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Edson Bellozo 2
Maria José de Rezende 3
Departamento de Ciências Sociais
Universidade Estadual de Londrina
Durante boa parte da história brasileira, o país esteve sujeito à regimes ditatoriais
ou governado por oligarquias cuja marca mais significativa é a completa ausência das
camadas populares das tomadas de decisão. Mesmo em períodos em que vigorou
oficialmente um regime democrático, sempre existiram entraves quanto à participação
política dos segmentos mais pobres da população, como a restrição por renda ou por
alfabetização, em que pese o fato de ser o Brasil um país de grandes desigualdades sociais
e de uma percentual ainda muito elevado de analfabetos. No caso do direito de voto aos
analfabetos, este só foi adquirido em 1985, o que significa que uma grande parcela da
população este ausente das tomadas de decisões por longo período. À esta parcela de
excluídos dos direitos políticos e consequentemente sociais, junta-se também as mulheres,
que embora tendo adquirido o direito a votar e a ser votada em 1932, não obtém de igual
modo uma cidadania plena, pois restam nos costumes sociais, na cultura patriarcal e até
mesmo na lei, empecilhos que a relegam sempre a uma condição de segundo plano quanto
à participação na vida pública ou ao próprio usufruto de alguns direitos essenciais, como o
exercício da profissão, ou a liberdade de ir e vir sem o crivo do marido ou de qualquer ente
masculino que por ventura estivesse submetida.
1
Este texto é parte da dissertação de Mestrado em Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina,
que aborda as ações políticas da parlamentares brasileiras nas décadas de 1990 e 2000.
2
Aluno do programa de mestrado do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de
Londrina e professor de Antropologia Social da UCP, Faculdades do Centro do Paraná.
3
Docente do Departamento de Ciências Sociais - Universidade Estadual de Londrina
O Código eleitoral de 1932, que torna a mulher eleitora e elegível não proporciona
grandes alterações na condição feminina, uma vez que o curto período de governo
constitucional logo é substituído pelo governo ditatorial iniciado com o Estado Novo. A
partir de meados da década de 1940, as mulheres operárias e profissionais liberais terão
importante participação na luta pela redemocratização, mas que a partir da abertura, esta
participação vai perdendo força, só tornando-se evidente novamente no período de governo
militar, três décadas depois.
É neste sentido que, ainda segundo a autora, as pressões dos movimentos sociais
terão fundamental importância no sentido de buscar medidas adequadas às demandas
sociais, além do fato da valorização mediante a participação nestas formas de organização,
da política formal. No caso específico do Brasil, é a partir das mobilizações populares que
se inicia o engajamento político partidário, uma via que leva à busca da representação
formal, com grande ênfase nas eleições de 1982.
Se, até então, os partidos de oposição, com exceção do MDB – que a partir da
volta do pluripartidarismo passa a se chamar de PMDB - estavam proibidos, a exemplo do
que ocorria também com os sindicatos (BLAY, 1999), coube aos movimentos sociais a luta
política pela redemocratização, cuja marca significativa é uma forte adesão das mulheres
que fazem parte destes movimentos aos partidos de esquerda para o pleito de 1982. Este
pleito, aliás, é bastante emblemático para a oposição ao regime ditatorial, pois tem nas
urnas, a consolidação de uma maioria esmagadora dos votos em todo o país, ao passo que
tem também nas candidaturas das mulheres um marco importante, pois houve uma série de
candidatas foram eleitas com propostas bastante ousadas e desafiadoras para a época.
Isto significa que, as alterações oriundas da abertura política não têm de fato um
caráter tão profundo nas mudanças que eram esperadas, embora não podemos também
desprezar alguns avanços que, sem dúvida, são oriundos da redemocratização e
principalmente da grande mobilização da sociedade ocorridas neste período.
Considerações finais
Este papel exercido pelas mulheres durante os anos de repressão, também teve o
mérito, como já foi abordado, de proporcionar a discussão e um grande número de ações
positivas com relação aos problemas inerentes à mulher, além de ter se tornado um eficaz
canal de reivindicação e de luta que agruparam diversos segmentos sociais, a princípio em
torno de objetivos comuns, ou seja, a redemocratização do país e o restabelecimento do
Estado de Direito, pondo fim à ditadura. Mais à frente, como se observa, o movimento de
mulheres e o movimento feminista tomam caminhos diferentes. Um continua abordando as
questões políticas, a luta da sociedade contra o regime ditatorial, ao passo que o
movimento designado de feminista, a despeito da alcunha que lhe fora imposta de
alienadas dos problemas maiores pelo qual passava o país, concentra seus esforços e
direciona sua luta para as questões referentes a subordinação social das mulheres que tem
sua origem desde o espaço doméstico.
Referências
ALVAREZ, Sonia E.; DAGNINO, Evelina; ESCOBAR, Arturo (Org.). Cultura e política
nos movimentos sociais latino-americanos (novas leituras). Belo Horizonte: UFMG,
2001.
BLAY, Eva Alterman. Gêneros e políticas públicas ou sociedade civil, gênero e relações
de poder. In: SILVA, Alcione Leite da; LAGO, Mara Coelho de Souza; RAMOS, Tânia
Regina Oliveira (Orgs.). Falas de gênero: teorias, análises, leituras. Florianópolis: Ed.
Mulheres, 1999. p. 133-146.
VERUCCI, Florisa. Mulher e família na nova Constituição brasileira. In: TABAK, Fanny;
VERUCCI, Florisa. A difícil igualdade: os direitos da mulher como direitos humanos.
Rio de Janeiro: Relume, 1994. p. 55-76.