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INTENSIVO II

Renato Brasileiro
Direito Processual Penal
Aula 14

ROTEIRO DE AULA

NULIDADES

1. Noções introdutórias: tipicidade penal e tipicidade processual penal; pena e nulidade.

A tipicidade é aprofundada na matéria de direito penal. Porém, ela não deve ser estudada tão somente à luz do
direito penal.

a. Tipicidade penal: sob o ponto de vista formal, deve ser compreendida como a subsunção perfeita da conduta
praticada pelo agente ao modelo abstrato previsto na lei penal, ou seja, a um tipo penal incriminador;
Ex. sujeito disfere disparos com arma de fogo em direção a outro para matá-lo. A conduta é típica porque se
adequa perfeitamente ao modelo abstrato previsto no Art. 121 do CP.

b. Tipicidade processual: corresponde à ideia de que o ato processual deve ser praticado em consonância com a
Constituição Federal, com a Convenção Americana sobre Direitos Humanos e com as leis processuais penais;

Ex.: O advogado vai relativamente tranquilo para a audiência, pois já sabe como os atos serão prati cado s, porque
tudo aquilo está regulamentado pelo ordenamento jurídico. Portanto, existe um modelo e o juiz deve se gui r e sse
modelo.

Direito Penal Direito Processual Penal


Tipo penal incriminador Tipicidade Processual

Pena (sanção) Nulidades (sanção)

O tipo penal incriminador vem, obrigatoriamente, acrescido de uma pena em seu preceito secundário. A pena
funciona como uma sanção. De nada adiantaria a criação de um tipo penal incriminador se a esse tipo não fosse
cominada uma pena.

Com relação à tipicidade processual: a segurança e o respeito à tipicidade processual é alcançada devido à previsão
de nulidades para o caso de descumprimento. Os atos processuais são respeitados pelos operadores do proce sso
devido ao medo que eles têm da nulidade. A nulidade é péssima, pois acarreta um retrocesso na marcha
procedimental. Atos devem ser refeitos. Sujeito pode ser posto em liberdade ou até ser beneficiado com a
prescrição.

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Portanto, a nulidade está para a tipicidade processual assim como a pena está para a tipicidade penal. A nul i dade
exerce um papel de coercibilidade para a observância do modelo abstrato pelos operadores do direito.

2. Espécies de irregularidades. (Classificação do Prof. Denilson Feitoza)

a) Irregularidades sem consequência para o processo: apesar de o ato processual não ter sido praticado em fiel
observância ao modelo legal, esta irregularidade não tem o condão de acarretar qualquer consequência;
Ex.: uso de abreviaturas.

Súmula n. 330 do STJ: “É desnecessária a resposta preliminar de que trata o artigo 514 do Código de Processo
Penal, na ação penal instruída por inquérito policial”.

Na visão do STJ, o fato de essa defesa preliminar não ter sido observada nos crimes funcionais afiançáveis, q uando
a ação vier acompanhada de inquérito, seria uma irregularidade sem consequência para o processo.

Atenção: O referido entendimento da Súmula n. 330 do STJ não é compartilhado pelo STF. O Supremo, em HC,
entendeu que, ainda que o processo seja instruído por inquérito, se a lei prevê defesa preliminar, ela deve ser
observada.

STF: “(...) A partir do julgamento do HC 85.779/RJ, passou-se a entender, nesta Corte, que é indispensável a
defesa preliminar nas hipóteses do art. 514 do Código de Processo Penal, mesmo quando a denúncia é lastreada
em inquérito policial (Informativo 457/STF). O procedimento previsto no referido dispositivo da lei adjetiva
penal cinge-se às hipóteses em que a denúncia veicula crimes funcionais típicos, o que não ocorre na espécie.
Precedentes. Habeas corpus denegado”. (STF, 1ª Turma, HC 95.969/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Dje 108
10/06/2009).

b) Irregularidades que acarretam sanções extraprocessuais: a irregularidade não tem o condão de produzir a
invalidação do ato processual, porém pode dar ensejo à aplicação de sanções extraprocessuais;

Ex.: abandono injustificado do processo pelo defensor constituído. O abandono acarreta uma multa, que pode
variar de 10 a 100 salários mínimos (Art. 265, CPP). Além disso, a própria OAB pode instaurar um processo para
apurar a irregularidade.
Ex.: testemunha que falta injustificadamente na audiência pode responder por crime de desobediência e sofre r a
imposição de multa.
Ex.: atraso do perito para entrega do laudo.

CPP
Art. 265. O defensor não poderá abandonar o processo senão por motivo imperioso, comunicado previamente o
juiz, sob pena de multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários mínimos, sem prejuízo das demais sanções cabíveis.

Obs.: O art. 265 do CPP é objeto de uma ADI no STF. Segundo a OAB, o juiz não poderia aplicar uma multa sem o
devido processo legal.

c) Irregularidades que podem acarretar a invalidação do ato processual: por atentar contra o interesse público ou
contra o interesse preponderante das partes, esta irregularidade pode acarretar a invalidação do ato processual;

Obs.: Quando atentam contra o interesse público, geralmente são nulidades absolutas. Quando atentam contra o
interesse preponderante das partes, geralmente são nulidades relativas.

Ex. A ausência de fundamentação das decisões é causa de nulidade absoluta, pois atenta contra o interesse público.
Viola preceito constitucional no sentido de que todas as decisões serão fundamentadas (Art. 93, IX).
Ex.: Juiz expede carta precatória, mas não intima as partes.

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d) Irregularidades que acarretam a inexistência jurídica do ato processual: a violação ao devido processo legal é
tão absurda que acarreta a própria inexistência do ato jurídico;

A irregularidade é tão grave que acarreta a inexistência jurídica do ato processual de forma automática. Ao
contrário da nulidade, que precisa ser declarada, a doutrina costuma dizer que a inexistência é de plano. Na
realidade, não se pode nem dizer que existe ato processual. De acordo com a doutrina, seria um não -ato
processual.

Ex.: Sentença sem dispositivo.

Ex. Sentença proferida por um juiz impedido. O impedimento está previsto no Art. 252 do CPP. Entende -se que
também se aplicam ao processo penal as hipóteses de impedimento trazidas pelo novo CPC.

3. ESPÉCIES DE ATOS PROCESSUAIS. (Classificação do Prof. Denilson Feitoza)

a) Atos perfeitos: são aqueles praticados em fiel observância ao modelo típico. Logo, são válidos e eficazes;

Ex.: Testemunha de acusação sentou perante o juiz, prestou compromisso de dizer a ve rdade, ela respondeu às
indagações feitas pelo MP, respondeu às indagações feitas diretamente pela defesa e o juiz complementou a
inquirição. Trata-se de uma oitiva de testemunha perfeita. Consequentemente, esse ato terá o condão de produzi r
seus efeitos válidos e regulares. Todo o relato daquela testemunha poderá ser usado como fundamento para
possivelmente formar a convicção do juiz.

b) Atos meramente irregulares: são aqueles dotados de irregularidades sem consequência ou de irregularidades
que acarretam tão somente sanções extraprocessuais. Como essas irregularidades não são capazes de repercutir
na validade da relação processual, estes atos também são tidos como válidos e eficazes;

Por mais que o ato seja irregular, como essa irregularidade não tem tamanha gravidade, ele continua produzi ndo
seus efeitos regulares.

Ex.: Memoriais apresentados fora do prazo. O advogado de defesa foi intimado para apresentar memoriais. Ele
apresentou com 15 dias de atraso. Por mais que tenha ocorrido uma irregularidade na inobservância do prazo, o
juiz precisa desses memoriais para julgar o feito. A doutrina e a jurisprudência dominante s entendem que a
ausência dos memoriais seria causa de nulidade absoluta por violação à ampla defesa. Assim, o ideal é o juiz,
apesar da irregularidade, manter a peça nos autos e dizer que se trata de uma irregularidade sem maiores
consequências (ato meramente irregular).

Súmula n. 366 do STF: Não é nula a citação por edital que indica o dispositivo da lei penal, embora não
transcreva a denúncia ou queixa, ou não resuma os fatos em que se baseia.

Obs.: O ideal seria que o Edital resumisse os fatos, transcrevesse a denúncia ou queixa, já que o edital “traz em si” a
mesma ideia do mandado de citação. Quando o sujeito é citado pessoalmente, a ele é entrega a contrafé (cópi a da
denúncia). Assim, se o edital também visa à citação, deveria transcrever, deveria resumir. Contudo, na verdade,
ninguém lê o edital. Então, se ninguém lê o edital, por que perder tanto tempo copiando a denúncia ou faze n do o
resumo? Por isso, o STF entende que se não transcrever a denúncia e se não resumir os fatos, a citação por e di tal
não seria nula. Seria um ato meramente irregular.

c) Ato nulo: ante a inobservância do modelo típico ou a ausência de requisito indispensável para a prática do ato
processual, tais atos são passíveis de decretação de ineficácia, reconhecendo sua nulidade absoluta ou relativa;

Contaminado por irregularidades que podem acarretar a invalidação do ato processual, quer porque atenta contra
o interesse público, quer porque atenta contra o interesse preponderante das partes. Há irregularidade de mai or
gravidade por conta da inobservância do modelo típico ou ausência de algum requisito indispensável para a práti ca
do ato processual.

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Ex.: Sentença sem fundamentação.
Ex.: Juiz expede carta precatória sem intimar as partes.
Ex.: Juiz condena alguém por um fato delituoso que não lhe foi imputado.

Obs. A nulidade não é automática. Ainda que haja nulidade, enquanto ela não for declarada, o ato pe rmanece
válido e eficaz (princípio da eficácia dos atos processuais). Ex. juiz sentenciou, não fundamentou e de termi nou a
prisão. A prisão será efetivada, pois a sentença mantém sua validade e eficácia até que haja a declaração de sua
nulidade.

d) Atos inexistentes: tamanha a gravidade do vício que sequer podem ser tratados como atos processuais, sendo
tratados como espécie de “não ato”. Nesse caso, não se cogita de invalidação, visto que a inexistência representa
um defeito que antecede qualquer consideração sobre a validade do ato processual;

Ex.: Sentença sem dispositivo.


Ex.: Sentença proferida por um juiz impedido.
Ex.: Sentença proferida por um juiz promovido.

Cuidado! A doutrina majoritária entende que se o ato é considerado inexistente, não há necessidade de declaração
da inexistência, ela seria automática, de plano. Na prática, os Tribunais Superiores acabam exigindo uma de ci são
declarando a inexistência. Por mais absurda que seja a irregularidade, o ideal é que haja uma decisão que dê
certeza quanto à inexistência do ato, inclusive para evitar que o ato continue produzindo seus efeitos.

Ex.: Sentença proferida por juiz impedido. Imagine que haja um mandado de prisão expedido por esse juiz
impedido. Questiona-se: o mandado será cumprido ou oficial de justiça vai se recusar a cumprir o mandado
dizendo que é um ato inexistente? Certamente, o oficial de justiça vai cumprir. Por mais que o ato seja inexistente ,
pelo menos para fins de segurança jurídica, enquanto essa inexistência não for declarada, há o ri sco de que o ato
seja executado, produzindo seus efeitos. Por isso, é importante que a inexistência seja declarada.

Ato nulo x Ato inexistência

O ato nulo está sujeito à convalidação (defeito pode ser sanado). Como será estudado mais adiante, há várias
formas de se sanear um ato processual defeituoso. Ex.: convalidação pelo decurso do tempo; convalidação pela
não arguição; convalidação pelo não questionamento; convalidação pelo trânsito em julgado.

Ex.: Sentença sem fundamentação. Trata-se de um ato nulo. Contudo, se ela for uma sentença absolutória própri a,
ou seja, o acusado foi absolvido sem fundamentação e não houve aplicação de medida de segurança, e transitar em
julgado, haverá convalidação. O trânsito em julgado será uma causa de convalidação dessa nulidade absoluta, já
que, no Brasil, não há instrumentos processuais para buscar a rescisão do trânsito em julgado de uma sentença
absolutória própria, por mais que eivada de uma nulidade absoluta.

A inexistência (atos inexistentes) não está sujeita à convalidação, nem mesmo após o trânsito em julgado. Ex. A
sentença absolutória própria proferida por juiz impedido transitada em julgado. É inexistente. É um não -ato. Uma
nova denúncia pode ser ajuizada, sem que possa se opor uma exceção de cois a julgada.

STJ: “(...) FILIAÇÃO ENTRE O PROMOTOR DE JUSTIÇA E O DESEMBARGADOR QUE INADMITE RECURSO ESPECIAL.
IMPEDIMENTO. (...) É da letra do artigo 252, inciso I, do Código de Processo Penal que não pode o juiz exercer
jurisdição no processo em que seu filho tiver funcionado como órgão do Ministério Público. 2. O impedimento é
causa de inexistência do ato processual e, não, de nulidade, não reclamando, pela sua natureza, declaração.
(...)”. (STJ, 6ª Turma, HC 18.301/MS, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, j. 20/05/2003, DJ 30/06/2003).

4. CONCEITO DE NULIDADE.

Conceito de Nulidade: Espécie de sanção aplicada ao ato processual defeituoso, privando-o da aptidão de
produzir seus efeitos regulares.
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A doutrina costuma classificar nulidade em duas espécies:

1ª Absoluta
2ª Relativa

Obs.: Quando o assunto é classificação das nulidades, muito forte a doutrina da Professora Ada Pel legrine Grinover
(Livro: As nulidades no processo penal).

Cuidado: Alguns doutrinadores também fazem referência a uma outra categoria, qual seja “anulabilidades”. O
Prof. Vicente Greco Filho, por exemplo, diz que anulabilidade é a que ocorre por violação de norma prote ti va de
interesse das partes e que não poderia ser reconhecida de ofício pelo juiz.

5. Distinção entre nulidades absolutas e nulidades relativas.

5.1. Quanto ao prejuízo;

NULIDADE ABSOLUTA NULIDADE RELATIVA

Doutrina - O Prejuízo é O prejuízo deve ser


presumido; comprovado;

Obs. 1: a presunção de prejuízo não tem natureza absoluta. Cuida-se de presunção relativa, o que significa dizer
que há uma inversão da regra do ônus da prova;

Obs.: A presunção do prejuízo na nulidade absoluta é relativa, ou seja, admite -se prova em sentido contrário. O
interessado no reconhecimento da nulidade absoluta não precisa comprovar o prejuízo. Normalmente, a nul i dade
absoluta envolve violação de normas constitucionais. A Professora Ada diz que a atipicidade consti tuci onal é um
vício de tamanha gravidade que não é necessário exigir do interessado nenhum grau de comprovação do pre juíz o.
Por sua vez, o Professor Norberto Avena diz que, na verdade, há uma inversão do ônus da prova. Como se trata de
uma presunção relativa de prejuízo, o interessado no reconhecimento desta nulidade absoluta não precisa
comprovar o prejuízo, porém a parte contrária, de modo a afastar a nulidade, pode demonstrar que aquele
prejuízo presumido não teria ocorrido no caso concreto.

Ex.: O acusado não foi citado porque o Promotor colocou o endereço errado na denúncia. Trata-se de um vício
gravíssimo, porque a falta de citação é uma nulidade absoluta, já que viola a ampla defesa e viola também a própria
Convenção Americana, que assegura a todo e qualquer acusado o direito de ter conhecimento da i mputação que
lhe é formulada. A parte que alegou a referida causa de nulidade absoluta não precisa provar o pre juízo, uma ve z
que é presumido. Tendo em vista que esta presunção é relativa, a parte contrária, tentando afastar o
reconhecimento da nulidade, pode tentar provar que, a despeito da inobservância do modelo típico, não houve
prejuízo. A parte pode provar que, em que pese o fato de ter ocorrido um vício na citação, o acusado compare ce u
porque tomou conhecimento do processo por algum outro meio. O Código dispõe que, se o indivíduo comparece, a
nulidade é sanada.

Ex. Parte alega suspeição de um dos desembargadores que participaram do julgamento (causa de nulidade
absoluta). A parte que alegou a referida causa de nulidade absoluta não precisa provar o prejuízo, uma ve z que é
presumido. Tendo em vista que esta presunção é relativa, a parte contrária, tentando afastar o reconhecimento da
nulidade, pode tentar provar que, a despeito da inobservância do modelo típico, não houve prejuízo. Se os três
desembargadores julgaram de forma contrária ao pleiteado pela parte que alegou a nulidade absoluta, a outra
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parte, neste exemplo, poderia alegar que, ainda que o voto do desembargador suspeito fosse de sconsiderado, o
resultado teria sido o mesmo, ou seja, o prejuízo não se mostrou presente no caso concreto. (Sobre o assunto: HC
227.263).

STJ: “(...) A participação do magistrado suspeito não influenciou o resultado do julgamento, circunstância que,
nos termos da jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, afasta a alegação de nulidade. (...)”. (STJ, 6ª
Turma, HC 227.263/RJ, Rel. Min. Vasco Della Giustina – Desembargador convocado do TJ/RJ –, j. 27/03/2012).

Obs. 2: atenção para alguns precedentes do STF exigindo a comprovação de prejuízo nos casos de nulidades
absolutas;

STF: “(...) Esta Corte vem assentando que a demonstração de prejuízo, a teor do art. 563 do CPP, é essencial à
alegação de nulidade, seja ela relativa ou absoluta, eis que “(...) o âmbito normativo do dogma fundamental da
disciplina das nulidades pas de nullité sans grief compreende as nulidades absolutas” (HC 85.155/SP, Rel. Min.
Ellen Gracie). Precedentes. A decisão ora questionada está em perfeita consonância com o que decidido pela
Primeira Turma desta Corte, ao apreciar o HC 103.525/PE, Rel. Min. Cármen Lúcia, no sentido de que a
inobservância do procedimento previsto no art. 212 do CPP pode gerar, quando muito, nulidade relativa, cujo
reconhecimento não prescinde da demonstração do prejuízo para a parte que a suscita. Recurso improvido”.
(STF, 2ª Turma, RHC 110.623/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 13/03/2012, Dje 61 23/03/2012).

Obs. 3: não se pode exigir a comprovação do prejuízo da parte se se tratar de prova diabólica;

Quando se trata de nulidade relativa, não se pode exigir a comprovação do prejuízo quando for impossível (“prova
diabólica”). Quando a comprovação da nulidade se transformar em prova diabólica, não há como exigir da parte a
comprovação do prejuízo, sendo ideal tratar a nulidade como sendo uma nulidade absoluta.

Ex. Exibição de objetos ou de documentos aos jurados sem observância da regra referente à juntada com trê s di as
úteis de antecedência. Como comprovar o prejuízo decorrente da exibição de um objeto sem a observância dos
três dias úteis de antecedência? Trata-se de uma prova diabólica (impossível de ser produzida), já que os jurados
não fundamentam seus votos. Se não fundamentam, a parte não tem como provar o grau de influência decorrente
da exibição do objeto na decisão dos jurados. Por este motivo, o ideal é tratar este caso como hipótese de nulidade
absoluta.

Art. 479. Durante o julgamento não será permitida a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver
sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte.
Parágrafo único. Compreende-se na proibição deste artigo a leitura de jornais ou qualquer outro escrito, bem
como a exibição de vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro meio assemelhado,
cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato submetida à apreciação e julgamento dos jurados.

5.2. Quanto à arguição;

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Obs.: Quando se fala em nulidade absoluta, costuma-se dizer que não há pressa, porque ela pode ser arguida a
qualquer momento. Ex.: O cliente está respondendo na Justiça Federal por um crime militar. Se o cliente está solto,
o advogado não tem pressa para arguir essa nulidade , pois mais vale guardar essa nulidade para que ela seja
reconhecida posteriormente. O STJ vem utilizando a terminologia nulidade de algibeira (nulidade que fica
guardada para que seja arguida no momento oportuno) quanto à nulidade absoluta.

Questiona-se: Houve trânsito em julgado, a nulidade absoluta ainda pode ser arguida?
Para responder a tal indagação é necessário se perguntar o seguinte: Será que depois do trânsito em julgado ai nda
existem instrumentos processuais idôneos para buscar o reconhecimento desta nulidade absoluta? Re sposta: no
âmbito do processual penal, depois do trânsito em julgado, ainda é possível se valer do Habeas Corpus e da Revisão
Criminal, porém tanto o HC quanto a Revisão só podem ser usados em benefício do acusado, ou seja, se a sentença
for condenatória ou se a sentença for absolutória imprópria, que é aquela que aplica medida de segurança.

Obs. A nulidade relativa não pode ficar guardada (algibeira). Ela deve ser arguida no momento oportuno (pri meira
oportunidade procedimental que a parte tiver logo após a ocorrência do vício), sob pena de preclusão. A preclusão
funcionaria como uma causa de convalidação.

Obs. 1: para os Tribunais Superiores, o reconhecimento de uma nulidade absoluta está limitado, temporalmente,
pelo menos em regra, às instâncias recursais ordinárias. Logo, em sede de RE ou REsp, os Tribunais Superiores só
poderão se manifestar sobre uma nulidade absoluta se a mesma tiver sido objeto de prequesti onamento. Isso,
todavia, não impede a concessão de ordem de habeas corpus de ofício em favor do acusado, mas desde que não
haja supressão de instância;

STJ: “(...) DISPOSITIVOS NÃO ENFRENTADOS PELO TRIBUNAL LOCAL. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
SÚMULAS NS. 211 DO STJ E 282 E 356 DO STF. (...) Sendo constatado que os arts. 370, § 1º e 394, do Código de
Processo Penal, apontados como violados, não foram enfrentados pelo acórdão recorrido, atrai -se o enunciado
das Súmulas ns. 211/STJ, 282 e 356/STF. (...)”. (STJ, 5ª Turma, AgRg no Ag 1.332.241/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, j.
18/10/2011, DJe 25/10/2011).

Obs. 2: momento para a arguição das nulidades relativas;

Como visto, esse momento está previsto no art. 571.

O aluno não precisa decorar o art. 571, apenas precisa entender que o momento é sempre a primeira oportunidade
procedimental que a parte tiver para se manifestar logo após a ocorrência do vício.

CPP Art. 571. As nulidades deverão ser arguidas:


I - as da instrução criminal dos processos da competência do júri, nos prazos a que se refere o art. 406;
II - as da instrução criminal dos processos de competência do juiz singular e dos processos especiais, salvo os dos
Capítulos V e Vll do Título II do Livro II, nos prazos a que se refere o art. 500; (...)
III - as do processo sumário, no prazo a que se refere o art. 537, ou, se verificadas depois desse prazo, logo depois
de aberta a audiência e apregoadas as partes;
IV - as do processo regulado no Capítulo VII do Título II do Livro II, logo depois de aberta a audiência;
V - as ocorridas posteriormente à pronúncia, logo depois de anunciado o julgamento e apregoadas as partes (art.
447);
VI - as de instrução criminal dos processos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais de
Apelação, nos prazos a que se refere o art. 500;
VII - se verificadas após a decisão da primeira instância, nas razões de recurso ou logo depois de anunciado o
julgamento do recurso e apregoadas as partes;
VIII - as do julgamento em plenário, em audiência ou em sessão do tribunal, logo depois de ocorrerem.

Obs. Note que o Código não diz, expressamente, se está tratando de nulidade absoluta ou relativa. Porém, quando
o Art. 571 dispõe que as nulidades “deverão” ser arguidas em um determinado momento, conclui -se que e stá se
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referindo às nulidades relativas, já que, como visto, as nulidades absolutas, pelo menos em tese, podem ser
arguidas a qualquer momento.

Cuidado! O Art. 571, em seus incisos, faz referência a vários outros artigos. Contudo, tais artigos são anterio res à
reforma de 2008. Portanto, os artigos citados devem ser lidos à luz da reforma processual de 2008. Ex. : no caso do
inciso I, é necessário procurar a redação antiga do art. 406, uma vez que, devido à reforma, o art. 406 atual trata de
assunto totalmente diferente.

CPP
Antiga redação do art. 406. Terminada a inquirição das testemunhas, mandará o juiz dar vista dos autos, para
alegações, ao Ministério Público, pelo prazo de cinco dias, e em cartório, ao defensor do réu.

CPP
Atual redação do art. 406. O juiz, ao receber a denúncia ou queixa, ordenará a citação do acusado para
responder a acusação, por escrito, no prazo de 10 dias.

Conclusão: O aluno tem que olhar para o artigo citado, entender que ele foi alterado em 2008, buscar na re dação
antiga qual era a redação, e buscar na redação do Código onde estaria localizado esse artigo. Ex.: A redação anti ga
do art. 406 trata das alegações finais. Contudo, com a reforma de 2008, as alegações finais passaram a ser tratadas
no art. 411, §§ 4º, 5º e 6º. O raciocínio é o mesmo para todos os demais incisos.

5.3. Quanto às hipóteses;

Ex.: Sentença proferida por juiz suspeito ou sentença sem fundamentação. Há vi olação, no primeiro caso, de uma
norma convencional que exige que o juiz seja imparcial. Há violação, no segundo caso, da norma constitucional que
exige a fundamentação de todas as decisões judiciais. Ambos os casos são causas de nulidade absoluta.

Obs.: No processo penal, não há interesse exclusivo das partes. Os interesses são indisponíveis: de um lado, a
liberdade de locomoção do sujeito; do outro, a pretensão punitiva do Estado. Por isso, a utilização do termo
“preponderante” no quadro acima quanto à nulidade relativa. Um exemplo de preponderância do interesse das
partes é encontrado nas matérias relacionadas ao ônus da prova. Assim, tudo o que geralmente está ligado ao ônus
da prova acaba dando ensejo a nulidades relativas.

Casuística de nulidades relativas:

1) Oitiva de testemunha por carta precatória;

É muito comum a oitiva de testemunhas de fora da terra (testemunha que reside em outra comarca). Se a
testemunha reside em outra comarca, o juiz é obrigado a expedir uma carta precatória. Cuidado! Quando uma
carta precatória é expedida para se ouvir uma testemunha em outro juízo, as partes devem ser intimadas.

Questiona-se: a partir do momento em que a parte já foi intimada de que uma precatória foi expedida, o juízo
deprecado também precisa intimar da data da audiência? Resposta: Não. Os Tribunais entendem que , a parti r do
momento em que a parte tomou ciência de que a precatória foi expedida, incumbe a ela diligenciar perante o juízo
deprecado para verificar qual será a data da audiência.
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Questiona-se: se a parte não foi intimada da expedição da carta precatória, a nulidade é absoluta ou relati va?
Resposta: A nulidade é relativa. Os Tribunais entendem que, ainda que a parte não tenha sido intimada da
precatória, pode ser que a oitiva da testemunha não traga nada de útil para a solução do processo, não havendo
motivo para declarar a nulidade do feito.

Súmula 155 do STF: “é relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação da expedição de precatória
para inquirição de testemunha”.

Obs. A inquirição de testemunha está ligada ao ônus da prova, por isso, caso as partes não sejam intim adas da
expedição de precatória, nos termos da súmula 155 do STF, haverá causa de nulidade relativa, assim deverá have r
comprovação do prejuízo.

Súmula 273 do STJ: “intimada a defesa da expedição da carta precatória, torna-se desnecessária intimação da
data da audiência no juízo deprecado”.

Obs. É ônus da defesa acompanhar a carta precatória a partir do momento em que foi intimada de sua expedição.

2) Reconhecimento de pessoas;

O CPP prevê um procedimento para o reconhecimento, que, no dia a dia, é pouco observado.

O procedimento é o que segue:

A pessoa é chamada para fazer o reconhecimento. Em um primeiro momento, ela deve descrever a pessoa que
será objeto de reconhecimento (Ex.: A possa descreve que o sujeito tem cabeça grande, cabelo azul, barba branca,
nariz redondo, estatura baixa etc.). Em seguida, o sujeito que está sendo reconhecido é colocado ao lado de
pessoas semelhantes. A pessoa que está reconhecendo deve apontar qual é o sujeito que praticou o delito, ou seja,
fazer o reconhecimento. Em seguida, é lavrado um auto de reconhecimento.

A inobservância do referido procedimento configura nulidade relativa.

STJ: “(...) A alegada inobservância do preceituado no art. 226, do Código Processual Penal, quando do
reconhecimento do paciente, configura nulidade relativa que, diante do princípio pas de nullité sans grief, deve
ser argüida em momento oportuno, com a efetiva demonstração do prejuízo sofrido, sob pena de convalidação
(Precedentes). Demais disso, tendo a fundamentação da sentença condenatória, no que se refere à autoria do
ilícito, se apoiado no conjunto das provas, e não apenas no reconhecimento por parte da vítima, na delegacia,
não há que se falar, in casu, em nulidade por desobediência às formalidades insculpidas no art. 226, II, do CPP.
(...)”. (STJ, 5ª Turma, HC 127.000/MG, Rel. Min. Felix Fischer, j. 07/05/2009, DJe 31/08/2009).

CPP Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:


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I - por incompetência, suspeição ou suborno do juiz;
II - por ilegitimidade de parte;
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
a) a denúncia ou a queixa e a representação e, nos processos de contravenções penais, a portaria ou o auto de
prisão em flagrante;
b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no Art. 167;
c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador ao menor de 21 anos;
d) a intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e nos da intentada pela
parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública;
e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os prazos concedidos à
acusação e à defesa;
f) a sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respectiva cópia, com o rol de testemunhas, nos processos
perante o Tribunal do Júri;
g) a intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei não permitir o julgamento
à revelia;
h) a intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos estabelecidos pela lei;
i) a presença pelo menos de 15 jurados para a constituição do júri;
j) o sorteio dos jurados do conselho de sentença em número legal e sua incomunicabilidade;
k) os quesitos e as respectivas respostas;
l) a acusação e a defesa, na sessão de julgamento;
m) a sentença;
n) o recurso de oficio, nos casos em que a lei o tenha estabelecido;
o) a intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e despachos de que caiba recurso;
p) no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o quorum legal para o julgamento;
IV - por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato.
Parágrafo único. Ocorrerá ainda a nulidade, por deficiência dos quesitos ou das suas respostas, e contradição
entre estas. (Incluído pela Lei nº 263, de 23.2.1948)

Obs.: O rol do Art. 564 é um rol exemplificativo, ou seja, não contempla todas as nulidades possíveis.

Obs.: Note que o Código não dispõe expressamente quais hipóteses são causas de nulidade relati va e quais são
causas de nulidade absoluta, o que torna difícil a distinção. A doutrina sugere a utilização do art. 572 para a
identificação das hipóteses:

CPP Art. 572. As nulidades previstas no art. 564, III, d e e, segunda parte, g e h, e IV, considerar-se-ão sanadas:
I - se não forem arguidas, em tempo oportuno, de acordo com o disposto no artigo anterior;
II - se, praticado por outra forma, o ato tiver atingido o seu fim;
III - se a parte, ainda que tacitamente, tiver aceito os seus efeitos.

Obs.: Note que o Art. 572 aponta algumas hipóteses do artigo 564 como causas de nulidade relativa quando as
considera passíveis de saneamento, quais sejam, as do inciso III, d e e, segunda parte, g e h, e inciso IV. A contrario
sensu, aquelas não ressalvadas no artigo 572 são de natureza absoluta. Segue quadro:

6. RECONHECIMENTO DE NULIDADES DE OFÍCIO.

Questiona-se: O juiz que não foi provocado pelas partes pode declarar nulidade de ofício?

6.1. Na 1ª Instância.

1ª Corrente: Alguns doutrinadores entendem que na primeira instância o juiz pode reconhecer de ofício apenas
nulidades absolutas. Esta não é a melhor corrente, uma vez que, mesmo em se tratando de nulidade relativa,
jamais haverá um interesse exclusivo das partes. No processo penal, mesmo em tratan do de nulidade relativa,
residualmente há interesse público, já que se trata de um processo que lida com interesses indisponíveis (liberdade
de locomoção do acusado e pretensão punitiva do estado).

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2ª Corrente: Na primeira instância, o juiz é livre para reconhecer qualquer nulidade, ou seja, pode reconhecer tanto
a nulidade absoluta quanto a nulidade relativa. Esta possibilidade decorre do fato de que, no processo pe nal , não
há interesse exclusivo das partes, sempre haverá, ainda que residualmente, algum tipo de interesse públi co, uma
vez que estão em jogo a pretensão punitiva de um lado e a liberdade de locomoção do outro. Geralmente, aponta-
se como fundamento legal o art. 251 do CPP:

CPP
Art. 251. Ao juiz incumbirá prover à regularidade do processo e manter a ordem no curso dos respectivos atos,
podendo, para tal fim, requisitar a força pública.

Obs.: Alguns doutrinadores entendem que, quando o Código dispõe “Ao juiz incumbirá prover à re gul ari dade do
processo”, o legislador quis dizer que o juiz deve zelar pela tipicidade, motivo pelo qual pode reconhecer qual que r
nulidade.

6.2. Na 2ª Instância.

Cuidado!

Lembrar que, na segunda instância, deve ser observado o efeito devolutivo (princípio Tantum devolutum quantum
appelatum).

O juiz de segunda instância não tem a mesma liberdade que tem o juiz de primeira instância, pois e stá l i mitado a
julgar aquilo que foi objeto de impugnação.

Súmula n. 160 do STF: “É nula a decisão do Tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso da
acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício”.

Da referida Súmula, pode-se extrair 3 conclusões:

1º Quando se tratar de recurso de ofício/duplo grau obrigatório/reexame necessário, a devolução é ampla, total e
irrestrita. Assim, tudo o que foi objeto de análise na primeira instância também pode ser objeto de análise na
segunda instância. Partindo da premissa de que na primeira instância o juiz pode conhecer nulidades de ofíci o, na
segunda instância também poderia fazê-lo. Portanto, nos casos de recurso de ofício, o Tribunal pode reconhecer
nulidade. Seria a nulidade absoluta, porque a relativa já teria precluído. Essa nulidade pode ser favorável ou
prejudicial ao acusado, já que a integralidade da matéria é devolvida ao juízo ad quem.

2ª O Tribunal pode reconhecer nulidade favorável à acusação, ou seja, contrária aos interesses do acusado, de sde
que a matéria seja devolvida a ele no recurso da acusação (princípio Tantum devolutum quantum appelatum). Ex.:
O juiz não fundamentou uma decisão absolutória. O MP recorre e pede o reconhecimento da nulidade. A nul i dade
é prejudicial ao acusado, já que ele foi absolvido. Contudo, se a matéria foi devolvida ao conhecimento do Tribunal
em uma apelação ministerial, o Tribunal não só pode como deve declarar a referi da nulidade.

3ª Quando se trata de nulidade favorável ao acusado, ela pode ser reconhecida de ofício, mesmo que ela não tenha
sido arguida pelo recorrente. Seria uma exceção ao Tantum devolutum quantum appelatum, exatamente porque
prevalece o bem maior, que é a liberdade de locomoção do acusado (princípio da reformatio in mellius).

Lembrar que os Tribunais podem conceder ordem de Habeas Corpus de ofício.

Portanto, os Tribunais sofrem limitações pelo efeito devolutivo ( Tantum devolutum quantum appelatum ). Poré m,
se é para melhorar a situação do acusado, também pode conceder o Habeas Corpus de ofício. Ora, se os Tri bunai s
podem conceder habeas corpus de ofício, por que não poderiam reconhecer uma nulidade de ofício?

7. PRINCÍPIOS.

7.1. Princípio do Prejuízo. (pas de nullité sans grief - não há nulidade sem prejuízo).
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Princípio já trabalhado nesta aula.

Vale para todas as espécies de nulidade, seja absoluta seja relativa. A diferença, para a doutrina, é que, quando se
trata de nulidade relativa, o interessado tem que comprovar o prejuízo, quando se trata de nulidade absoluta, o
prejuízo é presumido.

CPP Art. 563. Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a
defesa.

Art. 566. Não será declarada a nulidade de ato processual que não houver influído na apuração da verdade
substancial ou na decisão da causa. Ex.: Oitiva de uma testemunha da acusação por carta precatória. Ninguém
tomou ciência da expedição da precatória. Ninguém compareceu à audiência no ju ízo deprecado. Defesa pede
declaração da nulidade. Juiz desconsidera o depoimento daquela testemunha por considerar mais que suficiente as
provas já coligidas aos autos, ou seja, o juiz entendeu que aquele ato (oitiva da testemunha no juízo deprecado)
não teria o condão de influenciar sua decisão, porque esta permaneceria a mesma. Portanto, não houve prejuízo.

Cuidado! Súmula 523 do STF:


SÚMULA 523 - No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anul ará
se houver prova de prejuízo para o réu.

Ex. Falta de defesa: Cliente defendido por estagiário ao longo de todo o processo. Sabe-se que o estagiário pre cisa
estar acompanhado por profissional da advocacia. Se a defesa técnica foi exercida por um estagiário, não houve
defesa técnica. Trata-se de nulidade absoluta.

Deficiência da atuação da defesa. Trata-se de nulidade relativa, devendo ser comprovado o prejuízo.

Exemplos de nulidades relativas:

a) Inversão da ordem de oitiva das testemunhas;


O art. 400 do CPP estabelece uma ordem para oitiva de testemunhas. Em regra, primeiro são ouvidas as
testemunhas da acusação e depois da defesa.

A doutrina e a jurisprudência dominantes dizem que não pode ser invertida essa ordem. Mas, se o juiz fizer a
inversão, os Tribunais entendem que seria, no máximo, causa de nulidade relativa, devendo ser comprovado o
prejuízo.

Ex.: O juiz ouviu todas as testemunhas de defesa antes de ouvir todas as testemunhas da acusação. Não
necessariamente será anulado, porque pode ser que as testemunhas da defesa sejam todas abonatóri as, ou se ja,
elas não foram arroladas como contraprova do que disseram as testemunhas da acusação. Assim, não haveria
porque anular.

b) Inobservância do art. 212 do CPP (exame direto e cruzado).


O art. 212, alterado em 2008, prevê que as partes perguntam primeiro para as testemunhas. Primeiro pergunta a
acusação diretamente e depois a defesa, também diretamente. O juiz pode perguntar, mas deve fazê -l o ao fi nal .
Alguns juízes não observam essa ordem. A consequência é a nulidade relativa, devendo ser comprovado o prejuízo
e devendo ser arguida no momento oportuno, pois está ligada ao ônus da prova, cujo interesse é pre ponde rante
das partes.

STF: “(...) A magistrada que não observa o procedimento legal referente à oitiva das testemunhas durante a
audiência de instrução e julgamento, fazendo suas perguntas em primeiro lugar para, somente depois, permitir
que as partes inquiram as testemunhas, incorre em vício sujeito à sanção de nulidade relativa, que deve ser
arguido oportunamente, ou seja, na fase das alegações finais, o que não ocorreu. O princípio do pas de nullité
sans grief exige, sempre que possível, a demonstração de prejuízo concreto pela parte que suscita o vício.
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Precedentes. Prejuízo não demonstrado pela defesa. Ordem denegada”. (STF, 1ª Turma, HC 103.525/PE, Rel.
Min. Cármen Lúcia, j. 03/08/2010, Dje 159 26/08/2010).

7.2. Princípio da Instrumentalidade das Formas (Candido Rangel Dinamarco).

- A existência do modelo típico não é um fim em si mesmo. Na verdade, a forma prescrita em lei visa proteger
algum interesse ou atingir determinada finalidade. Por isso, antes de ser decre tada a ineficácia do ato processual
praticado em desacordo com o modelo típico, há de se verificar se o interesse foi protegido ou se a finalidade do
ato foi atingida;

Portanto, por mais que a forma (modelo típico) não tenha sido observada, se a finalidad e do ato foi ati ngi da, não
há razão para se declarar a nulidade.

Exemplo:
CPP Art. 570. A falta ou a nulidade da citação, da intimação ou notificação estará sanada, desde que o
interessado compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o faz para o único fim de argui-la. O juiz
ordenará, todavia, a suspensão ou o adiamento do ato, quando reconhecer que a irregularidade poderá
prejudicar direito da parte.

STJ: “(...) O fato de a citação ter sido realizada na mesma data da realização do interrogatório, na pessoa da mãe
do acusado, que se comprometeu a repassar o mandado ao réu, não gera, por si, nulidade, se não há
demonstração do efetivo prejuízo. Não há que se falar em nulidade, na hipótese dos autos, em atenção ao
princípio pas de nullité sans grief, uma vez que o réu compareceu espontaneamente à sessão de interrogatório -
acompanhado por advogada constituída com a qual pôde se reunir antecipada e reservadamente - declarou estar
ciente da acusação e deu sua versão dos fatos. (...)”. (STJ, 5ª Turma, Resp 930.283/MG, Rel. Min. Felix Fischer, DJ
12/11/2007).

7.3. Princípio da Eficácia dos Atos Processuais.

Nulidade no direito privado x Nulidade no direito processual

Nulidade automática Nulidade não é automática


Ex. criança celebra contrato. (Porque o ato processual goza de eficácia)
Ninguém precisa declarar
a nulidade

- A nulidade dos atos processuais não é automática, estando seu reconhecimento condicionado à existência de
um pronunciamento judicial no qual seja aferida não apenas a atipicidade do ato, mas também a não consecução
de sua finalidade e a causação de prejuízo às partes;

Ex. juiz sentenciou, não fundamentou e determinou a prisão. A prisão será efetivada, p ois a sentença manté m sua
validade e eficácia até que haja a declaração de sua nulidade.

7.4. Princípio da Restrição Processual à Decretação da Ineficácia.

Princípio abordado por poucos doutrinadores, entre eles Prof. Vicente Greco Filho.

Questiona-se: Houve um vício no ato processual, será que a nulidade pode ser decretada?

1º O momento ainda é oportuno?

Em se tratando de nulidade relativa, já pode ter operado a preclusão temporal .

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2º Há um instrumento processual adequado?

Em se tratando de sentença absolutória própria, se ela tiver transitado em julgado, não há instrumento processual
para se buscar o reconhecimento desta nulidade.

- A invalidação de um ato processual somente pode ser decretada se houver instrumento processual adequado e
se o momento ainda for oportuno;

Ex.: Sentença condenatória transitada em julgado proferida por um juiz suspeito. Por mais que se trate de uma
nulidade absoluta. O ato continua válido enquanto não for declarada a nulidade (princípio da eficácia dos atos
processuais). Neste caso, é necessário se perguntar se ainda existe instrumento processual à disposição para se
buscar o reconhecimento da nulidade. A resposta será: a decisão em questão é uma sentença condenatória. Por
mais que ela já tenha transitado em julgado, a parte ainda pode se valer de um habeas corpus e de uma revisão
criminal.

7.5. Princípio da Causalidade (Efeito Expansivo).

Nulidade Nulidade
Originária Derivada
Nexo causal

Nulidade Originária – prejuízo causado ao próprio ato maculado. Ex.: Oitiva de testemunha sem a presença do
advogado.

Nulidade Derivada – atos contaminados pela nulidade de ato ou atos que os antecederam. Presunção de pre juízo
porque o ato subsequente está relacionado ao ato anterior. Ex.: Sujeito não foi citado. A não citação é a nul i dade
originária. Tal nulidade ocasiona a nulidade de todos os demais atos processuais (nulidade derivada). Se o acusado
não foi citado, ele não pôde se defender pessoalmente (ausência de autodefesa) e não pôde contratar um
advogado de sua confiança (ausência de defesa técnica).

CPP Art. 573. Os atos, cuja nulidade não tiver sido sanada, na forma dos artigos anteriores, serão renovados ou
retificados.
§ 1º A nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam
consequência.
§ 2º O juiz que pronunciar a nulidade declarará os atos a que ela se estende.

Obs.: Quando o julgador declara a nulidade, deve declarar não apenas a nulidade originária, mas também a
nulidade derivada. Em regra, deve ser feito de ofício. Caso não o fizerem, cabe às partes interessadas opor
embargos de declaração.

Exemplo: nulidade do processo a partir da citação;

STJ: “(...) A nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam
consequência, a teor do art. 573, § 1º, do CPP. (Precedentes). A princípio, a declaração da nulidade do processo a
partir da citação editalícia, acarreta a nulidade, por derivação, de todos os atos processuais subseqüentes.
(Precedentes). Writ concedido”. (STJ, 5ª Turma, HC 28.830/SP, Rel. Min. Felix Fischer, j. 02/12/2003).

Obs. 1: essa relação de dependência é lógica, e não necessariamente cronológica;

Cuidado! A causalidade não necessariamente deve ser analisada sob o ponto de vista cronológico. Ela não quer
dizer que simplesmente todos os atos posteriores ao ato defeituoso estarão contaminados. A relação de
dependência é uma relação de dependência lógica e não nece ssariamente cronológica.

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Ex.: sujeito não citado. O defeito, neste caso, contaminará todos os atos subsequentes, pois se o sujeito não foi
citado, não pôde constituir advogado de sua confiança, não pôde apresentar resposta, não pôde indicar
testemunhas, não foi interrogado, não compareceu à audiência (a contaminação dos atos subsequentes decorre da
relação lógica entre eles e o ato defeituoso antecedente).
Ex.: Houve uma audiência no juízo deprecado. Lá não foi nomeado defensor ad hoc. O ato terá que ser anulado.
Contudo, os demais atos processuais não precisarão ser anulados, pois o ato é independente e não guarda re l ação
com os demais atos processuais.

Obs. 2: uma vez decretada a nulidade de um ato processual (nulidade originária), deve o juiz ou tribunal verificar
até que ponto tal vício teria contaminado outros atos processuais (nulidade derivada);

7.6. Princípio da Conservação dos Atos Processuais (Confinamento das Nulidades).

Se não há uma relação de dependência, não há motivo para se declarar a nulidade dos demais atos.

Ele acaba funcionando como o contrário do princípio anterior: Se há relação de dependência, anula tudo (princípio
anterior - Princípio da Causalidade). Se não há uma relação de dependência, não são anulados os demais atos
(Princípio da Conservação dos Atos Processuais).

O Princípio da Conservação dos Atos Processuais consta, inclusive, do Novo CPC, no art. 281, que costuma ser
usado supletivamente:

Art. 281. Anulado o ato, consideram-se de nenhum efeito todos os subsequentes que dele dependam, todavia, a
nulidade de uma parte do ato não prejudicará as outras que dela sejam independentes.

Ex.: Sentença não fundamentada quanto ao regime inicial de cumprimento de pena. O Tribunal não anulará a
sentença no todo, mas apenas no tocante à fixação do regime inicial do cumprimento da pena privativa de
liberdade.

STJ: “(...) INVERSÃO DA ORDEM DE APRESENTAÇÃO DAS ALEGAÇÕES FINAIS PELAS PARTES. (...) TESE DEFENSIVA
DE QUE A NULIDADE SE ESTENDERIA INCLUSIVE AOS ATOS PRATICADOS ANTERIORMENTE ÀQUELE DECLARADO
NULO. IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE. (...) Não é possível estender os efeitos nulificantes aos
atos processuais praticados anteriormente àquele declarado nulo pela Corte de origem, porquanto, a teor do
disposto no art. 573, § 2.º, do Código de Processo Penal, a extensão da nulidade deverá ser declarada pelo órgão
julgador e tão-somente poderá atingir os atos que dele dependem (princípio da causalidade). (...)”. (STJ, 5ª
Turma, HC 32.896/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 13/04/2004, DJ 17/05/2004).

Obs. 1: o princípio da conservação dos atos processuais não se aplica à sessão de julgamento pelo Júri, que é
indivisível em face da concentração e incomunicabilidade dos jurados;

Ex.: Qualificadora reconhecida pelos jurados seria manifestamente contrária à prova dos autos. O Tribunal
determinou que o júri fosse refeito apenas quanto à votação do quesito da qualificadora. Trata-se de um equívoco,
pois não é possível confinar essa nulidade. Se obrigar novos jurados a votar apenas quan to à qualificadora, há
violação à soberania dos veredictos.

Ex.: Houve a exibição de um objeto que não havia sido juntado. Não é possível confinar essa nulidade. Ne ce ssári o
refazer tudo.

7.7. Princípio do Interesse.

Ninguém pode arguir uma nulidade senão aquela que atende aos seus próprios interesses.

CPP Art. 565. Nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para que tenha concorrido,
ou referente a formalidade cuja observância só à parte contrária interesse.
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Obs.1: o princípio do interesse não é aplicável às nulidades absolutas, porquanto, nesse caso, há violação de
norma protetiva de interesse público;

Na visão da doutrina, o princípio do interesse é aplicável exclusivamente às nulidades relativas. É na nulidade


relativa em que se fala em interesse preponderante das partes. Quando se trata de nulidade absoluta, o interesse é
público, de forma que qualquer parte pode arguir.

Obs.2: o princípio do interesse não é aplicável ao Ministério Público;

Cuidado! O princípio do interesse não é aplicável ao MP. Ao Ministério Público incumbe a tutela de interesses
individuais indisponíveis, dentre eles, a liberdade de locomoção. Por isso, o Promotor pode pedir uma absol vi ção,
bem como pode arguir uma nulidade que atenda apenas aos i nteresses do acusado.

Ex.: Imagine que o Promotor não tenha comparecido ao interrogatório do acusado e a defesa se insurja quanto a
tal fato pleiteando a declaração de nulidade. A nulidade não será declarada, porque , se o promotor não esteve
presente, é o próprio MP que tem que pleitear a nulidade.

7.8. Princípio da Lealdade (Boa-fé).

Ninguém pode arguir nulidade para a qual tenha concorrido ou com a qual tenha concordado.

CPP Art. 565. Nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para que tenha concorrido,
ou referente a formalidade cuja observância só à parte contrária interesse.

Ex.: juiz, na audiência, diz que vai ser o primeiro a perguntar às testemunhas, diz que irá inverter a orde m do Art.
212 do CPP. Juiz pergunta para as partes se há alguma objeção. Elas dizem que não. Assim, as partes acabaram
concordando com a inversão quando não levantaram objeção. Neste caso, concorreram para a nulidade, não
podendo argui-la posteriormente, tendo em vista a aplicabilidade do princípio da lealdade (boa-fé).

Obs. 1: o princípio da lealdade ou da boa-fé não é aplicável às nulidades absolutas;


A doutrina costuma dizer que o princípio da Lealdade (Boa-fé) não é aplicável às nulidades absolutas, já que o
interesse público está em jogo. Mesmo que a pessoa tenha concorrido para a nulidade absoluta, ela pode arguir tal
nulidade.

7.9. Princípio da Convalidação.

- Não se deve declarar a nulidade quando for possível suprir o defeito;


Convalidar: significa remover o defeito. Sanear o defeito.

Através da convalidação, busca-se dar ao ato originariamente defeituoso seus efeitos regulares.

Obs. 1: pelo menos em regra, este princípio é aplicável apenas às nulidades relativas. A exceção fica por conta do
trânsito em julgado de sentença absolutória própria contaminada por nulidade absoluta, porquanto não se
admite revisão criminal pro societate;

Obs.2: causas de convalidação:

a) Suprimento;

Suprir significa acrescentar. Busca-se suprir certas omissões. Ex.: Aditamento. Eventuais omissões da peça
acusatória poderão ser supridas antes da sentença final (Art. 569).

b) Retificação;
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Retificar significa corrigir. Ex.: Nome errado na peça acusatória. Pode ser retificado.

c) Ratificação;

Ratificar significa confirmar. Ex.: A nulidade por ilegitimidade do representante pode ser saneada através da
ratificação (Art. 568, CPP). Menor de 18 anos contratou advogado. Este ajuizou queixa. O vício pode ser rati fi cado,
em juízo, pelos representantes daquele menor.

d) Preclusão: sob um ponto de vista objetivo, pode ser compreendida como um fato impeditivo destinado a
garantir o avanço progressivo da relação processual e a obstar o seu recuo para fases anteriores do
procedimento;

d.1) preclusão temporal: decorre do não exercício de determinada faculdade no prazo determinado;
Exemplo já citado do Art. 571

d.2) preclusão lógica: decorre da incompatibilidade da prática de um ato processual com relação a outro já
praticado;
Ex. sujeito já exerceu a faculdade e deseja voltar atrás).

d.3) preclusão consumativa: ocorre quando a faculdade já foi validamente exercida;


Ex. sujeito arrolou testemunhas. Não pode, posteriormente, substituir por um outro rol, salvo exceçõe s pre vistas
em lei.

e) Prolação da sentença: a decisão de mérito em favor da parte prejudicada pelo ato processual defeituoso
afasta a conveniência de se proclamar a nulidade (teoria da causa madura);

Teoria da causa madura (abordada, dentre outros, pelo Prof. Paulo Rangel) – O juiz depara-se com uma nul i dade,
porém, ao invés de anular o processo, ele já poderia proferir uma decisão de mérito em favor daquele que seria
beneficiado pela nulidade. Alguns doutrinadores entendem que esta teoria, que está prevista no CPC, pode ri a se r
trazida para o processo penal. (Art. 282, §2º).

Novo CPC
Art. 282. Ao pronunciar a nulidade, o juiz declarará que atos são atingidos e ordenará as providências necessárias
a fim de que sejam repetidos ou retificados.
§1º. O ato não será repetido nem sua falta será suprida quando não prejudicar a parte.
§2º. Quando puder decidir o mérito a favor da parte a quem aproveite a declaração da nulidade, o juiz não a
pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta.

f) Coisa julgada (preclusão máxima): a coisa julgada funciona como causa de saneamento geral, pois a
imutabilidade da decisão alcança as irregularidades não alegadas ou não apreciadas durante a tramitação do
processo. A exceção fica por conta de sentenças condenatórias ou absolutórias impróprias;
Em se tratando de sentença absolutória própria, a coi sa julgada é causa de convalidação de toda e qualquer
nulidade, seja ela absoluta, seja ela relativa. Todavia, em se tratando de sentença condenatória e absolutória
imprópria, a coisa julgada não impede a arguição de uma nulidade absoluta, uma vez que aind a é possível HC ou
revisão criminal.

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