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SENTENÇA PENAL
1. Noções introdutórias
A sentença penal é um ato decisório simples, que põe fim ao processo penal
condenatório com o julgamento de uma determinada causa penal. Todavia, o
próprio vocábulo – sentença – indica que se trata de uma afirmação solene a
respeito de algo.
A sentença consubstancia a busca da conciliação de duas situações: uma
abstrata, hipotética, descrita pela lei em termos genéricos e futuros, e uma
situação particular, ocorrida no passado e protagonizada por seres humanos, e
levada ao conhecimento do juiz através da ação penal.
É o momento culminante – più eminente – do processo penal condenatório,
em que o juiz, tendo em mãos a acusação e a defesa, que delimitam seu campo
de conhecimento, o material probatório trazido pelas partes, aquele produzido
diante dele e aquele produzido por ele, as razões finais das partes (verdadeiros
projetos de sentença) profere decisão acerca do mérito da causa penal levada a
julgamento, fazendo-o através de um ato que é, a um só tempo, intelectivo e
volitivo. Inútil tentar responder se a sentença é mais uma coisa ou outra, isto é, se
o juiz, quando sentencia, mais quer do que raciocina ou mais raciocina do que
quer. Ainda hoje não se chegou a uma resposta minimamente precisa a esse
2
2. Providências prévias
1
Cf. SILVA, Adhemar Raymundo da. “Sentença de pronúncia”, em Estudos de Direito Processual Penal,
Salvador: Ed. Livraria Progresso, 1957, p. 9.
3
Por fim, o julgamento extra petita seria aquele em que o juiz julgaria o
acusado por um fato diverso do que o que lhe fora atribuído na denúncia ou na
queixa. Um fato atribuído, outro fato julgado.
Não há julgamento extra petita quando o juiz condena o acusado por um
tipo penal diverso daquele que fora mencionado pelo acusador na denúncia ou
na queixa. Não há, nessa hipótese, alteração do material fático da denúncia ou da
queixa. O juiz simplesmente define a conduta do acusado de maneira diversa da
utilizada pelo acusador. Essa hipótese é legalmente prevista (CPP, art. 383) e é
denominada de emendatio libeli.
Funda-se no fato de que, no limiar do processo penal condenatório, o juiz
desconhece os fatos, mas conhece o Direito, que não precisa lhe ser ministrado;
narra mihi factum, dabo tibi jus. Se a denúncia ou queixa contém todos os
elementos fáticos necessários ao exercício da ampla defesa, o juiz pode dar-lhe a
definição jurídica que mais lhe parecer consentânea com o ordenamento
jurídico.2 Essa operação é permitida mesmo que, em consequência, o juiz aplique
pena mais grave ao acusado.3
Eis um exemplo dessa operação: a acusação é de perigo para a vida ou saúde
de outrem (CP, art. 132) sendo que na denúncia ou na queixa consta que, em
consequência da conduta, o ofendido perdeu uma função de seu corpo. Nessa
hipótese, o juiz pode condenar o acusado pelo crime de lesão corporal gravíssima
(CP, art. 129, § 2º, III).
Considere-se um outro exemplo, no qual consta da denúncia a narração de
uma corrupção passiva (CP, art. 317). Durante a instrução, comprova-se que o
agente público, imputado da prática de corrupção passiva, não solicitou vantagem,
mas exigiu vantagem. Nesse caso, como a exigência não consta da denúncia, mas
emergiu no processo penal condenatório durante a fase instrutória, o juiz não
pode simplesmente condenar o acusado. Em percebendo a discrepância, deverá
dar vista ao Ministério Público para que adite a denúncia ou a queixa subsidiária,
no prazo de cinco dias. Esse aditamento poderá ser feito oralmente, ao final da
2
Habeas corpus n. 75.972-MS – STF – 2ª Turma – Rel. Min. Marco Aurélio – ordem indeferida – votação
unânime – DJU, 20.mar.1998, p. 6.
3
Habeas corpus n. 74.836-AP – STF – 1ª Turma – Rel. Min. Ilmar Galvão – ordem indeferida – DJU,
13.jun.1997, p. 26.695.
4
3. Estrutura
4
Habeas corpus n. 74.009-0-MS – STF – 2ª Turma – Rel. Min. Carlos Velloso – julgado em 10.dez.1996 – ordem
indeferida – votação unânime – DJU, 14.mar.1997, p. 6.903.
5
KELSEN, Hans. Teoria geral das normas, trad. de José Florentino Duarte, Porto Alegre: Ed. Sergio Antonio
Fabris, 1986, p. 10-12.
5
como já foi dito acima, não há nem como demonstrar que o raciocínio judicial
obedece a essa ordem lógica, nem que não o faz.
Há quem diga, por outro lado, que a ordem da sentença está perfeitamente
invertida; que o juiz primeiro decide e depois vai buscar os fundamentos de sua
decisão, o que também é um exagero jamais comprovado empiricamente. O
melhor é dizer que a relação entre a motivação e o dispositivo, na sentença, é
dialética: ora o juiz decide e busca fundamentos jurídicos, ora os fundamentos
jurídicos balizam sua decisão.
A sentença ainda precisa ser autenticada pelo seu prolator, isto é, precisa
conter elementos que permitam atribuí-la a uma determinada autoridade
judiciária penal. No processo penal físico, tradicional, isto é, deitado sobre papel,
a autenticação se dá através da assinatura. No processo penal virtual, fundado nos
meios informáticos, a autenticação se dá através de procedimentos de segurança
digital adotados pelo tribunal respectivo.
Cada espécie de sentença penal obedece a uma norma processual penal
específica. Assim ocorre com a sentença absolutória (CPP, art. 386), com a
sentença condenatória (CPP, art. 387), com a decisão de pronúncia (CPP, art.
413), com a decisão de impronúncia (CPP, art. 414), com a absolvição sumária
(CPP, arts. 397 e 415) e com a decisão de desclassificação (CPP, art. 419).
O relatório, que sempre estampa a parte inicial da sentença, serve para
demonstrar que o juiz conhece toda a tramitação do processo. O relatório não
precisa ser minudente, nem descer aos detalhes mínimos, mas não é aconselhável
que seja padronizado. Em uma palavra, pode ser sucinto.6 Se demonstrar o
conhecimento do juiz sobre aquele processo penal, é perfeitamente válido.
A lei dos juizados especiais autoriza que, nas sentenças dos processos
condenatórios por infrações penais de menor potencial ofensivo, o juiz deixe de
elaborar relatório (Lei 9.099, art. 81, § 3º). É uma exceção à regra geral, motivada
pela necessidade de dar agilidade aos feitos respectivos (CPP, art. 381, I e II).
A fundamentação é a parte mais extensa da sentença e, por conseguinte, a
que mais dá espaço para análise e reflexão, embora para a sorte do imputado seja
6
Habeas corpus n. 70.814-SP – STF – 1ª Turma – Rel. Min. Celso de Mello – julgado em 1º.mar.1994 – ordem
indeferida – votação unânime – RTJ n. 176, p. 1.136.
6
4. Publicação e intimação
A sentença é proferida pelo juiz, mas não é por conta exclusivamente desse
evento que gerará efeitos. Uma vez apenas proferida, não entrou ainda no mundo
7
Habeas corpus n. 70.179-SP – STF – 1ª Turma – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – julgado em 1º.mar.1994 –
ordem indeferida – votação unânime – DJU, 24.jun1994, p. 16.635 – Informativo STF n. 61.
7
jurídico. Para entrar, precisa ser publicada, isto é, dada ao conhecimento das
partes e de terceiros.
A sentença escrita é publicada “em mãos do escrivão” (CPP, art. 389). A
sentença proferida oralmente em audiência, é publicada nesse mesmo instante
(CPP, art. 403, caput, e 534, caput). O mesmo ocorre com a sentença dada no
plenário do Tribunal do Júri, que ocorre naquele mesmo instante, na presença
das partes.8
O efeito imediato principal da publicação da sentença é que, depois dessa
publicação, não pode ela mais ser alterada, salvo casos de erros materiais
menores, porém evidentes. Outros erros – maiores e menos evidentes – somente
poderão ser reparados através dos “embarguinhos” (CPP, art. 382). É uma
hipótese de preclusão pro judicato.
Embora publicada quando o escrivão a recebe, a sentença ainda não pode
ser tida como inteiramente comunicada às partes. Isso se dá através da intimação.
Apenas através da intimação é a sentença para a ser de conhecimento das partes.
O Código de Processo Penal é bastante casuístico a respeito.
A tarefa de intimar o membro do Ministério Público é do escrivão, no prazo
de três dias contados do momento em que recebeu a sentença das mãos do juiz
(CPP, art. 390). A intimação do Ministério Público é sempre pessoal (LC 75, art.
18, II, h; Lei 8.625, art. 41, IV). A forma tradicional de se fazer tal intimação é
através de vista dos autos. Contudo, jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
tem compreendido essa regra de maneira um tanto diversa. Segundo essa
orientação, a entrega dos autos no setor administrativo do Ministério Público
equivale à intimação direta e pessoal, sendo irrelevante a aposição do “ciente” por
parte do membro do Ministério Público a posteriori.9
Também cabe ao escrivão intimar pessoalmente o querelante e o assistente
da acusação. Se nenhum deles for encontrado para completar tal diligência, a
intimação será feita mediante edital, com prazo de dez dias, afixado no lugar de
8
Habeas corpus n. 26.889-SP – STJ – 5ª Turma – Rel. Min. Felix Fischer – julgado em 27.mai.2003 – ordem
indeferida – votação unânime – DJU, 30.jun.2003, p. 278.
9
Habeas corpus n. 83.255-SP – STF – Pleno – Rel. Min. Marco Aurélio – julgado em 5.nov.2003 – ordem
deferida para assentar a intempestividade do recurso especial – votação majoritária, vencidos os ministros Joaquim
Barbosa e Celso de Mello – RTJ n. 195, p. 966.
8
5. Efeitos
Não custa repetir que a sentença penal é o ato culminante do processo penal
condenatório; corresponde a um dos objetivos do Processo Penal mesmo, que é
10
Habeas corpus n. 71.228-RJ – STF – 2ª Turma – Rel. Min. Néri da Silveira – julgado em 7.jun.1994 – ordem
deferida – votação unânime – DJU, 28.abr.1995, p. 11.135.
9
tornar indiscutível certa situação jurídica que, até então, apresentava contornos
indefinidos. Assim, a sentença é um ato de suma importância, que para servir
plenamente aos seus objetivos, deve ser também ela indiscutível. Daí que
inúmeros são os efeitos dela decorrentes. Esses efeitos são estabelecidos e
regulados por lei.
São quatro os efeitos principais possíveis de uma sentença penal.
O primeiro efeito, presente em toda e qualquer sentença penal, é o efeito
declaratório. Consiste ele na afirmação de uma situação jurídica pré-existente.
Como dito, está presente em toda e qualquer sentença penal. Há casos em que o
objetivo do autor do processo é unicamente obter uma declaração. Nesse caso, a
sentença terá unicamente o efeito declaratório, cuja função será tornar indiscutível
um direito já existente, mas que era negado ou não tinha sido ainda pacificamente
estabelecido. Um exemplo de sentença penal declaratória é a que declara extinta
a punibilidade do agente, impropriamente tratada pelo Código de Processo Penal
como absolutória (CPP, art. 397, IV).
Outro exemplo de sentença penal declaratória – negativa, no caso – é a
própria sentença absolutória, em que o juiz declara indiscutível uma situação pré-
existente, a saber, a inocência do acusado (CPP, art. 386).
A sentença penal possui também um outro efeito, o constitutivo. Nesse caso,
a sentença penal inova o ordenamento jurídico. Constitui, desconstitui ou mesmo
modifica um direito. A sentença penal condenatória, além do efeito declaratório,
já mencionado, contém um efeito constitutivo, ao modificar o status de inocente
do acusado.
O terceiro efeito possível da sentença penal é o condenatório, próprio das
sentenças que reconhecem que alguém, acusado da prática de um crime,
realmente o cometeu de forma ilícita e culpável. Esse efeito constitui-se na
determinação de que o acusado seja submetido a determinada sanção, que
cumpra certa pena que virá fixada na própria sentença.
O quarto efeito possível da sentença penal é o mandamental, caracterizado
pela ordem dada pelo juiz e dirigida a uma autoridade, que a deve cumprir
incontinenti. A sentença de habeas corpus, embora não o seja exclusivamente, é
tipicamente mandamental. Da mesma maneira a sentença proferida no mandado
de segurança criminal. A sentença absolutória no processo penal condenatório, se
10
o réu estiver preso, tem efeito mandamental, na medida em que o juiz determina
à autoridade que mantém aquele sob custódia que o solte imediatamente.
Também há indisfarçável efeito mandamental nas sentenças condenatórias,
mormente quando o juiz determina a expedição de mandado de prisão.
7. Hipóteses de absolvição
11
BUENO, José Antonio Pimenta. Apontamentos sobre o processo criminal brasileiro, 3ª ed., Rio de Janeiro:
Henrique Garnier, 1900, p. 325.
11
Nessa hipótese, não existe prova alguma da existência do fato. Também não
existe prova da inexistência do fato. Simplesmente, não há prova a esse respeito.
É também uma causa objetiva de absolvição.
Essa hipótese comporta três sub-hipóteses distintas: não há prova da
materialidade do fato; não há prova suficiente da materialidade do fato; não há
prova legalmente exigida da existência do fato.
A primeira sub-hipótese seria a efetiva ausência de qualquer prova da
ocorrência do fato, embora também não exista prova cabal de sua inocorrência.
As coisas ficam num terreno sombrio, em que não se pode afirmar nada sobre o
fato em seu aspecto material. Um exemplo seria o do furto, em que a autoridade
policial reportou um furto sem apreender a coisa furtada e, durante a fase
investigatória, nem a vítima foi ouvida, nem testemunhas e nem mesmo o
imputado teve a oportunidade de se pronunciar. Actoris non probante reus
absolvitur.
A segunda sub-hipótese é a da existência de prova do fato, em sua
materialidade, mas prova fraca, parca, vacilante. As testemunhas, no caso anterior,
afirmam ter ocorrido a subtração, mas mostram-se confusas, vacilantes, quanto a
detalhes relevantes de seus relatos, chegando a admitir que as condições de
visibilidade no local dos fatos eram precárias. Ao final admitem não podem
afirmar que alguém estava de fato subtraindo coisas de um determinado local.
Outro exemplo seria o do laudo pericial inconclusivo a respeito da ocorrência de
12
d) estar provado que o réu não concorreu para a infração penal (CPP, art.
386, IV);
e) não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal (CPP, art.
386, V);
III); de erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável (CP, art. 21, caput); de
descriminante putativa (CP, art. 20, § 1º); de coação irresistível e de obediência
hierárquica (CP, art. 22); de inimputabilidade por menoridade (CP, art. 27); de
inimputabilidade por embriaguez completa decorrente de caso fortuito ou força
maior (CP, art. 28, § 1º).
Para que a absolvição se dê por essa primeira parte do inciso é necessário
que a existência dessas circunstâncias tenha sido demonstrada. Essa demonstração
é ônus do acusado.
Se a absolvição se der pelo reconhecimento de que o acusado agiu em
estado de necessidade, em legítima defesa, em exercício regular de direito ou em
estrito cumprimento de dever legal, a sentença terá influência no juízo civil (CPP,
art. 65).
h) não existir prova suficiente para condenação (CPP, art. 386, VII).
inocência (na formulação dos países do common law). Se ainda houver dúvida
relevante após a instrução, a solução para o processo penal está prevista na lei; o
réu deve ser absolvido. Ou por outra: na dúvida, isto é, não provado o fato nem
provado o não-fato, cumpre absolver o acusado.
É a cláusula de abertura, que permite a interpretação extensiva do
dispositivo. É o reconhecimento, pela lei, que o Processo Penal não é uma
ciência exata nem é infalível.
O rol de hipóteses de absolvição é numerus clausus, isto é, se não se
verificar qualquer uma das hipóteses acima, a solução é a condenação do
acusado. A sentença absolutória deve se fundar em uma das hipóteses legais.
Ainda que assim o seja, é preciso esclarecer que a hipótese sob inciso VII é a
cláusula de abertura da norma legal, o que permite uma relativa extensão e
liberdade ao juiz criminal.
10. Conceito
12
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal, 2ª ed., Rio de Janeiro-São Paulo: Ed.
Forense, 1970, § 110, n. 599, p. 42.
13
SILVA, Adhemar Raymundo da. “Sentença de pronúncia”, em Estudos de Direito Processual Penal, Salvador:
Ed. Livraria Progresso, 1957, p. 8.
18
14
Habeas corpus n. 70.515-4-DF – STF – 2ª Turma – Rel. Min. Carlos Velloso – julgado em 24.ago.1993 – ordem
indeferida – votação unânime – DJU, 1º.out.1993, p. 20.214.
19
intérprete deve ter certeza de quem foi condenado e qual pena foi aplicada.
Ao condenar, o juiz deve fazer menção expressa das circunstâncias
agravantes ou atenuantes da lei, cuja ocorrência o juiz reconhecer (CPP, art. 387,
I).
Em outras palavras, qualquer circunstância agravante ou atenuante, de matriz
legal, levada em consideração pelo juiz, deve ser mencionada expressamente.
Aqui cabe fazer uma menção breve à expressão – que já se tornou
corriqueira na imprensa – de que um determinado crime de homicídio foi
“triplamente” qualificado. Assim o caso do crime de homicídio cometido por
motivo fútil, com o uso de meio cruel e de emboscada. A verdade é que não há
algo chamado “homicídio triplamente qualificado”. Nem duplamente, nem
quadruplamente. Há, simplesmente, homicídio qualificado. Se o conselho de
sentença emitir um veredicto de culpado e reconhecer essas três circunstâncias,
isto é, que o motivo foi fútil, que o réu usou de meio foi cruel e que cometeu seu
crime de emboscada, o juiz há de condenar o réu por homicídio qualificado por
motivo fútil (CP, art. 121, § 2º, II), por exemplo, e forçosamente usar as demais
circunstâncias como agravantes (CP, art. 61, II, d e c, respectivamente). Essa
menção há de ser expressa na sentença.
O Supremo Tribunal Federal decidiu que, “tratando-se de pena de reclusão
inferior a oito anos, a fixação do regime fechado como forma inicial do seu
cumprimento deve ser fundamentada de acordo com os critérios do art. 59 do
Código Penal, sendo inidôneo para esse fim o argumento da gravidade em
abstrato do crime praticado”,15 salvo se se tratar de crime hediondo.16
O Supremo Tribunal Federal decidiu que “ainda que as condenações
anteriores do réu não sejam consideradas para efeito de reincidência, nos termos
15
Habeas corpus n. 68.592-DF – STF – 2ª Turma – Rel. Min. Néri da Silveira – julgado em 16.abr.1991 – ordem
parcialmente deferida – votação unânime – DJU, 7.jun.1991, p. 7.710; Habeas corpus n. 74.840-SP – STF – 1ª
Turma – Rel. Min. Octavio Gallotti – julgado em 18.fev.1997 – ordem deferida – votação unânime – Informativo
STF n. 61; Habeas corpus n. 72.937-SP – STF – 1ª Turma – Rel. Min. Ilmar Galvão – julgado em 31.out.1995 –
ordem parcialmente deferida – votação unânime – DJU, 1º.dez.1995, p. 41.685.
16
Habeas corpus n. 70.784-RJ – STF – 1ª Turma – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – julgado em 14.jun.1994 –
ordem parcialmente deferida – votação unânime – DJU, 16.set.1994, p. 24.267; Habeas corpus n. 73.532-SP –
STF – 1ª Turma – Rel. Min. Moreira Alves – julgado em 23.abr.1996 – ordem parcialmente deferida – votação
unânime – DJU, 9.ago.1996, p. 27.101.
20
do art. 64, I, do Código Penal, podem ser utilizadas como maus antecedentes na
fixação da pena-base pelo juiz”.17 E decidiu também que, “ainda que outras
sentenças condenatórias tenham sido alcançadas pela prescrição retroativa,
podem ser levadas em consideração no momento da avaliação da conduta social e
da personalidade do agente para a individualização da pena”.18
O Supremo Tribunal Federal já decidiu que quando o magistrado se vale da
reincidência para agravar a pena, não pode considerar o réu de maus
antecedentes se for apenas essa a ocorrência criminal em sua história.19
O juiz deve fazer menção expressa de todas as circunstâncias relevantes na
fixação da pena (CPP, art. 387, II; CP, arts. 59 e 60).
O princípio da fundamentação racional das decisões impõe que o juiz
mencione e justifique sumariamente todas as circunstâncias que considerou
relevantes na fixação da pena. Como dito, não é necessário que o juiz argumente
e sustente todas as circunstâncias. É preciso, porém, que mencione cada uma
dessas circunstâncias que tiveram peso, para mais ou para menos, na fixação da
pena.
Segundo o Supremo Tribunal Federal, “as condenações do réu por fatos
posteriores ao crime podem ser consideradas para a fixação de regime inicial de
cumprimento da pena mais gravoso”.20
O juiz deve, outrossim, aplicar as penas de acordo com o reconhecimento
de todas as circunstâncias relevantes do crime (CPP, art. 387, III).
Segundo o Superior Tribunal de Justiça “a condenação em custas, nos
termos do art. 804 do Código de Processo Penal, deve constar da decisão,
ficando, no entanto, sobrestada até, e se, dentro de cinco anos, ficar comprovada
não mais subsistir, por parte do réu, a condição de beneficiário da justiça
17
Habeas corpus n. 76.665-SP – STF – 2ª Turma – Rel. Min. Marco Aurélio – julgado em 23.jun.1998 – ordem
indeferida – votação unânime – Informativo STF n. 116.
18
Habeas corpus n. 76.939-MG – STF – 2ª Turma – Rel. Min. Maurício Corrêa – ordem indeferida – votação
unânime – DJU, 14.ago.1998.
19
Habeas corpus n. 76.285-SP – STF – 2ª Turma – Rel. Min. Néri da Silveira – julgado em 5.mai.1998 – ordem
deferida – votação unânime – Informativo STF n. 109.
20
Habeas corpus n. 77.483-SP – STF – 1ª Turma – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – julgado em 18.ago.1998 –
ordem indeferida – votação unânime – Informativo STF n. 119.
21
gratuita”.21
O Supremo Tribunal Federal já decidiu que a existência, nos antecedentes
do réu, de processo criminal em que tenha sido ele absolvido, não pode
transformá-los em maus, para fins de fixação da pena ou de indeferimento de
suspensão condicional da pena.22
O juiz também deve fixar o valor mínimo da reparação dos danos causados
pela infração penal, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido (CPP, art.
387, IV).
Essa é uma novidade, não de todo conveniente.
Trata-se do dever, para o juiz criminal, de fixar um valor mínimo para a
reparação dos danos causados ao ofendido pela infração penal.
Há inúmeros problemas aqui.
O foco do processo penal condenatório nunca foi o levantamento desse
dado numérico. Sempre foi a determinação da autoria e da materialidade de um
crime, além de outros dados de natureza penal. Além disso, se já não fosse
pesado o fardo carregado pelo juiz criminal, a lei lhe deu esse dever. Há um
detalhe. A lei fala em reparação. Reparar significa consertar. Logicamente, não há
reparação parcial. Reparação é sempre total, nesse contexto. Logo, não há valor
mínimo. Há o valor certo, capaz de reparar os danos. Senão, seria o valor para a
minimização dos danos causados pelo crime.
A lei processual penal, desde sua nova redação de 2008, comete ao juiz
criminal uma tarefa perigosa para o ofendido, quase impossível de ser realizada a
contento e inútil.
É perigosa para o ofendido. Sim, porque essa fixação está sujeita a recurso,
que vai atrasar a própria reparação. Esse recurso pode ter como resultado a
redução desse montante. É quase impossível porque o foco de toda a instrução
não foi o levantamento de valores, mas a fixação da autoria e da materialidade,
21
Recurso especial n. 90.913-DF – STJ – 5ª Turma – Rel. Min. Felix Fischer – julgado em 18.fev.1997 –
conhecido e provido – votação unânime – DJU, 17.mar.1997, p. 7.530.
22
Habeas corpus n. 74.977-MS – STF – 1ª Turma – Rel. Min. Ilmar Galvão – julgado em 8.abr.1997 – ordem
parcialmente deferida para que o TJMS se pronuncie novamente sobre a concessão, ou não, do sursis – votação
unânime – Informativo STF n. 66.
22
23
Habeas corpus n. 72.408-6-SP – STF – 1ª Turma – Rel. Min. Sydney Sanches – julgado em 23.fev.1996 – ordem
indeferida – votação unânime – DJU, 12.abr.1996, p. 11.073: “É pacífica a jurisprudência, no sentido de que,
havendo condenação, esta é que deve ser impugnada no ‘habeas corpus’, não mais a denúncia, que foi julgada
procedente”; Habeas corpus n. 135.906-MG – STJ – 5ª Turma – Rel. Min. Jorge Mussi – julgado em 17.ago.2010
– ordem denegada – votação unânime – DJe 30.ago.2010: “Não tendo sido arguida a alegada inépcia da denúncia
no momento oportuno, insurgindo-se a defesa contra a vestibular somente depois de prolatada a sentença
condenatória, operada está sua preclusão (Precedentes)”.
24