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O PAPEL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ERA DO

DESENVOLVIMENTO (IN)SUSTENTÁVEL
 
 
 
Márcio Balbino Cavalcante
Programa de Pós­Graduação e Pesquisa em Geografia/UFRN
Bolsista da CAPES
cavalcantegeo@bol.com.br
 
 
 
RESUMO

A Educação Ambiental é vista hoje como uma perspectiva de mudança ativa da  realidade e
das  condições  de  vida,  por  intermédio  da  conscientização  incidida  do  processo  social
reflexivo em diversos espaços educativos formais e não­formais. Sob essa visão o principal
objetivo  desse  artigo  é  refletir  sobre  a  importância  da  Educação  Ambiental  para  o
desenvolvimento  sustentável  e  discutir  acerca  da  sociedade  atual  assegurando  a
importância da complexidade planetária e das questões que evolvem a sua aplicabilidade
prática como meio de garantir a sustentabilidade buscando um estilo de vida sustentável e
a construção de um paradigma holístico que pauta o homem a natureza e o mundo, como
parte indispensável na tentativa de uma Educação para o desenvolvimento sustentável.
 
Palavras­chave:  Educação  Ambiental,  Desenvolvimento  Sustentável,  Sociedade  e  Meio
Ambiente.
 

INTRODUÇÃO

 
Os  seres  humanos  habitam  hoje  num  ambiente  criado,  em  que  a  indústria
contemporânea, juntamente com a ciência e com a tecnologia, modificou e ainda modifica a
natureza com atitudes insonháveis em espaço de risco que, no limite extremo, depositam
em  risco  a  sobrevivência  da  espécie  humana.  De  acordo  com  Morin  (2002),  os  riscos
ecológicos são o resultado da expansão da ciência e da tecnologia.
 Diante da necessidade de mudança de comportamento social para a efetividade do
conceito de desenvolvimento sustentável, é preciso “educar para a compreensão humana”
(MORIN, 2002, p.93).
Com o melhoria da civilização foi imprescindível o aumento de novas formas de se
aperfeiçoar  e  de  atuar  coletivamente  em  busca  de  saídas  para  as  dificuldades  da
sociedade, sendo a educação ambiental uma das formas de conscientizar os indivíduos da
importância  de  conservar  o  meio  em  que  vivem,  demonstrando  que  se  não  tiver
transformação  de  conduta,  o  estrago  pode  ser  irreversível  para  o  meio  ambiente  e  ter
efeitos inteiramente atreladas à humanidade.
Diante  do  cenário  atual  o  desenvolvimento  sustentável  é  o  caminho  para  a
sobrevivência  e  permanência  de  vida  na  terra,  para  tanto  é  necessário  articular  novos
rumos  da  educação  Ambiental  para  que  de  fato,  haja  um  padrão  de  desenvolvimento
sustentável através de critérios que promove responsabilidade ética e definições da relação
sociedade natureza.
Sendo  assim,  a  educação  é  indispensável  para  o  desenvolvimento  do  sujeito  e  o
procedimento educativo há de se pautar, também, na educação ambiental, uma vez que a
formação  da  consciência  ecológica  é  de  fundamental  importância  para  a  garantia de vida
futura.
Este estudo propõe reflexão sobre as práticas sociais no contexto caracterizado pela
destruição do meio ambiente partindo do diagnóstico que a sociedade capitalista industrial
baseia­se  no  lucro  e  no  consumo  e  vem  sendo  durante  muito  tempo  consumista  e
progressista.
 A finalidade do trabalho com esse tema é fornecer subsídios necessários para  criar
novas  atitudes  e  comportamentos  face  ao  consumo  na  nossa  sociedade  e  de  instigar
mudanças  necessárias  para  a  conscientização  rumo  à  produção  baseada  no
desenvolvimento sustentável.
 

A  IMPORTÂNCIA  DA  EDUCAÇÃO  AMBIENTAL  PARA  O  DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL
 

 
A  Educação  Ambiental  aponta  a  constituição  de  valores  sociais,  informações,
capacidades, costumes e confiabilidades regressadas para a conservação ambiental, e sua
sustentabilidade.  A  Educação  Ambiental  é  vista  hoje  como  uma  possibilidade  de
transformação  ativa  da  realidade  e  das  condições  da  qualidade  de  vida,  por  meio  da
conscientização  advinda  da  prática  social  reflexiva  embasada  pela  teoria  (LOUREIRO,
2006).
Segundo  Loureiro  (2006),  essa  conscientização  é  obtida  com  a  capacidade  crítica
permanente  de  reflexão,  diálogo  e  assimilação  de  múltiplos  conhecimentos.  Esse
procedimento  torna­se  essencial  para  se  desenvolver  sociedades  sustentáveis,  ou  seja,
orientadas para enfrentar os desafios da contemporaneidade, garantindo qualidade de vida
para esta e futuras gerações.

 
 
A  educação  ambiental  para  uma  sustentabilidade  equitativa  é  um  processo  de
aprendizagem  permanente,  baseado  no  respeito  a  todas  as  formas  de  vida.  Tal
educação  afirma  valores  e  ações  que  contribuem  para  a  transformação  humana  e
social  e  para  a  preservação  ecológica.  Ela  estimula  a  formação  de  sociedades
socialmente justas e  ecologicamente  equilibradas,  que  conservem  entre  si  a  relação
de interdependência e diversidade. Isto requer responsabilidades individual e coletiva
no nível local, nacional e planetário. (Fórum Internacional das ONGs, 1992, p. 193­4)
 
 
 
O  ser  humano  agride  a  natureza  com  o  intuito  de  obter  determinado  padrão  de
desenvolvimento econômico, decorrente dessa ação do homem, os riscos ambientais têm
aumentado nos últimos anos, sendo assim para o enfrentamento desse colapso ecológico
mundial,  nasce  o  marco  de  desenvolvimento  sustentável  voltado  para  a  harmonia  entre
desenvolvimento  econômico  e  ecológico,  no  qual  implica  uma  inter­relação  entre  direito
social,  meio  ambiente  estável,  desenvolvimento  econômico  e  qualidade  de  vida.      Para
Beck  (1996)  riscos  são  formas  sistêmicas  de  lidar  com  as  ameaças  e  as  inseguranças
induzidas e introduzidas pelo próprio processo de modernização.
Segundo  Loureiro  (1998),  a  causa  da  degradação  ambiental  e  da  crise  na  relação
sociedade­natureza não emerge apenas de fatores conjunturais ou do instinto perverso da
humanidade,  e  as  implicações  de  tal  degradação  não  são  decorrentes  apenas  do  uso
impróprio  dos  recursos  naturais;  mas  sim  de  um  conjunto  de  variáveis  interconexas,
derivadas das categorias: capitalismo/modernidade industrialismo/urbanização/tecnocracia.
Logo, a almejada sociedade sustentável supõe a crítica às relações sociais e de produção,
tanto quanto ao valor atribuído à extensão da natureza.
O desenvolvimento é necessário, porém o ser humano precisa usar tais recursos da
natureza  de  forma  inteligente  sem  agredi  o  meio  ambiente  buscando  conciliar  o
desenvolvimento econômico e a preservação ambiental para garantir o equilíbrio ecológico.
É grande  o  desafio  da  educação  ambiental  para  lidar  com  a  atual  sociedade,  visto
que  deve  relacionar  a  destruição  ambiental,  o  atual  padrão  de  produção  capitalista  e  os
problemas  sociais,  bem  como  trabalhar  a  diversidade  cultural,  o  sistema  de  idéias  e  os
diferentes  interesses  da  sociedade  no  campo  da  proteção  ambiental.  Para  tanto  é
necessário que esteja fundamentada no desenvolvimento de valores igualitários e aptidões
voltadas  para  a  precaução  ambiental,  com  a  intenção  de  garantir  uma  condição  de  vida
saudável para as gerações atuais e futuras, compreendendo, deste  modo, uma dimensão
humanitária, holística, interdisciplinar e democrática da proteção ambiental.
A educação ambiental na escola ou fora dela continuará a ser uma concepção  radical  de
educação,  não  porque  prefere  ser  a  tendência  rebelde  do  pensamento  educacional
contemporâneo,  mas  sim  porque  nossa  época  e  nossa  herança  histórica  e  ecológica
exigem alternativas radicais, justas e pacíficas. (REIGOTA, 1998, p. 43)
 A educação ambiental estimula uma racionalidade moral e ecológica e promovendo
atitudes  e  valores  subjetivos  de  aprendizados  sociais  compatíveis  com  a  sustentabilidade
da  vida  na  Terra.  Na  experiência  de  chegar  ao  DS,  a  Educação  Ambiental  é  parte
fundamental  e  necessária,  pois  é  a  maneira  mais  direta  e  funcional  de  se  alcançar  pelo
menos uma de suas metas: a participação da população.
Dessa  forma  torna­se  evidente  uma  ação  reflexiva  e  consciente  nas  mudanças
éticas  para  a  transformação  da  mentalidade  humana,  pois  essa  transformação  influi
diretamente na percepção e no comportamento, para que os seres humanos aprendam a
pensar ambientalmente, isso deverá reajustar o comportamento humano na construção de
uma  verdadeira  harmonia  entre  os  seres  humanos,  a  sociedade  e  a  natureza.  (MORAN,
1994).  E  essa  transformação  por  meio  da  educação  deverá  contribuir  na  mudança  do
caráter  humano,  social  e  ecológica  na  qual  estimule  a  formação  de  sociedades  justas  e
ecologicamente equilibradas.
 

O SURGIMENTO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
 

 
Com a revolução dos transportes e mais tarde das comunicações, a vinculação entre
sociedade  x  sociedade  e  sociedade  x  natureza  passou  por  mudanças  bruscas  em  um
pequeno  espaço  de  tempo.  Essas  modificações  no  espaço,  à  priori,  não  foram  alvo  de
preocupação  da  população,  haja  vista  que  se  imaginava  que  os  recursos  naturais  eram
quase totalmente infindáveis.
A  conseqüência  da  exploração  irracional  só  entrou  na  ordem  do  dia  das  instituições
internacionais,  sobretudo,  a  partir  da  realização  do  Clube  de  Roma  ocorrida  em  1972,
ocasião que fora apresentado o estudo intitulado “Limites do crescimento”, que entre outras
premissas alertava:
 

Se  as  atuais  tendências  de  crescimento  da  população  mundial  industrialização,
poluição,  produção  de  alimentos  e  diminuição  de  recursos  naturais  continuarem
imutáveis, os limites de crescimento neste planeta serão alcançados algum dia dentro
dos  próximos  cem  anos.  O  resultado  mais  provável  será  um  declínio  súbito  e
incontrolável,  tanto  da  população  quanto  da  capacidade  industrial.  (CAVALCANTI,
1994, p. 23 apud MEADOWS, 1972, p.20)

 
Diante  do  quadro  ambiental  exposto  pelo  estudo  supracitado,  constituíram  os
seguintes  cenários:  os  que  previam  a  abundância  e  os  catastrofistas  (SACHS,  2000).  Os
primeiros estavam interessados em aumentar o PIB dos países menos desenvolvidos para
a promoção da igualdade, e não considerava a questão ambiental como prioridade. Já os
opostos  defendiam  a  idéia  de  crescimento  zero,  pautados  dentre  outras  teorias,  no
malthusianismo.
Nesta  perspectiva,  foi  elaborado  um  paradigma  que  tentasse  contemplar  as
concepções  dos  desenvolvimentistas  e  dos  apocalípticos:  nasce  o  desenvolvimento
sustentável ou o ecodesenvolvimento que, na ótica de Sachs (2000, p.54) é definido como
uma  “abordagem  fundamentada  na  harmonização  de  objetivos  sociais,  ambientais  e
econômicos”,  e  que  em  outras  palavras,  visa  o  uso  racional  dos  recursos  para  a  garantia
destes às futuras gerações.
Embora  o  conceito  de  desenvolvimento  sustentável  esteja  atualmente  em  voga  na
mídia  de  massa  principalmente  através  da  publicidade  de  empresas  que  se  intitulam
“verdes”, percebe­se que na prática este não é contemplado em sua totalidade. O mesmo
ocorre  com  a  sociedade  que,  apesar  de  possuírem  informação  acerca  das  grandes
catástrofes ambientais atuais como o aquecimento global, chuvas ácidas, enchentes, etc.,
ainda não agiram para reverterem essa situação, pois:
 

 
Aqueles que vivem em situação de miséria e de exploração “selvagem” do trabalho, a
depredação  ambiental  é  vista  como  secundária  [...].  Tal  atitude  é  explicável,
considerando­se  que  sua  preocupação  primordial  está  dirigida  para  a  sobrevivência
imediata. O problema ambiental só aparece como bandeira de luta quando é articulado
com problemas que representam a defesa de interesses imediatos. (LOUREIRO et al
2002, p. 48).

 
 
Nesta  perspectiva,  emerge­se  a  necessidade  de  encontrarmos  uma  forma  de
mudança  comportamental,  baseada  na  compreensão  de  um  mundo  no  qual  “afirma  a
inseparatividade  de  todas  as  coisas  e  procura  eliminar  o  discurso  e  a  prática  dualistas”
(CAVALCANTI, 1994, p.39).
Morin (2002, p.37) aprofunda declarando que:
 

O planeta Terra é mais do que um contexto: é o todo ao mesmo tempo organizador e
desorganizador  de  que  fazemos  parte.  O  todo  tem  qualidades  ou  propriedades  que
não  são  encontradas  nas  partes,  se  estas  estiverem  isoladas  umas  das  outras,  e
certas  qualidades  ou  propriedades  das  partes  podem  ser  inibidas  pelas  restrições
provenientes do todo.
 

 
 
Para  este  autor  se  faz  mister  entender  o  mundo  numa  ótica  multidimensional,  haja
vista  que  “não  se  poderia  isolar  uma  parte  do  todo,  mas  as  partes  umas  das  outras;  a
dimensão  econômica,  por  exemplo,  está  em  inter­retroação  permanente  com  todas  as
outras dimensões humanas” (MORIN, 2002, p.38).
 
CONCLUSÃO

 
A  chave  certa  para  a  transformação  socioambiental  é  a  sensibilização  e  reflexão
promovidas  pela  Educação  Ambiental  e  a  ação  da  população  através  do  exercício  da
cidadania, isto é, da ecocidadania, que dá de fato e de direito a possibilidade do cidadão se
mobilizar,  reivindicar  e  transformar  equilibradamente  o  seu  meio  ambiente  de  maneira
crítica.
  Sendo  assim,  a  Educação Ambiental  assume  um  caráter  mais  realista,  buscando
um equilíbrio entre o homem e o meio ambiente, tendo em vista à construção de um futuro
pensado  e  vivido,  numa  lógica  de  progresso  e  desenvolvimento,  por  isso  é  preciso  uma
mudança no comportamento do ser humano em relação ao meio ambiente.
Um  novo  modo  de  vida  precisa  ser  seguido  e  o  consumismo  abrandado,  água,
energia,  combustível,  dentre  outros,  necessitam  de  ser  economizados.  O  lixo  deverá  ser
diminuído, uma vez que a reciclagem somente remedia os agravos de muitos desperdícios.
Indústrias,  empresas  e  comércio  precisam  integrar  desenvolvimento  e  lucro  às  técnicas
ambientais, pois o emprego de tecnologias limpas abate os gastos, acrescentando a ganho
e conservando o meio ambiente.
Para  tanto,  é  imprescindível  uma  participação  global  entre  países,  estados  e
municípios, com incentivos fiscais e aplicação severa da legislação ambiental. Pois a busca
de sustentabilidade sintetiza­se à questão de se atingir harmonia entre seres humanos e a
natureza.
 

REFERÊNCIAS
 
 
BECK, U. Teoria de la sociedad del riesgo. In: BERIAN, I. Las consecuencias perversas
de la modernidad. Barcelona: Anthropos, 1996.
 
BENKO,  G.  Globalização  e  crise  ambiental.  In:  SANTOS,  Milton.  Cidadania  e
Globalização. Editora Saraiva: São Paulo, 2000.
 
CARVALHO, I.C.M. Educação ambiental crítica: nomes e endereçamento da educação. In:
Identidades da Educação Ambiental Brasileira. Brasília: Ministério do Meio Ambiente –
MMA, 2004.
 
CAVALCANTI,  C.  (org.).  Desenvolvimento  e  natureza:  estudo  para  uma  sociedade
sustentável. São Paulo: Cortez, 1998.
 
FÓRUM  Internacional  de  Organizações  Não­Governamentais  e  Movimentos  Sociais.
Tratado  de  Educação Ambiental  para  sociedades  sustentáveis  e  responsabilidade  global.
In:  TRATADO  das  ONGs;  aprovado  no  Fórum  Internacional  de  Organizações  Não­
Governamentais  e  Movimentos  Sociais,  no  Âmbito  do  Fórum  Global  –  ECO­92.  Rio  de
Janeiro: Eco, 1992, p. 193­196.

GONÇALVES, C. W. P. O Desafio Ambiental. Rio de Janeiro: Record, 2004.
 
LOUREIRO,  C.  F.  B..  (org).  A  Sociedade  e  Meio Ambiente:  a  educação  ambiental  em
debate. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2002.
 
_________. Reflexões sobre os conceitos de ecocidadania e de consciência ecológica. In:
MATA, S.F.da, et al.; (orgs). Educação ambiental, desafio do século: um apelo ético. Rio
de Janeiro: Terceiro milênio, 1998.
 
MORIN,  E.  Os  sete  Saberes  Necessários  à  Educação  do  Futuro.  3.  ed.  São  Paulo:
Cortez, 2002.
 
REIGOTA,  M.  Desafios  à  educação  ambiental  escolar.  In:  CASCINO,  F.;  JACOBI,  P.;
OLIVEIRA,  J.  F.  (orgs.)  Educação,  meio  ambiente  e  cidadania:  reflexões  e
experiências. São Paulo: SMA/CEAM, 1998.
 
SACHS, I. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro: Garamond,
2000.

 
 

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