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Dispensacionalismo

O moderno dispensacionalismo sistemático chega à casa dos duzentos anos de


expressão e desenvolvimento. Vivemos um momento em que o
dispensacionalismo e alguns de seus conceitos têm sido propagados e adotados
por grupos de diferentes tradições religiosas. Isso não é surpresa, pois nossa
época se caracteriza pela anti-sistematização e pelo ecletismo na área do
pensamento. Talvez a grande surpresa para alguns seja o fato de que o
dispensacionalismo se desenvolveu e difundiu, durante os seus primeiros 100
anos, entre aqueles que se mantiveram na tradição calvinista reformada.
Somente de 75 a 50 anos para cá é que o dispensacionalismo e algumas de suas
convicções se propagaram, de modo significativo, fora da órbita do calvinismo.

Definições
Antes de prosseguirmos, preciso estabelecer definições funcionais do calvinismo
e dispensacionalismo. Em primeiro lugar, ao mencionar calvinismo me refiro,
principalmente, ao sistema teológico relacionado à doutrina da graça ou
calvinismo soteriológico. Incluem-se nessa categoria o calvinismo estrito e o
modificado (i.e, o calvinismo de cinco pontos e o de quatro pontos,
respectivamente). Refiro-me àquele aspecto do calvinismo que trata da natureza
decaída do ser humano e da graça eletiva de Deus.

Em segundo lugar, ao mencionar dispensacionalismo, faço alusão ao sistema


teológico desenvolvido por J. N. Darby que deu origem à sua moderna ênfase na
interpretação literalcoerente; na distinção entre o plano de Deus para Israel e o
Seu plano para a Igreja; normalmente, no Arrebatamento pré-tribulacional da
Igreja antes da septuagésima semana de Daniel; no pré-milenismo; e na
multiforme proeminência da glória de Deus como o propósito final da história.
Nisso se incluem alguns que, tendo adotado tal sistema, talvez parem, de
repente, de crer no pré-tribulacionismo. O foco da atenção deste artigo é o pré-
milenismo dispensacionalista.

A lógica teológica
Em concordância com o ímpeto calvinista de olhar teocentricamente a história,
creio que o pré-milenismo dispensacional propõe o mais lógico final escatológico
dos decretos soberanos de Deus quanto à salvação e à história. Visto que os pré-
milenistas dispensacionais consideram as promessas divinas, tanto a da eleição
de Israel quanto a da eleição da Igreja, como incondicionais e certas no seu
futuro cumprimento, tal convicção é lógica e coerente com a Bíblia. Um teólogo
aliancista diria que a eleição de Israel era condicional e temporária. Muitos
calvinistas são teólogos aliancistas que acreditam na incondicionalidade e
irrevogabilidade da eleição dentro da Igreja. Estes entendem que o plano divino
para Israel está condicionado à escolha humana, ao passo que o plano de Deus
para a salvação no âmbito da Igreja é, em última análise, um ato soberano dEle.
Não há simetria em tal lógica. Enquanto isso, os pré-milenistas dispensacionais
entendem ambos os atos como uma expressão soberana do plano divino na
história, que vem a ser uma aplicação coerentemente lógica da vontade
soberana de Deus nas questões humanas.

Samuel H. Kellogg, pastor, missionário e educador presbiteriano, escreveu sobre


a lógica entre o calvinismo e o “pré-milenismo futurista moderno”, que em sua
época (1888) era essencialmente dispensacional. “Porém, em geral”, comenta
Kellogg, “pode-se dizer acertadamente que as relações lógicas do pré-milenismo
o aproximam mais intimamente do sistema agostiniano do que de qualquer outro
sistema teológico”.[1] Sua utilização do termo “agostiniano” é uma nomenclatura
mais antiga para o termo “calvinista”. Kellog salienta as diversas áreas nas quais
o calvinismo e o pré-milenismo são teologicamente unânimes. “O pré-milenismo
pressupõe uma antropologia fundamentalmente agostiniana. O calvinismo
comum declara a completa impotência do indivíduo quanto à sua auto-
regeneração e auto-redenção”.[2] Ele prossegue: “é evidente que as
pressuposições antropológicas, nas quais o pré-milenismo parece se basear,
devem trazer consigo uma soteriologia semelhante”.[3] Kellogg fundamenta que
“a afinidade agostiniana da escatologia pré-milenista fica mais evidente. Não há
nada mais acentuado do que a constante insistência dos pré-milenistas de que
[...] a atual dispensação é estritamente eletiva”.4 “Em suma”, conclui Kellogg,
“podemos dizer que aquilo que os pré-milenistas simplesmente afirmam ser o
macrocosmo, os agostinianos em geral declaram ser o microcosmo”.[5]

Isso não quer dizer que dispensacionalismo e calvinismo são sinônimos. Eu


simplesmente argumento que o dispensacionalismo é compatível com certos
elementos do calvinismo, o que proporciona uma resposta parcial para a questão
do dispensacionalismo ter se originado do útero reformado. C. Norman afirma:

Há, por certo, importantes elementos calvinistas do século XVII no


dispensacionalismo moderno, mas estes elementos foram combinados com
ênfases doutrinárias provenientes de outras fontes, a fim de formar um sistema
diferente que, em muitos aspectos, é completamente estranho ao calvinismo
clássico.[6]

Apesar disso, o dispensacionalismo de fato se desenvolveu dentro da


comunidade reformada e, durante seus primeiros 100 anos, a maioria dos
adeptos vinha de um ambiente calvinista. Kraus chega à seguinte conclusão:
“Levando tudo isso em conta, ainda é preciso assinalar-se que as afinidades
teológicas básicas do dispensacionalismo são calvinistas. A esmagadora maioria
de homens envolvidos nos movimentos de conferências bíblicas e proféticas
endossava declarações de fé calvinistas”.[7]

Darby e o Movimento dos Irmãos

O dispensacionalismo sistemático moderno desenvolveu-se nos idos de 1830 por


J. N. Darby e aqueles que faziam parte do Movimento dos Irmãos.

O dispensacionalismo sistemático moderno desenvolveu-se nos idos de 1830 por


J. N. Darby e aqueles que faziam parte do Movimento dos Irmãos. Praticamente
todos esses homens procediam de igrejas cuja soteriologia era calvinista. “Em se
tratando de teologia”, relata H. H. Rowdon, historiador do Movimento dos Irmãos,
“os primeiros Irmãos eram unanimemente calvinistas”.[8] Isso ecoa nas palavras
de um dos fundadores dos Irmãos, J. G. Bellet, que começava sua associação com
o movimento, quando seu irmão, George, escrevendo a seu respeito, disse: “pois
suas convicções decididamente se tornaram mais calvinistas, e acredito que
todos os amigos com quem se associara em Dublin, sem exceção, eram desta
posição”.[9]

Qual era a posição de Darby nessa questão? John Goddard comenta que Darby
“cria na predestinação de indivíduos e rejeitava o esquema arminiano de que
Deus não predestinou aqueles que de antemão sabia que se conformariam à
imagem de Cristo”.[10] Em sua “Letter on Free-Will” (i.e., “Carta Sobre o Livre-
Arbítrio”), Darby deixa claro que rejeita esse conceito. “Se Cristo veio salvar o
perdido, o livre-arbítrio não tem mais razão de ser”.[11] “Creio que devamos nos
apegar à palavra”, prossegue Darby, “mas, filosófica e moralmente falando, o
livre-arbítrio é uma teoria falsa e absurda. Livre-arbítrio é um estado de pecado”.
[12] Em virtude de crer na escravidão do pecado, Darby, logicamente, manteve
sua crença na graça soberana como condição para a salvação:

O desdobramento desse princípio da graça soberana é tal que sem ele ninguém
seria salvo, pois não há quem entenda, não há quem busque a Deus, nenhuma
pessoa que, por seus próprios esforços, consiga um dia ter vida. O julgamento
baseia-se nas obras; a salvação e a glória são fruto da graça”.[13]
Outra evidência do calvinismo de Darby é que ele, pelo menos em duas ocasiões,
foi convidado por calvinistas não-dispensacionalistas para representá-los na
defesa do calvinismo. Um dos biógrafos de Darby, W. G. Turner, registrou a sua
defesa no debate ocorrido na Universidade de Oxford:

Foi numa data mais remota (acredito que em 1831) que F. W. Newman convidou o
Sr. Darby para ir a Oxford: um momento memorável por sua refutação pública
dos argumentos levantados pelo Dr. E. Burton que rejeitavam as doutrinas da
graça defendidas pelos reformadores e sustentadas não somente por Bucer, P.
Mártir e pelo bispo Jewell, mas também pelos artigos IX-XVIII da Igreja Anglicana.
[14]

Noutra ocasião, Darby foi convidado para ir à cidade de Calvino, Genebra, na


Suíça, a fim de fazer uma defesa do calvinismo. Turner declara que “ele refutou o
‘perfeccionismo’ de John Wesley, para alegria da Igreja Livre da Suíça”.[15] Darby
foi condecorado pelos líderes de Genebra com a medalha de honra ao mérito.[16]

E ainda, quando algumas doutrinas reformadas foram criticadas dentro da igreja


a que outrora servira, “Darby assinalou sua aprovação do artigo XVII”, que trata
da eleição e predestinação, “incluso nos trinta e nove artigos da declaração
doutrinária da Igreja Anglicana”.[17] Darby afirmou:

De minha parte, em sã consciência, reputo como sábio o artigo XVII. Talvez possa
dizer que se trata da mais sábia e condensada declaração humana, que eu
conheça, sobre o conteúdo em questão. Estou plenamente satisfeito em
interpretá-lo em seu sentido literal e gramatical. Creio que a predestinação para a
vida é o propósito eterno de Deus, por meio do qual, antes que os fundamentos
do mundo fossem estabelecidos, Ele decretou firmemente salvar dentre a raça
humana aqueles que escolhera em Cristo, pelo Seu conselho que nos é secreto, e
apresentá-los, por intermédio de Cristo, como vasos de honra, para a eterna
salvação.[18]

Scofield, Chafer e o Seminário Teológico de Dallas


A Bíblia de Scofield com Referências é considerada por muitos como a
ferramenta mais eficaz na disseminação do dispensacionalismo nos Estados
Unidos. Foto: C. I. Scofield.

C. I. Scofield (1843-1921), Lewis Sperry Chafer (1871-1952) e o Seminário


Teológico de Dallas (fundado em 1924) foram importantes veículos na
propagação do dispensacionalismo nos Estados Unidos e no mundo. Tanto
Scofield quanto Chafer eram pastores ordenados pela Igreja Presbiteriana.
A Bíblia de Scofield com Referências é considerada por muitos como a ferramenta
mais eficaz na disseminação do dispensacionalismo nos Estados Unidos.[19]
Scofield se converteu a Cristo na meia-idade e, primeiramente, foi discipulado por
James H. Brookes em Saint Louis. Foi ordenado ao ministério da Primeira Igreja
Congregacional de Dallas em 1882 e transferiu suas credenciais ministeriais para
a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos em 1908.[20] Conseqüentemente, seu
ministério se desenvolveu num contexto calvinista.

Scofield foi a maior influência no desenvolvimento teológico de Chafer. John


Hannah menciona que “é impossível entender Chafer sem que se perceba a
profunda influência de Scofield”.[21] Na realidade, “Chafer sempre comparava
esse relacionamento ao de pai e filho”.[22] Tal relacionamento originou-se do
aprendizado de Chafer sob a tutela de Scofield na Conferência de Northfield e da
transformação de vida incentivada pelos estudos de Scofield à frente da Primeira
Igreja Congregacional de Dallas nos primórdios de 1900. Scofield disse a Chafer
que seus dons relacionavam-se mais com a área de ensino do que com a de
evangelismo na qual este tinha atuado. Em seguida, “os dois oraram juntos e
Chafer dedicou a sua vida inteira ao estudo e ao ensino da Bíblia”.[23]

Scofield e Chafer foram dois dos maiores dispensacionalistas americanos e


ambos desenvolveram sua teologia a partir de um contexto reformado. Scofield é
conhecido por sua Bíblia de Estudo e Chafer pela publicação de sua Teologia
Sistemática e pelo Seminário Teológico de Dallas. Jeffrey Richards descreve as
características teológicas de Chafer mencionando que “têm muito em comum
com toda a tradição reformada. Com exceção da escatologia, Chafer é
teologicamente parecido com os expoentes da teologia de Princeton, tais como
Warfield, Hodge e Machen. Reconhecia, de modo semelhante, doutrinas como,
por exemplo, a soberania de Deus [...] a depravação total da humanidade, a
eleição, a graça irresistível e a perseverança dos santos”.[24] C. Fred Lincoln
descreve a obra de Chafer intitulada Systematic Theology (Teologia Sistemática –
publicada em português pela Editora Hagnos. N.T.), como “completa, calvinista,
pré-milenista e dispensacionalista”.[25]

Desde a sua fundação em 1924 com o nome The Evangelical Theological


College (mudado em 1936 para Dallas Theological Seminary), o Seminário de
Dallas causou um impacto de proporções globais a favor do dispensacionalismo.
Seu principal fundador foi Chafer. Entretanto, William Pettingil e W. H. Griffith-
Thomas também desempenharam um papel importante na sua fundação.
Pettingil, à semelhança de Chafer, era presbiteriano. Griffith-Thomas, um
anglicano, escreveu um dos melhores comentários sobre Os Trinta e Nove Artigos
(de Fé) da Igreja Anglicana,[26] que até hoje são largamente utilizados por
anglicanos e episcopais conservadores. Os Trinta e Nove Artigos são fortemente
calvinistas. Esses dois homens eram claramente calvinistas. O Seminário de
Dallas, especialmente antes da Segunda Guerra Mundial, se considerava
calvinista. Certa feita, num folheto de propaganda, Chafer caracterizou a escola
como “plenamente de acordo com a fé reformada e sua teologia é estritamente
calvinista”.[27] Numa carta escrita a Allan MacRae, do Seminário Teológico de
Westminster, Chafer declarou: “Você provavelmente sabe que somos calvinistas
declarados em nossa teologia”.[28] “Em 1925, quando se referia ao corpo
docente do Seminário, Chafer fez uma observação de que quase todos eram
procedentes de igrejas presbiterianas das regiões Sul e Norte do país”.[29] Além
disso, escrevendo a um pastor presbiteriano, Chafer afirmou: “Eu me alegro em
afirmar que não existe instituição, que eu saiba, mais calvinista como um todo,
nem mais ajustada, por inteiro, a esse sistema de doutrina, defendido pela Igreja
Presbiteriana”.[30]

Visto que muitos dos primeiros formandos de Dallas ingressaram no ministério


presbiteriano, iniciou-se uma reação ao seu pré-milenismo dispensacionalista nos
idos de 1930. Não era uma questão de serem ou não calvinistas na sua
soteriologia, mas uma questão referente à sua escatologia. No final da década de
1930, “o Seminário Teológico de Dallas, embora professasse firmemente ser uma
instituição presbiteriana, foi deixado fora do movimento conservador
presbiteriano dissidente”.[31] Em 1944, os presbiterianos do Sul dos EUA
emitiram o relatório de um comitê de investigação da compatibilidade do
dispensacionalismo com a Confissão de Fé de Westminster. O comitê decretou
que o dispensacionalismo não se harmonizava com a confissão de fé da igreja.
Esse “relatório de 1944 foi o golpe que acabou com todas as espectativas futuras
do pré-milenismo dispensacionalista dentro do presbiterianismo do Sul do país”.
[32] Essa deliberação fez com que muitos ex-alunos do Seminário de Dallas
deixassem seus ministérios em denominações de fé reformada e ingressassem no
movimento de Igrejas Bíblicas independentes.

Um aumento na aceitação do dispensacionalismo


Ainda que o dispensacionalismo tenha tido, já na década de 1880, uma modesta
penetração entre os batistas, através de representantes como, por exemplo, J. R.
Graves,[33] um calvinista convicto, estes foram repelidos pelos não-calvinistas
até meados da década de 1920, quando elementos da teologia dispensacionalista
começaram a ser adotados por alguns pentecostais numa tentativa de rebater a
crescente ameaça do liberalismo. Kraus explica:

Alguns professores declararam explicitamente que o pré-milenismo era um


escudo de defesa contra a teologia racionalista. Assim, não é de se admirar a
descoberta de que rudimentos teológicos normativos do dispensacionalismo
tenham concorrido diretamente contra a ênfase da “Nova Teologia” em
desenvolvimento.[34]

Até esse ponto na história, aqueles que eram de tradição arminiana e wesleyana
estavam mais interessados nas questões relativas à santificação pessoal no
presente, do que à atenção calvinista em explicar a obra soberana de Deus no
decurso da história. Contudo, o surgimento da controvérsia fundamentalista-
liberal na década de 1920 despertou um interesse pela defesa da Bíblia contra os
ataques anti-sobrenaturalistas dos críticos liberais, que ultrapassava o âmbito do
calvinismo. O dispensacionalismo foi visto como uma resposta bíblica e
conservadora ao liberalismo, não apenas no meio fundamentalista, mas também,
e cada vez mais, entre os pentecostais e outros grupos. Timothy Weber faz a
seguinte observação:

Em tempo, o dispensacionalismo também teve seus adeptos dentro da tradição


wesleyana. Outros grupos radicais da denominação Holiness repercutiram as
predições dispensacionalistas de declínio da ortodoxia e da consagração nas
igrejas; e os pentecostais descobriram no dispensacionalismo uma ocasião para o
derramamento do Espírito num dia de “chuva serôdia” antes da Segunda Vinda.
[35]

O desenvolvimento do dispensacionalismo no pós-


guerra
Os movimentos fundamentalista/evangélico e pentecostal/carismático se
alastraram rapidamente pelos Estados Unidos depois da Segunda Guerra Mundial
e o dispensacionalismo, por estar relacionado com tais movimentos, também
cresceu rapidamente. Muitas pessoas nascidas durante o “baby-boom” do pós-
guerra cresceram no ambiente de igrejas pentecostais e carismáticas tendo o
dispensacionalismo e o Arrebatamento pré-tribulacional como parte de sua
estrutura doutrinária. Portanto, nem lhes passava pela cabeça que o
dispensacionalismo não era inerente às características específicas de sua
teologia da restauração. Além disso, quando o fundamentalismo não-calvinista se
expandiu depois da Segunda Guerra, especialmente nos círculos batistas
independentes, houve uma ruptura ainda maior dos distintivos
dispensacionalistas em relação às suas raízes calvinistas.

De outro lado, o expurgo do dispensacionalismo por parte do cristianismo


reformado, iniciado no final da década de 1930, foi plenamente concluído. Um
exemplo típico dessa polarização verifica-se em livros como Wrongly Dividing The
Word Of Truth: A Critique of Dispensationalism (“Manejando Mal a Palavra da
Verdade: Uma Crítica ao Dispensacionalismo”) de John Gerstner.[36] Enquanto,
por um lado, admite que “o estranho no dispensacionalismo é que parece ter tido
seus mais fortes defensores em igrejas calvinistas”,[37] Gerstner se opõe tão
fortemente ao dispensacionalismo que se tornou cego para perceber a verdadeira
natureza calvinista de tal teologia teocêntrica. Gerstner alega que ele e outros
teólogos reformados levantaram “um forte questionamento sobre o
dispensacionalismo e suas reivindicações calvinistas”.[38] Parece que pelo fato
de o dispensacionalismo ter se originado numa tradição reformada, como um
rival da teologia aliancista, alguns querem dizer que não pode logicamente ser
calvinista. Esse é o argumento de Gerstner. Entretanto, apesar do seu sofisma
nessa questão,[39] Gerstner não pode anular o fato histórico de que o
dispensacionalismo foi gerado em meio à mentalidade bíblica de uma teologia
nitidamente teocêntrica, por aqueles que defendiam firmemente o calvinismo
soteriológico. A provável razão pela qual a comunidade reformada tomou a
dianteira na crítica da teologia dispensacionalista se encontra no fato de que o
dispensacionalismo nasceu num contexto reformado.

Conclusão
O dispensacionalismo é mais bem entendido como um sistema teológico que
compreende Deus como o Soberano Governante dos céus e da terra e a história
como uma lição na concretização da glória de Deus exibida tanto no céu quanto
na terra.

É justamente pelo fato de que o dispensacionalismo penetrou em quase todas as


formas de protestantismo, que muitos, hoje em dia, talvez fiquem surpresos em
conhecerem de onde procede a sua herança. Em nossos dias de irracionalismo
pós-moderno em que a virtude se constitui em NÃO verificar a coerência dos
pontos da teologia de uma pessoa, precisamos nos lembrar que a teologia da
Bíblia é uma peça de roupa elaborada sem costura. Tudo se sustenta em
conjunto. Se alguém começa a repuxar ou esgarçar um único fio de linha, o
tecido todo corre o risco de se desmanchar.
O dispensacionalismo é mais bem entendido como um sistema teológico que
compreende Deus como o Soberano Governante dos céus e da terra; o homem
como um vice-regente rebelde (junto com alguns anjos); Jesus Cristo como o
Herói da história que salva algumas pessoas por Sua Graça; a história como uma
lição na concretização da glória de Deus exibida tanto no céu quanto na terra. O
dispensacionalismo é uma teologia que, segundo creio, procede exatamente do
estudo bíblico e que reconhece Deus como Deus.

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