pode dividir-se nos planos:


Melódico ou plano das tessituras, em que desenvolve-se o parâmetro das alturas; Plano da
dinâmica ou plano formal, em que existe o desenvolvimento da intensidade; Plano harmônico
ou timbrístico, que é o que define o desenvolvimento do espectro sonoro. É a relação entre os
parâmetros de intensidade e altura.

Para a performance, são exigidos os procedimentos de:

Preparação – uso de instrumentos, clássicos ou não, manipulados de forma padrão ou não,


como fonte sonora.

Montagem – montagem de sons por justaposição, ou colando fragmentos de fitas ponta a


ponta.

Mixagem – processo de sobreposição de montagens, e gravação do resultado, para criar


sobreposições polifônicas.

- Música espacial – música que se preocupa com a localização do objeto sonoro quando o som
está sendo projetado. Existem dois tipo de espacialização na música espacial, a espacialização
estática, e a espacialização cinemática

II – Review of acoustic concepts: the three dimensions of sound

Um sinal sonoro pode ser reduzido a uma combinação de sons elementares, chamados sons
puros, que são definidos por sua amplitude e frequência. O ouvido, porém, não é sensível a
estes sons, mas consegue identificar seus logarítimos. O logaritmo da freqüência será
denominado como altura do som puro, e será medido em oitavas. O logaritmo da amplitude
será denominado de nível (intensidade?), e será medido em decibéis. Além destes dois
parâmetros, o som sinusoidal puro também será definido por sua duração, visto que “nenhum
sinal sonoro é ilimitado”. Estes três logaritmos formam o que se denomina três parâmetros do
som.

Graficamente, a relação entre cada um desses parâmetros possui resultantes que,


combinadas, formam uma nota complexa. A relação entre a duração e a intensidade resultará
na formação da “forma do som” (altura, sustentação e decaimento), chamado “plano da
dinâmica”. A relação entre a duração e a altura resultará no “plano da tessitura ou plano
melódico”, em que é visível a evolução da tessitura no tempo. E por fim, a relação entre a
altura e a intensidade resulta no “plano harmônico”, onde ocorre a formação do espectro
sonoro.

Em seguida, é feita uma comparação entre o som produzido por uma nota de piano e o silvo
de vapor. A nota produzida pelo piano possui um desenvolvimento claro, desde seu início até
seu decaimento, a duração de sua freqüência possui uma proporção perceptível, e sua
dinâmica varia no tempo: possui ataque rápido, desenvolvimento, e decaimento lento. Já o
silve de vapor possui mais componentes envolvidos, e não possui ordem de distribuição destes
componentes, sendo classificado como “ruído branco”.

III
O som puro não existe. Ele está sempre recheado de coiassa tipo os harmônicos que fazem ele
parecer o som que ouvimos. Um som musical é chamado assim quando predomina nele o que
chamamos de fundamental. Porém, o som de uma nota de piano, por exemplo, é bem mais
complexo. Possui uma série de harmônicos, e ainda possui uma série de ruídos característicos,
que são ignorados pelos ouvinte e denominados inerentes do timbre de cada instrumento.
Essa concepção reduz o som aos três parâmentros emprestados da acústica (altura,
intensidade, timbre), quando na realidade deveríamos usar os chamados “planos de
referência”, que, graficamente, farão o estudo do desenvolvimento da nota no tempo, e sua
relação com as outras notas que se seguem.

Não existem sons puros, pois cada som possui, não apenas harmônicos, mas também uma
série de “ruidos”, que são considerados características da composição sonora de instrumentos
musicais tradicionais. Esta generalização de sons em instrumentos é cômoda, pois agrupa-os
em famílias, e impede que sejam analisados individualmente. Vista a complexidade de um som
“musical”, utilizar apenas os 3 conceitos básicos do som, emprestados da acústica (altura,
intensidade e duração) seria útil apenas pela praticidade, no caso de uma análise que não
envolve apenas o estudo de cada nota, individualmente, mas da evolução melódica em
questão. Para o estudo de uma nota individual, é mais cabível utilizar o que é denominado
“planos de referência”, de ordem gráfica, que enfatizam o desenvolvimento da nota dentro
dela mesma, e até mesmo com relação a nota que vai procedê-la. Com isso, os três números
que representavam “os valores” de uma nota musical, simples e puramente aritmética, são
substituídos por uma representação gráfica e tridimensional.

Partindo desta projeção, formam-se proporções geométricas entre a intensidade e altura, que
formarão o plano harmônico; intensidade e tempo, que formarão o plano das dinâmicas;
altura e tempo, que formarão o plano das tessituras.

O plano da dinâmica (intensidade x tempo), a curva no gráfico é denominada forma do som. A


nota, se isolada, pode ser dividida em ataque, sustentação e decaimento.

Existem 3 tipos de ataque: “plucked”, em que uma corda é retirada do repouso, e


abruptamente solta, criando um som que surge com seu nível de intensidade mais alto;
percussivo, em que uma corda é atingida e começa a vibrar após o tempo em que o impulso
dado pelo corpo que a atingiu se espalhar por toda a extensão da corda; “aeolian attack”, a
corda vibra sem discontinuidade. Ale´m destes ataques, encontrados em instrumentos
musicais tradicionais, a música concreta consegue criar uma série de ataques artificiais, e ainda
dissociar as características de ataque e timbre de sins familiares.

Sobre o corpo, sustentação da nota, a física dos instrumentos tradicionais limita suas
possibilidades, em comparação às possibilidades que a música concreta consegue criar. A
característica mais simples consiste na intensidade contínua do som, horizontal e indefinida.
Ainda sim, isso só é possível com oscilador de laboratório, pois a continuidade indefinida do
som é alterada pela natureza do intérprete (respiração inconstante, tremor nas mãos, uso de
vibrato, que é tomado como natural para o ouvinte). A característica mais aparente consiste
no corpo possuir intesidade definida, grafada tradicionalmente pelo compositor nas siglas p,
MP, f, etc.
A música concreta, entretanto, pode ampliar ou reduzir tais caracaterísticas, e recriar
diferentes tipos de sustentação, como os “pulsed sounds”, em que é feita uma elevação brusca
na dinâmica a partir de um ponto mínimo no meio do corpo de uma nota; som crenelado, um
processo em que se constrói uma sequência de ressonâncias independentes, que podem
derivar outras várias combinações de sequências; som ressonante, que possui uma única
elevação de intensidade no meio do corpo da nota; som friccionado (rubbed), que
corresponde a um arco friccionando uma corda.

No decaimento de uma nota, é fácil determinar o momento em que o som se perde em seu
ruído de fundo, porém é complexo determinar o início de seu decaimento, que é facilmente
confundido com o corpo da nota. A nota entra em período de decaimento a partir do
momento em que não há mais energia sendo fornecida para o corpo vibrante, e, portanto, a
nota não é mais sustentada. A energia da nota dissipa-se por meio de radiações de ondas
sonoras. Por causa disso, mesmo depois da fonte sonora para de vibrar, a nota pode ter seu
som irradiado pela sala de concerto, que vai prolongá-la por tempo indeterminado (esse
fenômeno é chamado de reverberação). Neste caso, o decaimento do instrumento é
substituído pelo decaimento da sala de concerto.

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