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Setembro/Outubro2018
ISSN: 1645-443X - Depósito Legal: 86929/95
P r a ç a1645-443X
ISSN: D . A f o n s o- V , n º 8 6 , Legal:
Depósito 4 1 5 0- 086929/95
24 P o r t o - P O R TU G A L
Praça D. Afonso V, nº 86, 4150-024 Porto - PORTUGAL
3º CONGRESSO MUNDIAL DAS FRATERNIDADES LEIGAS
DOMINICANAS — FÁTIMA, OUTUBRO DE 2018
LAICADO DOMINICANO
Caros amigos e irmãos em Domingos:
Pediu-me a Cristina que escrevesse um
pequeno artigo para o “Laicado” refletindo
sobre o Congresso do laicado dominicano
que aconteceu, como sabeis do dia 3 a 10
de Outubro em Fátima. Faço-o com muito
gosto!
Queria começar por agradecer aos leigos
dominicanos portugueses todos os esforços
que fizeram para o bom sucesso do
congresso. O vosso conselho provincial foi
inexcedível em esforço, dinamismo e
presença neste grande momento na história
do Laicado Dominicano. Um grande e
fraterno bem-haja pelo vosso
empenhamento.
Como sabeis este foi o terceiro
congresso: o primeiro aconteceu em
Montreal no Canadá em 1985, dele nasce a
Regra que atualmente tendes como
referencia da vossa vida laical; o segundo
foi em Pilar, Argentina, em 2007 e agora o
de Fátima em 2018. Como sabeis, foi
decidido na Argentina celebrar um
Congresso cada dez anos, mas 2017 foi
marcado pela clausura do Jubileu da
Ordem com o Congresso sobre a missão da
Ordem em Roma, pareceu ao Conselho
Internacional que nesse ano não se deveria
impor mais um evento pelo qual se
transferiu para 2018.
Antes de mais o Congresso foi uma
ocasião fabulosa de encontro: mais de 130
Ano XLIX- nº 393
pessoas de 40 países oferece-nos a
possibilidade de experienciar algo da
universalidade da Ordem. Vinham de
muitos sítios, carregando histórias por vezes
bastante sofridas como as que se vivem
atualmente na Venezuela ou na parte
anglofona dos Camarões, histórias que nos
falam de situações trágicas de irmãos e
irmãs que reclamam a nossa solidariedade
e oração.
O Congresso tinha um tema: Justiça e
Paz e cuidado da criação. Era importante
sensibilizar o Laicado para a centralidade
deste tema na missão da Ordem. Os
conferencistas foram inexcedíveis na
apresentação do tema. No site do Laicado
podeis encontrar os textos das
Conferencias.
Trabalhou-se por Comissões: Regra e
Estatutos, Formação, Pregação e Oração,
Comunicação e Finanças, Justiça e Paz,
Relações com a Igreja e a Família
Dominicana, Promotores. Cada comissão
deveria apresentar propostas concretas a
apresentar à Assembleia para serem
votadas. Temos mais de 70 propostas já na
mão do Mestre da Ordem para serem
refletidas e aprovadas, para, depois da
promulgação entrarem em vigor. Vamos ter
modificações nas Declarações do Mestre da
Ordem, que formarão um único corpo, e
pequenas modificações na Regra.
(continua na pág.3)

O QUE É UM CONGRESSO MUNDIAL DAS FRATERNIDADES?
O Congresso das Fraternidades que decorreu
em Fátima de 4 a 10 de Outubro foi apenas o ter-
ceiro do seu género. Mas porque existem Congres-
sos internacionais?
Como é que tal funciona?
Enquadramento:
Em consequência do Concílio Vaticano II e de
todas as mudanças operadas na Igreja, também a
Ordem Dominicana entendeu que era necessário
proceder a alterações nas suas instituições, nomeada-
mente na vida e Regra dos leigos pertencentes à en-
tão Ordem Terceira de São Domingos. O Mestre
Geral Aniceto Fernandes publicou em 1964 uma
nova Regra de Vida dos leigos dominicanos, a qual
visava actualizar a Regra de 1923 e adaptá-la aos no-
vos tempos. Entendeu no entanto o Capítulo Geral
dos frades que tal Regra era ainda demasiado clerical
e pouco laical, não espelhando o espírito das mu-
danças produzidas pelo Vaticano II e produziu uma
nova Regra em 1968 sendo a mesma aceite a título
provisório pela Santa Sé em 1972. Finalmente, em
1983 o Capítulo Geral encarregou o Mestre Geral
Damian Byrne de organizar um Congresso Internaci-
onal das Fraternidades para adaptar e renovar a Re-
gra das Fraternidades Leigas. O que veio a suceder
com o I Congresso Internacional das Fraternidades,
realizado em Montreal, Canadá, em 1985 do qual
resultou a elaboração e aprovação da actual Regra.
Em 2002 o Mestre Carloz Azpiroz deu posse ao
ICLDF - Conselho Internacional das Fraternidades
Leigas Dominicanas, composto por 5 elementos,
cada um representando um dos continentes. Alguns
membros (Europa, América do Norte e América do
Sul) eram representantes eleitos pelos seus Conse-
Laicado Dominicano Setembro/Outubro2018
lhos continentais. Ásia-Pacífico e África, então ainda
em processo de formação dos conselhos regio-
nais, foram os seus delegados indicados directamen-
te pelo Mestre. Esse Conselho Internacional enten-
deu que passados quase 20 anos de aplicação da Re-
gra era tempo de fazer um novo Congresso Interna-
cional das Fraternidades, para análise e eventual revi-
são da Regra bem como para outras propostas que
dissessem respeito às Fraternidades a nível mundial.
Tal Congresso veio a realizar-se na Argentina no ano
de 2007. Nesse Congresso foram aprovados os Esta-
tutos do ICLDF bem como uma série de propostas
sobre a Regra, propostas essas que vieram a ser legis-
ladas por intermédio das Declarações Gerais que Fr.
Carlos Aspiroz publicou no mesmo ano.
Dos Estatutos do ICLDF consta que a cada 10 anos
deve ser realizada uma Assembleia/Congresso Inter-
nacional com representantes de todas as Províncias/
Vicariatos, da Ordem. Em virtude das comemora-
ções dos 800 anos da Ordem durante os anos de
2016/2017, foi necessário adiar o mesmo por um
ano, vindo a realizar-se o III Congresso Mundial nes-
te Outubro, em Fátima.
E de que constou o Congresso?
Em primeiro lugar são convocadas todas as Pro-
víncias e Vicariatos e designar dois representantes,
sendo que um deles deverá ser preferencialmente o/
a presidente Provincial. É ainda convidado um dele-
gado por cada país naqueles vicariatos/províncias
que incluam mais do que um país. Foi ainda convi-
dado o Mestre Geral Fr. Bruno Cadoré, que, num
gesto muito significativo, não apenas interrompeu a
sua presença no Sínodo dos Bispos por forma a estar
presente durante dois dias, mas igualmente fez ques-
tão de enviar a este Congresso 10 dos seus /sócios/
Assistentes (Promotor para a Vida Apostólica, Vigá-
rio Geral, Promotor das Comunicações, Promotor
de Justiça e Paz, Promotor do Laicado; Sócio para a
Vida Fraterna e Formação; Sócio para a Europa
Central e Oriental, Sócio para a África, Sócio para
América Latina e Caribe, Sócio para Ásia/Pacífico,
Sócio para a Península Ibérica, Itália e Malta), parti-
cipando igualmente a Promotora das DSI para a Jus-
tiça e Paz e o Coordenador do IDYM, os quais esti-
veram quase todo o tempo e nele intervieram e parti-
ciparam.
(continua na pág.3)
2

(continuação da pág.2)
O Congresso tem como objectivos/funções: Estu-
dar e apresentar propostas ao ICLDF; Propor, discu-
tir e aprovar alterações à Regra das Fraternidades;
Aprovar alterações aos Estatutos do ICLDF; Apresen-
tar propostas ao Mestre Geral da Ordem; Propor e
aprovar meios financeiros para o trabalho do ICLDF;
No Congresso que agora terminou foram criadas 6
Comissões de Trabalho: Regra e Estatutos; Formação;
Família Dominicana e Igreja, Comunicações e Finan-
ças; Oração e Pregação; Promotores.
Os delegados distribuíram-se pelas várias Comis-
sões onde, a partir de várias temas/propostas, debate-
ram e apresentaram diversas propostas/deliberações/
recomendações, as quais foram votadas e aprovadas
pelos membros das Comissões de forma a serem apre-
sentadas a Plenário. Cada Comissão tinha alguns
pontos prévios para discussão, sendo que membros
eram convidados a pronunciar-se/reflectir sobre os
mesmos com vista a apresentação de propostas con-
cretas. Cada grupo elegeu o seu Secretário que ficava
responsável pela redacção final das propostas e pela
sua apresentação/defesa em sessão plenária.
O Mestre Geral esteve por algum tempo em cada uma
das Comissões, as quais integravam ainda vários
(continuação da pág.1)
Sublinharia alguns pontos importantes:
As propostas estão já nas mãos do Mestre da
Ordem, vão ser analisadas no próximo Conselho
Geral e serão promulgadas nas três línguas oficiais da
Ordem: francês, inglês e espanhol. A tradução já está
a ser preparada. As modificações à Regra serão
sujeitas à apreciação da Congregação para a Vida
Consagrada antes poderem entrar em vigor. Este
processo poderá ser um pouco mais moroso.
Ficam-me na memória do coração os belos
momentos celebrativos, a experiência do diálogo e da
discussão, ainda que por vezes tensa, mas este é o
modo de viver dos dominicanos: a fraternidade exige
discussão ainda que, por vezes, acalorada.
Foi muito reconfortante e estimulante o interesse
da Ordem por este Congresso. O Mestre da Ordem
que estava presente no Sínodo dos Bispos, como um
dos representantes dos Superiores Gerais, não se
esquivou a estar dois dias no Congresso. A Cúria
esteve amplamente representada pelo Vigário do
Mestre da Ordem e pelos Sócios do Mestre da Ordem
3
Laicado Dominicano Setembro/Outubro2018
membros da Cúria/Assistentes do Mestre Geral que
igualmente participaram no Congresso. Nas Sessões
plenárias o Secretário de cada Comissão apresentou
cada uma das propostas, as quais foram discutidas,
emendadas, revistas e finalmente votadas por todos os
delegados com direito a voto.
Ao todo foram aprovadas 64 propostas/
recomendações/declarações. Nas sessões plenárias,
embora apenas os delegados pudessem votar, qual-
quer membro presente podia intervir, incluindo con-
vidados, promotores, membros da Cúria ou membros
da organização.
Cada dia do Congresso iniciou-se com o pequeno-
almoço seguido de Laudes/Eucaristia e consoante o
programa, Sessões de Trabalho ou de Plenário.
As Actas finais do Congressos serão agora redigi-
das pelo ICLDF, traduzidas nas 3 línguas oficiais da
Ordem (inglês/francês e espanhol) e remetidas ao
Mestre Geral que as promulgará.
Gabriel Silva o.p.
(representante europeu no conselho mundial das
fraternidades leigas dominicanas, ICLDF)
Documentos do Congresso em: www.fraternitiesop.com
para as diversas regiões, para a formação e para a vida
apostólica e ainda pelo Promotor de Justiça e Paz. O
laicado pode fazer a experiência de quanto a Ordem
olha com interesse e cuidado para o Laicado
Dominicano.
Creio que foi um grande momento, reitero o
agradecimento aos leigos dominicanos da minha
Província por toda a fraterna ajuda.
Frei Rui Carlos Lopes,o.p.
Promotor Mundial do Laicado Dominicano

OS PORTUGUESES NO CONGRESSO
Foi em Fátima, lugar de encontro, de paz e de ora-
ção, que decorreu este nosso terceiro congresso inter-
nacional. No dia 3 de Outubro foi a chegada da maio-
ria dos delegados e participantes ao hotel Steyler, Di-
vino Verbo, que nos acolheu com primor até ao dia
11 de Outubro, dia da nossa partida.
Cerca de duzentas pessoas representavam quarenta
países. Apesar de lugares e culturas tão diferentes nas
suas realidades, estávamos unidos no mesmo propósi-
to: servir!
Foi para mim um grande privilégio e honra poder
participar como leiga dominicana da Fraternidade de
Macedo de Cavaleiros, e, juntamente com a extraordi-
nária Presidente Provincial, Cristina Busto, represen-
tar a Província Portuguesa.
A presença contínua e gratificante do nosso queri-
do Frei Rui, Promotor Mundial do Laicado Domini-
cano, foi uma vantagem exclusiva concedida a todos
os delegados e participantes.
Quanto à Irmã Celina e à Irmã Conceição levo-as
Obrigado ao Nosso Pai do Céu.
Obrigado ao Nosso Pai São Domingos.
Obrigado a Santa Catarina de Sena.
Laicado Dominicano Setembro/Outubro2018
no meu coração. Tão atentas como discretas ao servi-
ço. Um verdadeiro exemplo!
Foi igualmente excepcional toda a equipa de aco-
lhimento que, incansavelmente, resolveu tudo a to-
dos.
O ponto alto deste Congresso foi, sem dúvida, a
presença significativa do Mestre Geral, Frei Bruno
Cadoré, que fez questão de ajudar na realização dos
trabalhos em todas as comissões.
Somos cristãos leigos e leigas congregados ao povo
de Deus, pelo carisma de São Domingos, e constituí-
dos num só corpo de Cristo, que participamos da
missão salvífica da Igreja. Estamos aptos para
"modificar pela força do Evangelho, os critérios de
julgar, os valores que contam, os centros de interesse,
as linhas de pensamento, as forças inspiradoras e os
modelos de vida da humanidade, que se apresentem
em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio
da salvação." (EN, n.19).
Assim, a Ordem dos Pregadores confiou-nos res-
ponsabilidades escutando os nossos apelos, reconhe-
cendo-nos em situações reais, para juntos partilhar-
mos a esperança da acção evangelizadora mais actuali-
zada aos dias de hoje.
Sob o olhar fraterno de São Domingos e expressan-
do sempre a comunhão, seremos capazes de manter
viva a nossa vocação dominicana: LOUVAR, BENDI-
ZER, PREGAR!
Bem-haja a Família Dominicana!
Um abraço em São Domingos,
Mariana Cardoso,o.p.
Fraternidade de Macedo de Cavaleiros
(delegada da Província portuguesa no Congresso)
Porque nos deram a coragem de aceitar.
Obrigado á Assembleia Mundial das Fraternidades
Leigas de São Domingos por nos terem acolhido com
tanto carinho, com tanta fraternidade, e até nos arris-
camos a dizer, com tanto amor e paciência.
Foi uma experiencia que nunca imaginámos de
sermos dignos de a viver.
Chegar, começar a ter contacto com os nossos que-
ridos irmãos apesar das diferenças da língua, sermos
acolhidos por todos com um sorriso, sentimos verda-
deiramente o que era uma Família.
Na verdade a música é universal, e o Gabriel pro-
porcionou-me esta única experiencia de sentir e viver
a música litúrgica dos outros países, de cantar, tocar
(mesmo com o orgãozito que desenrascou muito bem)
(continua na pág.seguinte)
4

(continuação da pág-4)
e viver com os meus irmãos sem dominar a língua
uma verdadeira musica universal que é a música do
amor, da partilha, da entreajuda mutua com o nosso
Frei Filipino, director do coro. Foi uma honra para
nós termos conhecido, ouvido e cumprimentado o
nosso Mestre Geral, Frei Bruno Cadoré, op.
Um verdadeiro encontro com a família dos frades,
das monjas, por todos fomos acarinhados.
Os nossos dias foram de verdadeira amizade frater-
Agradeço a oportunidade que me foi concedida de
participar no Congresso.
O meu contributo foi mínimo, comparado com o
empenho e contributo que os responsáveis, de modo
especial o Frei Rui Carlos e as pessoas que fazem parte
do Conselho Mundial, os Conferencistas e todas as
pessoas que trabalharam para que tudo decorresse de
forma ordeira.
Foi um acontecimento que nunca vou esquecer, o
ambiente vivido nestes dias pelos participantes é algo
que me marcou pela positiva. Sendo um mesclado de
culturas, raças e estratos sociais, o ambiente foi fantás-
tico.
Não acompanhei todas as conferências, mas as que
escutei, na minha opinião abordaram temas muito
actuais contextualizando os problemas e situações so-
MISSÃO CUMPRI-
DA! Acorreram a
Fátima cerca de
110 dominicanos
leigos de 41 países
dos quatro cantos
do mundo. A re-
cebê-los, uma pe-
quena equipa de portugueses que tudo fez para que
nada lhes faltasse durante os dias do Congresso: a mú-
sica durante as celebrações, a venda dos símbolos do-
5
Laicado Dominicano Setembro/Outubro2018
na, entre nós, a Cristina, a Mariana, a Lurdes e o Ga-
briel, obrigado pela vossa compreensão e carinho.
Não podemos deixar de um modo especial agrade-
cer ao Gabriel esta oportunidade e esta confiança que
em nós depositou. Obrigado Gabriel.
Fernanda Carlos, op
Tozé Carlos, op
Fraternidade de Elvas
(Equipa de acolhimento do Congresso)
ciais do mundo actual. Muito interessante o trabalho
de apoio a migrantes e refugiados, desenvolvido pelos
Leigos Dominicanos no Quebec, contando com o
apoio das Irmãs Dominicanas que cederam o espaço
para acolher os sem tecto. Exemplo vivo do Carisma
de S. Domingos, quando decidiu vender os próprios
livros para socorrer os mais necessitados do seu tem-
po. Como referiu o conferencista “Sem justiça não há
Paz”. O Santo Paulo VI, assim o disse e continua actu-
al.
Nos plenários, admirei a forma interventiva como
os delegados se pronunciavam.
Quanto a propostas, para a alteração aos Estatutos,
não vou “relatar” do que foi proposto. Na minha opi-
nião, os documentos devem ser actualizados, conside-
rando os tempos e situação em que a sociedade / Lei-
gos dominicanos no mundo actual vivem.
A formação do leigo, é permanente e deve viver a
vida conforme o Evangelho.
Como foi referido, toda a pregação deve ser basea-
da nas Sagradas Escrituras.
Nosso Pai S. Domingos, nos conceda a graça de
vivermos segundo o seu Carisma com a força do Espí-
rito Santo.
Lurdes Santos,o.p.
Fraternidade da Parede
(Equipa de acolhimento do Congresso)
minicanos, as pequenas compras de quem está fora de
casa e não sabe onde se dirigir, dinheiro que é preciso
trocar, uma boleia para não perder o avião, um sorriso
à chegada do hotel, uma mão que ajudou a levar a
bagagem…Gestos oferecidos por quem muito recebeu
em troca - o Gosto de sabermos que pertencemos a
uma família espalhada pelo mundo, a família Domini-
cana!
Cristina Busto ,o.p.
Fraternidade do Porto
(Delegada da Província portuguesa no Congresso)

VENEZUELA – UM TESTEMUNHO NA PRIMEIRA PESSOA
Querida irmã Cristina… O que motivou esta carta
foi passar a escrito a situação actual da Venezuela de
acordo com o que conversámos no Congresso das Fra-
ternidades Leigas Dominicanas em Fátima. Mas a situ-
ação é tão complexa que requer vários capítulos para
ser explicada em detalhe.
É muito difícil para algumas pessoas no exterior do
país perceberem a situação em que se encontra actual-
mente a Venezuela. Apesar do que se vê diáriamente
nos jornais, notícias alarmantes sobre o que se passa
no país, muitos se surpreendem todos os dias ao ver a
situação de crise humanitária que atravessamos, uma
coisa é inteirar-se pelas notícias e outra pelo
“testemunho” de um leigo dominicano que usa a sua
voz para denunciar a situação de ignomínia total cuja
descrição, tal como a referi no Congresso em Fátima,
não pode ser definida por nenhuma palavra em língua
espanhola, pois tragédia é todavia uma definição gene-
rosa para descrever o mal estruturado que tantas mor-
tes tem causado na população, uma maldade de tal
magnitude que foi assumida como política de estado
pela cúpula do poder governante na Venezuela.
A Venezuela foi outrora o país mais rico e próspero
da América do Sul, onde convivem há várias gerações
e que a assumiram como segunda pátria portugueses,
italianos e espanhóis, encontra-se agora numa situação
política, económica e social muito complicada, resulta-
do da implantação, desde 1998, de um regime totalitá-
rio, de estilo marxista, que sob a premissa da justiça
social para com os pobres, estabeleceu sistemas de
controle governamentais em direitos fundamentais
tais como: alimentação, serviços de saúde, segurança,
trabalho, informação, liberdade de circulação e reu-
nião, educação, entre muitos outros.
Neste sentido e sem dispor para este trabalho de
reflexão de dados estatísticos oficiais, senão da própria
vivência dos factos reais, pode-se destacar os seguintes
factores:
FACTOR POLÍTICO – Na Venezuela governa o
Partido Socialista Unido da Venezuela, criado a partir
da dissolução de outros partidos e movimentos de es-
querda que apoiaram o falecido golpista Hugo Chávez
quando chegou ao poder. Esta cúpula governante apo-
derou-se da totalidade dos poderes anulando o Estado
de direito na Venezuela reduzindo o que foi uma Re-
pública a um feudo pessoal governado por uma cúpu-
la cleptocrática e corrupta. Uma das primeiras acções
que realizou foi apoderar-se do Conselho Nacional e
Eleitoral e do Supremo Tribunal de Justiça, conse-
guindo assim legalizar as fraudes eleitorais cometidas
durante todos os comícios celebrados, erguendo defe-
sas contra possíveis denúncias.
A Força Armada Nacional que outrora era uma
Laicado Dominicano Setembro/Outubro2018
instituição que gozava de reconhecido prestígio e cre-
dibilidade na população, foi totalmente corrompida: o
alto comando militar é composto por indivíduos que
ocupavam os últimos lugares na hierarquia das suas
carreiras e que estão presumivelmente envolvidos em
delitos de corrupção e narcotráfico. Por outro lado o
território fronteiriço venezuelano é uma zona de refú-
gio para a guerrilha colombiana, FARC e ELN, que
cometem toda a espécie de crimes contra a população
sem que a Força Nacional Armada intervenha, o que
denota uma violação da soberania nacional perante
um exército que faz vista grossa a este atropelo. O po-
vo não ficou de braços cruzados e tem havido muitíssi-
mas marchas para protestar contra os abusos e atrope-
los, mas o governo reagiu cada vez com mais força che-
gando a assassinar mais de 100 estudantes nas mani-
festações e prender 400 presos políticos que diaria-
mente sofrem torturas e violação sistemática dos seus
direitos humanos. Irmãs dominicanas foram vítimas
de bombas lacrimogéneas durante a sua participação
nas manifestações contra o governo.
FACTOR TRABALHO – O desemprego teve um
aumento motivado pelas políticas inquestionáveis de
aumentos de preços por parte do governo. No sector
público os trabalhadores foram coagidos, tal como
acontece em Cuba, a assistir às actividades e concen-
trações de carácter político a favor do governo sob pe-
na de serem castigados ou despedidos dos seus empre-
gos. Os que não simpatizam com o governo são despe-
didos sem poder solicitar qualquer indemnização por
esta arbitrariedade. Podem apelar ao Ministério do
Trabalho e formular a denúncia, mas esta não prosse-
guirá. Eu próprio trabalhei durante quase 7 anos no
Ministério da Alimentação e fui despedido sem outro
motivo senão o de não simpatizar com o governo, e
apesar de apelar ao ministério correspondente para
fazer valer os meus direitos, a denúncia não avançou.
FACTOR EDUCAÇÃO – As escolas públicas não
têm as infra-estruturas necessárias para o seu funciona-
mento, os currículos e os planos de estudo foram mo-
dificados para inculcar nas crianças a ideologia Cha-
vista (de Hugo Chávez), os colégios privados (católicos
ou não) são assediados constantemente pela entidade
encarregada de regular os preços. Por causa da infla-
ção galopante, têm de aumentar o custo das matrícu-
las para irem funcionando, mas são impedidos de o
fazer, levando a que em cada ano escolar encerrem
cerca de 400 colégios. O governo decretou um aumen-
to de salário que não pode ser coberto pelos colégios
privados, com o fim de cancelar a contratação do seu
pessoal docente, administrativo e operário e muito
menos cobrir os gastos de manutenção.
(continua na pág.7)
6
 Laicado Dominicano Setembro/Outubro2018

(continuação da pág.6) FACTOR RELIGIOSO – A Conferência Episco-

Muitos professores universitários emigraram do pal Venezuelana e a Igreja Católica têm mantido uma
país porque os seus salários não permitiam cobrir as luta frontal condenando as arbitrariedades, abusos e
suas necessidades básicas. Eu trabalho actualmente violações dos direitos humanos por parte do Gover-
como administrador num colégio privado católico no. Esta tomada de posição ocasionou ataques a pa-
franciscano e no ano escolar que está a decorrer já dres e bispos por parte dos «colectivos» armados, que
tivemos uma deserção de cerca de 40% dos professo- são grupos de choque criados pelo governo para agre-
res assim como uma diminuição de 35% de estudan- dir quem não está de acordo com as políticas do par-
tes que emigraram para outro país. tido socialista unido da Venezuela (PSUV). Muitos
FACTOR ECONÓMICO – A economia está to- sacerdotes forma agredidos e ameaçados de morte,
talmente colapsada. Depois de 20 anos de controle algumas igrejas foram profanadas, os padres são enxo-
cambial, de regulação de preços e da emissão da moe- valhados nos programas de rádio e televisão sobre
da sem apoio de reservas, a inflação é semelhante à controle do Estado.
que existiu no Zimbábue, e o rendimento mensal de Leigos comprometidos que lutam pelos direitos
uma pessoa ronda 1,79 dólares. Não existem produ- humanos foram ameaçados de morte assim como os
tos agrícolas para exportação e muito menos para seus familiares como é o caso da nossa irmã Liliana
consumo interno. A indústria petrolífera, ao ser con- Rodríguez OP, presidente da Fraternidade de S. Do-
trolada pelo estado, está práticamente quebrada, ra- mingos de Gusmão na cidade de Barquisimeto, Esta-
zão pela qual não pode assumir compromissos como do de Lara.
fazia anteriormente. Antes de chegar o Chavismo ao Devemos fazer referência especial acerca do recen-
poder, registavam-se no país cerca de 12000 empre- te assassinato do conselheiro Fernando Calbar, um
sas, das quais apenas sobrevivem 3200, resultado da leigo comprometido, ligado à Igreja, querido por mui-
destruição do aparelho produtivo nacional. A popula- tos que trabalham na Comissão dos Cultos, que foi
ção mais carenciada foi vítima de um aparelho de vilmente torturado e que morreu em consequência
controle social por meio da emissão de um “cartão da dos castigos a que era sujeito e foi atirado do 10º piso
pátria”, um requisito para poder ter acesso a doações do Serviço Bolivariano de Inteligência (SEBIN) para
do governo como a caixa CLAP (uma caixa que pos- simular o seu suicídio.
sui a propriedade dos alimentos de primeira necessi- Apesar de todas estas tragédias, os nossos pastores
dade importados do México) sobre a qual recente- e a Igreja Católica em geral mantem-se firmes e sem
mente foi revelada a informação dos seus preços infla- medo sendo a voz dos que não tem voz e mantendo a
cionados praticados para enriquecer um grupo de esperança. A Igreja pediu em múltiplas ocasiões pela
pessoas, e da má qualidade dos seus produtos. A moe- abertura de um canal humanitário e o governo fez
da foi desvalorizada em três ocasiões, sendo que na ouvidos surdos. A Caritas instituição da Igreja, reali-
última foram eliminados 5 zeros, mas isto não deteve zou urgentes doações de medicamentos e estes forma
a inflação pois o governo emite dinheiro sem o apoio expropriados pelo governo impedindo que pudessem
de reservas e esta massa monetária, ao entrar na eco- chegar ás pessoas que mais necessitam deles.
nomia com um aparelho produtivo paralisado, a pro- Foi por isto que no interior da Igreja se estabelece-
cura de bens, que já por si são escassos, faz disparar ram canais clandestinos de distribuição de ajuda e
os preços para níveis astronómicos. Então o cidadão também e tem vindo a implementar principalmente a
vê-se obrigado a só pensar em tentar encontrar o que Família Dominicana, neste sentido pedimos aos nos-
pode comprar para comer. sos irmãos do Laicado Dominicano de Portugal que
FACTOR SAÚDE – Há uma escassez total dos no que puderem solidarizar-se connosco ajudando-
remédios mais elementares como antibióticos, reagen- nos no que considerarem que está humanamente ao
tes para laboratórios clínicos, anti-hipertensores, anti- vosso alcance. Podem ser remédios, roupa, alimentos
diarreicos, anti-convulsivos, anti-coagulantes e outros não perecíveis (enlatados, conservas) e dinheiro que
de alto custo como tratamentos de quimioterapia, será utilizado para articular esforços dentro da Equi-
radioterapia, anti-retrovirais, derivados de sangue, pe de Justiça e Paz da Ordem na Venezuela para aju-
albumina e imunoglubinas, insulina, medicamentos dar as acções da Família Dominicana. Quanto a este
para o glaucoma, broncodilatadores, entre muitos último ponto avaliaremos a maneira mais expedita
outros. O estado dos hospitais públicos é terrível: pa- para fazê-lo e esperamos contar com o vosso valioso
vilhões contaminados com bactérias, escassez de água, apoio.
apagões de energia elétrica que ocorrem diariamente, Por favor irmãos, como última súplica: não dei-
ocasionando a morte de pacientes em unidades de xem de rezar por nós.
cuidados intensivos e neonatais. Ocorreram cerca de Um grande abraço e bênçãos para todos vós.
30 mortes em recém-nascidos em hospitais e materni-
dades, como resultado dos cortes de energia eléctrica Willy Rafael Rivero e Rivero OP
e da falta de suprimentos médicos. Como consequên- Presidente do Conselho Vicarial
Delegado do Vicariato da Venezuela no Congresso
cia da crise, emigrou um grande número de médicos (Traduzido do original em espanhol)
qualificados. 7

AGRADECIMENTO
Cara Presidente e membros do Conselho Nacio-
nal da Família Dominicana em Portugal
Caro Prior provincial e membros do conselho dos
Irmãos da Ordem dos Pregadores,
Em nome do Conselho Provincial das Fraternida-
des Leigas de São Domingos da Província Portugue-
sa, venho agradecer-vos o generoso acolhimento aos
pedidos de ajuda financeira para as despesas no III
Congresso Internacional das fraternidades leigas rea-
lizado em Fátima.
Foram entregues ao tesoureiro do conselho mun-
dial dos leigos as importâncias de 1000 euros doada
pelo conselho da família dominicana para custear as
despesas de inscrição e participação da delegação por-
ORAÇÃO DE ACÇÃO DE GRAÇAS
Senhor faz de mim um meio da Tua comunicação:
Onde tantos lançam bombas de destruição
Que eu leve a palavra de união
Onde tantos procuram ser servidos
Que eu leve a alegria de servir
Onde tantos fecham a mão para bater
Que abra o coração para acolher
Onde tantos adoram a máquina
Que eu saiba venerar a pessoa
Onde tantos endeusam a técnica
Que eu saiba respeitar as pessoas
Onde a vida perdeu sentido
Que eu leve o sentido da vida
Onde tantos me pedem um peixe
Que eu saiba ensinar a pescar
Onde tantos me pedem pão
Que eu saiba ensinar a semear
Onde tantos estão sempre distantes
Que seja alguém sempre presente
F i c h a T
Jornal bimensal
Publicação Periódica nº 119112 / ISSN: 1645-443X
ISSN: 1645-443X
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Colaboração: Maria da Paz Ramos
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Laicado Dominicano Setembro/Outubro2018
tuguesa e de 2000 euros oferecidos pelo ramo dos
frades para a contribuição de ajuda fraterna para as
despesas de deslocação e participação das delegações
das províncias mais carenciadas.
Ficámos muito contentes em poder ter afetado a
totalidade das vossas ajudas à realização deste con-
gresso por vermos que ele manifesta em atos concre-
tos que todos os dominicanos em Portugal praticam
a comunhão fraterna nos momentos e acontecimen-
tos mais marcantes.
Bem hajam pela vossa solidariedade.
Fraternalmente em São Domingos,
Francisco Piçarra, op
(Administrador provincial das FLSDPP)
Onde tantos sofrem a solidão da multidão
Que eu promova o encontro com alguém
Onde só vivem as misérias do que passa
Que eu viva o espírito que fica
Onde tantos só olham para a terra
Que eu saiba olhar para o céu que nos habita e
estimula.
Frei Bernardo Domingues,o.p.
é c n i c a
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