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1. INTRODUÇÃO
2. ALGEMAS NO BR ASIL
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Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Goiás. Policial Rodoviário Federal.
nas Academias e Cursos de Polícia no Brasil, notava-se uma grande maioria - mas
não totalidade - de prisões em que o uso de algemas ocorria, o que parecia ser, aos
olhos dos Ministros do STF e de muitos críticos, uma política policial degradante.
Não há, no Brasil, notícia de registro sobre uso de algemas. E se desconhece
a nulidade de alguma prisão por conta de seu uso, mesmo que indevido. .
Devemos lembrar, no entanto, que já foi considerado irregular o uso de
algemas em Sessão de Júri (HC 70001561562, TJ-RS; HC 9152, STF). A Súmula
Vinculante surgiu, em tese, por conta desses precedentes.
Os policias brasileiros justificam o uso de algemas tendo em vista a garantia
da segurança dos detidos e deles próprios. Afirmam ser a reação do preso
indefinida, podendo variar desde o consentimento até a violência máxima visando à
fuga. Segundo eles, casos reais em que a tentativa de fuga de presos não
algemados resultaram em morte de policiais, terceiros (juízes, promotores, cidadãos)
ou do próprio preso corroboram essa política.
1
A respeito, acessar a reportagem online no site
<http://oglobo.globo.com/pais/mat/2008/08/12/marco_aurelio_critica_uso_de_algemas_em_operacao_da_pf_su
perintendente_do_orgao_defende_procedimento-547713422.asp>, em que o Ministro Marco Aurélio diz,
expressamente: “Se não há periculosidade, se é crime financeiro, de falcatrua, o chamado crime do colarinho
branco, não há necessidade de algema. A regra é o preso ser conduzido preservando-se a dignidade dele.”
Críticos afirmam que o destino do detido é, via de regra, uma cela, o que, por si só, já constitui uma ofensa ao
indivíduo, mas plenamente aceita pela legislação em vigor, o que torna o uso de algemas mero consectário lógico
da prisão. O constrangimento residiria, portanto, na ordem de prisão, não no uso de algemas. A respeito dessas
críticas, recomenda-se acessar o artigo “Algemas, sim”, em < http://www.conjur.com.br/static/text/69016,1>.
poder para instituir regramentos como o Manual of Los Angeles Police Department2.
Tal documento prevê, no volume 4 (quatro), que o policial, mesmo ao se deparar
com um crime mais grave, chamado de felony - que traduziremos como delito mais
grave- tem discricionariedade no uso de algema. Mas esse uso, o manual ressalta, é
o normal, não a exceção:
Note-se, ainda, que é o policial quem tem autonomia para definir se é ou não
caso de uso de algemas, de acordo com vários fatores, dentre os quais:
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Para facilitar a compreensão do texto, traduzimos as citações em inglês para o português. Os textos originais
podem ser encontrados nos sites mencionados nas Referências Bibliográficas, ao fim do artigo.
Naquele país, o uso de algemas é mais comumente abordado, por
especialistas do setor de segurança, quanto aos prejuízos que o mau-uso dessa
ferramenta pode gerar para as polícias. Discutem-se, ainda, as vantagens e
desvantagens das duas políticas de uso de algemas: a obrigatória e a discricionária:
O uso de força na forma de algemas para detenção de Mena foi razoável porque o
interesse governamental em minimizar o risco de dano para os policiais e os
ocupantes, que alcança o máximo quando um mandado autoriza uma busca por
armas e um membro de gangue foragido reside no local, supera a intrusão
marginal. Ver id., em 396-397. Além disso, a necessidade de deter múltiplos
ocupantes faz o uso de algemas mais do que razoável. Cf. Maryland v. Wilson,
519 U.S. 408, 414. Apesar da duração de uma detenção poder afetar o balanço de
interesses, as 2 ou 3 horas de detenção com algemas, nesse caso, não superam o
interesse contínuo de segurança do governo. (tradução nossa)
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Não podemos deixar de notar a semelhança com o HC 91952, deferido pelo pleno do Supremo Tribunal
Federal, em que o réu ficou algemado durante Sessão do Júri com a alegação de que apenas dois policiais civis
faziam a segurança. Mas, é evidente, as possíveis repercussões do caso brasileiro (julgamento indevido pelos
membros do júri) o diferenciam da situação de detenção por algema prévia ao próprio processo criminal ou
mesmo ao inquérito policial.
razoável. Assim, um detido, independente de sua condição física, pode sim ser
algemado, como o foi a própria Mena, jovem mulher de pequena estatura, mesmo
sem ordem de prisão prévia ou situação de flagrante delito.
Ocorre que o uso das algemas deve ser o mínimo possível (seja até o fim da
busca e apreensão, seja até o razoável tempo para se perceber a não-existência de
risco para os policiais), sempre levando em conta a segurança dos policiais que
efetivam as determinações legais e judiciais, e sempre garantindo a integridade
física dos detidos. É isso que a jurisprudência - e os manuais policiais - afirmam.
Parece-nos certo, portanto, sugerir que a extensão de ambos os
entendimentos, majoritário e minoritário, daquela Supreme Court garantem, aos
policiais dos Estados Unidos, respaldo quando efetuam detenções ou transporte de
presos com o uso de algemas, desde que esses procedimentos nem se alonguem
em demasia no tempo, nem provoquem mal objetivamente mensurável aos detidos,
observando-se o caso concreto. Como não foi alvo do julgamento, não podemos
prever o entendimento daquela corte em relação à exibição de pessoas detidas à
imprensa. Certo, no entanto, é que esta é livre naquele país. E parece razoável
pensar que somente a exibição proposital do detido algemado à imprensa seria
considerada um mal objetivamente causado ao suspeito.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Notícias STF, 11ª Súmula Vinculante do STF limita o uso de algemas a casos excepcionais,
2008. Disponível em <http://www.stf.gov.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=94467&cai
xaBusca=N>, Acesso dia 20 de agosto de 2008.
BRAVE, Michael A.; PETERS, Jr., John G. Liability Constraints on Human Restraints. 1993.
Disponível em: <http://www.laaw.com/finalre2.htm>, Acesso em 20 de agosto de 2008.
ESTADOS UNIDOS, Supreme Court of the United States. MICHIGAN V. SUMMERS, 452 U. S. 692
(1981), 1981. Disponível em : <http://www.altlaw.org/v1/cases/398034>, Acesso em 20 de agosto de
2008.
ESTADOS UNIDOS, Supreme Court of the United States. MUEHLER ET AL. v. MENA, 544 U.S. 93
(2005), 2005. Disponível em : <http://a257.g.akamaitech.net/7/257/2422/22mar20051115/www.supre
mecourtus.gov/opinions/04pdf/03-1423.pdf>, Acesso em 20 de agosto de 2008.
LOS ANGELES, Los Angeles Police Department. Manual of the Los Angeles Police Department.
Disponível em : <http://www.lapdonline.org/lapd_manual/>, Acesso em 20 de agosto de 2008.
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Em resumo, a de que os policiais não têm qualquer duty to divert resources from the search to make a
predictive judgment about whether a particular occupant can be freed from handcuffs (dever de desviar recursos
da busca para fazer um julgamento capaz de prever se um ocupante particular pode ser liberado de suas
algemas).