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Itabira
2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ – CAMPUS ITABIRA
Itabira
2015
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho:
Aos funcionários da Usina de Triagem e Compostagem pela contribuição que deram ao meu
trabalho aceitando gentilmente a participar das entrevistas realizadas.
Ao Roberto, por todas as informações cedidas, que foram essenciais na realização deste
trabalho.
RESUMO
O gerenciamento e manejo de resíduos sólidos urbanos (RSU) ainda é um grande desafio para
a maioria dos municípios brasileiros, especialmente para os municípios de pequeno porte, em
razão de limitações financeiras e técnicas. Em virtude da relação entre a disposição inadequada
dos resíduos e suas consequências, o estado de Minas Gerais, através do programa “Minas sem
Lixões”, obrigou os municípios mineiros a se posicionarem sobre a problemática do
gerenciamento dos RSU. Assim, os municípios de pequeno porte começaram a buscar
alternativas para a destinação dos RSU sendo recorrente a opção pela implantação de Unidades
de Triagem e Compostagem (UTCs). As UTCs têm sido consideradas uma opção para a
destinação adequada dos resíduos sólidos urbanos em municípios de pequeno porte, por
constituírem um sistema simplificado e que pode proporcionar o tratamento de toda a massa de
resíduos coletada. No entanto, muitas UTCs não têm apresentado o desempenho esperado.
Assim, o objetivo da presente pesquisa foi realizar uma análise do desempenho operacional e
da qualidade ambiental da Usina de Triagem de Compostagem de Resíduos Sólidos do
município de Entre Rios de Minas, Minas Gerais, município de pequeno porte localizado na
região centro-sul do estado de Minas Gerais. Para tanto, foram utilizados como métodos de
pesquisa a observação de campo, entrevistas semiestruturadas e análise documental. Além
disso, foi calculado o Índice de Qualidade de Usinas de Compostagem (IQC). Os resultados da
pesquisa mostraram deficiências em relação à operacionalização e à qualidade ambiental da
UTC de Entre Rios de Minas. Os principais problemas encontrados foram em relação à
localização da usina, ao armazenamento de recicláveis, à triagem dos resíduos e as condições
ergonômicas da mesa de triagem, à disposição dos rejeitos e a falta de participação popular na
coleta seletiva. Dentre as sugestões de melhorias para a UTC obtidas dos funcionários, vale
destacar a inserção de uma correia ou uma esteira transportadora na mesa de triagem, além
disso, como proposta do trabalho têm-se a implantação de uma coleta seletiva efetiva, a qual já
solucionaria grande parte dos problemas apresentados por essa unidade. Apesar das deficiências
encontradas na usina, é importante destacar que a ela tem contribuído de forma positiva para a
melhoria da qualidade ambiental em seus domínios. Com o estudo, espera-se contribuir para a
compreensão do desempenho dessas unidades de tratamento de resíduos tendo em vista a
função para qual elas foram projetadas. Espera-se também que o diagnóstico obtido
eventualmente possa ser utilizado para melhor adequação da UTC do município.
The management of municipal solid waste (MSW) is a challenge for most Brazilian cities,
mainly in small cities due to financial and technical limitation. Due the negative impacts caused
by inappropriate disposal of urban solid waste, the state of Minas Gerais, through the
government program “Minas sem Lixões”, forced the state cities to take a stance on the
problem. Afterwards, the state cities started to adapt their disposal of MSW through the
establishment of the Sorting and Composting Plants or UTCs. The UTCs have been considered
an option of a proper disposal of municipal solid waste, especially in small towns, because they
constitute a simple system that can provide the treatment of all waste collected. However, many
UTCs does not perform as expected. The objective of this study was to analyze the operational
performance and environmental quality of Sorting and Composting Plants located in Entre Rios
de Minas, Minas Gerais, small town located in the south-central region of Minas Gerais. Field
research, semistructured interviews and documentary analysis were used as survey methods for
this purpose. The compost’s quality index was also calculated. The results showed deficiencies
in the UTC’s operational and environmental quality. The main deficiencies found were location
of the plant, the recyclable storage and sorting of waste and the ergonomic conditions of the
sorting table, the disposal of waste and the absence of a popular participation active in waste
selective collection program. Among the improvement suggestions to the UTC made by their
employees, it is worth to highlight the insertion of conveyor belt in the sorting table.
Furthermore, as a survey proposal, we have the implementation of an effective selective
gathering, which already would solve many of the problems presented by this unit. Despite the
deficiencies encountered in the plant, it is important to note that it has contributed positively to
the improvement of environmental quality in their fields. With this study, we expect to
contribute to the understanding these waste treatment units performance and help the municipal
government with the obtained diagnosis to improve the UTC management.
Figura 5.5 - Vista geral das baias de acondicionamento dos recicláveis segregados e
galpão para armazenamento dos recicláveis prensados.................................................... 64
Tabela 3.2 - Destino final dos resíduos sólidos, por unidades de destino dos resíduos
17
Brasil – 1989/2008...........................................................................................................
Tabela 5.1 - Composição gravimétrica dos resíduos encaminhados para a usina nos
68
dois primeiros trimestres de 2008....................................................................................
Tabela 5.4 - Contribuição per capita na geração de resíduos em áreas rurais de alguns
71
países...............................................................................................................................
Tabela 5.5 - Índice per capita de Coleta de RSU nas regiões do Brasil em 2014.............. 71
Tabela 5.6 - Valores arrecadados com a realização do primeiro leilão de 2015 na UTC
75
Entre Rios........................................................................................................................
Tabela 5.7 - Valores atribuídos a cada item de análise de IQC e classificação final para
76
a UTC de Entre Rios de Minas, Minas Gerais..................................................................
Tabela 5.8 – Pontuação obtida com a aplicação do questionário para cada sub-ítem....... 76
DN – Deliberação Normativa
MG – Minas Gerais
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10
2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 12
2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................... 12
2.2 Objetivos Específicos .................................................................................................... 12
3 REVISÃO DA LITERATURA .......................................................................................... 13
3.1 RESÍDUOS SÓLIDOS ................................................................................................. 13
3.1.1 Definições e classificações ...................................................................................... 13
3.1.2 Panorama dos resíduos sólidos no Brasil e em Minas Gerais ............................ 15
3.2 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ......................................................................... 20
3.2.1 Instrumentos legais de gestão de resíduos sólidos em âmbito federal ............... 21
3.2.2 Instrumentos legais de gestão de resíduos sólidos em âmbito estadual ............. 24
3.2.3 Instrumentos legais de gestão de resíduos sólidos em âmbito municipal .......... 28
3.3 GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ..................................................... 30
3.4 OPERAÇÕES QUE COMPÕEM O SISTEMA DE GERENCIAMENTO DOS
RESÍDUOS SÓLIDOS ....................................................................................................... 32
3.4.1 Acondicionamento .................................................................................................. 32
3.4.2 Coleta e transporte ................................................................................................. 33
3.4.3 Transbordo ............................................................................................................. 34
3.4.4 Tratamento ............................................................................................................. 34
3.4.5 Disposição final ....................................................................................................... 37
3.5 USINAS DE TRIAGEM E COMPOSTAGEM ......................................................... 40
3.5.1 Parâmetros de projeto ........................................................................................... 46
3.5.2 Trabalho e operação............................................................................................... 49
3.5.3 Índice de Qualidade de Compostagem ................................................................. 53
4 METODOLOGIA................................................................................................................ 55
4.1 MÉTODO QUALITATIVO ........................................................................................ 55
4.2 MÉTODO QUANTITATIVO ..................................................................................... 58
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ...................................................................................... 61
5.1 Informações sobre o município estudado ................................................................... 61
5.2 Descrição da Usina de Triagem e Compostagem de Lixo de Entre Rios de Minas,
Minas Gerais ....................................................................................................................... 61
5.2.1 Geração e Caracterização dos resíduos ................................................................ 68
5.2.2 Coleta Seletiva ........................................................................................................ 72
5.2.3 Leilão dos recicláveis .............................................................................................. 74
5.3 Índice de Qualidade de Usinas de Compostagem (IQC) ........................................... 75
5.4 Entrevistas ..................................................................................................................... 78
5.4.1 Funcionários ........................................................................................................... 78
5.4.2 Gestor municipal .................................................................................................... 99
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 104
6.1 A UTC Entre Rios ....................................................................................................... 104
6.2 Geração e caracterização dos resíduos ..................................................................... 105
6.3 Coleta Seletiva ............................................................................................................. 106
6.4 IQC ............................................................................................................................... 106
6.5 Entrevistas ................................................................................................................... 107
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 109
10
1 INTRODUÇÃO
Em Minas Gerais, no ano de 2003, foi criado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente
e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), o programa “Minas sem lixões”. O programa visa
induzir melhorias em relação à disposição dos resíduos sólidos urbanos no Estado. Desde então,
através desse programa, tem-se realizado ações e instituído normas legais e parcerias,
objetivando-se erradicar os lixões em Minas Gerais. Assim, as Usinas de Triagem e
Compostagem vêm sendo utilizadas, principalmente em municípios de pequeno porte, por
constituírem um sistema simplificado e que pode proporcionar o tratamento de toda a massa de
resíduos coletada.
Apesar de as UTCs serem uma alternativa para a erradicação dos lixões, principalmente
em cidades de pequeno porte, há ainda diversos problemas relacionados à operação dessas
usinas. Segundo Vimieiro (2012), muitas vezes há contaminação dos funcionários pela matéria
orgânica, tornando o trabalho mais desagradável e o valor dos materiais recicláveis mais baixo
11
para a venda, além disso, para Santos et al. (2007) apud Lange e Andrade (2011), muitas vezes
há também, o despreparo dos gestores municipais em relação à resolução de problemas
relacionados à gestão de resíduos sólidos e funcionamento de UTCs.
2 OBJETIVOS
3 REVISÃO DA LITERATURA
3. 1 RESÍDUOS SÓLIDOS
Na mesma direção, a Lei 12.305 de 2010, que institui a Política Nacional dos Resíduos
Sólidos, define resíduos sólidos como:
Além disso, os resíduos podem ser classificados quanto à sua periculosidade. De acordo
com a ABNT NBR 10004 de 2004, a periculosidade é a característica apresentada por um
resíduo que em função de suas propriedades, físicas, químicas ou infectocontagiosas, pode
apresentar:
No Brasil, o panorama de acesso aos serviços de manejo de resíduos sólidos ainda aponta
para a precariedade de prestação e acesso aos serviços. No estado de Minas Gerais, a realidade
não é distinta. A coleta e a destinação adequada de milhares de toneladas de RSU gerados
diariamente nos municípios brasileiros ainda representam uma grande demanda sanitária
nacional conforme é pontuado a seguir.
Em relação à disposição final desses resíduos, a PNSB 2008 mostra que as regiões Norte
e Nordeste registraram em 2008 as maiores proporções de destinação de resíduos sólidos em
lixões – 89,3% e 85,5%, respectivamente, enquanto os localizados nas regiões Sul e Sudeste
apresentaram, no outro extremo, as menores proporções – 15,8% e 18,7%, respectivamente
(IBGE, 2008).
Na Tabela 3.2 pode-se visualizar o destino final de resíduos sólidos para diferentes formas
de disposição entre 1989 e 2008 no Brasil.
Tabela 3.2 – Destino final dos resíduos sólidos, por unidades de destino dos resíduos
Brasil – 1989/2008.
Ano Destino final dos resíduos sólidos, por unidade de destino dos
resíduos (%).
Vazadouro à céu Aterro Controlado Aterro Sanitário
aberto
1989 88,2 9,6 1,1
2000 72,3 22,3 17,3
2008 50,8 22,5 27,7
Fonte: IBGE (2008).
Os vazadouros a céu aberto (lixões) constituíram o destino final dos resíduos sólidos em
50,8% dos municípios brasileiros, conforme IBGE (2008). Embora este quadro venha se
alterando nos últimos 20 anos, sobretudo nas regiões Sudeste e Sul do país, tal situação se
configura como um cenário de destinação reconhecidamente inadequado, que exige soluções
urgentes e estruturais para o setor.
Percebe-se a evidente carência relativa à destinação adequada dos RSU, que ainda ocorre,
na grande maioria dos municípios, em vazadouros a céu aberto. Considerando-se a quantidade
de resíduo disposto, a situação é mais branda, já que a disposição final já vem sendo realizada
significativamente em aterros controlados e sanitários, especialmente na região Sudeste.
Percebe-se também que as unidades de triagem e compostagem estão presentes pelo país
e recebem parcela desse resíduo a ser disposto. Segundo IBGE (2002), existiam unidades de
reciclagem e unidades de compostagem nos estados do Maranhão, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Espirito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná,
18
Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso. Havia ainda unidades de reciclagem em Mato
Grosso do Sul e Goiás, além de unidades de compostagem em Alagoas, Paraíba e Distrito
Federal.
Além disso, de acordo com IBGE (2008), do total de 259.547 toneladas de resíduos
sólidos coletados por dia no Brasil, 1635 (0,63%) toneladas são destinados a unidades de
compostagem de resíduos orgânicos e 3122 (1,2%) toneladas a unidades de triagem de resíduos
recicláveis.
Porém, atualmente a gestão dos resíduos sólidos urbanos continua sendo um desafio para
os gestores de municípios menores, quer pela insuficiência dos recursos humanos, quer pelos
recursos financeiros limitados dos orçamentos municipais, aliados a não cobrança adequada
pelos serviços prestados, da coleta à disposição final dos resíduos. Na próxima seção este tema
será discutido em maior profundidade.
19
Aterro sanitário 8 25 31 43 53 61 72
Aterro sanitário + - - - 5 5 8 7
UTC
UTC não - 17 34 9 15 15 15
regularizada
Disposição fora do - 1 3 3 2 3 3
estado
AAF’s em - - - 38 72 55 49
verificação
De acordo com a Lei 12.305 de 2010, a gestão integrada de resíduos sólidos é definida
como:
Já para Leite (1997), a gestão de resíduos sólidos pode ser definida como atividades
referentes a decisões estratégicas e à organização do setor para esse fim, envolvendo
instituições, políticas, instrumentos e meios.
Barbosa (2004) observa que a gestão dos resíduos sólidos urbanos depende de três
elementos fundamentais para sua existência e eficácia, quais sejam:
De acordo com Andrade (2010), a gestão dos resíduos sólidos urbanos deve contemplar
questões de aspecto tecnológico e operacional, mas envolve fatores administrativos, gerenciais,
econômicos, ambientais e de desempenho. Sua abordagem deve estar relacionada à prevenção,
à redução e segregação, reutilização, acondicionamento, coleta, transporte, recuperação,
tratamento e destino final.
como o cumprimento das leis vigentes, necessitando de mecanismos financeiros para alcançar
a auto-sustentabilidade das estruturas de gestão propostas, sem a qual o trabalho se deteriorará.
Já para Pugliesi (2010), a gestão integrada de resíduos sólidos deve articular basicamente
três aspectos fundamentais: arranjos institucionais, instrumentos legais e mecanismos de
financiamento que organizem o setor desde o modelo de planejamento e estratégias de atuação
culminando em modelos de execução e medidas de controle e minimização de resíduos.
Para Melo (2012), a gestão municipal de resíduos ainda é um desafio para as cidades
brasileiras: o deslocamento do enfoque na coleta e disposição final feito pela municipalidade
para as ações de prevenção de geração de resíduos sólidos, ao longo de toda cadeia produtiva,
em uma articulação nacional está longe de se tornar realidade.
Ainda segundo Melo (2012), o maior desafio da gestão municipal de RSU é reintroduzir
os resíduos na cadeia produtiva, transformando-os em recursos e não os mobilizando em aterros
sanitários e lixões.
A partir de 1981 a temática ambiental foi mais difundida no país devido à promulgação
da Lei nº 6.938/81, que estabeleceu a Política Nacional de Meio Ambiente, seus objetivos e
instrumentos de aplicação e foi responsável pela criação do SISNAMA – Sistema Nacional de
Meio Ambiente (BRASIL, 1981).
Em 2002 foi publicada a resolução nº 313/2002 por meio do Conselho Nacional de Meio
Ambiente (CONAMA), que dispõe sobre o Inventário Nacional de Resíduos Sólidos
Industriais, que consiste no: “Conjunto de informações sobre a geração, características,
23
Assim, as próximas seções irão tratar sobre os instrumentos legais de planejamento a nível
estadual e municipal.
No artigo 245, parágrafo 1º, inciso VII da Constituição do Estado de Minas Gerais é
estabelecido que o Estado assistirá na liberação de recursos e na concessão de outros benefícios
em favor de objetivos de desenvolvimento urbano e social, atendendo prioritariamente, ao
Município já dotado de plano diretor, incluídas, entre suas diretrizes (...) a manutenção de
sistemas de limpeza urbana, coleta, tratamento e destinação final do lixo urbano (...) (MINAS
GERAIS, 1989).
Ainda segundo a DN COPAM nº 52/2001, todas as cidades mineiras que ainda possuíam
lixões teriam até 14 de dezembro de 2001 para implementar melhorias na área de disposição
final de resíduos sólidos urbanos e adotar o sistema adequado de disposição final de resíduos
como aterros sanitários e unidades de compostagem. Conforme observa Andrade (2010), caso
os municípios se enquadrassem nas exigências os mesmos obteriam o licenciamento ambiental
das áreas de disposição final e por consequência receberiam incentivos fiscais, garantindo a
sustentabilidade econômica aos serviços operacionais de limpeza urbana.
De acordo com Andrade (2010), a fim de facilitar as ações a serem adotadas relativas à
DN nº 52, em 2004, o governo do Estado de Minas Gerais, através da Secretaria de Estado de
Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), criou o programa “Minas sem
lixões” que visa induzir melhorias em relação à disposição dos resíduos sólidos urbanos no
Estado. Desde então, através desse programa, se tem realizado ações e instituído normas legais
e parcerias, objetivando-se erradicar os lixões em Minas Gerais.
De acordo com Andrade (2010), do ponto de vista legal em Minas Gerais, a Fundação
Estadual do Meio Ambiente (FEAM), impõe uma série de condicionantes para o licenciamento
ambiental do sistema de disposição final. Visando à gestão plena dos resíduos gerados, o
licenciamento poderá ser obtido fazendo-se aterro sanitário e/ou unidade de triagem e
compostagem.
Outra Política Estadual de grande importância foi estabelecida pela Lei 13.766 de 2000,
que dispõe sobre a Política Estadual de apoio e incentivo à coleta seletiva dos resíduos sólidos.
É instituído em seu artigo 1 que “O Estado apoiará e incentivará, por meio do Sistema Estadual
de Meio Ambiente, o município que queira implantar em seu território política de coleta seletiva
de lixo, com o objetivo de proteger e preservar o meio ambiente” (MINAS GERAIS, 2000).
O ICMS Ecológico é uma compensação financeira importante e pode ser um vetor para a
ampliação da disposição correta dos resíduos sólidos em Minas Gerais. Diante da importância
desse incentivo fiscal para a área, este tema será discutido em maior profundidade na próxima
seção.
Em Minas Gerais, a Lei nº 12040/1995, conhecida como “Lei Robin Hood", introduziu
novos critérios (sociais, culturais e ambientais) modificando o cálculo de repasse do Imposto
Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS aos municípios. O critério meio ambiente
ou ICMS Ecológico, por sua vez, é dividido em dois subcritérios: Unidades de Conservação e
Saneamento Ambiental (FEAM, 1997).
1
UFIR - Unidade Fiscal de Referência. É um fator de correção do valor dos impostos do Brasil.
28
Campos (2000) apud Andrade (2010) destaca que além do benefício ambiental e
econômico, outro retorno do ICMS Ecológico foi despertar a atenção das administrações locais
e provocar suas iniciativas em relação à necessidade de investir na implantação e manutenção
de sistemas de saneamento.
De acordo com Barbosa (2004), a estrutura mínima necessária à gestão dos RSU
contempla alguns instrumentos nos quais o tema em questão pode e deve ser abordado. São
eles:
a) A Lei Orgânica, que legisla sobre assuntos que afetam os interesses do município, entre
eles a proteção do meio ambiente e melhoria da qualidade de vida local;
b) Lei de Diretrizes Orçamentárias, que deve prever recursos destinados ao plano
municipal de saneamento básico, entre outros;
c) O Código de Posturas, que define e regula a utilização de espaços públicos tratando de
várias questões, entre elas a disposição de resíduos sólidos;
d) A Educação Ambiental, que compreende práticas educativas voltadas para
sensibilização e mobilização da comunidade, visando a promover a transformação cultural
e a melhoria da qualidade ambiental;
e) Mecanismos de sustentabilidade, tais como ICMS ecológico e instituição de taxas ou
tarifas de recuperação de custos.
Assim, pelo artigo 10, inciso XXVII da Lei Orgânica do município de Entre Rios de
Minas, é atribuído ao município promover a limpeza das vias e logradouros públicos, a remoção
29
O Plano diretor do município, no que tange aos resíduos sólidos, estabelece que (ENTRE
RIOS DE MINAS, 2009):
b) Art. 45. Os resíduos orgânicos deverão ser dispostos em aterros adequados, e na medida
do possível, reciclados.
Além disso, de acordo com o Artigo 56 do Plano Diretor do município de Entre Rios de
Minas (ENTRE RIOS DE MINAS, 2009):
Para Lima (2003), a gestão dos resíduos deve contemplar a capacidade de articular ações
normativas, operacionais e financeiras de um município, desenvolvida através de critérios
sanitários, ambientais e econômicos para gerenciar desde a geração destes resíduos sólidos até
a disposição final, devendo esta escolher os procedimentos que causem o menor nível de
impacto ambiental.
De acordo com Espinosa e Tenório (2004) apud Melo (2012), produção de resíduos é
uma característica inerente a todo ser vivo, já que não existe vida ou processo produtivo que
não gere resíduos. Embora não seja o único agente de desequilíbrio no ambiente, a capacidade
do homem de transformar em larga escala os materiais e tornar estáveis substâncias e produtos
faz com que estes sejam inseridos no ambiente em formas que não são reconhecidas e não são
absorvidas pelo meio, nem mesmo a longo prazo.
De acordo com Barbosa (2004), a descarga dos resíduos sólidos nas cidades de todo o
mundo sempre representou sério problema à saúde pública e ao meio ambiente. Depósitos em
áreas urbanas durante séculos, tratados sem os devidos cuidados, sempre estiveram associados
à propagação de doenças, seja diretamente via pessoas e animais coexistindo nestes locais, seja
por meio da contaminação dos mananciais de água, dos solos e dos alimentos.
Assim, para Reichert (1999), o correto manejo dos resíduos sólidos é certamente um dos
principais desafios dos centros urbanos neste início de milênio. Soluções isoladas e estanques
que não contemplam a questão dos resíduos desde o momento de sua geração até a destinação
final, passando pelo seu tratamento, mesmo sendo boas a princípio, não conseguem resolver o
problema como um todo.
Assim, “o gerenciamento de resíduos sólidos inclui todas as funções ligadas aos setores
administrativos, legais, financeiros, de planejamento de engenharia envolvidas nas soluções dos
problemas relacionados aos resíduos sólidos” (ANDRADE, 2006).
O Sistema de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos pode ser operado pelo setor
público ou privado ou pelos dois, com divisão de serviços. Mesmo encarada como uma
atividade típica do setor público, a coleta, o transporte e a reciclagem do lixo podem apresentar
um retorno atraente para o setor privado, desde que a região seja plana e apresente grande
densidade populacional para gerar escala na coleta e reduzir o custo de transporte
(CONTADOR, 2000).
Para os autores, a coleta seletiva é uma etapa importante no gerenciamento dos resíduos
sólidos, uma vez que a segregação maximiza as possibilidades da reciclagem e o
reaproveitamento dos resíduos, minimizando a quantidade de material descartado.
3.4.1 Acondicionamento
De acordo com Cunha e Caixeta Filho (2002), a primeira etapa do processo de remoção
dos resíduos sólidos corresponde à atividade de acondicionamento do resíduo. Podem ser
utilizados diversos tipos de vasilhames, como: vasilhas domiciliares, tambores, sacos plásticos,
sacos de papel, contêineres comuns, contêineres basculantes, entre outros.
33
Castilhos Junior et al. (2003) salientam que o acondicionamento dos resíduos sólidos
deve ser compatível com suas características quali-quantitativas, o que facilita a identificação
e possibilita o manuseio seguro dos resíduos, durante as etapas de coleta, transporte e
armazenamento.
Ainda segundo Cunha e Caixeta Filho (2002), a coleta normalmente pode ser classificada
em dois tipos de sistemas: sistema especial de coleta (resíduos contaminados) e sistema de
coleta de resíduos não contaminados. Nesse último, a coleta pode ser realizada de maneira
convencional (resíduos são encaminhados para o destino final) ou seletiva (resíduos recicláveis
que são encaminhados para locais de tratamento e/ou recuperação).
Segundo Grimberg e Blauth (1998), na coleta misturada, o lixo é coletado misturado nas
fontes geradoras; seu destino poderá ser uma unidade de tratamento e/ou disposição final; e a
coleta seletiva, que é o recolhimento diferenciado de materiais recicláveis já separados nas
fontes geradoras e coletado por um veículo específico).
Cunha e Caixeta Filho (2002) ressaltam que os tipos de veículos coletores são os mais
diversos. Uma primeira grande classificação seria dividi-los em motorizados e não-motorizados
(os que utilizam a tração animal como força motriz). Os motorizados podem ser divididos em
compactadores, que, podem reduzir a 1/3 o volume inicial dos resíduos, e comuns (tratores,
34
coletor de caçamba aberta e coletor com carrocerias tipo prefeitura ou baú). Há também os
caminhões multicaçamba utilizados na coleta seletiva de recicláveis, em que os materiais
coletados são alocados separadamente dentro da carroceria do caminhão.
3.4.3 Transbordo
3.4.4 Tratamento
3.4.4.1 Reciclagem
De acordo com Cunha e Caixeta Filho (2002), a reciclagem é um processo pelo qual
materiais que se tornariam lixo são desviados para ser utilizados como matéria prima na
manufatura de bens normalmente elaborados com matéria-prima virgem. Dentre alguns
benefícios da reciclagem pode-se citar a preservação dos recursos naturais, a redução da
poluição do ar e das águas, a diminuição da quantidade de resíduos a ser aterrada e a geração
de emprego com a criação de usinas de reciclagem.
Segundo Pereira Neto et al. (2000), a reciclagem já é utilizada no Brasil e em várias partes
do mundo pelas indústrias de transformação, onde um programa bem conduzido tende a
desenvolver na população uma nova mentalidade sobre as questões que envolvem a economia
e a preservação ambiental, o cidadão acondicionando corretamente os resíduos de sua
residência passa a se colocar como peça integrante de todo um sistema de preservação do meio
35
ambiente bem maior e mais completo que eu mero espectador de todas as campanhas
comumente veiculadas em favor da preservação da sua própria espécie.
Além disso, Segundo D’Almeida e Vilhena (2000) apud Andrade (2010), para cada
tonelada de papel reciclado são poupadas aproximadamente 20 árvores que além da preservação
das florestas proporcionam uma economia de energia em torno de 70%, com o plástico chega-
se a 50%. Portanto, além do retorno em termos ecológicos temos também economia de energia
e água na produção; também existem vários materiais recicláveis que geram atividade artesanal,
possibilitando que inúmeras pessoas tenham o sustento por meio da confecção e comércio
desses adornos, brinquedos, acessórios feitos, por exemplo, com plásticos de garrafas.
Por outro lado, segundo Cunha e Caixeta Filho (2002), a reciclagem de resíduos sólidos
enfrenta obstáculos como diminuição da qualidade técnica do material, contaminação dos
resíduos e custo comparativamente menor de utilizar matéria-prima virgem na fabricação de
determinados produtos.
3.4.4.2 Compostagem
De acordo com Pereira Neto et al. (2000), a compostagem tem como função eliminar
metade do problema dos resíduos sólidos urbanos, dando um destino útil aos resíduos
orgânicos, evitando sua acumulação em aterro e melhorando a estrutura do solo, devolvendo à
terra os nutrientes de que necessita, aumentando a sua capacidade de retenção de água,
permitindo o controle da erosão e evitando o uso de fertilizantes sintéticos. Esse processo
37
permite tratar os resíduos orgânicos domésticos (restos de comida e resíduos de jardim) bem
como os resíduos provenientes da limpeza de jardins e parques públicos.
3.4.4.3 Incineração
Cunha e Caixeta Filho (2002), citam como vantagens do método de incineração a redução
significativa do volume dos dejetos municipais, a diminuição do potencial tóxico dos dejetos e
a possibilidade de utilização da energia liberada com a queima.
De acordo com Maeda (2013), são conhecidas quatro formas de disposição final de
resíduos domiciliares: Lixão, aterro controlado, aterro em valas e aterro sanitário.
Barbosa (2004) ressalta que as formas de disposição final de resíduos sólidos domésticos
mais difundidas e utilizadas no Brasil são: aterros ou lixões.
Mousinho (2003) define o depósito de resíduos sólidos a céu aberto ou lixão como sendo
uma forma de disposição final, em que o lixo é descarregado sobre o solo, sem qualquer técnica
ou medida de controle, acarretando impactos negativos no ambiente e na saúde humana. São
considerados impactos negativos causados por esse tipo de disposição: poluição visual,
proliferação de vetores causadores de doenças, geração de odores desagradáveis e a
contaminação do solo e das águas pelo chorume.
Cunha e Caixeta Filho (2002), ressaltam que os lixões constituem uma forma inadequada
de descarte final dos resíduos sólidos urbanos. Problemas e inconvenientes, como depreciação
da paisagem, presença de vetores de doenças, formação de gás metano e degradação social de
pessoas, são fatores comuns a todos os lixões.
38
Segundo Barbosa (2004), como forma intermediária entre o lixão á céu aberto e o aterro
sanitário, têm-se o aterro controlado.
De acordo com Boscov (2008), os aterros controlados são locais onde os resíduos são
cobertos com solo e eventualmente compactados, no entanto, sem impermeabilização,
drenagem e tratamento de gases e lixiviado como no aterro sanitário.
Em virtude disso, o estado de Minas Gerais através da SEMAD criou o programa “Minas
Sem Lixões” que, segundo Andrade (2010), tem demonstrado um efeito mobilizador no Estado,
obrigando as prefeituras dos municípios mineiros a se posicionarem sobre a problemática do
gerenciamento de seus resíduos sólidos urbanos. Assim, uma das alternativas indicadas para
resolver essa problemática em municípios de pequeno porte foram as implantações de UTCs,
cujos aspectos serão discutidos de forma mais aprofundada no próximo item.
40
Para Schalch et al. (2002), as usinas de triagem e compostagem têm ampliado o seu
espaço no mercado, graças a fontes de financiamento em bancos de desenvolvimento e devido
ao desenvolvimento tecnológico, embora ainda seja questionada a qualidade do composto
orgânico e o preço pago pelos produtos reciclados nessas instalações.
Vimieiro (2012) observa que estas usinas vêm sendo utilizadas, principalmente em
municípios de pequeno porte, por constituírem um sistema simplificado e que pode
proporcionar o tratamento de toda a massa de resíduos coletada. As Usinas de Triagem e
Compostagem simplificadas são geralmente constituídas das unidades de recepção, mesa ou
esteira de triagem, pátio de compostagem, baias ou galpão para depósito de materiais
recicláveis, instalação de apoio e vala de rejeitos/aterro.
Segundo D’Almeida e Vilhena (2000) apud Andrade (2010), há uma série de fatores que
devem ser considerados para instalação de uma usina de triagem e compostagem, assim,
algumas recomendações no âmbito industrial, em função da quantidade de lixo gerado e
coletado devem ser seguidas:
2
Peça por onde escorrem os resíduos para mesa de triagem.
42
b) Unidade para processamento com cerca de 50 t/dia: É uma unidade um pouco maior que
a anterior. Neste caso, a recepção consta de um fosso que serve como pulmão que
alimenta, por meio de pólipo com braço articulado ou outro tipo de transportador, uma
moega, que por sua vez alimenta a esteira de triagem; denominado processo de
compostagem com reviramento mecânico. Essas usinas estão esquematizadas na Figura
3.3.
43
Figura 3.3 - Esquema de uma unidade de triagem e compostagem com cerca de 50t/dia
De acordo com Bley Jr. (2009), a grande justificativa de construir essas unidades reside
nas vantagens diretas de saneamento com redução de volumes a aterrar, tornando-se uma opção
essencial dos administradores públicos que através da adoção do processamento dos resíduos
sólidos em unidade de triagem e compostagem encontram uma saída segura e de longo prazo
para a problemática do gerenciamento desses. Outra vantagem é o acesso aos materiais na forma
de sucatas que depois de classificadas e descontaminadas das impurezas seguem para a
reciclagem, abrindo novo ciclo econômico para as matérias-primas que seriam aterradas e,
principalmente, a redução de impactos ambientais, visto que a geração de líquidos percolados,
de gases e a proliferação de animais vetores, igualmente degradam as condições ambientais dos
locais de disposição final e em volta desses locais.
Segundo Vimieiro (2012), não há normas técnicas elaboradas pela Associação Brasileira
de Normas Técnicas – ABNT que orientem o projeto e a execução das usinas de triagem e
compostagem, sendo utilizadas como referências a NBR 8419/1992 – Apresentação de Projetos
de Aterros Sanitários de Resíduos Sólidos Urbanos, a NBR 13896/1997 – Aterros de Resíduos
Não Perigosos – Critérios para Projeto, Implantação e Operação, e a experiência prática
adquirida pelos profissionais ao longo do tempo.
46
Segundo Freire (2003), os módulos básicos das URC são compostos por prédio de
recepção e triagem (inclusive depósito, banheiros, escritório e cozinha), depósitos e baias para
armazenamento dos materiais recicláveis, pátio de compostagem e aterro de rejeitos. Os
equipamentos eletromecânicos geralmente incluídos são esteira rolante para triagem, prensa
para enfardamento e peneira rolante para o composto.
Para Abreu et al. (2008), apenas em municípios de maior porte justifica-se o uso de
esteiras para a triagem, pois essa requer um custo de implantação adicional e também apresenta
significativo custo de manutenção. Além disso, uma pane no equipamento pode interromper o
processo de triagem, levando a uma indesejável descontinuidade de operação.
Alguns dos parâmetros de projeto indicados por Abreu et al. (2008) são apresentados nas
Tabelas 3.5 e 3.6.
48
Para a operação dos aterros de rejeitos, consta no projeto básico que devem ser executadas
valas de 3,0 metros de largura por 2,0 metros de profundidade, com fundo impermeabilizado.
O material deve ser aterrado em camadas subsequentes, procedendo-se à compactação da
produção diária de rejeitos. Os resíduos de saúde e construção civil podem ser dispostos
provisoriamente no aterro de rejeitos, em valas separadas e identificadas até que sejam adotadas
49
soluções específicas e definitivas para os mesmos. (UFV- Projeto Básico ,1997 apud
BARBOSA, 2004).
A Deliberação Normativa COPAM nº 118 de 2008, estabelece em seu Artigo 3 que para
a escolha da localização da área, implantação e operação de depósito de lixo, são exigidos os
seguintes requisitos mínimos: a localização em área não sujeita a eventos de inundação, situada
a uma distância mínima de 300 metros de cursos d’água ou qualquer coleção hídrica e em área
situada a uma distância mínima de 500 metros de núcleos populacionais (MINAS GERAIS,
2008).
Todos esses parâmetros são considerados por seus idealizadores como essenciais para
garantir a viabilidade dos projetos e a sustentabilidade operacional e financeira das Unidades
de Triagem e Compostagem.
Além disso, para garantir o bom funcionamento de uma UTC é necessário uma boa
operacionalização da mesma, diante disto, este tema será tratado na próxima seção.
De acordo com Vimieiro (2012), se for comparada à realidade dos lixões, o trabalho nas
UTC seria realizado em condições aparentemente mais seguras e higiênicas, com a utilização
de equipamentos de segurança que protegeriam, especialmente os funcionários que
permanecem junto à mesa ou esteira de triagem, do contato direto com os resíduos. No entanto,
como geralmente não há separação prévia nos locais de geração dos resíduos recebidos pelas
usinas, ocorrendo a contaminação desses por matéria orgânica, o trabalho torna-se mais
desagradável e o valor dos materiais recicláveis mais baixo para a venda.
Para Gonçalves (2006), “não há nenhuma usina brasileira que seja, sequer,
autosustentável” e, na tentativa de reverter essa situação de déficit, opta-se por buscar um
aumento da produção dos trabalhadores na triagem, exigindo uma seleção mais rigorosa dos
materiais com um número menor de trabalhadores. Entretanto, as condições em que essa
atividade é realizada, “rasgando sacos de lixo para depois apanhar o que interessa no meio de
todo tipo de dejeto que se possa imaginar”, muitas vezes não permite que esse objetivo seja
alcançado.
50
Além disso, também segundo a FEAM (2006), os procedimentos diários de recepção dos
resíduos devem ser:
operação da unidade, uma vez que, se essa estiver em péssimas condições de operação, o valor
máximo do índice será 6,0, enquadrando-a dentre aquelas que apresentam “condições
inadequadas”.
Ainda segundo a autora, devem-se destacar alguns pontos que chamam a atenção no IQC:
sua denominação e a variação dos pesos dos parâmetros que o compõem. Pode-se considerar
incompleta a denominação “Índice de Qualidade de Usinas de Compostagem”, já que o índice
apresenta parâmetros como “Esteira de catação”, “Baias para material triado”, “Triagem na
esteira” e “Qualidade do material reciclado” que indicam a avaliação de unidades de triagem e
compostagem de resíduos sólidos urbanos e não somente de compostagem.
Prado Filho e Sobreira (2007), destacam que o uso dessa ferramenta pode trazer
distorções na pontuação final das unidades avaliadas, uma vez que o índice é pontuado
qualitativamente e representa observações expeditas realizadas no momento da avaliação,
podendo variar com o modo de aplicação por diferentes profissionais e o rigor técnico de cada
um deles.
Ainda segundo Prado Filho e Sobreira (2007), apesar das deficiências constatadas e na
ausência de outros instrumentos de avaliação, a metodologia utilizada permite uma
uniformização de procedimentos, a avaliação qualitativa e a evolução do desempenho técnico-
operacional e ambiental de UTC, sendo de fácil aplicação e baixo custo.
Sendo assim, o IQC é uma ótima ferramenta para avaliar a qualidade ambiental de
UTCs, apesar de ter sido desenvolvida para a realidade do estado de São Paulo, ela é adaptável
à realidade mineira, tendo sido utilizada em outros estudos, como o de Prado Filho e Sobreira
(2007).
55
4 METODOLOGIA
O presente trabalho trata-se de um estudo de caso. De acordo com Yin (1994), essa é a
estratégia mais indicada para pesquisas que se orientam por perguntas do tipo como ou por quê,
visto que se pretende analisar como é o funcionamento e a operação da UTC Entre Rios.
...a pesquisa qualitativa se preocupa com um nível de realidade que não pode ser
quantificado, ou seja, ele trabalha com o universo de significados, motivos,
aspirações, valores, atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das
relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos a
operacionalização de variáveis.
Para Minayo (2001), entende-se pesquisa como um processo no qual o pesquisador tem
...uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo
intrinsecamente inacabado e permanente, pois realiza uma atividade de aproximações
sucessivas da realidade, sendo que esta apresenta “uma carga histórica” e reflete
posições frente à realidade.
b) Etapa 2 – Trabalho de campo: Nesta etapa foi estabelecido contato com a prefeitura
do município a fim de se ter acesso à usina para a realização de entrevistas e coleta de
dados;
56
Para Duarte (2002), as situações nas quais se verificam os contatos entre pesquisador e
sujeitos da pesquisa configuram-se como parte integrante do material de análise. Ainda segundo
a autora, registrar o modo como são estabelecidos esses contatos, a forma como o entrevistador
é recebido pelo entrevistado, o grau de disponibilidade para a concessão do depoimento, o local
em que é concedido, a postura adotada durante a coleta do depoimento, gestos, sinais corporais
e/ou mudanças de tom de voz etc., tudo fornece elementos significativos para a
leitura/interpretação posterior daquele depoimento, bem como para a compreensão do universo
investigado.
Ainda segundo Duarte (2002), formas de contato como conversas informais em eventos
dos quais participam pessoas ligadas ao universo investigado (desde que registradas de algum
modo – de preferência, no diário de campo) e coleta de informações adicionais podem também
integrar estratégias de investigação qualitativa.
De acordo com Bandeira (2004), basicamente pode-se adotar como método de coleta de
dados a utilização de documentos, a observação de comportamentos ou então a informação dada
pelo próprio sujeito, seja oralmente (entrevistas) ou de forma escrita (questionários auto
administrados).
De acordo com Souza et al. (2011), a análise documental consiste em identificar, verificar
e apreciar os documentos com uma finalidade específica e, nesse caso, preconiza-se a utilização
de uma fonte paralela e simultânea de informação para complementar os dados e permitir a
contextualização das informações contidas nos documentos.
Assim, para, Ludke e André (1986) apud Abreu (2004), a análise documental constitui
uma técnica importante na pesquisa qualitativa, seja complementando informações obtidas por
57
outras técnicas, seja aplicando aspectos novos de um tema ou problema, visto que utiliza-se de
materiais que não receberam tratamento analítico.
Para Queiroz (1988), a entrevista semiestruturada é uma técnica de coleta de dados que
supõe uma conversação continuada entre informante e pesquisador e que deve ser dirigida por
este de acordo com seus objetivos. Desse modo, da vida do informante só interessa aquilo que
vem se inserir diretamente no domínio da pesquisa
3
Um pré-teste é a aplicação de um questionário ou entrevista a uma amostra de indivíduos, ainda preliminar, com
o objetivo de identificar potenciais problemas.
58
Após a transcrição das informações, inicia-se a análise dos dados. A forma de tratamento
mais utilizada é a Análise de Conteúdo, que consiste na leitura detalhada de todo o material
transcrito, na identificação de palavras e conjuntos de palavras que tenham sentido para a
pesquisa, assim como na classificação em categorias ou temas que tenham semelhança quanto
ao critério sintático ou semântico (OLIVEIRA et al, 2003 apud ANDRADE, 2010).
Como a análise de conteúdo constitui uma técnica que trabalha os dados coletados,
objetivando a identificação do que está sendo dito a respeito de determinado tema, há a
necessidade da decodificação do que está sendo comunicado. Para a descodificação dos
documentos, o pesquisador pode utilizar vários procedimentos, procurando identificar o mais
apropriado para o material a ser analisado, como análise léxica, análise de categorias, análise
da enunciação, análise de conotações (CHIZZOTTI, 2006, p. 98).
de uma população. Esse tipo de pesquisa usa medidas numéricas para testar constructos
científicos e hipóteses, ou busca padrões numéricos relacionados a conceitos cotidianos.
Assim, para esta pesquisa será utilizado um questionário proposto pela CETESB para
avaliar a qualidade ambiental de Usinas de Compostagem, o Índice de Qualidade de Usinas de
Compostagem (IQC).
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A UTC Entre Rios obteve Licença de Instalação em julho de 1998 e seu certificado de
Licença de Operação, de número 809/2000, foi concedido pela COPAM em 22 de Dezembro
de 2000, assim, suas atividades foram iniciadas em Janeiro de 2001. Atualmente, a Usina está
autorizada a funcionar para a atividade de tratamento e/ou disposição final de resíduos sólidos
urbanos enquadrada na Deliberação Normativa 74/2004 e é classificada como empreendimento
de Classe I (Pequeno porte ou pequeno ou médio potencial poluidor), visto que recebe
62
Cabe ressaltar que a UTC analisada, encontra-se próxima a um curso d’água e a núcleos
populacionais (Figura 5.3). Por esta razão, verificou-se, com o auxílio da ferramenta Régua do
Google Earth a distância das valas encerradas e valas em utilização dos núcleos populacionais
e do curso d’água.
63
Os resultados dessa análise indicam que as valas em utilização estão localizadas a cerca
de 160 metros do curso d’água e as encerradas à cerca de 170 metros. Em relação ao núcleo
populacional, verificou-se que as valas em utilização estão localizadas a 350 metros e as valas
encerradas estão a 300 metros de distância do núcleo.
Portanto, a localização da Usina não atende aos requisitos mínimos estabelecidos pela
Deliberação Normativa nº 118 de 2008, o que pode ocasionar contaminação dos mananciais de
água pelo chorume, além da proliferação de vetores causadores de doenças, geração de odores
desagradáveis causando desconforto e riscos à saúde para a população de entorno.
Além disso, percebe-se que o entorno da UTC apresenta atualmente vegetação nativa e
pastagens, além da área de núcleo populacional (Figuras 5.2 e 5.3). Vale destacar que é
essencial que não ocorra uma alteração do uso do solo atual, principalmente que propicie
adensamento populacional na região.
A Usina consiste em uma unidade simplificada composta por oito unidades: 1) Galpão de
recepção e triagem dos resíduos; 2) Baias para acondicionamento dos materiais recicláveis
segregados; 3) Galpão para armazenamento dos recicláveis prensados; 4) Pátio de
compostagem revestido com uma camada de concreto; 5) Valas para aterramento de rejeitos;
6) Valas para aterramento de resíduos de serviços de saúde (encerradas); 7) Unidade de apoio
64
Figura 5.4 – Vista geral da Unidade de Figura 5.5 – Vista geral das baias de
apoio e do galpão de recepção e triagem de acondicionamento dos recicláveis
resíduos. segregados e galpão para armazenamento
dos recicláveis prensados.
Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2015. Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2015.
Figura 5.6 – Pátio de compostagem. Figura 5.7 – Mesa de triagem
Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2015. Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2015
Figura 5.8 – Acesso à vala de rejeitos. Figura 5.9 – Vala de rejeitos.
Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2015. Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2015.
65
A mesa de triagem, local no qual deve ser realizada a separação manual dos resíduos, é
de concreto e azulejada na parte superior. A mesa de triagem, de acordo com a FEAM (2006),
pode ser de concreto ou metal e deve ter altura aproximada de 90 cm para possibilitar aos
funcionários adequada operação. Pôde-se verificar durante as visitas de campo que a altura da
mesa precisa ser remanejada visto que alguns funcionários precisam abaixar para fazer a
separação dos resíduos, e segundo Abreu et al. (2008), a altura da mesa de triagem precisa ser
ergonomicamente compatível para o espalhamento e seleção dos materiais.
isolado das demais unidades da usina, como recomenda a FEAM (2006) e percebeu-se que o
local é bem sinalizado com placas de advertência com relação ao acesso e ao uso de EPI’s.
A UTC não recebe resíduos provenientes de construção civil e nem animais mortos.
As unidades de apoio são de fácil acesso e higienizadas. Percebe-se que o odor se torna
desagradável quanto mais próximo das leiras de compostagem. Isto porque a decomposição da
matéria orgânica pode ocorrer na presença de oxigênio (aeróbio) e na sua ausência (anaeróbio).
Uma compostagem mal conduzida pode levar a oxidação anaeróbia, acompanhada de
putrefação e mau cheiro eliminado na atmosfera, assim, o odor desagradável pode ser reduzido
por revolvimento da leira, transformando o processo de anaeróbio para aeróbio.
Há também na usina um viveiro de mudas em que são cultivadas espécies de plantas que
são usadas na ornamentação da UTC e também em pontos da cidade, como praças e jardins.
Há presença de área verde na entrada da UTC, o que constitui uma área de proteção com
cercas vivas, além disso, há canaletas para drenagem pluvial, conforme recomenda a FEAM
(2006), no seu manual de Orientações Básicas para a Operação de Usina de Triagem e
Compostagem de Lixo, visto que a implantação de cercas-vivas preserva a privacidade do
trabalhador, além de evitar o acesso de animais e de pessoas não autorizadas na área da usina.
Nas figuras 5.11 e 5.12 pode-se visualizar a presença de cercas-vivas e canaletas de drenagem.
Figura 5.11 – Canaleta de drenagem na Figura 5.12 – Cerca viva ao fundo do pátio
entrada da UTC. de compostagem.
Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2015. Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2015.
.
funcionários fazem a recepção dos resíduos, dois pela limpeza, dois pela manutenção, um pela
baia dos recicláveis e dois pelo tratamento de efluentes líquidos. Além disso, cinco funcionários
são responsáveis pela coleta de resíduos.
Durante visitas de campo, percebeu-se que a triagem (Figura 5.7) ocorre de forma
desorganizada, devido à grande quantidade de resíduos e ao reduzido número de funcionários,
além disso, nem todos os funcionários usam os EPIs necessários nas atividades que executam,
principalmente luvas e botas, como recomenda o manual de orientações básicas para a operação
de Usina de Triagem e Compostagem de lixo da FEAM (2006). Esse panorama sugere uma
inadequação da operação da usina que tem como consequência riscos à saúde dos funcionários.
Tabela 5.1 – Composição gravimétrica dos resíduos encaminhados para a usina nos
dois primeiros trimestres de 2008.
Percebe-se que os recicláveis representam 34,8% do total dos resíduos que foram
encaminhados à usina, seguido da matéria orgânica com 33,81%. A fim de comparação,
apresenta-se na Tabela 5.2 a composição gravimétrica do município de Lagoa Dourada, Minas
Gerais, obtido do estudo de Brandão (2006), município também de pequeno porte com 12.256
habitantes (IBGE, 2010) e localizado na mesma região, a cerca de 30 Km do município de
estudo.
Porém, de acordo com Brandão (2006), o percentual de matéria orgânica obtido é pouco
provável em localidades onde é comum a utilização de restos de comida na alimentação de
animais domésticos, assim como a utilização de cascas de frutas e resíduos de poda de jardins
para adubar o terreno.
Sabe-se que em boa parte dos pequenos municípios brasileiros a população urbana vive
em condições muito parecidas com aquelas em que vivem algumas comunidades rurais, assim,
o desperdício nessas localidades é mínimo, o que justifica a baixa quantidade de matéria
orgânica encontrada para o município de Entre Rios de Minas.
Tabela 5.3 – Quantidade média de resíduo destinada a UTC Entre Rios em toneladas/mês nos
últimos trimestres de 2014 e primeiro trimestre de 2015.
Período Total de Materiais potencialmente recicláveis MOP Resíduos
resíduos Papel e Vidro Plástico Metal Outros encaminhados
papelão para as valas
de rejeitos
3º 166,90 8,10 2,20 7,50 2,10 2,10 38,60 106,30
trimestre 100% 4,8% 1,3% 4,5% 1,2% 1,2% 23,1% 63,7%
de 2014
4º 174,30 8,30 2,30 7,70 2,00 2,20 39,50 112,30
trimestre 100% 4,8% 1,3% 4,4% 1,1% 1,3% 22,7% 64,4%
de 2014
1º 180,50 7,60 2,30 7,30 2,30 2,00 41,70 117,30
trimestre 100% 4,2% 1,3% 4% 1,3% 1,1% 23,1% 65%
de 2015
Média 173,90 8,00 2,27 7,50 2,13 2,10 39,93 112,00
100% 4,6% 1,3% 4,3% 1,2% 1,2% 23% 64,4%
A partir dos dados apresentados na Tabela 5.3, pôde-se calcular a produção per capita de
resíduos, que relaciona a quantidade de resíduos gerada diariamente e o número de habitantes
que a gerou, assim, considerou-se a média da quantidade de resíduo destinada a UTC (173.900
Kg) e o número de habitantes das residências da zona urbana do município, que é de 9.879
habitantes, de acordo com o censo do IBGE/2010. Assim, o resultado encontrado para a
produção per capita foi de 0,567 Kg/hab.dia.
mineiros de pequeno porte, onde em geral, a população é muito carente e, por conseguinte, o
desperdício é mínimo.
Tabela 5.4 - Contribuição per capita na geração de resíduos em áreas rurais de alguns países.
País Local Contribuição per capita
(Kg/hab.dia)
Holanda 130 comunidades rurais 0,69
Argélia 14 povos rurais 0,46
Chile Zonas rurais 0,3
Peru Zonas Rurais 0,2 -0,4
Fonte: OPS, 1997 apud BRANDÃO, 2006.
Tabela 5.5 – Índice per capita de Coleta de RSU nas regiões do Brasil em 2014.
Regiões 2014
RSU Coletado (t/dia) Índice (Kg/hab./dia)
Norte 12.458 0,722
Nordeste 43.330 0,771
Centro-Oeste 15.826 1,040
Sudeste 102.572 1,205
Sul 21.047 0,725
BRASIL 195.233 0,963
Fonte: Adaptado ABRELPE, 2014.
Além disso, os dados apresentados pela Tabela 5.3 indicam a quantidade de resíduos que
puderam ser separados durante a triagem (materiais potencialmente recicláveis e MOP), o
restante é o que foi encaminhado para a vala de rejeitos. Vale destacar que dentre os resíduos
que foram encaminhados para as valas, certamente há materiais que poderiam ser tratados, ou
seja, matéria orgânica e materiais potencialmente recicláveis.
Pode-se perceber que, em média, 64% dos resíduos que chegaram à usina foram
encaminhados para a vala de rejeitos, ao comparar esse valor com a composição gravimétrica
obtida em 2008, no qual os rejeitos eram cerca de 31% de todo resíduo encaminhado para a
72
usina, percebe-se que cerca de 30% dos resíduos que poderiam receber tratamento são
encaminhados diretamente para as valas.
Diante desse fato, é possível inferir que não há um triagem eficiente dos resíduos, o que
ocasiona um maior volume de resíduo indo diretamente para as valas. Porém, é muito
importante destacar a grande dificuldade operacional que a usina enfrenta, pois há muita
dependência da separação prévia dos resíduos, e, além disso, é grande a quantidade de resíduo
que chega para um pequeno número de funcionários, por isso, é preciso que essa separação seja
feita de maneira que os trabalhadores consigam triar toda a massa de resíduos durante o
expediente de trabalho, assim, não é possível que haja uma triagem totalmente eficiente.
Assim, percebe-se que essas usinas passam por dificuldades operacionais, o que traz uma
consequente “ineficiência”. Porém, vale destacar que mesmo a Usina de Triagem e
Compostagem sendo um tratamento e disposição final adequados para os resíduos produzidos
no município, ela se apresenta bastante dependente da colaboração do público atendido, assim
seria desejável que esse público entregasse os materiais separados pelo menos nas categorias
de recicláveis (lixo seco) e lixo orgânico (lixo úmido).
Percebe-se que mesmo com as campanhas realizadas, a maioria da população ainda não
contribui com a coleta seletiva, tornando o trabalho dos funcionários ainda mais árduo durante
a triagem dos resíduos.
Portanto, acredita-se que devem ser realizadas mais campanhas de educação ambiental
no município que estimulem a conscientização e o conhecimento da população sobre a
importância para uma UTC da separação prévia dos resíduos nos locais de origem, e assim haja
sensibilização com o problema, podendo com isso interferir no que diz respeito ao
desenvolvimento do município e também na melhoria da qualidade de vida.
74
Os valores arrecadados com o primeiro leilão realizado em 2015 são listados na Tabela
5.6.
75
Tabela 5.6 – Valores arrecadados com a realização do primeiro leilão de 2015 na UTC
Entre Rios.
Tabela 5.7 – Valores atribuídos a cada item de análise de IQC e classificação final para
a UTC de Entre Rios de Minas, Minas Gerais.
São apresentados na Tabela 5.8 todos os pontos obtidos para sub-itens do questionário
aplicado.
76
Tabela 5.8 – Pontuação obtida com a aplicação do questionário para cada sub-ítem.
Características do local
Sub-ítem Peso Máximo Pontos
Proximidade de núcleos 4 1
habitacionais
Proximidade de corpos 4 2
d’água
Profundidade do lençol 1 1
freático
Permeabilidade do solo 2 1
Condições do sistema viário, 2 2
trânsito e acesso
Isolamento visual da 2 2
vizinhança
Legalidade da localização 4 4
Infraestrutura implantada
Sub-ítem Peso Máximo Pontos
Aterro sanitário para rejeitos 20 10
Cercamento da área 1 1
Balança 2 0
Portaria ou guarita 2 2
Controle de recebimento de 2 2
cargas
Poço de recepção ou 4 4
tremonha
Esteira de catação 5 0
Pátio de cura 4 4
Impermeabilização do pátio 5 5
de cura
Equipamentos para revidade 2 2
de leiras
Baias para material triado 3 3
Cobertura das baias 2 1
Prensas para material triado 1 1
Peneira para composto 1 1
curado
Instalações de apoio 3 1
Drenagem de líquidos 2 2
percolados
Drenagens de águas pluviais 2 2
Sistema de tratamento de 2 2
líquidos percolados
Monitoramento de águas 2 0
subterrâneas
77
Através de visitas a campo, constatou-se que essa unidade apresentava deficiência nas
instalações, além de problemas operacionais. É importante destacar que os sub-itens que mais
contribuíram para a queda global do IQC foram, no item características do local, a proximidade
de núcleos habitacionais, proximidade de corpos d’água; no item infraestrutura implantada,
aterro sanitário para rejeitos, balança, esteira de catação e monitoramento de águas subterrâneas
e no item condições operacionais, a triagem na esteira e o funcionamento do sistema de
tratamento de líquidos percolados.
das condições operacionais, pode-se constatar através dos relatórios de controle operacional
que a triagem na esteira é realizada de forma regular.
Porém, é importante destacar que a UTC recebe incentivos do ICMS Ecológico e observa-
se que mesmo apresentando deficiências, ela segue parte das orientações técnicas e as
exigências da FEAM.
5.4 Entrevistas
5.4.1 Funcionários
Na Tabela 5.9 são apresentadas algumas informações gerais sobre os funcionários das
usinas que foram entrevistados.
Percebeu-se que a maioria dos funcionários são do sexo masculino e que quase metade
dos funcionários entrevistados trabalham na usina desde que ela começou a sua operação em
2001.
Informa- Identificação
ções F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 F8 F9 F10 F11
Duração 00:09:20 00:10:23 00:12:12 00:10:25 00:19:45 00:10:40 00:14:36 00:10:41 00:02:05 00:12:40 00:10:45
da
entrevista
Idade 50 anos 45 anos 50 anos 48 anos 56 anos 57 anos 47 anos 60 anos 51 anos 34 anos 64 anos
Sexo Fem. Fem. Masc. Fem. Masc. Masc. Masc. Masc. Masc, Masc. Masc.
Escolari- 2º grau 1º grau 1º grau 2º grau 1º grau 1º grau 1º grau 1º grau 1º grau 1º grau 1º grau
dade completo incomple incomple completo incomplet incomplet incomplet incomplet incomplet incomplet incomplet
to to o o o o o o o
Parte da Não tem Não tem Não tem Não tem Não tem Prensa Não tem Não tem Não tem Não tem Não tem
usina em lugar lugar lugar lugar lugar lugar lugar lugar lugar lugar
que específic específic específic específic específico específico específico específico específico específico
trabalha o o o o
Tempo de 14 anos 14 anos 4 anos 8 anos 14 anos 14 anos 3 anos 14 anos 2 anos e 6 1 ano e 2 3 anos e 5
trabalho meses meses meses
na usina
80
As perguntas dentro de seus temas e as ideias centrais encontradas nas respostas são
apresentadas a seguir.
Tem que ser nós ne?! Eu acho que cada morador tem responsabilidade pelo seu lixo.
Neste discurso, percebe-se que a maioria dos funcionários da usina tem a consciência que
o primeiro responsável pelo lixo é aquele que o produz.
Hum... Tem que ser a prefeitura, não funciona sem a prefeitura ne?!
sólidos, porém, sabe-se que a responsabilidade passa a ser da prefeitura a partir do momento
em que o resíduo é acondicionado em sacos e colocado na rua para a sua coleta.
Ideia Central C - Cada um na sua casa juntamente com a prefeitura (1 sujeito, 9,1%)
Ah eu acho que a responsabilidade é de cada um né?! De cada um... da prefeitura também né?!
Acho que seria um conjunto né?! Que a pessoa da casa tem que ter né?! Eu acho assim, entendo
assim, a prefeitura também tem que ter né?!
Coleta seletiva eu sei... que é a separação né?! Dos materiais né?! Separação dos materiais.
Percebe-se que esse grupo de funcionários tem a ideia de que a coleta seletiva seria a
separação do resíduo produzido, porém, não deixam claro como seria essa separação.
Coleta seletiva? É o lixo né?! É o lixo seco né?! E a separação do que já vem...tem o lixo seco
e o lixo molhado né?! Que é resto de comida...fruta, essas coisas né?! Seria até melhor pra
gente também mas que infelizmente não funciona.
Ah acho que coleta seletiva é pegar um bairro num dia, no outro dia pega outro bairro, acho
que é assim, me parece que é assim.
Percebe-se por esse discurso que o funcionário entende que a coleta seletiva seria a coleta
nas próprias casas, porém com alternação no bairros.
Ela tem sabe...tem...mas não existe...tem mas não funciona...não funciona 100%.
Percebe-se por esse discurso que a coleta seletiva foi implantada mas ela ainda não é
realizada por toda a população.
O município? Ah “cê” fala assim eles lá organizar as partes? Isso aí o Roberto (responsável
pela usina) já levou, já...ao conhecimento da população, já puseram faixa pedindo o
pessoal...já foi pro conhecimento deles essa...essa...organização.
Percebe-se que quase um terço dos funcionários entrevistados não soube informar se o
município realiza a coleta seletiva.
Ideia Central D - Parece que não porque vem tudo misturado (1 sujeito, 9%)
Ah...me parece pelo que a gente vê aqui que parece que não porque vem tudo misturado.
Percebe-se que a maioria dos funcionários não tem conhecimento de que o município
realiza a coleta seletiva em virtude de o resíduo chegar todo junto.
Ideia Central B - Eles implantaram mas não está funcionando então vem misturado (1 sujeito,
9%)
Ah não...não recebe assim igual “tô” te falando né?! Né?! Eles “implantou” e tudo, mas não
“tá” funcionando, então...vem misturado.
Apesar de o município ter implantado a coleta seletiva, nota-se que o resíduo chega a
usina todo misturado, assim, alternar os dias de recebimento de cada tipo de resíduo não vem
fazendo diferença sem a cooperação da população.
Não sei.
funcionário não realiza a separação dos resíduos em casa em virtude de não saber da existência
da coleta seletiva no município.
Pergunta 5 - Você acha que com a realização da coleta seletiva o processo de triagem é
facilitado?
Ideia Central A - Faz pouca diferença, porque não funciona 100% (2 sujeitos, 18,2%)
Ah isso não... não é que funciona não porque vamos supor assim, a pessoa, vamos supor separa
em casa, uma vez o FULANO até pediu e alguém colaborou e alguém não né?! Então é um
negócio que não funciona sabe por causa de que? Vamos supor assim, lá em casa, eu trabalho
aqui eu já sei ne?! Mas outra casa não vai fazer isso, entendeu?! Então geralmente vai vir tudo
junto igual “tá” vindo mesmo ne?! Não tem como não... é junto mesmo, aqui mesmo é que tem
que separar.
Ah no caso melhora bem né?! O dia do lixo seco...só o lixo seco seria bem mais fácil de passar
né?! E o dia do lixo molhado já tinha o destino dele que era o pátio né?!
Percebe-se que a maioria dos funcionários tem motivação com relação à coleta seletiva e
acreditam que se funcionasse ela facilitaria muito o trabalho deles.
85
Ideia Central A – Não falta, só não usa quem não quer (1 sujeito, 9%)
Eu uso sempre, mas de.... tem 100%, isso aí é dado todo dia, a hora que precisa,100%, não
falta não, só não usa quem não quer né?!
86
Por esse discurso, percebe-se que os EPI’s são disponibilizados para os funcionários,
porém não são todos os que utilizam, assim, infere-se não há algum controle sobre a utilização
desses.
Usa.. É tudo bem organizado, eles dão pra gente o material pra gente usar...luva, tem os
“garfinho” pra gente poder puxar o material pra ser separado direitinho, tem os “cuidado”
da gente também com vidro, tudo... a máscara pra gente usar.
Usa máscara, luva...tudo. Usar usa, só que eu não sou muito “chegado” em máscara não, eu
vou falar...pra pegar um negócio ali como que eu vou usar? Eu uso assim...o necessário né?!
A gente vê que o lixo não “tá” em bom estado... da zona rural é lógico que não “tá” né?! A
gente põe luva, eu ponho máscara, tudo bem, mas digo assim, um papelão que a gente vê que
é mais limpo a gente não usa não, porque pegar com a luva ele vai escorregar, não fica na
minha mão de jeito nenhum né?! Mas equipamento de segurança aqui tem tudo.
Através desse discurso, percebe-se que alguns funcionários não percebem a necessidade
da utilização de alguns equipamentos de segurança em determinadas atividades, assim, utilizam
quando acham que deve ser utilizado, reforçando a ideia de que apesar de todos os
equipamentos de segurança necessários serem disponibilizados não há um controle da sua
utilização.
87
Pergunta 7 - Vocês têm acesso ao respirador individual? Os funcionários fazem uso rigoroso
do respirador individual?
Se a gente tem acesso? É...essa máscara aqui. A gente usa pra poder evitar né?! Da gente
ter...evitar o contato né?! Com as bactérias que sempre tem ai.
Tem... Você fala definitivamente? Sempre? Sempre... É... alguns “faz” né?! Eu pelo menos
não...(risos) não adianta mentir ne?! Porque você pode chegar na banca (mesa de triagem) e
ver os que “tá” e eu não “tô” né?!
Nesse discurso percebe-se um funcionário admitiu não usar a máscara durante a triagem,
o que pode comprometer a sua saúde, visto que na mesa de triagem tem-se o contato direto com
o resíduo, o qual pode conter contaminantes.
Pergunta 8 – Vocês têm acesso à luva? Os funcionários fazem uso rigoroso de luva?
Pergunta 9 - Vocês têm acesso à botas? Os funcionários fazem uso rigoroso de botas?
Ideia Central A - Usamos botina no dia a dia e bota em época de chuva (3 sujeitos, 27,3%)
88
Bota também tem... “Tando” chovendo bota é sempre, agora o ideal mesmo, que a gente
trabalha aqui é com botina né?! Agora a bota é no caso, igual... “tá” chovendo ne? Época de
chuva.
Verifica-se que os funcionários entendem como bota as botas feitas de borracha. Percebe-
se que há o uso contínuo de bota ou botina.
Pergunta 10 - Vocês têm acesso à aventais? Os funcionários fazem uso rigoroso de aventais?
A maioria dos funcionários diz utilizar o avental frequentemente nas atividades realizadas
na usina.
Tem... faz, é porque eu trabalho mais na parte aqui de trás no papelão, cuido da estrada, esses
negócios assim sabe? Aí eu uso pouco avental, mas eu tenho ele né?! Se caso, vamos supor
assim, faltar alguém na banca (mesa de triagem) lá na frente lá, aí eu tenho que usar né?! Se
não ninguém consegue encostar na banca não né?! Um barro horroroso.
Percebe-se por esse discurso que um funcionário alega não utilizar o avental pois ele
exerce atividades que, segundo ele, não necessitam de avental. Segundo ele, ele só o utiliza
quando precisa ficar na mesa de triagem pois para ele nessa atividade é necessário.
Pergunta 11 – A mesa de triagem se encontra em uma altura em que o trabalho não se torne
incômodo?
Ideia Central A - É complicado porque cada um tem uma altura aqui. Pra mim não é bom (2
sujeitos, 18,2%)
É complicado porque cada um tem uma altura aqui. Pra mim não é bom, mas é complicado, se
for colocar uma mesa que dá pra todos tem que colocar todo mundo da mesma altura.
Percebe-se com esse discurso que a mesa de triagem parece não estar em altura adequada,
visto que para alguns funcionários ela causa certo incômodo durante a execução do trabalho. A
mesa de triagem, de acordo com a FEAM (2006), pode ser de concreto ou metal e deve ter
altura aproximada de 90 cm para possibilitar aos funcionários adequada operação.
Ideia Central B – A altura dela é a altura certa da gente trabalhar (2 sujeitos, 18,2%)
A altura dela lá é a altura certa da gente trabalhar, trabalha normal, sem esforçar, sem nada,
na posição certa que a gente tem que trabalhar.
Percebe-se por esse discurso que alguns funcionários consideram a mesa de triagem
ergonomicamente compatível.
Na banca né?! Não... Não, pra mim do jeito que ela “tá” ali é ideal porque ela muito alta
também ela é ruim e baixa também aí “cê” dificulta a coluna né?! É o tamanho ideal.
Percebe-se por esse discurso o conhecimento de que se a mesa de triagem não estiver em
uma altura ergonomicamente compatível ela pode vir a causar problemas na coluna, além disso,
verifica-se que a maioria dos funcionários consideram que a mesa de triagem está em um altura
boa para a realização do trabalho de separação.
Verifica-se que a maioria dos funcionários declarou ter tomado todas as vacinas
necessárias.
Não, até hoje eu não tomei ela não. Até hoje ninguém comentou comigo isso não.
Percebe-se por esse discurso que não foi levado ao conhecimento de um funcionário as
vacinas que ele deve tomar para lidar com os resíduos que chegam à usina. Verifica-se que este
funcionário é o funcionário com menos tempo de trabalho na usina, porém as vacinas deveriam
ter sido dadas à ele mesmo antes de iniciar os seus trabalhos na usina.
Pergunta 13 – Você teve algum treinamento para aprender o trabalho feito aqui na usina?
Percebe-se que alguns funcionários declaram que aprenderam o serviço no dia a dia na
usina e não tiveram nenhuma instrução em relação a como fazer o trabalho.
Teve... uma pessoa instruiu “nois” pra fazer o trabalho... é... explicando “nois”o risco de
perigo que tem. Foi na época que a gente veio aqui, teve médico essas coisas, o médico falou
pra “nois” como é que tinha que trabalhar, os riscos que tinha e veio outras “pessoa”
também...capacitada também pra mostrar pra gente como que teria que ser feito o trabalho.
91
Verifica-se que somente um funcionário declarou ter aprendido o trabalho feito na usina
com pessoas capacitadas. Cabe salientar que esse funcionária trabalha na usina há 14 anos,
desde que a usina começou suas atividades.
Ideia Central A - Não é triturado, mas é colocado no pátio para fazer a compostagem (1 sujeito,
9%)
São, não, triturado não, ele só é colocado no pátio pra fazer a compostagem lá.
Percebe-se que um funcionário declarou que os galhos, apesar de não serem triturados,
são agregados ao processo de compostagem.
92
Ás vezes assim...as “folha” né?! As “folha”, às vezes uma poda de grama, galho de árvore
não...não entra.
Percebe-se por esse discurso que somente as folhas ou podas de grama são agregadas ao
processo de compostagem, os galhos são considerados rejeitos e vão diretamente para as valas.
Ideia Central C - Os galhos não são aproveitados porque não tem o triturador (1 sujeito, 9%)
O que a gente pode aproveitar a gente aproveita, se for orgânico... É...só as folhas, aquilo que
não tem como virar orgânico é rejeito, aí joga lá na vala, os galhos não são aproveitados
porque não tem o triturador, se tivesse podia né?! Triturar e fazer orgânico, mas como não
tem só tira aquilo que vai dar a compostagem... o orgânico aí a gente aproveita, mas galho
essas coisas é rejeito, tem que jogar fora.
Por esse discurso, percebe-se que um funcionário destaca que os galhos não são
aproveitados no processo de compostagem pois não há triturador na usina, por isso, os galhos
acabam sendo considerados rejeitos e vão diretamente para as valas.
Tem a vala própria, esse não passa pra nós também não, a gente nem vê ele não, não sei nem
quem pega, já pega e já vai direto pra vala, tem a vala própria.
A maioria dos funcionários afirma que os resíduos de serviços de saúde vão para uma
vala específica. Porém, conforme foi informado, esses resíduos agora estão sendo
encaminhados para Belo Horizonte para sua incineração, como já dito anteriormente, portanto,
percebe-se uma desinformação por boa parte dos funcionários sobre um assunto que é referente
ao seu trabalho.
93
Antigamente era aqui né?! “Cê” fala o lixo hospitalar esse negócio né?! No caso né?!
Antigamente ele era “subenterrado” ali né?! Só que hoje não...hoje ele vai acho que pra Belo
Horizonte, sei lá, um negócio assim.
Percebe-se que dois funcionários declaram que os resíduos de serviços de saúde não estão
sendo mais dispostos na usina, porém, não sabem dar a informação precisa de para onde ele é
encaminhado.
Ideia Central C - Sempre costuma vir alguma agulha no lixo (1 sujeito, 9%)
É, hospitalar desce sempre separado, diz que agora tá levando um “cado” pra Belo Horizonte
né?! Hospitalar. Sempre costuma vir alguma agulha no lixo ali, mas é lixo assim, caseiro,
alguém que toma insulina, que toma injeção eles “coloca” junto entendeu?! Aí coloca a gente
não vê, já tomei até “estrepada” de agulha já uma vez.
Verifica-se por esse discurso, que o funcionário destaca que apesar de os resíduos de
serviços de saúde serem encaminhados para outro lugar, vem sempre algum resíduo desse tipo
das casas e sem identificação, sendo acondicionados juntamente com outros tipos de resíduos.
Assim, percebe-se a falta de conhecimento da população de como o resíduo de saúde deve ser
acondicionado. Castilhos Junior et al. (2003) salientam que o acondicionamento dos resíduos
sólidos deve ser compatível com suas características quali-quantitativas, o que facilita a
identificação e possibilita o manuseio seguro dos resíduos. Assim, o resíduo mal acondicionado
significa riscos à saúde e a segurança de quem o manuseia, pois pode levar ao aparecimento de
doenças.
Eles são “guardado” na coberta grande ali e são “tudo” armazenado lá, já tudo prontinho os
“fardo”, tudo organizado, cada tipo de material.
com a FEAM (2006), pois entre os procedimentos diários com relação às baias de recicláveis
recomenda-se organizar e empilhar os fardos por tipo de material.
Pergunta 17 – Como são as valas de rejeitos? Elas são isoladas das demais unidades da usina?
É...ela é mais isolada porque é lá embaixo né?! Não é próximo aqui né?!
Percebe-se que todos os funcionários afirmaram que a vala de rejeitos está isolada das
demais unidades da usina, o que pode ser verificado durante visitas a campo.
Há, há sim.
Verifica-se que uma parte dos funcionários afirma ter um sistema de drenagem pluvial no
entorno das valas em utilização e das encerradas. Em campo, verificou-se que há um sistema
de drenagem superficial, porém percebeu-se pontos de acúmulo de água da chuva, o que
evidencia falha no sistema de drenagem pluvial. Segundo a FEAM (2006), dentre os
procedimentos que devem ser realizados em relação à vala de rejeitos está a manutenção do
sistema de drenagem pluvial.
É, não sei dizer não, eles “faz” pra lá a gente não vai lá e quase não vê né?!
Verifica-se que um funcionário afirma ter um sistema de drenagem, mas que não funciona
100%, o que pode ser evidenciado pelos pontos de acúmulo de água de chuva.
95
Ah a gente não tem não... não tem como fazer o dreno, porque ali as “vala” é funda, não tem
como fazer um dreno pra poder assim a água sair, aquilo ali a água cai nela e vai entrando,
não tem como fazer, a vala é muito funda.
Verifica-se por esse discurso, que alguns funcionários afirmam não ter o sistema de
drenagem por não ter como fazê-lo.
Pergunta 19 - Em sua opinião, o que a população da cidade pensa sobre seu trabalho?
Ideia Central A - Para eles o lixo é uma coisa suja (2 sujeitos, 18,3%)
Ah eu acho que o povo até hoje ainda não conscientizou que a gente tem uma usina de lixo, que
a gente, é...pra eles o lixo é uma coisa suja, então eles têm um jeito de olhar pra gente, assim,
como diz, seu trabalho é um lixo, mas só que eles “num”” vê” que o lixo sai de dentro da casa
deles, eles “convive” com ele ali primeiro, depois que a gente pega, então eu não vejo o meu
serviço aqui um serviço tão ruim assim, é uma coisa que sai de dentro das nossas casas,
então...né?! Acho que todo mundo devia enxergar isso, falar assim: não, a usina de lixo não é
uma coisa tão suja. Não vem lixo hospitalar, não vem lixo sujo, é lixo de casa, lixo doméstico,
96
então o que que acontece sai de dentro da casa de todo mundo, eu acho que ninguém
tem...precisa ter nojo deles né?!
Nesse discurso, percebe-se que ainda há muito preconceito com relação às pessoas que
trabalham com os resíduos, mas como foi bem pontuado nesse discurso, as pessoas precisam
ter a consciência de que o resíduo sai de sua própria casa e a usina é uma forma de diminuir o
impacto causado no meio ambiente pelos resíduos produzidos pela sociedade.
Você fala o pessoal da cidade? Bom, eu penso que eles “vê” um trabalho bonito que a gente
faz né?! De preservar o meio ambiente...é...fazer uma organização na área de saúde né?! é...
bom, com a gente ninguém fala nada mas deve de achar bom né?! O trabalho que a gente faz,
preservando o meio ambiente né?!
Percebe-se que a maioria dos funcionários acham que a população da cidade percebe o
trabalho deles como um trabalho bom, principalmente, porque é uma forma de preservar o meio
ambiente.
Ideia Central C - Eles acham que o trabalho é muito fácil (1 sujeito, 9%)
Ah eu acho que eles “acha” assim que o trabalho aqui é muito fácil, do jeito que a gente
trabalha, mas não é, mas pra quem não pega acha que é fácil né?! Mas é um trabalho bem
forçado e muita gente tem preconceito, eu acho.
Verifica-se que algumas pessoas julgam o trabalho feito na usina como fácil.
Pergunta 20 - Em sua opinião, qual é a melhor e a pior parte do seu trabalho (Qual parte do
serviço você mais gosta de fazer e a que menos gosta)? Por quê?
97
Ah a gente procura esforçar e gostar de tudo porque...tem que fazer todas elas né?! Tem que
habituar a fazer com perfeição, de boa vontade, procurar gostar né?! Porque a área toda ela
aqui é difícil. Pensar assim, vou mexer com o lixo, aquilo ali a gente tem que rasgar tudo, tem
que passar tudo na mão da gente, tem coisas podres, tem...desagradável né?! Geralmente você
trabalha com coisa desagradável o dia inteiro, você imagina, só de você imaginar, trabalhando
com o lixo, ali passa tudo que você imagina de porco, de porcaria, passa tudo né?! Também
passa algumas coisas “asseada”, que a gente...passa pela mão da gente e tem que organizar o
lixo né?! O que não serve jogar fora, o que serve você aproveitar, então a gente trabalha
daquela forma que...um trabalho assim meio árduo, mas a gente não tem o que fazer não. Então
tem que procurar dedicar e gostar porque se a gente não gostar não tem nem como a gente
trabalhar na área.
A que eu mais gosto é a separação dos materiais lá na banca (mesa de triagem) e a que eu
menos é gosto é...por exemplo, alguns materiais que ás vezes são pesados pra gente levar pro
lugar que ele fica, entendeu?! Conforme o material, é pesado, por exemplo, o vidro, o orgânico.
Ideia Central C - A pior parte é quem tem que pegar o rejeito e jogar em cima do caminhão (2
sujeitos, 18,2%)
Ah na minha opinião a pior parte no caso deles ali na banca ali é quem trabalha lá na ponta
lá pegando o rejeito e jogando em cima do caminhão, no meu caso não porque eu trabalho na
prensa, mas a gente vê quem tá ali na ponta com aquele “bitelão” daquele garfo jogando em
cima do caminhão o dia inteiro, não é fácil, é um dia...dois só, mas...vai trocando né?!
98
Verifica-se que o trabalho de jogar o rejeito após a separação dos materiais na mesa de
triagem no caminhão para levar para a valas é um trabalho muito árduo, seria necessário que
tivesse uma moega que descarregasse esse rejeito diretamente no caminhão.
Pergunta 21 - Se fosse para melhorar seu trabalho, o que você mudaria aqui na usina?
Verifica-se que alguns funcionários declararam não ser preciso mudar nada na usina para
que seu trabalho fosse melhorado. Esses trabalhadores se dizem satisfeitos com as condições
atualmente oferecidas
Ideia Central B – Colocaria uma correia na mesa de triagem para puxar o lixo (5 sujeitos,
45,4%)
Ah menina, isso aí é muita coisa né?! É o que a gente sempre fala né?! É uma correia nessa
banca (mesa de triagem) né?! Pra... ao invés de ficar arrastando o lixo na banca a correia já
vem trazendo, um jeito melhor ali do rejeito já cair em cima do caminhão né?! Pra evitar ficar
batendo “galfo”, isso aí já melhoraria bem né?!
Ah eu penso que teria mais que...ampliar mais a usina né?! Fazer uma ampliação, mais frente
de trabalho, eu penso assim, uma organização maior né?! É...a cidade vai crescendo muito, a
população vai aumentando muito ai passa ás vezes...os que tão trabalhando...vai apertando
mais e ficando mais difícil pra poder fazer...o que eu penso é assim...deveria...com o tempo vai
ter que ampliar pra poder dar um melhor estar pro trabalho...porque assim como vai crescendo
a população vai ter que evoluir também a usina.
destaca-se que é necessário aumentar o número de funcionários para que haja mais eficiência
na separação dos resíduos, verifica-se pelo discurso que o trabalho seria melhorado se tivessem
mais funcionários na usina.
Verifica-se por esse discurso que esse funcionário destaca a importância de ser ter um
triturador em uma unidade como esta, visto que assim, os galhos seriam agregados ao processo
de compostagem e não iriam diretamente para a vala de rejeitos, aumentando a vida útil da vala
e possibilitando uma maior produção de adubo orgânico.
Pergunta 1 - Qual era a forma de disposição dos resíduos sólidos antes da implantação da
unidade?
Houve um auto de infração realizado pelo IBAMA na época, o que gerou um TAC (Termo de
Ajustamento de Conduta) que determinou a construção de uma unidade de destinação correta
de resíduos sólidos urbanos.
100
Cabe a administração pública realizar de forma direta ou indireta a destinação correta de seus
lixos urbanos.
As UTCLs possuem papel ímpar no que se diz respeito a destinação dos resíduos sólidos
urbanos, porém precisamos identificar onde e como projetar tais unidades. O que vemos hoje
no Brasil são usinas mal projetadas e que não conseguem atender a demanda dos resíduos
produzidos.
Verifica-se pelo discurso que o entrevistado destaca a importância que tem uma UTC,
porém ele pontua que é necessário saber onde e como projetar essas unidades pois há muitas
usinas que não desempenham bem o papel para o qual foram projetadas.
101
Pergunta 5 - Também sua opinião, qual é a importância da coleta seletiva para a usina?
A coleta seletiva é indispensável para as usinas, pois com a separação correta dos resíduos na
fonte se torna mais fácil, seguro e eficaz a produtividade daqueles que têm a missão de
proporcionar qualidade ambiental para os municípios.
Verifica-se pelo discurso que há a percepção de que a coleta seletiva é indispensável para
as UTCs pois com a realização da mesma a eficiência do trabalho realizado na usina se torna
maior, além de o trabalho se tornar mais fácil e seguro.
7,5 toneladas/dia.
Ele possibilita que os municípios obtenham recursos financeiros para investirem nos projetos
ambientais. Vale ressaltar que o ICMS atualmente foi consideravelmente reduzido ficando
inviável que as cidades consigam manter a operacionalidade de suas unidades com as receitas
repassadas pelo estado.
Pergunta 9 - Qual a sua opinião sobre valores recebidos do ICMS Ecológico pelo município?
Verifica-se que o ICMS Ecológico é considerado insuficiente para cobrir os gastos que
os município tem com a UTC, vale destacar que qualquer gestor municipal gostaria de receber
valores maiores de incentivos fiscais, ainda mais quando se trata de um município de pequeno
porte, que conta com baixa dotação orçamentária e baixa arrecadação fiscal.
Pergunta 10 - O que o município faz com o recurso do ICMS Ecológico? Quais são os critérios
para utilização do ICMS Ecológico?
Hoje, esse recurso é muito pequeno, porém após o recebimento da receita nosso município
investe no pagamento dos encargos sociais e de salário dos nossos funcionários e
equipamentos de manutenção.
O entrevistado afirma que o ICMS Ecológico recebido é pouco e que esse valor auxilia
no pagamento dos encargos sociais e de salário dos funcionários e equipamentos de
manutenção. Percebe-se que não há a preocupação de se utilizar este recurso para resolver
questões voltadas ao meio ambiente, o município o vê como uma fonte “extra” de arrecadação.
103
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificou-se que no que se trata da localização, a UTC não atende aos requisitos mínimos
estabelecidos pela Deliberação Normativa nº 118 de 2008, o que pode ocasionar contaminação
dos mananciais de água pelo chorume, além da proliferação de vetores causadores de doenças,
geração de odores desagradáveis causando desconforto e riscos à saúde para a população de
entorno. Assim, destaca-se que é essencial que não ocorra uma alteração do uso do solo atual,
principalmente que propicie adensamento populacional na região.
Em relação às instalações que compõem os projetos básicos das UTCs, verificou-se que
a UTC apresenta unidades básicas de recepção, triagem, armazenamento de materiais
recicláveis, pátio de compostagem, instalações de apoio e valas para o aterramento de rejeitos,
semelhantemente ao que foi verificado nos dados da literatura.
No que se refere à mesa de triagem, pôde-se verificar durante as visitas de campo que a
altura da mesa precisa ser remanejada visto que alguns funcionários precisam abaixar para fazer
a separação dos resíduos, além disso, percebeu-se que a triagem ocorre de forma desorganizada,
devido à grande quantidade de resíduos e ao reduzido número de funcionários. Também
verificou-se que nem todos os funcionários usam os EPIs necessários nas atividades que
executam.
No que tange a vala de rejeitos, foi informado que o recobrimento dos resíduos é realizado
após um mês. O adequado deveria ser o recobrimento diário dos resíduos, porém há falta de
equipamentos (tratores) para o recobrimento das valas com terra. É importante destacar que há
um certo desestímulo à implantação de um sistema adequado de disposição final de resíduos
em municípios de pequeno porte, devido ao baixo volume de resíduos gerados e aos gastos com
105
encaminhados para a usina foram considerados rejeitos, e pôde-se verificar, pelo controle
operacional, que, em média, 64% dos resíduos são encaminhados diretamente para a vala de
rejeitos. Assim, é muito importante destacar a grande dificuldade operacional que a usina
enfrenta, pois há muita dependência da separação prévia dos resíduos, e, além disso, é grande
a quantidade de resíduo que chega para um pequeno número de funcionários, assim, não é
possível que haja uma triagem totalmente eficiente.
6.4 IQC
técnico de cada um deles. Outro aspecto a ser pontuado é que a avaliação é momentânea e
baseia-se apenas as condições no momento inspeção.
Porém, mesmo apresentado tais deficiências, esse instrumento permite uma avaliação
integrada dos fatores que se relacionam com as UTCs, e a metodologia utilizada permite uma
uniformização de procedimentos que servem para avaliar qualitativamente o desempenho
técnico-operacional e ambiental de UTCs, sendo de fácil aplicação e baixo custo.
6.5 Entrevistas
Destaca-se que quando foi questionado aos funcionários o que eles mudariam na usina
para que o trabalho deles fosse melhorado, muitos funcionários responderam que há a
necessidade de ter uma correia ou uma esteira transportadora na mesa de triagem a fim de que
o trabalho realizado seja menos árduo e que a efetividade de separação dos resíduos seja maior.
No que tange à entrevista realizada com o gestor municipal, o que se observou é que o
gestor municipal entrevistado reconhece o objetivo da implantação de uma UTC e valoriza essa
unidade como uma ferramenta de grande utilidade para minimizar os problemas relacionados
aos resíduos sólidos gerados no município, bem como considera que a coleta seletiva é essencial
para uma UTC. Além disso, o entrevistado destaca que é de dever da administração pública
municipal promover a disposição correta dos resíduos sólidos, cabe ressaltar que em relação ao
ICMS Ecológico, há uma visão um pouco distorcida quanto à sua finalidade, pois ele é um
108
Por fim, destaca-se que apesar de a UTC analisada apresentar deficiências com relação à
operação e à qualidade ambiental, ela tem contribuído de forma positiva para a melhoria da
qualidade ambiental em seus domínios. Vale ressaltar que por receber incentivos do ICMS
Ecológico, ela segue parte das orientações técnicas e exigências da FEAM, como o controle
operacional que é enviado a cada três meses para a mesma. As UTCs tem-se tornado uma
alternativa para a erradicação dos lixões em municípios de pequeno porte por se constituírem
de um sistema simplificado, assim, é de grande importância destacar que apesar das deficiências
que apresentam principalmente com relação à operacionalização, elas proporcionam um grande
ganho ambiental em face de, em muitos municípios brasileiros, substituírem o lixão, que é uma
forma inadequada de disposição de resíduos sólidos.
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