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Juventude Conectada:
Governança da Internet
YOUTH OBSERVATORY
GRUPO ESPECIAL DE INTERESSE DA INTERNET SOCIETY
EDIÇÃO EM PORTUGUÊS
NOVEMBRO 2017
PATROCÍNIO:
O conteúdo dos artigos apresentados neste livro é de inteira responsabilidade de seus respectivos
autores, que concordaram com o uso da licença Creative Commons.
PATROCÍNIO:
7_ APRESENTAÇÃO
9_ PRÓLOGO
73_ CIBERSEGURANÇA
74_ NUANCES DA PRIVACIDADE NA ERA DIGITAL
Arthur Emanuel Leal Abreu
Essa tem sido uma provocação constante do Youth Observatory desde sua fundação, em
2015, durante o Fórum de Governança da Internet (IGF) de João Pessoa, Brasil. Surgimos com
jovens que, comprometidas e comprometido nos espaços políticos de governança nacionais,
regionais e globais, viram a necessidade de trabalhar em coletivo para pensar os impactos
da rede em suas realidades e propor soluções para os problemas ao seu redor.
Somos parte da geração que cresceu junto com expansão da rede e, como tantas outras
iniciativas jovens, queremos assumir a responsabilidade de construí-la ativamente. A
Governança da Internet foi a frente de atuação que escolhemos, e em nosso horizonte
está o uso dessa poderosa ferramenta no enfrentamento das desigualdades sociais —
especialmente na América Latina e Caribe, e ainda mais especificamente junto a outras
juventudes, muitas vezes impedidas de compartilhar das transformações positivas que a
rede vem possibilitando para nós.
De lá para cá, temos procurado mostrar que queremos mais do que voz — mesmo
que ser ouvido já seja uma importante vitória em espaços políticos muitas vezes pouco
inclusivos. Queremos aprender e nos empoderar juntos, tornando-nos “atores de nossa
própria realidade na construção da Governança da Internet”1.
1 Para ler a declaração “Nós, a juventude da América Latina e Caribe”, documento que desenhou
os princípios da fundação do Youth Observatory, acesse <igf2015.br/pt-BR/declaration/> (disponível
em espanhol, português e inglês).
2 Para ler a declaração “Enabling access to empower young women and build a feminist Internet
Governance”, acesse <bit.ly/2ufKwz1> (disponível em inglês).
_PLURALIDADE
Até aqui, temos falando sempre em “juventudes”, no plural. Não foi uma escolha
ao acaso. Acreditamos que é impossível falar em juventudes — e em suas demandas,
opiniões e ações — no singular. Nós abraçamos a diversidade de nossas formações,
áreas de atuação, culturas e opiniões como algo que nos fortalece, e que certamente
fortalece também a Governança da Internet.
É neste sentido que este livro, resultado de um processo inédito e instigante para
nós, surge.
Este livro busca capturar um pouco — num mar de muitos — do que tantos jovens na
América Latina e no Caribe têm produzido, pensando Internet e sociedade nas suas mais
diversas possibilidades. As discussões trazidas aqui mostram que esse fenômeno — a
expansão das Tecnologias da Informação e Comunicação no mundo — nos reservam
muitas perguntas, muitas inquietações, mas também muita sede de propor, conhecer e
arriscar novos caminhos.
Ainda há muito por fazer. Esperamos que esse livro seja o primeiro de tantos outros.
Youth Observatory
Novembro de 2017
PRÓLOGO
O programa Youth, desde a sua fase piloto – lançada pela SaferNet Brasil, em 2013
– tem provado aos mais céticos que a juventude tem muito a dizer, quer participar dos
processos de Governança da Internet e ocupar espaços nos fóruns de formulação de
políticas e tomada de decisões.
Cabe-nos criar essas oportunidades e empoderá-los para que suas vozes sejam
ouvidas e consideradas. O caminho, evidentemente, não tem sido fácil, e continuará
exigindo de todos nós muita perseverança e determinação.
Thiago Tavares
Presidente da Safernet Brasil
Conselheiro do CGI.br
Coordenador do Programa Youth no Brasil
PROBLEMAS
DE GÊNERO E
JUVENTUDE
NA INTERNET
PROBLEMAS DE GÊNERO E JUVENTUDE NA INTERNET _ ANGÉLICA CONTRERAS
FEMINISMO DIGITAL:
UMA PROPOSTA PARA
UMA INTERNET INCLUSIVA
ANGÉLICA CONTRERAS
Feminista e jornalista, atualmente estudante de Direito
contrerasangelica9@gmail.com
México
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PROBLEMAS DE GÊNERO E JUVENTUDE NA INTERNET _ ANGÉLICA CONTRERAS
_TEMÁTICA
_RESUMO
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PROBLEMAS DE GÊNERO E JUVENTUDE NA INTERNET _ ANGÉLICA CONTRERAS
1_FEMINISMO DIGITAL
Quando eu mencionei nos fóruns da Internet que é necessário ter uma maior
participação das feministas nos espaços de discussão, surgiram na mente dos ouvintes
mulheres com cartazes, seios descobertos e a necessidade de gritar. O feminismo digital
é visto a partir da perspectiva que continua buscando ofuscar o movimento desde sua
origem.
Elena Gascón-Vera (2015, tradução nossa) indica que o feminismo do século XXI “está
mudando para uma ideologia que inclui e aceita todo tipo de mulheres, apoia a inclusão
de identidades distintas e a valorização do corpo e da sexualidade femininas”. Com
a chegada da Internet agora torna-se mais fácil a propagação de imagens, discursos,
mensagens e feminismos. O que queremos dizer com isso é que, como indica a autora,
a Internet difunde essa construção diversa de “mulheres” de modo que não há apenas
uma mulher, mas várias mulheres, por isso difunde também os feminismos, ou seja, as
diferentes maneiras pelas quais o feminismo está sendo criado e pensado.
A Internet nos disse: “ei, não estão sozinhas”, estamos nos feminismos.
O movimento feminista nos ensinou a sair para a rua e nos reuniu em pontos de
encontro onde marchamos juntas. Buscamos quem tem a “letra bonita” para fazer os
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PROBLEMAS DE GÊNERO E JUVENTUDE NA INTERNET _ ANGÉLICA CONTRERAS
Existem outras autoras que consideram que essa nova onda do feminismo traz
também um movimento mais popular em que o comando é de baixo para cima, e
“sem dúvida abre uma nova onda do feminismo caracterizada por uma massividade
na participação, e uma maior visibilidade em grande escala [...] mas, além disso, uma
repercussão em escala global”.
2_MOVIMENTO DIGITAL
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PROBLEMAS DE GÊNERO E JUVENTUDE NA INTERNET _ ANGÉLICA CONTRERAS
3. SORORIDADE DIGITAL
A feminista Marcela Lagarde e de los Ríos (2012) define sororidade como “o apoio
mútuo das mulheres para alcançar o poder de todas.”
A Internet oferece-nos uma ferramenta que nos permite estar juntas, ou seja, a
partir da Internet se difunde um valor primordial do feminismo: a sororidade, que
permite que nos identifiquemos e nos descubramos em nossas lutas.
Outra questão muito importante é o que nos identifica nos feminismos. Hoje em
dia, falar sobre o feminismo é falar sobre suas diferentes perspectivas e a Internet
permite a difusão desses movimentos e abordagens, o que nos permite aprender e
construir um feminismo digital plural que mantém a mesma bandeira com diferentes
enfoques: as mulheres.
Fomos ensinadas a ser usuárias passivas da Internet: ler, compartilhar e dar like,
mas não a criar por nossa conta. No México, estudo da Associação Mexicana da Internet
(2016) sobre os hábitos dos internautas diz que apenas 18% das e dos usuários da Internet
são criadores de conteúdo, acessam ou mantêm seus próprios espaços, como blog ou
outras plataformas. “As mulheres têm metade da probabilidade dos homens de se
expressarem na rede, e menos de um terço de probabilidade de usar a Internet para
procurar trabalho (de acordo com a idade e educação)” (Fundação World Wide Web, 2015,
tradução nossa).
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PROBLEMAS DE GÊNERO E JUVENTUDE NA INTERNET _ ANGÉLICA CONTRERAS
O relatório da Fundação World Wide Web (2015, tradução nossa) sobre os Direitos
Digitais das mulheres, no tópico de desigualdade, apresentou os seguintes resultados:
Por que as Editatonas são necessárias? Porque nós, mulheres, somos esquecidas
e invisibilizadas. Bem diz um provérbio: “a história é escrita pelos vencedores”. Esses
vencedores são homens. 13% dos editores na Wikipédia são mulheres, e a porcentagem
de perfis sobre mulheres em inglês é de 17%: “o número escasso de editoras na Wikipédia,
pouco solicitadas por um mundo de tecnologia dominado pelos homens, promove a
desigualdade de gênero” (BBC Mundo, 2016, tradução nossa).
O feminismo, então, apresenta-se como uma opção para tomar espaços, embora
os espaços masculinos dificilmente, ou só depois de muitas lutas, incluem as
mulheres sem estereótipos. A criação de espaços próprios é também uma opção para o
empoderamento, como as redes comunitárias ou os servidores feministas autônomos.
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PROBLEMAS DE GÊNERO E JUVENTUDE NA INTERNET _ ANGÉLICA CONTRERAS
Relatório da Fundação World Wide Web Foundation (2015) salienta que sete em
cada dez jovens mulheres (18 e 24 anos de idade) que utilizam a Internet diariamente
sofreram abuso online e três em cada dez homens concordaram que a Internet deve ser
um espaço controlado pelo homem.
Como podemos pedir que a Internet seja feminista se as mulheres não estão
participando nos espaços? A perspectiva de gênero ainda é vista como um capricho para
incluir as mulheres apenas por incluí-las.
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PROBLEMAS DE GÊNERO E JUVENTUDE NA INTERNET _ ANGÉLICA CONTRERAS
6_E AGORA?
6.1_SORORIDADE
6.3_ALFABETIZAÇÃO DIGITAL
Quando falamos de acesso, devemos também ter em conta que há mulheres que
contam com a infraestrutura para o acesso, mas que desconhecem como fazê-lo e não
exploram esses recursos porque não sabem como. As políticas públicas de acesso devem
ser projetadas para dois grupos de pessoas: as que não têm o acesso-infraestrutura e as
que não têm o acesso-alfabetização.
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PROBLEMAS DE GÊNERO E JUVENTUDE NA INTERNET _ ANGÉLICA CONTRERAS
Na Marcha das Mulheres (Women’s March), um cartaz dizia que “as mulheres
pertencem à resistência”, e na Internet encontramos um espaço para realizar esta
bandeira de resistência, “que nos pede para gritar e ser uma voz para exigir o respeito
pelos nossos direitos e é essa mesma voz que devemos levar à Internet, para exigir, mas
também para participar, e construir juntas” (Contreras, 2017a, tradução nossa).
_REFERÊNCIAS
Alcaraz, F. In De Titto, J. ¿Una nueva ola del feminismo? Recuperado de < https://notas.
org.ar/2017/02/22/nueva-ola-feminismo>
BBC Mundo (2016). ¿Quiénes son nuestras mujeres olvidadas? ¡Únete a nuestro
“editatón” de Wikipedia y haz que sean recordadas! Recuperado de <http://www.bbc.
com/mundo/noticias-38236627>
Contreras, A (2017a). Feminismo Digital: garantizar que nuestros derechos offline sean
respetados online. GenderIT. Recuperado de <http://www.genderit.org/es/feminist-
talk/feminismo-digital-garantizar-que-nuestros-derechos-offline-sean-respetados-
online>
De Titto, J. (2017) ¿Una nueva ola del feminismo? La Otra Voz Digital. Recuperado de
<http://www.laotravozdigital.com/una-nueva-ola-del-feminismo>
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PROBLEMAS DE GÊNERO E JUVENTUDE NA INTERNET _ ANGÉLICA CONTRERAS
Fórum de Governança da Internet (2016). IGF 2016 Attendance & Programme Statistics.
Recuperado de <https://www.intgovforum.org/multilingual/content/igf-2016-
attendance-programme-statistics>
Fundação World Wide Web (World Wide Web Foundation) (2015). Nuevo informe:
Derechos digitales de las mujeres. Recuperado de <http://webfoundation.org/nuevo-
informe-derechos-digitales-de-las-mujeres>
G. de la Cueva, C. (2015). Feminismo 3.0, las iniciativas digitales que debes conocer.
Gonzoo. Recuperado de: <http://www.gonzoo.com/creadores/story/feminismo-3-0-las-
iniciativas-digitales-que-debes-conocer-3179>
ANGÉLICA CONTRERAS
Diretora de Relações Institucionais
do Youth Observatory e membro da
Internet Society - capítulo México, e da
Academia Multidisciplinar de Direito e
Tecnologias A. C. (AMDETIC). Escreve para
GenderIT, Mulheres Construindo (Mujeres
Construyendo), é blogueira e diretora da
revista digital feminista Quintaesencia.
Participou de diferentes projetos e
campanhas feministas e de fóruns de
Governança da Internet.
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PROBLEMAS DE GÊNERO E JUVENTUDE NA INTERNET _ MARIANA GIORGETTI VALENTE + NATÁLIA NERIS
ENTREVISTA:
COMO TRATAR VIOLÊNCIA
DE GÊNERO ONLINE NA
CHAVE DA JUVENTUDE
PERIFÉRICA BRASILEIRA?
NATÁLIA NERIS
Coordenadora da área “Internet e Gênero, Raça e Outros Marcadores
Sociais” no InternetLab – Centro de Pesquisa em Direito e Tecnologia
natalia.neris@internetlab.org.br
Brasil
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PROBLEMAS DE GÊNERO E JUVENTUDE NA INTERNET _ MARIANA GIORGETTI VALENTE + NATÁLIA NERIS
_TEMÁTICA
_RESUMO
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PROBLEMAS DE GÊNERO E JUVENTUDE NA INTERNET _ MARIANA GIORGETTI VALENTE + NATÁLIA NERIS
No fim de 2013, o suicídio de duas jovens brasileiras deu início a um intenso debate
na mídia sobre a disseminação não consentida de imagens íntimas. A prática não era
nova, mas com a Internet a velocidade da disseminação desses materiais dava a ela
contornos todos novos. Até por isso, ganhou nome – o revenge porn, ou pornografia de
vingança ou de revanche – e propostas de enfrentamento no Congresso Nacional.
Nessa linha de apreender o problema pela sua complexidade, o “Top 10” é um exemplo
emblemático. A disseminada prática (embora pouco conhecida por adultos) consiste em
um “ranqueamento” de meninas, em geral entre 12 e 15 anos, por grupos de meninos
em uma escola ou comunidade, de acordo com sua suposta conduta sexual. São listas
conhecidas também como “das mais vadias”: em vídeos, são expostas imagens das
meninas com frases sobre seu comportamento, envolvendo ou não nudez, a depender,
especialmente, do contexto em que são disseminados. É que algumas plataformas,
como o YouTube e o Facebook, não mantêm no ar imagens de nudez.
1 Viemos dando atenção ao problema por meio de estudos empíricos no InternetLab desde
2015. Em 2016, publicamos o livro “O Corpo é o Código: estratégias jurídicas de enfrentamento ao
revenge porn no Brasil”, em que estudamos a jurisprudência do Estado de São Paulo sobre o tema,
realizamos um estudo de caso sobre o Top 10, de que trataremos adiante, e analisamos também as
propostas legislativas e de política pública. Um dos dados que encontramos foi que, no Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo, mais de 90% dos casos (são processos da vítima contra o agressor,
ou um provedor de aplicações) referiam-se à disseminação de imagens de meninas e mulheres.
Essa absoluta predominância é também facilmente perceptível por mera observação. O livro pode
ser baixado gratuitamente em <http://tinyurl.com/z9gpwhu>. Para uma reflexão específica e mais
enxuta sobre o tratamento dado pela Justiça aos casos envolvendo adolescentes, ver o artigo “Terra
Com Lei”, publicado por nós na Revista E-Sesc em junho 2016: <http://tinyurl.com/zft438a>.
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PROBLEMAS DE GÊNERO E JUVENTUDE NA INTERNET _ MARIANA GIORGETTI VALENTE + NATÁLIA NERIS
onde foi realizada uma audiência pública,2 e pautaram-no nas próprias comunidades,
de eventos como um Grafitaço Feminista3 a rodas de conversa com adolescentes. Nessas
vozes, a denúncia sobre aspectos até então pouco abordados na esfera pública: o acesso
limitado de adolescentes a equipamentos públicos do sistema de Justiça, e a pouca
capacidade de controle sobre a narrativa de suas histórias de violência e violação.
2 Ver breve relato em “Onda de vídeos com conteúdo degradante contra adolescentes é discutida
na CDH”, <https://goo.gl/R5MfzC>
3 Ver detalhes sobre a ação no vídeo hospedado na página do Coletivo Mulheres da Luta, do
Grajaú, no Facebook: <https://goo.gl/liUcwK>
4 Além do livro “O Corpo é o Código”, recomendamos também a leitura do artigo “Not revenge,
not porn: analysing the exposureof teenage girls online in Brazil” (ver referências). Uma tradução
dele para o português encontra-se aqui: <http://tinyurl.com/z6k6esr>
5 Agradecemos também a colaboração da pesquisadora Juliana Pacetta Ruiz na montagem desta entrevista.
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PROBLEMAS DE GÊNERO E JUVENTUDE NA INTERNET _ MARIANA GIORGETTI VALENTE + NATÁLIA NERIS
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PROBLEMAS DE GÊNERO E JUVENTUDE NA INTERNET _ MARIANA GIORGETTI VALENTE + NATÁLIA NERIS
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PROBLEMAS DE GÊNERO E JUVENTUDE NA INTERNET _ MARIANA GIORGETTI VALENTE + NATÁLIA NERIS
Pesquisadoras: Uma questão que nos pareceu sempre muito importante foi que,
quando fizemos a nossa pesquisa, entrevistamos vários agentes do sistema de Justiça
que trabalhavam na periferia de São Paulo. Questionamos esses agentes, sempre,
sobre o problema da disseminação de imagens íntimas não consentidas em sua área
de atuação. Algumas vezes, e não foram tão poucas, recebemos uma resposta no
sentido de “isso não é um problema por aqui, porque os jovens por aqui não têm
celular/não têm Internet”, o que nos parecia revelar um grande desconhecimento
sobre a realidade do uso da tecnologia por jovens, inclusive nas periferias urbanas.
Como você responderia a uma afirmação como essa? E como você tem visto a
apropriação, pelos jovens com que você trabalha, das tecnologias digitais? Existe
alguma reflexão sendo construída em torno disso?
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PROBLEMAS DE GÊNERO E JUVENTUDE NA INTERNET _ MARIANA GIORGETTI VALENTE + NATÁLIA NERIS
Coletivo Mulheres na Luta: Temos pensado que nem esses especialistas abordam
a sexualidade e o gênero nem nós temos abordado o uso seguro da Internet. Talvez
por estarmos atuando diretamente na rua, e com dificuldade de sinal de Internet
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PROBLEMAS DE GÊNERO E JUVENTUDE NA INTERNET _ MARIANA GIORGETTI VALENTE + NATÁLIA NERIS
_REFERÊNCIAS
Valente, M. G., Neris, N., & Bulgarelli, L. (2015). Not revenge, not porn: analysing the
exposure of teenage girls online in Brazil. Global Information Society Watch: Sexual
rights and the Internet. p. 74-79. Recuperado de <http://tinyurl.com/jdzod7p>
Valente, M. G., Neris, N., Ruiz, J., & Bulgarelli, L. (2016). O Corpo é o Código: estratégias
jurídicas de enfrentamento ao revenge porn no Brasil. São Paulo: InternetLab.
Recuperado de <http://tinyurl.com/z9gpwhu>
Valente, M.G., & Neris, N. (2016). Terra com Lei. Revista E-SESC, 241. Recuperado de
<https://goo.gl/CakhMK>
Jornal TVT (2015. Grajaú tem grafitaço feminista contra “Top 10” e machismo. Rede TVT.
Recuperado de <https://goo.gl/j7Bj0d>
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PROBLEMAS DE GÊNERO E JUVENTUDE NA INTERNET _ MARIANA GIORGETTI VALENTE + NATÁLIA NERIS
NATÁLIA NERIS
Graduada em Gestão de Políticas Públicas
pela Universidade de São Paulo (USP),
Mestra em Direito pela Fundação Getúlio
Vargas (FGV). É pesquisadora do Núcleo de
Direito e Democracia do Cebrap (Centro
Brasileiro de Análise e Planejamento).
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ACESSO E
DIVERSIDADE
ACESSO E DIVERSIDADE _ HUDSON LUPES RIBEIRO DE SOUZA
CONECTANDO O PRÓXIMO
BILHÃO PARA QUEM?
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ACESSO E DIVERSIDADE _ HUDSON LUPES RIBEIRO DE SOUZA
_TEMÁTICA
Acesso e diversidade
Inclusão digital
_RESUMO
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ACESSO E DIVERSIDADE _ HUDSON LUPES RIBEIRO DE SOUZA
A preocupação dos países com a massificação da banda larga tem um forte viés
econômico. A infraestrutura é essencial para modernizar a economia, aumentar
a produtividade, especialmente das pequenas e médias empresas, garantir a
competitividade das economias no mundo globalizado, aumentar a qualificação de mão
de obra por meio do ensino a distância, ampliar a oferta de serviços públicos por meio
da Internet, sem aumento de custos (Dias, 2011).
O objetivo das iniciativas de inclusão digital tem sido, via de regra, “dar acesso à
rede” a grupos minoritários que, por conta própria, encontrariam enormes dificuldades
em adquirir e utilizar as TIC. O desejo dos grupos visados de serem incluídos e o seu
próprio entendimento sobre inclusão é um fato que tende a permanecer inquestionável.
1 A sociedade não é um elemento estático, muito pelo contrário, está em constante mutação e
como tal, a sociedade contemporânea está inserida num processo de mudança em que as novas
tecnologias são as principais responsáveis. Alguns autores identificam um novo paradigma de
sociedade que se baseia num bem precioso, a informação, atribuindo-lhe várias designações,
entre elas a Sociedade da Informação. Sociedade da Informação é um termo - também chamado
de Sociedade do Conhecimento ou Nova Economia - que surgiu no fim do Século XX (Sociedade da
informação, n.d.).
2 TIC é uma expressão que se refere ao papel da comunicação (seja por fios, cabos ou sem
fio) na moderna tecnologia da informação. Entende-se que TICs consistem em tecnologias de
informação, bem como quaisquer formas de transmissão de informações e correspondem a todas
as tecnologias que interferem e medeiam os processos informacionais e comunicativos dos seres
(Tecnologia da informação e comunicação, n.d.).
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ACESSO E DIVERSIDADE _ HUDSON LUPES RIBEIRO DE SOUZA
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ACESSO E DIVERSIDADE _ HUDSON LUPES RIBEIRO DE SOUZA
Incluir é ter capacidade de livre apropriação dos meios. Trata-se de criar condições
para o desenvolvimento de um pensamento crítico, autônomo e criativo em relação às
novas tecnologias de comunicação e informação (Lemos, & Costa, 2007).
3 Segundo Marco Antônio Moreira, “[...] a aprendizagem significativa é um processo por meio
do qual uma nova informação relaciona-se, de maneira substantiva (não-literal) e não-arbitrária,
a um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo”. Em outras palavras, os novos
conhecimentos que se adquirem relacionam-se com o conhecimento prévio que o aluno possui
(Moreira apud Aprendizagem significativa, n.d.).
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ACESSO E DIVERSIDADE _ HUDSON LUPES RIBEIRO DE SOUZA
Nessa perspectiva, como poderia então se tornar incluído um indivíduo que aprende a
utilizar softwares mas que não pode saber como realmente estes funcionam? Além disso,
como podem projetos de inclusão proporem o contato de indivíduos “marginalizados”
com softwares proprietários caros o bastante para impossibilitar sua utilização?
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ACESSO E DIVERSIDADE _ HUDSON LUPES RIBEIRO DE SOUZA
conhecimento e de programas, o que deve ser feito a partir de iniciativas que apresentem
as oportunidades e possibilidades de democratização dispostas através da utilização e
desenvolvimento do software livre. Portanto, somente programas de inclusão digital que
efetivam seu processo de aprendizagem baseando-se em ferramentas livres, gratuitas e
abertas incentivam a produção de conhecimento acessível e compartilhável.
Os espaços de debate sobre GI são os primeiros que devem ser inclusivos. Afinal, de
que adianta debater sobre governança e inclusão de “outros” sendo que antes mesmo
do debate estes já foram excluídos? Com isso, inicia-se ali mesmo nos espaços onde
se almeja a horizontalização do debate sobre a Internet, o processo de exclusão das
realidades sobre as quais se definem políticas. Políticas desconhecidas para pessoas
rejeitadas. É necessário que os espaços de debate sobre GI se tornem mais plurais,
democráticos e representativos!
Cabe então à Governança e a todas suas atrizes o imenso e árduo dever de exigir
e executar políticas para benefício dos desenvolvimentos locais e pela garantia do
direito à inclusão digital. E que esse direito se realize respeitando as divergências e
especificidades culturais regionais, ao passo que fomente a liberdade de expressão, a
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ACESSO E DIVERSIDADE _ HUDSON LUPES RIBEIRO DE SOUZA
Se a GI não parte do pressuposto de que seus processos devem ser acessíveis e de que
para isso precisa se reformular já, então nem mesmo os direitos das bilhões de pessoas
já conectadas serão ampliados. Para conectar mais quaisquer outras dezenas que sejam,
é indispensável pensar a Governança da Internet a partir da Inclusão Digital.
_REFERÊNCIAS
Almeida, D., & Riccio, N. C. R. (2011). Autonomia, Liberdade e Software Livre: algumas
reflexões. In Bonilla, M. H. S., & Pretto, N. D. L. (Orgs.) Inclusão digital: polêmica
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Alonso, L. B. N., Ferneda, E., & Santana, G. P. (2010). Inclusão digital e inclusão social:
contribuições teóricas e metodológicas. Barbaroi, (32). p. 154-177. Recuperado de <http://
pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-65782010000100010>
Cogo, D., Dutra-Brignol, L., & Fragoso, S. (2014). Práticas cotidianas de acesso às
TIC: outro modo de compreender a inclusão digital. Palabra Clave, 18(1), p. 156-183.
Recuperado de <https://dx.doi.org/10.5294/pacla.2015.18.1.7>
Dias, L. R. (2011). Inclusão digital como fator de inclusão social. In Bonilla, M. H. S., & Pretto,
N. D. L. (Orgs.) Inclusão digital: polêmica contemporânea. Salvador: EDUFBA. pp. 61-90
Governança da Internet (n.d.). In Wikipedia. Recuperado em julho 13, 2017, de: <https://
pt.wikipedia.org/wiki/Governan%C3%A7a_da_Internet>
Lemos, A., & Costa, L. (2007). Um modelo de inclusão digital. O caso da cidade de
Salvador. In Lemos, A. (Org.). Cidade Digital: portais, inclusão e redes no Brasil.
Salvador: EDUFBA. pp. 35-48.
39
ACESSO E DIVERSIDADE _ HUDSON LUPES RIBEIRO DE SOUZA
Silveira, S. A. (2014). Para Analisar o Poder Tecnológico Como Poder Político. In Silveira,
S. A., Braga, S., & Penteado, C. (Orgs.) Cultura, política e ativismo nas redes digitais. São
Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo.
West, A. R. (2007). Technology Related Dangers: The Issue of Development and Security
for Marginalized Groups in South Africa. The Journal of Community Informatics, 2(3).
Recuperado de <http://ci-journal.net/index.php/ciej/article/view/272>
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ACESSO E DIVERSIDADE _ JULIANA DE FREITAS GONÇALVES
DADOS ABERTOS E O
PODER DOS CIDADÃOS
QUE FISCALIZAM
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ACESSO E DIVERSIDADE _ JULIANA DE FREITAS GONÇALVES
_TEMÁTICA
Acesso e diversidade
Cooperação de múltiplas partes interessadas
_RESUMO
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ACESSO E DIVERSIDADE _ JULIANA DE FREITAS GONÇALVES
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ACESSO E DIVERSIDADE _ JULIANA DE FREITAS GONÇALVES
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ACESSO E DIVERSIDADE _ JULIANA DE FREITAS GONÇALVES
indignação com acontecimentos recentes – como a Operação Lava Jato5 – mas para isso
algumas mudanças ainda devem ocorrer. Não é apenas o acesso aos dados que importa,
mas sim o acesso qualificado. É necessário um certo nível de profissionalização para
que o cidadão tenha conhecimento sobre como chegar até as informações e fazer uso
adequado delas. Esse movimento também inclui linguagem mais acessível e interfaces
mais amigáveis e com usabilidade otimizada nos portais de transparência. Dados
que não podem ser encontrados ou trabalhados perdem a sua utilidade e prejudicam
o objetivo inicial de transparência – que só existe quando os cidadãos realmente
conseguem utilizar o que têm em mãos.
Outro conhecimento que se torna cada vez mais necessário, sendo já considerado
como a nova forma de alfabetização em um mundo conectado, é a programação.
Iniciativas como a Serenata de Amor mostram como um algoritmo pode ser útil e
eficiente para lidar com a quantidade gigantesca de dados disponíveis de uma maneira
que apenas o trabalho manual não conseguiria executar. Além disso, outras formas de
transparência que devem ser cobradas dos governos requerem conhecimentos técnicos
para, por exemplo, auditar algoritmos usados em sorteios ou em outras decisões
oficiais. O cidadão precisa reconhecer e se apoderar do seu direito de saber e isso requer
também a cobrança de iniciativas públicas que tornem esses conhecimentos acessíveis
a todos de forma igualitária, sem discriminação econômica, racial ou de gênero. Mais
uma urgência na luta pela redução da desigualdade e por uma educação de qualidade.
Além disso, mesmo com todo o progresso já obtido no que diz respeito aos dados
abertos, estamos longe de um estágio satisfatório. Segundo relatório do Ministério da
Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União (2016), entre 2012 e 2015, a
Lei de Acesso à Informação foi utilizada para 334.463 pedidos de acesso, dos quais 333.854
foram respondidos – uma eficiência de 99,8%, incluindo pedidos atendidos, negados e
5 Conjunto de investigações da Polícia Federal do Brasil, em curso desde 2014, com objetivo
de identificar casos de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo políticos e empresas, como
construtoras e a Petrobras.
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ACESSO E DIVERSIDADE _ JULIANA DE FREITAS GONÇALVES
não atendidos. Porém mesmo com a lei, muitos dados ainda são incorretos, faltantes
ou difíceis de serem compreendidos. Além da dificuldade de acesso à Internet em
muitas localidades do Brasil, nem todos os dados estão disponíveis no mesmo lugar,
mesmo com a existência de um site oficial do próprio governo para esta finalidade,
o que dificulta a utilização dos dados e aumenta o tempo necessário para achar as
informações desejadas.
_REFERÊNCIAS
46
ACESSO E DIVERSIDADE _ JULIANA DE FREITAS GONÇALVES
Salomão, L. (2017). Brasil está em 79º lugar entre 176 países, aponta ranking da
corrupção de 2016. G1. Mundo. Recuperado de: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/
brasil-esta-em-79-lugar-entre-176-paises-aponta-ranking-da-corrupcao-de-2016.
ghtml>
Transparency International (2017). Open data and the fight against corruption in Brazil:
report. Recuperado de: <https://www.transparency.org/whatwedo/publication/open_
data_and_the_fight_against_corruption_in_brazil>
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INCLUSÃO
DIGITAL
INCLUSÃO DIGITAL _ GEORGINA A. GUERCIO
GEORGINA A. GUERCIO
Advogada, graduada pela Faculdade de Direito da Universidade
Nacional de Cuyo, Mendoza, Argentina.
georgina.g.33@gmail.com
Argentina
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INCLUSÃO DIGITAL _ GEORGINA A. GUERCIO
_TEMÁTICA
Inclusão digital
Direitos digitais
_RESUMO
50
INCLUSÃO DIGITAL _ GEORGINA A. GUERCIO
A Organização das Nações Unidas (ONU) já referia em sua Cúpula Mundial sobre
a Sociedade da Informação de 20031 que o que chamamos de “brecha digital” pode ser
sintetizado na divisão entre aqueles que podem efetivamente usar as novas ferramentas
da informação e comunicação, tais como a Internet, e aqueles que não podem. Tendo
em conta esta conceitualização, e sem perder de vista reformulações posteriores sobre
essas diretrizes e nuances, a sociedade, de modo geral, de acordo com Buchmueller et al.
(2011), seria atomizada em dois grandes grupos: os
chamados onliners e os “none-liners”. A complexidade
e a riqueza da análise que levanta esta distinção não
para aqui, pois existem múltiplas arestas que devem A QUESTÃO EM
ser vistas se entendermos que não se trata apenas TORNO DA BRECHA
de um problema quantitativo, restrito ao acesso DIGITAL ESTÁ
às tecnologias da informação e à infraestrutura
EFETIVAMENTE
para isso, mas que o fenômeno se desenrola em
CIRCUNSCRITA A
um contexto de desigualdades econômicas, sociais,
DUAS DIMENSÕES
culturais e políticas prevalecentes nas sociedades,
das quais a brecha digital participa.
GERAIS: A
INFRAESTRUTURA
Contrariamente a esta visão reducionista, a (CONECTIVIDADE) E
partir da qual geralmente é encarado o estudo de O MERO ACESSO E
manifestações sociais e tecnológicas cada vez mais DESENVOLVIMENTO
complexas, é possível redimensionar a questão em DE COMPETÊNCIAS
causa e adicionar outras variantes como a cultura
TÉCNICAS PARA A
empresarial para orientar a ação econômica para a
UTILIZAÇÃO DAS
rede, a capacidade e eficiência para o gerenciamento
TIC (FORMAÇÃO
e manutenção de recursos em rede, a cooperação,
o investimento de capital — para a criação, gestão
TÉCNICA)
e manutenção da rede — acompanhado de um
quadro legal e planejamento adequado, treinamento
1 A Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação (CMSI) foi uma cúpula organizada pelas
Nações Unidas em duas fases: uma teve lugar em Genebra (2003) e outra na Tunísia (2005). Um dos
seus principais objetivos foi o tratamento da brecha digital global, que separa países ricos de países
pobres, através da difusão do acesso à Internet no mundo em desenvolvimento.
51
INCLUSÃO DIGITAL _ GEORGINA A. GUERCIO
profissional, conteúdo de qualidade e no próprio idioma. Por último, mas não menos
importante, usuários com habilidades e competências que lhes permitam o uso eficiente
da rede. Estas notas esboçadas, e sem a intenção de serem excludentes e limitativas,
mostram inegavelmente que estamos enfrentando um fenômeno multidimensional
em que, embora seja válido vincular diretamente a brecha digital com o acesso às TIC
(infraestrutura, acessibilidade e usabilidade para vincular-se à rede de redes), sua base
responde a processos sociais que requerem interpretações renovadas, dependendo da
incidência e da capacidade de transformação da tecnologia.
A falta de acesso às TIC, sem dúvida, constitui mais uma causa condicionante da
verdadeira igualdade de oportunidades, uma vez que marginalizar hoje os setores
sociais menos favorecidos dos benefícios da Internet implica fechar-lhe a porta de
entrada para o mundo da Informação e do conhecimento. Falamos então, não só
de uma brecha digital com todas as suas implicações, mas também de uma brecha
cognitivo. Esta última está à mercê dos vertiginosos avanços técnicos e corre o risco de
se aprofundar, tornando mais grave a desintegração social que agora acrescenta outra
forma de exclusão: a exclusão social digital.
Esses parágrafos visam a despojar o leitor da ideia de que o mero fato de dar a
uma pessoa os meios para se estar na rede provoca, por osmose, um processo de
autossuperação pessoal imediato que elimina as desigualdades que estão na base da
brecha digital. Vamos, portanto, tentar ponderar o papel da educação como um processo
construído a partir da participação e do envolvimento de todos os atores da sociedade,
cujo objetivo não é apenas alfabetizar no informacional, mas também alcançar uma
massa crítica de cidadãos que possam transformar-se e transformar a sociedade.
52
INCLUSÃO DIGITAL _ GEORGINA A. GUERCIO
A noção de exclusão social surge em meados da década de 1970 como uma tentativa
de superar o conceito de pobreza, e de acordo com Sen (2000), é entendida em conexão
com a desigualdade e limitações no acesso a certos bens ou serviços contidos, em sua
interpretação, com considerações puramente econômicas. Esta formulação reflete-se
igualmente nos termos utilizados para definir a exclusão digital nos seus primórdios, e
apesar das críticas e subsequentes contribuições que foram feitas a esta conceitualização,
as representações que a definição transpõe para o tratamento da exclusão digital
parecem prevalecer. Portanto, para superar essa análise superficial torna-se essencial
considerar outros fatores, porque pode mesmo acontecer que os grupos que são excluídos
digitalmente estejam conformados por pessoas que não pertençam necessariamente a
grupos tradicionalmente excluídos, em uma concepção social e econômica da exclusão,
embora seja verdade que o vazio tecnológico coexiste e aumenta os efeitos da exclusão
social compreendida a partir de um modelo tradicional.
53
INCLUSÃO DIGITAL _ GEORGINA A. GUERCIO
exemplo, a falência ou a erosão de duas categorias nas quais assenta uma das chaves
para a inclusão social: o âmbito vincular ou relacional e o ambiente econômico laboral.
Aqui, ganha importância o papel que as TIC desempenham, já que sua apropriação e
suas potencialidades permitem recuperar os espaços perdidos dentro da vida social.
No entanto, não deve ser deduzido, sem qualquer outra consideração, que a inclusão
digital implicitamente implica a dimensão da
inclusão social, mas sim um grande avanço sobre
ela. A Internet, especialmente, é apresentada como
A EXCLUSÃO um fator de mobilidade social, e como instrumento
SOCIAL É UM demonstrou sua penetração e enorme capacidade
PROBLEMA MUITO de mudar o ambiente de trabalho; daí sua
MAIS COMPLEXO incidência na estruturação e no aprofundamento
E QUE ENGLOBA A das desigualdades. Esta é uma das razões pelas
EXCLUSÃO DIGITAL, quais se deve insistir em ponderar seu valor de
QUE, SEGUNDO uso em oposição ao valor de troca ou comércio que
representa ou pode representar.
FREDERICK (1993),
CRIA NOVOS O binômio inclusão/exclusão pode ser reduzido,
MODELOS DE embora não de forma autossuficiente, através
DESIGUALDADE de uma séria reformulação da educação formal e
informal. Com isso em mente, um dos primeiros
passos a se dar para que a chamada brecha digital
comece a diminuir é superar o preconceito de que, sobre as TIC e sua contribuição, os
atores que as têm em suas mãos mantêm a possibilidade de agir e decidir. É essencial
perceber que a impossibilidade de interagir com as novas tecnologias alimenta a
exclusão digital e que, por sua vez, esta aumenta a exclusão social.
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INCLUSÃO DIGITAL _ GEORGINA A. GUERCIO
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INCLUSÃO DIGITAL _ GEORGINA A. GUERCIO
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INCLUSÃO DIGITAL _ GEORGINA A. GUERCIO
técnico e instrumental em que a maioria dos esforços atuais neste campo estão
focados; uma verdadeira alfabetização digital não deve apenas consistir em ensinar
como usar o computador e algumas aplicações, mas deve fornecer os elementos básicos
para o desenvolvimento de capacidades que permitam revalorizar e questionar os usos
atribuídos às ferramentas, além de permitir a compreensão e talvez o domínio das
linguagens de codificação. Terceiro, a atitude com que as TIC são enfrentadas, sem
perder de vista a complexidade de cada realidade individual e o componente de vontade:
essa deve ter como objetivo construir espaços de liberdade e crítica vital sem se esquecer
de contribuir, do lugar que ocupa, para o tecido de redes de cooperação.
4_REFLEXÕES FINAIS
2 Ver em <https://www.educ.ar/>
3 Ver em <https://www.argentina.gob.ar/111mil>
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INCLUSÃO DIGITAL _ GEORGINA A. GUERCIO
Da sua transversalidade, as TIC, para além dos perfis da população excluída (e apesar
das críticas que são concebidas e da consequente apreensão que geram), contribuem e
contribuirão com soluções válidas e vantajosas. Precisamente sobre o assunto que este
texto abrange, pode-se ver como as TIC poderiam contribuir claramente para a inclusão
dos grupos mais desfavorecidos, operando a partir do relacional e do laboral, tornando-
se um meio para alcançar certos objetivos adaptativos, educativos e ressocializantes.
Igualmente é adicionado o conceito de alfabetização digital, que é revolucionário na
medida em que aponta para um treinamento que
supera as meras competências instrumentais; no
caso específico do coletivo que sofre ou tem sofrido
O PROMISSOR
uma pena privativa da liberdade, procura promover a
HORIZONTE DA
aquisição de habilidades que estejam ligadas à busca
SOCIEDADE DA da autonomia, da autocrítica e da conscientização
INFORMAÇÃO de responsabilidade social individual.
LEVANTA UM
CERTO OTIMISMO Apenas com uma apropriação adequada das TIC
ANCORADO NAS é que isso será viável, objetivo que será alcançado
se existirem recursos humanos e materiais sólidos
POTENCIALIDADES
combinados com um direcionamento correto do
DO INTERCÂMBIO
conhecimento e das formas que se empreguem em
EQUILIBRADO E
sua utilização. Embora as peculiaridades do contexto
RAZOÁVEL DA de reclusão estejam necessariamente presentes,
INFORMAÇÃO, MAS para se alcançar os objetivos propostos deve-se
SOBRETUDO DO tentar penetrar no espaço de trabalho, abordar os
CONHECIMENTO, E assuntos e, tanto quanto possível, as adversidades.
NA IDEIA DE QUE A Revela-se a insuficiência dos perfis puramente
TECNOLOGIA É UM técnicos para esta tarefa, sendo aconselhável dar um
PROPULSOR DO passo em direção a um perfil de alfabetizador digital
DESENVOLVIMENTO social, que assuma este desafio também a partir de
uma dimensão ética, pedagógica e reconhecendo
58
INCLUSÃO DIGITAL _ GEORGINA A. GUERCIO
_REFERÊNCIAS
59
INCLUSÃO DIGITAL _ GEORGINA A. GUERCIO
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GEORGINA A. GUERCIO
Bolsista de pesquisa e professora
universitária adjunta. Colaboradora no
Programa de Educação Universitária
em Contexto de Encarceramento da
Universidade Nacional de Cuyo.
61
INCLUSÃO DIGITAL _ MAUREEN MERCHÁN DE LAS SALAS
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INCLUSÃO DIGITAL _ MAUREEN MERCHÁN DE LAS SALAS
_TEMÁTICA
Inclusão digital
_RESUMO
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INCLUSÃO DIGITAL _ MAUREEN MERCHÁN DE LAS SALAS
1_DEFINIÇÕES
1.1_POLÍTICAS PÚBLICAS
Definir as políticas públicas não é uma tarefa simples, variando de acordo com
o momento histórico, foco e propósitos. No entanto, é importante mencionar alguns
autores com objetivo de entender como as decisões governamentais impactam na vida
dos cidadãos, sendo essas um “curso de atividade ou
inatividade governamental em resposta a problemas
públicos” (Kraft, & Furlong, 2007, tradução nossa), a
partir das quais podem se resolver problemas sociais, O PARADIGMA DO
econômicos, participativos, políticos etc. Planificada e DESENVOLVIMENTO
implementada pelas instituições que fazem parte do HUMANO FOCADO
Estado, “a política pública se apresenta sob a forma NOS JOVENS
de um programa de ação, próprio de uma ou várias ESBOÇA A
autoridades públicas ou governamentais” (Thoenig, NECESSIDADE
1999, tradução nossa). DE GARANTIR
Seguindo essa ideia – e para a análise abordada
OPORTUNIDADES DE
neste artigo –, as políticas públicas são o roteiro que DESENVOLVIMENTO
as entidades do Estado desenvolvem, planificam, PARA A GERAÇÃO E
implementam e gerenciam para resolver problemas FORTALECIMENTO
de interesse público dos cidadãos, sendo um “processo DE SUAS
integrador de decisões, atividades, inatividades CAPACIDADES
acordos e instrumentos” (Gavilanes, 2009, tradução
nossa).
1.2_DESENVOLVIMENTO HUMANO
64
INCLUSÃO DIGITAL _ MAUREEN MERCHÁN DE LAS SALAS
1.3_BRECHA DIGITAL
A brecha digital terá diferentes definições de acordo com o espaço ou foco. Para
começar, devemos mencionar que ela é a diferença de acesso às TIC existente entre
pessoas, países, homens e mulheres, crianças, jovens e adultos, existindo como
consequência da desigualdade socioeconômica e dos problemas de distribuição de renda,
investimento em infraestrutura e nível educacional da região (Comissão Econômica
para a América Latina e o Caribe [CEPAL], 2002)
Ainda que este não seja o único foco que nos interessa incorporar à análise, é
importante citar outros conceitos relacionados com a sociedade da informação quando
nos referimos à “brecha que existe entre indivíduos e sociedades que têm os recursos
para participar na era da informação” (Chen, & Wellman, 2003, tradução nossa).
1.4_INCLUSÃO DIGITAL
65
INCLUSÃO DIGITAL _ MAUREEN MERCHÁN DE LAS SALAS
A respeito das diferenças de acesso à Internet entre os países ricos e pobres, expõe-
se que o preço dos serviços de telecomunicações tem papel fundamental para reduzir a
brecha digital. Mesmo que os preços dos serviços de banda larga móveis tenham caído
entre 20 e 30% durante 2015, as economias em desenvolvimento apresentam problemas
dado que seus serviços móveis representam mais de 20% do Produto Nacional Bruto
(PNB) per capita. Na América a brecha digital apresenta-se em suas diferentes
economias, sendo EUA e Canadá os países com maior Índice de Desenvolvimento das
Telecomunicações (IDT) e Nicarágua e Cuba os dois últimos, respectivamente.
O preço que as pessoas devem pagar para ter acesso aos serviços de telecomunicações
é um fator determinante para reduzir a brecha digital. Segundo o ranking do IDT da
União Internacional de Telecomunicações, a Colômbia ocupa o posto 75 a nível mundial
e 14 na regional, melhorando sua posição em relação à classificação de 2010, mas sem
superar países como o Uruguai, que está na posição número 4.
1 Inclui: dois smartphones com plano de dados e voz mais econômico, TV paga e conexão banda
larga fixa.
66
INCLUSÃO DIGITAL _ MAUREEN MERCHÁN DE LAS SALAS
Dando continuidade aos dados expostos no parágrafo anterior, tomo como exemplo
os resultados da pesquisa “Latinobarómetro 2013”, da CEPAL (2013), que mostra que 34,6%
dos jovens da região acessam a Internet todos os dias, enquanto que 26,3% o fazem
ocasionalmente. Ou seja, aproximadamente 60% dos jovens entre 16 e 29 anos tinham
acesso à tecnologia, superando em alguma medida a brecha digital. Porém, a distribuição
de acesso às TIC dos jovens varia de acordo com a sua condição socioeconômica: “a
metade dos jovens de classe alta (48%) da região usa Internet todos os dias e 28% o fazem
de forma ocasional […], pouco mais de um quarto dos jovens de classe média (27%)
usa Internet todos os dias e 28% ocasionalmente” (Sunkel, 2015, tradução nossa). Os
números são altos em comparação com o acesso à Internet dos jovens dos setores mais
pobres, dado que só “13% usam Internet todos os dias e 18% o fazem ocasionalmente”
(ibid.).
67
INCLUSÃO DIGITAL _ MAUREEN MERCHÁN DE LAS SALAS
É inegável que as TIC mudaram a maneira com que nos relacionamos, e seu uso
reflete “as iniquidades e injustiças das sociedades nas quais se encontram inseridas”.
Deve-se reconhecer que as TIC não são negativas ou positivas para a sociedade, mas
sim “tomam a forma e direção da sociedade na qual são introduzidas”, dando forma às
relações sociais (Gómez apud Kuttan, & Peters, 2003).
A oportunidade que os jovens têm para acessar a Internet não depende apenas da
desigualdade social, pobreza e nível educativo. O meio pelo qual eles iniciam o uso
das TIC impactará a forma como se apropriam da tecnologia e desenvolverão com ela
capacidades de participar da sociedade da informação. Por exemplo, a Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) afirma que “as
desigualdades, a estigmatização e as discriminações” são produtos das desigualdades
de gênero, etnia, idioma, deficiência e lugar de residência. Elas afetam os processos
de desenvolvimento e devem ser trabalhadas com cuidado nos entornos virtuais para
“não contribuir para acentuar as brechas, pelo contrário, devem apoiar sua eliminação”
(UNESCO, 2010, tradução nossa).
Em suma, a redução da (primeira) brecha digital nos jovens segue sendo uma tarefa
que exige esforços de muitos setores e agentes da sociedade. Começa pelos governos e as
políticas públicas que estes desenham para garantir o acesso universal às TICs, assim
como os operadores de telecomunicações (públicos e privados), empresários, escolas,
universidades e os próprios jovens. Também é necessário desenvolver políticas públicas
para a inclusão digital ou redução da segunda brecha, “que diz respeito às diferenças
existentes entre grupos segundo suas capacidades ou habilidades para utilizar as
tecnologias de forma eficaz […] onde se joga a possibilidade de que a juventude aproveite
as oportunidades que as novas tecnologias oferecem” (Sunkel, 2015, tradução nossa).
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INCLUSÃO DIGITAL _ MAUREEN MERCHÁN DE LAS SALAS
As políticas sobre inclusão digital deveriam gerar capacidades nos jovens para
lhes ajudar a superar situações de vulnerabilidade, exclusão, pobreza, bullying etc.,
além de construir o caminho para que eles entrem na sociedade da informação e
conhecimento. Em consonância a isso, a UNESCO, em seu relatório “Rumo às Sociedades
do Conhecimento” (Towards Knowledge Societies), menciona que a redução da brecha
digital não será suficiente para diminuir as brechas do conhecimento, sendo um
assunto mais complexo que o desenvolvimento
da infraestrutura tecnológica (UNESCO, 2005)3.
Como mecanismo para facilitar a redução da
AS POLÍTICAS SOBRE
pobreza, o ingresso na sociedade da informação
INCLUSÃO DIGITAL
e, sobretudo, a mobilidade socioeconômica
daqueles que aprendem a fazer um uso crítico
DEVERIAM GERAR
das TICs, as discussões sobre a redução da CAPACIDADES NOS
brecha digital devem ser mais profundas JOVENS PARA LHES
a respeito “dos usos e seus impactos, […] AJUDAR A SUPERAR
contar com a alfabetização digital básica para SITUAÇÕES DE
conseguir melhores processos de aprendizagem, VULNERABILIDADE,
[…] ter mais ferramentas no âmbito do trabalho EXCLUSÃO, POBREZA,
e também exercer nossa cidadania” (UNESCO, BULLYING ETC.
2013, tradução nossa).
4_CONCLUSÕES
3 O texto original encontra-se em inglês “Closing the digital divide will not suffice to close
the knowledge divide, for access to useful, relevant knowledge is more than simply a matter of
infrastructure – it depends on training, cognitive skills and regulatory frameworks geared towards
access to contents”.
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INCLUSÃO DIGITAL _ MAUREEN MERCHÁN DE LAS SALAS
A apropriação digital será a etapa em que os jovens deverão fazer o uso crítico
das TIC, desenvolvendo capacidades reflexivas sobre seu entorno, as necessidades
sociais de suas comunidades, seu papel na democracia participativa, a organização
e classificação da informação para a geração de conhecimento, convertendo-se em
agentes de mudança. O principal objetivo das políticas TIC para os jovens é proporcionar
a formação de agentes de mudança.
_REFERÊNCIAS
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CIBER-
SEGURANÇA
CIBERSEGURANÇA _ ARTHUR EMANUEL LEAL ABREU
NUANCES DA PRIVACIDADE NA
ERA DIGITAL
74
CIBERSEGURANÇA _ ARTHUR EMANUEL LEAL ABREU
_TEMÁTICA
Cibersegurança
Direitos Digitais
Problemas Emergentes da Internet
_RESUMO
75
CIBERSEGURANÇA _ ARTHUR EMANUEL LEAL ABREU
Por consequência, a revolução provocada pela Internet acaba por tocar em direitos
fundamentais dos seres humanos, como a honra, a imagem e, especialmente, a
privacidade. Afinal, como afirma Stefano Rodotà (2013, p. 11), “[...] hoje, o simples
fato de ‘estar em sociedade’ não pode mais ser separado de um ininterrupto fluxo de
informações que da pessoa se difundem em uma multiplicidade de direções”, o que
permite aos receptores das informações construírem suas “verdades” acerca do objeto
emissor de dados.
76
CIBERSEGURANÇA _ ARTHUR EMANUEL LEAL ABREU
Ocorre que, mesmo diante da exposição nas redes virtuais, não se pode cogitar
uma renúncia geral da privacidade. É preciso ter sempre em mente que se trata de
uma disposição voluntária do indivíduo, que escolhe aspectos da sua vida particular
para compartilhar – em pequena escala, com seus amigos mais próximos, ou em larga
escala, com um público irrestrito. Contudo, a pessoa deve ter o controle sobre o que
compartilha e com quem compartilha.
77
CIBERSEGURANÇA _ ARTHUR EMANUEL LEAL ABREU
Na sociedade atual, com ferramentas como o Instagram, qualquer pessoa pode ser alçada
à condição de “celebridade”, no sentido já mencionado por Bauman. Todavia, ressalva-se
que todas as pessoas, até as celebridades – erroneamente denominadas “pessoas públicas”,
como salienta Anderson Schreiber (2013, p. 44) –, têm direito à privacidade:
Diante do receio de invasões à sua privacidade, nada mais justo que a própria pessoa
célebre tomar a iniciativa de compartilhar, nas redes sociais ligadas à Internet, os
aspectos de sua vida privada que selecionar. Desse modo, assegura-se, pelo menos, o
prévio controle acerca do conteúdo que será publicado, assim como da forma pela qual
será recepcionado pelo público.
78
CIBERSEGURANÇA _ ARTHUR EMANUEL LEAL ABREU
_REFERÊNCIAS
79
CIBERSEGURANÇA _ ARTHUR EMANUEL LEAL ABREU
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80
CIBERSEGURANÇA _ NATALIA MENDOZA SERVÍN
81
CIBERSEGURANÇA _ NATALIA MENDOZA SERVÍN
_TEMÁTICA
Cibersegurança
Direitos digitais
Problemas emergentes da internet
_RESUMO
82
CIBERSEGURANÇA _ NATALIA MENDOZA SERVÍN
1 Decreto pelo qual se reformam e adicionam diversas disposições da Constituição Política dos
Estados Unidos Mexicanos em matéria de transparência (2014).
2 Além disso, seria necessário adicionar o assunto dos arquivos públicos, uma vez que o
bom funcionamento desses permite tornar a transparência e o direito de acesso à informação
uma realidade. Não obstante, o Estado mexicano possui um Sistema Nacional de Arquivos,
supervisionado pelo Arquivo Geral da Nação, que se vincula a todo momento com o INAI.
83
CIBERSEGURANÇA _ NATALIA MENDOZA SERVÍN
Uma vez que este artigo pretende identificar os desafios que existem entre o direito
à privacidade e a proteção dos dados frente às TIC, não entraremos em detalhes na
discussão entre a ponderação deste último ponto e o direito à informação. Entretanto,
é importante reconhecer que as TIC constituem fatos de substancial alcance em
muitas áreas da vida humana, incluindo aqueles relacionados ao direito de acesso
à informação, prestação de contas e transparência, de tal forma que esses têm sido
considerados direitos humanos de quarta geração (García Mexía, 2014). Contudo, seu uso
arbitrário e a regulação normativa inadequada também implicam uma série de efeitos
sérios sobre outros direitos que são objeto desta análise.
4 De acordo com o Mckinsey Global Institute (2011 apud Joyanes, 2013), o big data é o conjunto de
dados cujo tamanho está além das capacidades das ferramentas típicas de software de banco de
dados para capturar, armazenar, gerenciar e analisar.
5 De acordo com o artigo 3º, seção VI, da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais em Posse de
Sujeitos Obrigados (2017), a computação em nuvem é o modelo de prestação externa de serviços
de computação sob demanda, que envolve a provisão de infraestrutura, plataforma ou programa
informático, distribuídos de forma flexível, através de procedimentos virtuais, em recursos
compartilhados de forma dinâmica.
7 De acordo com o artigo 3º, seção VI, do Decreto pelo qual se expede a Lei Geral sobre
Transparência e Acesso à Informação Pública (2015), os dados abertos são dados digitais de
caráter público que são acessíveis online e que podem ser usados, reutilizados e redistribuídos por
qualquer interessado.
8 Santamaría González (2008) ressalta que uma rede social é uma estrutura social formada por
nós – geralmente indivíduos ou organizações – ligados por um ou mais tipos de interdependência,
como valores, pontos de vista, ideias, troca financeira, amizade, parentesco, conflito, comércio,
entre outros.
84
CIBERSEGURANÇA _ NATALIA MENDOZA SERVÍN
Como pôde ser visto, as TIC constituem um pilar fundamental para se alcançar
um estado ótimo de transparência, prestação de contas, acesso à informação
e desenvolvimento integral dos indivíduos. Ou seja, beneficiam e fortalecem
significativamente o Sistema Nacional de Transparência nos assuntos anteriormente
mencionados. Não obstante, o desafio da proteção da privacidade e dos dados pessoais
no México ainda tem questões pendentes sobre as TIC, uma vez que os ordenamentos
mais altos nessa matéria apenas contemplam mecanismos jurídicos que permitem
uma verdadeira proteção do direito à privacidade e proteção de dados online.
9 O exemplo mais conhecido é o caso de Edward Snowden, que acusou os Estados Unidos de
violarem a privacidade e as liberdades da população mundial na Internet. No entanto, isso não
deve ser um pretexto para o bloqueio das TIC, como no caso da Stop Online Piracy Act (Lei de
Combate à Pirataria Online ou S.O.P.A, na sigla em inglês).
10 Nota do revisor: De acordo com o art. 1º da lei, “sujeitos obrigados” são “no âmbito federal,
estadual e municipal, qualquer autoridade, entidade, órgão ou organismos dos Poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário, órgãos autônomos, partidos políticos, de fidúcia e fundos públicos”.
11 Art. 64 da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais em Posse de Sujeitos Obrigados (2017).
85
CIBERSEGURANÇA _ NATALIA MENDOZA SERVÍN
3.1_IDENTIDADE DIGITAL
Toda pessoa tem direito a uma identidade, que pode ser composta de nome,
sobrenome ou nacionalidade, entre outros dados. Todos essas informações são únicas
do indivíduo, tornando-o credor de certos tipos de direitos e obrigações.
Nesse mesmo sentido, em uma época em que é quase impossível que os seres
humanos não interajam com as TIC é fundamental delimitar a identidade digital. Isso
significa determinar que informações tornam um indivíduo único quando online, com
fins de garantir-lhe direitos e também obrigações frente ao restante dos usuários.
3.2_DIREITO AO ESQUECIMENTO
Assim como na Europa, o México apenas começa a analisar esse tipo de questão,
que é a possibilidade de as pessoas poderem eliminar da Internet informação que
afete seu livre desenvolvimento.
86
CIBERSEGURANÇA _ NATALIA MENDOZA SERVÍN
É verdade que as leis sobre proteção de dados pessoais do México preveem medidas
de segurança para proteger informações pessoais. No entanto, é importante a promoção
e estudo dessas medidas em relação às necessidades colocadas pelas TIC.
Nesse sentido, as autoridades devem promover a ideia de que tudo o que se deseja
implementar dentro das instituições que detêm posse sobre dados pessoais deve
cumprir com as leis de proteção de dados, acrescentando que proteger a privacidade é
um bom investimento para eles também13. Isso significa que tanto o titular dos dados
quanto a instituição ganham protegendo a privacidade.
13 Além de evitarem sanções legais, é importante apontar que titulares manifestam cada vez
mais interesse por serviços que protegem sua privacidade.
87
CIBERSEGURANÇA _ NATALIA MENDOZA SERVÍN
_REFERÊNCIAS
Constituição Política dos Estados Unidos Mexicanos (Constitución Política de los Estados
Unidos Mexicanos) (1917, 5 de fevereiro). Cámara de Diputados del H. Congreso de la
Unión. Última reforma publicada em 24 de fevereiro de 2017. Retirado de: <http://www.
diputados.gob.mx/LeyesBiblio/pdf/1_240217.pdf>
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(Decreto por el que se expide la Ley General de Transparencia y Acceso a la Información
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gob.mx/LeyesBiblio/pdf/LGPDPPSO.pdf>
88
CIBERSEGURANÇA _ NATALIA MENDOZA SERVÍN
Vélez Martínez, C. (2015, maio). Internet de las cosas. Gazeta eletrônica. Instituto de
Engenharia da Universidade Nacional Autônoma do México. Retirado de <http://
www.iingen.unam.mx/es-mx/Publicaciones/GacetaElectronica/Mayo2015/Paginas/
Internetdelascosas.aspx>
89
DIREITOS
DIGITAIS
DIREITOS DIGITAIS _ JULIETA COLOMBO GARDEY + ANTONELLA MAIA PERINI
91
DIREITOS DIGITAIS _ JULIETA COLOMBO GARDEY + ANTONELLA MAIA PERINI
_TEMÁTICA
Direitos digitais
Acesso e diversidade
Cooperação de múltiplas partes interessadas
_RESUMO
92
DIREITOS DIGITAIS _ JULIETA COLOMBO GARDEY + ANTONELLA MAIA PERINI
1_ANTECEDENTES
93
DIREITOS DIGITAIS _ JULIETA COLOMBO GARDEY + ANTONELLA MAIA PERINI
Mas o mais notável da LSCA – que substituiria, depois de 29 anos, o antigo decreto-
lei instituído em 1980 pela ditadura militar liderada por Jorge Rafael Videla – é que ela
surge em condições realmente excepcionais. Em 2009 produz-se a confluência de vários
fatores, entre os quais podemos destacar brevemente o surgimento de um conflito entre
os setores agroexportadores e o governo kirchnerista pela determinação desse último de
aumentar os impostos oscilantes às exportações, causando a ruptura das relações — até
o momento amigáveis — entre o governo e o Grupo Clarín.
Anos mais tarde, em dezembro de 2014, é aprovada a lei nº 27.078, conhecida como
“Argentina Digital”, que substituiu a Lei Nacional de Telecomunicações, nº 19.798, que
desde 1972 regulava este setor. Essa primeira tentativa de adaptação às tecnologias
convergentes apresentava nuances diversas. Por um lado, estabelecia a necessidade de
regulamentação e abertura do mercado das telecomunicações, bem como a inclusão do
conceito de neutralidade da rede. Por outro lado, o texto abundava em indefinições e
imprecisões, resultando insuficiente para a proteção da privacidade e dos dados pessoais,
dando poder excessivo à autoridade de aplicação2 e validando um regime de repartição
94
DIREITOS DIGITAIS _ JULIETA COLOMBO GARDEY + ANTONELLA MAIA PERINI
No final do mandato de Cristina Fernández, havia passado seis anos de uma aplicação
deficiente da LSCA que, entre outras coisas, se deveu às ações judiciais interpostas, à
fraca vontade política de perseguir os fins democráticos a partir da implementação da
lei e a sanção de uma norma posterior (“Argentina Digital”) que contrariava os objetivos
definidos por aquela.
uma posição significativa do mercado” (expressão ambígua) a partir da qual pode tomar medidas
como a regulação dos preços de mercado, solicitar desinvestimentos etc. Esse tipo de redação,
que permite a discricionariedade do Estado ou dos organismos de aplicação dos regulamentos em
matéria de comunicação, afasta-se das aspirações de democratização e de transparência da LSCA.
95
DIREITOS DIGITAIS _ JULIETA COLOMBO GARDEY + ANTONELLA MAIA PERINI
3 Nota do revisor: em seu site, a Enacom se descreve como uma “entidade autárquica e
descentralizada que funciona no âmbito o Ministério de Modernização da Nação. Seu objetivo
é conduzir o processo de convergência tecnológica e criar condições estáveis de mercado para
garantir o acesso de todos os argentinos aos serviços de Internet, telefonia fixa e móvel, radio,
correios e televisão. A Enacom foi criada em dezembro de 2015 através do Decreto 267, no qual se
estabelece seu papel como regulador das comunicações com fim de assegurar que todos os usuários
do país contem com serviços de qualidade”. Ver: <https://www.enacom.gob.ar/institucionales_p33>
96
DIREITOS DIGITAIS _ JULIETA COLOMBO GARDEY + ANTONELLA MAIA PERINI
portadores de direitos civis, mas também como usuários finais, é essencial no processo
de regulação normativa. É insuficiente, portanto, criar um espaço digital de consulta
limitado em caracteres, bem como as intervenções delimitadas, carecendo de consultas
complementares em espaços físicos e públicos.
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DIREITOS DIGITAIS _ JULIETA COLOMBO GARDEY + ANTONELLA MAIA PERINI
qual uma lei de liberdade de expressão estaria cumprindo com as formalidades, mas no
fundo estaria procurando “evitar uma participação real” (Enacom).
O papel do Estado como garantidor de direitos pressupõe que este deve regular,
monitorar e agir perante eventuais violações da liberdade de expressão. Na medida em
que se refere a serviços essenciais para o cidadão, o Estado deve ter um papel ativo
para que a administração dos serviços de comunicação não gere situações de abuso de
posição dominante enquanto promove o acesso universal a esses serviços.
Por outro lado, as indústrias dominantes são favorecidas por atribuições mais
permissivas de acesso e exploração do espectro de radiofrequências. De fato, adia as
obrigações das empresas que contraíram licenças de espectro para 4G há três anos,
o que constitui um passe livre para o acesso de grandes empresas de mídia. Além
disso, permite que as companhias telefônicas operem licenças de televisão por cabo e,
inversamente, as operadoras de cabo operem licenças de telefone celular.
4 Nota do revisor: “última milha” (last mile) refere-se à infraestrutura de redes que permite a
ligação entre infraestrutura intermediária, chamada de backhaul, e os consumidores finais de
serviços de telecomunicações.
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DIREITOS DIGITAIS _ JULIETA COLOMBO GARDEY + ANTONELLA MAIA PERINI
Essas regulações não só afetam as regras de entrada para os atores menores, mas
também afetam a pluralidade e o pluralismo, ignorando princípios internacionais de
proteção da liberdade de expressão.5 Nesse sentido, durante as reuniões participativas
foram levantadas várias posições que refletiram a necessidade de abrir o mercado
e desenvolver um marco regulatório que permitisse isso, bem como garantir a
manutenção e o acesso de vários atores ao mercado infocomunicacional e a geração de
conteúdos com diversidade linguística, étnica e geográfica, entre outros.
No que diz respeito à sua composição, quatro dos sete membros do diretório da
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DIREITOS DIGITAIS _ JULIETA COLOMBO GARDEY + ANTONELLA MAIA PERINI
Enacom são nomeados pelo Poder Executivo Nacional, enquanto os três restantes são
designados pela Comissão Bicameral de Promoção e Seguimento da Comunicação
Audiovisual, das Tecnologias de Telecomunicações e da Digitalização do Congresso
Nacional da Nação Argentina. A Comissão os designa sob proposta dos blocos
parlamentares, correspondendo um à maioria ou primeira minoria, outro à segunda
minoria e outro à terceira minoria parlamentar (o que dá ao partido do governo uma
quinta possibilidade de nomeação).
Os diretores têm um mandato de quatro anos e podem ser retirados pelo Poder
Executivo Nacional diretamente e sem expressão de causa. Atualmente, o diretório da
Enacom é formado por maioria oficialista: Miguel de Godoy (PRO), Heber Martínez (PRO),
Silvana Giudici (PRO) e Alejandro Pereyra (PRO), Miguel Ángel Giubergia (UCR), Claudio
Ambrosini (Frente Renovador) e Guillermo Raúl Jenefes (FpV). Da mesma forma, a
Enacom é monitorada pela Sindicatura Geral da Nação e pela Auditoria Geral da Nação.
100
DIREITOS DIGITAIS _ JULIETA COLOMBO GARDEY + ANTONELLA MAIA PERINI
O novo decreto 1340/16, além disso, atribui poderes maiores à Enacom. Embora o
pacote de serviço “quadplay” (serviço de telefonia fixa, móvel, TV a cabo e serviço de
Internet) esteja em vigor para Rosario, Cidade de Córdoba, Capital Federal e Grande
Buenos Aires, a Enacom é que poderá ativá-lo no resto do país (art. 5). Da mesma
forma, o decreto não só atribui ao órgão regulador a capacidade de ditar as regras de
administração, gestão e controle do espectro de radiofrequências, mas também lhe
dá o poder de atribuir e administrar frequências do espectro e autoriza-o à fixação de
compensações, obrigações de implantação e cobertura (art. 4).
4_CONCLUSÕES
101
DIREITOS DIGITAIS _ JULIETA COLOMBO GARDEY + ANTONELLA MAIA PERINI
_REFERÊNCIAS
102
DIREITOS DIGITAIS _ JULIETA COLOMBO GARDEY + ANTONELLA MAIA PERINI
Dahl, R. A. (1989). Democracy and its Critics. 6th ed. New Haven: Yale University Press.
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argentina-digital-desarrollo-tecnologias-informacion-comunicaciones-ley-argentina-
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Loreti, D., & Lozano, L. (2014). El derecho a comunicar. Los conflictos en torno a la
libertad de expresión en las sociedades contemporáneas. 1ª ed., Buenos Aires: Siglo
Veintiuno Editores.
103
DIREITOS DIGITAIS _ JULIETA COLOMBO GARDEY + ANTONELLA MAIA PERINI
104
DIREITOS DIGITAIS _ SILVANA CRISTINA RIVERO
A PROTEÇÃO DO
CONSUMIDOR NA
ECONOMIA DIGITAL
105
DIREITOS DIGITAIS _ SILVANA CRISTINA RIVERO
_TEMÁTICA
Direitos digitais
Problemas emergentes da internet
_RESUMO
106
DIREITOS DIGITAIS _ SILVANA CRISTINA RIVERO
1_INTRODUÇÃO
107
DIREITOS DIGITAIS _ SILVANA CRISTINA RIVERO
Entre os objetivos perseguidos por essas alternativas está o vinculado com a proteção
de consumidores prejudicados por empresas online, particularmente quando os danos
são de pouco valor econômico e a disputa é de natureza transnacional. Assim mesmo,
108
DIREITOS DIGITAIS _ SILVANA CRISTINA RIVERO
Outro aspecto que deve ser considerado ao tentar proteger os direitos dos
consumidores online é a portabilidade da vida digital das pessoas, o que implica a
possibilidade de exigir a entrega e/ou transferência de tudo que é de propriedade
do consumidor – o que varia, indo desde o número de telefone celular até os dados
fornecidos para uma plataforma em particular. Esse aspecto existe para que o
consumidor não esteja vinculado aos serviços de um único fornecedor, podendo sempre
ter a liberdade de escolher entre os diferentes produtos e/ou serviços online oferecidos
por vários fornecedores.
Novos produtos e/ou serviços acessíveis ao usuário, entre os quais pode-se mencionar
os dispositivos IoT (do inglês Internet of Things5), exigem o cumprimento rigoroso
do dever de informação por parte do provedor, prestando atenção à necessidade de
os consumidores entenderem melhor as funcionalidades e limitações desses novos
produtos. A este respeito, o Conselho de Economia da Informação do Reino Unido
(United Kingdom Information Economy Council) desenvolveu um marco voluntário de
recomendações orientado para o consumidor, destinado a responder às expectativas
dos usuários e a fornecer informações adequadas sobre seus direitos e obrigações no
ecossistema IoT (BT, 2014) (OCDE, 2015)
5 Internet das coisas, IdC, Internet of Things ou IoT por suas abreviaturas em inglês: compreende
em coisas cotidianas que se conectam à Internet. Desta forma, os objetos podem ser previamente
conectados por circuito fechado, como comunicadores, câmeras, sensores, entre outros,
permitindo que se comuniquem de forma global através do uso da Internet.
109
DIREITOS DIGITAIS _ SILVANA CRISTINA RIVERO
3_CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste caso, é essencial o papel das agências de defesa do consumidor, que devem
velar pelo usuário em sua atuação online e, ao mesmo tempo, alcançar a cooperação
com agências de outros países para o intercâmbio de informações e a solução de
controvérsias em operações transfronteiriças.
_REFERÊNCIAS
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (2013). La Economía digital para
el cambio estructural y la igualdad. p. 99. Recuperado de <http://www.cepal.org/ilpes/
noticias/paginas/3/54303/Economia_digital_para_cambio.pdf>
110
DIREITOS DIGITAIS _ SILVANA CRISTINA RIVERO
Koopman, C., Mitchell, M., & Thierer, A. (2015). The Sharing Economy and Consumer
Protection Regulation: The Case for Policy Change. 8 J. Bus. Entrepreneurship & L. 529.
p. 541. Recuperado de <http://digitalcommons.pepperdine.edu/jbel/vol8/iss2/4>
111
DIREITOS DIGITAIS _ JUAN DANIEL MACÍAS SIERRA
UM DIREITO PARA A
GOVERNANÇA DA INTERNET
112
DIREITOS DIGITAIS _ JUAN DANIEL MACÍAS SIERRA
_TEMÁTICA
Direitos digitais
_RESUMO
113
DIREITOS DIGITAIS _ JUAN DANIEL MACÍAS SIERRA
1_INTRODUÇÃO
Desta vez, compartilho uma reflexão que vem de uma questão recente: que direito é
necessário para a governança da internet?
A nota de desafio que a Internet traz com ela não deve ser ignorada ou minimizada
pela ciência do Direito. O Direito Informático não ignora esses desafios, mas os
minimiza, colocando-os em uma cesta onde eles coexistem com todos os tipos de
questões relacionadas à tecnologia da informação e à tecnologia em geral
114
DIREITOS DIGITAIS _ JUAN DANIEL MACÍAS SIERRA
tecnologia dá origem a problemas específicos que não devem ser analisados a partir da
perspectiva fornecida pela informática.
O termo Direito Informático, por si só, evoca a informática, e essa, por sua vez,
ao tratamento automático da informação. Diz respeito ao desenvolvimento e evolução
da Internet não apenas a ação de um computador, mas também as decisões tomadas
pelas pessoas. Neste contexto, o termo Direito Informático é impreciso, porque se refere
apenas à informação processada pelos computadores, mas não ao acúmulo de ações
humanas que dão forma ao desenvolvimento da Internet como a principal ferramenta
tecnológica desta era.
Recentemente, tive a oportunidade de ler um bom artigo do Dr. Pablo García Mexía,
intitulado “Direito da Internet” (“Derecho de Internet”, no original em espanhol). Nesse
artigo, o Direito da Internet é chamado de muito novo, global, fotonizado, altamente
especializado, expansivo, e a opção que a ciência jurídica oferece para resolver os
problemas mais urgentes relacionados à Internet (García Mexía, 2016).
O autor também alude a uma razão muito interessante pela qual vale a pena adotar
o Direito da Internet: aqueles que a praticam devem ser altamente familiarizados, em
uma perspectiva multidisciplinar, com o mundo digital, de modo que
Pensar nos desafios que a Internet traz consigo em um ponto de vista amplo, como
pode ser o Direito da Internet, poderia resultar em decisões com pouco ou nenhum
“mínimo sentido tecnológico”, o que poderia prejudicar o desenvolvimento e a evolução
da Internet ou, na sua falta, ser inoperantes devido à própria natureza da rede. Deste
modo, vale a pena pensar em um direito de internet especializado.
Embora seja verdade que o artigo do Dr. Pablo García não se refira ao valor da Direito
da Internet para a governança da Internet, a verdade é que ele existe, uma vez que
seu grau de especialização obriga aqueles que o exercem a conhecer as características
técnicas da Internet e os aspectos do desenvolvimento social, econômico e político que
a Internet mantém. De fato, as análises realizadas por advogados especializados em
Direito da Internet deveriam guardar uma relação estreita com a ampla abordagem da
governança da Internet.
115
DIREITOS DIGITAIS _ JUAN DANIEL MACÍAS SIERRA
3_CONCLUSÃO
Vale a pena repensar a interseção do Direito com a Internet, e estar ciente de que
o ponto de encontro deles é complexo e continuará a crescer em complexidade, já que
a Internet continua a ser o principal pilar da inovação e do desenvolvimento. Além
disso, os desafios decorrentes da realidade social construída pela Internet tornam clara
a necessidade de um direito especializado para cuidar deles.
_REFERÊNCIAS
116
DIREITOS DIGITAIS _ JUAN DANIEL MACÍAS SIERRA
117
CONTEÚDOS
E BENS
CULTURAIS
NA INTERNET
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ CLAUDIA C. ARRUÑADA SALA
CROWDFUNDING DIGITAL
COMO EXEMPLO PARA A
CONSTRUÇÃO DE CAPITAL
SOCIAL E O CRESCIMENTO
DAS COMUNIDADES
119
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ CLAUDIA C. ARRUÑADA SALA
_TEMÁTICA
_RESUMO
120
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ CLAUDIA C. ARRUÑADA SALA
1_INTRODUÇÃO
Dada a conexão intrínseca em rede que é feita a partir de computadores que estão
ligados uns aos outros como nós, uma das formas mais lógicas que este trabalho
considera para vincular as pessoas à comunidade no processo de provocar uma ação é
através da Internet.
121
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ CLAUDIA C. ARRUÑADA SALA
122
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ CLAUDIA C. ARRUÑADA SALA
Embora a rápida e constante evolução da Internet nos faça acreditar que a rede de
redes sempre existiu e evoluiu tão lentamente como os outros meios de comunicação,
não é assim e a Kickstarter comprova isso. A ideia nasceu em 2002 na cabeça de Perry
Chen, que estava procurando a maneira de levar shows inovadores para as cidades
que não eram muito populares (e que, obviamente, não estão incluídas nas agendas
dos shows), procurando que os próprios fãs pagassem com antecedência para trazer
os artistas. Uma tentativa para levar um dueto de jazz famoso a Nova Orleans não
funcionou. Mas o fracasso deixou uma pergunta fixa em sua cabeça: “O que aconteceria
se houvesse um espaço para colocar propostas em busca de pessoas para apoiá-las?”
Chen procurou Yancey Strickler (programador) e Charles Adler (Designer), e os três
deram vida, em 2009, à primeira plataforma online de crowdfunding: a Kickstarter3,
pela qual passaram todos os tipos de projetos, com vários delas alcançando suas metas
e alguns coletando até um milhão de dólares.
2 A gravadora Virgin dedica um artigo em sua revista sobre isso; ele pode ser consultado em:
“How Marillion pioneered crowdfunding in music”<https: www.virgin.com/music/how-marillion-
pioneered-crowdfunding-in-music=””></https:>
123
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ CLAUDIA C. ARRUÑADA SALA
sua cidade natal, Boston). Em cada parada e em cada concerto, ela coletava os dados dos
assistentes para se “conectar” com eles através de duas formas: por e-mail e pelo seu
blog, que na primeira década do novo milênio eram os meios de comunicação digital
mais comuns – ler as histórias diárias de estranhos em diferentes países fortalecia
laços e criava comunidades.
4 A história completa é narrada por Amanda Palmer em uma das Ted Talks com maior número
de acessos: <https://youtu.be/xMj_P_6H69g>
5 Uso o termo “nó” como Castells designou, para nomear as pessoas que se relacionam na
Internet.
124
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ CLAUDIA C. ARRUÑADA SALA
utilização do dinheiro. Suas redes sociais e blog foram inundados com queixas e insultos,
questionando sobre sua forma de gerenciar o projeto, especulações sobre seu estilo de
vida e outros temas. Os críticos realmente não entendiam que o dinheiro arrecadado teria
pouca utilidade (econômica) para a artista: seria tudo gasto nas recompensas oferecidas
e no desenvolvimento do produto que já estava pré-pago. Perante as críticas, Palmer
argumenta: “O crowdfunding eficaz não se trata de confiar na bondade de estranhos,
trata-se de confiar na bondade de SUA gente” (Palmer, 2014 p. 244, tradução nossa).
125
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ CLAUDIA C. ARRUÑADA SALA
suas bases de dados e operação geral. Ao contrário dos exemplos internacionais que
permitem até mesmo que casais sem recursos carreguem uma iniciativa de angariação
de fundos que lhes permita organizar o casamento de seus sonhos, a Fondeadora
nasceu para apoiar principalmente projetos artísticos, de empoderamento social e
iniciativas de cidadania (visando sobretudo a ecologia). Para apoiar projetos pessoais do
tipo filantrópico (como problemas de saúde, apoio à educação de um estudante etc.), a
Fondeadora criou uma subseção, “Fondeadora Gente”, que derivou a “Donadora”.
A plataforma foi bem recebida, apesar de no México apenas 57.4% da população ter
acesso a uma conexão à Internet (Excelsior, 2016) e haver clara resistência dos mexicanos
para pagar online. Por essa razão, eles implementaram os pagamentos na loja de
conveniência Oxxo, para que os interessados pudessem contribuir sem necessidade de
ter um cartão de crédito ou de enfrentar o medo de registrá-lo na Internet (Ramsey,
2013). Até hoje, a Fondeadora entregou mais de 5 milhões de pesos mexicanos para
aqueles que atingiram suas metas6.
Mas, tal como o caso de Amanda Palmer já apresentado, alcançar o objetivo não
é algo fortuito e, ao contrário do que se pensa, a difusão nem sempre ajuda a saúde
social do projeto. Fazer parte da rede na convergência da comunidade com as novas
tecnologias gera exposição, mas também deixa o projeto vulnerável. No entanto, como
já dissemos, o funcionamento das redes digitais para a busca de fundos para projetos
sociais pode resultar em ações que beneficiem a construção do tecido social, que
incentivem a participação dos cidadãos e fortaleçam as sociedades através do chamado
“capital social”. Nas palavras de Robert Putnam:
126
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ CLAUDIA C. ARRUÑADA SALA
uma vida comunitária fraca e cidadãos com pouca capacidade de se organizarem fora
dos canais corporativistas” (INE, 2014, p. 84, tradução nossa).
Assim, é claro que, embora a situação mexicana seja complicada, não é um terreno
árido que não possa ser resgatado através de trabalho colaborativo e financiamento
massivo como o crowdfunding propõe.
A chave está em assimilar que a sociedade integrada que evolui é construída a partir
dos cidadãos. Ou seja, já falámos sobre a participação como eixo fundamental para que
as democracias se estabeleçam, fortaleçam e cresçam; a instituição governamental é
consolidada a partir da sociedade. Nesse sentido, o que deve ser trabalhado é o impulso
a ser dado para os cidadãos do México entenderem que o governo não é tudo, não é o
solucionador eterno de problemas, nem deve suportar toda a responsabilidade de uma
nação (é importante enfatizar que isso não o exime de sua responsabilidade e trabalhos
na liderança de uma nação). O ponto é: para que se sustente, um país depende do
trabalho conjunto entre o seu povo e suas instituições, da participação das pessoas que
colaboram PARA as pessoas e do fortalecimento
das redes de tecido social.
127
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ CLAUDIA C. ARRUÑADA SALA
4_CONCLUSÕES
Há muito para se trabalhar. Com base na ideia de que o caminho para a construção
do capital social está nas comunidades, essas têm de assumir a responsabilidade pela
construção da confiança social através de suas atividades e recursos que, seguindo a
lógica já analisada neste trabalho, mais cedo ou mais tarde levará à busca da sociedade
por mecanismos de transparência em todos os setores.
128
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ CLAUDIA C. ARRUÑADA SALA
_REFERÊNCIAS
Díaz, M. (2015). ¿Qué tan influyente eres? El capital social en la era de Internet.
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129
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ CLAUDIA C. ARRUÑADA SALA
Steinberg, S. (2012). The Crowdfunding Bible: how to raise money for any startup, video
game or Project. United States. Overload Entertainment, LLC. Read.Me
130
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ RAFAEL RÍOS NUÑO + JOSÉ B. GONZÁLEZ MAURICIO
DIREITO À INFORMAÇÃO E
DIREITOS DE AUTOR:
PARADIGMAS NA ERA DIGITAL
131
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ RAFAEL RÍOS NUÑO + JOSÉ B. GONZÁLEZ MAURICIO
_TEMÁTICA
_RESUMO
132
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ RAFAEL RÍOS NUÑO + JOSÉ B. GONZÁLEZ MAURICIO
1_INTRODUÇÃO
“Uma sociedade que não está bem informada não é uma sociedade
verdadeiramente livre”.
Corte Interamericana de Direitos Humanos1
Nesse sentido, a Suprema Corte dos Estados Unidos, em seu trabalho mais recente
de interpretar a primeira emenda, instaura que a liberdade de expressão acarreta a
liberdade de escutar e a proibição do Estado de limitar a informação à qual podem
recorrer o público (Ackerman, & Sandoval, 2015, p.14).
133
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ RAFAEL RÍOS NUÑO + JOSÉ B. GONZÁLEZ MAURICIO
Como é bem sabido, as tensões entre os direitos que são tema deste artigo não
são novas e, pela extensão do documento, não adentraremos no estudo a fundo da
interminável ponderação do direito à informação e os direitos de autor. Em virtude
disso, o trabalho somente pretende ser ilustrativo para o leitor.
Para o conflito anterior, surgiram algumas propostas para dar o devido tratamento
harmonizador dos interesses em conflito. O Dr. José Manuel Magaña Rufino (2013),
seguindo o artigo 9º, parágrafo 2º, da Convenção de Berna, e o artigo 13 do ADPIC, destaca
a já conhecida regra dos três passos da natureza acumulativa, que dá origem a algumas
exceções ao direito de autor, como a citação de textos, quando se trata de acontecimentos
atuais, a cópia privada, o respaldo de segurança e a crestomatia2. Contudo, as exceções
não amparam a reprodução completa da obra em todos os casos.
Com a intenção de proteger as obras online, os titulares dos direitos têm de utilizar
medidas tecnológicas de proteção com base no estipulado no WCT e no Tratado da OMPI
sobre Interpretação ou Execução e Fonogramas (WPPT, na sigla em inglês), situação que
provocou a mobilização de vários setores, sobretudo o bibliotecário e as instituições de
ensino. A Fundación Conector e Open Connection tentaram conciliar, sugerindo que a
informação seja entregue de forma confidencial a tais setores e que eles possam desativar
a confidencialidade em caso de preservação digital, cópia privada ou quando passe para
o domínio público. Igualmente, Kenneth Crews (2008) propõe que na educação virtual ou
à distância as obras se outorguem com disposições que permitam a fácil manipulação
134
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ RAFAEL RÍOS NUÑO + JOSÉ B. GONZÁLEZ MAURICIO
Também existe a postura da Creative Commons, essa uma organização sem fins
lucrativos cujos instrumentos jurídicos de caráter gratuito permitem compartilhar
e utilizar a criatividade, assim como o conhecimento. A finalidade é proporcionar
infraestrutura que permita maximizar a criatividade digital e a inovação através do
acesso autorizado. Diferentemente dos direitos de autor, em que todos os direitos estão
reservados, na Creative Commons apenas alguns direitos estão reservados.
Em outro sentido, é importante a análise das políticas legais que praticam sites
como o Facebook, o Twitter ou YouTube. Em um primeiro momento, o usuário é o
titular dos conteúdos que são carregados na plataforma, mas no momento de fazê-
lo pode conceder aos sites uma licença mundial, não exclusiva, acessível e gratuita5
com direitos de sublicença, transferível para que outros possam usar os conteúdos,
reproduzi-los, modificá-los ou distribuí-los, até com fins comerciais. Contudo, tais sites
reconhecem e respeitam os direitos de propriedade intelectual de terceiros, portanto se
reservam o direito de eliminar o conteúdo que supostamente infrinja esses direitos sem
aviso prévio e sob sua total discrição, assim como sem indenização alguma a seu favor
(exceto de porto seguro ou safe harbor).
3 O termo copyleft começou a ser utilizado nos anos 70 como uma deformação humorística do
copyright, aludindo à reivindicação da liberdade frente aos direitos de autor.
6 Nota do revisor: o “Efeito Streisand” é um fenômeno da Internet que ocorre quando uma
tentativa de censurar ou remover algum conteúdo da rede acaba tendo efeito contrário, resultando
em sua vasta replicação e acesso. Foi assim nomeado por Mike Masnick em 2003, após caso
135
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ RAFAEL RÍOS NUÑO + JOSÉ B. GONZÁLEZ MAURICIO
2_EPÍLOGO
a. Uma das petições mais aclamadas é, sem sombra de dúvidas, as que realizam
no dia a dia o setor bibliotecário, de arquivos e as instituições de ensino.
Torna-se importante destacar que tais entidades não pretendem, em nenhum
momento, desconhecer os direitos de autor, menos ainda infringir a lei; mas
o que buscam é uma harmonização de vontades por parte do legislador, para
que se lhes reconheçam legalmente mais e melhores exceções, e assim possam
cumprir com seu nobre trabalho de difundir a informação, a cultura e a
educação, sobretudo virtualmente ou à distância.
envolvendo a atriz e cantora Barbra Streisand. Alegando questões de privacidade, ela processou um
fotógrafo e um site em 50 milhões de dólares para que eles retirassem da Internet uma foto aérea
em que sua mansão na costa da Califórnia era visível. A notícia fez com que a foto tivesse um
aumento expressivo de acessos, logo tomando proporção contrária à que a artista pretendia.
7 Legislação dos Estados Unidos que, entre outras questões, estabelece limitações à
responsabilidade dos ISP (Internet service provider, ou provedor de serviço de Internet).
136
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ RAFAEL RÍOS NUÑO + JOSÉ B. GONZÁLEZ MAURICIO
(Gran Sala), no caso Google Spain, S.L., Google Inc. Vs Agência Espanhola de
Proteção de Dados (AEPD), Mario Costeja Gonzále (Magaña, 2015), que embora seja
certo que o caso é um assunto de proteção de dados e tal jurisprudência não seja
vinculativa aos Estados não-membros, poderia servir como soft law, posto que
outro dos temas do litígio foi precisamente resolver a competência e a jurisdição
na relação com o ISP. Nesse sentido, o Tribunal resolveu (tradução nossa):
O então IFAI revogou a resposta do Google México, requisitou que se fizessem efetivos
os direitos de oposição e cancelamento do titular e ordenou iniciar o procedimento
de imposição de sanções, confirmando assim sua competência e jurisdição sobre o
famoso motor de busca.
137
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ RAFAEL RÍOS NUÑO + JOSÉ B. GONZÁLEZ MAURICIO
Finalmente, vale a pena dizer que a tecnologia não é boa nem má, depende do
uso que lhe é dada. Tampouco os direitos à informação, a educação e a cultura estão
necessariamente em briga com os direitos de autor, simplesmente os primeiros, em
alguns casos, estão condicionados: na hipótese de querer-se usar uma obra protegida,
é necessário contar com a permissão do titular do direito, uma vez que este investe
tempo, esforço e até dinheiro para criar suas obras; portanto, é justo que se reconheça
seu esforço, pedindo previamente as autorizações para usar livremente a obra ou
pagando-o, quando aplicável. Reitera-se que é indiscutível a necessidade de um
verdadeiro equilíbrio entre a propriedade intelectual e o livre fluxo da informação.
_REFERÊNCIAS
138
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ RAFAEL RÍOS NUÑO + JOSÉ B. GONZÁLEZ MAURICIO
Fernández, C., & Chaves, J. (2010). Excepciones al derecho de autor en beneficio de las
bibliotecas: situación de América Latina y el Caribe. Chile: IFLA. Recuperado de <http://
www.ifla.org/past-wlic/2010/121-molina-es.pdf>
Fundação Conector, & Open Connection (2016). Texto de observaciones del sector
bibliotecario nacional al proyecto de ley por la cual se modifica la ley 23 de 1982 y se
adiciona la legislación nacional en materia de derecho de autor y conexos. Recuperado
de <www.conector.co>
139
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ RAFAEL RÍOS NUÑO + JOSÉ B. GONZÁLEZ MAURICIO
140
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ SILVANA CRISTINA RIVERO
A PROPRIEDADE INTELECTUAL
NA ECONOMIA DIGITAL
141
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ SILVANA CRISTINA RIVERO
_TEMÁTICA
_RESUMO
142
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ SILVANA CRISTINA RIVERO
1_INTRODUÇÃO
Nesta era onde a economia digital tem uma função preponderante, as Tecnologias
da Informação e Comunicação (TIC) são fundamentais para o desenvolvimento
econômico. Entre os ativos que são implantados e disseminados por esses meios estão
as obras de propriedade intelectual, que diante deste panorama enfrentam novos
desafios.
Por sua vez, cabe considerar que, a nível global, atualmente há uma assimetria
em relação ao uso de mecanismos de propriedade intelectual nos países em
desenvolvimento e aqueles usados nos países desenvolvidos, sendo superior neste
último caso. Isso está ligado à capacidade de inovar e gerar produtos e/ou serviços
tecnológicos nas diferentes regiões (Comissão Econômica para a América Latina e o
Caribe, [CEPAL], 2016).
143
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ SILVANA CRISTINA RIVERO
Outra questão a ser resolvida é o fato de o exercício dos direitos e exceções na Internet,
como foi exposto até agora nos meios tradicionais, perde o sentido. Um exemplo claro
é o uso e distribuição de obras de propriedade intelectual em formato digital, o que
gera desafios para o que até então era considerado o direito de reprodução, bem como o
direito de execução pública.
Ao mesmo tempo, deve-se identificar as vantagens que a economia digital pode gerar
para obras de propriedade intelectual, entre as mencionadas, a difusão e a escalabilidade
do uso de intangíveis através das TIC. Ao mesmo tempo, a propriedade intelectual,
exercida dentro da lei, é um novo mecanismo para incentivar o desenvolvimento e a
inovação na Sociedade da Informação
Entre os produtos e/ou serviços que podem ser protegidos pelo regime de propriedade
intelectual no ambiente digital estão todos aqueles que contêm música, fotografias,
programas de computador, desenhos industriais, marcas, nomes de domínio, entre
outros. Esses recursos podem ser encontrados em programas, redes, sites, plataformas,
aplicativos e qualquer outro meio que permita o acesso à obra.
1 Cloud Computing: O Instituto Nacional de Normas e Tecnologia dos EUA (NIST, na sigla em
inglês) e seu laboratório de tecnologia da informação definiram este novo conceito da seguinte
forma: “[...] é um modelo para permitir um acesso conveniente sob demanda a um conjunto
compartilhado de recursos computacionais configuráveis, por exemplo, redes, servidores,
armazenamento, aplicações e serviços, que podem ser rapidamente dispostos e lançados com o
mínimo esforço de administração ou interação com o provedor de serviços “(Mell, & Grance, 2011,
tradução nossa).
2 Internet das Coisas, IdC, Internet of Things ou IoT por suas abreviaturas em inglês: compreende
coisas cotidianas que se conectam à Internet. Desta forma, os objetos podem ser previamente
conectados por circuito fechado, como comunicadores, câmeras, sensores, entre outros, e permite
que eles se comuniquem de forma global através do uso da Internet.
3 Serviços Over The Top (OTT): é um serviço online, potencialmente um substituto dos serviços
tradicionais de telecomunicações e audiovisuais que possuem suporte na rede, como telefonia
vocal, SMS e televisão, usando o Protocolo TCP/IP para o seu funcionamento.
144
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ SILVANA CRISTINA RIVERO
Certos regimes são aplicáveis a nível nacional, de modo que diante da necessidade
de fazê-los valer fora das fronteiras de uma determinada soberania há um ônus para o
titular do direito, que envolve a realização dos procedimentos e registros necessários nas
jurisdições onde procura-se fazer valer a ação. Esse é o caso de marcas e patentes, com
exceção dos casos em que se aplica o Acordo de Madri relativo ao Registro Internacional
de Marcas (Organização Mundial da Propriedade Intelectual [OMPI], 1989) e o PCT – o
Sistema Internacional de Patentes (OMPI, 2017). Outros regimes normativos, como os
direitos de autor, são protegidos globalmente além do local de registro do trabalho,
desde que a Convenção de Berna se aplique ao caso. Essa circunstância está ligada ao
fato de que o registro em certos casos é constitutivo de direitos, enquanto às vezes é
exigido para fins de evidência.
Por sua vez, a Convenção Universal sobre o Direito de Autor adotou no art. III uma
fórmula que consiste na inclusão de
145
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ SILVANA CRISTINA RIVERO
Uma questão que foi levantada sobre a proteção da propriedade intelectual no nível
jurisdicional é aquela vinculada ao bloqueio de conteúdo ou aplicações online. Esse
tipo de bloqueio é usual quando se destina a acessar o conteúdo através das fronteiras,
devido a restrições territoriais ligadas ao regime de propriedade intelectual. Com isso,
as práticas de bloqueio geográfico incluem a recusa dos consumidores de um estado
no acesso aos conteúdos dos sites da web baseados em outros estados. Essas práticas
podem afetar o acesso ao conteúdo. A situação descrita deve ser considerada para tomar
medidas para mitigar ou impedir o bloqueio geográfico de forma indevida, o que, por
146
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ SILVANA CRISTINA RIVERO
sua vez, leva ao debate sobre os efeitos gerados pela autorização territorial exclusiva e,
nesse sentido, os freios que pode gerar na industria.
3_CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entre os mecanismos que podem ser promovidos para garantir o cumprimento efetivo
dos deveres derivados do regime de propriedade intelectual online há aqueles que tendem
a alcançar a solução de controvérsias, que podem ser efetivas para acelerar e reduzir os
custos derivados desde que sejam preservadas certas garantias, como o devido processo.
147
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ SILVANA CRISTINA RIVERO
Outro instrumento que pode ser útil para alcançar uma delimitação dos direitos
e deveres envolvidos na propriedade intelectual é estabelecer um limite para a
responsabilidade dos intermediários por conteúdo de terceiros, cujo objetivo é garantir
segurança jurídica sobre o mecanismo a ser utilizado pelos prestadores para dar
lugar aos direitos reivindicados pelos proprietários das obras, mas ao mesmo tempo
contemplar as garantias que devem ser protegidas, dentre as quais são mencionadas a
liberdade de expressão.
Resta indicar que a economia digital causa um consumo tal de conteúdo que
exige uma mudança nas regras do jogo até agora aplicáveis em relação à propriedade
intelectual. A modernização dessas regras, em termos de exercício de direitos e
cumprimento de obrigações no campo digital, é uma questão delicada; no entanto,
é de vital importância tratá-la para conseguir um maior acesso a esses recursos e,
conseqeentemente, o objetivo final do regime de propriedade intelectual.
_REFERÊNCIAS
Mell, P., & Grance, T. (2011). The NIST Definition of Cloud Computing. National Institute
of Standards and Technology. U.S. Department of Commerce. NIST Special Publication,
800-145.
148
CONTEÚDOS E BENS CULTURAIS NA INTERNET _ SILVANA CRISTINA RIVERO
Núñez, J. F. Contenidos y límites del derecho marcario. Ed. Thomson Reuters. Cita
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Organização Mundial do Comércio (1994). Acuerdo Sobre los Aspectos de los Derechos de
Propiedad Intelectual Relacionados con el Comercio. Recuperado de <https://www.wto.
org/spanish/docs_s/legal_s/27-trips.pdf>
149
INOVAÇÃO E
CAPACITAÇÃO
TECNOLÓGICA
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ MARTHA CISNEROS + DÁMARIS CONTRERAS-LUZANILLA
POLÍTICAS DE INOVAÇÃO
PARA APERFEIÇOAR O
USO DA TECNOLOGIA POR
POPULAÇÕES IMIGRANTES
MARTHA CISNEROS
Mestre em Ciência da Informação e Gerenciamento de Conheci-
mento, ITESM 2012.
martha.cisneros@baruchmail.cuny.edu
México
DÁMARIS CONTRERAS-LUZANILLA
Mestre em Sociedade, Ciência e Tecnologia, European Master’s
Programme.
damarisccl@gmail.com
México
151
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ MARTHA CISNEROS + DÁMARIS CONTRERAS-LUZANILLA
_TEMÁTICA
Inclusão digital
Inovação e capacitação tecnológica
_RESUMO
152
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ MARTHA CISNEROS + DÁMARIS CONTRERAS-LUZANILLA
1_INTRODUÇÃO
Neste artigo, discutimos a importância da inclusão social ser incluída no escopo das
políticas de inovação. Exploramos o fenômeno da imigração como um exemplo de como
a agenda digital dos governos pode promover a inclusão entre seus cidadãos e como o
uso da tecnologia, especificamente dispositivos móveis, pode atenuar a brecha digital
(digital divide), promovendo a cidadania digital.
1 Bruno Latour (2013) usa a palavra “coletivo” como o conjunto de humanos e não-humanos que
conformam a nossa existência. Em seu livro, ele enfatiza que as questões ambientais e a natureza
em geral seriam consideradas como parte da realidade na medida em que os diferentes atores –
entre os quais os políticos – usam seus poderes para incorporar, negociar e institucionalizar os
novos entes no chamado coletivo.
153
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ MARTHA CISNEROS + DÁMARIS CONTRERAS-LUZANILLA
154
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ MARTHA CISNEROS + DÁMARIS CONTRERAS-LUZANILLA
desigual à tecnologia é um obstáculo que precisa ser abordado para garantir o desejado
progresso na capacidade inovadora.
155
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ MARTHA CISNEROS + DÁMARIS CONTRERAS-LUZANILLA
No entanto, os Estados Unidos da América, por exemplo, um país que foi fundado
por imigrantes há cerca de 300 anos, continua a prosperar e a lidar com o fenômeno
da imigração de diferentes ângulos. Temas políticos, econômicos e de educação são
alguns dos principais problemas que as democracias modernas têm de lidar como parte
dos resultados da chegada de imigrantes de todo o mundo. A criação de um ambiente
multicultural no mercado de trabalho local e nas comunidades faz parte desse fenômeno
da imigração desde o seu princípio.
Por outro lado, os problemas que os países do polo de expulsão enfrentam são
também parte desse fenômeno da imigração. Esses países costumam ter uma
economia subdesenvolvida, apesar de terem mudado ao longo dos anos devido ao
surgimento de uma economia compartilhada e uma revolução da informação digital
que está “capacitando o uso potencial de novas tecnologias e com o complexo conjunto
de estratégias, políticas, investimentos e ações, eles podem ser capazes de criar
156
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ MARTHA CISNEROS + DÁMARIS CONTRERAS-LUZANILLA
Entre as suas ofertas, o Colombia Nos Une constrói e mantém plataformas virtuais
para estrangeiros no exterior para estabelecer conexões e construir relacionamentos
com colegas colombianos. O programa, chamado Portal RedEsColombia, oferece redes
baseadas em interesses compartilhados, incluindo comércio, prestação de serviços
sociais e cultura. Talvez seu sucesso na divulgação pela web possa ser medido pela
quantidade de dinheiro que os colombianos têm doado através de plataformas
online que facilitam e incentivam os membros da diáspora do país a contribuir para
projetos específicos de desenvolvimento na Colômbia. O país tem uma estratégia
digital que fortaleceu os seus processos de governança digital e que fornece dados
para a medição de impacto.
157
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ MARTHA CISNEROS + DÁMARIS CONTRERAS-LUZANILLA
Do outro lado do oceano, os refugiados sírios que emigraram para países com
língua e cultura diferentes, como a Turquia e a Alemanha, têm utilizado aplicativos
de smartphones para darem rumo às suas novas vidas em um novo sistema político.
Gherbtna é um bom exemplo: trata-se de um aplicativo para smartphone criado em 2016
por um refugiado sírio que vive na Turquia, e tem sido um sucesso de acordo com as
estatísticas, com mais de 40.000 downloads, 90.000 curtidas no Facebook e uma média
de 3.000 visualizações de páginas diárias no site. O aplicativo tem quatro serviços, de
acordo com o Mashable, portal de notícias sobre tecnologia (Lopez, O., 2016): Informações,
relacionadas aos procedimentos de asilo e divulgação de infográficos e animações;
Notícias; Oportunidades, que anuncia apartamentos e empregos legalmente permitidos
para refugiados; e Ajuda, onde refugiados podem fazer perguntas sobre saúde, educação
e outros serviços jurídicos.
O rápido crescimento das tecnologias móveis e sua adoção facilitou o acesso a novas
ferramentas e novas formas de comunicação entre populações vulneráveis. Os imigrantes,
como parte dessas populações, baseiam a comunicação digital com seus governos
e familiares através de dispositivos móveis. O acesso a um computador pode estar ao
alcance de suas mãos através de programas sociais de interação com a tecnologia, tanto
no polo receptor quanto no emissor, ou como produto da colaboração entre eles. O custo
da educação formal ou alternativa para a alta tecnologia poderia ser um obstáculo para os
governos melhorarem sua estratégia de contato digital para seus conterrâneos.
Para atestar o acesso e uso de dispositivos móveis, consideramos para essa pesquisa
uma estatística sobre o uso de dispositivos móveis por latinos na cidade de Nova
York, nos EUA. Os dados apresentados são baseados num estudo adulto de 12 meses
do Estudo de Consumo Nacional (National Consumer Study, NCS/NHCS) do verão de
2015 (final de julho de 2014 a início de setembro de 2015), reunidos através do sistema
Simmons OneViewTarget2. Os resultados apontaram que 24,5% (683.356) da população
latina3 que vive em Nova York usa a Internet. A maioria utiliza o telefone celular (99%)
(Figura 1) e mídias sociais (75%). Eles frequentemente acessam sites de rede sociais/
compartilhamento por meio de diferentes dispositivos (91%), visitando um site de redes
sociais 3 ou mais vezes por dia, com 58% usando o Facebook.
3 Refere-se aos latinos como qualquer pessoa de descendência latino-americana e/ou imigrantes.
158
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ MARTHA CISNEROS + DÁMARIS CONTRERAS-LUZANILLA
Figura 1
80
77%
70% 70%
60
51%
40 47%
34%
29%
20
22%
0
Leitor Console de Telefone Computador
Revistas MP3 Jornais Rádio Tablet Televisão
eletrônico videogame celular no trabalho
Fonte: Produção própria, com informações da Pew Research (Lopez, M., Lopez, G., Brown, 2016).
As estatísticas anteriores estão focadas na população latina nos EUA em geral, no qual
os imigrantes são uma parte importante. De acordo com a Pew Research (Lopez, M., Lopez,
G., Brown, 2016), os latinos ficaram para trás em comparação com outros grupos no acesso
à Internet por meio de um computador e na aquisição de serviços de banda larga em casa.
Em vez disso, estavam entre os mais propensos a possuir um smartphone, a viver em
uma casa sem um telefone fixo, em que apenas um telefone celular está disponível, e a
acessar à Internet por meio de um dispositivo móvel. Mesmo a população imigrante se
espalhando por todo o mundo, a população hispânica nos EUA é parte da Pew Research
para ilustrar o impacto do uso da Internet em dispositivos móveis.
159
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ MARTHA CISNEROS + DÁMARIS CONTRERAS-LUZANILLA
5_CONCLUSÕES
160
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ MARTHA CISNEROS + DÁMARIS CONTRERAS-LUZANILLA
_REFERÊNCIAS
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Borras S., & Edquist, Ch. (2013). The choice of innovation policy instruments.
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Cimoli, M., Dosi, G., Nelson R., & Stiglitz, J. (2009). Institutions and policies in
developing economies. In Lundvall, B.-A. et al .(Ed.) Handbook of Innovation Systems
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Massachusetts: Edward Elgar Publishing Limited.
161
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ MARTHA CISNEROS + DÁMARIS CONTRERAS-LUZANILLA
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coincidence, or co-evolution? In Lundvall, B.-A. et al. (Ed.) Handbook of Innovation
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163
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ MARTHA CISNEROS + DÁMARIS CONTRERAS-LUZANILLA
MARTHA CISNEROS
Martha Cisneros é engenheira de Tecnologia
da Informação (TI) com seis anos de
experiência no setor privado e público,
atualmente cursando Mestrado em
Administração Pública na Marxe School of
Public of International Affairs - Baruch College
em Nova York. Sua pesquisa se concentra em
tecnologia educacional, direito da imigração
e análise de políticas de Internet. Ela é uma
Internet Society Next Generation Leader da
turma de dezembro de 2015.
DÁMARIS CONTRERAS-LUZANILLA
Dámaris Contreras trabalhou como
engenheira de software por mais de
cinco anos na área de TI. Possui mestrado
em História e Filosofia da Ciência pela
University of Strasbourg e é credenciada
pelo European Master’s Programme em
Sociedade, Ciência e Tecnologia por sua
especialização em Economia e Gestão da
Inovação. Sua pesquisa está focada em
política de inovação, inovação social,
desigualdade e desenvolvimento.
164
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ FERNANDO A. MORA
RUMO AO ILUMINISMO
DIGITAL:
COMO CONSTRUIR
PENSADORES CRÍTICOS NA
ERA DIGITAL?
FERNANDO A. MORA
Ph.D. em Ética, pesquisador visitante do Instituto Ibero-america-
no em Berlim, Alemanha.
feromd@gmail.com
México
165
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ FERNANDO A. MORA
_TEMÁTICA
_RESUMO
166
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ FERNANDO A. MORA
Este artigo não tenta fazer um absurdo e malsucedido esforço para defender
uma humanidade “destecnologizada”, ou chamar atenção para um lado diabólico da
tecnologia. Afinal, a tecnologia é amoral; é independente de ideias, como o bem e o mal,
e apenas o uso que as pessoas fazem dela está sujeito ao escrutínio da ética.
A intenção reside no projeto educacional que a sociedade deve se dedicar agora, a fim
167
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ FERNANDO A. MORA
Hoje em dia, existe a crença de que todos os problemas podem ser resolvidos através
da simples presença da tecnologia. Existe uma obsessão em criar aplicativos para todos
os tipos de problemas. Mas será que a tecnologia digital é realmente uma ferramenta
para criar melhores seres humanos e, como consequência, melhores sociedades? Agora
que a Internet está coabitando nossa vida cotidiana, temos uma geração de jovens que
usam a tecnologia para se envolverem mais na política, para serem cidadãos mais
informados ou para melhorarem as suas vidas e, por sua vez, as suas comunidades?
Ou será que essas ferramentas estão sendo usadas apenas para lazer e prazer pessoal?
168
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ FERNANDO A. MORA
169
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ FERNANDO A. MORA
Ter conhecimento tecnológico é bom; não há dúvida sobre isso. Por exemplo, hoje
em dia, saber programar é uma habilidade valiosa, altamente apreciada por muitas
empresas. No entanto, saber como posso usar a programação para melhorar a minha
vida e a vida das pessoas é um conhecimento elevado que não está apenas relacionado
à técnica, mas também à sabedoria prática. Esse último tipo de conhecimento não é
adquirido através do domínio da tecnologia, mas através do pensamento crítico, que
permite que as pessoas usem a tecnologia disponível para resolver problemas.
O filósofo coreano Han Byung-Chul resgata essa ideia e fala da sociedade da fadiga.
Ele denuncia que as pessoas, hoje, optaram pela submissão e o fizeram em troca de
um modo de vida pouco interessante, quase de pura sobrevivência. Em troca desse
tipo de vida, as pessoas renunciaram à sua soberania e à sua liberdade. No passado,
agentes externos como escravidão ou sistemas feudais exploravam pessoas. Agora,
em um modelo neoliberal, as pessoas se tornaram exploradoras de si mesmas. No
neoliberalismo, o trabalho é sinônimo de realização pessoal ou otimização pessoal, até
o colapso do indivíduo. A sociedade da fadiga é uma sociedade de autoexploração; o
homem tornou- se “carrasco e vítima de si mesmo”, lançado em um terrível abismo: o
fracasso (Byung-Chul, 2012).
170
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ FERNANDO A. MORA
A forte ênfase e busca pelo conhecimento técnico levam a uma sociedade destinada
à frustração e ao fracasso. Uma sociedade ausente de ferramentas que permite que as
pessoas deem significado à vida. A sociedade torna-se um conglomerado de autômatos
incorporados na vida profissional sem intenções ou sonhos a serem realizados.
Por essa razão, a proposta é que os modelos educacionais retornem aos princípios
originais do Iluminismo delineados por Kant e os adaptem à geração Y imersa no
avanço tecnológico. Consequentemente, educar com inovação deve visar a construção de
pessoas com habilidades e capacidades que lhes
permitam usar as ferramentas tecnológicas em
seu benefício e em benefício da sua sociedade.
EMBORA DEVAM
Nesse sentido, a educação pode ser entendida INCLUIR A
no conceito alemão de Bildung, que inclui uma INOVAÇÃO
formação holística: religiões, artes, consciência TECNOLÓGICA,
moral e os processos de produção e reprodução OS MODELOS
social. A ideia de Bildung indica um processo
EDUCACIONAIS
ativo e dinâmico voltado para a transformação
NÃO DEVEM
da realidade. Desta forma, o filósofo Johann G.
PERDER DE VISTA
Herder a define como um processo intelectual
de formação, educação e realização da plenitude
O FATO DE QUE A
humana ligada ao conceito de Aufklärung, que SUA PRINCIPAL
é o iluminismo entendido como o despertar da MISSÃO É
consciência racional (Subirats, 2013). PERMITIR QUE
AS PESSOAS SE
Embora devam incluir a inovação
DESENVOLVAM
tecnológica, os modelos educacionais não devem
COMO INDIVÍDUOS.
perder de vista o fato de que a sua principal
171
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ FERNANDO A. MORA
Uma quarta habilidade refere-se aos indivíduos que podem tomar iniciativa e serem
empreendedores enquanto buscam por novas oportunidades, ideias e estratégias de
melhoria. Devido ao rápido ritmo de mudanças, os indivíduos com as maiores oportunidades
serão aqueles que são altamente adaptáveis e aproveitam as novas oportunidades.
172
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ FERNANDO A. MORA
Essas sete habilidades de sobrevivência descritas por Tony Wagner são consideradas
as principais competências para as gerações presentes e futuras. Habilidades para
trabalhar, aprender e gerar cidadania no século 21. No entanto, na forma como elas
são exibidas, parece que continuam sendo habilidades que só respondem à lógica
do trabalho. Se os sistemas educacionais se destinarem a gerar essas capacidades
nos jovens, eles produzirão futuros profissionais capazes de se adaptar ao mundo do
trabalho, mas ainda faltarão as ferramentas vitais que lhes permitirão responder
questões humanamente essenciais, como “O que eu devo fazer com minha vida?”
173
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ FERNANDO A. MORA
174
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ FERNANDO A. MORA
Não é por acaso que Damon Horowitz, o filósofo do Google, é responsável pela direção
da engenharia da empresa e incita o desenvolvimento de um sistema operacional moral.
Uma pista de que os monstros da tecnologia começam a perceber que o futuro não será
dos técnicos capazes de manipular a tecnologia, mas das pessoas com as ferramentas e
o entendimento para dar a resposta às perguntas, como “O que fazer com a tecnologia?
E para onde direcioná-la?”
175
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ FERNANDO A. MORA
por sua vez, nos moldam. Portanto, sobre toda tecnologia nós
devemos perguntar: ela atende aos nossos propósitos humanos?
Uma pergunta que nos faz reconsiderar quais são esses propósitos.
As tecnologias em todas as gerações apresentam oportunidades
para refletir sobre nossos valores e nossa direção (Turkle, 2012,
p.19, tradução nossa).
_REFERÊNCIAS
Blease, C. (2017). Philosophy can teach children what Google can’t. The Guardian.
Recuperado de <https://www.theguardian.com/commentisfree/2017/jan/09/
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Castells, M. (2001). The Internet Galaxy: Reflections on the Internet, Business, and
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176
INOVAÇÃO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA _ FERNANDO A. MORA
Kant, I. ([1784] 1979). ¿Qué es la Ilustración? (Tradução de E. Ímaz, 2ª ed.). México: FCE.
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condition/>
Turkle, S. (2012). Alone Together: Why We Expect more from Technology and Less from
Each Other. Nova York: Basic Books.
Wagner, T. (2010). The Global Achievement Gap. Nova York: Basic Books.
FERNANDO A. MORA
Ph.D. em Ética do Campus Tecnológico
de Monterrey, Cidade do México, e agora
pesquisador visitante do Instituto Ibero-
Americano em Berlim, na Alemanha.
Implementou estratégias de tecnologias
educacionais e busca preparar jovens
para responder as questões que não são
respondidas pelo Google. Sua experiência
profissional e formação acadêmica perpassa
as áreas de Ética, Educação e Democracia.
177
PROBLEMAS
EMERGENTES
DA INTERNET
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ GLORIA J. GUERRERO MARTÍNEZ
COMO A “COLONIZAÇÃO DE
MERCADO” DA INTERNET
TRANSFORMOU CIDADÃOS EM
MEROS CONSUMIDORES?
MARKETIZAÇÃO DO ESPAÇO
ONLINE
179
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ GLORIA J. GUERRERO MARTÍNEZ
_TEMÁTICA
_RESUMO
180
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ GLORIA J. GUERRERO MARTÍNEZ
Papacharissi (2002), Freelon (2010) e Bennett & Segerberg (2013) apoiam a premissa
de que a web permite a promoção do debate público. A Internet é um espaço que serve
de mediador entre o Estado e os cidadãos, um novo tipo de esfera pública sem restrições
que criou novas formas de interação neutra e livre entre ambos. Mas, para o usuário
em geral, o espaço virtual não é tão neutro e não tão gratuito, dado que governos e
corporações monitoram nossas ações online e reúnem todos os nossos dados, medindo
o nosso comportamento online. Os primeiros fazem isso por razões de segurança
nacional, os segundos, por interesses comerciais.
181
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ GLORIA J. GUERRERO MARTÍNEZ
Essas empresas estão se tornando cada vez mais indispensáveis. Suas plataformas
e dispositivos são onde todos estão e é impensável para as novas gerações imaginarem
as suas vidas sem um smartphone, jogos e compras online, Facebook ou Instagram.
Uma realidade “à la carte” em que tudo está sujeito a filtros (muitos filtros) e é
intercambiável, até mesmo os valores. Seguindo o conceito de Bauman de Modernidade
Líquida, o consumo desempenha um papel fundamental:
182
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ GLORIA J. GUERRERO MARTÍNEZ
devem confiar suas vidas cívicas aos mercados. A lógica do mercado está assumindo o
controle de cada aspecto da vida (Sandel, 2012). Globalmente, o nível de confiança nas
instituições é baixo mas, agora, que as “corporações sejam louvadas”1.
Eli Pariser expôs o aspecto negativo desse novo meio, abordando o problema das
bolhas de filtro que apareceram devido à alocação personalizada de conteúdo com
base nas pesquisas anteriores do usuário e em seu comportamento online. Ele ressalta
como as bolhas de filtro surgem como resultado de algoritmos feitos sob medida em
plataformas de redes sociais, como o Facebook, e motores de busca, como o Google,
para facilitar a navegação dos usuários no espaço da informação digital, oferecendo
publicidade e notícias organizadas (Pariser, 2011). Essas ferramentas de personalização
podem limitar nossa exposição aos pontos de vista opostos e também limitar a
quantidade de informações visível aos usuários. (Papacharissi, 2002). Este filtro enfatiza
nosso viés de informação e afasta dos usuários a oportunidade de ter um debate
construtivo com os outros.
183
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ GLORIA J. GUERRERO MARTÍNEZ
Nos EUA, a comunicação eleitoral online tornou-se uma prática dominante (Aldrich
et al., 2015). De uma perspectiva de marketing estratégico, identificar perfeitamente a
pessoa “certa” pode acontecer a partir da projeção das “personas” corretas e mapeamento
dos interesses delas com métodos de pesquisa de usuário baseados nas informações que
o Facebook, a Amazon e o Google oferecem para executar uma campanha publicitária.
É mais fácil prever quem comprará determinados produtos ou, em outros casos, apoiar
determinadas políticas ou candidatos.
É fundamental estar ciente de que cada escolha feita online, cada clique, torna-se
uma decisão comercial. Há um processo de tomada de decisão automatizado por trás
de cada anúncio ou vídeo exibido em nossos murais de acordo com nossas pesquisas
anteriores e atividade online. De certa forma, essa alocação de conteúdo impacta as
ideias e crenças das pessoas. Se uma mulher de 25 anos no Bangladesh pesquisar no
Google o termo “liberdade”, ela verá algo completamente diferente de um homem de 50
anos, que mora em Nova York, que pesquisa no Google o mesmo termo. As bolhas de
filtro (Pariser, 2011) personalizam as pesquisas e os feeds das mídias sociais para que nos
seja mostrado mais daquilo que “eles” pensam que queremos ver.
184
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ GLORIA J. GUERRERO MARTÍNEZ
O fato de essas plataformas possuírem regras rígidas sobre quem pode acessar os
dados delas levanta muitas questões. A quem elas prestam contas? Como os governos
podem definir limites para essas corporações sem ameaçar a inovação? Os usuários são
responsáveis por
exigir mais transparência? Como deixamos elas chegarem tão longe?
Para quem elas estão vendendo os seus serviços? Para quem elas estão vendendo nossos
dados? Às vezes, os termos e condições dessas plataformas de tecnologia não são claros
para os usuários.
A colaboração entre setores pode funcionar como uma solução a curto prazo, no
entanto, a longo prazo, a educação digital e o pensamento crítico dos usuários serão a
chave para combater os monopólios e outros complicados problemas online. As novas
gerações precisam exigir mais abertura e transparência das empresas de tecnologia.
Hoje, mais do que nunca, os governos estão buscando essas plataformas para
resolver problemas sociais. Os usuários precisam interferir, enquanto cidadãos, na
forma como as grandes empresas de tecnologia gerenciam as informações, dispõem
o conteúdo e comercializam as atividades online. A tecnologia pode ser qualificante ou
desqualificante, e uma maneira de garantir um modelo democrático para supervisionar
o seu desenvolvimento é através da colaboração entre setores. O fortalecimento e a
promoção de mais e melhores relações entre empresas de tecnologia, organizações
da sociedade civil e governos, em contextos específicos, pode ser uma boa forma de
garantir transparência e responsabilidade. Esse processo permite uma comunicação,
185
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ GLORIA J. GUERRERO MARTÍNEZ
No caso das grandes empresas de tecnologia, elas não vão parar a marketização do
mundo digital por conta própria. Portanto, grupos interdisciplinares precisam trabalhar
juntos para entender com o que estamos lidando e para promover as modificações
necessárias. Quando monopólios prejudicam os valores da sociedade, devemos elevar a
nossa voz a fim de o governo intervir.
Como indivíduos sozinhos, talvez não tenhamos uma representação sobre isso,
mas a sociedade civil como uma parte interessada pode exigir mais transparência
desses gigantes tecnológicos. O governo deve estabelecer parâmetros legais, técnicos
e políticos mais claros para gerir a influência dessas empresas. Sob uma abordagem
multissetorial (multistakeholder), os jovens devem participar em diferentes fóruns
e iniciativas para garantir que os valores democráticos sejam incorporados ao
desenvolvimento da tecnologia.
É importante ter um público mais informado, ativo e crítico que não negligencie o
impacto dessas plataformas em nossas vidas diárias. A participação e a conscientização
são essenciais para salvar a democracia da colonização de mercado. A espinha dorsal
da tecnologia pode ser esse espírito de colaboração, afastando-se da exclusiva missão
com fins lucrativos que acabará por “personalizar” o nosso comportamento e opiniões
no ambiente online.
186
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ GLORIA J. GUERRERO MARTÍNEZ
_REFERÊNCIAS
Aldrich, J. et al. (2015). Getting out the vote in the social media era: Are digital tools
changing the extent, nature, and impact of party contacting in elections? Party
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Sandel, M. J. (2012). What Money Can’t Buy: The Moral Limits of Markets. New York:
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187
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ GLORIA J. GUERRERO MARTÍNEZ
188
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ LEANDRO RACUIA + VICTOR ANDRÊS VELOSO CAVADAS
REDES DE POLARIZAÇÃO E
ÓDIO:
A TRANSFORMAÇÃO DA REDE
COMO PROPAGADORA DA
CULTURA DE ÓDIO PELAS
BOLHAS DE FILTRO
LEANDRO RACUIA
Estudante da Faculdade de Economia, Administração e Contabi-
lidade (USP)
leandro.racuia@gmail.com
Brasil
189
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ LEANDRO RACUIA + VICTOR ANDRÊS VELOSO CAVADAS
_TEMÁTICA
_RESUMO
190
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ LEANDRO RACUIA + VICTOR ANDRÊS VELOSO CAVADAS
1_INTRODUÇÃO
A grande revolução da informática dos anos 1980 e 1990 trouxe uma mudança
essencial no paradigma da comunicação. Antes desse período, a comunicação social se
dava de uma forma centralizada, de poucos para muitos, focalizada principalmente na
figura dos veículos de massa como jornais, livros e canais de televisão. Hoje, a maior
parte do fluxo de informações parte da Internet, possuindo um caráter teoricamente
descentralizado e tendo seu conteúdo produzido também da mesma forma, de muitos
para muitos.
A maioria da comunidade acadêmica dos anos 1990 e 2000 tinha em mente que o
modelo descentralizado de conexão fim a fim da Internet traria uma nova perspectiva
no debate de ideias. Como referência, Lévy (1999) afirma que três princípios formariam
essa nova forma de relação, a qual ele chama de cibercultura, sendo eles: a interconexão,
a criação de comunidades virtuais e a inteligência coletiva. A interconexão é o princípio
que descreve a estrutura da Internet, como descentralizada e formada sobre uma
lógica acessível de fim-a-fim, ou seja, com qualquer ponto da rede podendo alcançar
outro ponto sem a influência de um intermediário. Já as comunidades virtuais, como
ainda afirma Lévy (1999, p.127), “[...] são construídas sobre afinidades de interesses, de
conhecimentos, sobre projetos, em um processo mútuo de cooperação e troca”. Por fim,
a inteligência coletiva descreve um tipo de inteligência compartilhada que surge da
colaboração de indivíduos de todos os pontos da rede, imersos em seus conhecimentos
e suas diversidades. Como descreve o autor (1999, p. 212), “É uma inteligência distribuída
por toda parte, na qual todo o saber está na humanidade, já que, ninguém sabe tudo,
porém todos sabem alguma coisa”.
Seguindo o mesmo raciocínio, Benkler (2006) afirma que a rede cria novas modalidades
de economia da informação, a qual o autor intitula Economia Interconectada. Esta nova
modalidade traria a possibilidade do surgimento de comunidades auto-organizadas, de
hierarquia fraca e descentralizada, no qual a lógica de mercado fica em segundo plano.
A partir desta configuração, cria-se uma produção social de conhecimento baseada no
compartilhamento e na cooperação. Um dos exemplos de produção social são ações
políticas coordenadas, comandadas pela comunidade de forma espontânea e individual.
Dentro dessa contradição, surgem algumas perguntas: como foi possível chegar até
esse ponto? Por que os cenários descritos por Lévy (1999) e Benkler (2006) de construção
coletiva de saber aliada à cooperação entre diferentes visões não se aplica às redes
que utilizamos hoje? Qual o impacto cognitivo e educacional que essas redes podem
carregar consigo? O objetivo principal deste artigo é responder a estas perguntas através
191
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ LEANDRO RACUIA + VICTOR ANDRÊS VELOSO CAVADAS
Após essa análise, será descrito pela teoria de Castells (2013) como os novos
movimentos sociais se formam e qual o papel da rede nesse novo modo de mobilização
social. Por fim, será comentado quais os possíveis impactos que essas redes causam,
analisando a Internet como um elemento educador, que tem influência sobre a cognição
e ação do indivíduo.
Para ilustrar esse cenário, expomos alguns dados do portal Statista (2016a). Para
mecanismos de busca, O Google concentra uma fatia de mercado equivalente a 89,72%,
enquanto o segundo maior rival, o Bing 4,2%, e Yahoo! 3,37% (Statista, (2016e). Não é de
se surpreender que hoje seja inimaginável o mundo sem o Google, ou melhor, sem o
Chrome para pesquisas online.
192
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ LEANDRO RACUIA + VICTOR ANDRÊS VELOSO CAVADAS
Ao somar estas duas premissas, que seria buzz em torno da plataforma e número
de mais de duas visitas por dia, há um quadro interessante quanto à necessidade do
Facebook de criar um ambiente virtual agradável ao usuário e que o deixasse entretido
pelo maior tempo possível dentro da plataforma. Afinal, Wolton (UnBTV, 2014) já coloca
a Internet como uma mídia de demanda, ou seja, uma mídia na qual o usuário busca
o conteúdo e assuntos de interesse conforme a própria necessidade, criando um
sistema de participação que caracteriza uma mídia comunitária – dividem os mesmos
interesses, mas não necessariamente se compreendem. Assim, o Facebook como uma
rede social que está vinculada à Internet deveria estar alinhado com a questão de
demanda do meio e para cumprir esta lógica, fazia sentido programar um ambiente
que atenda aos desejos dos usuários. Portanto, a teoria da bolha de filtro tinha nexo
tanto economicamente por manter as pessoas mais tempo na plataforma e chamar
mais atenção de agências publicitárias quanto ideologicamente por atender o quesito
de demanda da Internet.
193
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ LEANDRO RACUIA + VICTOR ANDRÊS VELOSO CAVADAS
Um olhar crítico sobre a campanha presidencial nos EUA pode esclarecer o papel
nefasto das bolhas de filtros das mídias sociais para regimes democráticos. Uma série
de notícias e reportagens falsas inundou as redes sociais na campanha presidencial
de 2016. O compartilhamento de artigos da web aparentemente sérios, mas incorretos,
foi uma realidade nesta eleição. E o Facebook como um importante veículo de
comunicação teve grande participação na difusão deste tipo de notícia. O candidato
Donald Trump se apoio em uma hipereconomia de nonsense (“sem sentido algum”) e
instigou informações tendenciosas com base em preceitos racistas, xenófobos, entre
outros para reforçar sua imagem aos pró-Trump.
O problema é que o Facebook foi incapaz de conter
informações deste cunho e mesmo a propagação de
falsidades, compartilhadas – e difundidas – pelas HÁ INDÍCIOS DE UM
próprias pessoas. Por essas razões, o Facebook é EFEITO DE FILTRO
uma ferramenta precária de compartilhamento DE BOLHA QUE
de informações, o que é particularmente sério por TENDE A POLARIZAR
fomentar uma cultura de incerteza até para questões OPINIÕES
básicas. A questão a se fazer então é: qual o perigo DIVERGENTES E
a democracia que as redes sociais oferecem quando
TRANSFORMAR
se somam bolhas de filtro – ignoradas pela grande
AS REDES SOCIAIS
massa dos usuários – às falácias do meio?
PELAS QUAIS NOS
De fato, as grandes empresas da Internet têm INFORMAMOS EM
ganhado uma participação expressiva nos rumos CÂMARAS DE ECO
da sociedade – como evidenciado anteriormente
no caso do Facebook para a campanha presidencial
americana. Porém, é obscuro como estas empresas
conseguiram se tornar tão poderosas. Zuboff (2015) começa uma discussão sobre
Capitalismo de Vigilância para abordar esta situação. Segundo a autora, Capitalismo
de Vigilância é uma nova empreitada mercantil das empresas da Internet com foco
na coleta “obsessiva” de dados para cumprir objetivo último de expansão dos próprios
serviços gratuitos. Através da coleta de dados – quaisquer disponíveis, desde afinidades
a finanças pessoais –, a organização monta um verdadeiro dossiê de cada usuário.
Embora estes dados não sejam tratados discriminatoriamente, o que significa não
personalizando as informações, os algoritmos são capazes de identificar cada usuário
para a criação de anúncios específicos.
Ou seja, empresas da Internet estão usando o método do Big Data a nível generalizado
e faturando sobre a compra e venda de dados. O escopo deste artigo não se aprofundará
em problemas éticos com a forma de obtenção de dados, novas formas de contratos,
personalização e customização, e experimentos contínuos, mas vale ressaltar a
recorrente transgressão da lei frente à busca pelo lucro, sendo que os eventuais gastos
jurídicos serão meros detalhes para conquista de retornos exorbitantes. Constroem-se
194
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ LEANDRO RACUIA + VICTOR ANDRÊS VELOSO CAVADAS
É sob esta sombra que impérios como o Facebook são erguidos e somente agora estão
começando a ser confrontados em uma disputa por poder com outras grandes mídias
como Washington Post e Le Monde. De qualquer modo, o Facebook, por exemplo, faz
uso desta coleta abusiva de dados em benefício próprio, não economicamente de forma
direta, mas como construção do algoritmo da rede social. Com o algoritmo mais preciso,
é possível então entender as particularidades de cada usuário e tornar a rede mais
agradável de acordo com as preferências individuais. Pois, quanto mais conveniente a
plataforma for, maiores as chances de entreter o usuário por tempo prolongado, o que
por fim resulta em aumento nos lucros.
Ora, neste cenário, faz sentido pensar as duas correntes da comunicação: ideólogos
que confundem a comunicação com performance técnica e os mercados; e os adversários
que usufruem da comunicação em pró da radicalidade elitista e da lógica de venda,
pois as empresas de tecnologia utilizam de uma perspectiva bastante instrumental da
comunicação, característico do universo destas duas correntes que denigrem o papel de
coabitação e diálogo da comunicação (Wolton, 2006).
Ainda pela concepção de Wolton (2006), sem os laços sociais promovidos pelos
meios de comunicação para o grande público – tevê, rádio etc. –, a sociedade corre o
risco de negligenciar a discussão de temas de interesse público, o que eventualmente
pode levar ao esfacelamento da própria sociedade em guetos culturais e/ou religiosos.
Em outras palavras, a total liberdade de escolha de conteúdo oferecida pela Internet –
como mídia de demanda – favorece a criação de comunidades fechadas, produzindo
a incomunicação, a desconfiança e a violência. Quando, na verdade, o cerne da
comunicação é a problemática do outro. Por esta razão, é imperativo repensar o conceito
de comunicação como revolução da coabitação e do diálogo (Wolton, 2006). E para esta
meta é necessário pensar a comunicação por meio da rede.
195
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ LEANDRO RACUIA + VICTOR ANDRÊS VELOSO CAVADAS
Do mesmo modo, surgiram as máquinas cerebrais que têm por princípio amplificar
habilidades mentais, em especial as habilidades processadoras e de memória. São os
computadores, máquinas nas quais quaisquer signos podem ser absorvidos, traduzidos,
manipulados e transformados. Isso permitiu as informações circularem em um âmbito
global, promovendo uma cultura telemática multidirecional. O meio mais conhecido
para essa difusão é Internet, uma rede que liga milhões de pessoas ao redor do mundo
em torno dos mais diversos assuntos, desde negócios a arte e entretenimento (Santaella,
2000). Por fim, assim como as máquinas musculares e sensoriais são inerentes à
vida humana, as máquinas cerebrais também são à medida que se tornam uma
expansão do nosso universo cognitivo. Logo, há pouco espaço para coexistir no mundo
contemporâneo sem a presença das máquinas cerebrais por estarem cada vez mais
intrínsecas aos nossos afazeres. Assim, todos usufruem em algum grau das máquinas
cerebrais. Todos “têm” de usá-las.
A política novamente é um bom exemplo. No Brasil, de janeiro a junho, 51% dos eleitores
brasileiros afirmam ter recebido ou lido informações sobre política no Facebook, no Twitter
ou no WhatsApp. Hábito que é mais forte para as pessoas mais jovens, visto que destes, 55%
tinham abaixo de 34 anos de idade. Além disso, para 56% dos respondentes, as informações
recebidas pioraram a imagem dos candidatos (Ibope Inteligência, 2016). Mais surpreendente
ainda é o Brasil ser o país mais ativo na web quando o assunto é política. Cerca de 87% dos
brasileiros leram sobre temas políticos ou sociais em redes sociais de outubro de 2014 a
agosto de 2015, e cerca de 58% chegaram a postar comentários sobre temas políticos ou
sociais em redes sociais (Ibope Inteligência, 2016).
Por toda a questão da concentração de poder na rede, do impacto civil que a rede
demonstra poder ter e a necessidade de uso das máquinas cerebrais, torna-se fundamental
aprofundar a discussão das bolhas de filtro da Internet. Afinal, esferas humanas de
conhecimento como a política e a comunicação estão neste jogo da lógica capitalista.
196
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ LEANDRO RACUIA + VICTOR ANDRÊS VELOSO CAVADAS
Além disso, o autor classifica as bolhas de filtro como responsáveis por catalisar o processo
de polarização política na rede. Esse processo teria início com as plataformas das grandes
empresas sendo a principal fonte de informação sobre política por parte dos usuários, pois
apenas notícias e opiniões que o algoritmo considera agradáveis aos usuários são exibidas,
tendo como base as interações do próprio usuário com a plataforma. Logo, se cria o que o autor
chama de câmaras de eco, ou seja, um ambiente virtual no qual são somente demonstradas
informações que reverberam uma opinião já construída, ao mesmo tempo em que se isola o
usuário de opiniões contrárias ou diferentes das que estão sendo mostradas.
197
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ LEANDRO RACUIA + VICTOR ANDRÊS VELOSO CAVADAS
câmaras de eco pelos mecanismos de bolha de filtro. O estudo foi conduzido com 10
milhões de pessoas dos Estados Unidos que abertamente se declaravam conservadores ou
liberais, as quais as noticiais compartilhadas foram monitoradas por cerca de seis meses
(de julho de 2014 até janeiro de 2015). Os autores consideraram conteúdo denominado
liberal aquele que era compartilhado em larga escala por usuários autodenominados
liberais, realizando um processo análogo com o conteúdo considerado conservador.
No gráfico seguinte (Figura 2), demonstra-se uma das conclusões do estudo. Nele se
mostra a porcentagem de cross-cuting content (traduzido livremente como “conteúdo de
teor político oposto ao informado pelo usuário”) acessado por liberais e conservadores,
colocando quatro canais pelos quais esse acesso ocorreu. É importante entender esses
canais pela metodologia da pesquisa e pelo serviço que o Facebook oferece. O primeiro,
Random, corresponderia a uma exposição de uma amostra aleatória de todas notícias
relacionadas a temas de relevância para democracia (chamadas pelos pesquisadores de
hard news), em um cenário em que todos pudessem observar o conteúdo compartilhado
por todos. Observa-se que Liberais veriam, em média, apenas 45% de conteúdo de viés
conservador, enquanto conservadores veriam apenas 40% de conteúdo liberal. No
segundo canal, Potential from network, se leva em consideração a rede a qual o usuário
faz parte. Nesse caso, a porcentagem considera o quanto de conteúdo contrário à visão
política declarada poderia ser visto potencialmente por meio do compartilhamento de
amizades do usuário. Nesse caso, conservadores poderiam acabar observando 35% de
conteúdo de viés liberal, enquanto os liberais poderiam ver em torno de 23%. A terceira
via, Exposed, é a de mais relevância no estudo, pois nela aparece o conteúdo que
realmente foi exibido no feed de notícias dos usuários, sendo a real medida da bolha de
filtro a diferença entre o que potencialmente seria demonstrado por meio da rede que
fazem parte e o que é de fato é mostrado. Como os próprios pesquisadores explicitam,
essa diferença é de 5% nos que se declaram conservadores, enquanto ela é de 8% nos
que se declaram liberais.
Figura 2
40% Liberal
35%
30%
25%
20%
15%
10%
Random Potential from network Exposed Selected
198
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ LEANDRO RACUIA + VICTOR ANDRÊS VELOSO CAVADAS
A conclusão final dos pesquisadores é de que não existe uma diferença significativa
entre o conteúdo que seria exibido pelos amigos e o que realmente é exposto para o
usuário, fazendo com que o efeito da bolha de filtro seja bem mais fruto de escolhas
individuais que realmente do algoritmo.
199
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ LEANDRO RACUIA + VICTOR ANDRÊS VELOSO CAVADAS
Além disso, um dos preceitos de uma rede disposta de forma distribuída é sua
resiliência, ou seja, sua capacidade de resistir a ataques sem que ela deixe de existir. Pelo
fato desses movimentos não possuírem uma liderança, a repressão individual, como a
prisão ou tortura de um líder, por exemplo, não é suficiente para que o movimento seja
extinto, já que “[...] a rede pode se reconstruir enquanto houver um número mínimo
de participantes, frouxamente conectados por seus objetivos e valores em comum”
(Castells, 2013, p. 129). A burocratização e cooptação por outros movimentos da chamada
“velha política” também é prevenida dessa forma, novamente pelo argumento de que
não há lideranças pontuais a serem cooptadas.
Analisando tudo o que foi considerado, vemos que as redes sociais e novas formas
de comunicação possuem uma influência direta nessa nova forma de organização dos
movimentos sociais. Como afirma o próprio autor:
200
PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ LEANDRO RACUIA + VICTOR ANDRÊS VELOSO CAVADAS
que era considerada uma notícia liberal ou conservadora foi apenas definido com base em
uma correlação do que usuários que se autodeclaravam parte de alguma das duas posições
políticas compartilhavam, sendo apenas considerados as chamadas hard news, ou seja,
notícias que tinham palavras-chaves relacionadas à economia ou política. Entretanto, não
se analisava semanticamente quais emoções essas notícias despertavam nos usuários,
sendo essa uma das variáveis que os levariam a compartilha-la.
Com base nessa lógica, Berger e Milkman (2012) analisaram o teor das notícias
do jornal The New York Times por um período de um ano, observando os níveis de
engajamento, cliques e compartilhamento que elas possuíam. Com base nesses dados,
o jornal sempre avaliava as notícias mais relevantes da semana, enviando-as no
newsletter do jornal para seus assinantes. Analisando o teor das notícias, verificou-
se que as que continham ideias expressando alguma forma de ódio tinham a maior
probabilidade (34%) de estarem dentro do newsletter, sendo seguida pelo sentimento de
admiração (29%). Confirmando os estudos de psicologia citados, o ódio e a admiração
acabaram por causar um maior engajamento e, dessa forma, uma maior probabilidade
de serem visualizados.
A partir destes dois estudos, podemos chegar à conclusão de que a viralização do ódio
é excepcional comparada aos outros sentimentos. Primeiro, por ser uma emoção que
possuí um alto nível de ativação da transmissão social, levando o indivíduo que sente a
responder a esse estimulo. Por essa característica, a viralização do ódio se torna maior
probabilisticamente, uma vez que o usuário que lê a notícia responde ao estímulo de ódio.
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Por isso a rede é o meio e tão logo formadora. Assim, é importante buscar alternativas
às bolhas de filtro que os usuários estão expostos. O Wikipédia e o Linux, por exemplo,
oferecem uma outra concepção lógica, a de cooperação. Mas uma restrição deste artigo é
oferecer opções aos usuários. Há de fato opções, como o próprio usuário adotar posturas
para confundir o algoritmo, como curtir páginas que não tenham nenhuma relação
com o perfil dele, por exemplo. Mas isso só possível a medida que se crie a consciência
da situação dentro da bolha de filtro. O que traz à tona a necessidade de fomento de
uma cultura de tolerância e diversidade para a sociedade. Não apenas aceitar/entender,
como também ressaltar as melhorias advindas de diferentes perspectivas. Para tanto,
o primeiro passo é a conscientização dos usuários. Somente assim é possível dar o
segundo passo no caminho da criação de uma nova cultura.
Este artigo, no entanto, limita-se a alertar sobre a lógica nefasta das bolhas de
filtro que cumprem ideias capitalistas e da parcialidade que isso cria na rede. Portanto,
ainda são necessários estudos de como conscientizar os usuários – e este artigo é um
incentivo para tal –, além de outros sobre como fomentar uma cultura de tolerância a
diversidade e análise de alternativas que rompam com as bolhas de filtro.
6_CONCLUSÕES
Pelo conjunto mencionado, é possível notar que a rede imaginada por Lévy (1999)
e Benkler (2006) como meio de compartilhamento e cooperação ainda está presente
no caráter descentralizador e de muitos para muitos da rede, mas está ameaçada pela
lógica do capitalismo de vigilância.
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positivo nos próprios posts; e criação de sensações negativas para opiniões contrárias. Assim,
o usuário acaba por não interagir a receber a complexidade das informações, colocando em
questão a validade da plataforma em questão. É o caso exposto do Washington Post diante
do Facebook para as eleições presidenciais americanas deste ano.
A razão para esse viés é justamente propiciar experiências mais agradáveis aos
usuários e mantê-los por mais tempo entretidos, pois isso significa diretamente chance
de aumentos nos lucros. Agora isso é particularmente grave do ponto de vista que hoje
poucas empresas de tecnologia monopolizam a rede e, portanto, boa parte do fluxo de
informações. O que levanta a dúvida dos perigos que isso pode oferecer aos próprios
usuários e mesmo a regimes democráticos.
Por último, foi abordada a rede como meio porque ela em si própria produz
consequências drásticas à vida em sociedade. E sendo um meio isso torna a rede
educadora. Portanto, é importante conscientizar os usuários sobre a polarização, as
bolhas de filtro e interesses comerciais, já que isso tem grande impacto em decisões de
interesse comum. Para tanto é necessário dar esse primeiro passo de conscientização e
só assim será possível fomentar uma cultura de tolerância e diversidade.
_REFERÊNCIAS
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PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ LEANDRO RACUIA + VICTOR ANDRÊS VELOSO CAVADAS
LEANDRO RACUIA
Estudante de Administração da USP e fascinado
pelos temas de empreendedorismo, inovação e
impacto social. Trabalhou para a Força Tarefa
Brasileira de Finanças Sociais e construiu
conhecimento no campo social através da
contribuição para o estudo Mapeamento
dos recursos disponíveis no campo social.
Possui forte inclinação para desenvolvimento
de conteúdos ligados à criação de novos
negócios de cunho social, capacitação em
desenvolvimento de processos criativos grupais
e clima/cultura no universo de startups.
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PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ PALOMA SZERMAN
DEFESA DA CONCORRÊNCIA
E PLATAFORMAS ONLINE EM
TEMPOS DE BIG DATA
PALOMA SZERMAN
Advogada especialista em direito e políticas das Tecnologias da
Informação e Comunicação
paloma.szerman@gmail.com
Argentina
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PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ PALOMA SZERMAN
_TEMÁTICA
_RESUMO
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PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ PALOMA SZERMAN
1_INTRODUÇÃO
1 Pode-se acessar a versão dos termos de serviço do Whatsapp do dia 25 de agosto de 2016 em
<http://bit.ly/2qBUZ6t>. Acesso em 27/02/2017.
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PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ PALOMA SZERMAN
de seus usuários. Isso lhes permite oferecer produtos e/ou serviços cada vez mais
personalizados, o que os torna mais atrativos para os usuários, bem como serviços de
business intelligence e anúncios publicitários para públicos específicos de forma cada
vez mais refinada (OCDE, 2016).
No que diz respeito à análise dos data-sets como um insumo, o Supervisor Europeu
de Proteção de Dados (2014) considerou que os dados pessoais se tornaram o método de
pagamento invisível para o que denominou “serviços online gratuitos”, que incluem as
redes sociais, serviços de e-mail etc. Como consequência, a coleta massiva de dados
pessoais deve ver-se refletida nas novas definições do que, no direito da concorrência, se
chama “o mercado relevante”2. Por exemplo, uma análise de mercado relevante nos dias
de hoje deve examinar novos modelos de negócios e avaliar o valor dos data-sets como
um ativo intangível dentro do “mercado de serviços gratuitos online”.
Enquanto que redes sociais, motores de busca e demais serviços gratuitos podem ter
uma enorme porção do mercado em relação às suas limitadas ofertas de serviços, os
mercados em si são, no mínimo, bilaterais – e o lado que mais ganha geralmente é o
publicitário. Esse se caracteriza por uma concorrência feroz, contrapartidas poderosas
e uma avaliação constante da performance dos distintos vendedores publicitários.
É por isso que, para esses casos, as preocupações tradicionais relativas às condutas
abusivas, tais como os preços abaixo do custo marginal ou a venda em pacotes de
diferentes produtos, não são aplicáveis, e inclusive podem beneficiar a concorrência
e os consumidores. Não obstante, as companhias possuidoras de grandes quantidades
de dados, como toda empresa, podem ter condutas anticompetitivas, assim como usar
fusões e/ou aquisições para acumular poder de mercado suficiente para manipular
preços e espremer os negócios de seus concorrentes. Quando isso acontece, as agências
da concorrência devem intervir e as leis vigentes devem considerar estas questões
(Kennedy, 2017).
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Além disso, a Comissão Europeia acaba de aprovar a aquisição do LinkedIn por parte
da Microsoft6, apesar da forte oposição de seus competidores, especialmente Salesforce
– uma empresa que compete com a Microsoft no mercado da computação em nuvem.
Os rivais da Microsoft tornaram públicas suas preocupações pelo acesso aos dados
em posse do LinkedIn e sua futura exploração comercial. Para acelerar a aprovação
da operação, a Microsoft ofereceu concessões de todo tipo: que os desenvolvedores de
empresas rivais tenham acesso a certas ferramentas do Outlook – um software de
gestão de e-mail, calendário, contatos, entre outros –, resultando que perfis das redes
sociais rivais possam aparecer no Outlook (Motta, 2016).
A novidade no estabelecido pela Comissão foi que, pela primeira vez, analisou-se a
potencial concentração de dados como resultado da fusão e seu impacto na concorrência.
Embora tenha deixado claro que não é o objetivo do direito da concorrência europeu
lidar com assuntos relacionados à privacidade dos usuários, entendeu que sim, pode-
se ter isso em conta se os usuários veem a privacidade como um fator significativo de
qualidade, além de haver competição nesse fator entre as partes que se fundem. No caso,
a Comissão concluiu que a privacidade é um parâmetro importante de concorrência
entre redes sociais profissionais no mercado, o que poderia ter afetado negativamente a
transação mesmo que não fosse o caso concreto na aquisição (Comissão Europeia, 2016).
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2_CONCLUSÕES
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partir da perspectiva da proteção, mas também a partir dos riscos e o compliance7 com
o direito da concorrência.
_REFERÊNCIAS
7 Nota do tradutor: do inglês to comply, que significa agir de acordo com as regras.
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PROBLEMAS EMERGENTES DA INTERNET _ PALOMA SZERMAN
PALOMA SZERMAN
Paloma Szerman é advogada, graduada
na Universidade de Buenos Aires com
orientação em Direito Público. Depois
de cursar um semestre na Universidade
de Nova York, se formou em Direito da
Internet e Tecnologias das Comunicações na
Universidade de San Andrés, e atualmente
está fazendo mestrado em Direito e
Economia na Universidade Torcuato Di
Tella. Tem mais de seis anos de experiência
como assessora em direito, regulação
e políticas públicas de Tecnologias da
Informação e Comunicação, tanto no setor
público como no privado, assessorando
empresas, órgãos públicos e organizações
internacionais. Além disso, participa em
diversas iniciativas acadêmicas e grupos de
pesquisa sobre a temática.
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