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01 - CÂNON DAS ESCRITURAS

INTRODUÇÃO

Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos
ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.
João 14:26

O Tema do Cânon as vezes passa despercebido durante nossos estudos, normalmente é


aqui que muitas dúvidas são geradas. A preocupação com o cânon é fundamental. O
Cânon trata do lado humano das escrituras, há um lado humano e divino das escrituras,
e os dois no conjunto fazem a palavra de Deus. A exemplo de Cristo que é verdadeiro
homem e verdadeiro Deus.

1. SIGNIFICADO DA PALAVRA “CÂNON”

 Cana, junco - O termo grego cânon vem de uma palavra semítica que significa cana,
junco, que era utilizado inicialmente como instrumento de medida, partes de uma cana
eram utilizados como uma régua.
 Aquilo que regula, que serve como norma - a partir desse uso o termo passou a ser
usado como aquilo que regula, a regra.
 Gálatas 6. 16 – “E a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia
sobre eles e sobre o Israel de Deus.” No contexto dessa passagem Paulo fala aos Gálatas
sobre a circuncisão e a incircuncisão, porém a palavra utilizada para se referir a regra é
a palavra “cânon”, aqui apenas no sentido de regra/norma, ou seja, que não atribui a
sua salvação a coisas exteriores, mas apenas à cruz de Cristo. Esse é o sentido usado no
NT.
 Séc. IV a palavra cânon veio a ser utilizada para as Escrituras. Significando o grupo dos
livros reconhecidos pela igreja como inspirados por Deus e normativos para a fé e vida
dos cristãos.
Primeiramente por Atanásio, em torno de 352 d.C, bispo de Alexandria e também em
360 d.C. foi usado também em Laodiceia. Assim, cânon passa a ter um sentido técnico.

2. IMPORTÂNCIA DO TEMA

 Inicialmente, parece pouco relevante, pois temos uma Bíblia bem definida
Esse tema é importante para nós? Inicialmente, o tema parece não ser relevante, pois
nós praticamente nascemos com a bíblia. Tem uma propaganda de uma marca japonesa
que começa com um filme dramático de uma mãe dando a luz e de repente nasce a
criança e quando a criança olha para os pais ela tira uma máquina fotográfica e tira uma
foto dos pais. Nós somos mais ou menos assim, nós já nascemos com a bíblia, sabemos
que a bíblia tem 66 livros.
 Quando só havia rolos, como era? Até uma certa altura os livros da bíblia só existiam
em rolos. Na igreja primitiva se liam muitos outros livros também. Isso nos mostra que
nem sempre foi tão óbvio assim a questão do cânon.
 Há igrejas que têm cânon maior – Do ponto de vista católico por exemplo, eles sempre
tiveram um cânon maior com 73 livros.
 Qual é o seu cânon? Quantos livros possui? Quantos livros tem o cânon ou quantos
livros deveriam ter? Ou uma pergunta pessoal, quantos livros tem o seu cânon? Quantos
livros efetivamente usamos em nossas vidas?
Será que pregamos regularmente sobre todos os 66 livros? Ou alguns não entram em
nossa pregação?

3. DUAS POSIÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO DO CÂNON

Não há como discorrer sobre a história detalhada do cânon, mas o importante é a


concepção por trás da visão sobre a formação do cânon e algumas implicações.
Há basicamente 2 posições sobre o cânon:

3.1 Processo puramente humano


 Os livros quando surgiram não eram sagrados;
 Adquiriram tal posição por decisão da comunidade - à medida que a comunidade
atribuía a autoridade divina para os livros.
 Canonização para garantir uma norma de fé e de vida. Para essa posição a palavra-chave
é a DECISÃO da comunidade e essa decisão teria ocorrido principalmente em relação a
ameaças e perigos de outros mestres que surgiam e a igreja se levantava e dizia que se
tratava de heresia, pois não estava de acordo com os livros. Assim sendo, pela pressão
das ameaças, a decisão sobre o cânon ocorria.

3.2 Obra divina


 Os livros foram escritos pelo mistério da inspiração. A formação do cânon é obra divina
e os livros foram escritos pelo mistério da inspiração, na escrita, no envio, tudo foi parte
da obra divina, Deus estava presente inspirando o autor (2 Pedro 1:20,21).
 Canonização foi o reconhecimento pela igreja de que estes livros eram sua regra de fé e
vida. A canonização neste sentido é meramente a igreja RECONHECENDO os livros que
Deus deu como norma para a fé e para a vida.
 Deus cria a igreja por meio de sua palavra (cânon), e não a igreja cria o cânon, pois se
pensamos que a igreja cria o cânon estamos nos colocando acima do próprio Deus.

4. DOIS CÂNONES

4.1 Cânon do Antigo Testamento – 39 livros

 Duas listas dos judeus: 22 e 24 livros – Como se forma esses 22 ou 24 livros?


 O TaNaKh são as iniciais da Torá, Neviim e Ketuvim, os judeus consideravam que:
1. TORÁ - 5 livros (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio)
2. NEVIIM - 8 livros dos profetas anteriores (Josué, Juízes, Samuel, Reis, Isaias, Jeremias,
Ezequiel e os 12 profetas menores como um livro só que cabia em apenas um rolo
3. KETUVIM – 11 livros (Salmos, Provérbios, Jó, Cântico dos Cânticos, Eclesiastes,
Lamentações de Jeremias, Daniel, Ester, Esdras, Neemias e Crônicas), pela tradição Rute
vem antes de Salmos.
TaNaKh: Torá (5); Neviim (8) Ketuvim (9 ou 11) = 22 ou 24

4.2 Cânon do Novo Testamento – 27 livros

 Não há no Novo Testamento nenhuma referência a uma lista, sempre dissemos que são
27, mas não há nenhum lugar no próprio Novo Testamento que fala isso.
 Carta de Atanásio em 367 d.C. – ele foi o primeiro a trazer a lista dos 27 livros canônicos.
 Carta de Eusébio em 376 d.C. também confirma os 27 livros.
 Concílio de Cartago em 397 d.C.
 Antilegomena: são os escritos cristãos que são "disputados" ou, literalmente, as obras
em que há alguém que "falou contra". Nessa lista temos os seguintes livros: Hebreus,
Tiago, 2Pedro, Judas e Apocalipse.

5. CONCLUSÃO

Sejam quais forem os critérios que mais influenciaram os pais da igreja no


reconhecimento dos livros do Novo Testamento, e apesar da relutância de alguns em
aceitar todos os vinte e sete livros, e não obstante o grande número de livros apócrifos
que surgiram nos primeiros séculos, o verdadeiro cânon teria que prevalecer. E
prevaleceu. Inspirados que eram, tinham poder espiritual inerente. E esse poder
manifestou-se de tal modo que todos os ramos do Cristianismo alcançaram
unanimidade espantosa, de modo que desde pelo menos Atanásio, o primeiro a
apresentar uma lista completa do cânon do NT, até os nossos dias, não tem havido
nenhuma objeção realmente séria, nos três principais ramos do Cristianismo, quanto à
canonicidade do Novo Testamento.1

02 - INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS

Antes de estudarmos os evangelhos e o livro de Atos, é necessário introduzirmos o


panorama do Novo Testamento que nos auxiliará no estudo os livros em si.

O QUE É UM EVANGELHO?

A palavra evangelho é muito comum no meio evangélico, isso porque nós falamos a
respeito de pregar o evangelho, mas sabemos que existem livros do NT que são
chamados de evangelhos.

 A Palavra evangelho significa “boa notícia”.

O Novo Testamento conecta a palavra evangelho à vinda do Senhor Jesus, sua Pessoa e
sua Obra salvadora. A chegada do Messias, quem ele é e o que ele fez, tudo isso é
chamado de evangelho.

1Anglada, Paulo Roberto Batista. Sola Escriptura: A doutrina reformada das escrituras. Knox Publicações.
2013.
Em 1 Coríntios 15:1 “Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho
anunciado; o qual também recebestes, e no qual também permaneceis.” Paulo resume
a mensagem do evangelho. No evangelho de Marcos, este autor também chama sua
obra de evangelho.

 É gênero literário específico para anunciar esta boa notícia.

Quando vamos para o livro de Atos, se formos descrever o gênero literário, trata-se de
uma narrativa, uma carta aos romanos é uma epístola, agora os evangelhos são o que?
Narrativa? Biografias?

 Contém biografia, mas não apenas biografia.

As biografias daquela época são descritivas, ou seja, se propõem a descrever elementos,


características e fatos de uma determinada pessoa. Porém, os evangelhos fazem isso
com Jesus, mas não apenas isso. Por exemplo, eles focam a atenção apenas em um curto
pedaço de tempo da vida de Jesus. Eles não são apenas biografias, pois vão muito além
de descrever quem é Jesus, mas construir os fatos históricos sobre Jesus para ensinar
uma verdade teológica.

 Contém narrativa histórica, mas não é apenas narrativa.

O próprio evangelho de Lucas deixa claro que ele irá fazer uma narrativa histórica, ou
seja, uma descrição coordenada de fatos históricos. Mas não é apenas isso, pois os
evangelhos não seguem a ordem de uma narrativa daquela época, pois não estão
preocupados meramente em contar uma história, o interesse não é contar uma história,
mas contar verdades teológicas. Isso não significa que eles não estão preocupados com
a precisão dos fatos.

 Possuem um propósito teológico – querem ensinar teologia.

Por isso, cada um deles são escritos para adequar ao proposto teológico do escritor. Por
exemplo, o evangelho de João foi escrito para levar os leitores a crerem que Jesus era o
Cristo. Assim, João começa seu livro com o prólogo mostrando Jesus como o anunciado
por Deus, pega vários sinais e discursos de Jesus para mostrar que aquilo que existia no
Antigo Testamento a respeito do templo, festas e religião judaica agora se cumprem no
Senhor Jesus. Ou seja, João usa os eventos históricos para ensinar verdades teológicas.
Mateus também é construído em cima de citações do Antigo Testamento e de grandes
discursos de Jesus com o propósito de ensinar teologia.

 O evangelho é um gênero literário que possui biografia e narrativa, mas com um


propósito teológico de ensinar sobre a Pessoa e a Obra de Cristo.

 João 20:31 “estes foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo”

POR QUÊ QUATRO EVANGELHOS?


Por que o Novo Testamento possui 4 livros para contar basicamente a mesma história?

 Quando estudamos os evangelhos, percebemos que eles são realmente bem


parecidos. Possuem o mesmo personagem central, narram o mesmo período de
vida dele, enfatizam seus feitos e seus discursos e apresentam Jesus como o
Messias.

São muito parecidos, não temos duas ou três descrições a respeito do crescimento da
igreja, apenas em Atos. Não temos mais descrições sobre o Apocalipse, apenas o
Apocalipse de João.

 Porém, há diferentes perspectivas entre Mateus, Marcos e Lucas (sinópticos) e o


Evangelho de João.

Em primeiro lugar, temos os evangelhos sinópticos, palavra que significa do grego


“mesma visão ou mesma perspectiva”. Assim, Mateus, Marcos e Lucas descrevem a vida
e ministério de Jesus em uma mesma perspectiva, sendo a perspectiva descritiva, que
coleciona mais fatos e que fala muito do ministério de Jesus na Galileia, têm uma
narrativa mais ágil, embora exista uma diferença de estilo, a perspectiva é a mesma.

O evangelho de João não tem essa perspectiva, ele é mais teológico, no sentido de que
João escolhe fatos e eventos e trabalha em torno desses eventos. João não quer
simplesmente fazer um acúmulo de obras e milagres, ele pega milagres específicos, nos
quais Jesus multiplica o pão e ele trabalha a ideia de Jesus como o pão, ou a cura de um
paralítico no sábado e ele trabalha a ideia de Jesus curar no sábado. Assim, há mais
rebuscamento teológico.

 Há diferença de ênfase entre todos:


- Mateus enfatiza Jesus como rei
- Marcos enfatiza Jesus como servo
- Lucas enfatiza Jesus como homem e Deus
- João enfatiza Jesus como Cristo Divino

O grande trabalho de Mateus é mostrar Jesus como conectado à raiz de Davi, por isso o
discurso é muito focado na questão do reino e os milagres também, ou seja, Jesus é
herdeiro de Davi.
O livro de Marcos enfatiza Jesus com base em Isaías, o servo, aquele que se dispôs a
servir.
Lucas, escrevendo para um grego Teófilo, enfatiza Jesus como sendo um descendente
de Adão e como Deus, o ente santo nascido concebido por Deus dentro de Maria, ou
seja, enfatiza a dupla natureza de Cristo, com sentimento, piedade, e eventos que
enfatizam a sua divindade.
João diz claramente sua intenção de que as pessoas cressem que Jesus é o Cristo, ou
seja, o verbo prometido no AT, ele é a videira, o pão, a luz, ou seja, os elementos do
Antigo Testamento.
 Há uma distinção de destinatários.

Mateus, Marcos, Lucas e João não foram escritos para as mesmas comunidades e por
isso foram escritos para responder questões e necessidades diferentes.

 Os quatro Evangelhos nos apresentam uma visão bastante ampla sobre a


Pessoa e Obra de Jesus Cristo.

Ou seja, vemos Jesus e sua Obra por vários ângulos, todos complementares e
verdadeiros.

O PANO DE FUNDO HISTÓRICO DOS EVANGELHOS

Elementos culturais e sociais chaves para a compreensão satisfatória do que será visto
nos Evangelhos.

Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido
sob a lei” Gálatas 4:4 – o tempo correto para encerrar a antiga dispensação ou aliança
para enviar o Messias para o centro da história, sendo o período histórico devido para o
nascimento do Deus encarnado. Esse versículo nos mostra que a vinda de Jesus foi um
evento histórico, ou seja, série de fatores estão envolvidos que foram devidamente
preparados por Deus.

Assim, existiram uma série de fatores históricos que foram benéficos para a vinda de
Jesus sob o ponto de vista de Deus.

JUDAÍSMO

Como era o judaísmo, a religião e o povo no período de Jesus?

 O judaísmo da época do Novo Testamento começa a ser moldado no evento


chamado “Cativeiro Babilônico”.

O cativeiro é descrito no Antigo Testamento como um evento que mudaria


consideravelmente a configuração e uma série de aspectos do povo de Israel e da
religião judaica, depois de 70 anos o povo começou a retornar.

 Com o fim do cativeiro, muitas coisas mudaram:

- Diáspora: disseminação de Judeus por outras regiões além da região da


Palestina, ou seja, os judeus foram para outras regiões do planeta,
especialmente no norte do Egito, na cidade de Alexandria, esses judeus foram
fortemente influenciados pela filosofia grega. Na Síria também, na região de
Antioquía. Também na Ásia e para a Euroupa.
- Com o Templo destruído os judeus criaram as Sinagogas e enfatizaram a lei:
o templo destruído por Nabucodonosor, depois do cativeiro Babilônico houve
uma espécie de reconstrução do templo, mas não de maneira definitiva.
- o fim da idolatria em Israel – antes do cativeiro, era costumeiro que Israel se
entregasse aos ídolos.

 A religião e a política judaica:

- Os escribas: eram pessoas devotadas ao estudo do Antigo Testamento e da


preservação deste, eram os chamados rabinos que transmitiam os ensinos
oriundos da Lei de Moisés ao povo.
Obs: alguns escribas eram fariseus, pois escriba era uma função e os fariseus
eram um partido.
- Os fariseus: era um partido religioso. Eles gozavam de muita estima do povo,
tendo seus Rabis como os mais influentes de todos. Davam enorme valor à Lei
de Moisés, mas igualavam sua interpretação ao mesmo peso da autoridade da
bíblia. Para os judeus, não só o Antigo Testamento era a autoridade, mas a
interpretação dos escribas e fariseus era autoridade também.
- Os saduceus: Outro partido religioso, era formado pelos sacerdotes que eram
os responsáveis pela manutenção do templo, por isso não eram tão devotados à
Lei e ao Antigo Testamento. Eles aceitavam apenas a Torah ou Pentateuco. Não
acreditavam em anjos, espíritos, ressurreição etc.
- Sinédrio: surgido durante o domínio romano, era a cúpula de autoridade da
religião judaica. Se reuniam diariamente, menos sábado, no Templo, e era
formado de Fariseus e Saduceus. Eles detinham, inclusive, uma guarda.

LINGUA GREGA

 Helenização do Mundo Antigo: a divulgação da cultura e língua gregas por todo


o império de Alexandre, o Grane. Alexandre, por onde passava tentava
implementar a cultura grega. Foi nesse período que houve a tradução da
Septuaginta que foi a tradução da bíblia hebraica para a língua grega.
 Mesmo com o posterior domínio romano, a língua grega continuo sendo a
língua mais falada.
 Foi exatamente por isso que o Novo Testamento foi escrito na língua grega,
pois, assim, todos poderiam lê-lo facilmente.
 Foi escrito no grego Koiné

IMPÉRIO ROMANO

 Otávio Augusto começou a reinar em 31 a.C um período chamado de Pax


Romana – foi período em que o império vivia em relativa paz em suas fronteiras,
assim, havia no mundo dos Evangelhos uma espécie de paz no império;
 Romanos organizavam o império por meio de províncias:
 A Província da Palestina, na época do nascimento de Jesus, era governada por
Herodes, o Grande;
 Após a morte de Herodes, seus três filhos dividiram o governo da província.
Arquelau tornou-se governante da Judeia, Herodes Antipas na Galileia e
Herodes Filipe em outras regiões;
 Os romanos construíram várias estradas;
 Os judeus tinham liberdade de exercer sua religião desde que não houvesse
risco ao domínio romano;

 Jesus e os discípulos viveram em três mundos:

Judeu – berço do Messias;


Grego – cultura, filosofia e língua grega;
Romano – estradas, províncias e estruturas;

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