Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação / Reexame
Necessário nº 1056549-92.2016.8.26.0053, da Comarca de São Paulo, em que é apelante DEPARTAMENTO ESTADUAL DE TRANSITO DO ESTADO DE SAO PAULO e Recorrente JUIZO EX OFFICIO, é apelado JOSÉ GERALDO VIEITAS VERGUEIRO.
ACORDAM, em 1ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de
São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso voluntário e ao reexame necessário.V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ALIENDE
RIBEIRO (Presidente sem voto), DANILO PANIZZA E LUÍS FRANCISCO AGUILAR CORTEZ.
São Paulo, 23 de maio de 2017.
Vicente de Abreu Amadei
RELATOR Assinatura Eletrônica Poder Judiciário 2
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
1ª Câmara de Direito Público
VOTO Nº 14.742
APELAÇÃO Nº 1056549-92.2016.8.26.0053 e Reexame Necessário.
APELANTE: Departamento Estadual de Trânsito do Estado de São
Paulo.
APELADO: José Geraldo Vieitas Vergueiro.
INTERESSADO: Coordenador do Departamento Estadual de Trânsito
do Estado de São Paulo Detran.
APELAÇÃO E REEXAME NECESSÁRIO Mandado de
segurança Auto de infração de trânsito e imposição da sanção de suspensão do direito de dirigir Recusa em submeter-se ao teste do bafômetro ou às práticas do art. 277, caput, do CTB, que, por si, abstração à ocorrência/verificação de sinais de alteração da capacidade psicomotora do condutor, não podem justificar a punição pelo art. 165 c.c. art. 277, §3º, ambos do CTB Inteligência das normas do CTB, à luz da Resolução 432/2013 do CONTRAN Sentença concessiva da ordem mantida RECURSO VOLUNTÁRIO E REEXAME NECESSÁRIO DESPROVIDOS.
Trata-se de reexame necessário e apelação interposta pelo
Departamento Estadual de Trânsito do Estado de São Paulo, em mandado de segurança impetrado por José Geraldo Vieitas Vergueiro contra ato do Coordenador do Departamento Estado de Trânsito do Estado de São Paulo - DETRAN, em face da r. sentença (fls. 57/64), que concedeu a segurança, para declarar nulo o Auto de Infração nº 3C178740-6 e, por consequência, a multa por ele imposta e o processo administrativo para aplicação da sanção de suspensão do direito de dirigir (Processo nº 0401483-2/2016), sem condenação de verba honorária.
O apelante pretende a reforma da decisão, sustentando,
em síntese, que o impetrante recusou-se a proceder aos devidos
testes, ao ser barrado por suspeita de direção após a ingestão de
álcool e, portanto, incorreu em conduta tipificada como infração administrativa, pois, conforme o disposto no art. 277, § 3º do CTB, a caracterização da infração independe de se constatar a influência do álcool, porquanto se trata de uma tipificação autônoma, uma nova infração administrativa, de mera conduta, para a qual basta a recusa do condutor.
Interposto o recurso de apelação (fls. 67/70), foi contrariado
(fls. 73/83), e os autos subiram a este E. Tribunal.
É o relatório em acréscimo ao da r. sentença.
Satisfeitos os pressupostos de admissibilidade do recurso,
observando, ainda, que se impõe o reexame necessário do julgado monocrático por força do art. 14, § 1º, da Lei nº 12.016/2009.
Trata-se de mandado de segurança impetrado para anular
auto de infração e a imposição de sanção de suspensão do direito de dirigir aplicada ao ora apelado, por prática de infração de trânsito lavrada em 29/06/2016, consistente na recusa do condutor a submeter-se aos procedimentos do art. 277 do CTB (“teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento que, por meios técnicos ou científicos, na forma disciplinada pelo Contran, permita certificar influência de álcool ou outra substância
psicoativa que determine dependência”), ao ser abordado por policial.
Não se nega que o impetrante, ao ser abordado pelo
policial, recusou-se ao teste etilômetro (“bafômetro”) e, daí, às práticas do art. 277 do CTB (fls. 17/18), que, de fato, podem justificar as penalidades do art. 165 do mesmo CTB, como prevê o §3º do referido art. 277 (“Serão aplicadas as penalidades e medidas administrativas estabelecidas no art. 165 deste Código ao condutor que se recusar a se submeter a
qualquer dos procedimentos previstos no caput deste artigo”).
Ocorre, no entanto, que, para justificar a lavratura do
auto de infração de trânsito e a aplicação da sanção de suspensão de suspensão do direito de dirigir, como ocorreu, não é suficiente a mera recusa do condutor em submeter-se às práticas do art. 277 do CTB, mas é preciso que, com isso, haja, pelo menos, sinais de que houve a direção de veículo sob a influência de álcool ou de outra substância psicoativa.
Em outras palavras, ainda que se dispense a verificação
técnica de embriaguez, e mesmo considerado que a mera direção de veículo sob a influência de substância alcoólica seja suficiente para configurar a infração (especialmente quando agregada à recusa do condutor em submeter-se às práticas do art. 277 do CTB), não se pode olvidar dos sinais de direção de veículo sob essa influência etílica, nos termos do art. 165 do CTB (na redação que lhe deu as Leis nºs 11.705/2008 e 12.760/2012) e da Resolução 432/2013 do CONTRAN, que, aliás, é explicita em seu art. 6º, III, quanto à necessidade dos sinais de alteração da capacidade psicomotora do condutor, na falta de exame de sangue ou teste de etilômetro, para caracterizar a infração do art. 165 do CTB.
Em outras palavras, sem os exames, testes, perícias ou
meios técnicos e científicos de constatação, é necessário, ao menos, indicar a alteração da capacidade psicomotora do condutor pela correlata “verificação dos sinais” (art. 3º, IV, da Resolução 432/2013 do CONTRAN), utilizando-se, para tanto de “prova testemunhal, imagem, vídeo ou qualquer outro meio de prova em direito admitido” (§ 2º da Resolução 432/2013, que está em sintonia com o art. 277, §2º, do CTB, na redação da Lei nº 12.760/2012).
O art. 5º, II, §§ 1º e 2º, da Resolução 432/2013 do
CONTRAN, e seu Anexo II, ademais, detalham em que consistem tais
“sinais de alteração da capacidade psicomotora” (sonolência; olhos
vermelhos; vômito; soluço; desordem nas vestes; odor de álcool no hálito; atitude agressiva, arrogância, exaltação, ironia, falante, dispersão; desorientação no espaço ou no tempo; memória falha; capacidade motora e verbal deficiente, apontando para desequilíbrio ou fala alterada), anotando que não basta um deles, bem como que devem estar descritos no auto de infração ou em termo específico.
E, neste ponto, os elementos dos autos são insuficientes
para infligir a tal autuação, bem como a sanção administrativa ao impetrante, pois são mancos na indicação e na verificação dos apontados sinais: o AIT, a rigor, não aponta sinal algum de direção de veículo sob a influência etílica ou similar (limita-se à assertiva de recusa do condutor a submeter-se às práticas do art. 277 do CTB), para além de constar no campo observações a anotação “condutor não apresentava sinais notórios de embriaguez” (fls. 18), ao passo que no processo administrativo instaurado para a punição não consta o acréscimo de prova alguma (testemunhal, imagem, vídeo etc.) testificadora da verificação dos sinais de alteração da capacidade psicomotora do condutor.
Logo, era de rigor a concessão da ordem impetrada, não
faltando apoio em nossa jurisprudência para tanto:
“ANULATÓRIA. Multa de trânsito. Recusa em fazer o teste do
"bafômetro". Relato da autoridade de que o condutor não apresentava sinal de alteração da capacidade psicomotora. Submissão a um dos procedimentos estabelecidos na Resolução CONTRAN nº 432/13. Inexistência de elementos que permitam concluir pela infringência do art. 165 do CTB, não tendo ocorrido qualquer acidente. Sanção desarrazoada, consideradas as peculiaridades do caso concreto. Precedentes. Sentença reformada. Recurso conhecido e provido” (Ap. nº 1007181-31.2015.8.26.0189, relª. Desª. Vera Angrisani, j. 10/10/2016);
“MULTA DE TRÂNSITO/SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR.
Pretensão de anulação de auto de infração de trânsito e de extinção do procedimento instaurado para suspender o direito de dirigir do
1ª Câmara de Direito Público impetrante Ausência de prova de que o impetrante conduzia o veículo embriagado Recusa à realização do teste do bafômetro que não pode levar à conclusão de que o motorista estava embriagado Aplicação dos arts. 165 e 277 do CTB - Autoridade policial que se recusou a acompanhá-lo à delegacia de trânsito competente para realização do exame clínico pertinente Inexistência de motivo do ato administrativo Anulação do auto de infração que se impõe - Sentença concessiva da segurança mantida Precedente deste Egrégio Tribunal. Recurso desprovido” (Ap. nº 1017175-96.2014.8.26.0196, rel. Des. Oscild de Lima Júnior, j. 20/09/2016).
Outrossim, em relação ao prequestionamento, basta que
as questões tenham sido enfrentadas e solucionadas no v. acórdão, como ocorreu, pois “desnecessária a citação numérica dos dispositivos legais” (STJ, EDCL. no RMS nº 18.205/SP, rel. Min. Felix Fischer, j. 18/04/2006), mas, mesmo assim, para que não se diga haver cerceamento do direito de recorrer, dou por prequestionados todos os dispositivos legais referidos na fase recursal.
Pelo exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso voluntário e